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METODOLOGIA DA PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Pedro Demo
Metodologia significa, etimologicamente, o estudo dos caminhos, dos instrumentos usados
para se fazer ciência. É uma disciplina instrumental a serviço da pesquisa. A meta final da
metodologia é uma pesquisa mais científica. Embora não deva ser supervalorizada, por ser
apenas uma disciplina instrumental, desempenha um importante papel na formação do
cientista, à medida que o faz consciente de seus limites.
A docência e a atividade de extensão (atividades acadêmicas), dependem intrinsecamente
da pesquisa.
Pesquisa: construção de conhecimento original, de acordo com as exigências científicas.
Pesquisa teórico-empírica: produção científica que busca conhecer a realidade por meio de
trabalho empírico (por experiências).
No processo de formação de uma teoria haverá o erro, a ideologia, a deturpação dos fatos, as
afirmações apressadas etc. É difícil se provar tudo e de tudo se ter certeza. O que fazemos é
um recorte do real. Na prática nossas fundamentações ficam sempre com uma pequena
parcela. Não existe a possibilidade de um enunciado. De uma teoria ser aceito(a) por todos,
independentemente de espaço e de tempo. O maior problema da ciência é a realidade; pois é
atingida de maneira parcial e imperfeita. Nunca será suficientemente estudada. É simbolizada.
O processo científico sofre ingerência dos condicionamentos sócio-históricos em sua
formação, em que os elementos sociais são fundamentais. O resultado mais relevante da
sociologia do conhecimento é, sem dúvida, a formação de uma consciência crítica. É de
extrema importância na formação de uma personalidade científica.
A objetividade do cientista no processo segue as leis, as normas estabelecidas. A objetivação,
pela reflexão, pela escolha, pela consciência crítica, faz com que o cientista social apreenda a
realidade sem se fixar somente nos métodos. Essa posição não esgota definitivamente o
assunto, mas vale como uma problematização do processo científico. Uma tentativa de
conceber a ciência como fenômeno Social.
A pesquisa é uma atividade acadêmica fundamental; a única justificativa da docência. O
professor só pode ensinar o que conhece, por pesquisa – aquilo em que desenvolve uma
produção própria.
Se entendemos que a ciência não é senso comum, nem é ideologia, o que seria então?
Vejamos por critérios.
Internos (possíveis).
1 – Coerência: argumentação estruturada, em que não existe contradição.
2 – Consistência: capacidade de resistir a argumentações contrárias.
3 – Originalidade: não reproduz apenas; é baseada na descoberta da pesquisa, na descoberta
da invenção.
4 – Objetivação: termo que substitui objetividade. Captação da realidade. Aquilo que
podemos pensar da realidade; o que nunca será ideal e pleno.
O científico não é algo evidente, é algo discutível. Sendo assim, não se pode admitir um ponto
final, o que faz da ciência algo inacabado.

Externo: é a intersubjetividade – o cientista se permite dar opiniões na demarcação científica.


A sociedade é um fenômeno que mostra a importância da variável dominação. A ciência não é
algo diferente do que os cientistas produzem.
No processo da pesquisa científica não pode faltar o espírito crítico no tratamento dos fatos.
A pesquisa tem que acontecer com profundidade, com rigor e com responsabilidade, para que
não haja deturpação dos fatos em favor da posição defendida, chegando até a falsificação,
quando atinge o nível da mentira.
No processo da pesquisa podemos afirmar que o cientista não fotografa a realidade. O
retrato totalmente objetivo da realidade não existe. Podemos fazer uma correlação com o
processo de produção nas artes.
AUTOR (nas artes) - texto conotativo
R E A L I D A D E--------------------------------- Inversão da imagem
AUTOR (cientista) -objetivação (referencialidade com visão subjetiva)

De acordo com a leitura que fazemos da postura do artista e da postura do cientista em


relação à realidade, podemos substituir o conceito de objetividade por objetivação.
É importante reconhecer que no contexto do objeto da pesquisa está também o sujeito da
pesquisa - o cientista que raciocina, que questiona e que defende posições, selecionando
relevâncias na realidade.
A ciência está marcada pelos condicionamentos temporais e sociais. Vemos coisas nos fatos
que outros podem não ver. Podemos chegar a conclusões contraditórias, com decisões
próprias; pois sabemos que não há a possiblidade de descrição pura da realidade, porque nela
haverá sempre algo de nós. Não podemos desconhecer os fatos provados cientificamente (no
campo das ciências exatas). São vistos no processo com objetividade.
Galileu Galilei (considerado pai da ciência moderna) cientificamente, provou que a Terra não é
plana. Mesmo assim, podemos dizer que esse cientista, ao escolher a astronomia como seu
campo de pesquisa, revela sua subjetividade. A partir do momento em que há a escolha, a
subjetividade existe.
A metodologia, no processo de pesquisa em ciências sociais estará intimada a fornecer o
instrumental de captação dos fatos, com base na lógica formal, no corpo acabado e definido
de leis e de normas, ao qual o pesquisador tem que se sujeitar.
Dedução lógica aristotélica
Se A=B e B=C
A=C
Não podemos negar também que precisamos de alguns enunciados absolutos como pontos
de referências. Mas que, no plano da objetivação, podem ser questionados, tais como:
verdade, evidência, certeza e objetividade.
Não conhecemos os limites da metodologia e da ciência.
Pedro Demo situa a pesquisa como a razão de ser da atividade acadêmica. Sem desmerecer a
docência e também a atividade de extensão, acentua que estas duas dependem da pesquisa.
Sob este aspecto, diz: “Só tem algo a ensinar aquele que, por meio da pesquisa, construiu uma
personalidade própria científica, aquele que tem uma contribuição original, caso contrário, não
vai além de narrar aos estudantes o que leu por aí. E se atribuirmos à universidade em que
está inserida, para que não fique apenas na teoria, mas consiga descer à prática, isto se
consegue da melhor maneira possível se a intervenção na realidade estiver baseada em
pesquisa prévia, porque não se pode influenciar o que não se conhece”.
Segundo esse autor, a atividade de pesquisa científica mais importante é a crítica constante e
aguçada dessa produção.

Pedro Demo: professor PhD em Sociologia pela Alemanha Ocidental. Foi professor da PUC-RJ,
da UFF, do IUPERJ. Professor da UnB. Livros publicados em Sociologia do Conhecimento,
Filosofia, História, Ciência Política, Sociologia, Antropologia e Educação.

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