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Assim, nos últimos 15 anos, tem havido um processo de esvaziamento do controle difuso e
de ampliação do controle concentrado, movimento este que tem sido defendido sobretudo
por alguns ministros da Suprema Corte brasileira, como o mais representativo de um novo
momento constitucional brasileiro de defesa dos direitos e garantias fundamentais.
(p. 5-6)
“Será que o entusiasmo de Gilmar Mendes realmente se justifica e que esse movimento de
concentração do judicial review representa uma contribuição para que o direito brasileiro se
torne um dos “mais avançados ordenamentos jurídicos da atualidade”?” (p. 6)
A concentração do judicial review, tanto hoje como na década de 1960, não representa
apenas uma concentração de poderes no STF, mas também uma concentração do direito
de movimentar o sistema nas mãos dos poucos agentes legitimados. Essa concentração
deveria ser argumento suficiente para lançar dúvidas sobre a tese de que esse processo de
concentração contribui efetivamente para a defesa dos direitos e garantias fundamentais.
Essa, contudo, não é uma discussão que tem sido realizada de modo explícito, e que
muitas vezes se resume à constatação, em tese, de que ao menos o Ministério Público tem
o dever funcional de atuar na defesa dos interesses das pessoas e não de certos interesses
institucionais específicos. De fato, o sistema concentrado tem a potencialidade de defender
os interesses coletivos, mas faltam análises consistentes no sentido de identificar se
essa potência se converte em ato. (p. 7)
Esses tipos de argumentos têm viabilizado a prática política de uma Corte que se tem feito
mais presente na definição de pautas políticas, econômicas e sociais, muitas vezes em
confronto com o Parlamento e também o Executivo. Mas, em grande medida, o avanço
desse ativismo se dá, simplesmente, pela própria concentração de poderes de decisão, tal
como acontece no controle concentrado de constitucionalidade. Na medida em que a Corte
Constitucional se torna a única legitimada a fornecer a palavra final sobre a
constitucionalidade de uma determinada norma jurídica, ainda mais podendo se utilizar das
referidas técnicas interpretativas flexibilizadoras, amplia-se o seu papel estratégico no
arranjo institucional a respeito dos caminhos da democracia brasileira. (p. 9)
Entendemos que existe uma lacuna nos estudos voltados a esclarecer o perfil das
decisões, especialmente estudos que envolvam uma categorização dos fundamentos
utilizados pelo STF na efetiva anulação de atos normativos editados por outras instituições.
Concordamos assim com o diagnóstico de Arantes no sentido de que, apesar do
reconhecimento de que o STF tem assumido uma posição de destaque no cenário político,
“ainda não dispomos de uma visão sistemática e coerente acerca do trabalho da corte”18.
Assim, o objetivo desse trabalho é contribuir para o preenchimento dessa lacuna, tendo
como principal foco identificar em que medida as decisões do STF são ligadas à
proteção dos direitos fundamentais dos cidadãos, visto que esse é o principal
argumento que normalmente se utiliza para justificar a própria legitimidade dos
sistemas de judicial review. (p. 16)
Mover uma ADI é uma opção política, e não uma necessidade lógico-jurídica.
Portanto, é preciso atentar para os critérios de seletividade que os legitimados adotam ao
escolher quais processos justificam a mobilização dos seus esforços no sentido de conduzir
um processo que pode ser longo, custoso e com efetividade incerta. Para esses atores, a
declaração de inconstitucionalidade não é o objetivo último, mas apenas um dos meios que
podem conduzir à finalidade de excluir uma norma do sistema. (p. 18-19)
E devemos ressaltar que essa pesquisa mostra que todos os legitimados, inclusive o
PGR, movem ADIs preponderantemente na defesa de interesses do próprio legitimado ou
das corporações a que eles se vinculam, e não na defesa do interesse público ou de direitos
difusos. (p. 20)
“a ADI deve ser pensada como uma estratégia política, que como qualquer outra tem
seus pontos fortes e fracos” (p. 20)