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novavaganova

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novavaganova

1ª EDIÇÃO MARÇO 2021


Editorial
Carx leitor(x),

Deparamo-nos com uma necessidade extrema de tomar ação. A nível cultural,


que é o que melhor nos compete, procuramos soluções que possam ser
marcantes nesta nova realidade. A va·ga vem então mostrar isso mesmo. Nasce
da nossa vontade de manter a cultura viva e de valorizar as nossas
competências.

Que melhor altura para o fazer, que no mês de março, onde é aclamada a
Mulher? Valorizar as artistas, as lutadoras, as resilientes Mulheres, donas de si,
da sua arte e do Mundo.

Aqui poderás encontrar divulgação de arte nas suas formas mais puras, através
de fotografias, pinturas, desenhos, poesias; entrevistas a Mulheres importantes,
como todas nós, que lutam pelo que acreditam; artigos e obras de algumas de
nós que falam por tantas, e que exprimem opinião de Mulheres fortes.

Todas estas participações são apenas uma amostra do que nós, Mulheres,
fazemos diariamente. São apenas um lembrete de que estamos aqui, há muito
tempo, estamos aqui, agora, e aqui continuaremos.

Todos os dias são uma conquista, um passo em frente. Um contacto direto com
as nossas emoções, as nossas lutas e as nossas forças. Queremos que se sintam
representadas, e com vontade de continuar esta ação.

Boa leitura,
A equipa responsável
Inês, Margarida, Mariana, Matilde, Rebecca, Renata
e todas as demais envolvidas no processo

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Lista de conteúdos
Editorial 2
Sobre nós - Com Calma 4
Março é da Mulher, por Mariana Mendes 5
Espaço de Arte: Maria Beatriz Rocha, Catarina Mendes 7
À conversa com Lúcia Afonso, Baronesa 9
Espaço de Arte: Carina MonSo, Beatriz Pequeno 11
À conversa com Rita da Nova 14
Espaço de Arte: Raquel Coelho, Alice Martins, Sofia a Melancia 16
À conversa com Katerina L'dokova 18
Espaço de Arte: Maria Pasqualino, Paula P. Rezende 22
Artigo de Opinião, por Inès Vooduness 24
Espaço de Arte: Leonor Canelas, Inês Um Dois Três
26
À conversa com Catarina Rosa, Kenzi
28
Espaço de Arte: Helenah Reis, Laura Mota, Lais Schulz 32
Evolução do feminismo e direitos da Mulher em Portugal 35
8 de Março, por Cheila Collaço Rodrigues 36
Maria Antunes apresenta Redor 38
Tempo para a Cultura - as nossas sugestões 39
Agenda Cultural 42
Agradecimentos 43

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sobre nós
Com Calma
m ponto de encontro de clima descontraído, onde se estabelecem laços de
vizinhança e entreajuda e onde se promovem os artistas, criativxs e demais
membros da comunidade. Apresenta-se como um laboratório de experiências que
capacita os que fazem parte ao promover cruzamentos e novas expressões
artísticas.

O Com Calma foi construído com


trabalho voluntário, recursos limitados
e um orçamento muito reduzido. É um
espaço multiusos transformável onde
se desenvolvem várias aulas e
workshops, bem como eventos que vão
desde a música ao vivo, ao teatro, à
literatura, exposições e debates.

É objetivo do espaço a criação de novos públicos, intergeracionais e de várias


origens, através das redes de vizinhança que potencia a partir de um espaço aberto
que trabalha a partir de lógicas de desenvolvimento local e coesão social. Tendo
por base três pilares fundamentais, continuidade no tempo, regularidade na
programação e confiança nos valores do projeto.

Dado o contexto pandémico atual,


pretendemos continuar a promover a
cultura, através de, maioritariamente,
métodos online. Apostamos nas redes
sociais, na transmissão de eventos,
conversas, aulas e workshops
(@comcalmaecultura), adicionando a
esta dinamização a va·ga, revista
trimestral organizada por temáticas
atuais e urgentes.

Comecemos por esta.


Bem hajam.

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Março é da
Mulher por Mariana Mendes

Fotografia de Rebecca Mateus

Este Dia tem como objetivo, não só


o contrário de muitos outros dias celebrar tudo o que as mulheres
criados com um propósito comercial e conseguiram conquistar até agora,
capitalista, o Dia da Mulher tem na sua como também relembrar que a luta
origem um objetivo que vai para além está ainda longe do fim. A igualdade
de homenagear a mulher. salarial, o direito ao voto, a maior
representação em cargos de liderança,
O Dia Internacional da Mulher é a proteção em situações de violência
celebrado desde o início do século XX, física ou psicológica, o acesso à
embora tenha sido oficializado pela educação, continuam a ser direitos que
Organização das Nações Unidas (ONU) as mulheres de vários países ainda não
algumas décadas depois, em 1975. têm garantidos.

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Mas como surgiu o Dia da Mulher? E Hoje em dia, o dia 8 de março é
porquê em Março? Há várias hipóteses considerado feriado em alguns países,
para o aparecimento deste dia, no como na Rússia por exemplo. Na China,
entanto não há uma resposta em por sua vez, as mulheres têm direito a
concreto. meio dia de folga. Já nos EUA, no Reino
Unido e na Austrália todo o mês de
Uma hipótese para o “Primeiro Dia da março é dedicado à história das
Mulher” foi o dia em que teve lugar o mulheres. Aqui em Portugal, ocorreu no
protesto feminil em Nova Iorque em passado dia 8 a Greve Feminista
1909, onde 15 mil mulheres marcharam organizada pela Rede 8M, através de
por melhores condições de trabalho. No concentrações presenciais em Lisboa e
entanto, não era apenas nos EUA que as no Porto e com vários eventos em
mulheres estavam descontentes com a formato online.
sua situação; em simultâneo na Europa
também se levantava uma onda de
manifestações, agitada pela alemã Clara
Zetkin, que em agosto de 1910, propôs
numa reunião da Segunda Conferência
Internacional das Mulheres Socialistas
a criação de uma jornada de
manifestações. Esta jornada consistia
na luta pelos direitos das mulheres e o
primeiro protesto teve, então, lugar em
março de 1911. E não apenas na Europa
e EUA, mas em outras partes do mundo,
esta luta foi tendo o seu início.

Em 1917 houve um acontecimento que


provavelmente impulsionou a escolha
do dia 8 de março para a celebração da
Mulher. Nesse mesmo dia, na Rússia,
um grupo de operárias saiu às ruas
para se manifestarem contra a fome e a
Primeira Guerra Mundial, manifestação
esta que seria o “pontapé inicial” para a
Revolução Russa. Após a revolução
bolchevique, a data foi oficializada
entre os soviéticos como a celebração
da mulher heroica e trabalhadora.

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Espaço de
- Arte -
um presente em que o acesso à cultura está cada vez mais impessoal e
estranho, os espaços culturais mais ameaçados e xs artistas com menos
oportunidades de expor e divulgar o seu trabalho, criámos va·gas para
perpetuar esta partilha.

Nesta edição de março, no espaço de arte da va·ga divulgamos obras e peças


das mais variadas formas e formatos, criadas por mulheres.

Bem-vindxs ao vosso palco-museu virtual, esperemos que gostem.

www.behance.net/mariabeatrizrocha

Maria beatriz Rocha · Fotografia

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Crescemos com um corpo
Que nos dizem para amar.
Mudar, ajustar, insultar.
Catarina
Dizem que nos amam Mendes
·
E que o fazem por amor,
Mas não nos deixam sair assim.
Não, assim não, vai-te maquilhar.

Muda a roupa. Poesia


Muda o tom.
Muda a expressão.
Muda-te. Ama-te.

Querem que me ame


Mas isto não é amor.
Isto não sou eu,
Porque é que tenho de mudar?

Por ti? Não.


Por mim, dizem.
Mas eu não quero.

Este corpo já deu voltas ao universo.


Nasceu da Terra,
Cresceu com Júpiter
Dançou nos palcos de Saturno
E amou Mercúrio tão intensamente
Que chegou a tocar na alma do Sol.

Este corpo,
Cada corpo,
Obras de arte,
Não anseiem mudança.

Somos descendentes de Vénus,


Somos a beleza,
O amor,
A natureza. @_catarinaabreu_ (Instagram)

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à Conversa com Lúcia Afonso,
Baronesa
Lúcia Afonso, de nome artístico Baronesa, é
bailarina profissional, instrutora de capoeira e
atualmente coordena um projeto BIP/ZIP - My Own
Style (MOS) Espaço Artístico - no qual dinamiza
ideias e pessoas. Começou o seu percurso na
capoeira e no Hip Hop durante a adolescência. Mais
tarde, mudou-se para Paris onde frequentou uma
formação profissional e trabalhou em companhias
de dança. No presente assume a restituição da peça
Revelation da coreógrafa Tishou Aminata Kane,
como parte da incubadora artística da MOS. Esta
peça é uma participação ativa no combate à
violência doméstica, e pretende fazê-lo agora na área
de Lisboa. É apresentada na rua, em locais que
apresentem uma frequência alta destes tipos de
violência, e mistura Hip Hop, dança contemporânea
e danças da diáspora africana.
Fala um pouco sobre ti, de que forma o teu percurso se relaciona com a tua dança. Considerando as
várias culturas onde te tens inserido, como têm influenciado o teu movimento?

O nome Baronesa, pelo qual sou conhecida, surgiu Voltando ao projeto social, consegui através dele
porque na Capoeira existiam nomes de guerra, que frequentar aulas de dança e a dar valor a muitas
eram dados aos escravos, e essa tradição manteve-se coisas que estavam à minha volta. Com 16 anos recebi
até hoje. Faço Capoeira desde os 12 anos e fui assim prémios de mérito, dentro da Capoeira, que me
batizada pelo meu mestre. Entretanto, o nome ficou permitiram começar a viajar, dentro e fora do país.
quando eu entrei no mundo das danças de rua. Fiz a Na minha primeira viagem sozinha fui a Paris, para a
minha primeira aula de Hip Hop aos 14 anos, no um evento de Hip Hop em 2006. Esta viagem
Ginásio Clube Português. A partir daqui conciliei os permitiu-me experimentar uma realidade artística
dois mundos: a Capoeira e a dança. Cresci no bairro muito diferente, onde há possibilidade de trabalhar
da Cruz Vermelha, no Lumiar, em Lisboa. Foi graças a com a dança, com a Capoeira, existe remuneração,
um projeto social no Centro de Arte e Formação local, existem estatutos artísticos. Com várias pessoas,
que iniciei, aos 10 anos, o meu percurso artístico. Na sempre do meu lado a potenciar a progressão do meu
altura não sabia bem o que queria fazer, mas decidi caminho, agarrei as oportunidades que surgiram. Em
participar nesse projeto em vez de ficar na rua, 2009 voltei a França, para estudar. Penso que a Lúcia
porque era um bairro problemático. Como a Baronesa foi-se construindo através de oportunidades
adolescência é um período complicado, dançar que criaram possibilidades e ao longo deste percurso
acabou por ser um refúgio que me impediu de ir por fui sendo conduzida para o caminho atual, que
caminhos menos positivos. Passei por projetos com o culminou com a criação da MOS Espaço Artístico, em
Petchú, uma pessoa importante nas danças africanas Portugal - um projeto no qual aplico tudo aquilo que
e na transmissão da cultura angolana pelo mundo. aprendi para potenciar pessoas que estão à minha
Foi assim que iniciei o contacto com as danças volta e em quem acredito, tal como fizeram comigo.
tradicionais.

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Qual a tua opinião sobre o estado da cultura em Dá também a sensação que o público em Portugal é
Portugal? maioritariamente composto por artistas. Ou seja,
A nível cultural é difícil. Eu sinto que, neste momento, vais ao teatro e está sempre a malta do costume.
para se falar de cultura é preciso falar de uma Sim, infelizmente é a realidade em Portugal. Eu
comunidade. Seja a comunidade da dança ou outra. E conheço pessoas no bairro onde cresci que nunca
em Portugal sinto que estou numa constante batalha. foram ao teatro. Apenas um exemplo: fiz parte de um
A Lúcia Baronesa em Portugal para poder existir tem projeto de 12 meses no Bairro Alto, no qual fui
de estar sempre no modo reivindicativo. Eu olho para professora. Quando terminou, acabaram também as
o 25 de Abril e sinto que essa luta não acabou, e é aulas. Mais tarde, volto a passar na zona, à hora em
constante. Na dança contemporânea, continuamos a que costumávamos treinar, e vejo as minhas alunas
ter as mesmas companhias e os mesmos apoios desde na rua, com hábitos menos positivos. Faz-me pensar
os anos 90. que se o projeto tivesse continuado, em vez de
estarem naquela situação, pelo menos àquela hora
Achas que o problema é do governo? Ou também continuariam a frequentar as aulas. Estes projetos
parte do desinteresse do público? sociais são essenciais, pois muitas destas pessoas têm
Sim, por exemplo, quando estive em França havia dificuldades que as impedem de pagar uma
imensas coisas a acontecer. Aulas gratuitas, uma mensalidade numa escola de dança… Mas isto tem de
variedade de teatros que programavam desde passar pelo Ministério da Cultura, do Trabalho e da
companhias mais antigas a artistas emergentes. Ou Educação.
seja, o que me era apresentado não eram apenas as
companhias já conhecidas do público. Às vezes Fala sobre o MOS - Espaço Artístico, e sobre a
existem oportunidades para companhias estrangeiras precariedade dos projetos em Portugal.
apresentarem o seu trabalho em Portugal. Por outro Temos várias atividades e objetivos que promovem a
lado, existem companhias e coreógrafos nacionais diversidade cultural, gostaríamos de contar com a
com muitos anos de trabalho que mal aparecem em participação de todxs. Estamos sempre à procura de
cena e acabam por ter de ir apresentar o seu trabalho novos parceiros e novos desafios e é um projeto da
lá fora e a falta de condições faz com que não comunidade e para a comunidade. Apesar de tudo,
queiram voltar. nós tivemos apoio da Câmara Municipal de Lisboa
através do BIP/ZIP. Eles também têm em conta a
precariedade e perguntam sobre a sustentabilidade
do projeto. Contudo, eu também penso como será o
futuro sem esse mesmo apoio. Seria perfeito poder
continuar com o MOS e a nossa proposta é conseguir
fazer atividades de iniciação à cultura Hip Hop, das
suas danças e da sua valorização, em várias
associações dentro dos bairros. Valorizar a cultura,
pois não é a rua que retira o valor da dança e é
preciso relembrar isso.

É importante haver conhecimento de outras


culturas no mundo da dança e não só do clássico
ou do contemporâneo, concordas?
Sim! Não quero desvalorizar o clássico, que para mim
também foi super importante e que me ofereceu
muitas ferramentas. Mas também foi bom ter acesso a
outras opções. Para não dizer que muitas vezes existe
alguma exclusão social no estereótipo do ballet, que
só enquadra meninos e meninas brancos, com um
corpo "perfeito".

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Esta realidade é ainda mais evidente fora de De que forma é que o projeto ajuda a passar uma
Lisboa. Em outras zonas do país existem mensagem de ativismo?
conservatórios com formação apenas em clássico e Aprendi que a técnica serve o movimento e o
exclusiva para a infância/ adolescência. movimento serve a técnica. No resultado “final”
Concordo. Se aqui, em Lisboa e nas outras grandes reconheces muitos movimentos característicos do
cidades já é difícil, então no interior é ainda mais estilo sem te fazer pensar diretamente: “isto é Hip
complicado. Hop”. O facto da Tishou ter utilizado o movimento
para trabalhar sobre um tema e usar a técnica para
Se os bailarinos de vários estilos se reconhecessem servir ambos foi muito inteligente. Embora hoje em
e trabalhassem em conjunto, a comunidade podia dia seja visto como entretenimento, especialmente na
beneficiar. realidade mais comercial, o Hip Hop é bem mais do
Sim, sem dúvida, apesar do apoio dos artistas ser que isso. O estilo nasceu nas ruas devido à rivalidade
super importante, pode ser um indicador negativo do entre gangs, sendo em si mesmo, uma reivindicação.
interesse do público em geral. É aí que por exemplo Apresentámos a peça em vários pontos do globo, onde
em França se nota que existe uma realidade bem as mulheres são vistas de formas muito diferentes.
diferente. Quando fiz a minha formação de dança Mas infelizmente a violência doméstica é um tema
académica, havia aulas de vários estilos de dança, global, que não olha a classes sociais, possibilidades
teatro, circo e outros projetos. Esta miscelânea económicas ou realidades sociais distintas. Um dos
cultural foi muito importante para mim! Muitas momentos altos desta criação ocorreu numa viagem à
vezes, ia fazer uma audição e via pessoal a misturar Colômbia onde estivemos a trabalhar com associações
vários estilos, aliás isso é incentivado. e conhecemos imensas mulheres (cis e trans).
Apresentámos a peça em frente ao parlamento de
Sobre o projeto Revelation. Como surgiu esta Bogotá, no dia em que era discutida a aprovação da
ideia? Lei Rosa Elvira Cely, que reconheceu o feminicídio
Aqui tenho de falar da coreógrafa, Tishou Aminata como crime no país. Éramos 3000 mulheres. A
Kane. Tal como eu, cresceu nos bairros sociais de aprovação dessa lei constituiu uma grande vitória e
Paris. Na altura, o Hip Hop estava a desenvolver-se e mais uma prova de que a arte tem um papel essencial
era muito difícil uma rapariga dançar no meio de na evolução da cultura.
tantos rapazes, porque supostamente o lugar da
mulher não era ali. Então, para ser respeitada, a Como esperas que a peça seja recebida em Lisboa?
Tishou começou a ser ativista e desenvolveu o seu A violência doméstica é um problema em Portugal, tal
trabalho dessa forma. Ela criou este projeto através como a desigualdade de género. Gostaria de chamar a
de uma experiência que teve no Brasil, tendo surgido atenção para o problema e usar a arte para procurar
da vontade de celebrar o que é ser mulher e tudo o soluções. Também espero que chegue à comunidade
que foi feito por nós, apesar da falta de das danças de rua. É uma forma de mostrar que as
reconhecimento. Eu surgi como um novo elemento, nossas capacidades vão além das battles ou de
um pouco de “ar fresco” porque não tinha as mesmas programas de televisão. Espero fazer o máximo de
experiências. Nos primeiros ensaios tive medo porque apresentações possíveis e gostava de colocar o
usava muito a técnica, estava “programada” para as dispositivo em vários pontos do país onde este
battles e essa mudança foi complicada. A Tishou problema também tem diferentes expressões.
insistiu para que participasse, e o facto dela acreditar
em mim dessa forma foi essencial. Assim fiz a
transição da competição para o uso destas linguagens
na transmissão de mensagens nas quais acredito.
Começámos a viajar com o projeto e com o passar do
tempo a própria peça foi renovando os elementos e
assim acabei por ser quem passava e transmitia as
coreografias. Esta peça foi criada para a rua, apesar
de ter também chegado aos teatros através de um
financiamento. Hoje em dia, funciona como um
“dispositivo” que pode ser ativado por qualquer
mulher que esteve ou está presente no projeto e é por
isso que se chama Revelation. Ou seja, é algo que está
comigo - como se eu tivesse uma revelação e levasse o
tema aos diferentes públicos.

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Espaço de
- Arte -

@carinamonso (Instagram)

Carina Monso · Ilustração

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Beatriz
Pequeno
·
Fotografia
e texto

@beatriz.pequeno (Instagram)
www.beatrizpequeno.com

Por entre as sombras, por entre os ossos


Adaptada aos climas tropicais e apta para crescer na sombra das plantas que a
rodeia, a Monstera deliciosa faz-se notar no quintal da minha avó desde que me
lembro de ser da altura das suas folhas. Desde então, surge a comparação das
curvas das folhas com os seus orifícios, por onde brincava às escondidas com a luz,
e com as curvas das minhas costas tortas, onde carrego estas memórias.
Também o quintal da minha mãe acabou por ser invadido com estas raízes aéreas e
por estas folhas largas e escuras, carregadas de clorofila. Fui crescendo com elas,
sem perceber então que não eram só os nossos quintais que nos ligavam à,
vulgarmente chamada, Costela-de-adão. As nossas formas, as nossas tendências
para sermos tortas, as nossas histórias cheias de buracos na memória onde a luz já
não chega, tudo isto se assemelha àquela planta tropical que se espalha
rapidamente nas nossas terras.
Nestas imagens há uma reflexão sobre as semelhanças do meu corpo e do da planta,
das analogias que partilhamos e de como sinto que a sua clorofila é tão minha
quanto a minha melanina. Ver este projeto como um todo será ver a metamorfose
que me transformou numa mulher e que me ensinou a tomar conta do meu quintal,
tal e qual como o meu corpo. Ou estarei eu a falar da mesma coisa?

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à Conversa com
Rita da Nova
Apaixonada por livros, Rita Dantas da
Nova, trabalha na área do marketing
digital. Fã de gatos, tem quatro na sua
casa! Uma mulher decidida e organizada,
podem conhecê-la um pouco melhor
através do seu blog e instagram, e
também, através do podcast partilhado
com o marido, Terapia de Casal.

No podcast "Ponto final, parágrafo", disseste que o Diário de Anne Frank foi o primeiro livro
que te marcou. O que sentiste com esse livro?
Foi o primeiro livro "de adulto" que eu li, devia ter uns 12 ou 13 anos e lembro-me que foi a
primeira vez que senti que os livros não eram só contos de fadas, que também podiam falar sobre
experiências reais e difíceis. Acho que foi também com este livro que percebi que ser triste pode
significar ser bonito.

Um top 5 dos livros que mais gostaste de ler e que mais te marcaram?
Sinto que este top de livros é diferente de cada vez que tenho que o criar. Sem nenhuma ordem
específica, cá vão os que me fazem sentido neste momento:
- A Sombra do Vento, Carlos Ruiz Zafón
- A Little Life, Hanya Yanagihara
- As Intermitências da Morte, José Saramago
- Normal People, Sally Rooney
- Os Livros que Devoraram o Meu Pai, Afonso Cruz

Criar o clube de leitores no GoodReads ajudou-te a sentir-te mais próxima de pessoas que
gostam de ler tanto como tu?
Sem dúvida! O "Uma Dúzia de Livros" começou por ter encontros presenciais (primeiro mensais e
depois trimestrais) e isso ainda me fazia sentir mais próxima dessas pessoas. Agora temos que fazer
o que conseguimos na altura em que vivemos, pelo que o Goodreads foi uma excelente surpresa
pela adesão que teve!

Lançaste este desafio: cada mês, um tema diferente para escolher um livro, é para tornar
mais fácil a escolha do livro ou para tornar o desafio maior?
Tem vários objetivos pequeninos - e cada um é mais ou menos importante consoante a pessoa que
está a participar. Primeiro, eu não queria criar um clube do livro tradicional, em que toda a gente lê
o mesmo livro e o discute no final. Não que haja nada de errado com isso, mas as leituras não se
tornam tão personalizadas como poderiam ser. Depois, também importa olhar para os temas como
portas de entrada para conhecermos mais livros e essa é a grande magia do "Uma Dúzia de Livros":
a cada tema, a minha lista de livros para ler aumenta por conta das leituras de todas as pessoas que
participam. Por fim, pelo menos para mim, ter temas obriga-me a olhar primeiro para os livros que
tenho cá em casa por ler e ver o que pode encaixar - antes de ir comprar, ir buscar à biblioteca ou
pedir emprestado.

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Com o crescer da tecnologia, achas que o gosto Um livro pode ser um bom porto de abrigo
pela leitura vai diminuindo? para quem precisa de espairecer a cabeça sem
Acho que não! Muito pelo contrário, acredito que sair do lugar. Concordas?
esta Era conectada em que vivemos está a ter a Concordo a 100%, acho que os livros são
capacidade de motivar a leitura e de criar excelentes formas de fugirmos ao que estamos a
comunidades à volta dos livros. Podemos viver e de viajar até - sobretudo agora, que não
escolher a forma como olhamos para a nossa podemos. Também acrescentaria que são
dependência de aparelhos eletrónicos, mas a excelentes formas de conhecermos outras
verdade é que, se não fosse a digitalização em maneiras de lidar com os problemas, outras
que vivemos, eu não teria conseguido criar e histórias e testemunhos que, mesmo quando não
manter coisas como o "Uma Dúzia de Livros" ou são reais, nos podem ajudar a lidar melhor com
até o meu blog. Claro que tudo deve ser levado de as situações que estamos a viver.
forma saudável, mas eu prefiro agarrar-me aos
benefícios de podermos contactar com pessoas Existe uma luta diária, por parte da Mulher,
apaixonadas por livros independentemente da para a conquista da igualdade de direitos. Há
sua proximidade física. Dando apenas um algum livro que aborda o feminismo, que te
exemplo de como esta era também é boa para marcou?
criar vida à volta dos livros, o BookTok tem feito
Há livros que abordam o feminismo e que devem
com que a minha lista de novos livros para ler
ser lidos por qualquer pessoa, como o We Should
aumente de dia para dia!
All Be Feminists da Chimamanda Ngozi Adichie,
autora cujos livros eu gosto bastante, mas
Como é que seria possível incentivar as novas também há livros com personagens femininas
gerações a ler? e/ou feministas muito fortes. Esses também são
Parece-me que ninguém tem a resposta certa a importantes para moldarem a forma como
esta pergunta, mas eu acho que há encaramos o papel das mulheres na sociedade.
historicamente um problema com a leitura, que
não está necessariamente dependente das Tens alguma novidade que nos possas contar
distrações que temos hoje em dia. A primeira sobre um possível livro escrito por ti?
coisa que me vem à cabeça é a escolha de livros Não posso adiantar nada, mas posso dizer que
para analisar na escola – eu sei que o Plano vem uma surpresa bem mais depressa do que
Nacional de Leitura é muito vasto e tem livros estava planeado.
muito interessantes, mas não acho que seja a
analisar Os Lusíadas ou a obrigar adolescentes a
ler Os Maias durante as férias de verão que
vamos conseguir motivá-los para a leitura. Eu
tive a "sorte" de ter nascido com apetência para a
leitura, da mesma forma que há pessoas que
nascem, por exemplo, com apetência para outras
coisas. Mas acredito genuinamente que há livros
que podem interessar a qualquer pessoa, basta
haver oportunidade de explorar diferentes
géneros e autores.
Claro que as distrações que temos hoje em dia
também não ajudam, eu própria sofro com elas
(olá, TikTok!), mas acredito mesmo que o gosto
pela leitura pode e deve ser incutido pelos
pais/educadores e, depois, levado de outra forma
nas escolas. Só assim vamos conseguir colocar a
leitura a par de outros hobbies.

va·ga | 15
Espaço de
- Arte -

Raquel Coelho · Pintura

Sequência
Fotográfica

·
alice
martins
@_alicefmartins (Instagram)

va·ga | 16
@sofiaamelancia (Instagram)

Sofia a melancia · Ilustração

va·ga | 17
à Conversa com
Katerina L'dokova

Fotografias de Marco António Gonçalves

Katerina L’dokova, música nascida na Bielorrúsia, juntou-se a nós para partilhar o seu
percurso académico, de vida, as suas opiniões e forma de ver o mundo. Nesta conversa
passamos pelos seus projetos - LEDOK, TRAVESSIA, KATAVENTO e MOVA DREVA, pelas suas
experiências na música, pelo que é ser mulher.

Quando soubeste que querias estudar música? Como foi estudar Jazz em Portugal? Foi muito
Não houve muita questão sobre isso. A minha mãe é diferente da escola em Minsk?
música, o meu pai era pintor e não havia outro Sim, totalmente. Foi difícil passar do mundo clássico,
caminho! Estudei na mesma escola onde os meus pais onde estamos sempre a guiar-nos por um guião muito
estudaram, em Minsk. Aquela escola tem duas claro. De repente, passado tantos anos a fazer isto,
vertentes: música – todos os instrumentos, vertente ficar sem a pauta à frente e começares a fazer tudo
clássica; e artes plásticas – escultura e pintura. Estive por ti, é muito assustador. Tive muitas dificuldades no
lá interna, crescemos num ambiente em bolha (a início, ficava muito ansiosa. Por isso, mesmo hoje em
escola fica atrás de um parque florestal), a ouvir dia, já terminei o curso na Escola Superior de Música
música clássica, a partilhar experiências, a falar sobre de Lisboa (vertente Jazz), não posso dizer que eu sou
arte, a tocar juntos, a ir ao teatro de ópera e ballet. uma super-música de Jazz a “partir a loiça” - como
dizem no mundo do Jazz, até sou bastante tímida e
Também danças. Como surgiu essa vertente? gosto mesmo é de tocar com amigos. Por isso comecei
Terminei os estudos na música clássica em Minsk, a escrever música minha, inventar projetos e a
depois fui dar aulas para os Açores. Gostava muito de imaginar histórias.
música brasileira, Tom Jobim, Chico Buarque... Em
São Miguel, conheci um professor da Escola Superior No tempo em que estudaste aqui em Portugal,
de Lisboa, onde também há Jazz e pensei "pronto, é sentiste que a cultura era desvalorizada?
isso, eu vou estudar Jazz!". Mas antes de sair da ilha, Não posso dizer desvalorizada, mas há menos
houve um pequeno festival, Dançarilhas, que era todo demanda. Por exemplo, nos países do Leste, há
à volta das danças tradicionais europeias. Adorei, escolas de música quase em cada bairro, e muitas
senti-me muito, muito feliz. Passados poucos meses, pessoas que sigam outra área, têm na mesma estudos
vim para Lisboa e as pessoas que conheci no de música básicos. Muita gente em criança visitava
Dançarilhas apresentaram-me a Fábrica Braço de estúdios de pintura ou ia fazer alguma coisa artística -
Prata, onde todas as quartas-feiras havia danças é uma prática comum. Na cidade, também muita
europeias. gente vai a concertos, ao cinema, eventos literários.
Coisas que também existem aqui, simplesmente a
uma escala um bocadinho menor. O que acaba por
acontecer aqui, e acho que noutros sítios também, é
que quando vamos ver um concerto, quem é que
encontramos? Colegas.

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Então quem acaba por consumir a arte são pessoas A natureza tem uma importância relevante?
que estudam ou fazem a arte. São esses círculos, esses Inspira-te a fazer música?
núcleos que aqui provavelmente são mais pequenos. Totalmente. Desde criança. Sempre gostei muito de
Por exemplo, no Brasil tive a oportunidade de ervinhas e passarinhos, e fascinava-me com esse
participar num festival e fazer vários concertos mundo. Lembro-me de uma vez, no 5º ano ou perto,
durante um mês. Naquele mês fiz mais concertos do estar a escrever uma composição sobre "um livro que
que aqui faço num ano. E havia público diferente. estava sempre comigo". "Mas que disparate é esse,
O que eu sinto muitas vezes é que não temos muitas que livro está sempre comigo?", pensei. Então eu
oportunidades de tocar. É difícil fazer com que escrevi que não existia, gostava era de dar uma volta
alguém queira ouvir a tua música… E muitas vezes no parque e ver aquelas luzes que passam entre os
não sabemos chegar bem aos sítios e fazer com que o galhos e que estão a refletir no chão e nas folhas.
sítio queira um concerto nosso. Nós queremos Sentar numa pedrinha e ouvir os passarinhos… é isso
partilhar, chega uma altura em que queremos que eu gosto, e para mim é o que está sempre comigo.
mostrar o que criámos. Eu percebi que mesmo hoje em dia, fico tão feliz
Tens vontade de desistir? quando estou ao pé do mar. A natureza está em tudo
Tantas vezes! Todas as semanas digo “Oh pronto, vou e espero que as pessoas também entendam que são
virar dona de casa”. Felizmente dou aulas. Agora parte dela.
estou a ver se termino o mestrado nessa área
(professora de piano, Jazz e clássico), porque se não
fosse isso de dar aulas… chapéu, não conseguiria. No
outro dia pensei "inventei uma canção". Depois tenho
de ver se está digna de gravação, e então gravá-la.
Para isso, tenho de alugar um estúdio, fazer um
arranjo, convidar os músicos. Depois, tenho que fazer
a mistura, masterização, e mesmo assim, será que
alguém vai ouvir? Talvez tenha de fazer um
videoclipe. É muita coisa em que temos de pensar e
idealmente teríamos alguém que pudesse ajudar um
bocadinho na organização. Eu não sou capaz de, por
exemplo, gerir as redes sociais. Tenho de escrever os
textos dos projetos, organizar gravações ou ensaio,
O LEDOK é o teu primeiro projeto de composição.
também tocar algo para os dedos se lembrarem onde
Como é que começaste?
ficam as teclas. Para compor também seria bom
Eu gostava muito de dançar na Fábrica, e houve um
estudar alguma coisa. Depois também tenho de fazer
dia em que acordei e, de repente, começaram a nascer
um site… E então, quando é que eu escrevo a tese?
melodias. Sentei-me e comecei a escrever, coisas
Qual foi a ligação entre culturas que mais te pequenas, danças, e assim muito naturalmente,
surpreendeu até hoje? nasceu este projeto a dançar. Na minha turma havia
Ui! Não sei, é tanta coisa. Às vezes é simplesmente o um contrabaixista, o João, que também gostava de
sentir. Estás com uma pessoa de outro país, e de danças, e começámos a juntar-nos. Eu mostrava as
repente, praticamente, não precisas de palavras. Não minhas composições, tocávamos, e criámos um
precisamos de nascer no mesmo sítio para nos projeto.
entendermos uns aos outros. Eu acho que é isso, a Chamei-lhe LEDOK. Eram uns encontros informais, só
simplicidade. Acho que foi com essas pessoas com quando podíamos. Só passado um tempo convidámos
quem eu mais aprendi. A bondade, a forma de ver as um percussionista. Começaram a acontecer alguns
coisas… concertos-bailes, porque o universo das danças aqui
Nós queremos é paz, amor e carinho, porque isso são em Portugal não é muito grande. Para além disso o
os valores transversais, que qualquer cantiga piano ainda é um instrumento estranho para as
tradicional fala, resumidamente. Fala das árvores, danças. Há mais concertina, guitarra. Já fomos
dos passarinhos e de tanta coisa boa como a alegria convidados para alguns festivais e é muito fixe, o
nas coisas pequenas e simples. Quando estamos ambiente é maravilhoso, adoro fazer isso. Estar a
imersos na arte, desenvolvemos sensibilidade, é tocar e ver tanta gente feliz a dançar.
inevitável. Começamos a ser capazes de ver beleza em
tudo, e tornamo-nos pessoas mais felizes.

va·ga | 19
Como é que tu alimentas essa criatividade para
conseguires compor?
Eu compunha muito em 2015, 2016, houve meses que
eu compunha praticamente todos os dias, acontecia.
Ou às vezes gravava alguma coisa, que não chegava a
tornar-se composição, mas ficava arrumada algures.
Às vezes vou a essas gravações e aproveito esse
material. Às vezes a caminhar compunha, levava um
bloquinho, escrevia, ora nascia letra, ora nascia
melodia. Aqui está, é muito a natureza. Também sou
inspirada pelo convívio com outras pessoas, ouvir
outras músicas, bem como dançar. E depois, se há
alguém quem pode ouvir a tua música e dizer-te
alguma coisa, é incrível. Tocar com alguém é muito
bom! Por exemplo, conheci um rapaz do Brasil que
pedia para eu tocar as minhas canções. Mostrava,
cheia de vergonha e ele começava a tocar comigo. Eu
ficava maravilhada! Deixou-me muito inspirada e
escrevi o projeto KATAVENTO. Escrevi um concerto
inteiro do zero, compus tudo. Comecei em setembro e
em novembro fiz um concerto. Esta inspiração veio
também daquela atenção. Às vezes precisamos de
saber que alguém quer ouvir, ou às vezes precisamos
de simplesmente ir até à praia ou a um concerto. Na
verdade, é tudo, tudo pode dar essa inspiração.

O TRAVESSIA, lançado em 2019, é inspirado na


Qual foi a receção por parte dos ouvintes ao
cultura portuguesa. Qual a tua opinião sobre esta
projeto LEDOK?
cultura?
Foi o primeiro disco, tivemos apoio do centro cultural
Gosto muito da cultura portuguesa. Descobri muito
Musibéria. Foi possível fazer o crowdfunding, e a
através do projeto "Música Portuguesa a Gostar Dela
partir dai várias pessoas chegaram ao projeto. Depois
Própria" do Tiago Pereira. Conheci-o também. Ele
dos concertos vêm dizer que gostaram muito da
convidou este projeto para o festival Bons Sons! Aqui
música x ou que nunca ouviram esta junção de
também tivemos um grande apoio da Musibéria. O
instrumentos, com aquele toque de Jazz. Mas também
projeto nasceu da vontade de explorar poesia
já houve pessoas que disseram que é mais difícil de
portuguesa, música do universo de Jazz português,
dançar. Eu fico muito feliz quando alguém diz alguma
dos anos 80/90, porque estava a ser esquecida e de
coisa, por isso quando vou eu aos concertos ou aos
repensar algumas canções tradicionais. A cultura
bailes com música ao vivo, tento sempre dizer algo
portuguesa tem canções tradicionais muito
aos músicos.
engraçadas, com letras cheias de brincadeira.

Compuseste o tema "Jangada”. O que sentiste ao


compor este tema?
Bem, o disco era maioritariamente pensado como
disco cantado, com letra. Mas acabei por fazer temas
instrumentais que também fizeram parte do disco. A
"Jangada" nasceu, na verdade, dos tais retalhos dos
anos anteriores. A composição tem uma linha mexida
no piano, o que me faz pensar numa jangada porque
não é um barco grande, é uma coisa que está a
vaguear, feita de um pedaço de madeira e é como a
nossa vida, vai-nos levando e não sabemos onde vai
chegar. Para onde me leva não sei.

va·ga | 20
Como chegaste ao nome KATAVENTO, outro
projeto teu?
Eu sou a Katerina com K, Kata como me chamam os
meus amigos brasileiros. E eu pensei, “O que estou a
fazer? Estou a catar os ventos!”. Eu faço anos em
novembro e queria muito fazer um concerto nos
meus anos. Os músicos têm essa coisa, nem sempre
acontece, mas quando podemos tocar no dia do nosso
aniversario, é uma grande festa. Tinha pessoas com
quem concretizar a ideia. Pensei que, para fazer um
concerto, teria de ter um nome do projeto, assim
inventei o Katavento.
No MOVA DREVA, o teu último projeto, vais buscar
a tua cultura Natal.
Exatamente! Fui ao festival Ethno Portugal, para o
qual tivemos de levar música do país de origem. Ao
começar a minha pesquisa, pensei, “Bem, eu não E para terminar, como é ser mulher na música?
conheço quase nada. Estou a explorar várias culturas, Eu acho lindo! Dizem que as mulheres têm a
mas sobre a minha, nada”. Crescemos num ambiente sensibilidade à flor da pele, sentir mais alguma coisa,
em que não havia ligação com cultura tradicional. de forma diferente. Eu não sei, mas não me queixo,
Muitas pessoas nem bielorusso sabem falar. Comecei gosto muito. Essa nossa forma de ver o mundo, vai
a investigar. É uma cultura maioritariamente pagã, fazer com que a nossa arte, seja arte feminina. E esta
muito focada na natureza, e fazia-me muito sentido. delicadeza pode provavelmente despertar uma
Decidi explorar as cantigas que encontrava das sensação delicada também noutra pessoa, quem sabe.
expedições dos anos 70 e brincar com a minha forma Acho que falta o carinho, o cuidado, a atenção com o
outro, falta falar sobre alguns assuntos que
de ver/compor. Para cantar neste projeto, tive de
provavelmente pessoas mais femininas falam… É
fazer vários exercícios de voz, porque quando
bom também considerar energia boa dentro de nós,
ouvirem, a forma de cantar no LEDOK, na TRAVESSIA
essa energia feminina, sejamos mulheres ou homens.
ou no KATAVENTO, é distinta da MOVA DREVA.
Pois é, acho importante mencionar que não é preciso
No que toca a este último projeto, tens alguma ser mulher para poder agir, partilhar e explorar a
data que queiras partilhar connosco ou ainda não energia suave. Todos nós temos duas energias,
há nada que possas dizer? importante é tentar encontrar equilíbrio. E com a
Ainda não há nada que possa dizer… Por mim, já música talvez posso inspirar alguem a ter esse tipo de
estaria lançado! No entanto, ainda vou amanhã energia, ou inspirar para as suas próprias inspirações,
gravar uns trompetes e falta decidir algumas coisas. ou talvez surge uma vontade de fazer algo bom... Por
Espero que em poucos meses esteja terminado! isso ser mulher na música é tentar... não é fácil, mas é
bem bonito.

va·ga | 21
Espaço de
- Arte -

@dudapasqualino (Instagram)

Maria pasqualino · Ilustração

va·ga | 22
Montreal, Canada

Paula P.
Rezende
·
Graffiti
Montreal, Canada São Paulo, Brasil

São Paulo, Brasil


www.paulaprezende.com.br @paulaprezende (Instagram)
va·ga | 23
Artigo de opinião de
Inès Vooduness
Perguntámos à Inès como é ser uma Mulher afrodescendente no mundo da dança. Apresenta-
nos, neste artigo, a sua realidade, que fala por muitas. Podes ler o original em Castellano
aqui.

Fotografias de Pedro Vidal

Estava a pensar em como começar um artigo de opinião sobre a minha experiência como bailarina
afrodescendente. Fico com um nó na garganta. Hoje em dia não me sinto particularmente bem
depois de me aperceber que participei num projeto no qual todxs xs bailarinxs foram pagxs exceto
eu e a colega do meu grupo de dança. Lágrimas de raiva e impotência após uma longa série de
inanidades desfocam-me a vista. Vou tentar resumir as minhas preocupações e que, hoje, saiba ser
ouvida de forma empática para além da minha fúria e maneira de ser.

Ser uma bailarina afrodescendente, marcada pela negritude através da mestiçagem, é para mim
carregar um grande peso e, em simultâneo, ter responsabilidades importantes. É ter vivido como
um estereótipo antes de o entender e a estes clichés me levaram a viver a dança de uma
determinada forma, antes de ter as ferramentas para analisar o caminho. Refiro-me, por exemplo, a
todas as rejeições por não ter o corpo ou o rabo "certo", que apesar do tempo ainda pesam; ou
àqueles momentos em que a minha relação com o continente africano e as suas danças foi tomada
como garantida.

Ser professora afrodescendente de Kuduro e Coupé Décalé é ser interrompida nas aulas enquanto
se fala do contexto de criação destes estilos com um "mas você, de onde é?”. Não sei de que forma a
resposta a essa pergunta se relaciona ou dá legitimidade ao que estou a falar, mas gostaria de saber
responder.

va·ga | 24
Ser mulher artista é lidar (sem saber como gerir) com a impunidade dos homens a ser aplaudidos,
enquanto espectadora ou vítima da forma cínica como maltratam e/ou violentam as mulheres. É
aprender a lutar por um valor que nem sequer estás convencida de ter, é ser autodidata, em
constante justificação de que o que fazes é importante para que a sociedade compreenda que é
urgente mudar a perspectiva na nossa maneira de consumir cultura.

Muitas vezes, ser uma bailarina afrodescendente é ser inundada de raiva quando se vê que os
corpos e estéticas negras estão sistematicamente no centro e não como uma questão de
representação, mas como resultado de processos racistas de exotização, sexualização e
infantilização. É, para mim, compreender que os espaços que se decide ocupar são importantes,
enquanto aprendes a dizer que não a propostas em que, ou não és paga, ou és valorizada para
completar a quota de diversidade de um projecto.

Em última análise, a minha responsabilidade como bailarina europeia e mestiça é um compromisso


em que uso a minha experiência para compreender as lógicas do poder e assim poder ir além de
mim. É também uma busca pessoal por questões pertinentes, por um duvidar contínuo da minha
posição, pelo meu papel na mudança da percepção das identidades afrodescendentes na Europa,
sem perder de vista a lógica do colorismo que hierarquiza as opressões. Desta forma, compreender
também como o interesse capitalista despolitiza as danças afrodescendentes e como a lógica
neocolonial se instala através da imposição de certas estéticas, modos de consumo e da perpetuação
de uma distribuição colonial de riqueza e visibilidade.

Se os finais tiverem que deixar um vislumbre de esperança, que assim seja o final deste texto. Ela
existe. Está na nossa capacidade de tecer outras redes e utopias férteis para criar novas formas de
nos relacionarmos e apoiarmos. Encontro esperança na resiliência dxs mis companheirxs e no
apoio que as minhas amigas me dão. Descubro-a nas possibilidades criativas e no talento das
pessoas que levantam a sua voz a partir das margens. Recuso-me a perder essa luz que me guia e
que me permite manter a coragem de descolonizar a minha forma de perceber a cultura e de criar
um novo imaginário libertador no qual possamos dialogar com os nossos corpos a partir do cuidado
e da ternura.

Fotografias de Pedro Vidal

va·ga | 25
Espaço de
- Arte -
Quando forem à igreja, se puderem
incluir a Cultura nas vossas orações
ficaremos muito gratos.

Já que aqui estamos, se calhar mais


vale rezar também por todos os
portugueses que, ficando um passo
mais longe da cultura, ficam um
passo mais perto da polarização
social, da discórdia e da
indiferença.

Uma resposta do oprimido:

Bebo, como, beijo, falo, canto,


assobio, expiro, sopro, rio e
também choro. Sinto muito...
e uso batom.

www.behance.net/leonorcanelas

Leonor Canelas · Poesia e


Ilustração

va·ga | 26
Inês um dois três · Ilustração

Sintonia Flutuante
@ines.um.dois.tres (Instagram)

va·ga | 27
à Conversa com
Kenzi
Catarina Rosa, aka Kenzi, mestre
em Biologia Evolutiva, bailarina,
mulher, humana, animal, conversa
connosco sobre o seu percurso na
dança e os projetos que integra -
Orchidaceae, Dunas Livres, Vale
das Lobas, e o seu projeto EVOLVE,
que alia a biologia e o movimento.
Aqui presenteamos um resumo da
nossa conversa, resultado da
videochamada que deu origem a
esta entrevista.

Quando soubeste que querias estudar biologia? Como começou o grupo?


Eu sempre tive e gostei muito de animais, e embora Foi a partir dessas aulas, quando se começaram a
seja de Lisboa, cresci muito próxima do campo. juntar mais alunas. A Piny começou a coreografar-
Quando estava a decidir o que estudar, quis algo nos, nós gostávamos de dançar juntas, e foi
ligado à natureza. Veterinária não dava para mim, crescendo daí. De início era tribal fusion puro e
por isso a solução mais óbvia era biologia! duro, com toda a roupa, muito fiel à música.
Durante os últimos nove anos, crescemos muito
Quando começaste a dançar? E como foi todo
como companhia, tecnicamente, conceptualmente,
esse começo? com a Piny como diretora. Fui aprofundando o meu
Aos 11 anos entrei para uma escola de dança que estudo de vários estilos de dança, e acho que
tinha aberto perto da minha casa, com a minha desenvolvi muito a minha parte artística, ou
irmã mais nova, encorajadas pela minha mãe. criativa, através deste trabalho de arte em grupo. E
Comecei a fazer as aulas da Piny, que eram muito... o grupo foi evoluindo, as pessoas foram
ecléticas! Ela partilhava connosco todos os estilos transitando, e tem sido um processo muito
que ela própria estava a treinar e descobrir. Um dinâmico neste sentido.
deles foi o tribal fusion belly dance (que entretanto Além da dança em si e da criação artística, da qual
mudou de nome através da discussão crescente de tenho imensas saudades neste momento, estar
apropriação cultural), e a Piny abriu uma aula neste grupo tem sido incrível como experiência de
deste estilo onde durante uns dois anos eu fui a crescimento. Crescer com ídolos femininos,
única aluna. Isto foi um grande privilégio porque mulheres tanto mais novas como mais velhas que
sei que hoje em dia muita gente gostaria de ter eu, num grupo diverso e heterogéneo, muito rico.
passado por este processo: a Piny tornou-se uma Essa experiência ensinou-me bastante acerca de
bailarina, coreógrafa e professora reconhecida interação humana, especialmente feminina. E
internacionalmente, e tenho muito orgulho nela e sobretudo por ter acontecido numa altura tão
nos percursos de ambas. importante da vida que é a saída da adolescência
para entrar no mundo jovem adulto. Sei que sou
quem eu sou neste momento porque cresci com
esta comunidade.

va·ga | 28
Quando percebeste que a biologia e a dança Vale das Lobas - nature and health sanctuary
tinham mais em comum do que poderias Donde surgiu esta ideia? Sentes que era algo
imaginar? necessário, principalmente nos tempos que
Não sei quando começou, mas culminou na correm?
quarentena passada, quando tive muito tempo para Juntei-me a este projeto há dois meses, mas já está
pensar! Lembro-me de assuntos específicos em desenvolvimento há dez anos. Senti a
relacionados com movimento que estudei em necessidade de várias coisas: sair da cidade, ter
Biologia. Como exemplo, há estudos de neurologia uma comunidade íntima e pequena diariamente à
sobre o motivo pelo qual não precisamos de pensar minha volta, de agir e interagir com o mundo e o
para utilizar um pé a seguir ao outro quando local onde estou de uma forma mais prática.
caminhamos - tem a ver com uns neurónios Comecei assim à procura de projetos que se
chamados pacemaker. É por isso que podemos focassem na conservação aplicada de natureza, e
andar automaticamente, sem refletirmos no decidi contactar este local quando soube que iam
posicionamento de um e outro lado do corpo para a ter uma Goddess Pool.
deslocação. Acabei por tirar um mestrado em Sinto que projetos assim, se focam em ação direta,
Biologia Evolutiva, e aí apercebi-me dos diversos são muito necessários. Para além disso, este é um
padrões repetidos nos vários tipos de animais, o projeto que concilia a sustentabilidade com o
que me fez refletir em como o ambiente dos nossos turismo, que é uma área na qual já tinha
antepassados, de uni a multicelulares, influenciou o trabalhado, e achei que poderia contribuir para a
nosso tipo de movimentos. E claro que relacionei equipa.
isso à dança, porque dança é movimento! O Vale das Lobas inclui várias componentes, com
bastantes bases teóricas e técnicas mas também
Agora sobre os projetos de que fazes parte:
espirituais, que são implementadas na prática. O
Orchidaceae - grupo de dança
meu trabalho é focado em tornar todas estas
O que sentes quando danças? Liberdade,
componentes acessíveis ao público. Pretende
coragem, força?
revitalizar uma comunidade rural que está muito
Uma curiosidade sobre mim é que nunca me sinto
abandonada e envelhecida, e para onde as pessoas
nervosa antes de entrar em palco! Talvez essa parte
possam ir, seja para desfrutar do parque de
do meu cérebro esteja morta [risos]. Quando estou
campismo e do restaurante naquele sítio
a dançar, o que sinto depende se é um solo ou se é
lindíssimo, ou para usufruir de terapias e medicina
em grupo. Sinto sempre muita ligação com a
natural (vai ter um boticário, onde se vão fabricar
música, mas se danço acompanhada, sinto também
medicamentos com o que for cultivado lá) e da
muita união e uma ligação intensa com quem
agricultura sustentável e orgânica que o sítio
partilho o palco. Penso que a dança, tal como todas
oferece. Queremos também fomentar o comércio
as artes, está muito ligada com a liberdade de
local e, como objetivo final, que as pessoas se
expressão dos nossos vários seres, que coexistem
sintam bem, que voltem e que se sintam
dentro de nós, e assim podemos deixá-los sair. A
reconectadas com a natureza.
dança também me deu muita liberdade na relação
que tenho com o meu próprio corpo, mesmo no dia- Ficamos cheias de vontade de te visitar, quando
a-dia. podemos fazê-lo?
Ainda não há uma data em específico para a
O que sentes quando danças é aquilo que gostas
abertura, mas esperamos que o restaurante e o
que as pessoas sintam quando te veem?
parque de campismo abram já este Verão! Quero
Quando dançamos em grupo, passamos uma
mesmo trazer as pessoas para o meio rural - faz
mensagem em conjunto, e temos um certo
muito bem sair da cidade às vezes e entrar num
ambiente ou uma certa emoção que queremos criar
local mais natural e remoto, permite-nos recentrar
e transmitir. Quando danço sozinha é diferente,
energias, inspirar e recarregar as baterias.
parece mais íntimo, e eu sou a única responsável, o
que me dá liberdade para decidir o que transmitir
no próprio momento, em conexão direta com o
público.

va·ga | 29
Dunas Livres (movimento pela preservação das
dunas da orla costeira Tróia-Sines)
(Artigo aqui; Carta Aberta aqui)
Em que medida te envolves neste movimento?
Estou no Movimento pelas Dunas Livres desde o seu
início, no verão passado, e umas das coisas em que
mais me focava e que quero voltar a fazer em breve
é a comunicação, nomeadamente gestão das redes
sociais: imagem, vídeo e divulgar informação.
Queremos que toda a gente se aperceba do valor
inestimável das dunas na nossa costa, e que sejam
conhecimento público os erros feitos na sua gestão.

A economia fala mais alto que a preservação da


Natureza? Sentes que essa perspetiva está ou
pode vir a mudar?
Penso que infelizmente sim, os poderes económicos
têm imensa influência sobre tudo. O lucro não
devia ser sempre o objetivo, e para lucrar com a
natureza, esta sai prejudicada a grande maioria das
Estudar biologia permitiu-te criar este projeto
vezes. Também sinto que os órgãos que se
de forma criativa?
tornaram responsáveis pela preservação da
natureza não funcionam como deviam. Há falta de Sim! Um dos objetivos principais foi partilhar o
transparência, de organização, e existem diretivas a que conheço da área da ciência e da biologia de
nível europeu que não estão a ser cumpridas. forma acessível. A comunicação de ciência é tão
exclusiva, tão excessivamente complicada... Quis
Fala-nos sobre a importância da preservação explicar tudo devagar, com linguagem fácil, sem
deste tipo de habitat. palavras desnecessárias de 11 letras, para que
A natureza é o verdadeiro luxo! É o nosso lema. Há todos, com qualquer background, pudessem
imensos tesouros naturais em Portugal, sendo as perceber. Tentei trazer, da parte da dança, a
dunas um deles. Infelizmente este tesouro não é consciência corporal, porque sei o que é ter de
valorizado, são explorados de forma errada, apesar passar muito tempo sentada, parada, quando se
de nós querermos usufruir e acreditarmos que é está a estudar ou trabalhar. O meu objetivo com o
nosso privilégio usufruir deles. Queremos que a sua curso não é ensinar um estilo de dança, mas será,
preservação se torne indispensável, seja ao nível do
através de técnicas específicas ou de conceitos de
indivíduo, do município ou do governo nacional,
exploração, fazer com que as pessoas se conectem
para que possamos desfrutar deste património da
com o seu corpo.
melhor forma, com respeito e consideração.
Como procedeste à seleção dos animais que
EVOLVE - nine-episode course where we develop an
aparecem no curso?
exploration of our bodies, working in dance
Alguns animais foram escolhidos especificamente,
through the evolution of animals and vice-versa
como a cobra, que está bastante presente nos
Como tiveste esta ideia?
estilos de dança do Médio Oriente, sendo os
Sempre quis fazer um projeto onde poderia ligar as
movimentos muito musculares e ondulantes.
duas grandes áreas da minha vida: dança e ciência.
Também escolhi por exemplo o louva-a-deus, pois
Quando tinha 18 anos comecei a licenciatura e foi
surpreende-me como os insetos, sendo duros, se
quando as Orchidaceae começaram também. Eu
mexem tão rapidamente e fluidamente! O polvo
vivia em dois mundos bastante diferentes (até o
não tem ossos, e move-se dentro de água, e traz
meu nome era diferente nos dois). Por causa disso
essa mobilidade máxima, para além de ser
sempre quis juntar estas duas partes de mim, até
porque sentia que as tinha separadas, e toda a incrivelmente inteligente. Eu tenho só uma teoria
gente achava incrível quando lhes dizia que da conspiração, que é que os polvos estão a
pertencia à outra realidade. Como tenho um pé nos organizar-se e a causar a subida do nível das águas
dois mundos, quis uni-los de alguma forma. do mar para poderem colonizar a terra [risos].

va·ga | 30
O que gostavas que as pessoas sentissem quando Vejo também ainda muita inferiorização e
participassem no curso? descredibilização de uma investigadora mulher
Um dos objetivos que queria atingir através deste em relação a um homem, mas acho sinceramente
curso é fazer com que os participantes saíssem por que está a melhorar. Sobretudo devido à
um bocadinho do seu cérebro racional humano e se experiência que tive com as Orchidaceae,
ligassem ao ambiente à sua volta, relembrando-se pessoalmente não sinto essa competição na dança,
que somos todos animais, e simplesmente existir e que para mim tem sido um ambiente recetivo,
sentir. Quero que as pessoas, por vontade própria, encorajador e que me apoia bastante. Sei que
procurem esta ligação natural de novo, quer com o focar-me em várias áreas me faz sentir mais em
ambiente quer com os seres vivos à sua volta. contacto comigo mesma. E essas áreas vão sempre
É cada vez mais importante dar relevância à incluir a biologia e a dança. O que eu tento fazer
vida animal e preservá-la. Achas que as pessoas na minha vida é seguir os meus objetivos, mais ou
têm pouco interesse nestes assuntos tão menos desafiantes, e espero que ao fazê-lo,
importantes? apoiando toda a gente que consiga à minha volta,
Pensando ao nível do indivíduo, tenho refletido possa mostrar que tudo é possível.
que, apesar do ser humano ter tanta facilidade em
se adaptar a circunstâncias diferentes, parece que é
difícil mudar comportamentos no dia-a-dia.
Fazemos muitas coisas automaticamente, por
hábito, mas que têm tantas consequências
negativas, e nem é por não sabermos. Mesmo que
tenhamos todo o conhecimento de que o que
estamos a fazer vai afetar algo negativamente,
fazêmo-lo na mesma...
Contudo, neste movimento pela preservação da
natureza e do planeta, que felizmente está cada vez
maior e mais público, também acho que às vezes a
forma de como a mensagem é passada não é eficaz,
e muitas vezes pega agressivamente pelo lado
negativo, o que se for feito da forma errada pode
fazer com que as pessoas se afastem do assunto em
vez de o confrontarem. Ou, bastante comum nos
dias que correm, há tanta, tanta informação a
circular, que se torna difícil saber o que fazer.
Penso que temos de tomar decisões conscientes e
pensarmos não só em nós, no nosso dia-a-dia que
naturalmente tanto nos ocupa a mente, mas no
bem-estar geral e global, o que é difícil e fica
bastante... overwhelming.
Como é ser mulher nestes dois mundos tão
distintos?
Na dança e na ciência? Penso que reflete a
experiência de ser mulher em todos os outros
campos. Na ciência em específico, por exemplo, vejo
muita competição agressiva, sobretudo entre
mulheres, o que me entristece bastante. É
completamente desnecessário e contraproducente.

va·ga | 31
Espaço de
- Arte -
Silêncio é ouro,
paisagem rara
mas os tempos de hoje
demandam garra;
Helenah
A voz erguida,
bem colocada,
a mente sã e clareada.
Reis
O corpo apto pra caminhada,
a trilha é longa e demorada,
·
há impedimentos,
contas erradas, Poesia
há contra-sensos e há ciladas...

Saltando pontes reviradas,


quebrando cartas já rasgadas,
virado o ponto que já foi estrada,
regresso ao conto que não me agrada.

Que já foi história, tão recordada...


Já foi em tempos até louvada.
Porque estes tempos de estar calada, já têm mofo.
Adiantam?
Nada.

Erguei-vos pois de uma assentada,


erguei a voz,
erguei a alma,
cortai a rede armadilhada de ilusões,
encruzilhadas...

Pois somos seres em caminhada por termos fome e termos asas.

va·ga | 32
Ave Mar (I,II and III), oil on canvas, 148 x 86, 153 e 50 cm respetivamente, 2019
@lmota___ (Instagram)

Laura mota · Pintura e texto

Como ponto de partida, utilizei uma memória de infância de férias de verão na costa
alentejana. Esta lembrança surge, devido ao meu contacto diário com a paisagem do estuário
do Tejo na baixa lisboeta. Comecei por fazer experiências com fotografia nas praias mais
próximas e o meu interesse foi cair nos reflexos azuis da água.
Após algumas fórmulas plásticas a óleo, o traçado, com inspiração nesses mesmos reflexos
demonstrou um elevado gestualismo, e juntamente com as nuances das cores, o conjunto
trouxe uma dimensão às experiências que já ia além da própria representação da água.
Consequentemente, decidi aumentar a escala de maneira a amplificar o impacto das obras e
para libertar mais o gesto.
A leitura do Tratado de História das Religiões de Mircea Eliade expandiu a minha perceção
simbólica da água, para a qual o meu trabalho já remetia e que de certa forma tem a ver com o
papel dessa memória na minha consciência. É uma memória que limpa, que traz um momento
de pureza onde o mar e a atmosfera se unem e quase me fazem levitar na paisagem das falésias
do meu passado.
Tal realidade transfiguro agora no meu tríptico. Ave Mar é uma prece ao intemporal,
eternamente presente no meu consciente e inconsciente. É o movimento dos caminhos que
ficaram para trás e daquilo que me leva em frente. Aquilo que me permitiu finalmente
mergulhar no meu ser, compreender a sua profundidade e, principalmente, a sua capacidade.
Este dilúvio levará o espectador a maravilhar-se com o mistério da água/ memória/
inconsciente que limpa e traz a calma.

va·ga | 33
Emergir

Ele vem como uma onda, cresce aos poucos.


É uma pequena vibração, um movimento involuntário.
Ele aumenta, se revolve e emerge.
Se desenrola…
Arredio, intempestivo e impiedoso.
Arrasta tudo que encontra pela frente.
Cega e afoga.
É violento, voraz…
É excruciante.
Não há como resistir.
Não há nada que se possa fazer.
Nada além de se entregar.
E então a agonia vira paz.
A paz de se deixar levar.
Até que a onda quebre na encosta e a maré volte a baixar.

@lais_schulz (Instagram)

Lais Schulz · Poesia e


Fotografia

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Evolução do feminismo e direitos da
mulher em Portugal
por Mariana Mendes

1897 É fundada, em Lisboa, a Federação Socialista do Sexo Feminino.

1907 Criação do Grupo Português de Estudos Feministas sob a direção de Ana de Castro Osório.

Reuniu-se o Congresso Feminista da Educação em Lisboa, organizado pelo


1924 Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. Durante 5 dias o Conselho recebeu
apoio a nível nacional e internacional.

1928 Segundo Congresso Feminista.

1935 Pela primeira vez três mulheres têm assento na Assembleia Nacional.

1968 São acordados direitos políticos iguais para homens e mulheres, independentemente
dos laços matrimoniais.

1969 É introduzida na Legislação Portuguesa a igualdade salarial.

Mª Teresa Lobo é a primeira mulher no governo, com o cargo de subsecretária de Estado


1971 da Segurança Social.

O regime autocrático é derrubado e substituído por um regime democrático. As mulheres


1975 podem aceder pela primeira vez à magistratura, ao serviço diplomático e a posições na
administração local.
É aprovada a licença de maternidade de 90 dias. Os serviços públicos de saúde colocam
1976 à disposição consultas de planeamento familiar. É adotada uma nova Constituição, que
consagra a igualdade de mulheres e homens em todos os domínios.
Um decreto lei estabelece a igualdade mulheres/homens no emprego e no
1979 trabalho. É criada uma "Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego",
ligada ao Ministério do Trabalho, para supervisionar a aplicação deste decreto lei.
Primeira mulher nomeada Governadora Civil: Mariana Calhau Perdigão (Évora).
1980 Portugal ratifica a "Convenção das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra as Mulheres.

1991 Criação da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, que substitui a
Comissão da Condição Feminina.

É desenvolvido um "Plano Global para a Igualdade de Oportunidades


1997 mulheres/homens". São alargados os prazos em que o aborto, dentro de certas
condições, é legal.

2006 Impostas quotas mínimas de 33% de cada género no


parlamento.

2007 Segundo referendo à despenalização do aborto.


Venceu o sim.

2015 A "importunação sexual" na rua passa a ser crime.

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8 de Março
Por Cheila Collaço Rodrigues,
ativista do Núcleo de Lisboa da Rede 8 de Março

ostumo dizer que o 8 de Março foi o único grande evento vivido coletivamente em 2020, em Lisboa e
não só, já quase com um pé na primeira quarentena, e a relativa Liberdade que constituía a nossa
“normalidade”, sem distanciamento social ou qualquer outra das medidas que passámos a conhecer
demasiado bem. Um ano depois daquele momento incrível e forte, já todxs tivemos oportunidade de fazer
mil retrospetivas. Apresento a minha visão enquanto ativista ecofeminista, organizada em vários
coletivos e movimentos, entre eles na Rede 8 de Março. Esta é uma plataforma nacional, que todos os
anos se propõe a construir a Greve Feminista no Dia da Mulher, e a Marcha que leva, ou costumava levar,
milhares de pessoas às ruas deste país.

O vírus que enfrentamos veio condicionar as nossas vivências de forma completamente inesperada, a
nível planetário. Mais ainda, assiste-se ao ressurgir descarado do discurso fascista. Ocorreram sucessivos
ataques a ativistas. Evidenciam-se várias fraturas no Movimento, por tensões e conflitos que parecem
irreconciliáveis, também no âmbito do Feminismo, que causaram cisões e dissidências. Há muita reflexão
e auto-crítica por fazer, para construir alianças e estratégias comuns a lutas que só se podem fortalecer
quando articuladas umas com as outras. Temos ainda a considerar, a apatia generalizada que se instalou
no Movimento, a desmobilização causada pelo afastamento social e a perda de espaços de lazer e de
militância. Perante este cenário, a Rede 8M, não conseguiu escapar ilesa de alguns danos e até de algumas
polémicas, mas ainda assim predispôs-se a organizar, em pleno Estado de Emergência, um protesto que
tomou a forma de Concentração e que teve lugar em diversos pontos do país, como no Rossio em Lisboa
ou nos Aliados no Porto. A Rede 8M é constituída por Partidos, Sindicatos, Coletivos e Mulheres
Independentes, onde me incluo. Convocamos uma Greve que se rege por pautas feministas, e que assenta
em três pilares - a Greve Laboral, a Greve aos Cuidados e a Greve ao Consumo, campos onde
consideramos ser alvo de Discriminação continuada e sem fim à vista. As desigualdades e injustiças
sentidas por mulheres no mundo laboral continuam a ser evidentes. São apenas alguns exemplos a
disparidade salarial, o acesso e manutenção dos postos de trabalho, o assédio e a crescente precarização
dos trabalhos efetuados por mulheres, entre muitos outros. Se a Greve Laboral é fácil de entender, o
mesmo não se poderá dizer quanto aos outros pilares, que até têm afastado algumas companheiras. As
subtilezas são outras quando falamos do trabalho não remunerado dos cuidados ou das lógicas de
consumo que nos continuam a manter num papel de subordinação.

Para nós é imperativo lembrar que, sem o trabalho dos cuidados, que encurrala a mulher em todas as
frentes com a dupla e tripla jornada, nem com o trabalho reprodutivo, a sociedade colapsaria
completamente. Neste sentido, a pandemia deu-nos exemplos concretos. Daí nascem os slogans “não é
amor, é trabalho não remunerado” e “se as mulheres param, o mundo pára” que infelizmente continuam
a fazer sentido. Relativamente ao pilar do Consumo, queremos denunciar as lógicas de mercado que o
capitalismo construiu sobre as vidas, corpos e experiências das mulheres. A Ocidente, através da
padronização dos corpos, da ditadura da beleza e da moda, de um sistema que nos quer reduzir a
consumidoras, dirigindo-se diretamente às nossas inseguranças e fragilidades, àquelas que nos são
impostas desde a nascença e que serão prolongadas enquanto vivermos debaixo da bandeira do
capitalismo patriarcal. A Oriente ou no Sul Global, a exploração que leva milhares de mulheres a uma
vida miserável, e onde o extrativismo ou prolongamento do colonialismo é admitido, onde o saque de
recursos é legitimado para continuar a enriquecer o Norte Global.

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Esta é a nossa base de trabalho e atuação, a partir
da qual desenhamos reivindicações, que não
nascem sem muita discussão interna (e acesa). A
Rede é um espaço amplo, com bastante "Se as mulheres
diversidade ideológica dentro do que
consideramos ser a Esquerda.
O mais importante a sublinhar neste contexto é param, o
que, durante o último ano, com todos os novos
condicionantes e perante os velhos desafios,
tentámos fazer auto-crítica, ouvindo as mundo pára."
considerações pertinentes que nos apontavam
como falhas. A interseccionalidade tem sido e
continuará a ser um ponto central, que quer ir
muito além da mera representatividade, Poderia tentar descrever o que foi para nós
nomeadamente na questão anti-racista, ou por organizar um 8 de Março com todas as
exemplo na transinclusividade. Neste sentido, contingências que um Estado de Emergência
reforçámos a premência do Movimento Feminista exige e compreende, com tão poucas mãos, tempo
ser movido pelo anti-racismo, anti-fascismo e anti- e meios para o efeito. Poderia transmitir o que foi
capitalismo, mas também a de refletir os temas esse processo, com a crítica apontada devido à
que tratamos de um ponto de vista interseccional organização de um protesto presencial e até de
e decolonial, chamando, veiculando e ouvindo algumas ameaças - ainda que tivéssemos criado
todas as vozes, tantas vezes esquecidas, que têm alternativas que acautelassem as várias
sido os outrxs históricos. dificuldades em comparecer presencialmente,
como foi o caso da assembleia aberta online que
O meu percurso na Rede enquanto ativista é sem contou com muitas presenças. Poderia contar-vos
dúvida motivado por tudo o que mencionei do medo, da incerteza de quantas pessoas
anteriormente, por encontrar um espaço para apareceriam, dos nervos e dos problemas que
propor outra sociedade, igualitária, justa em poderíamos vir a sofrer pela resistência das
conjunto com outras companheiras. O meu papel autoridades em ver pertinência no nosso
tem sido fazer ecoar as palavras de Marielle protesto. Poderia tentar dizer-vos de inúmeras
Franco, “Diversas mas nunca Dispersas”, tanto maneiras a razão pela qual a rua é fulcral para
internamente, como conciliando com outros nós mas em vez disso, poderão ler aqui o
movimentos e coletivos feministas. Acredito que manifesto que levei às minhas companheiras de
este é o único caminho a seguir se queremos luta, a todas as minhas manas de causa, a todas as
enfrentar com garra e estratégia os tempos que mulheres que têm vindo a não falhar e não faltar
estamos a viver e que se aproximam, neste à nossa chamada, a todxs o meu mais sentido
capitalismo de crise que a entropia causada pela obrigada e a Luta continua!
pandemia veio fortalecer. O meu percurso
enquanto ativista não é linear nem consensual ao "A acção é o antídoto do desespero" como dizia
que a Rede 8M representa. Sou uma ecofeminista Joan Baez, aqui fica este momento que é o meu
ou anarcofeminista, ou ainda uma mulher que coração a gritar para o Movimento. É o meu
dispensa muitos dos rótulos através dos quais ela coração a bater por Tudo e Todas.
própria se define, por falta de melhores termos ou
palavras. Mulher que por meio da sua arte e vida,
procura manter vivo e contribuir para a
multiplicação do Arquétipo da Bruxa - a louca,
odiada, mal-entendida, mas em último caso, livre,
não-subordinada, empoderada - que achou lugar
entre as companheiras, num espaço que quer
continuar a construir, em segurança,
solidariedade, empatia e sororidade.

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Maria antunes
apresenta
Redor Trailer aqui
A pesquisa teve como princípio a ideia de tempo
e a sua contagem. Durante a primeira residência,
o solo ganhou uma nova camada através de
aplicações que tivessem como denominador
comum a contagem do tempo. Aplicações de
exercício físico, ingestão de água, meditação,
sono, todas elas contêm um temporizador e/ou
um alarme de aviso, com vários níveis/estádios.
Foi esta especificidade que se encontrou para o
solo: a ideia de um corpo executante, em
exibição, singular e que obedece.
A imagem de uma battle de danças urbanas na
FICHA ARTÍSTICA
qual cada bailarino tem cerca de 60 segundos Direcção, Criação, Interpretação | Maria Antunes
para se expressar, está presente. As battles têm Música Original | Rui Rodrigues
várias rondas e várias fases, sempre em alta Sinopse | A obra é um paradoxo, sobre quem a
performance. Um corpo que propositadamente se programa e quem a ela obedece. Um corpo é
mantém no centro, e em constante exibição. chamado a palco para obedecer a ordens, assim
como todos que assistem. Corpo humano-
A sonoplastia é original e criada para o solo, tecnológico, corpo presente, corpo pouco corpo,
explorando a contagem de tempo através da corpo máquina, corpo executante. Corpo capaz de
utilização do metrónomo, relógios e alarmes obedecer e capaz de cumprir, reflexo de
como notificação de início/término da acção, ocuparmos o nosso tempo com alarmes, alertas,
assim como a voz ao estilo assistente virtual que relógios e aplicações.
conduz o desenrolar do solo. Dramaturgia | Raquel de Lima
Residência | ICC - Imaginarius Centro de Criação
REDOR… é um solo de danças urbanas em fusão Apresentações | LOOP - Festival Danças Urbanas e
com uma linguagem contemporânea. Clubbing, Festival Projecções, Festival Lugar
Futuro
… é sobre quem somos quando instalamos e Agradecimentos | Catarina Campos, Kenzi, Melissa
programamos estas aplicações, que alertam e Sousa, Piny
comandam o nosso tempo, que nos tornam Estreia Nacional no LOOP Festival de Danças
reféns de um universo automatizado. Urbanas 2019 - CineTeatro António Lamoso, 10
Novembro 2019

Fotografias de Pedro Figueiredo


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Tempo Para
Cultura

data de redação desta edição o mundo enfrenta uma pandemia que


fez com que os nossos hábitos de consumo cultural mudassem
drasticamente. Contudo, e porque somos conhecidos por nos adaptarmos a
situações novas, temos também testemunhado as estratégias que cada um
tem criado para preencher o vazio deixado pela ausência que os concertos,
o cinema, o teatro e espaços como o Com Calma, deixaram com esta
ausência.
Ora sendo nós uma revista que tem como tema deste mês a Mulher e as
suas formas de expressão, apresentamos aqui algumas das nossas
sugestões de filmes, séries e podcasts produzidos e dirigidos por mulheres.
Esperamos que sejam uma forma de inspiração nestes dias mais díficeis!

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as nossas
sugestões

Filmes Séries
Booksmart de Olivia Wilde Alias Grace de Marry Harron

Selma de Ava DuVernay O Meu Sangue de Tota Alves

The Virgin Suicides de Sofia Copola Mulheres do Meu País de Raquel Freire

Listen de Ana Rocha de Sousa When They See Us de Ava DuVernay

13th de Ava DuVernay Fleabag de Phoebe Waller-Bridge

Portrait of a Lady on Fire de Céline Sciamma The Mindy Project de Mindy Kaling

Sete Mulheres de Yvonne Sciò Scandal de Shonda Rhimes

Lady Bird de Greta Gerwig Killing Eve de Suzanne Heathcote

Emma. de Autumn de Wilde Thirteen de Marnie Dickens

American Honey de Andrea Arnold Normal People de Hettie Macdonald

Daughters of the Dust de Julie Dash New Girl de Liz Meriwether

Zama de Lucrecia Martel

Bright Star de Jane Campion

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as nossas
sugestões
Podcasts
The Michelle Obama Podcast de Fuso de Bumba na Fofinha
Michelle Obama
Café Duplo de Rita Serrano
Le Podcast des Leadeuses de
Médhie Marinette Só mais 5 minutos de Catarina Miranda

Et si on avançait? de Marielle Cuirassier Na Caravana de Rita Ferro Alvim

Paroles de Femmes na EMCI TV Extremamente Desagradável de


Joana Marques

A Minha Vida Dava um Filme de


Rubrica Antena 3: Joana Miranda
Fricção Científica de Isilda Sanches
Vallium de Sara Vicário

Qualquer Dia é Muito Tempo de


Bárbara Cardoso

A Vida Resolve-se Sozinha de Catarina Beato

Consultoryo de Yolanda Tati

Zona Verde de Ana Carreira

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Agenda Cultural
Workshops/ Abril
Formações Conferências
"As Mulheres na Arte / A Arte "Climate Change: What Can Culture
das Mulheres" – 9 de Abril a 16 Do?"- 1 de Abril
de Julho| SNBA "Palavra Cruzada com Helena
"Introdução à Fotografia" – 10 de Vasconcelos" - 6, 13, 20 e 27 de Abril |
Abril CCB
"Comunicação Cultural" – 29 de “Diversidade e Inclusão” – 26 de
Março a 6 de Abril Abril
"RESPONSABILIDADE SOCIAL" –
13 de Abril
Teatro/ Dança/
Música
"NINFO MANÍACA" – 7 de Abril
| Rua das Gaivotas
Literatura "Catarina e a Beleza de Matar
Clube de Leitura Com Calma – Fascistas" – 7 a 25 de Abril |
3 de Abril TNDMII
Momentos de Poesia com Ana "Memórias de Uma
Sofia Brito – 4 a 18 Abril Falsificadora" – 12 a 19 de Abril
| São Luiz Teatro Municipal
"3 Irmãs" – 16 de Abril | Teatro-
Cine de Torres Vedras
"VIDAS COM ARTE - PAULA
Concursos/ VARANDA" – 28 de Abril

Candidaturas
Concurso de curtas-metragens
"O Meu Bairro é Lisboa" de 11 de
Março a 5 de Abril Exposições
"O símbolo de uma pandemia",
Rita Ferreira "Mal-me-quer" –
exposição temporária na FBAUL
até 10 de Abril
— open call, inscrições até 7 de
“Os meus álbuns de família” –
Abril
20 de Março a 11 de Abril
Candidatura "Apoio à criação
“Apontamentos de Viagem” -
artística" de 1 de Março a 30 de
Exposição de desenho de
Abril
Carlota Monjardino – até 30 de
Arte Acessível Lisboa – 31 de
Abril
Março a 14 de Abril | Uivo Pro

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Agradecimentos
A VAGA nasceu com o intuito de manter a cultura viva e de continuar a
partilhar com a comunidade. Como tal, queremos agradecer a todas as
mulheres incríveis que fizeram parte desta 1ª edição - foram vocês que
tornaram tudo possível. Um grande obrigada a todas as que nos
enviaram o seu trabalho, por partilharem connosco a sua arte. Foi um
processo muito recompensante e com muita aprendizagem,

Às que constam nesta revista,


Alice Martins
Beatriz Pequeno
Carina MonSo
Catarina Mendes
Catarina Rosa (Kenzi)
Cheila Collaço Rodrigues
Helenah Reis
Inês Pinto
Inès Vooduness
Katerina L'dokova
Laís Schulz
Laura Mota
Leonor Canelas
Lúcia Afonso A nível de apoio e
contributo com ideias
Maria Antunes abstratas ou outras mais
Maria Beatriz Rocha concretas sobre
Maria Pasqualino ultrapassar desafios,
agradecemos
Paula P Rezende
especialmente a
Raquel Coelho
Rita da Nova Ana Mendes
Sofia a Melancia Carolina Serranito
Catarina Alonso
Clarisse Hetier
e a todas as que participaram! Daniel Lopes
Madalena Horta
Maria Antunes
Raquel Andrade
Ricardo Russo
Sara Lucas
Sebastião Castro

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1ª EDIÇÃO MARÇO 2021

Creían que yo era


surrealista pero no
lo era. nunca pinté
sueños. pinté mi
própia realidad.
frida khalo Ilustração capa
Renata Reynaud

Concepção e produção
Margarida Monteiro
Inês Alfredo
Matilde Sousa
Mariana Mendes
Rebecca Mateus
Renata Reynaud

para todas Edição


Mariana Mendes
Rebecca Mateus
Renata Reynaud

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