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PSICOLOGIA E MORAL NO MAGISTÉRIO DE PIO XII

Por Martín F. Echavarría


Tradução de Rhuan Matheus E. Honório

INTRODUÇÃO
Parece que os psicólogos católicos temos uma desvantagem em comparação a
outros profissionais cujas matérias foram tratadas ampla e explicitamente pelo Magistério
da Igreja. Quem deseja buscá-lo, encontrará abundante material sobre educação, direito,
política ou medicina, por exemplo. Não é o mesmo com a Psicologia.
No entanto, o Magistério pronunciou-se sobre temas concernentes à Psicologia
mais do que parece à primeira vista, e é chegada a hora de sistematizar este material, em
ordem a ilustrar a atividade dos psicólogos¹, que hoje estamos presentes em quase todos
os âmbitos da vida social: na escola, nas empresas, nos centros de saúde, etc.; em quase
todos os momentos importantes da vida das pessoas: o parto, os estágios críticos do
desenvolvimento, a orientação vocacional, as crises conjugais, as situações traumáticas,
a morte, etc. Esta “onipresença” dos psicólogos é característica de uma sociedade em crise
e com uma concepção tecnológica da vida pessoal (quando minhas emoções ou meus
relacionamentos interpessoais vão mal, vou pessoalmente ao “técnico” que coloque as
coisas em ordem para que a máquina volte a funcionar), que atravessa todos os setores da
vida humana e penetra muitas vezes na vida religiosa. A isto devemos acrescentar o fato
de que, como assinalou João Paulo II, grande parte das correntes de Psicologia
contemporânea, consideradas globalmente, são contrárias à visão cristã do homem². Tudo
isto faz da iluminação da Psicologia pela antropologia cristã uma tarefa importante e
urgente.
Nesse sentido, o Magistério de Pio XII é especialmente esclarecedor por diversos
motivos:
a) Porque se pronuncia acerca da Psicologia (e muito especialmente da psicoterapia)
em alocuções dirigidas a psicólogos e psicoterapeutas, e com uma clara intenção
magisterial (poderíamos dizer que com ele começa o Magistério acerca da
Psicologia contemporânea).
b) Porque desenvolve os temas de maneira sistemática.
c) Porque ilumina os problemas centrais da Psicologia desde o ponto de vida da
antropologia teológica e da moral tradicional, com clara orientação tomista.
d) Porque, avaliando positivamente a finalidade da Psicologia contemporânea, alerta
com lucidez sobre as dificuldades antropológicas e morais de algumas teorias e
métodos.
Como indica o título deste apêndice, o tema central é o da relação entre Psicologia e
moral. Mas não se trata somente de um juízo deontológico sobre os deveres morais dos
psicólogos. Conectando com a tradição mais profunda da moral, a que nos referimos neste
livro, o Papa volta à profunda unidade entre visão de homem, personalidade e conduta,
de raiz aristotélica, ao ponto de conectar intrinsicamente a atividade psicoterapêutica e a
moral³.
1. PRESSUPOSTOS ANTROPOLÓGICOS: A PERSONALIDADE HUMANA
O ponto de partida das diretrizes antropológicas e morais que Pio XII traça para a
Psicologia é a concepção clássica acerca do homem, tal como foi especialmente
desenvolvida por Santo Tomás de Aquino. O conceito principal que o Papa quer resgatar
é o de alma, em seu aspecto de forma substancial e de princípio operativo. A alma é o
princípio pela qual o homem existe, recebe sua espécie, sua unidade, e é constituído como
um todo, em nível orgânico. Muito mais a nível anímico, tanto do ponto de vista anímico
quanto do ponto de vista operativo. Desenvolver uma Psicologia sem alma é, por
princípio, impossível. Ainda que faculdades e tendências possam ser distinguidas no
homem, estas devem ser compreendidas do ponto de vista do propósito do todo,
representado pela alma: «Vós, psicólogos e psicoterapeutas, deveis ter em conta este fato:
a existência de cada faculdade ou função psíquica se justifica pelo fim do todo. O que
constitui o home é principalmente a alma, forma substancial de sua natureza. Dela deriva,
em última instância, toda a vida humana; nela radicam todos os dinamismos psíquicos
com sua estrutura própria e sua lei orgânica; é ela a encarregada pela natureza de dirigir
todas as energias, enquanto ainda não adquiriram sua última determinação».
Partindo de tal ponto de vista, Pio XII critica as teorias que entronizam alguns
dinamismos particulares do psiquismo (como o impulso sexual), esquecendo sua
ordenação e direção dentro da alma humana, cujas faculdades fundamentais são a
inteligência e vontade⁵.
Considerando que a personalidade é geralmente o tema principal da Psicologia
aplicada e da psicoterapia, o Papa desenvolve suas bases morais e antropológicas a partir
dela. Pio XII chama a atenção para a falta de precisão na definição de muitos termos
fundamentais usados pela Psicologia, entre eles o de personalidade⁶. Por esse motive, o
Santo Padre dá sua própria definição de personalidade: «Definimos a personalidade como
a unidade psicossomática do homem, enquanto determinada e governada pela alma»⁷. Isto
é, a personalidade é o aspecto operativo da pessoa, cuja multiplicidade (de potências,
hábitos e atos) encontra sua unidade a partir da alma como princípio diretivo.
A partir desta definição, o Papa, aplicando os princípios antes mencionados,
estabelece as bases antropológicas da Psicologia:
1. A personalidade é uma unidade, isto é, um todo: «Esta definição fala da
personalidade como uma “unidade”, porque a considera como um todo, cujas
partes, conquanto conservem suas características específicas, não estão separadas,
mas ligadas organicamente entre elas»⁸.
2. Esta unidade é psicossomática: Pio XII, tendo por base a visão da unidade
hilemórfica de corpo e alma, confirma a concepção unitária do homem em alguns
estudos psicológicos⁹.
3. A alma é capaz de governar esta totalidade psicossomática. Nesse sentido, Pio XII
fala da pessoa como um «ego», justamente pela capacidade de governar-se a si
mesma, racional a livremente, por virtude do espírito. O homem goza de uma
interioridade e intimidade maior que a dos demais animais, possui a si próprio
ontologicamente e, por consequência, operativa e moralmente. Por este motivo,
permanece o mesmo ao longo de toda a vida¹⁰. «O indivíduo, como unidade e
totalidade indivisível, constitui um centro único e universal do ser e da ação, um
“eu” que possui a si próprio e dispõe de si mesmo. Esse “eu” é o mesmo para
todas as funções psíquicas, e permanece o mesmo apesar do passar do tempo. A
universalidade do “eu” em extensão e duração se aplica particularmente ao nexo
causal, que o conecta a suas atividades espirituais. Este “eu” universal e
permanente opera sob a influência de causas de causas externas ou internas,
conscientemente percebidas ou aceitas implicitamente, mas sempre por uma
decisão livre, uma atitude determinada e um caráter permanente, tanto em seu ser
interior quanto em seu comportamento exterior. Como esta marca própria da
personalidade provém em última instância da alma espiritual, a definimos como
“determinada pela alma”, e porque não se trata de um processo ocasional, mas
contínuo, adicionamos “governada pela alma”»¹¹.
Com estas palavras, o Papa afirma claramente que o caráter, em última instância (sem
negar outros elementos que intervenham “materialmente”), é “formalmente” determinado
pela livre escolha. Consequentemente, defende a consistência entitativa do ego,
rechaçando aqueles que o reduzem a um fluxo constante de percepções (empirismo) ou a
um complexo de representações constantemente em risco de dissolução (psicanálise). Por
outro lado, coloca a mente espiritual como centro ontológico e funcional da pessoa,
rechaçando tendências como a freudiana de considerar o ego como um produto
evolutivamente tardio que emergiria do id original em que consistiria nosso verdadeiro
ser. Tudo isso tem importantes consequências psicoterapêuticas, como veremos adiante.

2. PRESSUPOSTOS MORAIS: LIBERDADE, RESPONSABILIDADE E GRAÇA


DIVINA
A personalidade pode ser considerada do ponto de vista estritamente descritivo ou
do ponto de vista dos valores que a governam¹². Esta última é uma consideração moral –
e também religiosa – da personalidade, que é essencial para compreender a pessoa
concreta. Nesse sentido, o Papa assinala os seguintes pontos que devem constituir a base
teológica e moral que oriente a prática do psicólogo:
a) Deus é o criador do homem. Este fato pode não aparecer explicitamente na
investigação psicológica empírica, mas tampouco deve ser contradito¹³. Em
verdade, o homem é uma criatura muito particular: é imagem de Deus. Isto se
pode compreender, até certo ponto, pela luz da razão natural. Por outro lado, o
homem recebeu a filiação divina em Cristo. O ser humano está chamado à
divinização pela graça. É a partir disso que se deve julgar o homem concreto.
Estes dados são especialmente importantes para a Psicologia prática. Se não os
reconhecemos, ainda que provenham da revelação sobrenatural, corre-se o risco
de errar gravemente na compreensão concreta dos homens e, especialmente, da
“personalidade cristã”: «Quando consideramos o homem como obra de Deus,
descobrimos nele duas características importantes para o desenvolvimento e para
o valor da personalidade cristã: sua semelhança com Deus, que procede do ato
criador, e sua filiação divina em Cristo, manifestada pela revelação. De fato, a
personalidade cristã se torna incompreensível se esses dados são negligenciados,
e a Psicologia, sobretudo a aplicada, se expõe também a incompreensões e erros
quando os ignora. Isto porque se trata de fatos reais, não imaginários ou supostos.
Que esses fatos sejam conhecidos pela revelação nada diminui a sua autenticidade,
porque a revelação permite ao homem superar os limites de uma inteligência
limitada, a fim de abandonar-se à infinita inteligência de Deus ¹⁴».
Isto vale não se aplica apenas aos pontos cardiais da antropologia cristã: o homem,
feito à imagem de Deus e sua divinização em Cristo; mas também para suas
consequências (e para outros dados essenciais, como o pecado original). Por exemplo: as
virtudes morais infusas e as virtudes teologais afetam nosso psiquismo real, que é o seu
sujeito, produzindo transformações que não são fenomenologicamente compreensíveis de
uma perspectiva natural (mesmo filosófica), mas da perspectiva da teologia da graça e
das virtudes infusas.
b) O objetivo: «O homem é uma unidade e um todo ordenado; um microcosmo, um
tipo de estado cuja constituição, determinada pelo fim do todo, subordina a esse
fim a atividade das partes de acordo com a verdadeira ordem de seu valor e de sua
função»¹⁵. Essa unidade psicossomática que é a personalidade é governada pela
alma em direção a algo. A personalidade se compreende, em última instância,
desde sua finalidade.
A importância da finalidade para a compreensão do ser do ser humano foi evidenciada
na psicoterapia por Alfred Adler. Seu discípulo católico, Rudolf Allers, interpretou essa
finalidade como equivalente a um bem ou valor. Pio XII chama a atenção sobre alguns
autores que relacionam estreitamente os conceitos de caráter e de valor: «A distinção e o
sentido dos conceitos de “caráter” e de “personalidade” não aparecem sempre de modo
uniforma. Há até quem os tome como sinônimos. Alguns consideram que o elemento
principal do caráter é a atitude que o homem adota diante de sua responsabilidade; para
outros, é sua posição diante dos valores. A personalidade do homem normal se encontra
necessariamente confrontada com os valores e com as normas da vida moral, que
compreendem também, como dissemos, a deontologia médica; estes valores não são
simples indicações, mas diretrizes obrigatórias. Devemos nos posicionar diante delas,
aceitando-as ou rechaçando-as. Assim se explica que um psicólogo defina o caráter como
“a constante relativa da busca, da apreciação, da aceitação pessoal dos valores”»¹⁶.
O Santo Padre recorda que Deus é o fim do homem e que «o homem tem a
possibilidade e a obrigação de aperfeiçoar sua natureza, não como ele a entende, mas
segundo o plano divino»¹⁷. Pio XII também afirma que da separação da ordem moral, que
ditam sua natureza e a revelação, sucede a frustração do desenvolvimento da
personalidade, além de sua desordem: «Quem nega ou despreza as normas da ordem
moral objetiva não adquirirá mais que uma personalidade deforme ou imperfeita»¹⁸.
Desse modo, ratifica a estreita relação entre a vida moral e a vida psíquica do homem,
tema ao qual voltaremos adiante.
c) O homem, na grande maioria dos casos, apesar de que diversas tendências o
influenciam, deve ser considerado livre e responsável. Nesse sentido, o Papa
estabelece as seguintes regras:
1. «Um homem qualquer deve ser considerado normal até que se prove o contrário;
2. O homem normal não possui só uma liberdade teórica, mas também realmente a
usa;
3. O homem normal, quando usa como se deve as energias espirituais que estão a
sua disposição, é capaz de vencer os problemas que dificultam a observação da
lei moral;
4. As disposições psicológicas anormais nem sempre inibem ou privam o sujeito de
toda possibilidade de atuar livremente em todo momento;
5. Mesmo os dinamismos do inconsciente e do subconsciente não são irresistíveis; é
possível, em grande parte, dominá-los, especialmente pelo sujeito normal;
6. Portanto, o homem normal é ordinariamente responsável por suas decisões»¹⁹.
Veremos mais adiante as consequências psicoterapêuticas de tais afirmações. No
momento, dizemos que o Papa deseja esclarecer duas coisas: a) que há uma diferença
essencial entre o normal e o anormal (não é uma mera diferença de grau); b) que a
personalidade humana enquanto tal implica a liberdade e a responsabilidade, e que a
maioria das vezes podemos considerá-las presentes, contra a tendência de justificar todas
as ações do homem como dinamismos inconscientes e ingovernáveis.
Com essa visão, o Santo Padre entra em polêmica com os autores que pretendem
substituir a concepção tradicional (escolásticas) da estrutura metafísica e moral do
homem – considerada como “abstrata” – por uma visão concreta e existencial do homem,
inspirada nas concepções da personalidade que surgiram da Psicologia clínica para, a
partir disso, estabelecer uma moral autoproclamada “personalista”: «De fato, pretendia-
se estabelecer a antinomia da Psicologia e da ética tradicionais com relação à psicoterapia
e à Psicologia clínica moderna. A Psicologia e a ética tradicionais têm por objeto, afirmam
eles, o ser abstrato do homem, que certamente não existe em lugar algum. A clareza e a
concatenação lógica dessas disciplinas são admiráveis, mas elas sofrem de um vício em
seu princípio: são inaplicáveis ao homem real, tal qual existe. A Psicologia clínica, pelo
contrário, parte do homem real, do homo ut sic. E conclui-se que entre as duas concepções
se abre um abismo impossível de superar até que a Psicologia e a ética tradicionais não
mudem sua posição.»
Quem estuda a constituição do homem real deve de fato tomar como objeto o homem
“existencial” tal qual ele é, considerando suas disposições naturais, as influências do
meio, a educação, sua evolução pessoa, suas experiências íntimas e os eventos exteriores.
Só existe esse homem concreto. No entanto, a estrutura desse “eu” pessoal obedece nos
mínimos detalhes às leis ontológicas e metafísicas da natureza humana, das quais falamos
mais acima. São elas que o formaram e que, portanto, devem governá-lo e julgá-lo. A
razão é que o homem “existencial” se identifica em sua estrutura íntima com o homem
“essencial”. A estrutura essencial do homem não desaparece quando consideramos as
notas individuais; tampouco se transforma em outra natureza humana. [...]
Consequentemente, seria errado estabelecer normas para a vida real que se afastassem da
moralidade natural e cristã, e que as designaríamos com a expressão “ética personalista”
[...]. A lei da estrutura do homem concreto não se deve inventar, mas aplicar»²⁰.
Nesse sentido, é necessário mencionar a importância do aspecto social do psiquismo,
que o Papa destaca; psiquismo social que não pode não ter uma importante dimensão
moral: «O psiquismo social toca também a moralidade, e as conclusões da moral incluem
em si mesmas as de uma Psicologia e psicoterapia sérias»²¹.
d) Finalmente, temos o que o Papa chama de “aspecto escatológico”: «Do ponto de
vista moral e religioso, o elemento decisivo na estrutura da personalidade é
precisamente a atitude que ela adota a respeito de Deus, fim último a ela proposto
por sua própria natureza»²². Conquanto este tema interesse principalmente ao
teólogo, diz Pio XII, não carece de importância para o psicólogo.
Nesse sentido, Pio XII faz referência à afirmação, por parte de alguns psicólogos, da
existência de uma espécie de instinto religioso, que estaria na origem de todas as religiões:
«A investigação científica chama a atenção para um dinamismo que, enraizado nas
profundidades do psiquismo, empurraria o homem para o infinito que o ultrapassa, não
deixando-o conhecer senão por uma gravitação ascendente surgida diretamente do
substrato ontológico»²³.
A respeito disso, o Papa declara que não se deve buscar a origem das religiões em um
inconsciente espiritual, nem em um impulso irracional, mas na natureza racional do
homem, que o faz capaz de conhecer a Deus, e na revelação sobrenatural: «Se se declara
que esse dinamismo está na origem de todas as religiões, que manifesta o elemento
comum a todas elas, Nós sabemos, por outro lado, que as religiões, o conhecimento
natural e sobrenatural de Deus, além do seu culto, não procedem do inconsciente ou do
subconsciente, tampouco de um impulso afetivo, mas do conhecimento claro e certo de
Deus por meio de sua revelação natural e positiva. É a doutrina e a fé da Igreja, desde a
palavra de Deus no livro do Gênesis e na carta aos Romanos, até a encíclica Pascendi
dominici gregis, de Nosso predecessor Beato Pio X»²⁴.
O papa exorta à prudência no momento de estudar psicologicamente (no sentido da
Psicologia descritiva) esse “misterioso dinamismo”, que em algumas exposições cai no
vício modernista de confundir o natural e o sobrenatural (o chamado “princípio de
imanência”)²⁵. Em todo caso, este dinamismo «mostraria apenas que o “esse ab alio” é
também, em suas raízes mais profundas, um “esse ad alium”, e que a frase de Santo
Agostinho “Fecisti nos ad te; et inquietum est cor nostrum, donec requiescat in te”
encontra uma nova confirmação mesmo nas profundezas mais ocultas do ser psíquico»²⁶.
O tema da consciência moral também pertence ao aspecto “transcendente” do
psiquismo, pois a consciência é o representante de Deus no interior da alma. Pio XII se
detém especialmente no tema do chamado “sentimento de culpabilidade”: «O sentimento
de culpabilidade, isto é, a consciência de ter violado uma lei superior cuja obrigação foi
reconhecida, também pertence às relações transcendentes do psiquismo»²⁷.
Este é um tema que aparece frequentemente nos estudos dos psicólogos, em particular
da psicanálise. Freud concede um lugar especial ao sentimento de culpa. Inspirado na
Genealogia da moral de Nietzsche, Freud considera que o sentimento de culpa é um
aspecto da neurose: enquanto os desejos sexuais inaceitáveis são substituídos pelos
sintomas, a introjeção da pulsão de destruição é a origem do sentimento de culpa (que,
para Freud, se identifica com a culpa simpliciter)²⁸.
Pio XII rechaça este tipo de interpretação, e ensina com clareza que, ainda que possam
existir sentimentos patológicos de culpabilidade, há também uma verdadeira consciência
de culpa. O discernimento entre ambas espécies é muito difícil²⁹. Mas o sentimento ou a
consciência de culpa não é o mesmo que a culpa em si mesmo. Assim como se pode sentir
culpa sem tê-la, pode-se também eliminar o sentimento de culpa sem eliminar a culpa em
si mesma: «É certo que nenhum tratamento puramente psicológico pode curar a
culpabilidade real. Ainda que o psicoterapeuta a rechaça, talvez até de boa-fé, esta
perdura, mesmo que o sentimento de culpabilidade por uma intervenção médica, por
autossugestão ou pela persuasão alheia, a falta permanece e a psicoterapia se enganaria a
si mesma e aos demais, por haver ocultado o sentimento de culpabilidade, ela alegasse
que a culpa não existia mais»³⁰. A falta só pode ser apagada através da absolvição
sacramental: «O meio para eliminar a falta não provém do puramente psicológico; como
todo cristão sabe, consiste na contrição e na absolvição sacramental. No sacramento, é a
fonte do mal, a falta mesma que é extirpada, ainda que talvez o remorso permaneça»³¹.
Por isso, no caso de culpa real, o psicólogo ou o médico devem encaminhar a pessoa ao
sacerdote³².
Pio XII observa muito sutilmente que a consciência de culpa «pode se transformar em
sofrimento e também em transtorno psíquico», o que nos leva novamente ao tema da
relação entre moral e psicoterapia, que tratamos no próximo ponto³³.

3. PSICOTERAPIA
Como acabamos de dizer, Pio XII faz referência várias vezes à conexão que muitas
vezes existe entre desordem moral e desordem psicológica. O texto a seguir se aprofunda
nesta direção: «Há um mal-estar psicológico e moral, a inibição do “ego”, da qual vossa
ciência se ocupa de descobrir as causas. Quando esta inibição penetre no domínio moral,
por exemplo, quando se trata de dinamismos como o instinto de dominação, de
superioridade, e o instinto sexual, a psicoterapia certamente não poderia tratar essa
inibição do eu como uma sorte de fatalidade, como uma tirania da pulsão afetiva, que
brota do subconsciente e que escapa absolutamente ao controle da consciência e da alma.
Que não rebaixemos o homem concreto, com seu caráter pessoal, ao nível do animal
bruto. Apesar das boas intenções do terapeuta, os espíritos delicados são amargamente
afetados por essa degradação ao plano da vida instintiva e sensitiva. Também não devem
ser negligenciadas nossas observações anteriores sobre a ordem de valor das funções e o
papel de seu gerenciamento central»³⁴.
Aqui, evidentemente, se trata do “caráter neurótico” e dos temas centrais da
Psicoterapia clássica, a saber, de Sigmund Freud (“o instinto sexual”) e de Alfred Adler
(“o instinto de dominação, de superioridade”). E é justamente referindo-se explicitamente
a estes temas que o Papa diz: Atenção! Quando entram em jogo estes “dinamismos”, não
se podem tratar as desordens da imaginação e da afetividade como se nos encontrássemos
diante de uma fatalidade, de algo inevitável e ingovernável. O homem não deve ser
reduzido ao nível animal. Há que se pensar que, mesmos nestes casos, a razão e a vontade,
que podem estar obscurecidas e debilitadas, não perdem seu papel central. O que implica
não somente que a responsabilidade não desaparece completamente (ainda que nos casos
concretos possa ser difícil ou impossível de determinar), mas sobretudo que a Psicoterapia
não deve degradar o homem a um mecanismo simples ou complexo, ou a ser todo pulsão
e imaginação. Deste modo prejudicaremos especialmente aos «espíritos delicados», ou
seja, aos melhores.
Por este motivo, Pio XII alerta aos perigos de uma terapia que, como a
psicanalítica, faz com que o indivíduo se submerja sem defesa em suas fantasias e que,
eventualmente, não só traga a consciência imagens sexuais reprimidas, mas volte a
vivenciá-las como requisito indispensável para a cura, com o perigo que isto supõe para
a pureza moral da pessoa: «Para liberar-se de repressões, de inibições, de complexos
psíquicos, o homem não é livre de despertar em si, com fins terapêuticos, todos e cada
um dos apetites da esfera sexual, que se agitam ou foram agitados em seu ser [...]. Ele não
pode fazer deles o objeto de suas representações e de seus desejos plenamente
conscientes, com todas as rupturas e repercussões que implica tal modo de proceder. Para
o homem e o cristão, existe uma lei de integridade e de pureza pessoal de si mesmo que
o proíbe a submersão tão completa no mundo de suas representações e de suas tendências
sexuais. O “interesse médico e psicoterapêutico do paciente” encontra aqui um limite
moral. Não foi provado, e é também incorreto, que o método pansexual de certa escola
de psicanálise seja uma parte integrante indispensável de toda psicoterapia séria e digna
de tal nome; que recusar este método no passado tenha causado graves danos psíquicos,
erros na doutrina e nas aplicações em educação e psicoterapia, muito menos no cuidado
pastoral; que seja urgente preencher esta lacuna e iniciar a todos de que lidam com
questões psíquicas, nas ideias norteadoras e também, se necessário, no uso prática desta
técnica da sexualidade»³⁵. Indo além do detalhe da maior ou menor adequação dessa
crítica ao pensamento de Freud, fica claro que, para este autor, a terapia supõe a afloração
sem censura de representações reprimidas. De algum modo, a psicanálise é uma terapia
na qual o sujeito analisado se deve reconciliar com os seus próprios objetos imaginários
internos. Por isso, o analista não exerce um papel educativo, senão que deve servir de tela
para a transferência. No sentido contrário ao que se pensa, a transferência, tal como Freud
a concebeu, não é a relação pessoal entre analista e analisando. Esta relação pessoal é
impossível, porque o sujeito não pode superar as próprias imagens internas. Nossa relação
com os demais sempre é, fatalmente, a repetição de nossa relação com nossas imagens
parentais³⁶. Por outro lado, é claro que, ainda que o sujeito possa rechaçar
conscientemente o que foi reprimido como moralmente inaceitável, isto só ocorre depois
de: a) submeter-se à sua influência sem controle racional; b) vivenciá-lo conscientemente,
pois, na terapia psicanalítica, não só se deve reconhecer intelectualmente o complexo de
Édipo como “complexo nuclear”, mas que há que “revivê-lo” na transferência. A crítica
dirigida pelo Papa principalmente às representações e aos desejos sexuais pode dirigir-se
também às imagens e às tendências agressivas, conquanto esta sejam menos perigosas
por ter origem no apetite irascível, que, por sua própria natureza, está mais próximo da
razão.
Esta crítica é perfeitamente congruente com as linhas fundamentais da
antropologia cristã, delineadas por Pio XII: a razão e a vontade constituem o centro
diretivo da personalidade. Mas o papa não se limita à crítica da psicanálise, e propõe uma
alternativa: partir da visão cristã do homem ao desenvolver a psicoterapia. Nesse sentido,
disse Pio XII, a prioridade deve ser dada aos modos de intervenção centrados na aceitação
do “psiquismo consciente”, isto é, da razão e da vontade sobre a vida imaginativa e
emocional; isto é, uma psicoterapia «desde cima» deve ser preferida: «Seria melhor, no
domínio da vida instintiva, dar mais atenção aos métodos indiretos e à ação do psiquismo
consciente sobre o conjunto da atividade imaginativa e afetiva. Esta técnica evita os
desvios relatados. Tende a esclarecer, curar e dirigir; influencia também a dinâmica da
sexualidade, sobre a qual muito se insiste, e que se encontraria ou realmente se encontra
no inconsciente ou no subconsciente»³⁷.
A vida sensitiva e emocional do homem foi feita para ser guiada «desde cima»,
desde a razão. Não é a vida de um espírito encerrado em uma besta, mas uma unidade
hilemórfica, que também é, desde o ponto de vista operativo, uma unidade hierárquica. A
vida sensitiva tem certa autonomia; mas esta não é absoluta; foi criada para ser guiada
pela razão e pela vontade. A «vida imaginativa e afetiva» pode ser guiada pela parte mais
humana que há em nós. A visão psicanalítica é, em diversos pontos de vista, atomista.
Primeiramente porque toma o psiquismo como um agregado de representações, que se
reúnem em “complexos”. Por outro lado, porque considera que a vida psíquica superior
resulta ou emerge da organização mecânica dos elementos psíquicos inferiores. Disse Pio
XII: Não; a vida psíquica humana, que inclui e depende da vida sensitiva, imaginativa e
afetiva (e, além disso, da vida vegetativa), é indubitavelmente realizada de cima, pela
inteligência e pela vontade, que são as que marcam a finalidade e que, portanto, devem
dirigir a organização dinâmica da personalidade. A personalidade se entende e se constitui
a partir daqui.
Nisso, Pio XII não faz outra coisa senão seguir a uma larga tradição que começa
na Filosofia grega, seguida pelos Padres da Igreja³⁸ e sintetizada magistralmente em Santo
Tomás³⁹. Já assinalamos que o esquema antropológico geral das considerações do Papa
se inspira claramente em Santo Tomás, um dos poucos autores citados explicitamente.
Em sua encíclica Haurietis aquas, Pio XII recomenda explicitamente a Psicologia de
Santo Tomás para o desenvolvimento da chamada «Psicologia de Cristo»: «Na verdade,
também a respeito de Cristo, vale o que o Doutor Angélico, ensinado pela experiência
comum, observa em matéria de Psicologia humana e dos fenômenos que dela derivam»⁴⁰.
Nesse sentido, vale a pena recordar que o modelo da harmonia entre a parte sensitiva e a
parte espiritual que Deus pensou para o homem se dá eminentemente em Cristo. Este é o
fundamento do culto ao Sagrado Coração. Não se trata de uma simples devoção particular,
tampouco se iguala com o culto às diferentes partes do corpo de Cristo. Como o coração
é o órgão que simboliza a vida emocional sensitiva, e como esta vida emocional está em
perfeita harmonia com sua caridade que deriva de sua ciência criada (experimental, infusa
e beatífica) e de seu amor que se identifica com a essência divina; por este motivo, o
coração humano de Jesus, com suas emoções sensitivas, é uma perfeita expressão do amor
misericordioso de Deus⁴¹. A harmonia entre este triplo amor: sensitivo, racional
(sobrenatural) e divino é a fonte primeira e última de nossa própria harmonia interior, do
acordo entre nossas emoções, nossa vontade e a vontade de Deus.
A partir dessa terapia radical desde o espírito, podemos voltar ao texto anterior de
Pio XII acerca da psicoterapia, que é uma psicoterapia «desde arriba». Esta não só
implicará um esclarecimento intelectivo, mas também será diretiva. Trata-se de colocar
a relação do terapeuta com o paciente em primeiro plano, relação que é pessoal, pois é de
espírito a espírito, e que é também pedagógica. O motor de todo este processo deve ser a
caridade. Deste modo, sem negar a pertinência da utilização de meios estritamente
técnicos de diagnóstico e tratamento, a psicoterapia se converte, por sua finalidade última
e por seu meio principal, em uma reeducação da vida emocional da pessoa à luz da razão
e da vontade, abertas à influência da graça; isto é, em uma forma pedagógica moral
especial. Este tema não é, do ponto de vista epistemológico, aprofundado pelo Papa.
Digamos apenas que não devemos ver aqui uma confusão epistemológica, mas a recusa
de uma divisão radical no homem entre sua vida espiritual e sua vida natural. O homem
só se compreende e se cura radicalmente desde o profundo⁴².

4. RESPEITO À INTIMIDADE
Finalmente, podemos passar a considerar o aspecto deontológico do Magistério
de Pio XII acerca da Psicologia. Talvez poderíamos reduzi-lo no seguinte: “respeitar a
intimidade”. De novo, trata-se aqui de uma derivação dos princípios antropológicos
estabelecidos inicialmente: ser pessoa é ser um “eu”. Conforme a visão cristã, a pessoa
se caracteriza entre os demais indivíduos pelo seu modo particular de subsistir: com uma
maior interioridade. Isto se deve ao fato de que a pessoa possui o ser imaterialmente.
Dessa intimidade se segue a intimidade operativa, que termina especialmente nos atos de
intelecção (por uma palavra interior) e de amor. Expressamos esta intimidade se o
queremos. É claro que, por ser corpóreo e animal, muitas vezes o ser da pessoa humana
se expressa exteriormente de modo involuntário. Mas o aspecto fundamental de si mesmo
o expressa através da palavra. Para conhecer uma pessoa intimamente, você deve ouvir
as palavras dela, que ela diz se o quiser.
Daqui se segue, por um lado, o preceito moral de não faltar com a verdade, de
dizer as coisas exteriormente como a dizemos interiormente. No entanto, por outra parte,
também o de não invadir a intimidade alheia. Não se deve expor o interior
indiscriminadamente a qualquer um. O psicólogo deve moderar sua ansiedade de
conhecer o outro, ainda que o queira com boa intenção. A finalidade da Psicologia,
especialmente a terapêutica, é louvável. Mas, muitas vezes, os métodos (não só as
doutrinas) são contrárias à dignidade pessoal: «Os testes e outros métodos de investigação
psicológica contribuíram enormemente ao conhecimento da personalidade humana e lhe
rendeu serviços consideráveis. Por isso, se poderia pensar que neste domínio não existe
nenhum problema particular de moral médica e que, portanto, poderia aprovar-se tudo
sem reservas. Ninguém negará, com efeito, que a Psicologia moderna, considerada em
seu conjunto, merece a aprovação do ponto de vista moral e religioso. Porém, se se
consideram em particular os fins que persegue e os meios aos quais recorrem para realizá-
los, nos vemos obrigados a fazer uma distinção. Suas metas, isto é, o estudo científico da
Psicologia humana e a cura das enfermidades do psiquismo, não são senão louváveis; mas
os meios utilizados prestam-se, por vezes, a reservas justificadas [...]. Não escapa aos
melhores psicólogos que o emprego mais qualificado dos métodos existentes não consiga
penetrar na zona do psiquismo que constitui, por assim dizer, o centro da personalidade,
e este siga sendo sempre um mistério. Nesse ponto, o psicólogo não pode senão
reconhecer com modéstia os limites de suas possibilidades e respeitar a individualidade
do homem sobre o qual deve dar um juízo; devem ser feitos esforços para descobrir o
plano divino em todo homem, e assim ajudar a desenvolvê-lo na medida do possível. A
personalidade humana, com suas características próprias, é certamente a mais nobre e
mais admirável das obras da criação»⁴³.
O Papa assinala explicitamente alguns problemas particulares, deplorando a
intromissão do psicólogo na «personalidade profunda»: «Para aqueles que tomam
conhecimento de vossos trabalhos, parece-lhes que certos problemas morais se
apresentam aqui: Vós assinalais muitas vezes, de fato, as objeções levantadas pela
penetração do Psicólogo no íntimo da personalidade do outro. Assim, por exemplo, a
utilização da narcoanálise, já discutido em psicoterapia, é considerada ilícita na ação
judicial; do mesmo modo que o emprego do aparato para detectar mentira, que se chama
“lie-detector” ou “polígrafo”. Tal autor denuncia as consequências nocivas das tensões
emotivas violentas, provocadas em um sujeito a título experimental [...]. Alguns, na
investigação e no tratamento psiquiátrico, efetuam intervenções que não receberam
autorização prévia do paciente, ou intervenções que ele não conhece o exato alcance.
Também a revelação do conteúdo real de sua personalidade pode descambar em alguns
traumatismos sérios. Em suma, pode-se dizer que, às vezes, é preciso lamentar a intrusão
injustificada do Psicólogo na personalidade profunda e os graves danos psíquicos que
resultam para o paciente e também para terceiros»⁴⁴.
O progresso científico ou terapêutico não pode justificar, em nenhum caso, a
violação da intimidade da pessoa. Não se pode adentrar no interior da pessoa sem seu
consentimento⁴⁵, também porque neles mesmos há coisas que não estão autorizadas a
revelar, como o segredo de confissão ou o sigilo profissional. Neste ponto, Pio XII versa
sobre o perigo que supõe a aplicação do método psicanalítico: «A norma da prática
psicoterapêutica, que Nós enunciamos, diz respeito a um interesse essencial da sociedade:
a salvaguarda dos segredos que põe em perigo a utilização da psicanálise. Não está
totalmente excluído que fatos ou saberes secretos e reprimidos no subconsciente
provoquem conflitos psíquicos sérios. Se a psicanálise revelar a causa desse transtorno,
de acordo com seu princípio, desejará evocar esse inconsciente inteiramente para torná-
lo consciente e remover o obstáculo. Mas há segredos que há que se calar absolutamente,
mesmo por parte do médico, ainda que a custa de sérios inconvenientes pessoais. O
segredo da confissão não tolera ser revelado; também está excluído que o sigilo
profissional seja comunicado a outro, inclusive o segredo médico. O mesmo sucede com
outros segredos. Se apela ao princípio “Ex causa proporcionate gravi licet uni viro
prudenti et secreti tenaci secretum manifestare”. O princípio é exato, dentro de limites
estreitos, para algumas espécies de segredos. Não é conveniente utilizá-lo para a técnica
psicanalítica»⁴⁶. Mesmo que as coisas comunicadas não sejam de sigilo obrigatório, há
que verificar se a pessoa está capacitada para dar um verdadeiro consentimento⁴⁷.
Pois bem, a atitude não-invasiva da intimidade não significa a indiferença diante
do bem moral e espiritual das pessoas. Aqui aparece o importante tema da suposta
neutralidade moral do terapeuta. O Papa a rejeita de pronto. Conquanto a prudência possa
aconselhar distintos modos de atuar, o psicoterapeuta não pode ser indiferente diante do
pecado, muito menos aconselhá-lo positivamente, tampouco considerá-lo como a única
via para a cura psíquica. Isto repugnaria totalmente a moral e a caridade cristã: «Se segue
uma conclusão para a psicoterapia: diante do pecado, esta não pode permanecer neutra.
Pode tolerar o que, no momento, parece inevitável. Mas deve saber que Deus não pode
justificar tal ação. Muito menos a psicoterapia pode dar ao enfermo o conselho de cometer
tranquilamente um pecado material, porque ele o cometeria sem culpa subjetiva, e este
conselho seria também errôneo se tal ação parecesse necessária para o relaxamento
psíquico do enfermo e, portanto, para a finalidade da cura. Não se pode jamais aconselhar
uma ação consciente que seria uma deformação e não uma imagem da perfeição divina»⁴⁸.
Uma vez que não apenas a saúde moral e espiritual deve evidentemente ser colocada
acima da saúde corporal ou sensitiva da pessoa, mas também que a própria saúde psíquica,
como já foi dito, não pode estar totalmente apartada do verdadeiro desenvolvimento
moral.
No que diz respeito à ação psicoterapêutica, Pio XII recorda que há três tipos de
ações imorais: a) As que são tais em si mesmas, por causa de seu objeto; b) As que o são
por falta de direito do sujeito e as exerce; c) As que o são por causa do perigo ao qual se
expõe o sujeito, sem causa proporcional. Entre as primeiras, volta a mencionar a sujeição
da razão aos apetites sensitivos⁴⁹. Entre as segundas, o caso de intromissão indevida na
intimidade ou a revelação de um segredo sem o direito de fazê-la. No terceiro caso, se
trata daqueles métodos que podem por em risco todo o bem moral das pessoas, sua via,
sua reputação, etc., sem um motivo grave e realmente proporcional⁵⁰.

CONCLUSÃO
O Magistério de Pio XII acerca da Psicologia é, como vemos, muito amplo, e
poderia ser desenvolvido com mais detalhes. Parte de princípios teológicos e filosóficos
clássicos e os aplica com grande lucidez à situação da Psicologia contemporânea. Não se
trata, como dizemos, somente de dar diretrizes deontológicas acerca dos limites morais
da ação do psicólogo, mas sobretudo de mostrar como a Psicologia, especialmente a
prática, deve estar enraizada firmemente na visão cristã do homem, se quer desenvolver-
se em fidelidade à dignidade profunda da pessoa. Por isso, como afirma o Santo Padre, o
psicólogo deve ser algo mais que alguém com uma boa formação teórica e técnica. Deve
ser uma pessoa profunda, moral e espiritualmente íntegra: «No psicólogo “se espera não
só um conhecimento teórico de normas abstratas, mas um sentido moral profundo,
meditado, formado amplamente por uma fidelidade constante a sua consciência”. O
psicólogo verdadeiramente desejoso de não buscar senão o bem de seu paciente se
mostrará tanto mais cuidadoso de respeitar os limites atribuídos a sua ação pela moral,
quando tem, por assim dizer, em suas mãos as faculdades psíquicas de um homem, sua
capacidade de atuar livremente, de realizar os valores mais altos que implicam seu destino
pessoal e sua vocação social»⁵¹.

______________
*Este trabalho foi apresentado nas “III Jornadas de Psicologia e pensamento cristão: Psicologia e Magistério
da Igreja”, organizadas pelas professoras Zelmira Seligmann e Patricia Schell na Pontifícia Universidade
Católica Argentina (Buenos Aires, agosto de 2006).

1. Um bom resumo se pode encontrar em R. Pascual, La visión del Magisterio Pontificio reciente de cara
a las modernas teorias psicológicas (primera parte), em «Ecclesia», 18 (2004), pp. 61-73. Sobre o
Magistério de Pio XII em particular, ver pp. 61-67. Acerca do Magistério de Pio XII em temas morais, ver
J.-M. Aubert, Pie XII et la morale y C. Caffarra, Le Magistère moral de Pie XII, em Pie XII et la Cité. Actes
du Colloque de la Faculté de Droit D’Aix-em-Provence, Téqui-Presses Universitaires d’Aix-Marseille,
París 1998, pp. 383-398 e 399-426.

2. Ver Juan Pablo II, La incapacidad psíquica y las declaraciones de nulidade matrimonial, Discurso ao
tribunal da Rota Romana, em AAS, LXXIX (1987), pp. 1453-1459; p. 1455: «Esse perigo [que o juiz
eclesiástico se deixa “sugestionar por conceitos antropológicos inaceitáveis] não é somente hipotético, se
consideramos que a visão antropológica, a partir da qual se movem muitas correntes no campo da ciência
psicológica no mundo moderno, é definitivamente, em seu conjunto, inconciliável com os elementos
essenciais da antropologia cristã, porque não abarca os valores e significados que transcendem ao dado
imanente e que permite a orientação do homem ao amor de Deus e do próximo como sua vocação última.
Esta perspectiva é inconciliável com a visão cristã que considera o homem um ser “criado a imagem de
Deus, capaz de conhecer e amar a seu próprio criador” (Gaudium et spes, 12) e ao mesmo tempo dividido
em si mesmo (ver ali mesmo, 10). Em vez disso, essas correntes psicológicas partem da ideia pessimista
segundo a qual o homem não poderia conceber outras aspirações senão aquelas impostas por seus impulsos
ou por condicionamentos sociais; ou, ao contrário, da ideia exageradamente otimista segundo a qual o
homem poderia alcançar por si mesmo sua própria autorrealização.»

3. Os dois principais textos sobre este tema são: Pio XII, Alocución a los participantes em el V Congreso
Internacional de Psicoterapia y de Psicología clínica, em AAS, XLV (1953), pp. 278-286 [o citaremos
como PS]; Alocución a los participantes em el XIII Congreso Internacional de Psicología aplicada, em
AAS, L (1958), pp. 268-282 [o citaremos como APL]. A estes textos há que acrescentar a Alocución a los
participantes en el I Congreso Internacional de Histopatología del Sistema Nervioso, em AAS, XLIV
(1952), pp. 779-789 [o citaremos como HSN] e o Discurso al Collegium Neuro-Psycho-Pharmacologium,
em AAS, L (1958), pp. 687-696 [o citaremos como CNP]. Em muitos outros textos se fazem referências
tangenciais aos temas da Psicologia (por exemplo, em um discurso para enfermeiras psiquiátricas no ano
1953, e em outros discursos a médicos e advogados).

4. PS, p. 279.

5. Ver lug. cit.

6. APL, p. 269: «O termo “personalidade” se encontra hoje quase em todo lugar, mas com sentidos diversos.
Em verdade, basta recorrer à abundante bibliografia sobre o tema para se dar conta de que muitas noções
referidas à estrutura psíquica do homem são expressadas em termos técnicos, que conservam sempre o
mesmo sentido fundamental; no entanto, muitos elementos do psiquismo humano permanecem todavia mal
explicados e ainda não encontraram uma definição adequada. O termo “personalidade” é um deles, tanto
em Psicologia científica quanto em Psicologia aplicada. É importante precisar, então, como Nós o
entendemos. Ainda que Nós encaremos sobretudo os aspectos morais e religiosos, enquanto vocês têm em
conta principalmente o aspecto psicológico, não pensamos que estes pontos de vista diferentes devam
implicar oposições ou contradições, sempre que sejam objetivos e se esforcem por aderir aos fatos».

7. Lug. cit.

8. Lug. cit.

9. Ver ali mesmo, pp. 269-270.

10. Ver M.F. Echavarría, Memoria e identidad según Santo Tomás, em «Sapientia», 57 (2002), pp. 91-112.

11. APL, p. 270.

12. Ver lug. cit.

13. Ver ali mesmo, p. 271.

14. Lug. cit.

15. PS, p. 280.

16. APL, p. 273. Talvez se refira a Rudolf Allers. Ver R. Allers, Naturaleza y educación del carácter,
Labor, Barcelona 1957, especialmente pp. 31-33.

17. Ali mesmo, p. 271.

18. Ali mesmo, p. 272.

19. Lug. cit.

20. PS, pp. 280-281.

21. Ali mesmo, p. 281.

22. APL, p. 272.

23. PS, p. 284.

24. Lug. cit.

25. A referência à encíclica de São Pio X, Pascendi, é precisa. Dessa encíclica, ver especialmente o n. 5:
«Ora, destruída a teologia natural, impedido o acesso à revelação ao rejeitar os motivos de credibilidade, é
claro que se não pode procurar fora do homem essa explicação. Deve-se, pois, procurar no mesmo homem;
e visto que a religião não é de fato senão uma forma da vida, a sua explicação se deve achar mesmo na vida
do homem. Daqui procede o princípio da imanência religiosa. Demais, a primeira moção, por assim dizer,
de todo fenômeno vital, deve sempre ser atribuída a uma necessidade; os primórdios, porém, falando mais
especialmente da vida, devem ser atribuídos a um movimento do coração, que se chama sentimento. Por
conseguinte, como o objeto da religião é Deus, devemos concluir que a fé, princípio e base de toda a
religião, se deve fundar em um sentimento, nascido da necessidade da divindade. Esta necessidade das
causas divinas não se fazendo sentir no homem senão em certas e especiais circunstâncias, não pode de per
si pertencer ao âmbito da consciência; oculta-se (porém), primeiro abaixo da consciência, ou, como dizem
com vocábulo tirado da filosofia moderna, na subconsciência, onde a sua raiz fica também oculta e
incompreensível». A crítica de Pio XII se dirige provavelmente aos que tentam desenvolver uma Psicologia
da religião em que se unem uma teologia modernista e a psicologia de C.G. Jung. Além disso, a crítica
alcança ante litteram, no nosso entender, a concepção do inconsciente espiritual de V.E. Frankl.

26. PS, pp. 284-285.

27. Ali mesmo, p. 285.


28. Ver S. Freud, El malestar em la cultura, em Obras completas, Amorrortu, Buenos Aires 1996, vol.
XXI, p. 134: «De acordo com o que aprendemos, os sintomas das neuroses são essencialmente satisfações
substitutivas de desejos sexuais não realizados. No curso do trabalho analítico nos inteiramos, para nossa
surpresa, de que toda neurose esconde uma parcela de sentimento de culpa inconsciente, que por sua vez
consolida os sintomas por sua aplicação no castigo. Sendo assim, nos impelimos a formular este enunciado:
Quando uma aspiração pulsional sucumbe à repressão, seus componentes libidinosos são transpostos em
sintomas, e seus componentes agressivos em sentimento de culpa».

29. PS, p. 285: «A psicoterapia aborda aqui um fenômeno que não é de sua exclusiva competência, porque
é também, se não principalmente, de caráter religioso. Ninguém nega que possa existir, e não é raro, um
sentimento de culpabilidade irracional, até patológico. Mas pode haver igualmente consciência de uma falta
real que não foi apagada. Nem o Psicólogo nem o especialista em ética possuem um critério infalível para
os casos deste tipo, porque o processo da consciência é completamente pessoal e sutil».

30. Lug. cit.

31. Lug. cit.

32. Ver lug. cit.

33. Aqui, vale a pena recordar as ideias iniciais do psicoterapeuta católico vienense Igor Caruso acerca da
falsa localização da culpa nas neuroses, que oculta uma culpa real que não se quer reconhecer como tal.
Ver I. Caruso, Análisis psíquico y síntesis existencial, Herder, Barcelona, 1954, p. 57: «O sintoma doloroso
da neurose é autoimposto como castigo por uma culpa, segundo aquele princípio infantil: a quantidade do
castigo indica a quantidade da culpa que deve ser expiada. Para fazer que uma culpa não reconhecida seja
esquecida, há que aplicar seu castigo correspondente sobre outra culpa, como sobre um “bode expiatório”.
Por meio desta operação, quer-se atingir fins incompatíveis: primeiramente apagar a culpa pela
autopunição, depois não se inteirar da verdadeira culpa, resultando na substituição da autêntica e intolerável
culpa por outra, real ou fictícia, para os efeitos autopunitivos expiatórios»; ali mesmo, pp. 61-62: «[...] os
sentimentos neuróticos de culpabilidade (sentimentos de inferioridade, autocensura, escrúpulos, etc.) são
frequentemente um disfarce com objetivo de fazer viável a “falsa localização”. O argumento de que “a
consciência mais carregada durante muitos anos não conduz necessariamente à neurose” não é um
argumento contra a presença da má consciência na neurose. Tampouco o bacilo de Koch faz de todos os
seus portadores tuberculosos. Não é toda culpa que conduz à neurose, mas principalmente a inconfessada
e temida. Essa culpa acontece frequentemente quando o neurótico se declara culpável por coisas sem
importância, enquanto sua verdadeira culpa não é significativa. Esta verdadeira culpa é a soberba, que
consiste na identificação do neurótico com seu ideal e na exclusão da consciência dos movimentos que não
coadunam com este ideal; ele não se sente responsável por esses movimentos “ignorados”. Esta soberba
pode ser acompanhada de conatos de perfeição e pureza moral: o desejo é certamente em direção ao que
está por fora, “ao que está mais além”, mas seu cumprimento com meios “daqui” é insuficiente. Isto explica
que as relações entre a culpa e a neurose podem ser passadas por alto pelos teólogos, como sucede na
argumentação citada acima. [...] O argumento contra a relação entre culpa e neurose é um argumento
tipicamente neurótico e encontra sua continuidade lógica na psicoterapia naturalista, a qual declara
neurótico a todo sentimento de culpabilidade». Lamentavelmente, este autor, partidário da separação entre
a doutrina freudiana e o método psicanalítico, terminou aderindo à Filosofia dialética e elaborando uma
“psicanálise dialética”.

34. PS, pp. 281-282.

35. HSN, p. 783. A mesma ideia se repete em PS, p. 282: «O que se acaba de dizer sobre a iniciação sexual
discriminada para fins terapêuticos vale também para certas formas de psicanálise. Não se deveria
considerá-las como o único meio para atenuar ou curar transtornos sexuais psíquicos. O princípio de que
os problemas psíquicos, assim como todas as inibições de origem idêntica, não podem ser suprimidos senão
por sua evocação à consciência, não é válido se generalizado sem discernimento. O tratamento indireto tem
também sua eficácia e geralmente é completamente suficiente. No que se refere ao emprego do método
psicanalítico no domínio sexual, Nossa alocação de 13 de setembro já indicou seus limites morais [se trata
de HSN]. Com efeito, não se pode considerar como lícita a evocação à consciência de todas as
representações, emoções e experiências sexuais que estavam adormecidas na memória e no inconsciente, e
que agora tornam-se atualizadas no psiquismo. Se escutamos as reinvindicações da dignidade humana e
cristã, quem se atreveria a assegurar que este procedimento não comporta nenhum perigo moral, seja
imediato, seja futuro, contando que, afinal de contas, mesmo que se afirme a necessidade terapêutica de
uma exploração sem limites, isto nunca foi provado?».

36. Ver J. Laplanche – J.B. Pontalis, Diccionario de psicoanálisis, Labor, Barcelona 1981, p. 439:
«[transferência] Designa em psicanálise o processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre
determinados objetos no quadro de um certo tipo de relação estabelecida com eles e, eminentemente, no
quadro da relação analítica. Trata-se aqui de uma repetição de protótipos infantis vivida com um sentimento
de atualidade acentuada. É à transferência no tratamento que os psicanalistas chamam a maior parte das
vezes transferência, sem qualquer outro qualificativo. A transferência é classicamente reconhecida como o
terreno em que se dá a problemática de um tratamento psicanalítico, pois são a sua instalação, as suas
modalidades, a sua interpretação e a sua resolução que caracterizam este».

37. HSN, pp. 783-784.

38. Sobre este ponto, insiste o patrólogo francês J.-C. Larchet, L’inconscient spirituel, Les Éditions du Cerf,
París 2005, pp. 16-17: «[...] a vida psíquica não pode ser considerada como um simples jogo mecânico de
forças designadas simplesmente para controlar sua potência e sua harmonia. E o psicoterapeuta não deveria
ser considerado como um equivalente do ortopedista ou do cardiologista para o domínio somático. [...] A
desarmonia introduzida pelas paixões no exercício de nossas faculdades é uma desarmonia não só espiritual,
mas também psíquica». Daqui se segue uma menor independência das enfermidades psíquicas, p.15: «As
enfermidades psíquicas não são, como as enfermidades espirituais, independentes. Por outro lado, têm uma
independência menor que a das enfermidades corporais: os transtornos sui generis são mais raros na esfera
psíquica. As enfermidades psíquicas são frequentemente provocadas, seja por enfermidades corporais, seja
por enfermidades espirituais, seja por uma intervenção exterior de tipo demoníaco, seja pela combinação
de vários destes fatores».

39. Ver, por exemplo, Suma Teológica, I-II, q. 24, a. 1.

40. Pio XII, Haurietis aquas, 15/05/1956, 14.

41. Ali mesmo, 15: «Logo, com toda razão, o coração do Verbo Encarnado é considerado signo e principal
símbolo do triplo amor com que o Divino Redentor ama continuamente ao Pai Eterno e a todos os homens.
É, primordialmente, símbolo do divino amor que Nele é comum com o Pai e o Espírito Santo, e que só
Nele, como Verbo Encarnado, se manifesta por meio do frágil e caduco corpo humano, já que Nele habita
corporalmente toda a plenitude da divindade. Ademais, o Coração de Cristo é símbolo da ardentíssima
caridade que, infundida em sua alma, constitui o dote precioso de sua vontade humana e cujos atos são
dirigidos e iluminados por uma dupla e perfeitíssima ciência, beatífica e infusa. Por fim, e isto de modo
mais natural e direto, o Coração de Jesus é símbolo de seu amor sensível, pois o corpo de Jesus Cristo,
concebido no castíssimo seio da Virgem Maria por obra do Espírito Santo, supera todos os demais corpos
humanos em perfeição e em capacidade perceptiva.»

42. Sobre o uso de psicofármacos para o tratamento de transtornos psíquicos, ver CNP, pp. 690-691:
«Certos autores assinalam que a experiência tão amplamente avançada durante esses anos destacou as
causas físicas ignoradas em outro tempo. Os psiquiatras, por sua vez, apontam para a natureza psicogênica
das enfermidades mentais. Se alegram que o uso de sedativos facilite o diálogo entre o enfermo e seu
médico, mas chamam a atenção para o fato de que a melhora do comportamento social obtido graças aos
fármacos não significa de modo algum a solução das dificuldades profundas. É toda a personalidade que se
deve endireitar e conceder de volta o equilíbrio instintivo indispensável ao exercício normal de sua
liberdade. Existe, sobretudo, o perigo não informar ao paciente os seus problemas pessoais, em troca de um
alívio inteiramente exterior e de uma adaptação superficial à realidade social».

43. APL, p. 274.

44. Ali mesmo, pp. 274-275.

45. Ali mesmo, pp. 276-277.

46. PS, p. 283.


47. Ver APL, p. 277.

48. PS, p. 286.

49. APL, p. 280: «É contrário à ordem moral que o homem, livre e conscientemente, submeta suas
faculdades racionais aos instintos inferiores. Quando a aplicação dos testes, da psicanálise ou de outro
método qualquer chega a isto, se converte em imoral e deve ser rechaçado sem discussão».

50. Ver ali mesmo, pp. 280-281.

51. Ali mesmo, p. 281.

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