Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
BAHIA, SSA
2020
1
PRISCILLA DA SILVA LIMA
2
Bahia, SSA
2020
Aprovado em, de _ de 20 _.
Examinador ______________________________________
3
RESUMO
4
RESUMEN
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 8
1. COMPREENDENDO O AUTISMO...............................................................................9
1.1. Diferenciando a Síndrome de Asperger do transtorno do espectro autista ....13
2. A INFLUÊNCIA DO AUTISMO NA APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS.............14
2.1. Desafios na formação do professor da educação infantil de classes regulares
com alunos especiais .........................................................................................17
3. FLEXIBILIZAÇÃO DO CURRÍCULO PARA CONSTRUÇÃO DE PRÁTICAS E
INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS PARA CRIANÇAS AUTISTAS NA
EDUCAÇÃO INFANTIL ........................................................................................19
CONCLUSÃO ....................................................................................................................27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................29
7
8
INTRODUÇÃO
1 COMPREENDENDO O AUTISMO
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR)
o autismo é um transtorno de neurodesenvolvimento que faz parte da família dos
transtornos invasivos do desenvolvimento, que têm como característica comum a
interrupção dos processos de desenvolvimento do indivíduo durante os seus primeiros
anos de vida. No Brasil o autismo é diagnosticado pelo SUS através do CID 10. CID
quer dizer Classificação Internacional de Doenças. (AMA,2020). “Quase sempre os pais
relatam terem ficado preocupados ao redor de dois anos e inevitavelmente em torno dos
três anos” (KLIN,2006 p.6). Porém algumas características podem ser percebidas ainda
nos primeiros meses ou no primeiro ano de vida, como o desinteresse pela voz e
expressões faciais do adulto, fixação em alguma característica de objetos inanimados,
que os levam a repetição, como o girar das rodas de um carro, por exemplo, ausência
da exploração sensorial de brinquedos e objetos, característica do período sensório
motor. (KLIN, 2006). Também é comum que a criança tenha desenvolvido algum nível
de fala, e o perca. O autismo compromete o desenvolvimento social, comunicativo e
cognitivo dos indivíduos e suas primeiras manifestações ocorrem antes dos três anos.
De acordo com Klin, 2006, seu aparecimento pode estar ligado a fatores genéticos.
Existem também teorias que relacionam o aparecimento do autismo com problemas de
oxigenação ocorridos no nascimento ou nos primeiros meses de vida. (OLIVIER, 2011
p.115)
Apesar de ainda haverem muitos questionamentos da comunidade científica sobre o
transtorno do espectro autista (TEA), em muito já se avançou o conhecimento sobre ele.
No Brasil não existem estudos estatísticos que demonstrem a incidência da deficiência
sobre a população, muito embora muitas crianças estejam chegando as escolas já com
diagnóstico, ou recebam o diagnóstico ainda na educação infantil, esses números não
9
10
vem sendo objetos de observação. Nos Estados Unidos o último estudo estatístico,
feito em 2018, aponta que 1 a cada 59 crianças apresente algum sintoma do autismo
(Wikipédia; Autismo, 2020). Um dado estatístico relevante é que o autismo com alto grau
de funcionamento é mais comum em meninos, já o autismo associado ao retardo mental
acomete meninos e meninas na proporção de 1,5 menino para 1 menina, concluindo-se
que é muito provável que em meninas o autismo esteja associado a algum grau de
retardo mental. (KLIN, 2006 p.5)
O autismo pode ou não estar associado a uma condição de retardo mental, ou apenas
comprometer a comunicação e a socialização , sem prejuízo da inteligência, nesses
casos o indivíduo pode ser caracterizado como portador da síndrome de Asperger,
porém sobre esta ainda não há estudos clínicos suficientes que definam os limiares de
um diagnóstico, sendo também classificada como autismo com alto grau de
funcionamento (AAGF). Aproximadamente 60 a 70% dos indivíduos com autismo funcionam
na faixa do retardo mental, ainda que esse percentual esteja encolhendo em estudos mais
recentes, que consideram os autistas que não apresentam prejuízos na inteligência como
portadoras da Síndrome de Asperger.
A combinação das condições que serão descritas podem ser consideradas como
sintomatologia do autismo, prejuízos : 1) nos sistemas de comunicação verbais, fala, e
não verbais como linguagem gestual (apontar o dedo) e linguagem corporal que
acompanha o discurso, e presença de ecolalia 2) na socialização, caracterizada pelo
isolamento social completo e ou desinteresse e/ou ausência de habilidade para
relacionar-se com colegas e familiares, 3) nos processos de criatividade que envolvem
comportamentos naturais das crianças como a imitação e o faz de conta, esse
comportamento é substituído por maneirismos (gestos repetitivos com as mãos e
braços) fixação por determinados brinquedos ou partes deles.
10
11
Como já dito anteriormente uma condição para o diagnóstico é que alguns desses
sintomas tenham aparecido até o terceiro ano de vida. Condições de retardos mentais,
como a síndrome de Rett e o transtorno desintegrativo da infância devem ser
descartados, pois têm prevalência sobre o autismo, também devem ser investigadOs
problemas de audição e fala, para se evitar um falso diagnóstico, que é dado por um
psiquiatra.
As características essenciais do transtorno do espectro autista são
prejuízo persistente na comunicação social recíproca e na interação social
(Critério A) e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses
ou atividades (Critério B). Esses sintomas estão presentes desde o início
da infância e limitam ou prejudicam o funcionamento diário (Critérios C e
D). O estágio em que o prejuízo funcional fica evidente irá variar de acordo
com características do indivíduo e seu ambiente. (Manual diagnóstico e
estatístico de transtornos mentais:DSM 5, p.14)
11
12
espontâneas e consistentemente realizadas para atender às exigências da
vida diária). (KLIN, 2006 p. 6)
Outra característica que é comum a cerca de 10 por cento dos autistas com retardo
mental é uma hiper habilidade em determinada área, geralmente ligadas a excelente
qualidade da memória, assim os autistas podem decifrar uma grande quantidade de
letras ou números, hiperlexia, ou tocar uma música, acompanhando todas as notas,
mesmo a tendo escutado uma única vez. Pode ocorrer também hiper ou hiposenbilidade
aos toques e estímulos sensoriais, a luz e ao som. Crianças autistas podem comumente
apresentar distúrbios alimentares, devido a textura dos alimentos e distúrbios do sono.
Crianças com retardo mental moderado a agudo podem apresentar comportamentos
que põem em risco a própria integridade e podem tornar-se agressivas frente a
imposições. Essa agressividade é potencializada pela frustração na comunicação e
interação, por não ser entendido nem conseguir fazer-se entender. (KLIN, 2006 p.8)
O autismo é uma condição permanente e seu desfecho pode variar ao longo da vida da
pessoa autista. As crianças maiores conseguem desenvolver variados graus de
sociabilidade, interação e comunicação, ainda que não tenham conseguido quando
crianças. Muitos desenvolvem ansiedade e depressão durante a adolescência por
darem-se conta de suas incapacidades e serem constantemente alvo de
comportamentos discriminatórios por parte dos colegas, apenas uma pequena parte dos
autistas, torna-se totalmente independente na vida adulta.
13
14
pesquisas de Asperger e Kanner. Desse cruzamento surgiu a diferenciação entre a
Síndrome de Asperger (SA) e a Síndrome do Espectro Autista (TEA). (Wikipédia;
História da Síndrome de Asperger, 2020). A principal diferença é que a Síndrome de
Asperger não compromete o desenvolvimento cognitivo, sendo assim não apresenta os
quadros de retardos mentais que são comuns no autismo, ela compromete apenas os
aspectos relacionados a interação e a socialização.
Os portadores desta síndrome não apresentam atrasos em relação a aquisição da
linguagem, costumam usar a forma mais correta da gramática nos primeiros anos de
vida, porém a comunicação dos indivíduos com Asperger tende a ser pobre, pois seus
portadores geralmente conversam como se estivessem em monólogos, por
desenvolverem bem a linguagem, nem sempre seu diagnóstico é precoce.
Ao contrário dos pacientes de Kanner, essas crianças não eram tão retraídas ou
alheias; elas também desenvolviam, às vezes precocemente, uma linguagem
altamente correta do ponto de vista gramatical e não poderiam, de fato, ser
diagnosticadas nos primeiros anos de vida. (KLIN, 2006 p.8)
Como visto na sessão anterior crianças com autismo podem apresentar enorme
14
15
prejuízo nos processos de desenvolvimento da comunicação, socialização e interação,
e esses são sabidamente processos que dão origem ao aparecimento a funções
mentais superiores, que posteriormente farão o indivíduo alcançar progressivamente a
autonomia necessária para viver em sociedade na vida adulta. Assim podemos dizer
que o autismo afeta o desenvolvimento da criança em seus múltiplos aspectos,
impedindo-a de desenvolver-se integralmente.
Os processos mentais que envolvem a interação, com o ambiente, com o outro,
consigo mesmo, foram tema central para pesquisadores de diversas áreas do
desenvolvimento humano, como Jean Piaget, que estudou a gênese do pensamento
infantil e da inteligência e os relacionou diretamente com o aparecimento da linguagem,
destacando assim a importância da comunicação para o desenvolvimento cognitivo, que
é biológico, mas é também social. Henry Vigotsky outro importante teórico , através da
teoria do sócio interacionismo, traz que os processos de desenvolvimento biológicos da
inteligência são desencadeados a partir da interação do indivíduo com o ambiente e
com o outro, conferindo grande importância ao faz de conta, pois ao interagir com o
ambiente, objetos e pessoas, em uma situação de faz de conta, a criança está na
verdade se apropriando das regras de comportamento do mundo real, através da
imitação. Henri Wallon destaca a importância de uma vivência afetiva saudável para a
formação do esquema e imagem corporal, pois a forma como compreendemos o olhar
do o outro, influencia diretamente a forma como enxergamos a nós mesmos. O filósofo,
sociólogo e psicólogo americano George Mead , 1863-1931, investigou a gênese do eu
humano no processo da interação social , sua teoria foi denominada interacionismo
simbólico, e apesar de sua obra não ser tão difundida , apresenta muitas contribuições
para a discussão sobre a influência da interação para a formação do eu, ou do self.
Crianças com desenvolvimento típico possuem uma pré-disposição inata para aprender,
através de experiências sociais e interativas, ou seja, as crianças possuem a
capacidade inata para aprender, porém as aprendizagens se dão apenas a partir de
experiências. Assim aprendem a sorrir imitando o sorriso que lhe é direcionado,
aprendem a falar observando o movimento da boca dos adultos, aprendem a conversar
ouvindo os adultos conversarem, e posteriormente essa vivência torna-se intensa
através dos jogos de faz de conta. Crianças autistas parecem apresentar restrições
nesses sistemas inatos de aprendizagem. Assim o autismo não pode ser considerado
apenas a partir do determinismo biológico, pois existem aspectos sociais ligados a
aprendizagem, que podem ser trabalhados visando minimizar ar as baixas nos sistemas
inatos de aprendizagem que os autistas possuem.
Da mesma forma, Hobson (2002) acredita que subjacente ao
autismo está uma falta de comportamento inato para a
coordenação com o comportamento social de outras pessoas.
Faltaria ao bebê que irá desenvolver um quadro autista a
responsividade emocional que permite o engajamento pessoa a
pessoa, as habilidades para a conexão emocional e a comunicação
não verbal. (apud LAMPREIA, 2007 p.106)
17
18
púbicas e particulares de diferentes regiões, estados, municípios e bairros, adotam,
cada uma por critérios próprios, diferentes programas, currículos e/ou sistemas
estruturados de ensino, baseados em referenciais teóricos diversos, desconectados das
questões inclusivas e muitas vezes desconhecidos pelo próprio corpo docente devido à
ausência de um Projeto Político Pedagógico construído coletivamente.
É possível associar essa diversidade de práticas a vários fatores, especialmente a
fatores políticos. Mas um ponto central nessa discussão é a formação básica do
professor. Assim como nas escolas, nas universidades públicas e particulares não
existe uma linearidade em relação ao currículo dos cursos de pedagogia, no que seria o
essencial na formação do professor, para que este desenvolva sua prática. E, se ao
falarmos de ensino regular a formação básica inicial do pedagogo é insuficiente,
migrando para o campo da educação inclusiva torna-se ainda maior esse abismo.
O Conselho Nacional de Educação, através do parecer CNE/CP 9/2001, que foi
homologado pelo MEC em 2002 , estabeleceu diretrizes sobre os aspectos necessários
a formação do professor que atua em classes regulares que acolhem crianças especiais
mas, na prática, nem as Universidades fornecem tal formação, nem as instituições
escolares, especialmente as públicas, priorizam os pré-requisitos estabelecidos por
esse parecer, pois se valem da mão de obra que possuem, para atender a demanda
que surge a partir do momento em que as escolas não podem recusar a matrícula de
alunos por motivo de deficiência.
Lampreia 2007, destaca que é muito importante que as crianças autistas sejam
identificadas o quanto antes, pois quanto mais cedo puderem ter acesso as terapias e
tratamentos, mais efetivas serão tais intervenções. Por isso o passo inicial é a
confirmação do diagnóstico, pois o professor não poderá realizar a flexibilização do
currículo, apenas com base em suspeitas.
Como exposto na sessão anterior os sintomas aparecem de forma precoce, entre o
primeiro e o terceiro ano de vida. Essa identificação é feita a partir da observação de
aspectos como a comunicação, a interação e a criatividade da criança, tomando como
referência crianças com desenvolvimento típico/normal, ou seja observar se
comportamentos naturais em crianças pequenas como explorar diferentes objetos,
apontar, imitar a linguagem e gestos dos adultos e de outras crianças, aprendendo e
repetindo novos sons, palavras e expressões e utilizando-os para se comunicar, brincar
de imitações e faz de conta são ausentes, pois essas características reunidas, apontam
para a existência de algum grau de autismo, ou podem ainda aparecer de forma isolada
uma e/ou outra, podendo também apontar para a existência da síndrome de Asperger.
Tal abordagem tem como característica mais central procurar
compreender as peculiaridades e desvios do desenvolvimento da criança
portadora de autismo a partir, ou à luz, do desenvolvimento típico. Essas
peculiaridades envolvem, primordialmente, uma falha no desenvolvimento
dos precursores da linguagem, isto é, da comunicação não verbal.
(LAMPREIA, 2007 p.106)
Uma vez que a professora identifique tais características, caso não tenha havido
19
20
sinalização da família e a criança ainda não tenha o CID (Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde) referente ao
autismo é necessário que faça os registros sobre suas observações, acerca do que
chama atenção no desenvolvimento da criança, que indique a necessidade de
investigação médica, através de relatos, fotos, filmagens, produções da criança. Esse
acompanhamento e documentação devem ser construídos junto a
coordenação/orientação escolar para fazer o atendimento e encaminhamentos
necessários, orientando para que a família busque, junto a uma equipe médica a
confirmação do diagnóstico. É necessário lembrar que o Guia Intersetorial de Políticas
na Primeira Infância divulgado pela Rede Nacional Primeira Infância e pelo Instituto da
Infância - IFAN, biênio 2013-14, destaca a importância de uma rede de atendimento
intersetorial para o atendimento a criança, que garanta o acesso a integralidade de seus
direitos. Nesse contexto o professor da educação infantil/ creche passa a ter um
importante papel, pois pode observar o comportamento da criança no coletivo,
comparando seu desempenho com o das demais crianças. O professor não pode se
furtar de realizar os registros e encaminhamentos necessários, ao fazê-lo estará
negando à criança e a sua família o direito de buscar atendimentos especializados e
acessar direitos específicos das crianças autistas.
Por exemplo, uma criança hiper--reativa pode bater as mãos para ter um
foco seletivo, acalmando-a e organizando-a. Uma outra criança, hipo
reativa, pode usar a mesma resposta para aumentar a sua ativação,
enquanto uma terceira criança pode bater as mãos para descarregar a
tensão. (LAMPREIA, 2007 p.111)
Outra estratégia que pode ser adotada é jogo de imitação com pares mais experientes,
onde o professor pode utilizar outra criança como modelo para a criança com autismo.
Inicialmente a criança com autismo apenas observa. É importante que os comando
dados sejam simples, objetivos, com poucas palavras. Essa estratégia é muito eficiente
para desenvolver a comunicação da linguagem verbal das crianças. Pois ao observar o
diálogo a criança pode aprender sobre a alternância de turnos, aprender a entonação
usada em perguntas, e entender a relação entre estímulo e resposta. Mas a imitação de
pares mais experientes pode ser usada para habilidades de diversas áreas: habilidades
motoras, onde a criança possa imitar movimentos, e posteriormente expressões.
A comunicação com autistas não verbais pode ser feita através de fichas de
comunicação contendo imagens, e outras técnicas de tecnologia assistiva. As imagens
podem conter expressões, objetos, palavras, pois é comum que autistas com alto grau
de funcionamento aprendam a fazer a decodificação de letras de forma autônoma e
precoce.
Além das estratégias de intervenção para em sala, o diálogo constante entre professor
cuidadores é muito importante para a inclusão da criança, pois a família também deve
receber atenção e apoio para que se mantenha firme nos cuidados e estímulos
necessários para que o avanço ocorra. Assim é importante que escola, sempre que
possível, realize formações, rodas de diálogo com especialistas, reuniões para
25
26
avaliação das estratégias voltadas para pais, professores, acompanhante e demais
integrantes da comunidade escolar. E o professor deve atualizar-se, buscando
atualizações acerca de pesquisas e descobertas sobre o autismo para sempre
aperfeiçoar suas práticas.
26
27
CONCLUSÃO
28
29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMA: Associação dos Amigos do Autista. 27 de julho de 2020. Fonte: Associação dos
Amigos do Autista: Diagnóstico. Disponível em
<https://www.ama.org.br/site/autismo/diagnostico/>
KLIN, Amin. (2006). Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral. Revista
Brasileira de Psiquiatria, 28, 3 - 11. Acesso em 27/07/2020. Disponível em
<https://www.scielo.br/pdf/rbp/v28s1/a02v28s1.pdf>
30