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Sobre o uso de reforçadores na terapia
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Ao buscar informações sobre as intervenções baseadas em ABA, é comum nos depararmos com o uso de reforçadores. Mas o que são reforçadores? Eles são
realmente necessários para a aprendizagem?
O uso de reforçadores é inerente às intervenções baseadas em ABA. Sem os reforçadores, dificilmente conseguiríamos ensinar e aprimorar habilidades tão
importantes para o desenvolvimento humano. Todavia, esse tema é cercado por dúvidas e incompreensões. Mas para entendermos o que são reforçadores, primeiro
precisamos esclarecer a noção de comportamento para a Análise do Comportamento.
O que é Comportamento?
Comportamento é definido como interação entre um organismo e o ambiente. Mais especificamente, entre as respostas ou ações do organismo e os aspectos do
ambiente que se relacionam com as respostas (estímulos). Por exemplo, sentir o cheiro de um alimento e salivar, ouvir um ruído alto e tampar os ouvidos, responder a
uma pergunta, bater palmas quando alguém diz “bata palmas”, etc. Toda relação entre estímulos do ambiente e respostas do organismo é chamada de comportamento.
Uma categoria de comportamento amplamente investigada é o comportamento operante. Podemos entender o comportamento operante como aquele que produz
consequências. Dizer “me dá a bola” e receber a bola, chorar e ser carregado no colo, ler uma palavra solicitada e receber elogios e se jogar no chão e ganhar um
brinquedo são exemplos de comportamentos operantes. Tais comportamentos são modificados pelas consequências que produzem. As consequências podem atuar de
duas formas: (1) aumentando ou (2) diminuindo a chance de a ação voltar a ocorrer. Dentre os tipos de consequências que podem ser produzidas, uma merece especial
atenção: o reforçamento.
Definindo reforçamento
O reforçamento ocorre quando uma determinada ação produz uma consequência e, posteriormente, diante de condições similares, a ação tende a ocorrer novamente.
Chamamos a consequência de reforço ou reforçador. Por exemplo, responder a uma pergunta e ganhar elogios/aprovação social; dizer “eu quero água” e receber um
copo com água; diante de uma chuva, abrir o guarda-chuva e evitar se molhar; chorar e ser liberado de fazer a tarefa na escola. Nos dois primeiros exemplos, estamos
falando de reforço positivo, pois há a apresentação de um estímulo após a resposta (elogios/aprovação social e o copo com água). Analisando os outros, podemos
observar que as respostas de abrir o guarda-chuva e de chorar eliminam um aspecto do ambiente. Nesses casos, trata-se de um exemplo de reforço negativo, no qual
há remoção de um estímulo após a resposta.
Observem que “positivo” e “negativo” não significam “bom” e “ruim”, mas sim, respectivamente, apresentação e, nos exemplos citados, remoção. No caso de abrir o
guarda-chuva para evitar se molhar, ainda estamos falando de reforço negativo, mas é pouco provável que alguém ache ruim evitar se molhar. Do mesmo modo, um
comportamento de birra que produz atenção dificilmente seria classificado como bom, ainda que esse caso exemplifique o reforço positivo. Outra confusão comum é a
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afirmação de que o reforço positivo é recompensa. Dar a partida no carro e assim fazê-lo funcionar também pode ser considerado um caso de reforço positivo, mas
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não nos sentimos recompensados por isso.Veja mais exemplos de reforço na tabela abaixo: om?
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Mas para podermos constatar que houve reforçamento, nós precisamos de mais do que apresentar ou remover estímulos após uma resposta. Em qualquer dos
exemplos acima, é necessário atentar para a frequência dessa resposta. Apenas podemos falar que houve reforçamento se observarmos que a probabilidade futura
de ocorrência da resposta aumentou. Assim, utilizando os exemplos da tabela, se em condições semelhantes o indivíduo voltar a bater no colega, podemos dizer que
houve reforço positivo. Caso contrário, não podemos afirmar que a resposta foi reforçada. Do mesmo modo, se a criança voltar a chorar na escola, constata-se a
ocorrência de reforço negativo. Não podemos dizer que um estímulo é reforçador a priori, mas apenas observando se houve aumento na chance de ocorrência da
resposta que o produziu.
Um aspecto importante é que nem sempre o que funciona como reforçador para um indivíduo necessariamente vai funcionar para outro. Reforçadores são
individuais. Assim, ganhar um sorvete, tirar notas altas ou receber um determinado brinquedo podem não funcionar como reforçadores para todas as pessoas (e, de
fato, não funcionam). É necessário reconhecer as particularidades de cada um. E até para um mesmo indivíduo, a efetividade de um reforçador pode variar ao longo do
tempo.
Reforçadores naturais x Reforçadores arbitrários

Podemos classificar ainda os reforçadores em dois grupos: reforçadores arbitrários e reforçadores naturais. Os reforçadores arbitrários (também chamados de
artificiais ou extrínsecos) são aqueles artificialmente programados para as respostas que queremos ensinar/fortalecer. Pais, terapeutas e professores, por exemplo,
costumam programar consequências para diversas atividades. Então, por exemplo, ao chamar a criança pelo nome, após a criança se direcionar para quem a chamou,
podemos apresentar elogios, brinquedos, guloseimas, etc. De modo similar, ao ensinar uma criança a ler, podemos apresentar esses mesmos reforçadores para cada
palavra lida com sucesso.
Os reforçadores naturais (ou intrínsecos), por sua vez, são aqueles que naturalmente se seguem às respostas, não precisam ter sua ocorrência programada. Ler
naturalmente produz aprendizado ou acesso a novas informações, escovar os dentes leva naturalmente à saúde bucal, fazer ações sociais produz naturalmente o bem
ao próximo.
Frequentemente, observamos que os termos reforçador positivo e reforçador arbitrário são erroneamente utilizados como sinônimos. Um reforçador positivo pode
ser arbitrário ou natural, dependendo da relação que ele mantenha com a resposta que o produziu. Ou seja, nenhum estímulo é a priori um reforçador natural ou
arbitrário. Se estamos ensinando uma criança a seguir a instrução “bata palmas” e, após ela bater palmas, entregamos um carro, esse brinquedo pode ser considerado
reforçador positivo e arbitrário para a resposta de bater palmas. Por outro lado, se uma criança diz “Me dá o carro” e nós o entregamos, podemos classificar o carro
como reforçador positivo e natural para esta resposta.
A Análise do Comportamento é comumente criticada pelo estudo e utilização de reforçadores. Diz-se que o uso de reforço positivo é artificial e forçado, além de ter o
objetivo de manipular/chantagear. Adicionalmente, afirma-se que o ideal é dar atenção, reconhecer o esforço da criança. Mas, na realidade, trata-se apenas de um erro
conceitual. Dar atenção e reconhecer o esforço também podem funcionar como reforçadores positivos, naturais ou arbitrários. Por exemplo, no caso de uma criança
para a qual ter a atenção de outras pessoas é reforçador, mas montar um quebra-cabeças não é uma atividade preferida, podemos dar atenção e reconhecer o esforço
durante e/ou logo após a realização dessa atividade. A atenção e o reconhecimento do esforço seriam considerados arbitrários pois são programados (o reforço
natural seria o próprio quebra-cabeças montado). Reforçadores arbitrários e naturais estão presentes no cotidiano de todas as pessoas. A crítica talvez queira dizer
que é mais interessante que as respostas produzam reforçadores naturais. Mas não é isso que a Análise do Comportamento também afirma? E, sendo assim, por que
então utilizamos reforçadores arbitrários?
E na terapia?
A noção de comportamento operante torna imprescindível a utilização de reforçadores. Nas intervenções baseadas em ABA, enfatiza-se o uso de reforço positivo
para ensinar/aprimorar habilidades e reduzir problemas comportamentais. Utilizamos reforçadores positivos para manter nossos clientes motivados e engajados nas
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atividades e fortalecer aquelas respostas que desejamos ensinar. Encontrar reforçadores efetivos é uma etapa importantíssima da intervenção, mas também pode ser
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um desafio: pessoas com Transtorno do Espectro Autista ou outros atrasos
(https://pinterest.com/pin  no desenvolvimento frequentemente apresentam interesses restritos (como interesse
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apenas por carros ou objetos musicais) e déficits na socialização, o que? indica uma limitada sensibilidade aos reforçadores
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consequências naturais. Muitas vezes, as consequências naturais ocorrem de modo atrasado, demorando para exercer controle. Sendo assim, os reforçadores
arbitrários auxiliam na aprendizagem aproximando a resposta desejada das consequências naturais. Eles mantém o indivíduo se comportando para que possa entrar
em contato com as consequências naturais. Em uma intervenção bem planejada, o ideal é utilizar ambos os tipos de reforçadores. Posteriormente, é importante
reduzir de forma gradativa o uso de reforçadores arbitrários e aumentar o uso de reforçadores mais naturais (principalmente os que poderão ser encontrados no
cotidiano do indivíduo).
O uso de reforçadores pode gerar dúvidas quanto a sua similaridade com o adestramento de animais, sobretudo no caso de reforçadores comestíveis (guloseimas,
biscoitos, etc). Entregar uma guloseima após uma resposta correta pode se assemelhar ao que os adestradores fazem. De fato, o reforço é utilizado para ensinar
animais a emitir uma variedade de respostas, mas isso demonstra apenas a generalidade dos princípios da aprendizagem: eles funcionam, seja com humanos ou não.
Com frequência, reforçadores comestíveis podem ser uma ferramenta importante, especialmente para casos nos quais a criança possui um conjunto bastante limitado
de itens que podem funcionar como reforçadores. Adicionalmente, há situações em que o item comestível é o reforçador natural para a resposta (durante o lanche, por
exemplo, a criança pode solicitar algum alimento específico). No entanto, no caso de ser artificial, como já mencionado, sua substituição deve ser realizada assim que
possível.
Assim, é necessário desconstruir a noção de adestramento na intervenção baseada em ABA, uma vez que são as consequências que mantém ou modificam as ações
dos indivíduos. Reforçadores existem e selecionam respostas, quer sejam programados ou não. Isso é um dado científico. Então por que não estudá-los e utilizá-los a
favor da aprendizagem? Utilizar reforçadores não significa adestrar, mas sim ensinar. Significa que o princípio do reforço pode ser aplicado para a aprendizagem tanto
de humanos quanto de outros animais. Vale destacar que os reforçadores funcionam independente de idade ou diagnóstico: ao sinalizarmos para um ônibus, o
motorista para (ou deveria parar); ao girarmos a chave no carro, ele liga; ao trabalharmos, recebemos salário; ao estudar, um aluno tira uma boa nota (esses dois
últimos são exemplos de reforçadores artificiais muito valorizados em nossa cultura1). Ser sensível às consequências das próprias ações é um ganho evolutivo para
qualquer espécie que se comporte.
Obs. 1: O texto não pretendeu explorar ou aprofundar os conceitos nem problematizá-los à luz das discussões mais recentes acerca de cada um. Definições mais
simples foram utilizadas intencionalmente.
Obs. 2: Nem sempre produzimos as consequências esperadas. Para ler sobre tal assunto, busque esquemas de reforçamento (um tema para outro post)
1 Esses exemplos foram considerados de reforçadores artificiais porque o produto direto do trabalho de alguém não é o salário, assim como o reforçador natural para o
comportamento de estudar é a aprendizagem, não a nota.
Para saber mais:
Martin, G., & Pear, J. (2009). Modificação de comportamento: o que é e como fazer. Tradução organizada por N. C. Aguirre. 8ª Edição. São Paulo: Roca. (Trabalho
original publicado em 2007).
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1 comentário em „Sobre o uso de reforçadores na terapia”
APARECIDA DA SILVA (HTTPS://RCCURSOSONLINE.COM/) DISSE:
Aqui é a Aparecida Da Silva, eu gostei muito do seu artigo seu conteúdo vem me ajudando bastante, muito obrigada.
Comentários encerrados.
QUEM FAZ
ME. EDSON SANTOS & MA. PATRÍCIA MADEIRA
CRP 10/04917 - CRP 10/04709 PSICÓLOGOS/ANALISTAS DO COMPORTAMENTO
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Sobre o uso de reforçadores na terapia

Reforçadores naturais x Reforçadores arbitrários

comportamento de estudar é a aprendizagem, não a nota.

Para saber mais:

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