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IES – INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR

LOÊNIA AUGUSTA BORGES RODRIGUES

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO


INSTRUMENTO PEDAGÓGICO

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - SP


2019
LOÊNIA AUGUSTA BORGES RODRIGUES

 CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO


INSTRUMENTO PEDAGÓGICO

Monografia apresentada à Instituição de Superior como


requisito parcial para obtenção título de Especialista do
Programa de Pós-graduação Latu Senso em
Alfabetização e Letramento.
 
Orientadora: Profª. Karen Karolina Pereira Kunh

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - SP


2019
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por
qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa,
desde que citada à fonte.

Catalogação na publicação
Serviço de Documentação Universitária

   
  RODRIGUES, Loênia Augusta Borges
 
  CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO – São José
  do Rio Preto – SP, 2019.
  42 p.; 30 cm
   
  Monografia – Instituição de ensino superior, Curso de pós-graduação em
 Alfabetização e Letramento.
 
  Orientadora: Profª. Karen Karolina Pereira Kunh
1. Educação Superior. 2. Didática. 3. Metodologia de Ensino.
FOLHA DE APROVAÇÃO

LOÊNIA AUGUSTA BORGES RODRIGUES

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO


INSTRUMENTO PEDAGÓGICO 
 
Monografia apresentada à Instituição de Superior
como requisito parcial para obtenção título de
Especialista do Programa de Pós-graduação Latu
Senso em Alfabetização e Letramento.
 
Orientadora: Profª. Karen Karolina Pereira Kunh
 
Aprovada em: ___/___/2019
 
 
 
 
Examinadores:
 
___________________________________________
Prof. Coordenador
 
 
___________________________________________
Prof. Orientador
 
___________________________________________
Prof. Co-Orientador
DEDICATÓRIA

À minha família, amigos, professores e todos


que, direta ou indiretamente, contribuíram para
que eu chegasse até aqui.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me


mostrar o caminho e proteger minha
caminhada.
Aos meus familiares e amigos pelo incentivo,
apoio e principalmente compreensão nos
momentos em que mais necessitei, seja por
estar ausente estudando, seja por precisar de
palavras motivadoras.
EPÍGRAFE

"Que os vossos esforços desafiem as


impossibilidades, lembrai-vos de que as
grandes coisas do homem foram conquistadas
do que parecia impossível."

(Charles Chaplin)
RESUMO

RODRIGUES, Loênia Augusta Borges. CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO


INSTRUMENTO PEDAGÓGICO. 2019, 42 p. Monografia – Alfabetização e
Letramento – IES – CESC CURSOS – Centro de Educação Superior
Continuada –, 2019. 

Muitas vezes falta ao educador maior autonomia diante de sua classe para
atingir mais significativamente a atenção e a participação dos alunos. Nessa
condição é preciso que se busque novas ferramentas, novas dinâmicas, novos
instrumentos pedagógicos como auxiliadores em todo processo de
alfabetização e letramento. A “Contação de Histórias” surge como um desses
importantes instrumentos pedagógicos a estimularem na aprendizagem em
sala de aula, propiciando novas formas de educar por permitirem o ingresso
dos alunos no riquíssimo no mundo da leitura. Com esse objetivo, este trabalho
visa tornar-se um importante subsídio a educadores que almejem encontrar –
na contação de histórias – um facilitador em seu trabalho de ensino-
aprendizagem. Para isso percorremos por abordagens teórico-metodológicas
de importantes autores nesse segmentos, especialmente sobre a contação de
histórias na educação infantil, como Leardini (2006), Moraes (2005), Palhares
(2007), Kulisz (2004), Oliveira (2008), entre tantos outros que explicitam como
um professor pode enriquecer sua aula num processo de contar história se
valendo especialmente do amplo material disponível na literatura infantil. Esta
pesquisa ainda valoriza a suma importância dessa literatura infantil e de sua
utilização para contação de histórias, bem como toda motivação que ela
propicia para a a aprendizagem das crianças ao longo de um processo voltado
para alfabetização e letramento, numa prática pedagógica que desperta a
imaginação, desenvolve a leitura, a criatividade, a escrita, a sociabilidade, a
oralidade e todo processo de letramento na vida escolar dos alunos.

Palavras Chave: Contação de histórias; Educação; Alfabetização e


Letramento; Ensino-Aprendizagem.
ABSTRACT

RODRIGUES, Loênia Augusta Borges. STORYTELLING HOW


PEDAGOGICAL INSTRUMENT. 2019, 42 f. Monograph – LITERACY AND
LETTER - IES - CESC COURSES - Center for Continuing Higher Education -,
2019.

Often, the educator lacks greater autonomy from his class in order to reach
students' attention and participation more significantly. In this condition, it is
necessary to look for new tools, new dynamics, new pedagogical instruments
as helpers in the whole process of literacy and literacy. “Storytelling” emerges
as one of these important pedagogical tools to stimulate classroom learning,
providing new ways of educating by allowing students to enter the rich in the
world of reading. With this objective, this work aims to become an important
support for educators who want to find - in storytelling - a facilitator in their
teaching-learning work. For this we go through theoretical and methodological
approaches of important authors in these segments, especially about
storytelling in early childhood education, such as Leardini (2006), Moraes
(2005), Palhares (2007), Kulisz (2004), Oliveira (2008), among many others that
explain how a teacher can enrich his class in a process of storytelling by
drawing on the ample material available in children's literature. This research
also values the utmost importance of this children's literature and its use for
storytelling, as well as all the motivation that it provides for children's learning
through a process focused on literacy and literacy, in a pedagogical practice
that arouses the imagination, develops reading, creativity, writing, sociability,
orality and the whole process of literacy in students' school life.
Keywords: Storytelling; Education; Literacy and Literacy; Teaching-Learning.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................... 11

1 CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - CONCEITUANDO.................................................................14

1.1 A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS.............................................................................................17

2 A IMPORTÂNCIA DE CONTAR HISTÓRIAS.........................................................................22

2.1 A IMPORTÂNCIA PSICOLÓGICA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS...................................26

3 A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA VIDA ESCOLAR............................................................30

3.2 CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL.....................................................32


3.3 O DESAFIO DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS.........................................................................33
3.4 A IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA CONTADA FORA DA ESCOLA........................................35

CONCLUSÃO............................................................................................................................ 39

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................... 40

.
11

INTRODUÇÃO
 
 
Um dos fatores mais importantes para a construção de uma sociedade é
a comunicação. E ela se molda no indivíduo principalmente no meio em que
vive, incluindo de forma importante influenciadora a educação. E um dos
caminhos que abre a essa influência e formação na educação é a “contação de
histórias”. Uma arte das mais antigas por onde o indivíduo pode se expressar
juntamente com a expressão de seus sentimentos, suas emoções, suas
experiências, inclusive como forma dele transmitir suas culturas através das
gerações.
É o que explica Leardini (2006) ao relatar que:

As origens das histórias e os gêneros literários são diversos, assim


como os tempos de sua criação são variados, mas todos possuem a
mesma essência: a imaginação e o anseio de responder a alguns
dilemas da alma humana, como o medo, a alegria, a angústia, as
perdas, entre outros (LEARDINI, 2006, p.26).

Segundo Leardini (2006), também, é pela narração de histórias


cotidianamente que o indivíduo transmite geração após geração suas mais
notáveis experiências de vida.
Segundo o Referencial Curricular para a Educação Infantil (1998, v.3,
p.143):
a leitura de histórias é um momento em que a criança pode conhecer
a forma de viver, pensar, agir e o universo de valores, costumes e
comportamentos de outras culturas situadas em outros tempos e
lugares que não o seu.

Ferreira (2007, p.9), destaca que o processo de contação de história


auxilia no processo da educação pois: “as histórias ilustradas e cantadas são
de grande incentivo e encantamento para torná-las mais atraentes e fáceis de
serem assimiladas”.
Nesta pesquisa entendemos que a contação de histórias leva o aluno a
um mundo de imaginação, favorecendo a prática docente especialmente na
fase da Educação Infantil, por meio de estratégias que motivam o “escutar” e o
12

“ler”, e, consequentemente, o “escrever” e o “expressar”. A contação de história


torna-se um importante instrumento pedagógico por motivar as crianças no
aprender a ler e a escrever, enquanto uma prática influenciadora da
compreensão dos alunos ao longo de um processo de alfabetização e
letramento que contribui significativamente no dinamismo da aprendizagem.
Para isso este trabalho investigar autores e suas conclusões sobre a
arte de contar história no contexto escolar, propiciando o desenvolvimento das
práticas de leitura e escrita como a ação docente motivadora numa prática de
alfabetização e letramento.
Conforme SISTO (2010):

Ao ouvir uma história, as crianças (e o leitor em geral) vivenciam no


plano psicológico as ações, os problemas, os conflitos dessa história.
Essa vivência por empréstimo, a experimentação de modelos de
ações e soluções apresentadas na história fazem aumentar
consideravelmente o repertório de conhecimento da criança, sobre si
e sobre o mundo. E tudo isso ajuda a formar a personalidade!
(SISTO, 2010, p.1)

Percebemos, dessa forma, o quanto é importante a literatura infantil no


desenvolvimento da criança, no processo de aquisição da leitura e da escrita, e
durante toda a vida, pois “as crianças que tem contato com as histórias
desenvolvem mais a imaginação, a criatividade e a capacidade de
discernimento e crítica [...]” (SISTO, 2010, p.3).
Serão livros com histórias e figuras que fascinarão, encantarão e atrairão
as crianças com sua imaginação no mundo do letramento, levando-as a
criarem, imaginarem, fantasiarem, dramatizarem e se expressarem diante das
ideias que lhes são lançadas pelo professor como narrador, atribuindo-lhes
sentidos no que ouvem, num período que as crianças começam sua vida
escolar, sendo despertadas para uma consciência leitora, algo que precisa ser
incentivado na escola e fora dela.
Para Silveira (2008), “através da contação de história é possível
descobrir novas palavras, deparar-se com a música e com a sonoridade das
frases e dos nomes, captar o ritmo e cadência do conto”.
13

Portanto, o contar história para crianças é uma forma de desenvolver


nelas o gosto pela leitura, desenvolvendo seu potencial crítico, levando-as a
questionar, duvidar, pensar sobre o significado que cada história tem, dos
personagens, das palavras do texto, das emoções que cada situação literária
expressa.
Autores como Zilbermann e Lajolo (2007), Busatto (2008) e Borges
(2010) apresentam suas convicções de como a literatura e a pedagogia
inserem a criança no caminho do letramento e é nessa reflexão que formamos
o primeiro capítulo desta pesquisa, conceituando a “contação de histórias”
diante dos principiais conceitos analisados.
Num segundo capítulo apresentamos uma reflexão sobre a prática
docente de contar história principalmente no contexto da Educação Infantil,
demonstrando sua importância, seus desafios e algumas possibilidades
metodológicas com a literatura infantil nesse processo.
Concluindo, num terceiro capítulo refletimos sobre a contação de
histórias ao longo da vida escolar com a ação docente e um importante papel
pedagógico que traz como eixo norteador uma interface entre a contação de
história e a literatura infantil.
14

1 CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - CONCEITUANDO


 
 
A contação de histórias é um instrumento que estimula a atenção, a
leitura, a linguagem, a escrita, o senso crítico, a imaginação, a criatividade, a
interação e a arte dramática do aluno.
O educador, no segmento de contar histórias surge como importante
mediador em todo esse processo, numa indispensável tarefa de aproximar a
criança da escuta ao envolvê-la na história dando vida aos sonhos enquanto
desperta suas emoções e a transporta para um mundo de fantasia.
A história, por sua vez, surge como importante instrumento pedagógico
de criação e recriação no universo escolar, aproximando o aluno do mundo da
leitura por meio da fantasia, que na verdade se torna a pedagogia que insere
na criança a percepção da realidade. A história traz informação e a converte
em formação.
A contação de histórias apresenta o importante tom lúdico que
educadores buscam para suas aulas, estimulando alunos a transformarem sua
realidade, reescreverem suas próprias histórias, compreenderem seu espaço
no mundo e lhes inserindo no imensurável e maravilhoso mundo da leitura e da
escrita.
Embora seja uma expressão relativamente recente, livremente traduzida
e adaptada de países de língua castelhana - "cuentacuentos" - , traduzindo
podemos estar nos referindo ao ato de “contar histórias”, quanto conceituando
o próprio protagonista contador da história.1
Na língua inglesa, temos o termo "Storytelling", similar a contação de
histórias, que é o ato, ou capacidade de se narrar um fato, ou história, de
improviso, ou planejadamente, usando diversos tipos de recursos, ou apenas a
oralidade.
Quanto à Educação, “Contação de Histórias” trata-se do ato de transmitir
o conhecimento didático por meio de uma história que pode ser real ou fictícia,
trazendo em sua função principal a busca pela atenção e o foco do ouvinte por
meio de uma ação entretecedora, explorada pelo agente contador de histórias
(educador), que a utiliza como ferramenta pedagógica para estimular o gosto

1
ROBSON, José. O que é contação de histórias. Disponível em:
https://www.contadoresdehistorias.com.br/blog/contacao-de-historias.html
15

do aluno pela leitura, pela escrita, tornando-se uma afirmação positiva dos
assuntos abordados pedagogicamente falando.
Cotidianamente, contar histórias faz parte de nossa vida, trazendo-nos
diversas e incontáveis informações, como por exemplo numa propaganda
usada para dar exemplos de comportamentos desejáveis (pelo patrocinador)
para vender produtos em narrativas visuais e, principalmente emotivas.
Também sempre nos encontramos envoltos com atos narrativos, seja em casa,
no trabalho, no lazer, na rua, enfim, na diversidade dos locais públicos, quando
somos partícipes dessa condição como agentes ativos, ou passivos de uma
narrativa social.
Voltando o foco para a educação sobre como a contação de histórias se
torna um importante instrumento pedagógico, ressaltamos o educador utiliza
esse processo para favorecer sua ação pedagógica. Para bem utilizar a
contação de história, o professor deve se aprofundar nos detalhes da história,
escolher técnicas adequadas para cada tipo de história, adaptá-la a seu público
alvo, ou seja, conforme a faixa etária, classe social e informações necessárias
a serem transmitidas aos alunos.
Durante muito tempo a educação das crianças pequenas foi vista como
uma questão assistencial, destinada apenas às primeiras necessidades –
higiene e alimentação – mas, para romper essa visão, foi criada a LDB apud
Carneiro 2008, p.106 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
nº9394/96), de 20 de dezembro de 1996, que diz em seu art. 29:

A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como


finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de
idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade (CARNEIRO,
2008, p.106).

Essa nova postura, segundo Brandão (2007), “galgada pela educação


da criança pequena reconhece e encaminha a criança como sujeito de direitos
na sociedade brasileira à qual corresponde deveres do estado”.
16

Diante disso, RCNEI (1998, p.63) incorporou o que foi colocado na LDB,
apontando como deve se organizar a prática da educação infantil, segundo
alguns objetivos:

desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez


mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção
de suas limitações; e descobrir e conhecer progressivamente seu
próprio corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e
valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem-estar;
estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças,
fortalecendo sua autoestima e ampliando gradativamente suas
possibilidades de comunicação e interação social; e estabelecer e
ampliar cada vez mais as relações sociais, aprendendo aos poucos a
articular seus interesses e pontos de vista com os demais,
respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de ajuda e
colaboração no espaço coletivo.

Para que um trabalho dessa dimensão seja alcançado é preciso que o


profissional da educação infantil tenha uma competência “polivalente”.
Conforme o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998),
isso significa:

[...] que ao professor cabe trabalhar com conteúdos de naturezas


diversas que abrangem desde cuidados básicos essenciais até
conhecimentos específicos provenientes das diversas áreas do
conhecimento. Este caráter polivalente demanda, por sua vez, uma
formação bastante ampla do profissional que deve tornar-se, ele
também, um aprendiz, refletindo constantemente sobre sua prática,
debatendo com seus pares, dialogando com as famílias e a
comunidade e buscando informações necessárias para o trabalho que
desenvolve. São instrumentos essenciais para a reflexão sobre a
prática direta com as crianças a observação, o registro, o
planejamento e a avaliação (RCNEI, 1998, p.41).

Um “profissional da infância” deve ser, portanto, muito diverso em sua


prática, sabendo que nessa fase da vida da criança o cuidar ainda estará muito
forte, mas que aos poucos as práticas educativas devem ser inseridas em seu
17

cotidiano, construindo uma educação que vai além da recebida na família. Esse
profissional deve ser preparado sabendo que as condições de trabalho são
bastante adversas e sua ação “polivalente” deve lhe ajudar a saber lidar com
várias situações diante das crianças. E acima de tudo, saber que ensinar
exige comprometimento e saber escutar. Um professor de educação infantil
deve ser comprometido com a escola, com o aluno e principalmente com a sua
prática, maneira pela qual age com o seu aluno, tendo consciência de que e
sua ação interfere na vida do educando.
A prática docente, segundo Freire (1996), deve ser sobretudo uma
possibilidade; possibilidade esta de estimular perguntas várias, sem mentir aos
seus alunos, buscando ao máximo prepará-los para as várias situações da
vida. E ainda segundo Freire (1996), ensinar exige escutar.
Se na verdade, o sonho que nos anima é democrático e solidário, não é
falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo, como se fôssemos os
portadores da verdade a ser transmitida aos demais, que aprendemos a falar
com eles. Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele,
mesmo que, em certas condições, precise de falar a ele (FREIRE, 1996, p.
113).
Um professor tem que estar convicto de suas ações, além de ser um
excelente ouvinte. Em relação a essa questão de saber escutar, uma
possibilidade de se trabalhar isso é com a literatura infantil. O ato de contar e
ouvir histórias, com e para as crianças, é algo extremamente importante na
educação infantil, apresentando-se como um recurso que permite ao professor
trabalhar os conteúdos e desenvolver práticas de leitura e escrita a partir dos
textos literários.

1.1 A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS

Contar histórias é uma prática milenar. Porém como a nossa sociedade


é dinâmica, mutável, está sempre em constante transformação, e essa prática
também passa por constantes reconfigurações. Através dela, o professor pode,
em sua ação docente, abordar vários conteúdos, além de desenvolver nas
crianças o lúdico, o imaginário, o fascínio por uma boa leitura. Para Busatto
(2008):
18

[...] contar histórias é uma atitude multidimensional. Ao contar


histórias atingimos não apenas o plano prático, mas também o nível
do pensamento, e, sobretudo, as dimensões do mítico-simbólico e do
mistério (BUSATTO, 2008, p.45).

Sendo assim, contar histórias não significa apenas pegar um livro e ler o
que ali está escrito, mas criar todo um envolvimento em relação àquela história
ou fato, de tal forma que o aluno ao ouvir um conto de fadas, uma fábula ou
mesmo uma lenda, chegue ao nível do que lhe está sendo contado viajando no
mundo da fantasia. Desse modo, pode trazer para sua realidade o que nele é
expresso, buscando a resolução de seus problemas.

Tendo objetivos diferentes, a leitura deve ser trabalhada de acordo


com o gênero textual, e são diversas as maneiras de ler, assim como
diversos são os textos e os objetivos de leitura. No que diz respeito
ao gênero literário, a escola assume o importante papel não só de
apresentar aos alunos um mundo lúdico, prazeroso, divertido e
emocionante, como principalmente o de promover ações pedagógicas
estruturadas e planejadas, que os levem a compreender e apreciar o
universo da leitura e da literatura (BORGES et al, 2010, p. 77).

Assim, a inserção da contação de história na escola é muito significativa


para a criança da educação infantil. Considerando-se, sobretudo, que nessa
faixa de idade a criança está livre de qualquer preconceito e aberta à
aprendizagem. Por isso, o professor tem que ter muito cuidado em relação à
escolha do gênero literário que será apresentado, e a forma como isso será
feito em sala de aula. Através da leitura e da contação de histórias pode-se
valorizar, conforme Busatto (2008, p.37):

[...] as diferenças entre os grupos étnicos, culturais e religiosos, e


introduzir conceitos éticos”. Além de ser um elemento integrador das
diversas áreas do conhecimento, o método pode trabalhar múltiplas
temáticas, utilizando a contação de histórias para estimular o gosto
pelo ato de ler, e não simplesmente promover a leitura com a
intenção de realizar uma atividade de avaliação logo em seguida. A
literatura infantil, através da contação de histórias possibilita ao
19

professor e ao aluno diversos fazeres e saberes diante do que foi


proposto pelo professor dentro do contexto de sala de aula.

Literatura é a arte de lidar com a palavra. Conforme Cagnati apud Paço


(2009, p.12) é um “fenômeno de criatividade que representa o Mundo, o
Homem, a Vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática; o
imaginário e o real; os ideais e sua possível/impossível realização”.
Desse modo, leva a criança a descobrir “mundos” cheios de sonhos,
fantasias, alegrias, num mundo onde a realidade se confunde com a
imaginação, fazendo com que ela reflita e modifique ou não seus conceitos,
suas expectativas.
Porém, a literatura voltada para o público infantil só passa a existir, a ter
espaço no cenário mundial, a partir do século XVIII, quando surge uma nova
forma de ver a criança, como ser peculiar, diferente do adulto, com
características e necessidades próprias. Para Zilbermann e Lajolo (2007, p.17):

Contar história é fundamental na Educação Infantil, seja pelo


educador, seja até mesmo antes da escola pelos pais e responsáveis.
Isso já é sabido e é praxe na grande maioria dos relacionamentos
entre adultos e crianças. Porém, mais que esse reconhecimento e
esse trabalho, contar histórias é uma arte. É arte.

Entretanto, não basta uma boa intenção para fazer arte. A arte de contar
exige um fazer anterior, um preparo, um domínio prévio, um conhecimento,
estudo, ensaio, profundidade. E é, evidentemente, exercício de longo prazo.
A arte de contar histórias é também a arte de não fazer concessões:
contar bons textos, contar tendo preparado, contar para ir além do que se
conta. No mínimo, técnica e emoção. Técnica e repertório. Na ordem que se
preferir!
Contar histórias na verdade é a união de muitas artes: da literatura, da
expressão corporal, da poesia, da música, do teatro... Não há como ignorar
esse quê de performático do contar histórias. Ainda que o foco maior seja
apenas a voz e o texto, projetados no espaço, para atingir uma plateia. A
20

utilização apenas desses dois elementos, voz e texto, por si só já bastaria para
caracterizar o cênico e o dramático.
Mas a palavra merece mais do que um espetáculo. A palavra na boca de
quem conta é o próprio espetáculo, se com isso extrapolar-se a noção de
cartilha. Se para isso o narrar, o comunicar, o dialogar, o atingir outrem, o
suspender o tempo, o emocionar, estiverem conjugados de modo a
transformarem um texto em objeto duplamente estético. Estético na escrita,
estético na passagem para a oralidade. Impacto estético antes, durante e
depois!
Se arte é a melhor das maneiras do ser humano expressar seus
sentimentos e emoções, contar histórias é uma dessas maneiras, pois ela pode
estar representada de diversas maneiras, pois a história pode nascer da pintura
plástica, da escultura, do cinema, do teatro, da dança, da música, da
arquitetura, dentre outros, que ficarão gravados na mente de quem ouviu. A
arte é o reflexo da cultura e da história, considerando os valores estéticos da
beleza, do equilíbrio e da harmonia.
Desde a pré-história, na pintura rupestre, verificamos a necessidade do
homem em representar a realidade sob a sua perspectiva e percepção. A arte
evolui com o tempo e em cada época, de acordo com o contexto histórico,
observa-se uma tendência a certo estilo. Contar história, entanto, é um desses
estilos.
A arte pode ser também definida como algo inerente ao ser humano,
feito por artistas a partir de um senso estético, com o objetivo de despertar e
estimular o interesse da consciência de um ou mais espectadores, além de
causar algum efeito. Cada expressão artística possui significado único e
diferente. Contar histórias é tudo isso, pois cada história deve estimular o
interesse da consciência de um ou mais espectadores, causar algum efeito e
possuir um significado único e diferente como forma de expressão artística.
A contação de histórias, como arte propriamente dita, está interligada à
estética pelo fato de ser potencial do homem de imprimir beleza ou se esforçar
para materializar (ou imaterializar) algo que o inspira, no caso, a história que o
inspira, pois, sem a expressão artística na dramatização, no cenário, na
interpretação, contar história deixaria de ser arte, pois uma história bem
contada produz ecos no ouvinte, e é isso que a caracteriza como arte. Serão
21

“Ecos” que se prolongam para além do momento narrado, deixando marcas,


visíveis e invisíveis, mesmo que nem sempre percebidas no calor da hora, mas
depois, com os reflexos que produzirem a memória de quem ouviu.
Quem ouve uma história quer sempre ser atingido, de alguma forma,
quer ser atingido. Quem conta, quer igualmente experimentar o poder da
palavra, o poder do encantamento, e o poder do vice-versa: marcar e ser
marcado!
Contar histórias é uma arte que se faz, num momento específico,
irrepetível, uma arte que fica, para o depois do acabado. Contar, então, é
também a arte da reverberação.
A arte do contar histórias opera antes com a noção de sugestão, de
esboço. Nenhum contar é definitivo e pronto e acabado. Toda história contada
oralmente é antes de tudo, uma obra em processo, que precisa do outro para
ser completada. E isso a define como arte.
22

2 A IMPORTÂNCIA DE CONTAR HISTÓRIAS


 
 
Já entendido que a contação de histórias é um instrumento que estimula
a atenção, a leitura, a linguagem, a escrita, o senso crítico, a imaginação, a
criatividade, a interação e a arte dramática do aluno, vale salientar como a
criança, desde muito cedo, gosta de ouvir história, o prazer com que escuta
alguém contando histórias, e assim se valer dessa condição para conquistar
sua atenção.
Uma excelente oportunidade para isso se trata de contar a própria
história da criança. A criança sempre gosta de ouvir como ela nasceu, os fatos
acontecidos com ela, com os irmãos, os pais e os avós, pois isso proporciona a
ela desenvolver noções de identidade e de passado, ouvindo os casos que são
contados e que formam a história da família.
As histórias sobre fatos são importantes, porque ajudam a criança a
entender sua origem e que tipo de relações existem entre ela, as pessoas e os
lugares.
As histórias inventadas também são importantes. Desde cedo a criança
precisa também saber de coisas que não fazem parte de sua experiência
cotidiana. É comum ela ter um amigo imaginário ou atribuir qualidades
humanas e sobrenaturais a um brinquedo ou um animal.
As conversas e as histórias dessas personagens, unindo o real e o
imaginário dá aos pais muitas dicas sobre seus filhos, pois nessas horas que a
criança deixa transparecer sentimentos como o medo, a insegurança, o ódio, o
amor.
Assim que aprende a falar, a criança começa a contar histórias para si
mesma. Com um ano e meio, fala com os brinquedos, num jogo imaginário e
pessoal.
Antes mesmo de saber a falar corretamente, ela imagina, cria e faz de
conta, demonstrando suas preocupações e interesses a cada momento. À
medida que a criança cresce, as histórias se complicam, mas continuam
envolvendo experiências e situações importantes para ela.
23

As histórias somam-se então às investidas, passando a fazer parte de


um mundo onde a realidade e a imaginação se completam, os livros aumentam
o prazer e a imaginação da criança. A partir de histórias simples, começa a
reconhecer e interpretar sua experiência da vida real.
Acontecimentos familiares descritos em livros têm uma importância
muito grande, porque a criança precisa saber que é igual a todo mundo, que
outros vivem experiência semelhante às suas.
Ela se identifica, por exemplo, com as histórias em que as crianças e
bichos acordam, vivem suas rotinas diárias e vão dormir, ou com aquelas em
que crianças brincam, vão ao parque ou festas, ao médico ou ao dentista,
estão de férias, ficam doentes e ampliam experiências conhecidas e ajuda a
enfrentar situações novas.
No reino da fantasia tudo é possível. As crianças pequenas aceitam com
muita naturalidade histórias sobre aventuras impossíveis vividas por bichos e
pessoas. Tudo o que é fantástico vai alimentando sua imaginação e entrando
no seu mundo, onde os limites entre o real e o imaginário ainda estão sendo
estabelecidos.
O amor pelos livros não aparece de repente na vida criança. É preciso
ajudá-la descobrir o que os livros lhe podem oferecer. Cada livro pode trazer
uma nova ideia, ajuda a fazer uma descoberta importante e ampliar o horizonte
da criança.
Aos poucos ela ganha intimidade com os livros. As histórias que os pais
contam e os livros que pais e filhos vêm juntos formam a base do interesse
pelas histórias e a gostar dos livros.
Para melhor compreender esta situação, podemos ilustrá-la
transcrevendo a colocação de Oliveira (2010), onde podemos compreender
então como o profissional de educação infantil, utilizando-se desse tipo de
linguagem, possibilitará às crianças levantarem hipóteses, trocarem ideias e
fazerem observações diante do que lhes é exposto na sala de aula, nessa
“hora do círculo”, onde todas ficarão cara a cara, olhando “olho no olho” e,
finalmente, podendo se expressarem como quiserem com a segurança de que
serão ouvidos e respeitados.
24

Um trabalho educativo onde envolva crianças pequenas deve


primeiramente buscar respeitar e captar a infância. Segundo Oliveira (2010, p.
184):

na complexidade de sua cultura com sua pluralidade de


características”. Diante da diversidade da infância o professor dessa
faixa etária também deve adequar-se à determinada realidade através
de atividades bem diversificadas, onde a leitura e a narração de
histórias sejam constantemente realizadas na sala de aula e em

qualquer lugar que lhe possibilite gerar prazer.

Conforme Cavagnoli et al (2010, p.84):

para as crianças, ler é tanto sinal de inteligência, possibilidade de


aprendizagem dos conteúdos escolares, exercício para o cérebro e
forma de atender às exigências adultas, como fuga para outro mundo,
diversão e prazer”. A leitura não deve ser vista apenas como uma
obrigação, desenvolvida só no âmbito de sala de aula, mas ampliada
para qualquer espaço, no ônibus, no seu quarto, no parquinho, ou em
qualquer lugar onde se sentir vontade. Na escola
preponderantemente, deve ser iniciada e a partir daí quando feita de
forma instigante, levada para a vida inteira de forma positiva.

Para tanto, uma história capaz de prender a atenção das crianças é


aquela que lhes desperta a curiosidade. Para Garcia (2010):

não é indicado dar qualquer leitura a uma criança, mesmo porque


muitas histórias podem passar preconceitos, falsos valores e
mentiras, perdendo-se assim, o seu encantamento e a oportunidade
de formar bons leitores (GARCIA, 2010, p.4).

Dessa forma, o professor deve selecionar as histórias com muito


cuidado, analisando o que há de proveitoso, de educativo, interessante e
descartando o que está carregado de valores falsos. Uma história pode vir
cheia de preconceitos que fazem de seu conteúdo uma arma prejudicial à
criança. Algumas, ao invés de encantar, acaba apavorando o público infantil.
25

Portanto, o professor deve também levar em consideração as preferências de


seus alunos.
Conforme Alves apud Garcia (2010, p.4)

O lugar da literatura não é a cabeça: é o coração”. Assim, a contação


de histórias é um excelente artifício, que o professor pode e deve
utilizar para desenvolver, a partir da literatura infantil a leitura, e
principalmente o gosto, o prazer de pegar um livro e ler com
satisfação e alegria. Tornando-se, assim, acima de qualquer outra
coisa, um alimento para a alma.

Nessa ótica, o professor pode utilizar de várias estratégias para


desenvolver junto aos alunos a leitura e a escrita. O texto literário é um
instrumento facilitador dessa prática, a partir da qual cria-se várias
oportunidades de diálogo, buscando compreender o que as crianças sentem e
como compreendem determinada leitura.
Na “hora do conto”, por exemplo, essa questão pode ser bastante
desenvolvida através do levantamento de hipóteses, expressão dos
sentimentos e emoções das crianças por meio de desenhos, do reconto da
história de forma escrita, representação em forma de dramatização e outros
artifícios. Trabalhar com as diversas linguagens da criança torna-se um recurso
essencial na educação infantil em relação ao aprender a ler e a escrever. Para
Oliveira (2010):

Cada dia mais os professores têm buscado compreender as


condições do contexto de aprendizagem propícias ao aprendizado, já
desde cedo, da linguagem escrita, vista como objeto cultural com
funções e propriedades específicas que serve como suporte de ações
e trocas sociais (OLIVEIRA, 2010, p.232)

Desde muito cedo a criança é inserida em um mundo repleto de


símbolos, símbolos esses cheios de significados, que é o mundo da escrita.
Nessa perspectiva, o texto literário, articulado à contação de história no
processo de ensino-aprendizagem das crianças, é um elemento de interação
social tanto no que diz respeito à leitura quanto à escrita, um elemento cheio de
26

possibilidades diante de crianças com “fome” de aprender a ver e a ler o mundo


que as cerca.

2.1 A IMPORTÂNCIA PSICOLÓGICA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

É importante ressaltar que apesar dos contos terem sido criados há


séculos, continuam maravilhando crianças e adultos do mundo inteiro. Existe
algo de universal nos contos que os faz ultrapassar o tempo e as culturas. A
psicanálise no decorrer deste século analisou e verificou a riqueza psicológica
que está contida nos contos.
Os contos de fadas transmitem mensagens à criança de forma múltipla:
que a luta contra dificuldades graves na vida é inevitável, é parte da existência
humana, mas que se a pessoa não se intimida e se defronta de modo firme
com as opressões inesperadas e muitas vezes injustas, ela dominará os
obstáculos e, ao fim será vitoriosa.
A criança necessita muito particularmente que lhe sejam dadas
sugestões, de forma simbólica sobre a forma como ela pode lidar com estas
questões.
Para dominar os problemas psicológicos do crescimento, como superar
rivalidades fraternas, ser capaz de abandonar dependências infantis, obter um
sentimento de individualidade e de autovalorização, a criança necessita lidar
com os conceitos que estão dentro do seu inconsciente, mas que lhe causam
desconforto consciente. A criança adequa o conteúdo inconsciente às fantasias
conscientes, o que a capacita a lidar com este conteúdo.
É aqui que os contos de fadas têm um valor inigualável, oferecem novas
dimensões à imaginação da criança que ela não poderia descobrir
verdadeiramente por si só.
A forma e estrutura dos contos de fadas sugerem imagens à criança
com as quais ela pode estruturar seus devaneios e com eles dar melhor
direção à sua vida. Os contos tomam as ansiedades existenciais e dilemas com
muita seriedade e dirige-se diretamente a eles: necessidade de ser amado, e o
medo de uma pessoa de não ter valor, o amor pela vida e o medo da morte.
27

Além de dirigir a criança para a construção de sua identidade e pelas


identificações e repulsas e a comunicação, os contos sugerem as experiências
que são necessárias para desenvolver ainda mais o seu caráter. Declaram que
uma vida compensadora e boa está ao alcance da pessoa apesar da
adversidade, mas apenas se ela não se intimidar com as lutas do destino, sem
as quais nunca se adquire uma identidade autônoma.
Os contos personificam e ilustram conflitos internos, mas sempre
sugerem sutilmente como estes conflitos podem ser solucionados e quais os
próximos passos a serem dados na direção de uma humanidade mais elevada.
Estes são apresentados de um modo simples, caseiro; não fazem
solicitações ao leitor. Isto faz que até a menor das crianças se sinta atuante, e
nunca a leva a se sentir inferior. Assegura e dá esperança para o futuro,
oferecendo promessa de um final feliz.
O conto de fadas é otimista, mesmo que alguns traços sejam
terrivelmente sérios. Ele oferece materiais de fantasia que sugere à criança
sobre forma simbólica o significado e de toda batalha para conseguir uma
autorrealização, e garante um final feliz. Assim, uma existência feliz é projetada
pelos contos como o resultado das provações envolvidas nos processos de
crescimento.
O conto de fadas procede de uma maneira parecida com o caminho pelo
qual uma criança pensa e experimenta o mundo; por esta razão os contos são
tão convincentes para ela, pois poderá obter um consolo muito maior de um
conto de fadas do que de um esforço para consolá-la baseada em raciocínio e
pontos de vistas adultos. Uma criança confia no que o conto de fadas diz por
que a visão de mundo está de acordo com sua.
Assim, torna-se evidente que envolver a contação de histórias no
processo pedagógico permite à escola formar um cidadão consciente de seus
deveres e direitos perante a sociedade em que vivemos, principalmente ao
notar-se o comprometimento que um profissional da infância deve ter em
relação a seus alunos e a si próprio, quando se trata do poder de
transformação que detém sobre as crianças, que é a possibilidade de formar
novas ideias e maneiras de ver o mundo.
28

Um profissional que procura envolver seus alunos na trama do saber, do


ler e escrever e, mais do que isso, compreender e interpretar questões que,
muitas vezes, não estão explícitas em um texto, buscando nas entrelinhas o
entendimento, se destaca na concepção de Freire apud Kulisz (2004):

para que se tenha uma educação humana e transformadora, é


preciso conceber a educação de forma dialógica. Assim, para que o
professor seja qualificado como um profissional de educação infantil
comprometido com o exercício da cidadania, é essencial que a
concepção de educação que permeia a sua formação se fundamente
no diálogo entre os sujeitos (KULISZ, 2004, p.44).

Dessa forma, observa-se uma nova dimensão do profissional de


educação infantil, um profissional atuante, que não ensina apenas os
conteúdos explícitos na grade curricular, mas que procura uma maior
interação com as crianças, envolvendo-se em projetos que propiciem uma
prática docente inovadora no que diz respeito ao nível de formação de seus
alunos.
Considerando a realidade estudada, a docente dá muita importância à
integração com as crianças, buscando no “faz de conta”, na brincadeira, uma
nova forma de fazer educação, levando-as, a partir da contação de histórias, a
gostar da música presente apresentada.
Comprova-se assim, segundo Kulisz (2004),

a importância do diálogo no intercâmbio de experiências, fazendo do


conhecimento um processo coletivo em que não existam sabedores,
e sim comunicadores. Nesse processo, o professor experimenta-se
como pessoa. E como grupo de aprendizagem, as pessoas são
unidas numa espécie de parentesco de conhecimento, cada um
colabora com a experiência de conhecimento e introduz sua própria
experiência na construção do mesmo. A pessoa pode experimentar
como o outro experiencia a mesma coisa de maneira diferente e
como reage diferentemente a ela. Assim cada um pode avaliar sua
própria experiência e reações, sem que seja avaliado ou julgado
pelos outros (KULISZ, 2004, p.32).
29

Nesse sentido, o diálogo na sala de aula é muito importante, e o


professor deve utilizar adequadamente essa prática para envolver o aluno
psicologicamente, valendo-se, para isso, de uma hora do círculo,
dramatizações, brincadeiras de mímicas, repetições, diálogos das crianças com
o professor e entre si, quando poderão trocar experiências e conhecimentos,
na etapa que antecede à contação da história.
O momento da história é algo que instiga muito a curiosidade das
crianças, pois elas se sentem confortáveis para indagar ao professor sobre
questões particulares, pessoais, emotivas, psicológicas, além de criarem uma
história diante da que lhes foi apresentada.
30

3 A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA VIDA ESCOLAR


 
 
O ideal é trabalhar com a contação de histórias desde a educação
infantil, desde que respeitado o estágio de desenvolvimento em que as
crianças se encontram. Como exemplo, é importante citar que, antes de
completarem 03 anos, as crianças vivem num mundo muito concreto, suas
brincadeiras são relacionadas ao real, gostam de histórias que falam de limpar
pular, nadar, dirigir um carro, fazer um bolo, passear no parque e histórias que
apresentem a elas coisas do mundo, que possam reconhecer e rever num livro.
A criança sente-se motivada quando reconhece numa história características
que já ouviu em algum outro momento, ou que são familiares à sua vida
cotidiana.
Já a partir dos 03 anos começam a viver no mundo da imaginação, onde
uma atividade vividamente imaginada é como se fosse real. Uma narração de
conto com apoio visual – desenhos, encenação com brinquedos e bonecos ou
com muitos gestos expressivos – prendem muito mais atenção desta faixa
etária do que se fosse apenas contada.
Entre tantas experiências essenciais para um processo de contação de
histórias envolvendo a educação, certamente a criação de oficinas com esse
fim resultam em muito mais benefícios do que simplesmente uma prática
repetitiva diariamente com essa intenção.
Quando falamos de “oficina pedagógica” falamos de uma metodologia
de trabalho que prevê a formação coletiva ao prever momentos de interação e
troca de saberes a partir da uma horizontalidade na construção do saber
inacabado. Assim, o conceito de oficinas aplicado à educação refere-se ao
lugar onde se aprende fazendo junto com os outros.
A importância de oficinas pedagógicas desenvolvidas com esse objetivo
por educadores apresenta reflexos significativos dessas práticas na
aprendizagem do aluno.
Certamente, numa oficina com este tema os alunos serão motivados à
leitura, agregarão os temas propostos em à formação pessoal, à sua formação
humana, como a sensibilidade, a criticidade e a ampliação de mundo que a
31

criança possui, tornando-se, com isso, alguém capaz de escrever a sua própria
história de vida sendo protagonista de sua própria história.
Uma vez que “Oficina Pedagógica” é uma metodologia de trabalho
prevendo uma formação coletiva, a oficina pedagógica de contação de histórias
deve constituir um conceito aplicado à educação referindo-se ao lugar onde
se aprende fazendo junto com os outros por meio de histórias que transmitirão
conhecimentos, quando os alunos serão beneficiados devido à utilização de
novas estratégias que viabilizem o aprendizado deles quando são atendidos
nessa dinâmica. Diante de todas as dificuldades comuns numa escola,
principalmente a pública, como o espaço muito pequeno ou a ausência de
material diversificado, o professor deve ser mostrar bastante preocupado com
essa nova formas de agir, conforme descreve Kulisz (2004, p.44) ao afirmar
que: “na docência desse profissional, percebem-se o dever e o poder de
realização e de transformação, pois, na sua interação com o mundo, o
professor se constrói enquanto cidadão e profissional responsável”.
Enfim, uma oficina pedagógica para contação de história reflete uma
estratégica pedagógica que pode favorecer de maneira significativa a prática
docente na educação infantil e ensino fundamental. A escuta de histórias numa
atividade extra sala de aula estimula ainda mais a imaginação, educa, instrui,
desenvolve habilidades cognitivas, dinamiza o processo de leitura e escrita,
além de ser uma atividade interativa que potencializa a linguagem infantil.
Oficinas pedagógicas desenvolvem instrumentos lúdicos com jogos,
danças, brincadeiras, movimentos e, especialmente, a contação de histórias no
processo de ensino e aprendizagem, que proporcionarão melhoria na
desenvoltura dos alunos quanto à responsabilidade, a auto expressão,
despertando incentivo para as crianças estimularem seu foco nas atividades
em toda a aula, na classe ou extraclasse.
Portanto, a contação de histórias para crianças é realmente uma das
primeiras maneiras de transmitir conhecimento e estimular a imaginação dos
alunos. Por essa razão, a prática de contar histórias pode – e deve – ser usada
nas escolas, principalmente no segmento da educação infantil.
Enfim, contar histórias se trata de uma atividade que colabora com a
reformulação do espaço de sala de aula, incentiva a criatividade e a
manifestação de diversas formas de expressão, se transforma numa prática
32

pedagógica que colabora para o desenvolvimento da escrita e da oralidade,


além de desenvolver a percepção de representações simbólicas.

3.2 CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Ao ouvir ou ler uma história a criança pode fazer associações das suas
próprias vivências. O processo de identificação com as situações presentes
nas histórias faz com que a criança desenvolva meios de lidar com suas
dificuldades, sentimentos e emoções. Quanto ao ler, quando ainda em fase
escolar que não reconhecer letras, a criança “lê” as imagens, ou seja, por meio
das ilustrações de um livro ela formula sua própria história, e isso a transporta
para a magia de ler à sua maneira. Por isso é importante que o professor utilize
livros de histórias infantis com muita ilustração.
Esta ação é um estímulo à memória, porque resgata as experiências de
cada aluno. Seja por meio da bagagem cultural ou de vida, o aluno consegue
relacionar as figuras com o contexto de histórias que atravessam sua família.
Esse tipo de contato com figuras para formular suas histórias passa a ser o
primeiro passo para que a criança encontre na leitura um espaço para relações
de memórias e afetos, além das possibilidades criativas.
Com isso, contação de histórias associada à “leitura” de imagens é algo
enriquecedor na formação do aluno como indivíduo, quando cada um formulará
sua própria história que, no contexto geral, revelará sua vivência cotidiana
extraclasse.
Quando à contação de histórias com leitura por parte do professor, na
educação infantil, além de ampliar o vocabulário e os campos de
conhecimento, proporciona um grande exercício para a imaginação. Ao ouvir
uma história com atenção a mente humana tende a projetar no campo da
imaginação o enredo dela, sendo que isso acontece, por parte do aluno, com a
escuta da leitura feita pelo professor.
Contar e ouvir história aproxima a criança de uma nova oralidade, e isso
a desenvolve de forma que a convivência com essa oralidade, desde de muito
cedo, pode aguçar o desejo pela leitura, aproximando a criança, nesse sentido,
do universo de criatividade e curiosidade, que são expandidos por essa
atividade.
33

A contação de histórias se valendo de livros na Educação Infantil


envolve a criança com o objeto suporte – o livro – e demonstra, na prática, os
caminhos infinitos que a leitura abre à mente.
Portanto, a contação de histórias na educação infantil torna-se uma
dinâmica sempre aberta para o compartilhamento de opiniões e vivências de
cada um, levando a criança a se desenvolver formas individuais de expressão
e observação do mundo, além de – quando utilizado livro – conduzir o aluno à
motivação para leitura, cabendo ao professor incentivar a participação deles
numa leitura interpretativa e desenvolvimento de expressões diversas.
A contação de histórias na educação infantil ainda amplia se leque com
a utilização de recursos dramáticos e cenográficos, que por sua vez podem dar
ainda mais liberdade para que a história esteja por toda a sala de aula e para
que os alunos embarquem na narrativa.
Concluindo, a leitura de figuras que envolvem uma temática da história
pode abrir espaço para que os alunos falem sobre temas que envolvam sua
vida escolar, como o a timidez, a baixo autoestima, os traumas familiares e
pessoais, o bullying e outras questões de relacionamento entre eles, na escola;
com familiares, em casa; e com a comunidade em geral no ambiente em que
vivem. Isso deve ocorrer desde as turmas mais novas, onde a possibilidade de
expressão e de interação com assuntos caros às relações humanas pode evitar
problemas de convivência. Daí a fundamental importância da contação de
histórias na educação infantil não pode passar desapercebida por nenhum
educador que leciona ou coordena esse segmento da vida escolar.

3.3 O DESAFIO DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

Qualquer que seja caminho que o educador escolher ou avaliar ser o


mais propício para se enveredar no caminho da alfabetização, todos têm seus
desafios a serem superados para um melhor aproveitamento. Quanto à
contação de histórias, é importante salientar que realizar esse exercício exige
superação de desafios como o próprio momento da narrativa, que deve ser
preparado de forma que o conto assuma o papel principal, quando o professor
deve saber deixar as imagens das histórias fluírem na imaginação das crianças
34

devido à sua boa desenvoltura no momento de contar a história. Cabe ao


professor conseguir despertar essa imaginação no aluno.
Conforme Coelho (1999), até a postura no momento de contar uma
história é um desafio para o educador. O autor ressalta, por exemplo, como
deve se portar um professor que utiliza o livro num momento de contar uma
história, tornando-se, assim, um narrador. Segundo Coelho (1999):

Devemos mostrar o livro para classe virando lentamente as páginas


com a mão direita, enquanto a esquerda sustenta lentamente a parte
inferior do livro, aberto de frente para o público. Narrar com o livro não
é, propriamente, ler a história. O narrador a conhece, já a estudou e a
vai contando com suas próprias palavras, sem titubeios, vacilações
ou consultas ao texto, o que prejudicaria a integridade das narrativas.
(COELHO, 1999, p. 33).

Assim sendo, entende-se que é fundamental que o educador estude, e


se prepare com antecedência quando for fazer o uso de histórias infantis em
sua aula, atentando-se até para a mais simples das posturas, como segurar o
livro na altura dos olhos das crianças.
É preciso que o educador busque uma formação continuada a esse
respeito, procure uma capacitação para melhor superar desafios como esses,
pois, como explica Dinorah (1995):

Contar histórias é uma arte, certamente. E nem todo professor nasce


com o privilegio deste dom [...], entretanto, o uso de alguns cursos
fará dele, se não o artista de dotes excepcionais, um mestre capaz de
transmitir com segurança e entusiasmo um texto para os pequenos.
(DINORAH, 1995, p.50).

Portanto, é essencial que o professor que pretende utilizar a “contação


de histórias” como um importante instrumento pedagógico busque formação
considerada a esse respeito para estimular seu entusiasmo na hora em que for
contar histórias para seus alunos, pois não adianta nada saber o enredo das
histórias e ter vários recursos que os possibilitem uma fantástica narrativa, se
ele não mostrar em seus gestos e no seu olhar o quanto é divertido,
empolgante e gratificante ouvir histórias.
35

O professor precisa assumir uma postura reflexiva em relação ao seu


ensino e as condições sociais que influenciam além do grande desafio de
garantir movimentos e riquezas no processo educacional mantendo sempre o
diálogo, e constantes propostas de situações problemas, desafios e de fazer
conexões entre o conhecimento já adquirido ao pretendido e o vivencia por
seus discentes, tanto no núcleo escolar quanto familiar e no seu círculo social.

3.4 A IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA CONTADA FORA DA ESCOLA

Muitas vezes o professor, os pais, familiares ou responsáveis podem


julgar que a criança não está interessada em uma história que está sendo
contada. Mas isso não ocorre. Talvez esteja faltando o adulto envolvido
compreender a faixa etária com a qual trabalha. As crianças não só gostam de
ouvir histórias como, até certa idade, adoram ouvir sempre as mesmas
histórias repetidas vezes. Isso acaba por irritar os adultos que até se cansam e
acabam não proporcionando esse prazer às crianças.
Porém, essa condição deve ser um facilitador para o responsável pelas
crianças, uma vez que elas necessitam naturalmente dessa repetição,
favorecendo ao contador de histórias a utilização desse instrumento
pedagógico na educação dos pequeninos.
Carlos Nadalim, coordenador pedagógico na escola Mundo do Balão
Mágico, em Londrina, escreveu em seu blog, que:

Crianças precisam nutrir um sentimento de previsibilidade. Elas


possuem uma lembrança não só da relação de objetos presentes em
um determinado ambiente, como também de narrativas e imagens
que guardam na memória. Ora, a criança cria uma expectativa de que
aquilo que guardou na memória poderá acontecer de outra maneira,
mas ela não deseja que isso aconteça. Portanto, você precisa
fortalecer esse senso de previsibilidade, repetindo leituras, jogos e
brincadeiras para que a criança confirme que aquilo não se modificará
com o passar do tempo. Quando você lê uma história para seu filho e
no dia seguinte a relê, ele vai inevitavelmente comparar sua última
leitura com a lembrança que guardou daquela do dia anterior e ficará
tranquilo ao perceber que nada mudou. Fortalecer esse sentimento
de previsibilidade durante a infância é fundamental. (Por que as
36

Crianças Adoram Ouvir Sempre as Mesmas Histórias? disponível em


http://comoeducarseusfilhos.com.br/blog/por-que-as-criancas-adoram-
ouvir-sempre-as-mesmas-historias/)

Segundo o autor, os pais e responsáveis devem manter a prática de


reforçar certas repetições quando a criança pedir para ouvir a mesma história
por diversas vezes consecutivas, afinal isso dará cada vez mais segurança e
tranquilidade a ela por se tratar de uma prática que estabelecerá uma rotina e a
atenção à sensibilidade infantil à ordem exterior, fortalecendo na criança o
sentimento de previsibilidade e – consequentemente – a deixará mais segura.
E na escola, a consequência é a mesma, só que o professor não pode se ater
a repetir tantas vezes a mesma história, então ele pode desenvolver atividades
diferenciadas partindo da mesma história e, assim, pode desenvolver um plano
de aula para utilizar-se da mesma história durante uma semana ou um pouco
mais.
Isso refletirá nas atividades rotineiras da criança no ambiente escolar.
Rotinas essas que são manifestadas em atividades básicas repetidas
diariamente como entrar e sair pelo portão, a chamada no início da aula, a
reprodução do cabeçalho, a ida à merenda, a hora de chegar e a hora de sair
da escola, enfim, repetições que a criança não se constrange mais ao fazer
pela segurança que a rotina proporcionou a ela, dando-lhe uma noção do que
acontecerá durante o dia e espera que isso aconteça. Essas repetições não
são entediantes para elas; pelo contrário, fortalecem a noção de previsibilidade.
Com essa intenção – a de proporcionar segurança às crianças por meio
de histórias contadas repetidas vezes – os professores podem desenvolver
atividades e propô-las aos pais como multiplicadores e facilitadores em todo
esse processo extraclasse. Ou seja, durante as férias escolares, por exemplo,
quando as crianças demonstram a alegria de não terem compromissos,
horários e lições de casa, a oportunidade de não fazer nada podendo acordar e
dormir tarde, tirar um cochilo durante o dia, sair para passear e brincar,
podendo escolher o que fazer ao longo do dia sem repetir uma rotina diária, os
pais e professores podem se unir numa dinâmica a ser utilizada com as
crianças sem caracterizar uma rotina escolar, ou seja, é quando podem se
37

valer da contação de histórias de forma prazerosa e eficiente mesmo durante


as férias.
A ação de contar histórias num período de férias, por exemplo, pode
ficar como responsabilidade dos pais e responsáveis, mas os professores
podem auxiliar cedendo livros, revistas para os pais levarem pra casa e
utilizarem durante as férias e, inclusive, transmitindo informações e orientações
de como fazê-lo.
A maioria dos pais e responsáveis não tira férias junto com os pequenos,
mas a mudança de rotina é para eles também, uma vez que não precisam
acompanhar as lições ou o estudo para a prova, nem levá-los ou buscá-los na
escola, nem participar de reuniões ou ir até a escola para alguma
eventualidade, enfim, acabem sendo poupados dessas atividades, o que
resultará em um tempo extra que poderão aproveitar para fazerem algo com as
crianças e – por que não? – contar uma história.
Contar e ouvir, uma vez que as crianças também gostam muito de
conversar, contar suas coisas, ouvir, especialmente o que diz respeito às
histórias dos adultos, de quando eram crianças, como era sua escola, o que
gostavam de brincar, suas traquinagens, enfim, apreciam até saber sobre os
avós e até bisavós, histórias com riqueza sem fim para eles.
Nesse sentido, ouvir histórias reais do que aconteceu com os adultos
leva a criança a tomar conhecimento da história de seus antepassados, por
onde ele se reconhecerá a si mesmo, fato que ajudará a criança a se sentir
pertencente a um grupo familiar e a construir sua própria identidade.
A ação de contar história em casa pode ser facilitado pelos familiares ao
utilizar histórias recheadas de fotos – ainda mais hoje em dia, que qualquer
celular oferece essa possibilidade. Quantas fotos as crianças têm hoje – são
lembranças e histórias.
Contar as histórias da família e dela própria, além do aspecto psíquico já
comentado, também tem o aspecto intelectual. Quando ouvimos um relato,
estimulamos a imaginação e consequentemente a criatividade. Aumenta a
chance de sermos mais criativos na hora de contarmos algo escrevendo.
Não necessariamente uma criança tem apenas que ler livros para que
isso ocorra. Além de lê-los, ela simplesmente pode ouvir o que os outros têm
38

para lhe contar. Que terá um valor maior pelo significado emocional de fazer
parte da história, que é a da vida dela.
Enfim, a contação de histórias em família acaba por ser um momento
onde pais e filhos – ou responsáveis – proporcionam a si mesmos um bom
proveito da companhia um do outro, num encontro que atualmente parece estar
mais raro de acontecer, mas que quando alguns descobrem como realiza-los,
também descobrem como pode ser prazeroso e enriquecedor, tanto do ponto
de vista emocional, quanto do intelectual e social.

.
39

CONCLUSÃO

A criança se desenvolve através de um processo em que elas mesmas


constrói e reconstrói. Por este motivo o uso da contação de histórias como
recurso pedagógico contribui de maneira gradativa nas potencialidades deles.
E de acordo com o que foi pesquisado e relatado neste trabalho o educador em
conjunto com as famílias das crianças e também com as escolas devem
propiciar o contato direto ou indireto dos educandos com os meios literários
variados usando as narrativas como elo, podendo assim instigar, a curiosidade,
a imaginação e o prazer em ouvir e ler, não somente o que está escrito mas
também ter a capacidade de fazer uma leitura panorâmica do mundo a sua
volta contribuindo assim para que os mesmos transformem-se em seres sociais
capazes de questionar, e podendo dá uma grande ajuda na sociedade e nas
situações problemas onde se encontra inserido.
Toda história que contamos para uma criança mexe com ela, produz
emoções e provoca reações. Por isso, é importante termos em mente, para a
criança o mundo da fantasia e da realidade se fundem e confundem. Os
pensamentos e os sentimentos da criança estão em permanente fermentação e
ebulição e – inconscientemente – procuram respostas para certos medos e
anseios. Qualquer história pode atingir uma criança profundamente e fazer com
que ela peça a repetição dessa história durante dias e mesmo semanas,
porque algo na essência de seu desenvolvimento e amadurecimento foi
atingido. Isto é o que faz a arte com o ser humano.
Acreditamos que o público infantil nunca vai deixar de se interessar por
seus personagens, enredos, contos de fadas, e cabe aos adultos se
empenharem em melhorar sua capacidade como bons contadores de histórias
para, com elas, transformarem positivamente o futuro dessas crianças.
40

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Metodologia Pedagógica. Itabuna BA. Out. 2005.

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41

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