PDF Peters Mihael Estruturalismo Pos Estruturalismo e Filosofia Da Diferena DD

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aspecto, os passos do estrutura-


lismo lingüístico, o pós-esfrutu-
ralismo, por meio de diferentes
e variadas estratégias, coloca em
xeque o "sujeito" dos diversos
humanismos e das diferentes fi-
losofias subjetivistas. Segundo
Michael Peters, a crítica que o
pós-estruturalismo faz do sujei-
to é definitiva e irreversível. Sa-
bemos que existe, atualmente,
uma certa nostalgia do sujeito.
Mas trata-se, possivelmente, de
uma nostalgia por algo que tal-
vez nunca tenha existido. Ou,
melhor (ou pior?) ainda, trata-
se de uma nostalgia por um ele-
mento caracterizado por quali-
dades e atributos bem pouco
desejáveis e edificantes: domi-
nador, soberano e arrogante.

Quem o quer de volta?

Outros títulos da coleção Estudos Culturais:


1- O casaco de Marx - roupas, memória,
dor -   Peter Stallybrass
Stallybrass (Trad.: Tomaz Tadeu
da Silva)
2- O que é, afinal, Estudos Culturais? -   Ri -
chard Johnson, Ana Carolina Escosteguy,
Norma S chulman (Org. e trad.: Tomaz Ta-
deu da Silva)
3- Pedagogia dos monstros - os prazeres e
os perigos da confusão de fronteira -   James
Donald , José Gil, Ian Hu nter, Jeffrey Jero-
me Cohen, T omaz T adeu da Silva (org.)
4- Teoria Cultural e educação - um voca-
bulário crítico -   Tomaz Tadeu da Silva
5- Antropologia do ciborgue - as vertigens
d o p ós -h u man o.  Org. e trad Tomaz Ta-
deu da Silva
 

Sobre a arte da capa e o artista

A capa reproduz a fotografia da escultura "Salto", de Juan


Carlos Distéfano, de 1979. O escultor nasceu em Buenos Aires,
em 193 3. Es tud ou na Escola Industrial n° 9 (Artes Gráficas) e na
Escolaa de Bel
Escol Belas
as Artes Manuel Belgra
Belgrano.
no. M orou em Ro ma (1969 /
70) e em Barcelona (1977/80). Voltou a viver, a partir de 1980,
em B ueno s Aires, onde trabalha em seu atel
ateliê
iê local
localizado
izado no bair
bair--
ro port en ho La Boca. Suas obras figuram em diver diversas
sas cole
coleções
ções
privadas e públicas do país e do exterior.
N a escu ltura, cuja fot o aqui se reproduz, "o lento, árd uo, cres-
cimen to de D istéfano atinge sseu eu auge ao explodi
explodirr e abolir as fron-
teiras de todo tipo e condição. Processo laborioso, devir constante,
no qual se unem as puls
pulsões
ões internas
internas com as urgên
urgências
cias do mo m ent o
histórico.
histórico. U m repertório de sig signos
nos que nos remetem ao mito, aos

angustiantes
nidade devemsímbolos do processo pelo
passar"  {Distéfano. qualAires:
qual
Buenos o indivíduo
Centroe aEditor
hum a-de
América Latina, 1981, p. 6).

94
 

Este livro traça a gênese e a


trajetória do pós-estruturalismo e
da filosofia da diferença e tam-
bém seu impacto sobre a teoria
social e cultural. Michael Peters
procura, inicialmente, distinguir
entre o pós-estruturalismo e o
pós-modernismo para, em segui-
da, ressaltar
ressaltar as continuidades e as
rupturas entre o estruturalismo e
o pós-estruturalismo. No traçado
desse panorama, o autor passa
em revista também os pensadores
que inicialmente puseram essa
rede teórica em movimento e que
constituíram aquilo que ele cha-
ma de "primeira geração de pós-
estruturalistas": Foucault, Deleu-
ze, Der rida, Lyotar
Lyotard.
d.
Michael Peters descreve, além
disso, os pontos de contato e as
afinidades entre o pós-estrutura-
lismo e a chamada "filosofia da
diferença" . Ao caracterizar a filo-
filo-
sofia da diferença como uma re-
jeiçãoo aos pressupostos da filoso-
jeiçã
fia da consciência e da dialétic a, o
autor vincula o pós-estruturaüs-
mo não apenas ao estruturalismo,
mas também à virada filosófica
que se dá em reação ao hegelia-
nismo então reinante no pensa-
mento francês.
Ganha destaque, nessa bre-

ve introdução
lismo ao pós-estrutura-
e à filosofia da diferença,
ue es
a crítica 4 ses movimentos
zem
teóricos fí*   à chamada "teo-
ria do suj^ 1T o   • Seguin do, nesse
 
Pós-estruturalismo e
filosofia da diferença
Uma introdução
 

Créditos

Partes deste livro constituem rcelaborações dos seguintes textos do autor:

Michael Peter
Peters.
s. Introduction: Nam ing the Multiple . In: Michael Peters (org.).
Naming the Multiple: Poststructuralism and Education.   Westport e Londres:
Bergin & Garvcy, 1998, p.1-24.
Michael Peters.
Peters. (Post-) Mod ernism and Structural
Structuralism:
ism: AfFi
AfFiniti
nities
es and Theoreti-
cal Innovations . Sociological
 Sociological   Research Online,  3 (4), setembro de 1999, http:/
/ www.socrcsonline.org.uk.  (Publicado também como capítulo 1 de Michael
Peters
Peters e Nichola s Burbules.  Poststructuralism and Educational Research.   Boul-
der, CA: Rowman and Littleficld, 2000.
Michae l Peters. Introd uction : Th e critique of reason . In: Mich ael Peters
Peters.. Posts-
tructuralism, Politics and Education.   Westport, CT e Lond res: Bergin and

Garvcy, 1996, p. 1-20.


 

Michael Peters

Tradução de
Tomaz Tadeu da Silva
Pós-estruturalismo e
filosofia da diferença
Uma introdução

a
utêntica
Belo Horizonte
2000
 

C o py r i g ht © 2 0 0 0 by To m a z Ta dcu da Si llvv a

CAPA
Jai
Jairo
ro Alvarenga Fonsec a, sobre fotografia da escultura
Salto , de Juan Carlos Distéfano. Fotografia de Lucas Distéfano.
Reproduzida com autorização do artista.

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Waldênia Alvarenga Santos Ataidc

REVISÃO
Cilcne De Sanris

P481p Peters , Mich ael


Pós-estruturalismo e filosofia da diferença/ Michael
Peters ; tradução de Tomaz Tadcu da Silva. —
Belo Horizon te: Au tên tica, 2000.
96 p. - (Coleção Estudos Culturais, 6)
ISBN 85-86583-85-5

1. Filosofia. 2. Cultura. 3. Silva, Tomaz Tadeu da.


I. Título. II Série.
CDU 1

008

2000

Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora.


Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida,
seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica
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Sumário

PARTE I
ESTRUTURALISMO, PÓS-ESTRUTURALISMO
E PÓS -MODERN ISMO 07
1- Introdu ção .09
09  
2- Mod ernismo e pós-modernismo 12
12  

3- Estruturalismo e pós-estrut
pós-estruturalismo
uralismo 20
20  
4- Inovações teóricas e diferenças relativamente
ao estruturalismo 35
5- Síntese 45
45  

PARTE II

A   FILOSOFIA DA DIFERENÇA,
NL ETZS CH E E A CRÍTICA
CRÍTICA DA RAZÃO 47
6- A crítica da razão 50
50  
7- Heg el, a mo dernida de e a lógic
lógicaa da "identidade" 55
55  
8- Nietzsche
Nietzsche contr
contraa Hegel n o pensamento
francês
franc ês contem porâneo 60
9- Nietzsch e e a crític
críticaa da mo dernid ade 64  
10- O pós-estruturalismo, Habermas e a
questão da pós-modernidade 71
11- Dep ois do suje
sujeito?
ito? 77  

REF ERÊ NCI AS BIBLIOGRÁFI


BIBLIOGRÁFICAS
CAS 85
85  
SOBRE O AUTOR 93
93  
SO BR E A ARTE DA CAPA
CAPA E O ARTISTA
ARTISTA 9 4 
 

PA UT EI

Estruturalismo, pós-estruturalismo
e pós-modernismo
 

1 - INTRODUÇÃO

Nesta primeira parte, tentarei descrever o pós-estruturalismo,


distinguindo-o do pós-m odernism o e do movimen to que o pr prece
ece--
deu, o estruturalismo. É importante reservar algum espaço para
definir o pós-modernismo, porque m uito freqüentemente eele le é con-
fundido com o pós-estruturalismo. Embora haja sobreposições fi-
losóficas e históricas entre os dois movimentos, é importante
distingui-los para que possamos avaliar suas respectivas genealogi-
as, trajetórias e apli
aplicações.
cações. Para os propósitos desta primeira parte,
gostaria de argumentar que existe um importante conjunto de
diferenças teóricas e históricas que compreenderemos melhor
se exam inarmo s a diferen ça entre seus respect
respectivos
ivos  objetos teóricos.
O pós-estrut
pós-estruturalismo
uralismo tom a com o seu objet
objetoo teóri
teórico
co o "estrutura-
lis
lismo",
mo", enquanto o pós-mo dernismo toma como seu objeto o "mo-
dernismo". Cada um desses movimentos constitui uma tentativa
de superar, sob vários
vários aspectos, aquilo que o precedeu. E mb ora os
dois movimentos - pós-estruturalismo e pós-modernismo - este-
jam agora entrelaçados e sejam muito freqüentemente tomados
com o idênticos, confiind indo-se seus term os e significados, eele less se
se
distinguem por preo cupações teór
teóricas
icas dif
diferente
erentes,
s, a
 ass quais estão mais
claramente visíveis em suas respectivas genealogias históricas. Ar-
gumento que os dois conjuntos de binários (modernismo/pós-
modernism o e estrut
estruturalismo/pós-e
uralismo/pós-estrutur
struturalismo)
alismo) podem e de devem
vem
ser distinguidos;
distinguidos; que isso pode ser  feito pelo esboço de suas respec-
tivas genealogias; e que o pós-estruturalismo, em particular, deve
ser visto como uma resposta  filosófica esp
 especí
ecífic
ficaa - fortem ente m o-
tivada pelo trabalho de Friedrich Nietzsche e Martin Heidegger -
contra as pretensões científicas do estruturalismo.
Meu principal argumento para o capítulo  final desta parte é de O
que o desenvolvimento teórico do estruturalismo  francês durante o
final dos anos 50 e dura nte os anos 6 0 levou à instit
institucionaliza-
ucionaliza-
ção de um "megaparadigma" transdisciplinar, contribuindo para

9
 

integrar as chamadas "hu ma nida des" e as as ci


ciênci
ências
as soc
sociai
iais,
s, mas o fez
sob uma forma exageradamente otimista e   cientificista.  Sua pre-
tensão ao   status  de "megaparadigma" baseava-se na centralidade
da linguag
linguag em na vi vida
da cult
cultural
ural e soci
social
al hum ana , considerada com o
sistema
sistema sem iótico ou com o sistema de significaç
significação
ão auto-reflexi
auto-reflexivo.
vo.
O estruturalismo era, nesse sentido, parte da "virada lingüística"
emp reendida pelpelaa filosof
filosofia
ia ocidental. A tradição da lingüíst
lingüística
ica es-
truturalista tinha suas origens no formalismo europeu do final do
séculoo XIX, transform ando -se, sob a infl
sécul influência
uência combinad a de Fer-
dinand de Saussure e de Roman Jakobson, no programa de pes-
quisa do min ante em lilingüísti
ngüística.
ca. Por m eio dc Claudc Lévi-Strauss,
A. J. Greimas, Roland Barthes, Louis Aldiusser, Jacques Lacan,
Michel Foucault e muitos outros, o estruturalismo penetrou na
antropologia, na crítica literária, na psicanálise, no marxismo, na
história, na teoria estética e nos estudos da cultura popular, trans-
formando-se em um poderoso e globalizante referencial teórico
para a análise semiótica e lingüística da sociedade, da economia e
da cultura, vistas agora como sistemas de significação.
Devemos interpretar o pós-estruturalismo, pois, como uma
resposta especificamente  ilosófica a o  status  pretensamente cientí-

fico
fico do estruturalismo
espécie de megaparadigmae à sua pretensão
para a se
se sociais.
as ciências transforma r em um a
O pós-estru-
turalismo
turalis mo deve ser vist
vistoo com o um mo vim ento q ue, sob a insinspira-
pira-
ção de Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger e outros, buscou
descentrar as "estruturas", a sistematicidade e a pretensão cientí-
fica do estruturalismo, criticando a metafísica que lhe estava sub-
jacente e estendendo-o em uma série de diferentes direções,

preservando, ao mesmo
que o estruturalismo tempo,
fazia os elementos
ao sujeito centrais da crítica
hu man ista.
No que se refere a essa análise, baseio-me no trabalho de
Alan Schrift (1995, p. 4), que argumenta que uma das mais im-
portantes diferenças entre o estruturalism o c o p ós-estruturalism o
está na renovação do discurso filosófico:

A redescoberta estruturalista dc Frcud c Marx, juntamente com a


recuperação dc Nietzsche feita por Heidegger, preparou o pal-
co para a emergência do pós-estruturalismo, visto como uma

10
 

resposta  distintivamente filosófica  ao privilegiamento das ciências


 distintivamentefilosófica
hum anas que caracterizou
caracterizou o trabalh o dos e strutura listas
listas..

A influência da primeira geração de pós-es truturalistas tem


sido enorme, inspirando um grande número de importantes e
estimulantes análises na linha de frente da pesquisa feminista,
da psicanálise, da teoria literária, da antropologia, da sociologia
e da história. Essa influência tem também permitido interessan-
tes fertilizações
fertilizações e pene trações e ntre as diferentes discipli
disciplinas,
nas, bem
como avanços intelectuais em campos configurados de forma
renovada, tais como a teoria do cinema, os estudos de mídia, a
teoria  queer, os
  os estudos pós-coloniais, os estudos afro-americanos
e os estudos helenísticos. Fora da França, a influencia do pós-
estruturalismo tem sido fortemen te ssentida
entida no trabalho da escol
escolaa

literáriana de
geral, Yale (Paul
academia de Man,
ocidental, Hillis Miller). De tem
o pós-estruturalismo forma mais
influen-
ciado as disciplinas tradicionais da sociologia (Zygmunt Bau-
man , Bar
Barryry Smart), da  filosofia (Cornei West,
West, Paul Patton, H ub ert
Dreyfus), da política (Colin Gordon, William Connolly, Barry
Hindess), da antropologia (James Clifford, Paul Rabinow), da
história (Hayden White, Mark Pôster, Dominick La Capra), da

geografia
emergen tes(Edw ard Soja
Soja,
dos estudos , DavidtasHarvey),
feminis
feministas bem
e de gênero (Judcom
idi oBude
os campos
r, Chris
Weedon), dos estudos pós-coloniais (Edward Said, Gayatri Spivak,
Homi Bhabha) e dos estudos culturais (Stuart Hall, Simon During).
Procuro, nos capítulos seguintes, distinguir o pós-modernis-
m o do mo dernism o e o pós-e
pós-estrut
struturali
uralismo
smo d o estrut
estruturali
uralismo.
smo. Da
mesma forma que o pós-modernismo deve ser definido relativa-
men te ao m odernismo , o pós-estrut
pós-estruturali
uralismo
smo deve ser definido contra
o pano de fun do do estr
estrutura
uturalis
lismo
mo francê
francês.
s.

]]
 

2 - MODE RNISMO E
PÓS-MODERNISMO

O pós-estruturalismo tem sido, muito freqüentemente, con-


fundido com o termo afim, pós-modernismo. Na verdade, alguns
críticos chegam a argumentar que o conceito de "pós-estruturalis-
mo" deve ser subordinado ao de "pós-modernismo". Para distin-
guir os dois termos, precisamos definir, de uma forma preliminar,
tanto o estruturalismo
estruturalismo qua nto o modernismo, discutindo o tipo de
relação
relaç ão que cada um dele
deless tem com seu res
respectivo
pectivo objeto teórico e
histórico. Começaremos com o termo "modernismo", o qual tem
duas acepções. De acordo com a primeira, o termo refere-se aos
movimentos artísticos dos meados do  final do sécul
séculoo XIX; a segun-
da acepção é histórica e filosófica, fazendo referência ao termo
"m oder no" e signif
significando
icando "modernidade" -   a época que se segue à
época medieval. Existe, obviamente, um a relaç
relação
ão entre os dois sen-
tidos, que se expressa pela idéia de que o "moderno" envolve uma
ruptura  autoconsciente com o velho, o
 o clássico e o tradicional,
tradicional, e um a
ênfase concomitante no novo e no presente. Nessa idéia está tam-
bém envolvido o pressuposto de que, em certo sentido,
sentido, o mo der-
no, em contraste com o classi
classicis
cismo
mo e o tradici
tradicionalismo,
onalismo, é m elho r
que o velho, simplesmente porque, na seqüência do desenvolvi-
mento histórico, ele vem depois. Filosoficamente falando, o mo-
dernismo começa com o pensamento de Franci
Franciss Bacon na Inglaterra
e o de René Descartes na França.
O termo "modernismo", no primeiro sentido, de referência a
transformações no campo  d as artes, a partir d o fim d o século XIX, é
 das
utilizado, tipicamente, para caracterizar um estilo no qual o artista
rompe, deliberadamente, com os métodos clássicos e tradicionais
de expressão
expressão baseados nos pressupostos do realismo
realismo e do naturalis-
mo. U m autor desc
descre
reve
ve o modernismo nos seg seguint
uintes
es term os:

O modernismo nas artes, na literatura e na filosofia envolve a


novidade, envolve uma ruptura com a tradição, com o progresso,
 

com o desenvolvimento contínuo, com um conhecimento que


não tenha como pressupostos a soberania do sujeito ou quaisquer
apelos a uma suposta objetividade [...]. Envolve uma mudança
que passa a dar importância aos fluxos de consciência, à consciên-
cia vivida c ao tempo interno, a um sentimento c uma memória
baseados no processo narrativo. (SILVF.RMAN, 1996, p. 353)

Por outro lado, o modernismo pode ser visto, na filosofia,


como um movimento baseado na crença no avanço do conheci-
men to, desenvolvido a partir da exper
experiênc
iência
ia e por meio d o m éto-
do científico. Seu auge se dá, provavelmente, com a filosofia
"crítica -" de Immanuei Kant e com a idéia de que o avanço do
conhecimento exige que as crenças tradicionais sejam submetidas
à operação da crítica. O crítico literário estadunidense, Clement
Greenberg, definiu o modernismo como a tendência histórica de
uma determ inada prática de arte a se
 se tornar completamente autô-
noma e auto-referenci
auto-referencial:
al:
Identifico o modernismo com a inteasificação, quase a exacerba-
ção, dessa tendência autocrítica que começo u com K ant. Um a vez
que ele foi o primeiro a criticar o próprio instmmcnto da crítica,
vejo Kant como o primeiro modernista verdadeiro. A essência do
modernismo, tal como o vejo, está no uso dos métodos caracte-

rísticos de uma
subvertê-la, mas disciplina para criticar
para enraizá-la, a si mais
de forma própria - não
firme, em para
sua
área de competência. Kant utilizou a lógica para estabelecer os
limites da lógica e, embora ele lhe tenha subtraído muito daquilo
que antes lhe pertencia , a lógica
lógica termin ou p or estar na posse mais
segura daquilo que restou dela (GREENBERG, 1973, p. 66).

M. H . Abrams (1981) suger


sugeree que o modernismo envo
envolve
lve uma
ruptu ra autoco nsciente e radical com as bases tradicionais da cultura
e da arte ocidentais e que os precursores dessa ruptura foram os
artistas
artis tas e pensadores q ue q uestiona ram nossas cer
certezas
tezas culturai
culturais,
s, en-
trtree  as
 as quais figuram, de
 de form a central, no
nossa
ssass concepçõe
concepçõess sobre o eu.
O pós-m odernism o te m, assi
assim,
m, dois signi
significados
ficados gera
gerais,
is, rre-
e-
lacionados aos dois sentidos do termo "modernismo": ele pode
ser utilizado, esteticamente, para se referir, especificamente, às
transformações nas artes, ocorridas após o modernismo ou em
reação a ele; ou, em um sentido histórico e filosófico, para se

13
 

referir
segundoa sentido,
um período ou aargumentar
pode-se um   etbos q- uea ele
"pós-modernidade".
repr
represent No
esentaa um a trans-
formação da modernidade ou uma mudança radical no sistema
de valore
valoress e práticas subjac
subjacentes
entes à mod ernid ade. Essa é a forma
como o  Oxford English Dictionary (O ED ) define "pós-modernis-
m o 1 ', dando sua etimologia:

pós-modcrno, adj. Subseqüente ou p osterior ao que e "mo


aplica-se, especialmente nas Artes e na Arquitetura, a umdern o";
movi-
mento que se dá cm reação ao "moderno".

O OED passa, então, a enumerar seus sentidos, de acordo


com suas primeiras e conhecidas utilizações. É útil passá-las em
revisã
revisão,
o, na med ida em que el
elas
as nos fornec em um contexto para o
uso apropriado desse termo.

1 9944 9 J.J. H U D N U T ,   Archit. & Spirit ofMan:


ofMan:   "Casa pós-moder-
n a " . J . H U D N U T ,  Archit.  &•  Spirit
Spirit of Man:  "EJe deve ser um
proprietário mod erno, um prop rietário pós-m odcrno, se é que se
pode conceber uma tal coisa. Livre de todo sentimentalismo, de
todo o capricho c de toda a fantasia". 1956 A. TOYNBEE,
Historiem's Approach to Reli g.: "Nossa era pós-moderna na histó-
Relig.
ri
riaa ocidental". 1959, C. W M ILL S,  Sociol. Imagination
  Imagination  : "Da mes-
ma forma que a Antigüidade foi seguida por vários séculos de
predomínio oriental, assim agora a Era Moderna está sendo su-
cedida
cedi da por um período pó s-mod crno. Talvez
Talvez possamos chamá-l
chamá-laa
de A Quarta Época'". 1965, L. A. FIEDLER, in   Partisan Rev.,
XXXII: "Não estou interessado cm analisar a dicção c a imagísti-
ca que têm passado da ficção científica para a literatura pós-mo-
dernista". 1966, F. KERMODE, in   Encounter, abril, 73/1: "A
fic
ficção
ção po p de monstra um 'sentime nto crescente
crescente de que o passado
é irrelevante' c os escritores pop ('pós-modernistas') estão to-
mando conta de tudo". 1966, N. PEVSNER, in  Listcncr, 29 de
dezembro, 955/2: "O fato de que meus entusiasmos não podem
ser estim ulados pelo College Churchill não m e deix
deixaa cego à ex
exis-
is-
tência, hoje, de um novo estilo, sucessor do Moderno Internaci-
onal dos anos 30; um estilo pós-modcrno, eu seria tentando a
chamá-lo, o estilo legítimo dos anos anos 50 c 60". 1977,   N. T.
Rev.  Bk s
, 28 de mas
lógica curiosa, abril,inexorável,
30/3: "Umnaprocesso
demandaque culmina, por pela
pós-modernista uma
abolição da arte e por sua assimilação à 'realidade" . 1979,   Jrnl.
 

  ArtSy  novembro,
R.   Soe. ArtSy 743/1:questionável".
"Muitos arquitetos pós-moder-
nos util
utilizam
izam m otivos dc gosto   1 979, Jrnl. R. Soe.
Arts , 751/1: "Os pós-modernistas substituíram a metáfora da
máquina pela metáfora do corpo , porque muitas pesquisas mos-
tram que nós, inconscientemente, projetamos estados corpo-
rai
raiss na arquitetu ra". 1979 ,  Time, 8 dc janeiro,
janeiro, 53/1: "O hom em
mais perto dc ser um parceiro mais velho do pós-modernismo
c, na verdade, o arquiteto estadunidense líder dc sua geração:
Philip Cortclyou Johnson". 19 80,   Times Higher Educ. Suppl., 7
Philip
dc março, 16/1: "O pós-modernismo, o estruturalismo e o
ncodada (antes conhec ido com o 'poesia
'poesia concreta') representam ,
todos, uma reação contra o modernismo".

O que essa lista bastante longa demonstra claramente é que


nos usos registrados do termo, entre 1949 e 1980, ele é aplicado,
primeiramente, à arquitetura (por Hudnut e, mais tarde, por
Pevner), depois à história, à sociologia, à literatura e às artes. Nes-
ses últimos casos, eele
le é usado para representar um a nova  época (tan-
to por Toynbe
Toynbeee quanto p or Mill
Mills),
s), ou um n ovo  estilo  (por Fiedler,
Kermode, Pevsner) - visto como uma reação contra o modernis-
mo . Apenas no último exemplo menciona-se o estrutural estruturalismo,
ismo, jun-
tamente com o pós-m odernismo e o neodadaíneodadaísmo.smo. Podemos con-
cluir, assim, que o reconhecimento dos pontos comuns entre o
pós-modernismo e o estruturalismo - bem como das reações con-
tra o modernismo - começa, etimologicamente falando, bastante
tarde. Entretanto, o estruturalismo, embora historicamente asso-
ciado, na Rússia pré-revoluci
pré-revolucionária,
onária, tanto com o forma lismo euro-
peu quanto com o  futurismo, nunca foi, el  elee próprio, predo minan te-
mente, uma performance, uma prática ou uma estética artística.
Em vez disso, começou a se desenvolver como uma forma de
poética, de crítica literária e de análise lingüística do discurso,
substituindo, dessa forma, o modelo humanista que interpretava
textos particulares
particulares com o sendo a eexpres
xpressão
são singul
singular
ar de um deter-
mina do autor. O modelo lilingüíst
ngüístico,
ico, tal com o concebido por SausSaus--
sure e Jakobson, permitia a análise científica da linguagem como
um sistema
sistema de dife
diferenças
renças,, com o um sistema
sistema sem quaisquer termos
positivos, iniciando uma ciência das estruturas que abalava os tra-
dicionais pressupostos humanistas e românticos que se baseavam
nas idéias de intencionalidade, de criatividade e de au toria.

)S
 

É im porta nte observar que os si


signifi
gnificados
cados dos termos "m o-
dernismo" e "pós-modernismo" não são fixos ou estáveis: eles
têm mudado historicamente, como resultado da atividade teóri-
ca,  criando-se
 criando-se,,  assim, novos significados e interpretações. Nesse
sentido, podemos dizer que não existe qualquer fechamento em
torn o de uma definição única. Seus signific
significados
ados ssão,
ão, sempre, que s-
tionáveis, estando abertos à interpretação, sobretudo na medida
em que as pessoas que estudam esses movimentos utilizam esses
termos de forma a torná-los teoricamente produtivos. De fato,
poder-se-ia argumentar que quando essas definições e significa-
dos tornam -se fixos é porque o discurso teórico esgotou-se.
Um estudioso, falando da aplicação do pós-modernismo às
ciências humanas em geral, sugere que

o pós-modernismo pode ser reconhecido por dois pressupostos


centrais. Primeiramente, o pre ssuposto de que não existe
existe qualqu er
denom inador com um - a "natureza" ou a "verdade"
"verdade" ou "De us" ou
" o  futuro - qu e garanta que o mun do seja U no ou a possibilidade
de um pensa men to natural ou objetivo. Em seg undo lugar, o pres-
suposto de que todos os sist
sistemas
emas humanos funcionam da m esma
forma que a linguagem, que são sistemas auto-reflexivos e não
sistemas referenciais
referenciais - sistemas diferenciais,
diferenciais, que são potente s, mas
finitos,
do sistemas
significado dosvalor.
e do quais(ERMARTH,
dependem   a constr
 construção
1998, p.ução
587)c a man utenção

Um outro estudioso discute sua relevância para a filosofia


política:

O pós-modernismo busca busca denunciar


denunciar como, nas modernas demo -
cracias liberais, a construção da identidade política c a operaciona-
lização dos valores básicos
básicos oco rrem por m eio de binários conceituais
tais como nós/eles, responsável/irresponsável, racional/irracional,
legítimo/ilegítimo, normal/anormal. Os pós-modernistas chamam
a atenção para as formas pelas quais a fronteira
fronteira entre esses
esses term os
é socialm ente reproduzida
reproduzida e policiada. (LI
LILL
LLY,
Y, 1998 , p. 5 91)

Am bos os estudi
estudiosos
osos tendem  a tratar
 tratar o pós-modernismo com o
sinônimo de pós-estruturalismo ou a utilizar "pós-modernismo"
com o o termo m ais abrangente, um a estr
estratégi
atégiaa que se tem torn ado
bastante comum. Embora essa estratégia tenha sido adotada por
 

muitos teóricos, insistiremos na diferença entre os dois termos.


Isso nos permite enfatizar  a peculiaridade filosófica do pós-estrutu-
pós-estrutu-
ralismo como um movimento que começa na França no início
dos anos 60 e que tem fontes específicas de iaspiraçaono trabalho
de dois filósofos alemães, Friedrich Nietzsche  e Martin H eidegger.
O pós-m odern ismo , em contraste, desenv
desenvolve-
olve-se
se a partir do con-
texto do alto modernismo estético, da história da  avant-garde ar-
tística ocidental e, em particular, da inovação e do
experim
ção que entalism
culmino uo com
artísticos qu e se seguiram
o cubismo, à crise
o dadaísmo da representa-
e o surre
surrealismo.
alismo. O
pós-m odernism o está relac
relacionado,
ionado, também , com o cr cresce
escente
nte pro-
cesso de abstração representado pelo suprematismo, pelo cons-
trutivismo, pelo expressionismo abstrato, pelo minimalismo e,
finalmente, com o completo abandono da preocupação estética
que se dá com os  readymades  de Mareei Duchamp, as instalações
de Josef eBeuys,
Warhol as reprodconhecido
as
o movimento uções mecânicas das serigrafias de An dy
como conceitualismo.
As coisas se tornam mais complexas quando os pensadores
"pós-estruturalistas" começam  a dis
 discutir
cutir o termo "pós-modernis-
m o" de fo rma m ais si
sistemática
stemática.. U ma das mai
maiss influente
influentess e di
discu-
scu-
tidas definições de pós-modernismo deve-se ao pensador
pós-estruturalista
pós-estruturalista Jean-François L yotard que, em seu famoso li-
v r o ^   condição pós-modema  (1984; originalmente publicado em
1979 ), analisou a sitsituação
uação do conhecim ento nas ssocieda
ociedades
des mais
avançadas
avanç adas,, relacionando-a a uma ruptu ra não apenas com a assi
assim
m
chamada "era moderna", mas também com várias formas tra-
dicionalmente "modernas" de ver o mundo. De acordo com sua
conhecida definição:

Quando este metadiscurso


relato, como a dialética do recorre
espírito,explicitamente a algum
a hermenêutica grandea
do sentido,
emanc ipação d o su jeito racional
racional ou trabalhador, o desenvolvimen-
to da riq
riqueza,
ueza, decide-se chamar " mo dern a" a ciênci
ciênciaa que a isto se
refere para se legitimar. (LYOTARD, 1984, p. xxii)

Em contraste, el
elee  defincpós-moderno  simplesmente como "in-
 defincpós-moderno
credulidade em relaçã
relaçãoo aos metarrelatos" (p. xxi
xxiv)
v).. Em  A condição
pós-moderna,  Lyotard
pós-moderna, estava preocupado com os grandes relatos
(ou as grandes narrativas), desenvolvidos a partir da Ilustração,

17
 

marcando, assim, a modernidade. Em   O pós-modernismo explicado


crianças,  Lyotard (1992, p. 29) menciona especificamente
às crianças,

a emancipação progressiva da razão e da liberdade, a emancipa-


ção progressiva
progressiva ou catastrófica
catastrófica do trabalho [...],
[...], o enriq ueci men to
da humanidade inteira através dos progressos da tecnociencia
capitalista,
capitalista, c até [...] a salvação das criaturas através da convers ão
das almas à narrativa cristã do amor mártir.

As grandes narrativas  são, pois,


 pois, histórias que a
 ass culturas contam
sobre suas próprias práticas e crenças, com a finalidade de legitimá-
las.
las. Ela
Elass funcionam com o um históri
históriaa unificada  e singular, cujo pro-
pósito  é legit
 legitimar
imar ou fundar um a série de práticas, uma auto-
auto-imagem
imagem
cultural,, um discurso ou uma instituição
cultural instituição (Peters, 1 995).
Lyotard (1984) reconhece, em sua primeira nota de rodapé,
as fontes para sua noção de "pós-moderno": a sociologia da so-
ciedade pós-industrial (ele
(ele menc iona o trabalho de Daniel Bel
Belll e
Alain Touraine); a crítica literária de Ihab Hassan; os estudos
sobre performance de Michel Benam ou e Charles Caramello; e o
ensaio de M. Kõhler. São fontes que vale a pena destacar, pois,
consideradas em conjunto, elas combinam análises de transfor-
maçõ es na organizaçã o econô mica e social
social das sociedades avança-
das com análises de mudanças na cultura. A inovação de Lyotard
consiste em reunir, sob uma mesma análise narrativa, elementos
que anteriorm ente eram considerados de form a separada
separada - isto é,
o econômico (pós-industrial) e o cultural (pós-moderno). Ele
sugere que a situação do conhec imen to se alte
altera
ra à medida que as
sociedades entram na era pós-industrial e as culturas entram na
era pós-moderna, indicando, de forma ativa, uma homologia es-
trutural entre mudanças nos modos econômicos e mudanças nos
modos culturais, sem atribuir qualquer prioridade a um deles.
Alguns sociólogos começaram a falar dessa transição em termos
de "pós-mode rnização", d e form a si
similar
milar àquel
àquelaa que os sociólogos
de uma geração anterior tinham analisado a transição do tradici-
onal para o moderno em termos de "modernização".

79), Se tomamos
dada em seu aensaio
definição de Jean-
Jean-François
"Resposta àFrançois Lyotard
pergunta: o que (1984 , p.
é o pós-
moderno?", sere
seremos
mos leva
levados
dos a acei
aceitar
tar que o pós-mo dernism o não
ip

 
écente,
"o modernismo
e esse no éseu
esse estado estado terminal,
constante. disse mas
E u disse no outra
e ddirei
irei seu estado nas-o
vez que
pós-modernismo significa não o fim do modernismo, mas uma
outra relação com o modernismo". O que ele está sugerindo é
que o pós-modernismo como um movimento nas artes é   uma
continuação do m odernismo por outros meios - a busca busca por um expe-
rimentalismo novo e a idéia de  avant-garde  continuam. Isto é, o
pós-modernismo mantém
dernism o, considerado co muma
o umrelação ambivalente
a categoria est
estética. Ecom
ética. ele odefine
mo-
um estil
estilo,
o, uma atitude ou um ethos e não um período (isto é, algo
que vem  após  o modernismo). Se o consideramos como um estilo
artístico, existem, claramente, muitos pós-modernismos. Embo-
ra esses diversos pós-modernismos possam ir e vir, o  pós-moderno,
como uma episteme, como uma posição filosófica ou como uma
periodização histórica,
histórica, tal como o  moderno
 moderno,, está aqui para ficar.
 
3 - E ST RUT URAL ISMO
E PÓS-E ST RUT URAL ISMO

Um a déc
década
ada de estrut
estruturalis
uralismo
mo francês: 1 958 -19 68

O estruturalismo francês tem sua origem na lingüística es-


trutural, tal como desenvolvida por Ferdinand de Saussure e por
Roman Jakobson, na virada do século. Saussure ministrou um
curso sobre lingüística gerai, de 1907 a 1911; morreu em 1913.
Seus alunos publicaram, em 1916, o livro   Cours de linguistique,
reconstituído a partir de suas anotações de aula. O   Cours de lin-
guistique   conce
concebia
bia a llinguagem
inguagem com o relacionai.
um sist
sistema
emaSaussure
de si
signific
gnificação,
ação,
vendo seus elementos de uma forma distin-
gue sua abordagem "científi
"científica"
ca" ou sincrôni
sincrônica
ca do estudo diacrôni-
co, histórico, das línguas, então dom inante , ao fazer um a distinção
entre   la parole  (a fala real ou os eventos de fala) e   la langue  (o
sistema formal de linguagem que governa os eventos de fala).
Saussure estava interessado na função dos elementos lingüísticos
e"signo",
não em fosua ccausa
rma ausa.
. Porconceito
do por exemplo,e el
ele
e definia
som a "palavra"e com
- o significado onifi-
o sig um
signifi-
cante. Nen hum del deles
es ca
causa
usa o out ro; em vez dis
disso,
so, el
eles
es estão fun-
cionalmente relacionados: um depende do outro. A identidade é
definida de forma relacionai, puramente como uma função das
diferenças   no interior do sistema. A relação entre significado e
significante é inteiramente arbitrária. Saussure fala da "natureza
arbitrária
que u m som do seja
signo". Não
associadoexiste
associado com unada no mundo
m conceito quelar,faça
particu
particular, comé
o que
demonstrado pelo fato de que diferentes línguas têm diferentes
significantes para o mesmo significado (ou conceito). Um das
características
características que distingue a lingüísti
lingüística
ca de Saussure, const ituin-
do um avanço em relação à gramática comparativa da época, é
sua ênfase na autonomia do sistema, visto como um todo que
compreen de e organiz
organiza
tamente acessíveis a elementossensória.
à experiência fônicos Jonathan
e semânticos nã o(1976,
Culler dire
dire--

20

 
p. 49) assim descreve a concepção   estruturalista  de linguagem
desenvolvida por Saussure
Saussure::
N ão se trata simplesm ente do fato de que a língua é um sistema
de elementos que são inteiramente definidos por suas mútuas
relações no interior do sistema, embora isso seja verdade, mas
do f ato de que o sistema lingüístico é constituído por diferentes
níveis de estrutura; em cada nível, podem-se identificar elemen-
tos que contrastam e se combinam com outros elementos para
form ar unidades de nível superior, mas os princípios e struturais
em cada nível são fundamentalmente os mesmos.

Parte do legado saussureano consiste no fato de que, como o


pai da lingüística moderna, Saussure estabeleceu uma ciência geral
dos signos, dando ao estudo da linguagem, considerada como um
sistema de signos, uma firme base metodológica e promovendo a
semiologia - co mo disse ele, o "e stud o da vida dos si
signos
gnos na socieda-
de" - a uma posição central nas ciências humanas   ( G A D E T ,  1989).
Foram, entretanto, Rom an Jakobso
Jakobsonn  e o vínculo que eleele criou entre,
de um lado, a lingüística e a Genebra de Saussure e, de outro, o
formalismo que florescia
floresciaem
   e m Moscou, que se mostraram os fatores
decisivos para tornar as visões de Saussure mais amplamente conhe-

cidas,Roman
 fazendo nasce
 nascerr o estruturalism
Jakobson é uma figurao central
d o séculono XX (SELDEN,  1995).
desenvolvimento
histórico da ling
lingüíst
üística
ica estrutural. Ele foi instrumental n o estabe-
lecimento do Formalismo Russo, ajudando a fundar tanto o Cír-
culo Lingüístico de Moscou quanto a Sociedade para o Estudo
da Linguagem Poética (OPOJAZ), em São Petersburgo, antes de
se m uda r para a Checoslováquia
Checoslováquia,, em 1920, para fundar o Círculo
Lingüístico de Praga. Os anos formativos de JJakobson
akobson foram bas-
tante influenciados pela tradição da Escola Kazan, por Saussure
(cujo trabalho foi levado a Moscou por Sergej Karcevskij, em
1917) e pela forte tradição russa das dialéticas hegeliana e pós-
hegeliana. Linda R. Waugh e Monique Monville-Burston (1990,
p. 4) sugerem que "a infl
influência
uência mais forte sobr
sobree o pensam ento
de Jakobson foi o agitado movimento artístico do início do sé-
culo XX, sobretudo as obras da  avant-garde  literária e artística:
Picasso, Braque, Stravinsky, Joyce, Xlebnikov, Le Corbusier".

-21

 
Jakobson
de Praga, tendoajudou,
atuad o em
com1926,
o seuavice-pres
fundar oidente
Círculo
vice-presidente até Lingüístico
ssua
ua partida
da Checoslováquia, em 1939. Foi Jakobson que primeiramente
cunhou, em 1929, o termo "estruturalismo", para designar uma
abordagem estruturo-funcional de investigação científica dos
fenômenos, cuja tarefa básica consistiria em revelar as leis inter-
nas de um sistema determinado. Jakobson   ( 1 9 7 3 ) ,  após o suces-

so
seudoprograma
Primeiro nestes
Cong resso
termoEslavo
s: Internacional de Praga, expressou

Sc tivermos que escolher um termo que sintetize a idéia central


da ciência atual, cm suas mais variadas manifestações, dificilmen-
te poderemos encontrar uma designação mais apropriada que a
de  estruturalismo. Qualquer con junto de fenôm enos analisado pela
pela
ciên
ciênci
ciaa contemporânea é tratado
tratado não co mo um aglomerad o me-
cânico
câni co mas co mo u m tod o estrutural, e sua tarefa
tarefa básica
básica consiste
consiste
cm revelar as leis internas - sejam elas estáticas, sejam elas dinâ-
micass - desse sistema. O qu e parece ser
mica ser o foco das preocup ações
científicas não é mais o estímulo exterior, mas as premissas inter-
nas do desenvolvimento: a concepção mecânica dos processos
cede lugar,
lugar, agora, à pergunta sobre suas funções.

Jakobson enfatiza que o Círculo Lingüístico de Praga está


estreitamente ligado às correntes contemporâneas tanto da lin-
güística ocidental quanto da lingüística russa: "as realizações meto-
dológicas da lingüísti
lingüística
ca   francesa , a
  a fenom enologia alemã (Husserl)
e a pretendida síntese das escola
escolass polonesa (de Cou rtenay ) e russa
(Fortunatov). É importante observar que Jakobson definiu sua
teoria da estrutura da linguagem em contraste com a de Saussure,

que ele considerava


masiadamente tanto
estática. demasiadamente
Jakobson abstrata quanto
tratou as formulações de-
dicotô-
micas  (lanjjue/parole
lanjjue/parole,,  sincronia/diacronia) de Saussure de uma
forma dialética, insistindo na estreita relação entre forma e sig-
nificado, em uma situação de sincronia dinâmica (WAUGH &
MONVLLE-BURSTON, 1990, p. 9).
Foi ao encontrar Jakobson, em Nova York, na New School
for Social
Social Sci
Science
ence Research, no iníc
início
io dos an os 40 , que Lévi-Strauss
ficou conhecendo, por seu intermédio, a lingüística estrutural,

 
publicando depois, em 1945, pela primeira vez, um artigo relacio-
nando a lingüística estrutural com a emologia, na recém-fundada
revist
revistaa de Ja kob son,   Word.  Esse artigo se tornou um dos capítulos
iniciais do   hvroAntbropologie Structurale, publicado em 1958, um
livro que era composto de uma coleção de artigos escritos entre
194 4 e 195 7. Lévi-Str
Lévi-Strauss
auss (1 96 8, p. 21) reconhec
reconhecee sua dívida para
com Saussure e Jakobson e trata de de descre
screver
ver sseu
eu méto do antro po-
 estrutura
lógico por meio da noção central de   inconsciente:
inconsciente:
Se, como cremos, a atividade inconsciente do espírito consiste
em impor formas a um conteúdo, e se as formas são fundamen-
talmente as mesmas para todos os espíritos, antigo c moderno,
primitivo c civilizado [...] c preciso e basta atingir a estrutura
inconsciente, subjacente a cada instituição ou a cada costume,
para obter um princípio de interpretação válido para outras insti-
tuições c outros costumes.
Lévi-Strauss (1968, p. 33) sugere que podemos chegar à
estrutura inconsciente por meio do emprego do  método estrutural
desenvolvido pela
pela li
lingüíst
ngüística
ica estrutural, argumen tando que a fo-
nologia (leia-se "lingüística estrutural") "não pode deixar de de-
sempenhar perante as ciências sociais o mesmo papel renovador
que a física
física nucle
nuclear,
ar, por exemplo, desemp enhou no co nju nto das
ciências exatas". Ele define o método estrutural de acordo com a
declaração programática feita por Nikolai Trubetzkoy (um dos
membros da Escola Lingüística de Praga) em sua obra seminal,
Princípios d e fonologia:

Em primeiro lugar, a fonologia [lingüística estrutural] passa do

estudo dos fenômenos lingüísticos   conscientes  para o estudo dc


sua infraestrutura   inconsciente; em segundo lugar, ela se recusa a
tratar o st ermo s como entidades independentes,
independentes, tomando , ao con-
trário, como base dc sua análise as   relações  entre os termos; cm
terceiro lugar,
lugar, ci
ciaa introd uz a noção dc  sistema;  finalmente, ela visa
à descoberta das   leis gerais,  quer encontradas por indução, quer
deduzidas logicamente, (p. 33)

Utilizando esse método, Lévi-Strauss (1968, p. 34) sugere


que as ciências sociais devem ser capazes de formular relações

 
necessári
necessárias
as e que "no
"novas
vas per
perspecti
spectivas
vas se abrem", p erm itin do q ue o
antropólogo estude sistemas de parentesco da mesma forma que o
lingüista estuda fonemas: "tal como os fonemas, os termos de pa-
rentesco são elementos de significação; tal como os fonemas, eles
só adquirem esta significação sob a condição de se integrarem em
sistemas". O s si
siste
stemas
mas de parentes
parentesco,
co, tal co mo os sist
sistemas
emas f ono -
lógicos, "são elaborados pelo espírito no estágio do pensamento
inconsciente". Três
Três aanos
nos mais tarde, eem
m 1961 , em suas conferên-
cias inaugurais no Collège de France, Lévi-Strauss reconhecerá
publicam ente sua dí dívida
vida para com Saussure e definirá a antro po-
logia como um ramo da semiologia.
Após a publi
publicação
cação  dcAnthro pologie strutucturale,  a revol
revolução
ução
estruturalista floresce na França, especialmente durante os anos
60: Roland Barthes, iniciado na lingüística por A. J. Greimas, no
início dos anos 50, publica sua   Mythohgies  em 1957 e torna-se
études,, em "socio
Directeur  d}études "sociologia
logia dos signos, dos símbolos e das
representações",
represe ntações", da École de
dess Hautes Étud es, em 1962; o jornal
literário de vanguarda  T elQuel é fundado, em 1960, por Philippe
Sollers;; Michel F oucault publica  Fo
Sollers lie etdemison: histoire de la oliea 
 Folie
classique, em
Vâge classique, 1 961; em 1963, Louis Althusser convi
convida da Jacques
Lacan para dar seu seminário na Ecole Normale, iniciando um
produtivo diál diálogo
ogo entre o marxismo e  a psi
 psicanáli
canálise;
se; o ano de 196 6
vê a publicação do livro PourMarx, de Louis Althusser
Althusser,,  àoLes mots
choses, de Foucault, e dos Ecrits, de
et les choses,   de Lacan  ( D O S S EE,, 1 9 9 7 ) .
Jean Piaget, o psicólogo, publica seu livro  Le structuralisme
( 1 9 6 8 ) ,  no m om ento final da expl
explosã
osãoo estruturalista na França,
quando o estruturalismo já tinha se identificado com atitudes
políticas ultrapassadas e suspeitas. Muitos interpretaram os even-
tos espontâneos do Maio de 68 como uma refutação da crítica
que o estruturalismo fazia ao humanismo burguês. O livro de
Jean Piaget é, entretanto,
entretanto, interess
interessante
ante e também útil por sua defi-
nição do estrutur
estruturalismo:
alismo:

Em uma primeira aproximação, podemos dizer que uma estru-


tura e um sistema de transformações. Na medida cm que e um

sistema e não
priedades, uma
essas simples coleção
coleção
transformações de elementos
envolvem e de suase pro-
leis: a estrutura pre-

 
servada ou enriquecida pelo próprio jogo de suas leis de trans-

formação, que nunca


nem empregam levam
elementos quea lhe
resultados externos Em
sejam externos. ao suma,
sistemao
conceito de estrutura é composto de três ideias-chavc: a idéia
de totalidade, a idéia
idéia de trans forma ção e a idé
idéia
ia de auto-rcgula-
ção. (PIAGET, 1971, p. 5)

A idéia de totalidade su rge da distinção entre estruturas carre-


gados.  Apenas asas estruturas po dem ser consid
consideradas
eradas com o totali
totalida-
da-
des, enquanto os agregados são formados de elementos que são
independentes dos complexos nos quais eles entram: "os elemen-
tos de uma estrutura estão subordinados a leis e é nos termos des-
sas leis
leis que a estrutu ra totalidade ou sist
sistema
ema  é definida" (p. 7).
A natureza dos todos estruturais depende de suas leis de composi-
ção que, por sua vez, governam as transformações do sistema, se-
jam elas matemáticas (por exemplo,  1 + 1 "fazem" 2), sejam elas
temporais. A idéia de auto-regulação implica tanto uma automa-
nutenção quanto um fechamento e Piage Piagett mencion
mencionaa três mecani
mecanis- s-
mo s bási
básicos
cos de auto-regulação: ritmo
rit mo (com o em biologia), rregulaçã
egulaçãoo
(no sentido cibernético) e operação (no sentido da lógica).
Piaget discute, então, os seguintes temas: as estruturas mate-
máticas; as estruturas físicas
físicase  biológicas; as estruturas psicológicas
 
(a psicologia da Gestalt,  a gênese da inteligência);
inteligência); o estruturalism o
lingüístico (incluindo a gramá tica generat
generativa
iva de Chom sky); a aná-
lise estrutural nas ciências sociais (centrando-se na antropologia
estrutural de Lévi-Strauss); e, finalmente, o estruturalismo e a
filosofi
filosofia.a. N o capítulo 7, "Estrutural
"Estruturalismo
ismo e filosofia
filosofia ,Piaget
   P iaget (1971,
p. 120) discute as relações entre o estruturalismo e a dialética:
"N a m edida em que se opta pela estrutura e se desvaloriza desvaloriza a gêne-
se, a históri
históriaa e a função ou até mesm o a at ativi
ividade
dade do pró prio  sujei-
to ,   não se pode deixar de entrar em conflito com os princípios
centrais dos modos dialéticos de pensamento". Nesse contexto,
Piaget entra, prim eiram ente, n o debate entre Lévi-St Lévi-Strauss
rauss e Sar
Sartre,
tre,
para concluir que não exis existe
te qualquer conflito iinerente
nerente entre estru-
turalismo e dialética e, em segundo lugar, define o livro de Fou-
cault,Ltf m ots etles cboses
 cboses,, com o um "estrut
"estruturalismo
uralismo se
sem m estruturas",
buscando dem onstrar qu e "não p ode ex exis
istitirr um estruturali
estruturalismo
smo co-
erente à parte do construtiv ismo " (p. 135). Ele ssugere ugere que, em vez

-25

 
de postular estruturas, Foucault fala de  epistemes  ligadas à lingua-
gem e que, para Foucault, as ciências humanas não passam de re-
sultados de mutações de epistemes que se seguem umas às outras
no tem po, se
sem
m qualquer seqüên
seqüência
cia pré-ordenada ou  necessária. Essa
 Essa
arqueologia das ciências humanas decreta o fim do homem. Em
sua conclusão,
conclusão, Piaget discute especificamente essa parte mais radi-
cal do trabalho de Foucault. Ele argumenta que

as "estruturas" não mataram o homem, nem aniquilaram as ati-


vidades do sujeito. [...] Em primeiro lugar, convcm distinguir
entre o sujeito individual [...] c o sujeito cpistcmico [...]. Em
segun do lugar,
lugar, é preciso separar a tom ada dc consciência, sem-
pre fragmentária c, com freqüência deformante, daquilo que o
sujeito consegue   fazer  em suas atividades intelecmais: dessas
últimas ele conhece apenas seus resultados, mas não seus meca-
nismos. (PIAGET, 1971, p. 139)
Foucault, em uma rara entrevista, na qual didiscute
scute diretam ente
a questão do estruturalismo e do pós-estruturalismo, deixa claro
que o estruturalismo   n ão  era uma invenção francesa e que o mo-
mento francês do estruturalismo durante os anos 60 deveria ser
visto,
visto, de for
forma
ma apropriada, contra o pan o de fun do do form alismo
europeu. Foucault sugere que, à parte aqueles que aplicar
aplicaram
am mé-
todos estruturais na lingüística e na mitologia comparativa, ne-
nhu m dos protagonistas
protagonistas do movim ento estrutural
estruturalista
ista sa
sabia
bia mu ito
bem o que estava fazendo. Embora Foucault (1983, p. 205) de-
clare nunca ter sido um estruturalista, ele reconhece que o proble-
ma discutido
discutido pelo estrutur
estruturalismo
alismo era um problema m uito próximo
de seus interesses tais como ele os definiu em várias ocasiões: "o
problema d o sujeito e de ssua
ua reform ulação".
Para Foucault, as investigações estruturalistas, muito diver-
sas sob outros aspectos, convergiam em um único ponto: sua
oposição filosófic
filosóficaa à "afirmação teórica do prim ado do su jeito",
que tinha sid
sidoo dom inante na França desde a época de Descartes e
que tinha servido de postulado fundamental para uma ampla
gama de abordagens  filosóficas, dos
  dos anos 30 aos 50, incluindo o
existencialismo fenomenológico, "uma espécie de marxismo às
voltas com o conceito de alienação"   ( F O UUCC A U L T , 1 9 9 1 ,  p .  8 6 ) ,  e

 
as tendências no campo da psicologia que negam o inconscien-
te. Ele também se refere ao "problema do estruturalismo" na
Françaa com o uma conseqüênc
Franç conseqüência ia de problemas
problemas mais im portantes
na Europa Oriental, uma história mai maiss profu nda, à qual a maior
parte da com unida de acadê acadêmica
mica francesa eesta stava
va ceg
cegaa   ( F O U C A U L T ,
1991, p. 88). E contudo, ele sugere, os comunistas e outros
marxistas tinham tido a premonição de que o estruturalismo
estava prestes a dar um fim à cultura marxista tradicional na
França: "uma cultura de esquerda que não fosse marxista estava
prestess a surg ir"   ( F O UUCC A U L T , 1 9 9 1 ,  p.  9 0 ) .
preste
A posição de Foucault relativamente ao marxismo era uma
posição influenciada por questões bastante locais: ele estava rea-
gind o ao P artido Com unista Francês, de iinclinaç nclinação ão estal
estalinist
inista,
a, e ao
dom ínio filosófico de um m arxismo exis existenc
tencial
ialist
ista,
a, duran te os anos
40 e 50. que
afirmar Abstraindo-se
não existe essas questões
nada de locais, entretanto,
necessariamente pode-se
antimarxista ou
pós-marxista seja no pós-modernismo, seja no pós-estruturalis-
mo. Na verdade, da mesma forma que Louis Althusser fez uma
leitura estruturalista de Marx, é possível fazer uma leitura pós-
estruturalista, desconstrutivista ou pós-modernista de Marx. Na
verdad e, o m arxismo estrut
estruturalis
uralista
ta althusseriano tteve
eve uma eno rm e
influência sobre a geração de pensadores que nós agora chama-
mos de "pós-estruturalistas" e cada um deles, à sua própria ma-
neira, acertou suas contas com Marx: vejam-se, por exemplo, as
Observações sobre Marx   ( 1 9 9 1 )  que Foucault fez em entrevista
entrevista com
o m arxista
arxista italiano Duccio Trom badori; ou os  Espectros de  Marx,
de Derrida   ( 1 9 9 4 ) ;  ou a tese da mercantilização "marxista" no
liv
livro
ro de Lyotard ,yi  condição pós-moderna. No   No período que antece-
deu sua morte, Deleuze estava escrevendo um livro sobre Marx -
ele se via
via,, claramente, co mo um tip o de m arxist
arxistaa   ( D E L E U Z EE,, 1 9 9 5 ,
p. 171) . Todo s ess
esses
es pós-estrutural
pós-estruturalistas
istas vêem a análi
análise se do capita-
lismo
lismo co mo um problema centracentral:l: ele
eless tentam compreender  a for-
ma pela qual o capitalismo se transforma para não ter que agir
contra suas próprias limitações, "decodificando" a nova axiomá-
tica capitalista que governa um sistema financeiro global, clara-
mente evidente nas "sociedades de controle" baseadas em uma
economia simból
simbólica
ica  ((JJ A M ES
ES O N , 1 9 9 7 ) .

 
A emergência do pós-estruturalismo

O pós-estruturalismo
pós-estruturalismo pod e ser carac
caracteri
terizado
zado como um m od o
de pensamento, um estilo de filosofar e uma forma de escrita,
em bora o term o nã o deva sserer ut
utilizado
ilizado para dar qualquer idéi
idéiaa de
homog eneidade, singul
singularidade
aridade ou unidade. O term o "pós -estrutu - |
ralismo" é, ele
ele próp rio, questionáve
questionável.l. Mark Pôster (198 9, p. 6) *
observa que o term o "pós-estruturali
"pós-estruturalismo"
smo" tem sua origem nos |
Estad os Un idos e que a expres
expressão
são "teoria pós-estruturalista" no- £
meia um a prática tipicamente estadunidense, uma prática base- |
ada na assimilação do traba lho de uma gam a bas tan te fc
diversificada de teóricos. De form a mais geral, pod em os dizer |
que o termo é um rótulo util utilizado
izado na comunidade acadêmica de f
língua ingl
inglesa
esa para descreve
descreverr uma resposta distintiva me nte filo- í
sófica ao estrutura lismo que caract
caracteriz
erizava
ava  os  trabalhos de Clau-
de Lévi-Strauss (antropologia), Louis Althusser (marxismo),
Jacques Lacan (psic
(psicanáli
análise)
se) e Roland Barthes (literatura ). r
Manfred Frank (1988), um  filósofo  alemão contemporâneo,
prefere o termo "neoestruturalismo", enfatizando, assim, uma con-
tinuidade com o "estruturalismo", tal como o faz John Sturrock
(1986, p. 137) que, centrando-se em Jacques Derrida, "o" pós-
estruturalistaa (o crítico mai
estruturalist maiss agudo e de maior peso que o estru-
turalismo teve) - interpreta o "pós" da expr expressã
essãoo "pós-estrutura-
lismo" com o nom eand o algo que "vem depois e que tenta ampliar
o estruturalismo, colocando-o na direção certa". Segundo Stur-
rock, "o pós-estruturalismo é uma crítica
crítica ao estruturalismo, feita
a partir de seu interior: isto é, eele
le volta al
alguns
guns dos argu me ntos do
estruturalismo contra o próprio estruturalismo e aponta certas
inconsist
incon sistência
ênciass fundam entais em seu métod o, consistências
consistências q ue
os estruturalistas ignoraram". Richard Harland (1987), em con-
traste, cunha o termo "superestruturalismo" como uma espécie
de expressão "guarda-chuva", tendo como base um quadro de
pressupostos subjacentes, comuns a "estrutur
"estruturalista
alistas,
s, pós-estrutu- ;
ralistas, semióticos (europeus), marxistas althusserianos, lacania-
nos, foucaultianos  et alH ( H A R L A N D ,   1993, p. ix-x). Todas essas
expressões ("pós-estruturalismo", "neoestruturalismo" e "su-
perestruturalismo") mantêm como central  zproximidade  histó-
rica, institucional e teórica do movimento ao "estruturalismo".

28—

 
Assim, o termo exibe uma certa ambigüidade: ele nomeia o novo,
timidamente e sem grande confiança, simplesmente distinguin-
do-o do passado. Existem importantes afini
afinidades
dades entre formas ddee
estruturalismo e pós-estruturalismo, bem como inovações teóri-
cas distintas, como veremos mais adiante.
Entretanto, o pós-estruturalismo não pode ser simplesmente
simplesmente
reduzido a um conjunto de pressupostos compartilhados, a um
métod o, a uma teoria ou até mesmo a uma escoescola
la.. E melhor ref
refe-
e-
rir-se a ele como um   movimento de pensamento  - uma complexa
rede de pensame nto - que corporifica ddiferent
iferentes
es formas de prát
práti-
i-
ca crítica. O pós-estruturalismo é, decididamente, interdiscipü-
nar, apresentando-se por meio de muitas e diferentes correntes.
Como uma atividade francesa e predominantemente pari-
siense, o pós-estruturalism o de primeira geração é insepar
inseparável
ável do
milieu   intelectual imediato que predominou
guerra, em uma história dominada por forças na França dovaria-
intelectuais pós-
das: o legado das interpre tações "exist
"existencial
encialistas
istas"" daFenomenologia
de Heg el, feita
feitass por A lexander Kojéve e Jean
Jean H yppolite; a feno-
menolog ia do Ser de H eideg ger e o exisexistenci
tencialis
alismo
mo de Sartre
Sartre;;
a redescoberta e a "leitura" estruturalista de Freud, feitas por
Lacan ; a onipresença d e Georges B ata
atailille
le e Maurice B lanchot; a
epistemolo
de Georgesgia radical de
Canguilhe m. GPasto n Bachelardo mai
rovavelmente e ossestudo
mais s dateciê
importan ciência
é ncia
que
o pós-estruturalismo inaugura e registra a recepção francesa de
Nietzsche, o qual forne ceu as fontes de inspiração
inspiração para muitas de
suas inovações teóricas. E também decisiva para a emergência
do pós-estruturalismo,
pós-estruturalismo, sem dúvida, a inte
interpretação
rpretação que M artin
Heidegger (1991/1961) fez de Nietzsche, bem como as leituras
de Nietzsche
Koffrnan, feitas
feitas
desde por D eleuze,
o início dos anosDerrid
6 0 atéa, os
Foucault,
anos 70Keloss
lossowski
80 .owski e
O pós-estruturalismo é inseparável também da tradição es-
truturalista da lingüística baseada no trabalho de Ferdinand de
Saussure e de Roman Jakobson, bem como das interpretações
estruturalistas de Claude Lévi-Strauss, Roland Barthes, Louis
Althusser e Michel Foucault (da primeira fase). O pós-estrutura-
lismo, considerado em termos da história cultural contemporâ-
nea, pode ser compreendido como pertencendo ao amplo

29

 
movimento do formalismo europeu, com vínculos históricos ex-
plícitos tanto com a lingüística e a poética formalista e futurista
quanto com   a avant-garde  artística européia.
Foi, sem dúvida, central para a emergência do pós-estrutura-
lismo a redescoberta, por um grupo de pensadores franceses, da
obra de Frie
Friedri
drich
ch Nietzsche. Foram im portantes também a inte inter-
r-
pretação
pretação que Martin H eidegger  fez dessa
 dessa obra, bem com o a
 ass leituras
estruturalistas tanto de Freud quanto de Marx. Considerava-se
que, enquanto Marx havia privilegiado a questão do poder e
Freud havia
havia dad o prior idade à idéi
idéiaa de desejo, Nietzsche era um
filósofo que não havia privilegiado qualquer um desses concei-
tos em prejuízo do outro. Sua filosofia oferecia uma saída que
combinava poder e desejo.
A recepção
recepção estadunidense da desconstrução e a formulação do
conce
conceito
com oitomomento
de "pós-estruturali
"pós-estruturalismo"
smo" no
em que Derrida m un doseu
apresenta de fala iingl
ensaio nglesa
  esa coinci
coincide
de
A estrutura,
o signo e o jogo no discurso das ciências humanas", no Colóquio
Internacional
Internacional sobre Linguagens Crítica
Críticass e Ciênci
Ciências
as do H om em , na
Universidade Johns Hopkins, em outubro de 1966. Richard
Macksey e Eug ênio D ona to (19 70, p. x) de
descre
screvera
veram
m  a conferência
como "a primeira vez, nos Estados Unidas, em que o pensamento
estrutura
estruturalis
Mesmo lista
ta foi
antes considerado
do térm com o um fenô
ino da  conferência, me claros
 havia
 havia no interdisci
interdisciplinar
osplinar".
 indícios
 indíci de qu".e
o reinante paradigma transdisciplinar do estruturalismo tinha sido
superado,, em bora apenas um parágrafo das "Observaçõe
superado "Observaçõess concl
conclusi-
usi-
vas" de Macksey assinalasse as "reavaliações radicais de nossos pres-
supostos [estruturalistas]"  feitas  por Derrida (p. 320).
No agora clássico ensaio "A estrutura, o signo e o jogo no
discurso
disc urso ddas
as ciên
ciências
cias humana s", Derrid a (19 78, p. 278-80 ) ques-
tionava a "estruturalidade da estrutura" ou a idéia de "centro"
que, ele
ele argumentava, operava para limitar o jogo da estrutu ra:

[...] toda a história do conceito


conceito de estrutura [...] tem de s er pen -
sada como uma série de substituições de centro para centro,
vim encadeamcnto de determinações do centro. O centro re-
cebe, sucessiva e regularmente, formas ou nomes diferentes.
A história
história da metafísica, com o a história d o O cidente, seri
seriaa a his-

30

 
tória dessas
dessas metáforas c dessas meto nímias . A sua m atriz seri seriaa [...]
a determinação do ser como  presença cm todos os sentidos desta
palavra. Podcr-sc-ia mostrar que todos os nomes do fundamento,
do princípio, ou do centro, sempre designaram o invariante dc
uma presença
presença  (eidos, arche,   energeia, ousia  [esscncia, existên-
  arche, telos, energeia,
cia, substância, su jeito],  alctbeia, transcendcntalidadc, consciência,
Deus, homem, etc.).

Derrida colocava em questão, nesse parágrafo, o estrutura-


lismo francês da década anterior e, ao me smo tem po, apontava a
direção de suas próprias ambições int intelectua
electuais.
is. O "descentramen-
to" da estrutura , do significado ttranscendental
ranscendental e do sujeito  sobera-
n o   pode ser encontrado, sugere Derrida, nomeando suas fontes
de inspiração, na crítica nietzscheana da metafísica e, especial-
mente, na crítica dos conceitos de ser e de verdade; na crítica

freudiana
identidadedae autopresença, "da consci
da autoproximidadeconsciência
ência,
ou da , d o sujeito, dae, auto-
autopossessão"; mais
radicalmente, na destruição heideggeriana da metafísica, "da de-
terminação do Ser como presença". Derrida discute, ao longo
desse ensaio, o tema do "descentramento", concluindo por dis-
tinguir duas interpretações de estrutura. Uma delas, de origem
hegeliana
hegeliana e exemplif
exemplificada
icada no trabalho de Lévi-Strauss, sonha "de-
cifrar
do  uma verdad
signo", verdadee ouaíum
buscando a origem
a "inspir
"in açãoque
spiração de esc
escapem
umapem
novoaohum jogo e à or
ordem
anismo".dem
A
outra, " que já não está voltada para a origem , afirma o jogo e pro-
cura superar
superar o hom em  e o humanism o..."  (D E R R ID A ,  1978, p. 292).
O humanismo tendia, como um motivo central do pensa-
men to liberal europ eu, a coloca
colocarr o "su jeito" no ce ntro da análanálise
ise
e da teoria, vendo-o c om o a origem e a fonte do p ensam ento e da
ação, enquanto o estruturalismo, ao menos em uma leitura al-
thusseriana, via os sujeitos como simples portadores de estrutu-
ras. Os pós-estruturalistas continuam, de formas variadas, a
sustentar essa compreensão estruturalista do sujeito, conceben-
do-o, em termos relacionais, como um elemento governado por
estruturas e siste
sistemas,
mas, continua ndo a questionar tam bém as ddive
iver-
r-
sas construções filosóficas do sujeito: o sujeito cartesiano-kantia-
no, o sujeito hegeliano e fenomenológico; o sujeito do
existencialismo,
existencialismo, o sujeito coletivo m arxista.

 
Agen ealogia do pós-estruturalismo francês tem que ser
ser com-
preendida, em parte, por suas filiações com o pensamento de
Nietzsche. Em particular, com sua crítica da verdade e sua ênfase
na pluralidade da interpretação; com a centralidade que ele con-
cede  à questão do estilo, vist
vistoo com o crucial, tan to filosófica quanto
esteticamente, para que cada um se supere a si próprio, em um
processo de perpétuo autodevir; com a importância dada ao
conceito   de. vontade d
 dee potência e suas
suas manifestações como vonta-
de de verdade e vontade de saber. Esses temas filosóficos foram
assumidos, adotados e experimentados pelos pós-estruturalistas
franceses sob novas e est estimulantes
imulantes  formas. Foucault,
  Foucault, por exemplo,
desenvolveu a genealogia nietzscheana como uma forma de histó-
ria crítica qu e resiste à busca po r origen s e essê
essências,
ncias, conc entra ndo -
se, em vez disso, nos conceitos de  proveniência  e emergência.  A o
analilisar
ana sar,, por me io do u so de narrativas
narrativas e da narratoiogia, a p ragmá -
tica da linguagem, Lyotard demonstra a mesma aversão que tinha
Nietzsche  pelas tendências universaüzantes dafilosofia
filosofiamoderna.
   m oderna. Der-
rida, seguindo Nietzsche, Heidegger e Saussure, questiona os
pressupostos que governam
governam o pensamen to binár
binário,
io, demon strando
como as oposições binárias sustentam, sempre, uma hierarquia ou
uma economia do valor que opera pela subordinação de um dos
termos da oposição binária ao outro, utilizando a desconstrução
para denunciar, deslindar  e reverter essa hierarquias . Deleuze
 essass hierarquias.   Deleuze (1983,
original de 1962) fixa-se na diferença como o elemento caracte-
rístico que permite substituir Hegel por Nietzsche, privilegiando
os "jogos da vontade de potência" con tra o "trabalho da dialétidialética".
ca".
Todos esses pensadores enfatizam que o significado é uma
construção ativa,
ativa, radica
radicalmente
lmente depende nte da pragmáti
pragmática
ca d o con-
texto,
texto, questionando, portanto , a suposta univers
universalid ade das ch a :
alidade
madas "asserções de verdade". Foucault vê a verdade como o
prod uto de regimes ou gêneros discursiv
discursivos
os que têm seu pró prio e
irredutív
irredutível
el con junt o de reg
regras
ras para construir sente
sentenças
nças ou propo-
sições bem formadas. Seguindo Nietzsche, todos eles questio-
nam o sujeito cartesiano-kantiano   humanista, ou seja, o sujeito
autônomo, livre e transparentemente autoconsciente, que é tra-

dicionalmente
da ação moral evisto comoEma contraste,
política. fonte de todo o conhecimento
e seguindo a crítica dae

 
filosofia liberal feita por Nietzsche, eles descrevem o sujeito em
toda sua complexidade histórica e cultural - um sujeito "'descen-
trado" e dependente do sistema lingüístico, um sujeito discursi-
vamente constituído e posicionado na intersecçáo entre as forças
libidinais e as práticas socioculturais. O sujeito, outra vez sob a
influência de Nietzsche, é visto, em termos concretos, como
generificado,, um ser temporal que chega, fisiologi-
corporificado c generificado
camente falando, à vida e enfrenta a morte e a extinção como
corpo, mas que é, entretanto, infinitamente maleável e flexível,
estando submetido às práticas e às estratégias de normalização e
individualização que caracterizam as instituições modernas.
Devemos compreender o pós-estruturalismo, no seu desen-
volvimento no contexto histórico francês, tanto como uma rea-
ção quanto como uma fuga relativamente ao pensamento
hegeliano. Essa reação ou fuga, para sintetizar a questão em ter-
mos deleuzianos, envolve, essencialmente, a celebração do "jogo
da diferença" contra o "trabalho da dialética". O livro de Deleuze,
Nietzsche e a filosofia, representa um dos momentos inaugurais do
pós-estruturalismo francês, em uma interpretação de Nietzsche
que enfatiz
enfatizaa o jogo da diferença, utilizando esse últim o conceit
conceitoo
com o o elem ento central de um vigoroso ataque à diadialéti
lética
ca hege-
lia
liana.
na. Ta
Tall com o sintetizado pelo pr óprio Deleuze:

Três idéias definem a dialética: a idéia de um poder do negativo


como princípio teórico que se manifesta na oposição e na contra-
dição; a idéia
idéia de um valor do sofr im en to c da tristeza, a valoriza-
valoriza-
ção das "paixões tristes", como prin cípio prátic o que se manifesta
na cisão, na separação; a idéia da positividade como princípio
teórico c prático da própria negação. Não é exagero dizer que
toda a filosofia de Nietzsche, cm seu sentido polêmico, é a de-
núncia dessas três idéias (1983, p. 195-96).

Deleuze contrasta a força negativa da dialética e sua predispo-


sição puramente reativa - o positivo é obtido apenas por meio da
dupla negação, "a negação da negação" - com a força puramente
positiva
positiva da afirmação inerente à "diferença", a qual é tom ada com o
amarxista.
base de Em
um uma
pensamento
vigorosaradical que Deleuze
passagem, não e nem hegeliano nem
afirma:

-33

 
"A dialética hcgcliana consiste, na verdade, cm uma reflexão so-
brediferença
da a diferença,
co mmas
o tal,deel
elaimagem
coloca invertida.
a coloca a negação No lugarcm
da quilo da relação
afirmaçãoao
\ qual el
elaa difere; no lugar da afirmaçã o do eu, ela coloca a negação
do outro; e no lugar da afirmação da afirmação, ela coloca a fa-
mosa negação da negação" (198 3, p. 196 ). Em su ma , a di dialét
alética
ica
hcgcliana reflete uma falsa imagem da diferença.

A crítica
crítica nietzscheana da dialéti
dialética,
ca, feita por D eleuze, u ma das
chaves para se compreender o pós-estruturalismo francês, deveria
ser mais reconhecida com o uma base legítima para um a teorização
radical alternativa. A interpretação que Deleuze faz de Nietzsche
torna-se, de fato, o p on to de virad
viradaa para a  filosofia francesa, abrin-
do novo s espa
espaços
ços para o  filosofar, ajudando
  ajudando a re-instaurar uma tra-
dição banida e fornecendo as bases para um modo alternativo de
pensamento crítico tanto dentro da FrançaFrança quan to fora del
dela.
a.
Em sua primeira geração, o pós-estruturalismo é eexempli
xemplifi-
fi-
cado pelo trabalho de Jacques Derrida, Michel Foucault, Julia
Kristeva, Jean-François Lyotard, Gill
Gilles
es Deleuze , Luce Irigaray, Jean
Baudrillard, entre muitos outros. Historicamente, sua formação
e seu desenvolvimento institucional inicial podem ser ligados à
influente revista  TelQuel, havendo fortes conexões com figuras llite ite--
rárias tais como Maurice Blanchot e Roland Barthes. Os pensado-
res pós-estruturalistas
pós-estruturalistas desenvolveram forma s peculi peculiares
ares e originais
de análise (gramatologia, desconstrução, arqueologia, genealogia,
semioanálise), com freqüência dirigidas para a crítica de institui-
ções específi
específicas
cas (com o a  família, o
 o E stado, a prisão, a clíni
clínica,
ca, a esc
esco-
o-
la, a  fábrica, as forças armadas, a univer
 universidad
sidadee e até m esm o a próp ria
filosofia)   e para a teorização
teorização de uma ampla gam a de diferentes meios
(a "leitura", a "escrita",
"escrita" , o ensino, a tele
televisão,
visão, as artes visuai
visuais,
s, as artes
plásticas, o cinema, a comunicação eletrônica).

34-

 
4- INOVAÇÕES TEÓRICAS
E DIFERENÇAS
AO E ST RUTRELATIVAMENTE
URAL ISMO

com oO estruturalismo,
pós-estruturalismo
mas tem algumas
também diferecaracterísticas
dele em certosemaspectos.
comum
Discutiremos, neste capítulo, as principais tendências e inovações
teóricas, destacando tanto as afinidades e continuidades entre o
pós-estruturalismo e o estruturalismo quanto suas diferenças.

Afinidades com o estruturalismo

Podemos começar com a crítica da filosofia humanista do


Renascimento e do sujeito ra
racion
cional,
al, autônom o e autotransparente
do pensamento humanista. O pós-estruturalismo partilha com o
estruturalismo a mesma suspeita relativamente ao privilegiamento
da consciência humana que caracteriza tanto  a fenomenologia quan-
to o existencialismo: sustentam, ambos, um ceticismo para com a
concepção que vê a consciência humana como autônoma, como
diretamente acessível e como a única base da compreensão e da
ação. De acordo com essa perspectiva, a fenomenologia e o exis-
tencialismo são herdeiros do pensamento humanista do Renasci-
mento, que tinha como pressuposto a existência de um eu estável,
coerente, apreensível, capaz de desenvolver um conhecimento
sobre si próprio e sobre o mundo por meio da razão. Essa tradi-
ção, ao menos na era moderna, remonta a Bacon e a Descartes,
enfatizando uma forma "científica" de conhecimento - um co-
nhecim ento pro duzido por u m eu rac
racional
ional e obj
objetivo,
etivo, um conhe-
cimento capaz de fornecer verdades universais sobre o mundo.
Esse conhecimento científi
científico
co poderia supostamente ser aplicado
aplicado
a todas as práticas e instituições humanas, sendo considerado a
base última daquilo que é verdadeiro e, portanto, daquilo que é
certo e daquilo que é bom.

 
O pós-e
pós-estr
strutura
uturalis
lismo,
mo, tanto qu anto o estruturalismo, efetua um
enérgico ataque
da individualida
individua aosdapressupostos
lidade,
de, au tonom ia  e"universalistas"
 da autopresençadaque
racionalidade,
estão subja-
centes ao sujeito humanista. Representam, ambos, uma reação ao
subjetivismo  e à liber
liberdade
dade pessoal do existencialismo sartreano , b em
| com o ao ativo
ativo pape
papell históri
histórico
co concedido por esseesse últim o ao ego
| consciente. O pós-estruturalismo, tal com o o estrutura lismo , cultiva
I uma forte susp
suspeit
eitaa relativamente à idéia de autoconh ecimen to, ca-
racterística do hegelianismo, sugerindo que as estruturas sócio-cul-
turais exer
exercem
cem um papel impo rtante n a  formação da autoconsciência.
É im portante, par
paraa o desenvolvi
desenvolvimento
mento do pós-estrutur
pós-estruturalismo,
alismo,
a teorização heideggeriana sobre a "subjetividade". Heidegger ar-
gumenta que o ser-no-mundo tem precedência sobre o autoco-
nhecimento e a autonomia do sujeito. Em  Em sua famosa "Carta sobre
o humanismo", Heidegger nega, de forma explícita, que sua fe-
nomenologia hermenêutica constitua uma espécie de humanis-
mo. Tal com o Heidegger, o pós-estrutur
pós-estruturalismo
alismo questiona as  filosofias
do sujeito que não levam em conta as condições externas de suas
próprias possi
possibili
bilidades.
dades. Par
Paraa o p ós-estruturalism o, a ênfase na au-
toconsciência absoluta  e no seu
seu supo sto universalismo é parte inte-
grante dos proc
processo
essoss que tend em a excluir o Outro, o u  seja, aqueles
 aqueles
grupos sociais e culturais que agem de acordo com critérios cultu-
rais diferentes. Em vez da autoconsciência, o pós-estruturalismo
enfatiza a constituição discursiva do eu - sua corporeidade, sua
temporalida de e susuaa finitude, suas energias inconscientes
inconscientes e libidi
libidi--
j nais - e a local
localização
ização histórica e cultu ral do sujeito .
| Podem os dest
destacar
acar,, além disso, no estruturalismo e no pós-
I estruturalismo, uma mesma com preens ão teóric teóricaa geral da lingua-
gem e da cultura, que são concebidas em termos de sistemas
lingüísticos
lingüísticos e simbólicos nos quais as int inter-re
er-relações
lações entre elemen-
tos que os constituem são vistas como mais importantes do que os
elementos considerados
considerados isolada
isoladamente.
mente. T anto o estruturalismo quan-
to o pós-estruturalismo
pós-estruturalismo sustentam a concepção saussureana d e que
os signos lingüíst
lingüísticos
icos operam de for m a ref reflex
lexiva
iva e não de form a
referencial: eles dependem da operação auto-reflexiva da diferen-
ça. De acordo com essa inspiração, os sistemas simbólicos (por
exemplo, a cidade,
cidade, a moda, a esc
escola,
ola, a sala
sala de aula) po dem , em sua

36

 
maior parte, ser analisados como um a espécie
espécie de código, isto é, eele
less
podem ser concebidos, em termos semióticos, como uma lingua-
gem. O pensamento pós-estruturalista desenvolveu uma série de
diferentes métodos e abordagens como, por exemplo, a arqueolo-
gia, a genealogia, a desconstrução, cada um dos quais funcio na de
acordo com sua própria lógica, mas, considerados em seu conjun-
to, eles
eles tend em a enfatizar as noções de diferenç
diferença,
a, de determ inação
local, de rupturas ou descontinuidades históricas, de serialização,
de repetição e uma crítica que se baseia na idéia de "desmantela-
mento" ou de "desmontagem" (leia-se "desconstruçao"). Essa pos-
tura relativamente ao  significado e à referência pode ser interpretada
como uma espécie de anti-realismo, isto é, uma posição epistemo-
lógica que se recusa a ver o conhecimento como uma representa-
ção precisa
precisa da realidade e se nega a conceber a verdade em termo s
de uma correspondência exata com a realidade.
Os pós-estruturalistas, tanto quanto os estruturalistas, exi-
bem, especialmente em relação
relação com a literat
literatura,
ura, uma grande sen-
sibilidade textual e uma compreensão complexa da importância
do estilo tanto na filosofia quanto nas ciências humanas. Reco-
nhecendo sua dívida para com Jakobson e para com Propp, os
pós-estruturalistas desenvolveram estratégias e abordagens filo-
sóficas altam ente inovado ras e sofisticadas par
paraa a anál
análise
ise de textos
e de artefatos históricos e culturai
culturaiss que podem também ser vi vistos,
stos,
em um sentido mais amplo, como "textos". Em parti particular,
cular, a teo-
ria
ria narrativa e a narratologia devem sua importância e populari-
dade aos modos estruturalistas e pós-estruturalistas de análise.
O pós-estrutur
pós-estruturalismo
alismo partilha com o estrutura
estruturalismo
lismo um a ên-
fase comum no inconsciente e nas estruturas ou forças sociohis-
tóricas
comp subjace ntes
ortamento. Grandeque cons
parte da trang
in emo doe estrutura
inovaçã
ovação govern am lismonosso
estruturalismo e do
pós-estruturalismo tem uma dívida direta para com Freud. A aná-
lise
lise que F reud fez do inconscient
inconscientee abalou a visão fifilosófica
losófica dom i-
nante, fundamentada na pura racionalidade e na autotransparência
do sujeito, colocando em questão as distinções tradicionais entre
razãoo e desrazão (loucura). G rande parte da ênfase pós-estrutura-
razã
lista
Freud.noJacques
desejo,
Jacq no corpopoer na
ues Lacan, sexualidade
exemplo, retomdeve-se
ando o àespírito
influência de
crítico

 
de Freud, faz um a leitura estruturalista
estruturalista qu e enfatiza as condições
estruturais e lin
lingüís
güístic
ticas
as que subjazem ao indivídu o c om o sujeito
do desejo e da linguagem. Em vez de um sujeito visto como es-
tand o em poss
possee de si próp rio (como na tradição anglo-americana
da psicanálise), Lacan vê o eu em sua relação com a linguagem
("o inconscient
inconscientee é estruturad o com o uma lingu agem "). Tal com o
descrito por Hengehold (1998, p. 199): "a teoria de Lacan des-
creve um sujeito inevitavelmente  dividido
 dividido:: um sujeito que se ffor-
or-
ma na luta da criança para ser representada pela linguagem, para
ser representada como um falante. A especificidade e o desejo
sexuais do sujeito que resultam desse processo são marcas irrevo-
gáveis dessa divisão ou dessa insuficiência". Essa herança pode
explicar, talvez, a ênfase dada, na obra de Foucault, Derrida, Lyo-
tard e Deleuze/Guattari, aos sujeitos do desejo e da sexualidade,
bem com o, mamaisis recentemente, uma ênfase simila
similarr - poré m mais
crítica em termos de gênero - no trabalho das feministas pós-
estruturalistas, entre as quais Julia Kristeva e Luce Irigaray.
Podemos dest
destacar
acar,, assi
assim,
m, uma herança e uma tradição inte-
lectuais
lectuais que sã
sãoo comuns ao estruturalismo e ao p ós-estruturali
ós-estruturalis-
s-
mo , uma hera
herança
nça e uma tradição que estão baseadas em Saussu
Saussure,
re,
em Jakobson, nos for
formalistas
malistas rrussos,
ussos, em Freud e em M arx, entre

outras influências.
complexa rede, feitaEssa histórianós.
de muitos intelectual comuminteira
Uma geração é como uma
de pen-
sadores estruturalistas foi influenciada pelas interpretações "exis-
tencialistas" da   Fcnomenologici  do espírito, de Hegel, feitas por
Alexander Kojéve e Jean Hyppolite. O pós-estruturalismo foi
fortemente influenciado pela crítica nietzscheana da verdade e
pelo conceito nietzscheano de "vontade de potência"; pela crítica

heidegge
heideggeriana
rianao da
Ponty sobre metafísic
metafísica
corpo; pela aéétic
ocidental;
a do outrpelo
tica o de trabalho de MLevinas;
Em ma nuel erleau-
pela leitura estruturalista de Freud, feita por Lacan; e pela leitura
estruturalista de Marx, feita por Althusser.

Inovações teóricas e diferenças


relativamente ao estruturalismo
Enquanto o estruturalismo buscava apagar  a história por meio
da análise sincrônica das estruturas, o pós-estruturalismo mostra

 
um reno vado interesse po r uma história crí crítica,
tica, ao  s
 see concentrar na
análisee diacrônica, na mutação, na transformaç ão e na desco ntinui-
anális
dade das estruturas; na serialização; na repetição; na arqueologia;
e, talvez, de forma mais importante, naquilo que Foucault, seguin-
do Nietzsche, chama de "genealogia". As narrativas genealógicas
substituem a ontologia ou, para expressar a mesma idéia de uma
for m a diferente, as questões de ontologia tornam -se historicizadas.
O pós-estruturalismo questiona o cientificismo das ciên-
cias humanas, adota uma posição antifundacionalista em ter-
mos epistemológicos e enfatiza um certo perspectivismo em
questões de interpretação. O movimento pós-estruturalista ques-
tiona o racionalismo e o realismo que o estruturalismo havia
retomado do positivismo, com sua fé no progresso e na capaci-
dade transform ativa do m étodo cient científi
ífico,
co, colocando em dúvi-
da, além disso, a pretensão estruturalista de identificar as
estruturas universais que seriam comuns a todas as culturas e à
me nte hum ana em gera geral.l. Com o esc
escre
reve
ve um autor:

As críticas pós-estruturalistas ao estruturalismo estão, tipica-


mente, baseadas cm duas teses fundamentais: (1) nenhum sis-
tema pode ser autônomo (auto-suficiente) da forma que o
estruturalism o exige; e (2) as dicotomias definidoras nas quais
o sistema estruturalista está baseado expressam distinções que
não se sustentam após uma cuidadosa análise. Os pós-estrutu-
ralistas mantêm a crítica estruturalista do sujeito, negando ao
sujeito qualquer papel importante na fundação da realidade ou
no conhecimento que podemos ter dessa realidade. Mas, cm
oposição ao estruturalismo, eles também rejeitam a idéia de que
um sistema de pensamento possa ter qualquer fundamentação
lógica (cm sua coerência interna, por exemplo). Para os pós-
estruturalistas, não existe
existe nenhu ma fundação, de qualque r tip o,
que possa garantir a validade ou a estabilidade de qualquer sis-
tema de pensamento (GUTTING, 1998, p. 597).

Como argumenta Gutting, o princípio de que "a estrutura


lógica de um sistema exige que seus conceitos sejam definidos
sem amb igüida de" implica que os con
conceit
ceitos
os sej
sejam
am definidos em
termos de dicotomias ou oposições binárias fundamentais (por
exem plo, a dist
distinção,
inção, em SSaussure,
aussure, entr
entree signifi
significante
cante e significado ).

 
O pós-estruturalismo questiona o   status  privilegiado dessas dis-
tinçõesdaouforma
sivas dicotomias: elas não são nem
que os estruturalistas fundacionais
supõem que elas nem exclu-
sejam.
Co mo destaquei
destaquei anteri
anteriormente,
ormente, a redescob
redescoberta
erta de Nietzsche e
a interpretação que Heidegger  fez dele
 dele foram extremam ente impor-
tantes para  a emergên
 emergência
cia do pós-estr
pós-estruturali
uturalismo.
smo. As contribuições de
Nietzsche proporcionam u ma nova forma de ssee teorizar a operação
discursi
discursiva
va d o poder e do desejo na constit
constituição
uição e na auto-superaçao
dos sujeit
sujeitos
primeira os humanos.
vez H eidegger, em
em 1961, concentra-se na seu
análise do livro publicado
 Nietzsche,,
 Nietzsche pela
 A vontade de
potência  (um trabalho composto de notas e publ publicado
icado pela primeira
vez, de  forma póstuma, pelpelaa irmã de Nietzsche), interpreta ndo N iet-
zsche com o sendo "o último  metafísico .  Essa intinterpretação
erpretação "reduti-
va", feita por Heidegger,   é  questionada, entretanto, entre outros,
po r D errida. Sobre a iimportância
mportância de Nietzsc
Nietzsche
he para o p ós-estrutura-
lismo, afirma Al
 Alan
an Schrift (1996a, p. 45 2):
A crítica da noção dc verdade, feita por Nietzsche; sua ênfase na
interpretação c nas relações diferenciais dc poder; c sua atenção a
questões d c estilo
estilo no discurso  filosófico tornaram-se motivos cen-
trais para os pós-estruturalistas, na medida cm que isso lhes per-
mitiu se distanciaram
distanciaram das ciências
ciências human as e se voltarem para a
análise filosófico-crítica da escrita c da textualidade (Derrida);
das relações de poder, do discurso c da construção do sujeito
(Foucault); do desejo e da linguagem (Deleuze); dc questões dc
julgamen to estético
estético e político (Jcan-François
(Jcan-François Lyotard ); c d c ques-
tões dc diferença sexual e dc con stru ção dc gê ner o (L ucc Irigaray,
Julia Kristeva, Hclène Cixous). (SCHRJFT, 1996a, p. 452)

Boa parte da história do pós-estruturalismo pode ser vista


com o consistindo de elabor
elaborações
ações teór
teóricas
icas da noção de tecnologia
de Heidegger. A filosofia
filosofiada
   d a tecnologia
tecnologia de H eidegger vincul
vincula-se
a-se à
sua crítica da história da metafísica ocidental. A essência da tec-
nologia consiste
consiste em um a  poiesis  (ou um "produzir"), a qual está
enraizada num desabrigar ou desocultar  (aletheia). Ele  Ele sugere que
a essência
essência da tecnologia mod erna m ostra-se naquilo que ele chama
de "GesteW   ou "armação" e que se revela como "um depósito de
reserva",
reserva", um conceito que se rrefere
efere aos recur
recursos
sos que estão a rmaze-
nados tendo em vista o consumo futuro. Como tal, a tecnologia

 
moderna nomeia o estágio final dessa época particular: um arma-
zenamento em princípio
do inteiramente completamente
ao uso humano. determinável
Ele sugere e devota-
que a essência da
tecnologia não é nada tecnológica; ela é, em vez disso, um siste-
m a  (Gestell), uma
  uma visão abrangente da tecnologia, descrita como
um mo do de exist
existênci
ênciaa hum ana q ue se concentra na forma com o
a tecnologia
tecnologia da máq uina pode alterar noss nossoo m odo de ser
ser,, dist
distor-
or-
cendo nossas ações
ações e aspir
aspirações
ações.. H eidegg er é cuidadoso em nã o
aparecer
Elenem
mista. Ele como
vê seu um otimista
próprio tra balho nem
co motampouco como umpara
uma preparação pessi-
um
novo começo, p ermitin do-nos escap
escaparar do niilismo e possi
possibili
bilitan-
tan-
do que o indivíduo decidido alcance
alcance a autentici
autenticidade.
dade.
A  filosofia de Heideg ger teve um a forte infl
influência
uência tanto sobre
Derrida (destruição/desconstrução; ausência/presença) quanto so-
bre Foucault. A no ção de "tecno logia" presente na exexpres
pressão
são "tec
"tec--
nologias do eu", utilizada por Foucault, deriva, conceitualmente,
de Heidegger. O conceito de tecnologia de Heidegger está presen-
te tamb ém nas análi
análises,
ses, fei
feitas
tas por vários pós-estruturalis
pós-estruturalistas,
tas, sobre
o poder das novas tecnologias de informação e comunicação (o
"ciberespaço")) e a mídia em geral, para reestruturar e reconfigurar
"ciberespaço"
nossass subjetividades e identidades (por exemplo, Derrid a sobre a
nossa
"leitura" e a "escrita"; Deleuze so bre o cinem a; Baudrill
Baudrillard
ard sobre a
"sociedade da mídia" e o "sistema de objetos").
O pós-estruturalism o, ao efetua r uma críti
crítica
ca polí
política
tica dos va
valo-
lo-
res
res ililuminist
uministas,
as, repre
represent
sentaa u m aprofun dam ento da noção de dem o-
cracia. Em sua crítica, os pós-estruturalistas argumentam que as
democracias
democraci as liber
liberais
ais modernas constroem  a identidade política
política com
base em uma série de oposições binárias (por exemplo, nós/eles,
cidadão/não-cidadão, responsável/irresponsável, legítimo/ilegítimo)
que têm o efeito de excluir certos grupos culturais ou sociais. Por
exemplo, os países ocidentais concedem certos direitos aos seus
cidadãos (os direitos se tornam depend entes da cidadania), pass passan-
an-
do a considerar os não-cidadãos (isto é, os imigrantes,
imigrantes, aquele
aqueless que
buscam asilo político e os refugiados) como "estranhos". Algumas
correntess do pensam ento pós-estruturalista estão int
corrente interess
eressadas
adas em
examinar como essas fronteiras são socialmente construídas e
com o elas são man tidas e policiadas. Em particul
particular,
ar, a operação de

 
desconstrução das hierarquias políticas que se baseiam em oposi-
ções bináerias
binárias
ralismo é vi
sobre vista
sta com o central
feminismo. nas discuss
Da mesma discussões
õesosobre
forma, multicultu-
questionamento
das noções de representação e de co nsenso possibilit
possibilitado
ado pela
pelass cha-
madas "filosofias da diferença" tem uma enorme influência sobre
diversas
dive rsas aná
análilises
ses das configurações políticas con tempo râneas. As-
sim, as "filosofias
"filosofias da diferença" criticam , de form a direta, os valo-
valo-
res supostamente universais da cultura política (eurocêntrica) do
Iluminismo, qu estionand o, em particul
particular,
ar, as justi
justifica
ficações
ções fundacio-
nais e filosóficas
filosóficasfornecidas
   f ornecidas para o estabelecimento de certos "direi-
tos", os quais são analisados em termos de sua construção
genealógica e discursiva, destacando-se, nessas análises, as transi-
ções do "direito divino" para o "direito n atural"  e do "d ireito natu-
ral" para o "direito humano".
Destaca-se, nesse sentido, nos últimos trabalhos de Foucault,
a noção de "governamentalidade", a qual permitiu o desenvol-
vimen to de um co rpo subst substancial
ancial de trabalhos contemporâneo s
em filosofia
filosofia pol
política
ítica que lidam dir etam ente c om a idéi idéiaa de razão
política.
polít ica. Fouc
Foucault
ault cunhou o term o "governam entalidade" no con-
texto de sua análise do liberalismo e do neoliberalismo. Ele uti-
liliza
za o term o "governam entalidade" para   se referir à arte do go-
verno e pa
para
ra assi
assinalar
nalar a emergê ncia d e um tipo característico de
governo, o qual se tornou a base da política liberal moderna.
Ele sustenta que a "arte do governo" emerge no século XVI,
motivada por diver
diversas
sas exigê
exigências:
ncias: o gover no de ssii (conduta pes-
soal); o governo das almas (doutrina pastoral); o   governo  das
crianças (pedagogia). E em torno da mesma época que a "eco-
nomia" é introduzida na prática política como parte da gover-
namentalização do Estado. O que distingue a abordagem de
Foucau lt é que ele está iinteressad
nteressad o na q uestão de  como o poder é
exercido,
exercido, criticando, assi
assim,m, de for m a implícita, a tendência con-
temporânea a supervalorizar o lugar do Estado, reduzindo-o a
uma unidade dotada de uma certa funcionalidade.
Se exi
exist
stee um elemento q ue distin gue o pós-estruturalismo é a
noção de   différence  [diferença], que vários pensadores utilizam,
desenvolvem e aplicam de formas variadas. A noção de diferença
tem sua origem em Nietzsche, em Saussure e em Heidegger.Gilles

 
Deleuze (1983, original de 1962),   em Nietzsche e a ilosofia nter-
preta a  filosofia
na, uma crítica  de
queNietzsche com o precisamente
está baseada um a crític
críticaa à di
dialétic
noalética
a h egelia-
conceito de
"diferença". A noção de diferença de Derrida, por sua vez, está
vinculada a duas fontes principais:
principais: a concepção de Saussure de que
os sistemas lingüístic
lingüísticos
os são constituídos p or m eio da diferença e a
noção de diferença de Heidegger. A noção de  différence  [diferen-
ça], utilizada
utilizada po r Derrida pela primeira vevezz em
em 1959, evoluiu, d ez
anos mais tarde, para o conceito de  différance.
 différance,, como assinala o próprio Derrida (1981, p. 8-9),
A  différance
refere-se não apenas ao "movimento que consiste em diferir, por
adiamento, delegação, prorrogação, dilação, rodeio, retardo, re-
serva", mas também ao "desdobramento da diferença", da dife-
rença ôntico-ontológica que Heidegger destacou como sendo a
diferença entre o Ser  e os entes. Com o tal, a différance é vista deter-
m ina ndo os limite
limitess lilingüísti
ngüísticos
cos do sujeito.
Lyotard (1988), por outro lado, inventa o conceito de
différend   [diferendo], o qual, ele sugere, estabelece a própria
condição para a existência do discurso, ou seja, a de que "não
existe,, em geral, uma regra univer
existe universal
sal de jjulgam
ulgam ento que perm ita
decidir entre gêneros heterogêneos de discurso" (p. xi). xi). Ou , ain-
da, em outros termos, "não existe qualquer gênero cuja hege-
monia sobre outros possa ser considerada justa" (p. 158). Um
diferendo , tal com o Lyotard ( 198 8) o define, "é um caso de con-
flito, entre (ao menos) dois partidos, que não pode ser eqüitati-
vamente resolvido por falta de uma regra de julgamento aplicável
a ambos os argumentos" (p. xi).
Utilizamos a definição da "condição pós-moderna", de

Lyotard, paracom
pectivaa que
pectiv caracterizar o pós-estruturalismo
bina uma suspeita rela tivamentecomo
relativamente uma entos
a argum pers-
e pontos de vista transcendentais com uma rejeição das descri-
ções canônicas e dos vocabulários finais. Em particular, a "sus-
peita para com as metanarrativas" centra-se na questão da
legitimação na era  moderna
 moderna,,  na qual várias grandes narrativas têm
sido utilizadas para legitimar o poder do estado. Não existe qual-

quer
neutrodiscurso-mestre, qualquer discurso
ou que possa representar que poss
possa
uma síntese, a ser considerad
qualquer discursoo

 
que possa expressar qualquer suposta unidade ou universalida-
de epistemológica ou que permita decidir entre visões, asser-
ções ou discursos em conflito. A "virada lingüística 1 ' na filosofia
e nas ciências sociais do século XX impede qualquer posição de
neutralidade metalingüística ou qualquer privilégio epistemoló-
gico fundacional.
A última característica central do pós-estruturalismo, que to-

mamos
das de Foucault,
estruturas é a analíticaedoa poder,
de "saber-poder" ou das
denúncia seja,tecnologias
o diagnóstico
da
dominação. Para Foucault, o poder é produtivo. O poder está dis-
perso por todo o sistema social, estando estreitamente vinculado
ao saber.
saber. O poder é produtivo porq ue ele não é aapenas
penas repressi
repressivo,
vo,
mas também cria novos saberes - que podem não apenas oprimir,
mas tam bém libe
libertar
rtar.. Ele est
estáá disperso porqu e não está localiz
localizado
ado

em umfaz
poder único centro
parte como, por exemplo,
da constelação o Estado.o Além
de "saber-poder", disso, o
que significa
que o saber, no sentido das práticas discursivas, é produzido por
me io do exer
exercíc
cício
io do poder, a ser
serviço
viço do co ntrole do corpo .
 
5 - SÍNTESE

Nesta primeira parte argumentei que, embora haja sobrepo-


sições históricas e teóricas e semelhanças entre o pós-modernis-
mo e pós-estruturalismo, é possível estabelecer distinções entre
eles ao se examinar os dois movimentos em termos de suas res-
pectivas genealogias intelectuais, suas tra jetórias e aplicações teó-
ricas. Podemos perceber melhor essas diferenças quando
focalizamos os  objetos  a que, respectivamente, eles se referem - o
modernismo, no caso do pós-modernismo, e o estruturalismo,
no caso do pós-estruturali
pós-estruturalismo.
smo.

Argumentei
truturalismo também
francês, que oo desenvolvimento
durante final dos anos 50teórico
e durantedo es-
os
anos 60, levou à institucionalização de um megaparadigma
transdisciplinar
transdisciplinar que tinha co mo base o modelo da lingüísti
lingüística
ca estru-
tural, contribuindo para integrar  as hu man idades e as cciênci
iências
as soci
soci--
ais. O estruturalismo destacava-se, entretanto, por uma concepção
demasiadamente  cientificista.  Destaquei também que o estrutura-

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