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CAPITULO IV

ACIDEZ E CALAGEM DO SOLO

1. REAÇÃO DO SOLO

A reação do solo é uma das características que mais informa acerca do estado
geral e do comportamento do solo. Tal fato decorre da relação que existe entre a
reação do solo e várias de suas outras características químicas, físicas, físico-químicas
e biológicas. Esta relação de causa e efeito, com aspectos relacionados à gênese,
mineralogia e fertilidade do solo, entre outros, tem, em última análise, implicações no
seu manejo. Assim, a reação do solo constitui um dos tópicos mais importantes a ser
considerado em química e fertilidade do solo.
A reação do solo permite distinguir, a grosso modo, três grupos principais de
solos: ácidos, neutros e alcalinos. A maioria dos solos brasileiros, como os que
ocorrem nas áreas de Cerrado e da Zona da Mata em Minas Gerais, são ácidos e
pobres em nutrientes.
Os solos ácidos se caracterizam por apresentar, na sua maioria, elevados teores
de Al e Mn, chegando a afetar o desenvolvimento das plantas, com redução da sua
produtividade.
Para corrigir os efeitos negativos da acidez é necessária a calagem, prática que
tem dois objetivos fundamentais: correção da acidez do solo para diminuir ou até anular
os efeitos tóxicos das altas concentrações ou saturações por Al, Mn e, correção das
deficiências de Ca e Mg. Portanto, o uso de calcário é um dos pilares para se obter
maiores e melhores produções.

1.1. Conceito Ácido-Base


A compreensão do fenômeno da reação do solo, ou seja, seu caráter ácido,
básico ou neutro, requer, inicialmente, o conhecimento dos conceitos de "ácido" e de
"base". Antigamente, considerava-se como ácido toda substância capaz de, ao
dissociar-se, produzir íons H+, de acordo com a reação genérica:

Segundo a teoria eletrônica de valência mais atual, o efeito ácido de uma


substância deve-se à sua capacidade de doar prótons a moléculas de água para formar
íons hidrônio; ou seja:

1
Do mesmo modo, define-se base como substância que em solução aquosa
inoniza-se liberando como único tipo de ânion o íon OH−, ou como a substância que é
capaz de receber prótons da água dando origem a oxídrila (hidroxila).

Dependendo do grau de ionização (α, expresso em %) os ácidos e bases se


classificam em fortes, moderados e fracos:
N°de moléculas dissociadas
α= x 100 .
N° de moléculas dissolvidas
Quanto mais fraco o eletrólito α tende para um e quanto mais forte tende para
100.

Reagente Natureza α (%) Exemplo


Ácido Forte > 50 HCl
Moderado 5 – 50 H3PO4
Fraco <5 H2CO3
Base Forte 100 KOH, Ca(OH)2
Fraca <5 NH4OH

A acidez de uma solução é geralmente avaliada por meio do pH: ou seja,


determinando-se a atividade dos íons H+ De acordo com os conceitos de
eletroquímica, o pH é definido pela seguinte equação:
⎛ 1 ⎞
pH = log ⎜ ⎟ , que corresponde a pH = log 1 - log ( H + )
⎜ ( H+ ) ⎟
⎝ ⎠

pH = 0 - log ( H + ) e por fim pH = - log ( H + ) .


em que: (H+) = atividade do H+, em mol/L.
Para (H+) de 10−4 mol/L
pH = - log 10−4
pH = - (-4) log 10
pH = 4 × 1
pH = 4
O antilog de - (pH) é a (H+)
pH = 4

2
(H+) = antilog - (4)
(H+) = 10−4 mol/ L de H+
Para pH = 5,5
(H+) = antilog - (5,5)
(H+) = 10−5,5 = 3,16 × 10−6 mol/ L de H+
(H+) = 3,16 × 10−6 mol/ L de H+

O produto de solubilidade da água é dado por:

ou seja: (H+) × (OH−) = 10−14 , log


pH + pOH = 14.
Em condições neutras, para água pura pH = pOH = 7,0; o aumento da atividade
de H+ em solução determina valores de pH menores do que 7,0 e o aumento dos íons
OH− eleva o pH a valores maiores do que 7,0.
Portanto, o pH está relacionado com o equilíbrio entre os íons H+ e OH− na
solução. Quanto mais alto for o pH em que um ácido é neutralizado, tanto mais fraco é
o grupo ácido e mais forte é a ligação com o próton (H+). Em contraposição, os ácidos
fortes são neutralizados em pH mais baixo.

1.2. Fontes de Acidez no Solo


A acidez do solo deve-se à presença de diferentes grupos funcionais ou
compostos químicos capazes de cederem prótons. Por titulação, pode-se determinar a
quantidade de acidez proveniente das diferentes fontes, assim como a facilidade ou
não com que ela é neutralizada. Quanto mais alto for o pH em que ocorrer a
neutralização mais fraco é o grupo ácido e mais forte é a ligação entre o próton (H+) e
o "trocador". As principais fontes de acidez nos solos são de natureza trocável ou
ionizável:
As fontes tracáveis
São relacionadas com os grupos ácidos ou geradores de acidez, adsorvidos por
força eletrostática ao complexo de troca. São:
(a) íons H+, isto é hidrônio (H3O+) trocáveis que se dissociaram da superfície do
argilomineral. Esquematicamente a dissociação pode ser representada por:

3
Esta fonte de acidez é neutralizada a pH menor que 4,0, portanto sua efetiva
contribuição se faz em solos extremamente ácidos.

(b) íons Al3+ adsorvidos que estão em equilíbrio dinâmico com à solução do solo.. O
caráter ácido deve-se às reações de hidrólise do Al3+ hidratado em solução, conforme
mostra, de forma reduzumida, a reação:

Observa-se que para cada mol de Al3+ hidrolizado são produzidos três mols de
H3O+. Esta hidrólise processa-se, de fato em três etapas1, sendo que o Al3+
neutralizado em valores de pH entre 4,25 e 5,5. Observa-se então, que a contribuição
desta fonte de acidez expressa-se em uma maior faixa de pH. Além disso, ele se
constitui em uma importante fonte devido a sua abundância no compelxo sortivo dos
solos mais imtemperizados.
Entre pH 5,0 e 7,0 precipita Al(OH)3 que permanece estável até pH 9,0, quando
então se produz a dissociação e formação do ânion aluminato (Al(OH)4−), mas já a
partir do pH 5,5 não há mais atividade de Al3+, como demonstrado na Figura 1.

1
Etapas em que ocorre a hidrólise do Al3+

4
Figura 1. Distribuição relativa das espécies de alumínio em função do pH.

As fontes não trocáveis


Além do H+ retido de forma eletrostática ao complexo de troca, há no solo uma
grande grande quantidade de H ligado ao sistema coloidal de forma covalente2. Em
geral trata-se do H ligado de forma covalente ao oxigênio. O hidrogênio é removido

desta ligação apenas quando há um potencial de OH− , formando-se uma molécula de


água:

R-O:H + OH− R- O− + H2O


Os grupos Si-OH e Al-OH são formado nas bordas dos minerais de argila, onde
há exposição de Si-O e Al-O, das laminas de tetraedro e ocatédro, respectivamente,
dos minerais de argila.

Este grupos dissociam o hidrogênio em valores de pH maiores que 5,5.

As moléculas orgânicas apresentam radicais ácidos de superfície como é o caso


dos grupos carboxílicos (-COOH) e fenólicos (-OH). Tais grupos dissociam-se liberando
prótons (H+) na solução do solo, de acordo com as reações:

2
Ligação covalente resulta do compartilhamento de elétrons dos átomos envolvidos na
ligação. É, por conseguinte, uma ligação de maior estabilidade do que as ligações
iônicas.

5
Estas moléculas orgânicas compõem a matéria ogânica do solo mais estável,
constituida pelas frações ácidos fúlvicos, ácidos humicos e huminas. Ácidos orgânicos de
baixo peso molecular e outros compostos orgânicos também apresentam tais radicais.
Estes grupos dissociam o H desde pH 3,5 até valores de pH bastante elevado.
Esta fonte de acidez é de grande importância, devido intensa participação dos
colóides orgânicos na composição da fração argila dos solos, e devido a ampla faixa de pH
em que esta acidez é neutralizada.
Espécies químicas resultantes da hidrólise de Al3+ sofrem polimerização3
formando complexos.

[ ]
6 Al(H2O )4 (OH)2 +

Estes polímeros são formados e neutralizados a valores de pH elevado (>8,0) de


acordo com as reações, contribuindo como fonte de acidez nestas condições:

Ácidos Solúveis
Em decorrência da atividade microbiológica vários ácidos solúveis podem ser
produzidos no solo. A decomposição microbiana da matéria orgânica, por exemplo,
pode conduzir à formação de ácidos orgânicos solúveis que geralmente são ácidos
fracos e contribuem para a acidificação do solo.
Além disso, a mineralização de compostos orgânicos libera compostos de N e S
reduzidos que, ao sofrerem oxidação, podem liberar prótons na solução do solo, de
acordo com as reações:

3
É o processo químico por meio do qual moléculas, denominadas de monômeros, são
reunidas por meio de ligações covalentes, formando-se moléculas maiores e mais
complexas.

6
A oxidação do amônio também é responsável pela acidez gerada quando da
aplicação de fertilizantes como (NH4)2SO4 e NH4NO3, acidez que é tanto maior quanto
as doses são cada vez mais elevadas.
Vale salientar, ainda, que a oxidação biológica de compostos orgânicos produz
CO2, o qual reage com água para formar ácido carbônico, que se dissocia liberando
prótons (H+), de acordo com as reações:

1.3. Fontes de Alcalinidade no Solo


De acordo com o conceito de base, todas aquelas substâncias capazes de
originar íons OH− por reação com a água constituem fontes de alcalinidade no solo.
Este é o caso dos metais alcalinos e alcalino-terrosos (grupos I-A e II-A da tabela
periódica). Quando cátions metálicos como K, Na, Ca e Mg predominam no complexo
de troca, eles podem influenciar a concentração de íons OH− (ou H3O+) na solução do
solo, de acordo com o equilíbrio:

Portanto, e de modo geral, quanto maior for a participação dos elementos


alcalinos e alcalino-terrosos (denominados de "bases trocáveis") no complexo de troca,
maior será o pH do solo.
Isso, contudo, não significa que, a adição desses elementos ao solo deverá
aumentar o pH. Nessa situação, a reação do solo dependerá do ânion acompanhante,
como será visto mais adiante. Caso este ãnion seja carbonato o pH tende a aumentar;
mas se for sulfato, cloreto e nitrato o pH do solo não será alterado. Se for o sulfato
ocorrerá um ligeiro abaixamento de pH se houver adsorção deste ânion e a troca do
cátion acompanhante deslocar íons H+ ou Al3+ da superfície das argilas.
Deve-se ter em mente que os solos, geralmente, comportam-se como ácidos
fracos e os metais alcalinos tendem a formar bases fortes. Portanto, em condições de
pH neutro, sais formados por esses cátions com ânions provenientes de ácidos fracos
tendem a se dissociar havendo recomposição parcial do ácido, uma vez que o ânion
captura prótons do meio. Ex:

7
Assim sendo, pode-se considerar que a fração coloidal do solo, negativamente
carregada, comporta-se como o ânion de um ácido fraco.
Vale salientar que no processo natural de evolução do solo, os metais alcalinos
e alcalino-terrosos fazem parte dos minerais primários, cujo intemperismo consome
prótons do meio liberando esses cátions (bases trocáveis) na solução, os quais podem,
então, ser adsorvidos pela fase sólida.
Quanto maior a quantidade de bases trocáveis maior a saturação por bases (V)
e concomitantemente maior o valor do pH do solo, pois existe estreita correlação entre
pH e V.
Os solos com elevada alcalinidade incluem os solos salinos, solos sódicos e
salino-sodico. Nos solos salinos a elevada concentração de sais afeta o crescimento
das plantas. Apesar da alta concentração de sais, o Na ocupa menos que 15% da CTC
a pH 7,0, e têm pH entre 7 e 8,5. Os solos sódicos têm mais de 15% da CTC satruada
por Na. Além dos impedimentos ao crescimento das plantas, são solos com elevado
grau de dispersão. O pH desses solos é superior a 8,5. Os solos salino-sódico são
semehantes ao salinos, mas com teores de Na que saturam mais de 15% da CTC. O
pH destes solos é menor que 8,5.

1.4. Causas da Acidificação Progressiva dos Solos


A acidificação dos solos ocorre, de modo especial, em regiões tropicais úmidas e
deve-se à substituição das "bases trocáveis" por íons H+ e Al3+ no complexo de troca.
Esta substituição resulta da percolação da água lixivinado bases trocávaeis, absorção
de cátions básicos pelas plantas e, também, pelo uso de fertilizantes de caráter ácido.
Sob condições de alta precipitação plúvial, a percolação da água através do
perfil possibilita a lixiviação de uma grande quantidade de cátions básicos que se
encontram na solução do solo.
Com aumento de pH, o Al e o SiO2, geralmente, não permanecem em solução,
mas precipitam na forma de alumino-silicatos (ex. caulinita) ou de óxidos de Al (ex.
gibbsita), restando apenas os cátions básicos na solução do solo (ou na forma trocável)
em quantidades apreciáveis. Posteriormente, esses cátions de caráter básico (Na+, K+,
Ca2+, Mg2+) vão sendo substituídos (em razão da lixiviação e absorção pelas plantas),
por íons H+ e Al3+ no complexo de troca do solo. Deve-se salientar que os íons H+
estão sendo continuamente produzidos no solo, seja pela mineralização de compostos
orgânicos e produção de CO2, seja pelo intemperismo dos silicatos de Al que libera
Al3+ em solução.

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A absorção de bases trocáveis pelas plantas é importante, particularmente
naqueles solos com utilização agrícola intensiva, sendo o mecanismo mais importante
de substituição das bases por ácidos no complexo de troca dos solos utilizados na
agricultura.
Nos solos também são produzidos ácidos como HNO3 e H2SO4 pelo uso de
certos sais como fertilizantes.
O conjunto desses fatores conduz, portanto, à acidificação progressiva dos
solos, particularmente em regiões tropicais com precipitações que favoreçem a
percolação e lixiviação.

1.5. Componentes da Acidez do Solo


As fontes de acidez trocável (H+ e Al3+) e não trocável (:H) adsorvidos à fração
argila, e que estão em equilíbrio com a asolução do solo, assim como, outras fontes
geradoras de acidez no solo, caracterizam o fator quantidade (Q). São formas
trocáveis, dissociáveis ou solúveis à medida que se neutraliza o H+ da solução do solo.
O fator intensidade (I) refere-se a atividade (concentração efetiva) do H+ na
solução do solo.
Já foi demonstrado em capítulo anterior que, a relação entre os fatores
quantidade e intesidade define o fator capacidade, que para a acidez é a capacidade
tampão de acidez (CTH). Assim, a acidez do solo é resultante do equilíbrio entre os
fatores intensidade, quantidade e CTH.
A CTH é definida como a "resistência que os solos apresentam a mudancas de
pH, sendo determinada pelas características do complexo de troca catiônica. Quando
pequena quantidade de ácido ou de base é adicionada ao solo, este tende a neutralizar
os íons H+ ou OH− e manter pH original do solo. O poder tampão, também pode ser
definido como sendo a quantidade de base necessária para elevar em uma unidade o
pH do solo, por exemplo para elevar de 5 para 6 o pH do solo. Entretanto, se deve
lembrar que as curvas que relacionam pH com calagem são curvilineares, portanto, a
quantidade necessária para elevar em uma unidade o pH vai depender do intervalo
considerado (Figura 2).

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Figura 2. Curvas de neutralização com CaCO3 de amostras de solos.
Fonte: Raij et al. (1979).

Assim, pode-se concluir que, de modo geral, os solos se comportam como


ácidos fracos, cujo potencial de reposição dos íons H+ na solução é muito superior à
atividade desses íons em solução.

1.6. Determinação da Acidez do Solo

De acordo com a oriegem da acidez definem-se os conceitos de acidez ativa,


acidez trocável e acidez potencial dos solos.
A acidez ativa refere-se à atividade dos íons H+ (H3O+) em solução, que é
medida pelo pH. A acidez trocável mede a quantidade de H+ e Al3+ e, também, Mn2+
adsorvidos às micelas em forma eletrovalente. A acidez potencial refere-se à
quantidade de formas trocáveis e não trocável, que compreende o H ligado de forma
covalente à fração argila. A acidez não trocável determina-se pela diferença entre a
acidez potencial e a acidez trocável.

Acidez Ativa
A acidez ativa é determinada pelo pH do solo, que de fato corresponde ao pH da
soluça odo solo.

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O pH do solo varia com a precipitação pluvial, com o manejo do solo, e
especialmente com as adubações, portanto é fortemente afetado pela época de
amostragem do solo e, ainda, pelo método de preparo das amostras.
Para determinar a acidez ativa existem métodos titulométricos e
potenciométricos. Os titulométricos utilizam soluções indicadoras ou fitas de papel
impregnadas por estes indicadores que mudam de cor de acordo com o pH da solução.
São úteis para determinações de campo porém são menos exatos do que os métodos
potenciométricos. Em laboratório utiliza-se a medição potenciométrica da atividade dos
íons H+ usando um eletrodo específico de hidrogênio. Os métodos potenciométricos
mais comuns são:
a) determinação do pH em suspensão do solo com água, sendo a relação solo:
água de 1:1 ou 1:2,5;
b) determinação do pH em suspensão do solo com KCl 1 mol/L, sendo a relação
solo: solução de 1:1 ou 1:2,5;
c) determinação do pH em suspensão do solo com CaCl2 10 mmol/L, sendo a
proporção solo: solução de 1:1 ou 1:2,5.
Os valores de pH em água geralmente apresentam maior variabilidade entre
repetições, devido a presença de sais solúveis. A adição de eletrólito (KCl ou CaCl2)
diminui essa variabilidade, por uniformizar a concentração salina.
A determinação do pH é influenciada por alguns fatores como:
a) Efeito de diluição - com a diminuição da relação solo: água, verifica-se em
solos ácidos um aumento no pH da suspensão. Isso tem sido atribuido ao menor
contato entre o eletrodo e as partículas do solo e à hidrólise crescente dos cátions
trocáveis pela diluição.
b) Efeito de suspensão - também em solos ácidos o pH de uma suspensão de
solo com água, após um certo período de repouso, geralmente diminui com a
profundidade em que é imerso o eletrodo. Isso deve-se a uma "diferenciação" das
suspensões com a profundidade, que permite distinguir, a grosso modo, três porções:
(1) líquido sobrenadante, (2) partículas finas em suspensão e (3) partículas de solo
sedimentado no fundo do recipiente. A diminuição do pH, com a profundidade, decorre
do maior contato entre o eletrodo e as partículas do solo. Esse efeito é minimizado pela
agitação das suspensões imediatamente antes da leitura de pH.
c) Efeito de sais solúveis - de modo geral, em solos eletronegativos, o pH
diminui com o aumento da concentração salina da solução, em razão da troca catiônica
que se verifica entre o cátion do sal e os íons H+ e Al3+ do complexo de troca:

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Em solos eletropositivos, o efeito é contrário, em razão da troca entre o ânion do sal e
hidroxilas da superficie das argilas.
Para determinar se o solo é eletronegativo ou se é eletropositivo se estiva o valor ∆
pH:
∆pH = pHKCl - pHH2O
Se o valor ∆pH é negativo em solos eletronegativos, e é positivo em solos eletropositivos.
Em solos salinos, a presença de sais solúveis na determinação de pH,
provavelmente diminui a hidrólise dos cátions básicos; ou seja, limita a reação:

e, portanto, o pH diminui com o aumento da concentração salina da suspensão. Em


solos neutros ou próximos à neutralidade, o pH é pouco afetado por soluções de sais
neutros.
d) Efeito do CO2 - com o aumento da pressão parcial de CO2, diminui o pH do
solo, de acordo com o equilíbrio:

As amostras de solo são secas antes da determinação do pH, assim, o valor


obtido em laboratório poderá ser superior àquele que as plantas encontrariam no solo.
Isso porque, a pressão de CO2 em condições naturais do solo é, geralmente, maior do
que a pressão do CO2 no ar atmosférico.
e) Efeito redox - a oxidação de certas substâncias, particularmente compostos
de Fe e de Mn, pela secagem do solo pode diminuir o pH. Da mesma forma, o uso de
amostras cada vez menores pode aumentar o pH medido.

Desta forma, as determinações do pH em KCl e em CaCl2 apresentam algumas


vantagens em relação ao pH em água, tais como:
- apresentam menor suscetibilidade ao efeito de diluição;
- o efeito de sais solúveis (que podem se formar pela oxidação da matéria
orgânica, durante a secagem das amostras) é mascarado pelos eletrólitos da solução e
tem pouca influência no resultado;

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- a quantidade de eletrólitos na solução de CaCl2 10 mmol/L é similar àquela da
solução do solo, de solos de CTC elevada, mas é elevada para solos de Cerrado.
Entretanto o pH em água reflete melhor a realidade para os solos ácidos e é
utilizado na maioria dos laboratórios de avaliação da fertilidade do solo no País.
As classes de interpretação para a acidez ativa do solo (pH em água, relação
1:2,5),são:
Muito baixo Baixo Bom Alto Muito alto

4,5 4,5 − 5,4 5,5 − 6,0 6,1 − 7,0 > 7,0

A qualificação bom indica acidez adequada para a maioria de culturas e muito baixo
,baix0, alto e muito alto, acidez inadequada.
A freqüencia de solos ácidos no Brasil é elevada, como se demonstra om uma
amostra de 500 solos analisdos no Laboratório de Fertilidade do Solo do Departamento
de Solos da UFV:

pH % pH %
≤ 5,0 48,0 ≤ 5,5 78
5,1 − 5,5 30,2 ≤ 6,0 97
5,5 − 6,0 19,2
> 6,0 2,6

Acidez Trocável
A acidez trocável é definida pelo H+ e o Al3+ adsorvidos às cargas negativas
permanentes e às dependentes de pH até pH do solo.
Para determinar a acidez trocável se utiliza como extrator a solução de KCl 1 mol/L.
Solução não tamponada, pois é formada de um sal neutro, que pelo excesso de K+ extrae,
por troca, H+ e Al3+ retidos nas micelas por forças eletrovalentes.

Para sua determinação 10 cm3 de TFSA são agitados com 100 ml de KCl 1 mol/L
durante 5 min, deixa-se decantar por 16 h, retira-se alicuota do sobrenadante e se titula, na
presença de fenolftaleína, com solução de NaOH 50 mmol/L.
Como em muitos solos o teor de H+ trocável é muito pequeno se indica o
resultado de acidez trocável como sendo o teor de Al3+ trocável. Entretanto, em solos

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muito ácidos ou com altos teores de matéria orgânica o teor de H+ pode ser
importante, pode até ser maior que o teor de Al3+.
A toxidez causada por elevados teores de Al3+ depende não só de seu teor, mas
deste em relação a CTC efetiva do solo, que é a saturação por Al3+ (m).
As classes de interpretação para a acidez trocável (Al3+) e a saturação por Al3+
(m) são:

Característica Muito baixo Baixo Médio Alto Muito alto

Al3+ (cmolc/dm3) ≤ 0,20 0,21 − 0,50 0,51 − 1,00 1,01 − 2,00 > 2,00
m (%) ≤ 20,0 20,1 − 40,0 40,1 − 60,0 60,1 − 80,0 > 80,01

A qualificação muito baixo e baixo indica para a maioria de culturas acidez adequada e
médio, alto e muito alto inadecuada.

Acidez Potencial
Existem varias denominações inadequadas para este tipo de acidez, tais como:
acidez titulável, não trocável, dependente do pH e residual.
Utiliza-se como extrator uma solução tamponada: Ca(OAc)2 0,5 mol/L, pH 7. Na
determinação da acidez potencial, extrae-se a acidez ativa, a acidez trocável e a acidez
não trocável, isto é: H dissociável de ligações covalentes até o pH 7, que é
tamponamento da solução Ca(OAc)2. Assim, ela se expressa pelos teores de (H+AL).
Para solos alcalinos determina-se acidez potencial a pH 8,5. As reações envolvidas na
determinação da acidez potencial são mostradas no equema a seguir:
Al 3/2 Ca
+ Al3+
X R-COO:H + (X+Y+3)/2 Ca(OAc)2 → X R-COO X/2 Ca + (X+Y+3) OAc−
+
+ (X+Y) H
Y R-O:H Y R-O Y/2 Ca

O H+Al também pode ser deteminado por meio potenciométricamente usando a


solução tampão SMP (que será visto como um dos métodos para estimar a
necessidade de calagem). Este método fundamenta-se na correlação entre o teor de
(H+Al) determinado pelo méodo do Ca(OAc)2 0,5 mol/L, pH 7 e o pH da solução SMP
que é tampnada a pH 7,5. O método requer o estabelecimento de curava de calibração
para grupos de solos a partir da qual estima-se o (H+Al) medindo-se o pH da solução
SMP após equilibrada com o solo. Quaggio (1983),para solos de São Paulo com ampla

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variação dos valores de CTC, matéria orgânica e argila obteve a equação para estimar
H+Al em base ao valor de pHSMP:
ln y = 7,76 - 1,053** x R2 = 0,96
onde y é H+Al (em cmolc/dm3) e o x é o pHSMP.
Para solos de Minas Gerais, também de ampla variação na mineralogia e nos teores de
argila e matéria orgânica, Oliveira4 obteve a equação:
ln y = 8,01 - 1,102** x R2 = 0,99

A diferença entre a acidez potencial e a acidez trocável permite estimar a acidez


não trocável, que é a acidez dependente do incremento do pH. A acidez não trocável
refere-se à acidez do solo que é neutralizada pela adição de materiais alcalínos, mas
que não pode ser extraida por uma solução de sal neutro. Como já foi ressaltado,
Inclue o H presente de forma abundante nos colóides orgânicos em ligações
covalentes e o H liberado da hidrólise de polímeros de Al. O valor de H+Al pode ser
considerado uma medida da CTH, e tem estreita correlação positiva com o teor de
matéria orgânica e o teor de argila no solo.
As classes de interpretação da acidez potencial (H+Al, cmolc/dm3) são:
Muito baixo Baixo Médio Alto Muito Alto

≤ 1,00 1,01 – 2,50 2,51 – 5,00 5,01 – 9,00 > 9,00

Para captar o real significado das medidas de acidez é necessário calcular


quanto de CaCO3 seria adicionado ao solo para neutralizar os diferentes tipos de
acidez.
Por exemplo, um solo que tem pH 4,8 e está a capacidade de campo (CC).
Assumindo-se a CC = 300 g/kg de H2O e densidade aparente = 1,1 kg/dm3 este solo
terá 660.000 L/ha de solução. O pH 4,8 corresponde a atividade de H igual a 10-4,8, que
é 0,00001585 mol/L ou 15,85 µmol/L de H+. Considerando-se o volume de solução em
um hectare, tem-se 10,46 mol/ha. Cada mol de H (corresponde a 1 molc) será
neutralizado por um molc de CaCO3, que tem a massa de 50 g/molc. Assim, serão
necessários 523 g/ha de CaCO3 para neutralizar esta acidez.
Se esse solo tem acidez trocável (Al3+) igual a 1,2 cmolc/dm3 e acidez potencial
(H+Al) igual a 7,7 cmolc/dm3 será necessário adicionar, teoricamente na camada

4
Jairo A. Oliveira. Informação pessoal obtida com dados de análises realizadas no
Laboratório de Fertilidade do Solo do DPS/UFV.

15
superficial de 0 a 20 cm, 1,2 t/ha de CaCO3 5 para neutralizar a acidez trocável, e será
necessário adicionar 6,5 t/ha da CaCO3 para neutralizar a acidez não trocável o que
significa adicionar 7,7 t/ha de CaCO3 para neutralizar a acidez potencial:

1.7. Problemas Causados pela Acidez do Solo


Dos elementos componentes da acidez do solo, o H é essencial, ou seja, as
plantas necessitam dele para seu crescimento, entratanto, o H é absorvido na forma de
água da soluçào do solo, os outros, o Al e o Mn, são elementos que em excesso são
tóxicos. Assim, para o estudo dos prejuízos da acidez dos solos deve-se considerar os
efeitos diretos e indiretos da acidez, principalmente devido a acidez ativa (pH) e o efeito
do excesso de Al e Mn.

Efeitos Diretos e Indiretos do pH (atividade de H)


Segundo Malavolta (1985), Arnon e Johnson desenvolveram um trabalho, que foi
clássico para verifivar o efeito direto do pH utilizando tomateiro, alface e grama
bermuda, e concluíram que:
1. Em valores extremos de pH as plantas morrem ou apresentam acentuada
diminuição do crescimento.
2. A pH 3,0 a absorção de macronutrientes caiu drásticamente (competição com
H+), tendo havido, em alguns casos, perda de P, K e Mg. No pH 9,0 houve acentuada
queda na absorção de P (competição com OH−).
3. A pH 4,0 houve, devido ao Ca, diminuição do prejuízo. O Ca estimula a absorção
de K e, aparentemente, diminui a competição do H+ com os demais cátions.
4. O crescimento máximo foi verificado entre pH 6 a 7.

Como efeito indireto do pH está o relacionamento da atividade de H+ alterando


a solubilidade dos demais nutrientes no solo (Figura 3), principalmente a dos
micronutrientes, que em demasia tornam-se tóxicos às plantas.

5
Será demonstrado posteriormente que para uma camada de 0-20 cm de solo cada
cmolc/dm3 de acidez será neturalizada por uma tonelada de CaCO3, reagente puro
para análise, finamente moído e com poder de neutralização de 100%

16
CLORO

Figura 3. Disponibilidade de nutrientes de acordo com o pH do solo

Para fins práticos, considera-se na literatura internacioanal que a faixa de pH


entre 6,0 e 6,5 é a mais adequada para a maioria das culturas. Entretanto, para as
condições tropicais, como no Brasil, considera-se que, em geral, a faixa ideal para a
maioria das culturas está entre 5,7 e 6,0 (Figura 3).
A forma como o pH afeta a disponibilidade dos nutrientes se indica
resumidamente a seguir:
a) Nitrogênio
A disponibilidade aumenta devido ao efeito favorável à mineralização da matéria
orgânica.
b) Fósforo
A disponibilidade de P aumenta e depois diminui pela diminuição da acidez e
aumento de OH- na solução do solo.
a) em solos ácidos

b) em solos alcalinos

c) Enxofre
17
O SO42− adsorvido pelos óxidos de Fe e de Al é liberado pela elevação do pH.
A decomposição da matéria orgânica, liberando S, é favorecida pela elevação
do pH.
d) Potássio, Cálcio e Magnésio.
a) Nenhum efeito direto do pH.
b) Efeito indireto, com a lixiviação ocorre diminuição das bases e o aumento da
acidez. Pelo contrário, o aumento da CTC dependente do pH faz com que a lixiviação
destes cátions diminua.
e) Ferro, Manganês, Cobre e Zinco
A disponibilidade destes micronutrientes catiônicos diminui pelo aumento de OH−
na solução do solo.

f) Boro
a) Abaixo de pH 7,0 há pouco efeito sobre a disponibilidade do B, em condições
do pH do solo o ácido bórico não se dissocia.
b) Há decréscimo na solubilidade acima de pH 7,0

O B(OH)4- é adsorvido por troca de ligantes com OH-.

g) Molibdênio e Cloro
O MoO42− é fortemente adsorvido pelos óxidos de Fe e de Al e é deslocado pelo
OH− ao elevar-se o pH do solo. A mesma tendência se observa para Cl−, mas o mesmo
é fracamente adsorvido no solo.

Alumínio em Solos Ácidos


O alumínio, conforme já discutido, constitui importante componente da acidez
dos solos. A reação de hidrólise do Al3+ em solução contribui significativamente para a
capacidade tampão do pH dos solos. Além disso, o Al e o Mn quando presentes em

18
altas concentrações no solo podem ser tóxico às plantas, constituindo uma das
principais limitações agrícolas em solos ácidos.
De acordo com os equilíbrios químicos já estudados nos capítulos precedentes,
a atividade do Al3+, e demais espécies de sua hidrólise, depende basicamente do tipo
de mineral presente na fase sólida e do pH do solo. Em solos ácidos, com predomínio
de argilas de 1:1 (caulinita) e óxidos (gibbisita) na fração argila, a atividade do Al3+ em
solução pode ser bastante elevada. A solubilidade do Al diminui com o aumento do pH,
conforme mostra a figura 1.
Verifica-se que a valores de pH acima de 5,5 – 6,0 (até 8,0), a solubilidade do
Al3+ é mínima. Esta é uma das razões pelas quais a correção de solos ácidos é feita de
modo a se atingir um pH de, pelo menos, 5,5.
Entre pH 5,5 e 6, em certos solos, pode ter-se ainda elevada disponibilidade de
Mn, exigindo que a correção da acidez chegue até pH 6, pelo menos.
Com relação à fertilidade dos solos, o Al em concentração elevada, além de
poder ser tóxico às plantas, pode interferir na disponibilidade de outros nutrientes. O
exemplo mais típico desse efeito refere-se à solubilidade do fosfato no solo. O fosfato
tende a reagir com o Al solúvel, formando fosfatos de alumínio de baixa solubilidade
em solos ácidos.

Saturação por Alumínio e Crescimento de Plantas


A elevada acidez de grande parte dos solos tropicais condiciona uma alta
atividade do Al na solução do solo, deficiência de Ca, Mg e P, além da toxidez por Mn.
O Al tem sido tradicionalmente considerado um elemento problema para o
crescimento de grande número de culturas, causando impedimento químico no subsolo
para o crescimento de raízes. A elevada saturação por Al (m), neste caso, seria um
problema para o crescimento normal do sistema radicular.
Entretanto há plantas que sobrevivem e até se desenvolvem bem em ambientes
ácidos. Também existe diferenças muito grandes de tolerância ou resistência a
condições ácidas entre espécies e mesmo entre variedades.
Já foi dito que, em termos de acidez, a chamada acidez trocável se confunde
com o Al trocável. A percentagem de saturação de Al, neste aspecto, é também uma
boa maneira de se avaliar a acidez do solo. O trabalho de Gonzalez Erico (1976)

19
demostra que acima de pH 5,4, os níveis de saturação de Al (m) foram inferiores a 10
% na camada de 0 - 15 cm.
A concentração de Al na solução do solo depende do pH do solo, da saturação
por Al, teor de matéria orgânica e presença de outros íons na solução do solo.
Considera-se que 2 mg/L de Al3+ na solução seja um nível tóxico para muitas plantas
cultividas, sendo que esta concentração pode ocorrer a pH 5,0. Entretanto, em pH 6,0
já não se observa Al3+ em solução.
A forma de Al presente na solução do solo depende do pH, como se pode
observar no esquema que se segue e na figura 1.
Em termos de efeitos negativos ao crescimento das plantas, o efeito primário da
toxicidade de Al se faz sentir no sistema radicular.
Os principais sintomas que podem ser observados no sistema radicular são:
- raízes caracteristicamente curtas ou grossas;
- inibição do crescimento das raízes, que se tornam castanhas;
- raízes laterais engrossadas e pequena formação de pêlos radiculares;
- observa-se também, predisposição da planta injuriada a infecções por fungos,
entretanto, também há casos em que o Al3+ controla certas doenças fungicas das
raízes.
Como efeitos citológicos, pode observar-se:
- inibição da divisão celular, com a conseqüente inibição do alongamento celular;
- ruptura das células do periciclo.
Também, como efeitos fisiológicos e bioquímicos, têm-se:
- aumento na viscosidade do protoplasma das células das raízes com
conseqüente decréscimo da permeabilidade à água, sais e corantes;
- redução na habilidade de uso de sacarose para a formação de polissacarídeos
nas paredes celulares;
- inibição de desidrogenase isocítrica, enzimas málicas, redução na fosforilase
de açúcares, respiração e síntese de DNA;
- efeito na absorção e utilização de nutrientes, principalmente Ca e P.

Tolerância ao Alumínio
Por meio da evolução natural, ou por meio de melhoramento genético controlado
algumas plantas carcterizam-se por apresentar tolerância ao alumínio. Os mecanismos
de tolerância ou resistência das plantas e elevadas concentraçõe de Al são:

20
- Não absorvem Al, pois apresentam capacidade de manter o Al fora do
metabolismo da planta, por processos de complexação do Al com ácidos orgânicos e
por precipitação de Al(OH) pela maior extrusão de OH- da rizosfera
3

- Não translocam Al para a parte aérea, porque mantem a sua capacidade de


absorver P e Ca, mesmo na presença de elevada absorção de Al.
Tem espécies com elevada capacidade de manter uma adequada partição de C
para formar novas raízes absorventes.
A determinação tão somente do peso de raízes não é uma medida adequada
para avaliar o efeito da calagem na redução do Al trocável do solo e,
conseqüentemente, no crescimento das raízes. Seria interessante, na avaliação do
efeito da calagem na redução do teor de Al, a determinação do comprimento das
raízes, bem como dos percentuais de “raízes finas” e “raízes grossas” (Dias et al.,
1985). Vale salientar que, às vezes, se confunde o efeito de deficiência de Ca com
toxicidade de Al, bem como redução do Al com suprimento de Ca.
O Al parece ter efeito negativo sobre a absorção e translocação de Ca (Johnson
& Jackson, 1964). A aplicação de Ca foi mais favorável ao crescimento radicular,
especialmente de raízes finas, que da parte aérea das plantas de milho (Silva et al.,
1993).
Com relação ao P, o Al tem efeito no solo e na planta. Observa-se,
freqüentemente, plantas deficientes em P vegetando em solos com altos teores de Al.
Nas plantas, pode ocorrer precipitação do P nas superfícies celulares ou no espaço
livre aparente.
Em outro estudo, realizado por Foy & Brow (1963), utilizando solução nutritiva,
as plantas de algodão exibiram sintomas de deficiência de P na presença de Al, a um
pH igual a 5,0. O aumento da concentração de P na solução pode restringir o efeito de
Al. Porém, tal efeito em solos altamente intemperizados, como é o caso de grande
parte dos solos brasileiros, é inviável economicamente, dada a grande capacidade de
adsorção de P destes solos.
Convém ressaltar que existem diversas espécies de plantas com alta tolerância
de Al, e para as quais a correção do solo não se faz necessária. Como exemplo deste
grupo de plantas, destacam-se diversas espécies do gênero Eucalyptus. Neves et al.
(1982), trabalhando com quadro espécies desse gênero em solução nutritiva,
submetidas a doses de Al que chegaram até a 81 mg/L, classificaram-nas na seguinte
ordem crescente de tolerância ao Al: E. cloeziana < E. grandis < E. paniculata < E.
urophylla. Neste estudo, o E. cloeziana foi a única espécie a transportar maior

21
quantidade de Al para a parte aérea e teve o seu conteúdo de P nesta parte e nas
raízes reduzido a valores mínimos para as maiores concentrações Al em solução. O
efeito da toxidez do Al no E. cloeziana parece estar ligado a absorção e, ou, transporte
de P.

Alterações de pH na Rizosfera6
As alterações na rizosfera, são de impotante para entender os mecanismos de
adaptação das plantas, entre eles à altos teores de alumínio. Algums aspectos sobre
tais alterações serão abordados a seguir.
Ao se avaliar o pH da rizosfera pode ser encontrado um valor diferente daquele
obtido para o solo. A diferença, que pode vir a ser superior a duas unidades (Hedley et
al., 1982), é determinada por fatores relativos à própria planta e,ou, ao solo.
Dentre os fatores, relativos à planta, responsáveis pela mudança de pH da
rizosfera, destacam-se a extrusão de H+ ou de HCO3-, respiração radicular e liberação
de exsudatos radiculares, como ácidos orgânicos, aminoácidos, açúcares, fenóis, etc.
Naturalmente, observa-se que as plantas raramente absorvem quantidades
equivalentes de cátions e de ânions, o que condiciona a duas situações: ou as raízes
absorvem, em dado tempo, um excesso de ânions em relação a cátions, ou vice-versa.
A necessidade de manutenção de um equilíbrio eletroquímico entre as raízes e a
rizosfera e uma constância de pH intracelular, conduz a mecanismos compensatórios.
Assim, o balanço na absorção iônica deve ser compensado pela simultânea extrusão
de H+, quando em situações de predomínio na absorção de cátions, ou de OH- ou
HCO3- ou RCOO-, quando existe predomínio na absorção de ânions (Sonn & Miller,
1977).
De maneira geral, para solos de boa porosidade, a liberação de CO2, via
respiração radicular ou de microrganismos, não provoca significativas alterações no pH
da rizosfera. A difusão de CO2 pelos poros do solo dá-se de maneira rápida (Nye,
1986). Da mesma forma, grandes mudanças de pH da rizosfera induzidas por
exsudatos de baixo peso molecular podem ser considerados mais como exceção do
que regra (Marschner, 1991).

6
Volume de solo em torno da raíz, que sofre influencia de sua atividade, pormeio da
absorção do nutrientes e excreções de vários produtos de seu metabolismo.

22
Dentre as práticas de manejo cultural, a adubação nitrogenada talvez seja
aquela que pode conduzir a maiores alterações no pH da rizosfera. Considerando-se
que o nitrogênio seja preferencialmente absorvido como nitrato, a planta passa a
absorver mais ânions do que cátions, resultando em maior extrusão de OH- e em
valores de pH de rizosfera mais altos que o do solo não rizosférico. Assim, a absorção
de N-NH + promove o efluxo de H+, enquanto a absorção de N-NO - promove o efluxo
4 3

de HCO3- (Nye, 1986).


Em plantas que apresentam associação simbiótica com microrganismos
fixadores de N2 atmosférico, a principal origem do nitrogênio é o molecular (N2), o que
resulta em desbalanço na proporção de cátions/ânions devido a maior absorção de
cátions. Conseqüentemente, observa-se liberação de H+ em intensidade proporcional
ao desbalanço.
Alterações no pH da rizosfera podem resultar em efeitos benéficos ou maléficos
no crescimento de plantas. Em solos alcalinos e neutros o aumento no pH conduz a
menor disponibilidade de nutrientes como o Fe, Mn, Cu e o Zn. Em solos ácidos o
aumento do pH da rizosfera pode resultar em decréscimo da atividade do Al no solo,
sendo este fato considerado como um dos mecanismos de adaptação do vegetal à
condições adversas do solo (Foy et al., 1965).
Da mesma forma, é possível prever que o abaixamento do pH da rizosfera pode
resultar em maior solubilizaçâo de fosfatos naturais utilizados como fertilizantes e,
assim, aumentar a disponibilidade do nutriente para a planta.
Em função do que foi apresentado é importante relacionar o conceito de
calagem com as alterações de pH na rizosfera. Como situar os métodos de avaliação
da necessidade de calagem neste contexto? Para determinadas situações de espécie,
de solo e de adubaçâo estar-se-ia promovendo subcorreções ou supercorreção da
acidez do solo?
Independente das circunstâncias que podem condicionar aumento ou diminuição
do valor de pH da rizosfera, não se pode deixar de lado que a magnitude desta
variação certamente está, também, relacionada com a capacidade tampão da acidez
do solo. Em solos com altos teores de matéria orgânica e de argila, espera-se que
estas alterações de pH sejam de menor magnitude.
Em condições de campo tem-se observado situações que muitas vezes passam
despercebidas. É curioso notar que na prática, particularmente a soja e não o milho ou
o trigo, tem se mostrado muito sensível ao excesso de Mn, como esta planta fosse
mais sensível aos excessos deste nutriente ou que ela tivesse mecanismos que

23
proporcionassem maior solubilidade do Mn, possivelmente, na rizosfera. Igualmente
curioso é o fato da soja, em sua fase inicial de crescimento, sensível à deficiência de
Mn em solos que receberam calagem excessiva, ter o problema visualmente corrigido
com o crescimento da planta (Novais et al., 1989).
E finalmente, uma dúvida comum àqueles que pesquisam e cultivam solos de
cerrado: por que a deficiência de Zn e tão mais comum e intensa em milho e arroz, por
exemplo, do que na soja, nas mesmas regiões de cultivo?
A solução destas questões certamente baseiam-se nas alterações no pH da
rizosfera de plantas fixadoras de N, como a soja. Estas parecem execer papel
fundamental na absorção de micronutrientes que têm sua disponibilidade altamente
dependente de alterações do pH do solo, particularmente daquele rizosférico.

2. Correção da acidez do solo

O avanço da agricultura tem-se dado principalmente em direção a região dos


cerrados, que possuem solos característicos dotados de boas propriedades físicas,
topografia favorável, mas propriedades químicas inadequadas, tais como elevada
acidez, altos teores de Al trocável e deficiência generalizada de nutrientes,
especialmente de Ca, Mg e P.
Solos dessa natureza, uma vez corrigidos quimicamente, apresentam grande
potencial agrícola, possibilitando uma agricultura tecnificada com boas produtividades.
Como efeito do uso de calcário tem-se, além da correção da acidez do solo, o
estímulo à atividade microbiana, a melhoria da fixação simbiótica de N2 pelas
leguminosas e, ainda, o aumento da disponibilidade da maioria de nutrientes para as
plantas.
A calagem é, então, prática fundamental para a melhoria de ambiente radicular
das plantas e talvez a condição primária para ganhos de produtividade nos solos. Já se
afirmou por diversas vezes que a subutilização da calagem é um dos principais fatores
de "subprodutividade" de muitas culturas no Brasil.
A necessidade de calagem não está somente relacionada ao pH do solo, mas
também, à sua capacidade tampão (CTH) e à sua capacidade de troca de cátions
(CTC). Solos com maior CTH (mais argilosos) necessitam de mais calcário para
aumentar o pH que os de menor CTH (mais arenosos). A capacidade tampão

24
relaciona-se diretamente com a proporção de argila e teor de matéria orgânica no solo,
assim como com o tipo de argila.
Os critérios de recomendação de calagem são variáveis segundo os objetivos e
princípios analíticos envolvidos, e o próprio conceito de necessidade de calagem (NC)
irá depender do objetivo dela. Assim, Raij (1981) diz que a necessidade de calagem é a
quantidade de corretivo de acidez necessária para neutralizar a acidez do solo, de uma
condição inicial até um nível desejado. Outra definição, seria a quantidade de corretivo
necessária para se obter a máxima eficiência econômica (MEE) de definida cultura, o
que significaria ter definida quantidade de Ca e, ou, Mg disponíveis no solo e condições
adequadas de pH para boa disponibilidade dos nutrientes em geral.
O corretivo usado como padrão de referência é o CaCO3, com um valor
atribuído de PN (poder de neutralização) igual a 100 %, portanto de PRNT (poder
relativo de neutralização total) igual a 100 %. Assim, qualquer corretivo terá seu valor
de PRNT estimado, em relação ao do CaCO3.

2.1. Princípio da Calagem e Qualidade do Calcário


A calagem está fundamentada no fenômeno de troca catiônica

em que MX é um sal que cede ao solo seu cátion.

O ânion X tem que ser um ácido fraco para forçar a reação.


Os materiais que possuem MX são corretivos da acidez do solo.
Muitos materiais podem ter capacidade de troca iônica, mas para ser corretivos
adequados necessitam:
a) efetuar a reação: o cátion (X) do sal deve ter força para trocar com H+, Al3+ e
outros cátions trocáveis de caráter ácido e de dissociar parte de H:,
b) produto da reação: após a troca deve formar-se HX, que não pode ser um ácido
ou um complexo tóxico
Exemplo de um corretivo não desejável

Deverá ser um produto inerte ou solúvel para ser lixiviado.

25
c) elemento essencial: M deve ser um nutriente. Assim além de efetuar a correção
do solo, se está fornecendo um nutriente às plantas
Exemplo de corretivo não desejável:

Exemplo de corretivo desejável:

Os materiais que satisfazem a maioria de requisitos de um bom corretivo são os


calcários (CaCO3, MgCO3).
No Pais se tem muitos afloramentos de rocha calcárias. São produtos de fácil
aquisição. Neutralizam o Al3+ e são fontes de Ca e Mg.

Calcários calcinados (CaO, MgO) são bons corretivos. Entretanto não são muito
usados, pois são mais caros e apresentam efeito corrosivo.
Outros materiais que possuem Ca, que trocam e precipitam Al, mas que não
funcionam como corretivo ideal são, por exemplo, superfosfato simples, gesso.
Além dos calcários, as escórias de alto forno e de siderurgia são materiais
eficientes na correção da acidez do solo.
Portanto, o calcário neutraliza a acidez representada por H+Al, deixando o solo
com Ca e Mg no lugar dos cátions de caráter ácido. O Al é precipitado como hidróxido
e o gás carbônico é desprendido (Raij, 1991).

2.3. Determinação da Necessidade de Calagem dos Solos

Como já foi mencionado, a calagem é fundamental para a agricultura em solos


ácidos. No entanto, não existe uma definição clara sobre o melhor critério para
determinar a necessidade de calagem, ou seja, a quantidade de corretivo a ser
aplicada ao solo. O cálculo da necessidade de calagem tem-se baseado,
fundamentalmente, nos seguintes critérios:
• método da incubação com CaCO3;
• métodos baseados no decréscimo de pH de soluções-tampão (SMP ou Woodruf);

26
• método para elevar os teores de Ca e de Mg trocáveis, e neutralizar a acidez
trocável;
• métodos baseados na correlação existente entre pH, saturação por bases.

É importante, nos estudos de aplicação de calcário, que se separem os efeitos


corretivos dos efeitos nutricionais. Porém, é difícil isolar e individualizar os efeitos
detrimentais da toxidez de Al, de Mn, daqueles causados pelas deficiências de Ca e de
Mg.
Um ponto da maior importância para diversas culturas é a relação Ca:Mg do
corretivo a ser empregado. Para uma mesma dose de calcário aplicado, diferentes
relações entre estes nutrientes podem conduzir a resultados bastante diferentes.
A seguir apresentam-se os principais métodos para determinação da
necessidade de calagem utilizados no Brasil.
A necessidade de calagem se define como a quantidade de CaCO3 puro para
análise (p.a.), finamente moído, tido com 100% de poder de neutralização a ser
aplicado em um volume de 2.000.000 m3 de solo. A fundamentação para tal concieto é
dada pela demosntração que se segue:
• 1 mol de CaCO3 = 100 g
• 1 mol de CaCO3 tem 2 molc, que por sua vez tem a massa de 50 g/molc
• 1 ha (10.000m2), considerando os 0,20 m superficiais, corresponde a 2.000 m3
ou 2.000.000 dm3.
• 1 cmolc/dm3 de acidez corresponde a 2.000.000 cmolc/há, ou 20.000 molc/dm3
• a correção se da acidez se dá com base estequimética, portanto cada molc de
acidez será neutralizado por igual quantidade de molc de alcalinidade (OH_).
• 1 molc de CaCO3 tendo a massa de 50 g/molc, serão necessários 1.000.000 g,
ou 1.000 kg ou 1 tonelada de CaCO3 para neutralizar cada 1 molc/dm3 de acidez.

Método das Curvas de Incubação com CaCO3


Consiste na obtenção de curvas de neutralização do solo por meio da incubação
com CaCO3. Este método não é prático para uso rotineiro, por ser demorado e
trabalhoso, sendo empregado em trabalhos de pesquisa e para calibrar outros
métodos.
Por este método, amostras de solo ( ≥ 0,5 dm3) são incubadas com doses
crescentes de CaCO3, por vários dias (pelo menos um mês), sendo a umidade mantida

27
de forma a não exceder a capacidade de campo. Após o período de incubação
procede-se a leitura do pH, obtendo-se curvas como as da figura 1.

Figura 6. Curvas de incubação de dois latossolos.

Para se ter pH = 6 o LVA necessita de 2,164 t/ha e o LV de 5,990 t/ha de


CaCO3.
As declividades (∂y/∂x) das equações, 0,55 no LVA e 0,15 + 0,0642 X no LV
indicam a diferença de capacidade tampão dos solos. No LVA é igual a 1,818
t/ha/unidade de pH e é constante não importando o intervalo de pH considerado. No LV
é variável, por exemplo entre pH 4 e 5 é igual a 3,842 - 0,312 = 3,530 t/ha e entre pH 5
e 6 é igual a 5,990 - 3,842 = 2,148 t/ha de CaCO3. Portanto, o solo LV é mais
fortemente tamponado entre pH 4 a 5 do que de 5 a 6.
Usualmente, as curvas de incubação são definidas em função do pH, mas, após
a incubação, também podem ser determinados os teores de Al e de Ca trocáveis,
podendo, assim, conhecer quanto de calcário é necessário para neutralizar o Al
trocável e, também, quanto de Ca trocável se terá ao atingir definido pH (Alvarez V. et
al., 1990b).
Este método, ao não considerar a produção das plantas deixa sérias
interrogações quanto ao seu uso como método de referência para recomendações de
doses de corretivo que otimizem, economicamente, o uso do calcário (Paula et al.,
1991).

Método da Solução Tampão SMP


Este método tem como princípio o decréscimo do pH de uma solução tampão
(pHSMP) após o equilíbrio com o solo (Schoemaker, McLean & Pratt, 1961).

28
Para seu uso, adicionam-se a 10 cm3 de TFSA 10 mL de água e agita-se, adiciona 5
mL de solução tampão SMP e agita-se. A solução SMP, constituída de p-nitrofenol,
trietanolamina, cromato de potássio, acetato de cálcio e cloreto de cálcio, é ajustada a pH
7,5. Após estabelecido o equilíbrio, lê-se o pH da suspensão, representado por pHSMP
(Tedesco et al., 1995). Quanto maior a acidez potencial do solo, maior será a
depressão de pH da solução tampão em contato com o solo.
A solução tampão SMP foi idealizada de tal forma que sua curva de
neutralização corresponde a uma reta em uma ampla faixa de pH.
A calibração do método é feita correlacionando o pHSMP de uma série de solos
com a necessidade de calagem para elevar o pH, em geral, a 6,0 ou 6,5. ou mesmo
5,5, sendo esta necessidade de calagem determinada por incubação com CaCO3. De
posse do valor do pHSMP do solo e definido o pH que se deseja alcançar e, utilizando
uma tabela, representada, resumidamente, no quadro 1, determina-se a necessidade
de calagem.

Quadro 1. Necessidade de calagem de solos de acordo com o pHSMP (10:10:5, solo,


água, solução tampão).

NC para pH
pHSMP 5,5 6,0 6,5
----------------------------- t/ha CaCO3 -----------------------------

4,5 12,5 17,3 24,0


5,0 6,6 9,9 13,3
5,5 3,7 6,1 8,6
6,0 1,6 3,2 4,9
6,5 0,4 1,1 2,1
Fonte: Tedesco et al., 1995.

Deve-se salientar que essas tabelas devem ser obtidas para cada região, pois
os dados obtidos em uma localidade podem subestimar ou superestimar a necessidade
real de calcário de outra (Souza et al., 1980).

Método da Neutralização da Acidez Trocável e da Elevação dos Teores de Ca e


Mg Trocáveis
Pelo fato da acidez trocável (especialmente o Al e Mn trocáveis) ser o grande
componente negativamente relacionado à acidez dos solos, desenvolveram-se

29
métodos de recomendação de calagem baseados unicamente no teor de acidez
trocável. Assim Kamprath (1967) sugeriu a fórmula:
NC = 2 × Al3+
onde Al3+ é acidez trocável (em cmolc/dm3).
Acontece, porém, que em solos altamente intemperizados, o que realmente
limita a produtividade é a deficiência generalizada em nutrientes (Ca, Mg, P, por
exemplo). Nesse aspecto, a deficiência de Ca é fator limitante para um bom
crescimento radicular. Por isso, surgiram métodos que levam em consideração não
somente a correção do Al trocável, mas, também, o fornecimento do Ca e de Mg.
Principalmente nos estados de Minas Gerais e Goiás, foi recomendada a
seguinte fórmula (CFSEMG, 1978):
NC = 2Al3+ + [ 2 - (Ca2+ + Mg2+)]
No Departamento de Solos da UFV, o valor usado como multiplicador
do Al3+ ou como "SBe" (soma de bases esperada) para os teores de Ca2+ e Mg2+ não
foi considerado como constante igual a 2. Assim, Freire et al. (1984) recomendaram
para a cultura do cafeeiro a fórmula:
NC = 2Al3+ + [3 - (Ca2+ + Mg2+)]

A incubação de 21 solos de Minas Gerais com doses estimadas com


as duas fórmulas anteriores (doses médias de 3,41 e 4,2 t/ha) permitiram corrigir o pH
até valores médios de 5,72 e 5,88, respectivamente (Alvarez V. et al., 1990a).

Para melhorar a capacidade preditiva deste método, para aplicação


generalizada, leva-se em consideração a capacidade tampão (CTH), estimada pela
textura do solo e a necessidade de corrigir as deficiências de Ca e Mg de acordo com
os requerimentos da cultura em questão. Desta forma, uma nova fórmula foi proposta
(CFSEMG, 1989):
NC = YAl3+ + [X - (Ca2+ + Mg2+)]
onde o valor de Y é variável em função da textura do solo em estudo e o valor de X é
variável de acordo com as exigências das culturas.

No uso desta fórmulas, quando os teores de Ca2+ + Mg2+ ultrapassam o valor de


X, não se leva em consideração a segunda parte da fórmula no cálculo da necessidade
de calagem, ficando a fórmula da seguinte maneira:

NC = Y × Al3+

30
Posteriormente, Alvarez V. et al. (1993) propuseram a utilização de P
remanescente como estimador do valor Y para determinar a necessidade de calagem
pelo método de Minas Gerais (Eq. 11).
Mais recentemente nova alteração foi proposta para o método da neutralização
do Al3+ e da elevação dos teores de Ca2+ + Mg2+ (Alvarez V. & Ribeiro, 1999), que é a
que esta em uso atual.
Neste método, consideram-se ao mesmo tempo características do solo e
exigências das culturas. Procura-se, por um lado, corrigir a acidez do solo e para isto
leva-se em conta a susceptibilidade, ou, a tolerância, da cultura à elevada acidez
trocável, considerando a máxima saturação por Al3+ tolerada pela cultura (mt) e a
capacidade tampão do solo (Y) e, por outro, se quer elevar a disponibilidade de Ca e
de Mg de acordo com as exigências da cultura (X).
Para solos de cerrado e em geral de Minas Gerais recomendam-se os valores
apresentados no quadro 8.1 da 5ª Aproximação de Recomendações para Uso de
Corretivos e Fertilizantes em Minas Gerais (Alvarez V. & Ribeiro, 1999) e resumidos no
quadro 2.

Quadro 2. Valores máximos de saturação por Al3+ tolerados pelas cultura (mt) e
valores de X para o método do Al e do Ca+Mg trocáveis para diversas
culturas e, valores de saturação por bases (Ve) que se procura atingir
pela calagem com o método de saturação por bases

Culturas mt X Ve

% cmolc/dm3 %
Cereais (milho, trigo, sorgo, arroz) 15 - 25 2,0 50
Leguminosas (feijão, soja, adubos verdes) 20 2,0 50
Hortaliças (tomate, repolho, alho, ervilha) 5 3,0 60 - 70
Café 25 3,5 60
Cana de açúcar 30 3,5 60
Fruteira tropicais (mamoeiro, citros, banana, 5 - 15 2,0 - 3,5 60 - 80
abacaxi)
Pastagens
Leguminosas 15 - 25 1,0 - 2,5 40 - 60
Gramínias 20 - 30 1,0 - 2,0 40 - 50
Eucalipto 45 1,0 30

31
A necessidade de calagem (NC, em t/ha) é calculada em base a dois
componentes, que atuam concomitantemente tanto na correção da acidez como na
correção da deficiência de Ca e Mg. O primeiro componente visa neturalizar o alumínio
e o segundo atender a necessidade de cálcio e magnésio da cultura
NC = Y [Al3+ - (mt × t/100)] + [X - (Ca2+ + Mg2+)]
em que: Al3+ = acidez trocável, em cmolc/dm³
mt = máxima saturação por Al3+ tolerada pela cultura
t = CTC efetiva, em cmolc/dm3
Ca2+ + Mg2+ = teores de Ca e de Mg trocáveis, em cmolc/dm3
Y é um valor variável em função da capacidade tampão da acidez do solo (CTH) e que
pode ser definido de acordo com a textura do solo (Quadro 3). Em lugar da tabela, que
fornece valores discretos o y pode ser estimado de forma contínua por meio da
equação:
Ŷ = 0,0302 + 0,06532 Arg - 0,000257 Arg2; R2 = 0,9996

Quadro 3. Valor de Y de acordo com o teor de argila.


Solo Argila Y
----- % -----
Arenoso 0 a 15 0,0 a 1,0
Textura média 15 a 35 1,0 a 2,0
Argiloso 35 a 60 2,0 a 3,0
Muito argiloso 60 a 100 3,0 a 4,0

Também Y pode ser definido de acordo com o valor de fósforo remanescente


(Prem), que é o teor de P da solução de equilíbrio após agitar durante 1h a TFSA
com solução de CaCl2 10 mmol/L, contendo 60 mg/L de P, na relação 1:10, conforme
o Quadro 4.

Do mesmo, modo os valores de Y podem ser estimados de forma contínua de


acordo com o valor de P remanescente, por meio da equação:

Ŷ = 4,002 - 0,125901 Prem + 0,001205 Prem2 - 0,00000362 Prem3; R2 = 0,9998

O uso da determinação do Prem como estimador da CTH, em lugar do teor de


argila, além das vantagens práticas e operativas que apresenta, deve-se ao fato de a

32
CTH e o valor de Prem dependerem não somente do teor de argila, mas também da
sua mineralogia e do teor de matéria orgânica do solo e do manejo do mesmo.

Quadro 4. Valor de Y de acordo com a determinação do fósforo remanescente


(Prem)

Prem Y
mg/L
0 a 4 4,0 a 3,5
4 a 10 3,5 a 2,9
10 a 19 2,9 a 2,0
19 a 30 2,0 a 1,2
30 a 44 1,2 a 0,5
44 a 60 0,5 a 0,0

Método da Saturação por Bases


Este método se baseia na relação existente entre pH e saturação por bases (V)
do solo. É o método mais utilizado no Estado de São Paulo.
Para sua utilização, deve-se determinar os valores de Ca2+, Mg2+, K+ e, em alguns
casos Na+, além de determinar (H+Al) extraíveis com acetato de cálcio 0,5 mol/L a pH 7,0,
ou estimado indiretamente pela determinação do pHSMP.
Este é um dos métodos oficializados para Minas Gerais (Alvarez V. & Ribeiro, 1999).
A fórmula da determinação da necessidade de calagem (NC), em t/ha é a
seguinte:

NC = T (Ve - Va) / 100

onde:
T = CTC a pH 7,0 = CTC pot. = SB + (H + Al) em cmolc/dm3
SB = soma de bases = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+;
Va = saturação por bases atual do solo = 100 SB/T;
Ve = saturação por bases esperada ou desejada para a cultura a ser implantada.

A fórmula indicada, matematicamente significa que se quer elevar, com a adição


de Ca e de Mg do calcário, a SB do solo para determinado valor considerado
satisfatório para a cultura a ser implantada. Assim:

NC = SBe - SBa

onde:
SBe = soma de base esperada ou desejada

33
SBa = soma de base atual do solo

De forma mais simples a NC por este critério segundo a fórmula apresentada


por Sousa et al. (1989) é:

NC = (VeT / 100) - SBa

Este método tem a importante característica de levar em consideração as


exigências das culturas na definição da quantidade de corretivo a ser adicionado ao
solo, além de ter a vantagem da facilidade dos cálculos e na flexibilidade de adaptação
para diferentes culturas, de acordo com suas exigências (Raij, 1991).
Existem tabelas preparadas pelo Instituto Agronômico de Camipinas (IAC) nas
quais se apresentam os valores de Ve mais adequados para cada cultura. Nesse
aspecto, vale ressaltar que os valores de Ve não deverão ser os mesmos em todos os
Estados do País, ou tipos de solo, já que o método foi desenvolvido e é mais usado no
Estado de São Paulo. Para solos de Minas Gerais e em geral de Cerrado os valores Ve
estão apresentados no quadro 2.

3. Quantidade de Calcário a ser Usada

A necessidade de calagem (NC) definida com os diferentes critérios ou métodos


anteriormente apresentados indica a dose, a quantidade de CaCO3 ou calcário PRNT =
100 % a ser incorporado por hectare, na camada de 0 a 20 cm de profundidade. Esta
seria a situação teórica do uso do calcário. Na realidade, a determinação da quantidade
de calcário a ser usada por hectare deve levar em consideração:
1 - que percentagem da superfície será coberta pela calagem (sc);
2 - até que profundidade (cm) será incorporado o calcário (p) e,
3 - qual o poder relativo de neutralização total (PRNT) do calcário e ser utilizado.

Portanto, a quantidade de calcário (QC) a ser usada, em t/ha, será:

QC = NC (sc/100) (p/20) (100/PRNT)

Por exemplo, a quantidade de calcário (PRNT = 90 %) a ser adicionado numa


lavoura de café de cinco anos, se a necessidade de calagem é de 6 t/ha, a área a ser
corrigida (faixas das plantas) é de 75 % e a profundidade de incorporação (pela
esparramação) é de 6 cm será:

QC = 6 (75/100) (6/20) (100/90) = 1,5 t/ha

34
2.4. Escolha do Corretivo a Aplicar
No mercado existe grande diversidade de calcários.
O calcário é comercializado com base no peso do material, portanto a escolha
do corretivo a aplicar deve levar em consideração o uso de critérios técnicos (qualidade
de calcário) e econômicos, procurando maximizar os benefícios e minimizar os custos.
Na qualidade de calcário se deve considerar a capacidade de neutralizar a
acidez do solo, poder de neutralização (PN), a reatividade do material (RE), que
considera sua natureza geológica e sua granulometria, e o conteúdo de nutrientes,
especialmente de Mg.
O poder neutralizante avalia o teor de materiais neutralizantes do calcário, ou
seja, a capacidade de reação dos ânions presentes, se expressa em %, considerando
o CaCO3 como padrão igual a 100 % e se determina por neutralização direta com
ácido cloridrico (Duarte et al., 1993).

As reações de algumas substâncias químicas no solo se indicam nos seguintes


esquemas, junto com as massas molares de cargas:

g/molc

50

28

37

20,15

A capacidade de neutralizar a acidez que apresenta um calcário também pode


estimar-se determinando seus teores de Ca e Mg, teores que se expressam em % de
CaO e de MgO (A esta capacidade se denomina valor neutralizante - VN).
Como parte desses cátions podem estar combinados com ânions de reação
neutra, o VN pode superestimar o PN do calcário. VN e PN são duas determinações
diferentes.
O VN de várias substâncias químicas se indica no quadro 8, este valor se
expressa também em porcentagem, considerando como padrão o CaCO3 (VN = 100

35
%). Como 1.000 g de CaCO3 equivalem a 20 molc (20 eq), se considera que toda
substância que em 1 kg de material apresenta 20 molc, tem VN = 100 %.

Quadro 8. Número de molc em 1 kg de diferentes reagentes e seus correspondentes


valores neutralizantes.

Reagente Fórmula Nº molc/kg VN (%)

Carbonato de cálcio CaCO3 20,0 100


Carbonato de magnésio MgCO3 23,7 119
Hidróxido de cálcio Ca(OH)2 27,0 135
Hidróxido de magnésio Mg(OH)2 34,3 172
Óxido de cálcio CaO 35,7 179
Óxido de magnésio MgO 49,61/ 2482/
Silicato de cálcio CaSiO3 17,2 86
Silicato de Magnésio MgSiO3 19,9 100
1/ 1.000 g de MgO são 1.000/20,15 = 49,6 mol /kg, pois 1 mol de MgO (6,022 x 1023
c c

cargas positivas) existe em 20,15 g de MgO.


2/ Como 20 mol /kg de CaCO e igual a 100 %; 49,6 mol /kg de MgO e igual a 248,14
c 3 c

%.

O PN igual a 120 % de um calcário indica que 100 kg deste corretivo tem a


mesma capacidade neutralizante do que 120 kg de CaCO3.
A reatividade de um calcário depende em parte de sua natureza geológica. Os
de natureza sedimentar são mais "moles" do que as metamórficas (Alcarde, 1985), e
depende fundamentalmente da granulométrica do material, granulometria que permite
estimar a eficiência relativa (ER).
A reação de neutralização da acidez do solo pelos calcários se dá pelo contato
entre a superfície das partículas do corretivo e a solução do solo. Como os calcários
são de baixa solubilidade é necessário que suas partículas sejam de tamanho o menor
possível, pois quanto menores suas partículas, maior a superfície específica e maior
será a área de contato ou de reação.
Em relação a granulometria, a legislação atual determina as seguintes
características mínimas: passar 100 % por peneira de 2 mm (ABNT Nº 10); 70 % por
peneira de 0,84 mm (ABNT Nº 20) e, 50 % por peneira de 0,30 mm (ABNT Nº 50). É
permitida uma tolerância de retenção de 5 % na peneira de 2 mm.

36
Considerando a granulometria se pode avaliar a eficiência relativa no período de
aproximadamente três meses, de acordo com os seguintes valores.

Quadro 9. Reatividade de calcários de acordo com sua granulometria.

Fração granulométrica Eficiência Relativa


mm Peneira ABNT %
> 2,00 retida Nº 10 0
0,84 - 2,00 passa Nº 10, retida Nº 20 20
0,30 - 0,84 passa Nº 20, retida Nº 50 60
≤ 0,30 passa Nº 50 100

Combinando-se o poder de neutralização (PN) com a eficiência relativa (ER) de


um calcário, tem-se seu poder relativo de neutralização total (PRNT), que estima
quanto de calcário irá reagir em um período de aproximadamente três meses.
PRNT = PN × ER/100
Analizada uma amostra de calcário se tem os seguintes resultados.

Quadro 10. Análises químicas e granulometria de um calcário.


Característica químicas Granulometria
% mm g
CaO 39 > 2,00 5
MgO 13 0,84 - 2,00 25
PN 96 0,30 - 0,84 50
≤ 0,30 120

O PN (96 %) é menor que o VN (39 (179/100) + 13 (248/100) = 102 %), talvez


devido à presença de Ca e Mg em compostos químicos que não neutralizam a acidez.

A eficiência relativa (ER) é igual a média ponderada da eficiência relativa das


classes de partículas (Quadro 9) com a granulometria da amostra analizada (Quadro
10).

ER = ((0 × 5) + (20 × 25) + (60 × 50) + (100 × 120)) / (5 + 25 + 50 + 100) = 77,5 %

Assim:

37
PRNT = 96 × 77,5 / 100 = 74,4 %

A legislação atual determina também, que os corretivos comercializados deverão


possuir as seguintes características mínimas (Quadro 11).

Quadro 11. Valores mínimos de PN e da soma dos teores de CaO e MgO de corretivos da
acidez do solo
Material PN CaO + MgO
% %
Calcários 67 38
Cal virgem agrícola 125 68
Cal hidratada agrícola 94 50
Escórias 60 30
Calcário calcinado agrícola 80 43
Outros 67 38

Assim, pela legislação ficou estabelecido que um calcário deve apresentar para
comercialização os valores mínimos de 67 % para PN e de 45 % para PRNT.
Um dos fatores limitantes de um solo ácido é, geralmente, o seu baixo conteúdo
de Ca e, ou de, Mg disponíveis. Assim, a aplicação de um calcário que contenha Mg
terá, aliada ao seu efeito neutralizante da acidez, a adição de quantidade adequada de
Mg, o que evidentemente não acontece quando se utiliza calcário calcítico, pobre em
Mg.
A relação Ca:Mg do corretivo é muitas vezes mais importante do que a
quantidade do corretivo. A relação ideal sofre alteração de acordo com o solo e
segundo as culturas, sendo algumas espécies mais exigentes em relações estreitas e
outras tolerando o corretivo com muito mais Ca do que Mg. Uma relação comumente
recomendada é a de 3:1 ou 4:1 mols de Ca:Mg. Não se deve descartar o uso de
calcários extremamente calcíticos, pois, pode-se fazer seu uso como corretivo e
complementar a adubação com fertilizantes que contenha Mg, como o sulfato de
magnésio ou carbonato e mesmo o óxido de magnésio. Algumas vezes o calcário rico
em Mg chega ao agricultor duas ou mais vezes mais caro do que o calcário calcítico.

Pelos teores de Mg os calcários podem ser classificados em:


a) Calcíticos - menos de 5 % MgO
b) Magnesianos - entre 5 e 12 % MgO

38
c) Dolomíticos - maior de 12 % MgO

Pelo PRNT os calcários pode ser classificados em grupos:


a) Grupo A - PRNT entre 45 e 60 %
b) Grupo B - PRNT entre 60,1 e 75 %
c) Grupo C - PRNT entre 75,1 e 90 %
d) Grupo D - PRNT superior a 90 %

Cabe ao técnico avaliar as várias alternativas de qualidade e de preço oferecidas


no mercado para decidir qual a solução mais adequada técnica e economicamente. A
decisão final deverá considerar o preço por tonelada efetiva do corretivo.

Preço por tonelada efetiva = (Preço por tonelada na propriedade × 100)/PRNT

3.1 Época e Modo de Aplicação do Calcário

Por ser material de baixa solubilidade, de reação lenta, o calcário deve ser
aplicado dois a três meses antes do plantio para que as reações esperadas se
processem. O calcário é uniformemente distribuído sobre a superfície do solo,
manualmente ou por meio de máquinas próprias e é, então, incorporado com arado e
grade até a profundidade de 15 a 20 cm (camada arável), profundidade (p) considerada
no cálculo da quantidade de calcário a ser usada (QC). Esse período, entre calagem e
plantio, considera presença de umidade no solo, para que existam as reações do solo
com o calcário, caso contrário é preferível realizar calagem e plantio numa sequência
única de operações.
A análise do solo dois ou três anos depois da calagem poderá indicar sobre a
necessidade ou não de nova aplicação.
Com intúito de diminuir o custo da calagem (pricipalmente quantidade e modo de
aplicação) alguns agricultores têm usado no sulco de plantio, doses menores de um
calcário de alto PRNT, prática denominada de "Filler". Para fornecer os nutrientes Ca e
Mg em solos deficitários nestes nutrientes, ainda se poderia usar o "Filler"; entretanto,
como corretivo de acidez a pesquisa tem demonstrado a ineficiência deste modo de
aplicação, inclusive se corre o risco de a planta desenvolver seus sistema radicular
naquele pequeno volume de solo corrigido, favorecendo o tombamento e aumentando
o prejuízo da seca devido ao pouco desenvolvimento radicular.

3.2. Supercalagem

39
A quantidade de calcário a aplicar deve ser definida pela análise de solo para
evitar uma aplicação de quantidade superior a necessária. A calagem em excesso é
tão prejudicial quanto a acidez elevada, com o agravante que aquela é de muito mais
difícil correção. Com a supercalagem há a precipitação de diversos nutrientes do solo,
como o P, Zn, Fe, Cu, Mn, além de maior prédisposição à danos físicos.
Supercalagem se realiza quando em covas para transplantio de mudas de café,
40 × 40 × 40 cm, se adiciona 500 g de calcário.
Para NC = 6,0 t/ha e calcário PRNT = 74,4 % se deve adicionar:

QC = 6 (64/2.000.000) (100/74,4) = 258 g/cova

Também a supercalagem é feita quando se utiliza a QC igual a NC ( para p = 20


cm) incorporando o calcário unicamente até 10 cm.

4. Associação de Gesso Agrícola e Calcário


Para corrigir a acidez e a deficiência de Ca e Mg em superfície a calagem é
suficiente. Entretanto, para correção em profundidade o gesso agrícola ajuda na
movimentação de cátions em profundidade, para camadas subsuperficiais.
O gesso é um importante insumo para a agricultura, mas, por suas
características, tem seu emprego limitado a situações particulares bem definidas, uma
vez que o uso indiscriminado e sem critérios pode acarretar problemas em vez de
benefícios para o agricultor.
De uns anos para cá, algumas indústrias de fertilizantes vêm estimulando o uso
de gesso agrícola. Apesar de vários estudos mostrarem o potencial da utilização do
gesso na agricultura, existem muitas dúvidas no que se refere a como, quando e
quanto utilizar deste insumo.
Em anos recentes, acumularam-se informações sobre o uso de gesso agrícola
na melhoria do ambiente radicular das plantas, em razão da movimentação de Ca para
camadas subsuperficiais do solo e, ou, diminuição dos efeitos tóxicos de teores
elevados de Al.
O gesso agrícola é basicamente o sulfato de cálcio diidratado (CaSO4.2H2O),
obtido como subproduto industrial. Para a produção de ácido fosfórico, as indústrias de
fertilizantes utilizam, como matéria-prima, a rocha fosfática (apatita, especialmente a
fluorapatita) que, ao ser atacada por ácido sulfúrico mais água, produz, como
subprodutos da reação, o sulfato de cálcio e o ácido fluorídrico, conforme a reação
abaixo:

40
O gesso agrícola é um sal pouco solúvel em soluções aquosas (2,5 g/L), mas
que pode atuar sobre a força iônica da solução do solo, de maneira que haja contínua
liberação do sal para a solução por longos períodos de tempo. Essa característica,
aliada aos teores de Ca (17 a 20 dag/kg), de S (14 a 17 dag/kg), de P2O5 (0,6 a
0,75 dag/kg), de F (0,6 a 0,7 dag/kg), de Mg (0,12 dag/kg), à presença de
micronutrientes (Fe, Mn, Zn, Cu, Ni, B, Mo) e de outros elementos (Co, Na, Al, As, Ti,
Sb, Cd), permite que o gesso agrícola possa ser utilizado na agricultura:
a) Como fonte de Ca e de S
b) Na correção de camadas subsuperficiais com baixos teores de Ca2+ e, ou, com altos
teores Al3+ com o objetivo de melhorar o ambiente radicular das plantas.
A recomendação do uso de gesso agrícola com esta última finalidade pode
implicar a utilização de doses elevadas, devendo ser feita com base no conhecimento
das características físicas e químicas dos solos, não apenas da camada arável, mas
também das camadas subsuperficiais.
Para decidir sobre a recomendação de aplicação de gesso agrícola, deve-se
observar que as camadas subsuperficiais do solo por exemplo, (20 a 40 cm ou 30 a
60 cm) apresentem as seguintes características7: ≤ 0,4 cmolc/dm3 de Ca2+ e, ou,
> 0,5 cmolc/dm3 de Al3+ e, ou, > 30 % de saturação por Al3+.

4.1. Gesso Agrícola como Fonte de Ca e de S para as Culturas


Em termos de recomendação de gesso agrícola para fornecimento de S, doses
de 100 a 250 kg/ha de gesso seriam suficientes para corrigir deficiências do elemento
para a maioria das culturas. Deve-se considerar o emprego de outros fertilizantes que
possuem S em sua formulação, tais como superfosfato simples (12 dag/kg de S),
sulfato de amônio (24 dag/kg de S) e “Fosmag” (11 dag/kg de S). Outro aspecto que
deve ser considerado na recomendação de adubação com S é que, como na adubação
fosfatada, a textura do solo deve ser observada. Solos argilosos tendem a apresentar
maior capacidade de adsorção de sulfatos, daí serem exigidas maiores doses de S
para a adequada disponibilidade do elemento para as plantas.
Com relação ao uso de gesso como fonte de Ca para as culturas, devem-se
levar em consideração alguns aspectos importantes: existem diferenças entre as

41
culturas quanto à demanda de Ca, sendo que plantas como café e tomate são muito
responsivas ao elemento, ao passo que espécies florestais como os eucaliptos
apresentam baixas exigências. Também as características do solo que podem permitir
maior movimentação de Ca em profundidade no perfil do solo devem ser consideradas
igualmente, uma vez que excesso de movimentação pode arrastar o elemento para
camadas além daquelas onde se encontra o maior volume de raízes. A descida deste
cátion em profundidade modifica o perfil de distribuição das raízes das plantas,
aumentando o volume de solo a ser explorado em nutrientes e especialmente em água.

4.2. Correção de Camadas Subsuperficiais Visando à Melhoria do Ambiente


Radicular
A prática da calagem, visando à correção da acidez e neutralização do Al
trocável do solo, é realizada incorporando-se o material corretivo à camada arável do
solo; por isso, seus efeitos normalmente restringem-se à profundidades em torno de 0
a 20 ou de 0 a 30 cm. Aspectos relacionados com a textura do solo, granulometria do
corretivo e intensidade pluvial podem, ao longo do tempo, determinar que a calagem
corrija camadas um pouco mais profundas, com baixos teores de Ca e, ou, elevados
teores de Al trocável.
A presença de camadas subsuperficiais com baixos teores de Ca e, ou elevados
teores de Al trocável pode determinar a perda de safras, principalmente em regiões
susceptíveis à ocorrência dos “veranicos”, uma vez que conduzem ao menor
aprofundamento do sistema radicular, refletindo em menor volume de solo explorado,
ou seja, menor quantidade de nutrientes e água disponíveis para a planta.
Em solo com umidade suficiente, o gesso agrícola sofre dissolução:

Uma vez na solução do solo, o íon Ca2+ pode reagir no complexo de troca do
solo, deslocando cátions como Al3+, K+, Mg2+ e (H+) para a solução do solo, que
podem, por sua vez, reagir com o SO42- formando AlSO4+ (que é menos tóxico às
plantas) e os pares iônicos neutros: K2SO4o, CaSO4o, MgSO4o. Em função da sua
neutralidade, os pares iônicos apresentam grande mobilidade ao longo do perfil,
ocasionando uma descida de cátions para as camadas mais profundas do solo.
Entretanto, sais muito solúveis, como os nitratos de sódio e de potássio, cujos ânions

7
Critérios estabelecidos por Lopes, Alfredo Scheeid e publicados na 4ª Aproximação das Recomendações de
Corretivos e Fertilizantes em Minas Gerais (CFSEMG, 1080).

42
têm pouca ou nenhuma interação com a fase sólida do solo, têm alta mobilidade no
perfil, sendo arrastados pela água. Assim, a solubilidade dos sais na solução do solo,
considerada a interação de seus íons com a fase sólida, é que define a mobilidade
destes. Por sua vez, os fosfatos são pouco móveis, em razão da adsorção aniônica.
De maneira geral, pode-se dizer que diferentes fatores condicionam maior ou
menor movimentação dos cátions pelo perfil do solo que recebeu gesso. Entre eles
destacam-se:
1) Quantidade de gesso aplicado ao solo;
2) Capacidade de troca catiônica do solo;
3) Condutividade elétrica da solução do solo;
4) Textura do solo e,
5) Volume de água que se aporta ao solo.
Desta forma, para um solo de textura arenosa, com baixa CTC e pequena
capacidade de adsorver sulfato, a movimentação de bases seria, potencialmente, maior
que aquela para um solo de textura argilosa com alta capacidade de adsorção de
sulfato e elevada CTC. Portanto, nestes solos, onde o potencial de movimentação de
bases é elevado, o cuidado com a quantidade de gesso aplicada ao solo deve ser
maior, a fim de evitar o risco de uma movimentação além das camadas exploradas pelo
sistema radicular da planta cultivada.
Normalmente, a aplicação de gesso agrícola não provoca alterações importantes
no pH do solo.
Contrariamente à reduzida capacidade de alteração do pH do solo, a aplicação
de gesso pode proporcionar importante redução no teor de Al trocável e em sua
saturação (m). Estudos de lixiviação têm demonstrado que o Al pode ser encontrado
nos lixiviados de perfis reconstituídos de Latossolos brasileiros. A neutralização do Al
trocável pela adição de gesso pode ocorrer, basicamente, a partir das seguintes
reações:
1) Precipitação na forma de Al(OH)3 e liberação de OH- para a solução, em decorrência
da adsorção de sulfato;
2) Formação do complexo AlSO4+, que é menos tóxico às plantas;
3) Formação do par iônico AlF2+ decorrente da presença de F- no gesso agrícola;
4) Precipitação de minerais de sulfato de Al, como alunita e basaluminita, por exemplo,
decorrente do aumento da concentração de sulfato na solução.

No entanto, um aspecto importante que não se pode refutar refere-se ao


aumento de Ca2+ no complexo de troca, promovendo a redução da saturação por Al3+

43
(m), que, para vários autores, tem papel mais importante no controle da toxidez do Al
para as plantas do que o teor de Al3+ ou a sua concentração em solução.

4.4. Recomendação do Uso de Gesso Agrícola


Apesar de boa parte dos mecanismos que envolvem a dinâmica do gesso no
solo ser conhecida, existem, ainda, dúvidas quanto aos critérios a serem utilizados para
sua recomendação e para se chegar à quantidade do produto a ser recomendada.
Com relação aos critérios de quando e quanto recomendar sua aplicação,
visando à correção de camadas subsuperficiais ou melhoria do ambiente radicular das
plantas, vale relembrar que o gesso deve ser utilizado quando a camada subsuperficial
(20 a 40 cm ou 30 a 60 cm) apresentar teor inferior ou igual a 0,4 cmolc/dm3 de Ca2+ e,
ou, mais que 0,5 cmolc/dm3 de Al3+ e, ou, mais que 30 % de saturação por Al3+ (m).
Para calcular a quantidade a ser aplicada do produto, atualmente existem algumas
fórmulas baseadas nas características químicas e físicas do solo.
O gesso agrícola deve ser recomendado para correção de camadas
subsuperficiais. Assim, as quantidades recomendadas, indicadas a seguir, destinam-se
a camadas de 20 cm de espessura (exemplos: 20 a 40 cm, ou 30 a 50 cm). A camada
a considerar não deve ultrapassar a profundidade até onde se prevê que,
predominantemente, o sistema radicular ativo na absorção de nutrientes deverá se
desenvolver. As quantidades recomendadas podem ser adicionadas junto com a
calagem, ou após a calagem.
A quantidade de gesso agrícola a ser aplicada, individualmente ou em conjunto
com a calagem, pode ser estimada independentemente da necessidade de calagem ou
de acordo com a sua estimativa por um dos dois critérios em uso em Minas Gerais

Recomendação com base na textura do solo


A necessidade de gessagem (NG), ou seja, as doses a serem recomendadas
para camadas subsuperficiais de 20 cm de espessura, de acordo com o teor de argila
dessas camadas, é apresentada no quadro 12.

Quadro 12. Necessidade de gesso (NG) de acordo com o teor de argila de uma
camada subsuperficial de 20 cm de espessura
Argila NG
------% ----- ------t/ha ------
0 a 15 0,0 a 0,4
15 a 35 0,4 a 0,8

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35 a 60 0,8 a 1,2
60 a 100 1,2 a 1,6

A necessidade de gesso (NG, em t/ha) pode ser apresentada, de forma contínua, como
função do teor de argila (x, em %) pela equação:

ŷ = 0,00034 - 0,002445 x0,5 + 0,0338886 x - 0,00176366 x1,5 R2 = 0,99995

Recomendação com base na determinação do fósforo remanescente


Souza et al. (1992) após realizar amplo estudo com amostras de 13 solos de
cerrado, propuseram o uso de equações que se baseiam em características dos solos
e no volume de água adicionado como determinantes de maior ou menor
movimentação e retenção de S e de bases no perfil. Essas equações foram geradas a
partir das premissas de que a retenção de SO 2- e de Ca2+, na camada de 20 a 60 cm
4

propicia uma concentração de S da ordem de 10 mg/L ou de 0,394 mmol/L de Ca na


solução do solo.
A primeira premissa fundamenta-se na constatação de ser essa concentração de
S na solução do solo suficiente para que, já no primeiro ano agrícola, ocorra
movimentação de sulfato e de cátions para a camada de 20 a 60 cm. A segunda, parte
da observação de que existe relação entre o SO42- retido e o Ca2+ retido (retenção
simultânea) e que a quantidade de Ca em solução, em equilíbrio com o retido, é da
ordem de 0,394 mmol/L, o que equivale a 10 mg/L de S em solução após a adsorção
do S–SO 2-.
4

Aproveitando a informação existente para uso de calcário (NC) e de gesso (NG)


e, considerando que o PROFERT recomenda aos laboratórios de análises de solos do
Estado de Minas Gerais a análise de fósforo remanescente (Prem), indica-se, então, o
uso dessa determinação nos cálculos para recomendar gessagem e calagem, em
substituição ao teor de argila do solo (Souza et al., 1992). O quadro 13 resume esta
adaptação para a recomendação de gesso.

Os valores de Ca podem também ser estimados de forma contínua como função


do Prem, pela equação:

= 315,8 - 25,5066 P-rem0,5 - 5,70675 P-rem + 0,485335 P-rem1,5 R2 = 0,9996

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E a necessidade de gesso (NG, em t/ha) poderá ser calculada de acordo com a
recomendação de Ca, estimada com a equação anterior e o teor de Ca do gesso (TCa,
em dag/kg) a ser usado, utilizando a fórmula:

NG = Ca / (10 TCa)

Quadro 13. Necessidade de gesso (NG) de acordo com o valor de fósforo


remanescente (Prem) de uma camada subsuperficial de 20 cm de espessura
NG
Prem
Ca1/ Gesso2/
---mg/L --- -----kg/ha ----- ------- -t/ha --------
0 a 4 315 a 250 1,680 a 1,333
4 a 10 250 a 190 1,333 a 1,013
10 a 19 190 a 135 1,013 a 0,720
19 a 30 135 a 85 0,720 a 0,453
30 a 44 85 a 40 0,453 a 0,213
44 a 60 40 a 0 0,213 a 0,000
1/
Valores de NG adaptados e aproximados dos de Souza et al., dados não publicados,
citados por Souza et al. (1992), para que o Ca2+ retido em camada de 20 cm de
espessura esteja em equilíbrio com a concentração de 0,394 mmol/L de Ca na solução
do solo. 2/ Gesso agrícola (15 dag/kg de S e 18,75 dag/kg de Ca).

Recomendação com base na determinação da NC pelo método do Al3+, e do


Ca2+ + Mg2+ ou pelo método de saturação por bases
A correção da acidez do solo e das deficiências de Ca e de Mg da camada
arável realiza-se pela incorporação de calcário de acordo com as indicações feitas
para a calagem. A melhoria do ambiente radicular das camadas abaixo da arável,
quando necessária, efetua-se, por este método, incorporando gesso na camada arável,
na dose de 25 % da NC da camada subsuperficial onde se quer melhorar o ambiente
radicular.
Assim, a necessidade de gesso é:
NG = 0,25 NC

Enfim, sempre que possível, o gesso deve ser aplicado juntamente com calcário
magnesiano ou dolomítico. Amostragens periódicas das camadas subsuperficiais
devem ser realizadas com a finalidade de acompanhar a movimentação de bases pelo
perfil. Esta movimentação pode provocar drástica remoção de bases do volume de solo
explorado pelo sistema radicular das plantas.

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Para solos onde existe bom manejo de resíduos orgânicos e sem a presença de
camadas subsuperficiais com elevado teor de Al3+ e, ou, baixo teor de Ca2+, o potencial
de resposta ao gesso será muito pequeno. Para café quando cultivado em solos
declivosos e ácidos, a mistura gesso mais calcário pode ser utilizada com o objetivo de
carrear cátions para camadas mais profundas, uma vez que a incorporação de calcário
nestas lavouras é problemática.

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