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1ª certificação (parte 1)
Texto 01:
“Não por coincidência, o hino da República, criado em inícios de 1890 – portanto, um ano e meio após a
abolição da escravidão –, entoava orgulhoso: “Nós nem cremos que escravos outrora/Tenha havido em tão
nobre país”. Ora, o sistema escravocrata mal acabara e já se supunha que era passível de esquecimento!
Por isso autores como Nina Rodrigues procuraram lidar com o tema, recuperando a noção de que, se por
um lado a lei tinha garantido a liberdade, por outro a igualdade jurídica não passava de uma balela. Essa
era a base para a adoção de um modelo de darwinismo e determinismo racial, em tudo oposto ao liberalismo:
se o liberalismo é uma teoria do indivíduo, o racismo anula a individualidade para fazer dele apenas o resumo
das vantagens ou defeitos de seu ‘grupo racial de origem’”.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Nem preto nem branco, muito pelo contrário: cor e raça na sociabilidade brasileira.
São Paulo: Cia das Letras, 2013, p. 18.
Texto 02:
“(...) o racismo é uma decorrência da própria estrutura social, ou seja, do modo ‘normal’ com que se
constituem as relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares, não sendo uma patologia social e
nem um desarranjo institucional. O racismo é estrutural. Comportamentos individuais e processos
institucionais são derivados de uma sociedade cujo racismo é regra e não exceção. (...)
O que queremos enfatizar do ponto de vista teórico é que o racismo, como processo histórico e político, cria
as condições sociais para que, direta ou indiretamente, grupos racialmente identificados sejam
discriminados de forma sistemática.”
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro; Editora Jandaíra, 2020. (pp.50-51)
a) Cite e analise dois objetivos da reforma urbana de Pereira Passos e uma consequência para o processo
de urbanização da cidade do Rio de Janeiro. (1,0)
b) Explique o que foi a Revolta da Vacina (1904), relacionando a política higienista implementada ao
quadro de tensões sociais e raciais na Primeira República no Brasil. (1,0)
* * *
I. “Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, mandamos esta honrada mensagem para que Vossa
Excelência faça aos marinheiros brasileiros possuirmos os direitos sagrados que as leis da República nos facilitam.
Tem Vossa Excelência 12 horas para mandar-nos a resposta satisfatória, sob pena de ver a Pátria aniquilada.”
MARANHÃO, Ricardo e MENDES JUNIOR, Antônio. Brasil história: texto e consulta. SP: Brasiliense, 1983.
II. “Não era somente uma revolta contra a chibata. Os marinheiros expuseram os problemas e apresentaram
propostas concretas de mudança. De um lado, a chegada dos novos navios exigiu maior quantidade de homens,
sobrecarregando o trabalho dos existentes. As irritações e os castigos aumentaram consideravelmente. Além disso,
os oficiais receberam aumentos de salários, mas os marinheiros não tiveram a mesma sorte.”
NASCIMENTO, Álvaro Pereira do. “Contra a chibata, canhões.” Revista de História da Biblioteca Nacional, nº 9,
setembro de 2007.
III. “Os seus líderes terminaram presos e assassinados. A “marujada” rebelde foi inteiramente expulsa da esquadra.
Num sentido histórico, porém, eles foram vitoriosos. A “chibata” e outros castigos físicos infamantes nunca mais
foram oficialmente utilizados; a partir de então, os marinheiros — agora respeitados — teriam suas condições de
vida melhoradas significativamente. Sem dúvida fizeram avançar a História.”
MAESTRI, M. 1910: A revolta dos marinheiros – uma saga negra. São Paulo: Global, 1982.
A história do Brasil nas primeiras décadas do século XX foi marcada por vários movimentos sociais de base
popular, entre eles a Revolta da Chibata, ocorrida no Rio de Janeiro em 1910, um levante dos marujos dos
encouraçados Minas Gerais e São Paulo.
Explique o que foi a Revolta da Chibata (1910) considerando não só o peso da herança escravocrata no
Brasil, mas a luta por direitos empreendida por João Cândido e demais marinheiros na Primeira
República. (1,0)
* * *
I.
“[Fábrica 1] A duração do trabalho diário é de 11 horas úteis. O trabalho é interrompido pelo almoço, que dura
uma hora e meia, e pelo café, para o qual os operários têm um quarto de hora. Trabalham nessa fábrica 500
operários, na maioria italianos e espanhóis. [...] Impressão desagradável causa ao visitante o excessivo número de
menores em trabalho.”
“[Fábrica 2] Os contramestres são todos adultos, de nacionalidade italiana e em número de 20. Entre os374
operários recenseados, a nacionalidade predominante é italiana, vindo em seguida a espanhola e depois a brasileira:
dos brasileiros, 44 são menores de 12 anos. Esqueléticos, raquíticos, alguns! O tempo de trabalho varia para as
seções de onze horas e meia a doze horas e meia por dia.”
Trechos de relatórios do Departamento do Trabalho do Estado de São Paulo, escritos em 1912.
II.
“As mulheres eram também vítimas frequentes de tentativas de abuso sexual. As crianças eram espancadas por
quaisquer deslizes no trabalho. No interior da Fábrica de Tecidos Penteado, na capital paulista, um caso ocorrido
em 1922 é exemplar e assustador. Um menino chamado Daniel, exausto após longa jornada de trabalho,
adormeceu e perdeu o horário de saída. A segurança do prédio era feita, à noite, por um vigia acompanhado de
cães ferozes. Daniel foi dilacerado pelas feras, morrendo no hospital depois de longa e dolorosa agonia.”
“Em 1917, grandes greves envolveram dezenas de milhares de trabalhadores em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Na capital paulista, onde militantes anarquistas vinham há anos desenvolvendo atividades de propaganda libertária,
o assassinato do jovem sapateiro espanhol José Martinez pela polícia, num conflito de rua, transformou uma greve
já bem ampla em greve geral, que paralisou a cidade por alguns dias. Durante a greve formou-se o Comitê de
Defesa Proletária, composto por cinco militantes anarquistas e um socialista, para negociar um acordo com os
patrões. Algumas demandas, como reajustes salariais e redução de jornada de trabalho, foram parcialmente
atendidas e o acordo foi ratificado por três grandes comícios públicos. Foi a primeira greve geral parcialmente
vitoriosa na história brasileira, contribuindo para a autoestima da classe operária. No entanto, muitos patrões não
cumpriram o acordo e as autoridades públicas não honraram sua palavra: vários líderes foram perseguidos e presos,
e alguns estrangeiros deportados.”
ADDOR, Carlos Augusto. “De braços dados e cruzados.” In: Revista de História da Biblioteca Nacional, nº 95, agosto
de 2013. Disponível em: https://web.archive.org/web/20160416045806/http://rhbn.com.br/secao/capa/de-
bracos-dados-e-cruzados
Nos Estados Unidos, negros não usavam nem o mesmo bebedouro que brancos
“Todas as pessoas nascidas e naturalizadas nos Estados Unidos, e sujeitas à sua jurisdição, são cidadãos dos
Estados Unidos e dos estados em que residem. Nenhum Estado poderá fazer ou criar qualquer lei que crie
privilégios e imunidades para cidadãos dos Estados Unidos; nenhum Estado poderá privar qualquer pessoa da
vida, liberdade e propriedade, nem negar para qualquer pessoa a igual proteção das leis.”
XIV EMENDA À CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 1868. Disponível em:
<direitosfundamentais.net/2008/10/23>. Acesso em: 15 abr. 2013. (Adaptado).
A composição “Fruta estranha” ficou conhecida, nos Estados Unidos, pela interpretação de Billie Holiday, que a
cantou, pela primeira vez, em 1939. Desde então, essa composição tornou-se símbolo de protesto, aludindo a uma
prática cotidiana contrária à emenda constitucional, datada de 1868. Considerando-se o exposto acima:
a) explique a relação entre a composição e a questão racial, com base no contexto da Guerra Civil norte-
americana (1860-1865).
(1,0)
b) apresente a contradição entre as leis e as práticas político-sociais do Sul dos Estados Unidos no pós-
guerra civil.
(1,0)
* * *
QUESTÃO 6: EUA – Movimento pelos Direitos Civis (1,0)
Ativistas com cartazes escritos: “Eu sou um homem” são impedidos de protestar no Tennessee, em 1968.
“Pobreza, discriminação, segregação, linchamento e violência policial — tudo isso caracterizava a vida dos negros
dos Estados Unidos nos anos 50. Aproveitando as mensagens de liberdade e prosperidade do discurso oficial e
apoiados por seus aliados brancos, negros de todo o país, tanto dos estados outrora escravistas do Sul quanto dos
do Norte, construíram o mais importante movimento da história dos Estados Unidos, o 'Movimento por Direitos
Civis'. Conferindo à palavra 'liberdade' um novo sentido de igualdade e reconhecimento de direitos e
oportunidades, conseguiram mudar as relações raciais, políticas e sociais nos Estados Unidos, inspirando outros
americanos a lutar pelos seus direitos.”
PURDY, Sean. “O outro sonho americano”. In: História Viva, nº 54, abril de 2008.
Analise a importância do movimento por direitos civis nos EUA nos anos 50 e 60 em suas diferentes
estratégias de luta antirracista.