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Ética e deontologia na

educação física

AUTORIA
Cleber Henrique Sanitá Kojo
Guilherme França Fusco
Bem vindo(a)!

Seja muito bem-vindo(a)!

É uma enorme satisfação recebê-lo em nosso curso de Ética e Deontologia na


Educação Física. A partir de agora, iniciaremos uma viagem ao tempo para
esmiuçar, nas experiências losó cas, algumas explicações para a formação moral
pessoal, social e pro ssional, buscando, é claro, entender nossa formação
pro ssional, ou seja, um olhar para um horizonte futurístico, depositando nele nossa
aprendizagem como uma forma de expectativa.

Em nossa viagem losó ca, a procura desses espaços de experiências da formação


ética e moral, iremos iniciar, logo na unidade I, a busca do entendimento sobre o
que é ser ético, pois na nossa sociedade muito se fala sobre ter uma conduta ética,
mas não se tem uma formação correta desse conceito: muitos se dizem éticos
pro ssionalmente, mas sequer sabem o que é ser ético. Assim, você conhecerá os
conceitos de ética e moral.

Em seguida, você entenderá que o ser humano é feito de desejos e vontades e que
isso compreende a uma responsabilidade humana, pois sabemos que temos um
dever a cumprir e, por muitas vezes, exigimos nossa liberdade sem saber o que ela é
de fato.

Já na unidade II desta apostila, conheceremos alguns lósofos importantes com


suas ideias para formação do indivíduo. Apresentaremos os conceitos básicos da
loso a moral de Sócrates e de Aristóteles, além da compreensão da ideia de dever
e de intenção do cristianismo na moral humana.

Apresentaremos, ainda nessa unidade, o conceito de natureza humana proposta por


Rousseau e a moral da razão prática de Immanuel Kant. Vale ressaltar que você irá
conhecer perspectiva hegeliana e de Bérgson de cultura e de dever humano, além
da visão ética e liberdade proposta por Espinosa.

Nas unidades III e IV, retomaremos o fascínio sobre o assunto desta disciplina,
observando, lendo ou estudando as unidades I e II, pois é o início de um grande
desa o que vamos triunfar juntos. Proponho uma construção conjunta sobre a ética,
os esportes e a educação física. Vale ressaltar que iremos veri car os Valores Éticos e
Morais no Sistema CONFEF/CREFs (Conselho Federal e Regional de Educação
Física), além do código de ética pro ssional, exercício pro ssional e vida pro ssional
do indivíduo, identi cando, assim, os valores para o estudo do esporte para o
indivíduo e para sociedade. Conheceremos também a ética e a docência, além de
como o fair play e o “olimpismo” fazem parte de nossa pro ssão. Ressaltaremos
ainda a importância do docente dentro dos conselhos de classe embasados na sua
pro ssão.

Ao m dessa apostila, espero que seu horizonte de expectativas seja modi cado,
uma vez que todos nós, seres humanos e pro ssionais, somos frutos de uma
formação moral e ética de uma determinada sociedade e, dessa forma, devemos
agir com responsabilidade dentro da pro ssão e da sociedade vigente.
Sumário
Essa disciplina é composta por 4 unidades, antes de prosseguir é necessário que
você leia a apresentação e assista ao vídeo de boas vindas. Ao termino da quarta da
unidade, assista ao vídeo de considerações nais.

Unidade 1 Unidade 2
Os valores e a moral Teorias morais

Unidade 3 Unidade 4
Ética, esportes e educação física Conselhos de classe e participação
Os valores e a moral

AUTORIA
Cleber Henrique Sanitá Kojo
Guilherme França Fusco
Sumário
Introdução

1 - Os valores e a moral

2 - Caráter histórico, social e pessoal

3 - Desejo e vontade

Considerações Finais

Introdução
Seja muito bem-vindo(a)!

Prezado (a) estudante, preste muita atenção, pois se em você ocorreu um despertar
ou um fascínio sobre assunto desta disciplina, observando a pro ssão escolhida, é o
início de um grande desa o que vamos triunfar juntos. Proponho uma construção
conjunta sobre a ideia de ética e moral, visto que em nossa sociedade se fala muito
do ser ético, mas não se tem uma formação correta desse conceito, muitos se dizem
éticos pro ssionalmente, mas não sabem nem o que é ser ético. Vamos conhecer os
conceitos de Moral e ética e suas subdivisões para interpretarmos os componentes
que a constroem, uma vez que, em nosso dia a dia, indicamos valores as pessoas, e
vamos entender em qual momento devemos usar e identi car esse processo.

Dentro desse desa o, iremos conhecer muito além da ética e moral, considerando
que o ser humano é feito de desejos e vontades, o que nos faz perceber, através do
senso comum, que isso compreende a responsabilidade humana, além de sabermos
que temos um dever a cumprir e que, por muitas vezes, exigimos nossa liberdade
sem saber o que é liberdade de fato.

Por m, vamos conhecer o processo da liberdade humana e todo seu ato moral.
Assim, esperamos um docente com um posicionamento ético e social de maneira
positiva e construtiva na sociedade, tornando-se um pro ssional exemplar e que
some no desenvolvimento social e humano.

Muito obrigado e bom estudo!

Plano de Estudo:
1. Os Valores e a Moral
2. O Caráter Histórico, Social e Pessoal
3. A Espécie do Ato Moral
4. A Estrutura do Ato Moral
5. Desejo e Vontade
6. Responsabilidade, Dever e Liberdade

Objetivos de Aprendizagem:
1. Conhecer os Conceitos e De nições de Moral e Ética;
2. Entender a Valorização: Valores e diferenças culturais;
3. Contextualizar todo o processo histórico, social e pessoal de Ética e Moral;
4. Estabelecer os pontos do ato moral e suas divisões;
5. Compreender a diferença de desejo e vontade humana, além da
responsabilidade, dever e liberdade.
Os valores e a moral
Em pleno século XXI, ainda confundimos ética, moral, valores, entre outras palavras
e/ou conceitos. Vale ressaltar que, constantemente, encontramos o uso ambíguo de
palavras como "moral e ética", "valores e ética" e "valores e normas". Você consegue
rapidamente diferenciar e de nir cada uma delas? Caso você conheça, é um passo
gigantesco para estudo de nossa disciplina. No entanto, precisamos diferenciá-las
para não causar confusão em nossa vida. Assim, você poderá melhorar sua
comunicação e a elaboração do pensamento. Qual o código de ética de sua
pro ssão? Esperamos que embarque nessa viagem losó ca para que se crie um
pro ssional re exivo, crítico, responsável com a sociedade, com as normas legais e
compreendendo melhor seu papel social.

Antes de começar diretamente os debates sobre valores, moral e ética, tema este
muito discutido e pouco conhecido verdadeiramente pelas pessoas,  empresas e, até
mesmo, por pro ssionais em plena atuação de suas funções, quero compartilhar um
pensamento adquirido no decorrer do tempo, do senso comum, do conhecimento
cientí co, entre outros, ou seja, destaco que vivemos numa sociedade na qual os
valores morais são levados em consideração em vários setores da sociedade,
principalmente em uma época onde as redes sociais são repletas de pessoas que
acreditam ter conhecimento de tudo, seja em relação à posição política, religiosa,
entre outros. Porém, a maioria não sabe ou não compreende o verdadeiro signi cado
de valores, moral e ética.

Diante disso, precisamos compreender Moral e Ética, pois vale ressaltar que ambas se
completam e, assim, podemos debater como, por exemplo, os valores. No dicionário
Aurélio online (2014), a de nição das palavras Ética e Moral são as seguintes:

(ÉTICA, 2020): substantivo feminino: Segmento da loso a que se dedica


à análise das razões que ocasionam, alteram ou orientam a maneira de
agir do ser humano, geralmente tendo em conta seus valores morais.
[Por Extensão] Reunião das normas de valor moral presentes numa
pessoa, sociedade ou grupo social: ética parlamentar; ética médica.

(MORAL, 2020): Preceitos e regras que, estabelecidos e admitidos por


uma sociedade, regulam o comportamento de quem dela faz parte. Leis
da honestidade e do pudor; moralidade. [Filoso a] Parte da loso a que
trata dos costumes, dos deveres e do modo de proceder dos homens nas
relações com seus semelhantes.

Já etimologicamente, o termo “moral” vem de More (latim) e signi ca costume,


enquanto “ética” é Ethos (Grego), também signi cando costume.
SAIBA MAIS

Você sabe dizer o signi cado da palavra costume? De onde vêm os


costumes? Os costumes de cada sociedade originam-se dos valores
instituídos por ela e orientam o agir das pessoas, promovendo, assim,
uma convivência saudável entre os indivíduos, ou seja, os valores são
características morais que todos os seres humanos possuem. Servem ao
indivíduo para orientar seus comportamentos e ações, na satisfação de
determinadas necessidades.

Após compreendermos os costumes, temos que dar um passo à frente em nosso


estudo e adentrarmos nas características morais, complementando loso camente
nosso futuro conceito de ética e moral.

Observe a imagem abaixo:

Figura 1 - Características Morais

Coragem Respeito

Piedade Valores Solidariedade

Humildade Honestidade

Fonte: o autor.

Podemos a rmar, portanto, que valores como os citados acima norteiam o homem e
seu agir em sociedade, tornando-a uma sociedade onde a convivência é totalmente
possível e norteando até mesmo suas leis.
Um ponto de extrema importância para a compreensão dos valores é entender que
eles podem variar de acordo com a sociedade, ou até mesmo entre grupos sociais
diferentes. Por exemplo, se perguntar a uma brasileira o que ela acharia da ideia caso
seu marido lhe zesse a proposta de ter várias mulheres, provavelmente, ela teria a
atitude de se separar, ao passo que em países muçulmanos é normal o homem ter
várias esposas. Da mesma forma, é normal, nos países muçulmanos, o uso da burca e,
para nós, o uso de biquínis, ou seja, em uma sociedade, o cobrir o corpo ou não
depende de cada cultura adquirida através de sua moral formando os valores de um
grupo de indivíduos. Portanto, o que é moral para mim pode ser imoral para outros.

Diante disso, podemos a rmar que os valores morais são baseados em vários fatores,
como cultura, tradição, religião, convivência diária, entre outros de um determinado
grupo ou de um povo. Vale ressaltar que a manutenção dos valores morais de uma
sociedade vem determinar comportamentos e a orientação de como agir do grupo
em questão, garantindo, assim, a ordem e a existência de uma sociedade.
Caráter histórico, social e pessoal
Num primeiro momento, podemos a rmar que os valores morais citados acima são
herdados, pois, quando nascemos, já existe uma cultura determinada na sociedade e,
com isso, aprendemos desde cedo as suas regras, seguindo-as e absorvendo-as sem
perceber e identi cando como agir moralmente ou imoralmente.

Nesse determinado ponto, devemos diferenciar a Ética da moral, pois, segundo


Comte-Sponville (1998. Pg 14), “A Moral ordena; a Ética aconselha. A Moral responde à
pergunta: “o que devo fazer?”; a Ética, à pergunta: “como devo viver?”. Assim,
podemos a rmar que a moral não é algo de nido cienti camente, mas objeto desse
algo cientí co e a ética estuda os atos humanos, atos estes que devem ser
“Conscientes, Livres e Voluntários”, pois, assim, podemos con rmar a a rmação de
Comte-Sponville acima.

No cotidiano ouvimos a a rmação de que alguém foi imoral, porém você já parou
para pensar sobre o conceito de imoral? Já ouviu falar em amoral? E no não moral?
Qual a diferença de imoral, amoral e não moral? Talvez você já deva estar pensando
que agora começamos com a “chatice” e complicação. No entanto, estas dúvidas são
de fácil entendimento e compreensão, como nas de nições abaixo:

A Moral é o ato que está de acordo com uma norma ética ou indicação de
conduta social;
Já o Imoral é o ato que fere uma norma ética ou uma conduta estabelecida pela
moral social ou individual. É o ato pelo qual se dão os anti valores: da injustiça,
do mal, etc. (vai contra a introjeção da norma);
Amoral é o ato que não pode ser avaliado do ponto da ética ou da moral, pois
nele não se dão as condições transcendentais para a moralidade (não há
introjeção);
Não-moral é o ato em que não estão envolvidos diretamente os valores morais,
como, por exemplo, assistir a um jogo de futebol ou ir à praia.

Observe o quadro abaixo para auxiliar na compreensão do tema:


Quadro 1 - Diferença entre ética e moral

Ética Moral
Princípios éticos Código de conduta

Ética é princípio Moral é conduta específica


Ética é permanente Moral é temporal
Ética é universal Moral é cultural
Ética é regra Moral é conduta da regra
Ética é teoria Moral é prática
Ética é reflexão Moral é ação
Ética é trata do bem/mal Moral é trata do certo/errado

Aético = ausência de ética Amoral = ausência de moral


Antiético = contrário a ética Imoral = contrário a moral

Fonte: o autor.

Com o texto e a imagem acima, podemos compreender melhor os atos morais e


entender que eles são uma espécie de ponto nal. Assim, para facilitar esse processo
de se agir moralmente, também chamado de “atos morais”, e analisá-los enquanto
fenômenos, vamos dividi-los em duas categorias: as espécies e a estrutura e agir
moralmente ou atos morais.

1. Espécies de atos morais: divididas em três categorias que estudamos acima, os


chamados de atos morais (positivos), atos imorais (negativos) e atos amorais
(não sabe qual a moral da sociedade vigente);
2. Estrutura dos atos morais: é formada pela soma de três elementos – a
formação, a motivação e a situação.

Podemos acrescentar ainda que, dentro do caráter histórico da moral, temos sua
formação em vários períodos históricos, seja no período feudal na Idade Média, da moral
burguesa na Idade Moderna, entre outros. Assim, a rmo que a moral pode ser
considerada um fato histórico que, para o momento, é instituído, mas pode ser
modi cada com o tempo sem cometer anacronismos, considerando cada moral em cada
período. Segundo Adolfo Sanchez Velasquez (2017, p. 80), esse historicismo moral no
campo da re exão ética tem três direções fundamentais a ser respeitada.

a. DEUS COMO ORIGEM OU FONTE MORAL: No caso as normas morais derivam de um


poder sobre-humano [...]. Logo, as raízes morais não estariam no próprio homem,
mas fora e acima dele.
b. A NATUREZA COMO ORIGEM OU FONTE MORAL: A conduta moral do homem não
seria senão um aspecto da conduta natural, biológica. [...] Teriam origem nos
instintos, e, por isso, poderiam ser encontradas não só naquilo que o homem é como
ser natural, biológico, mas inclusive nos animais, pois Darwin chega a a rmar que os
animais experimentam sentimentos humanos como o amor, a felicidade, a lealdade
entre outros.
c. O HOMEM COMO ORIGEM OU FONTE MORAL: O homem é dotado de uma essência
eterna e imutável inerente a todos os indivíduos [...]. A moral constituiria um aspecto
dessa maneira de ser, que permanece e dura através das mudanças históricas e
sociais.

Essas três concepções históricas têm origem fora do homem como um ser histórico, pois,
na primeira, presenciamos um ser superior, onipotente, onipresente e onisciente, que não
precisa do homem, já o segundo, no mundo natural, seguido do terceiro, baseia-se no
homem abstrato, fora da sociedade e da história. Assim, todas a rmam que a moral
independe do homem, mesmo que constituída desde sua origem, pois as sociedades
instituem sua moral independentemente do indivíduo e do tempo.   Você talvez
compreendeu com facilidade, pois na história temos o surgimento da propriedade privada
que elimina a moral comunal existente anteriormente. Você pode compreender que, na
atualidade, as morais que seus avós possuíam já mudaram com o tempo e você sente
todos os dias no seu cotidiano. Assim é na história, com a moral aplicada na divisão do
trabalho, na sociedade escravista, entre outras. Para exempli car, podemos a rmar que
era normal descartar o negro como um ser humano simplesmente pela sua cor, pois
acreditavam ser superiores pela cor da pele, o Darwinismo social aplicado e aceito em um
determinado período histórico.

REFLITA

Será que você aceitaria a moral inserida na sociedade medieval, onde


reinava o Teocentrismo, no qual Deus era o centro do universo e o
homem era desprezado até o aparecimento do antropocentrismo e da
ascensão da sociedade burguesa?

Historicamente, a moral vai sendo construída com a evolução da sociedade, pois


tínhamos a divisão do trabalho e o desprezo humano na revolução industrial com
exploração desacerbada do trabalho infantil, feminino, chegando ao ponto de
incendiar uma fábrica com as mulheres dentro, dando origem ao dia das mulheres e
à valorização feminina. Também temos o movimento feminino, que busca a
igualdade moral até hoje. Para exempli car, podemos citar as tribos dos pigmeus,
onde o sexo e o casamento são liberados aos 10 anos de idade, ou em tribos africanas,
onde as mulheres têm seu órgão genital mutilado, pois o prazer é exclusivo ao sexo
masculino.
Vale ressaltar que esse processo histórico da moral vem sendo construído e
constituído dependendo dos atos morais implantados em diferentes sociedades. Por
isso, iremos falar agora das espécies de atos morais.

Espécies de Atos Morais


Para se entender melhor os atos morais, vamos apresentar a você a divisão destes nas
três vertentes citadas acima, ou seja, os chamados atos morais, imorais e amorais.

Iremos começar pelos chamados atos morais, que consistem em quando a rmamos
que são os atos nos quais o indivíduo possui conhecimento e entendimento, ou seja,
ele tem “ciência” das regras da sociedade e das normas para convivência coletiva,
escolhendo livremente segui-las, reconhecendo e compreendendo a importância das
regras sociais impostas.

Já os chamados de atos imorais são parecidos com os atos morais. No entanto, o


indivíduo faz a opção de não aceitá-las ou obedecê-las, ou seja, os atos imorais são
aqueles em que o indivíduo sabe que existem regras de convivência coletiva e toma a
decisão individual de não segui-las, pois ele não aceita que essas regras impostas têm
validade ou importância social.

O mais simples dos três são os atos amorais, pois o indivíduo não possui ciência
alguma da existência de normas e regras vigentes da sociedade. Por exemplo, um
determinado indivíduo chega a um novo país e tem comportamentos proibidos para
aquele determinado território sem ter compreensão disso.

Estrutura do Ato Moral


Para iniciarmos e implantarmos o mundo moral, precisamos ter uma consciência
crítica, também chamada de consciência moral, que avalia todas as normas e regras
vigentes na sociedade, orientando assim o agir humano. Vale ressaltar que a escolha
é a consciência humana chamada para que ocorra o discernimento entre o valor
moral e atos morais.

Podemos analisar e entender que a loso a em si estuda toda a ética e moral


humana, indicando se você é um sujeito moral, imoral ou amoral de uma
determinada sociedade. Assim, podemos a rmar que, para complementar essa teoria
losó ca, temos o chamado ato moral, que apresenta dois aspectos: o chamado de
normativo e o fatual, ou seja, o normativo consiste em todas as regras que devem ser
seguidas, já o fatual apresenta a decisão humana de segui-las ou não. Destacando
ainda que o normativo são as normas ou regras de ação, o que explica o “dever ser”, Já
o fatual são os atos humanos enquanto se realizam efetivamente.

Segundo Adolfo Sanchez Velásquez (2017, p. 80), o ato moral é ligado a um sujeito real
que pertence a uma determinada comunidade humana historicamente determinada
com normas ou regras, como a citação abaixo:
O ato moral como ato de um sujeito real que pertence a uma
comunidade humana, historicamente determinada, não pode ser
quali cado senão em relação com o código moral que nela vigora. Mas
seja, qual for o contexto normativo e histórico-social no qual o situamos,
o ato moral se apresenta como uma totalidade de elementos – motivo,
intenção ou m, decisão pessoal, emprego de meios adequados,
resultados e consequências – numa unidade indissolúvel.

Assim, podemos dizer que o ato será moral quando estiver de acordo com as regras
estabelecidas pela sociedade vigente.
Desejo e vontade
Após compreender que a Moral é um conjunto de regras que norteiam e orientam as
pessoas, devemos acrescentar que isso só funciona se ocorrer a aceitação dessas
normas, mesmo elas sendo exteriores ao indivíduo. Vale ressaltar que o ser humano
evolui com o tempo, cresce em “graça” e estatura, pois a palavra graça, aqui, quer
dizer a maturidade. Quando o homem abandona a infantilidade e passa a ter uma
maior consciência de seus atos, passa a tomar decisões que fazem parte de seu ser,
como os desejos e vontades.

Você já parou para pensar na diferença entre desejos e vontades? Como saber agir
contra os desejos?

Você precisa saber distinguir a diferença entre desejo e vontade, pois a rmo que será
impossível dominar nosso corpo de emoções implícitas ou explícitas e ter um ótimo
controle sobre nossa vida. Vale ressaltar que a de nição de desejo consiste nas
necessidades do corpo, o chamado “tesão” sem controle, um instinto humano. Já a
vontade consiste em quando você decide algo, uma ação pela qual você deixou a
mente vencer corpo, as situações que a mente domina, como, por exemplo, a vontade
de comer chocolate, ou seja, ela é mais calma e tranquila, enquanto o desejo envolve
compulsão. Importante salientar ainda que o desejo pode estar atrelado a sonhos e
fantasias, enquanto a vontade está ligada à ânsia. Desejo são relacionados também a
sentimentos e emoções, enquanto a vontade está ligada à lógica e à razão.

SAIBA MAIS

“Vontade distingue-se de desejo. O desejo não depende de escolha,


surge involuntariamente em nós. Já a vontade supõe a disposição
consciente para agir e depende do poder de re exão para satisfazer ou
não o desejo. Seguir o impulso do desejo sempre que ele se manifesta é
negar e moral e a possibilidade de qualquer vida em comum”.

Fonte: Aranha (2003).

Para agir contra os desejos, precisamos nos lembrar de tudo que foi estudado sobre a
moral e praticá-la rotineiramente. Será que conseguimos entender a relação entre
desejos e vontades e suas diferenças? Para exempli car melhor a diferença observe o
quadro abaixo:
Quadro 2 - Diferenças entre Desejo e Vontade

DESEJO VONTADE

* Provêm de estímulos
* Provêm do pensamento e da razão.
dos sentidos

* Precisa se consumir. * Precisa se realizar.

* Satisfaz caprichos e
* Satisfaz necessidades na luta pela vida.
fantasias.

* Prevalecem as forças do
* Prevalecem as forças da razão e da lógica.
instinto.

* É tênue e indireto. * É rme e direta.

* De regra, depende do * Só depende da própria criatura e do seu de


consentimento. outras criaturas. “Querer”.

* Utiliza artifícios e
* Vai direta ao alvo.
artimanhas.

* Leva aos vícios da


* Não contamina nem leva aos vícios.
conduta.

* É impulsivo e de difícil
* É racional, controlada pelo pensamento.
controle.

* Não forti ca o caráter. * Realça e fortalece o caráter.

* Coloca pouca força na


* Exige força e luta para vencer.
consumação.

* É aleatório, inconstante,
* Ajusta-se às circunstâncias e objetivos.
variável.

* É quase sempre
* É persistente e exige paciência.
imediatista.

Fonte: Samel (2010).


Responsabilidades, Dever e Liberdade
Após estudarmos toda consciência moral, imoral e amoral acima, podemos
considerar aparentemente confusa a ideia de relacioná-las com liberdade, não é?
Como ser livre e ser moral ao mesmo tempo? Parece confuso. Entretanto, podemos
construir a compreensão juntos, pois o con ito ou da retórica utilizada acima ou a
consciência humana é uma das principais razões que nos separa dos animais, nos
permitindo a racionalidade e o desenvolvimento do saber, além da separação do
verdadeiro ou falso. Essa “graça” é transformada em consciência moral, que nos
permite a observação de nossa própria conduta e, assim, formular juízos sobre nossos
atos, tanto no passado quanto no presente e no futuro. Logo, ao analisarmos e
julgarmos nossas ações, podemos fazer escolhas que nortearão a vida. Essa
possibilidade de escolher sua vida, podemos chamar de liberdade.

A liberdade vem atrelada às nossas escolhas, que nem sempre são as


ideais, pois, através da coerção, podemos determinar ações que às vezes
não são livres, como, por exemplo, quando bandidos sequestram um
membro da família e exigem que tomemos atitudes não éticas, tirando-
nos a liberdade e fazendo com que, nesse período de sequestro, nos
esqueçamos da consciência moral.

Claro que, quando somos livres para decidir e fazer nossas escolhas, nos tornamos
responsáveis por nossas ações, ou seja, assumimos as ações dos atos
conscientemente, respondendo pelas consequências praticadas. Vale ressaltar que o
comportamento moral é livre e responsável, além de obrigatório dentro da sociedade
vigente, criando em você, em mim e em nós o que chamamos de dever.

Desse modo, quando somos responsáveis e cumprimos nosso dever, somos livres,
cumprindo nosso dever moral. É importante destacar que, assim, o dever moral não
vem de uma causa externa, mas, sim, através da norma livremente assumida. Ainda
podemos a rmar que essa responsabilidade não deve ser interpretada como defesa
de um relativismo, onde todas as formas de conduta podem ser aceitas livremente.
Os direitos do homem, tais como em geral têm sido enunciados a partir
do século XVIII, estipulam condições mínimas do exercício da
moralidade. Por certo cada um não deixará de aferrar-se à sua moral;
deve, entretanto, aprender a conviver com outras, reconhecer a
unilateralidade de seu ponto de vista. E com isso está obedecendo à sua
própria moral de uma maneira especialíssima, tomando os imperativos
categóricos dela como um momento particular do exercício humano de
julgar moralmente. Desse modo, a moral do bandido e a do ladrão
tornam-se repreensíveis d ponto de vista da moralidade pública, pois
violam o princípio da tolerância e atingem direitos humanos
fundamentais (GIANOTTI, 1992, p. 245).

A responsabilidade vai criar um dever comportamental moral, pois o compromisso


humano é a obediência da decisão tomada por cada ser humano.

REFLITA

Na sua obra a República, Platão relata a lenda sobre um anel que tornaria
invisível quem conseguisse virar o engaste para dentro. Foi o que teria
acontecido ao pastor Giges, que vivia a serviço do rei da Lídia. Após ter se
salvado de um terremoto, ele retirou de um cadáver o referido anel. Ao
perceber que podia car invisível sempre que quisesse, entrou no
castelo, seduziu a rainha, tramou com ela a morte do rei e obteve o
poder.

Esse mito nos faz pensar sobre os motivos que estimulam ou coíbem
uma ação. Se pudesse car invisível em uma loja, você roubaria um
celular, por exemplo? Ou o que seria determinante para que, mesmo
invisível, você roubasse?

Fonte: Aranha (2003).


Livro
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Filme
Filme

Filme
Web
Teorias morais

AUTORIA
Cleber Henrique Sanitá Kojo
Guilherme França Fusco
Sumário
Introdução

1 - A Filoso a Moral de Sócrates e Aristóteles

2 - A Ideia de Dever e Intenção do Cristianismo

3 - A Natureza Humana de Rousseau

4 - A Moral da Razão Prática de Kant

5 - A Perspectiva Hegeliana e de Bérgson de Cultura e de Dever

6 - A Ética de Espinosa

7 - A Concepção Contemporânea de Virtude e o Racionalismo Ético

Considerações Finais

Introdução
Seja muito bem-vindo(a)!

Olá, caro(a) amigo(a)! Vamos continuar nossa viagem losó ca sobre ética e Moral.
Espero que tenha ocorrido em você um despertar sobre o tema com a unidade
anterior, te deixando ansioso pelo nosso próximo encontro e/ou nosso próximo
capítulo. Acredito que o fascínio apresentado no início da unidade anterior tenha sido
atingido com excelência e despertado uma nova forma de se pensar. Venho, então,
propor uma continuidade do assunto desta disciplina, sugerindo uma viagem ainda
maior, pois, a partir de agora, conheceremos as teorias de alguns lósofos que
permearam a formação moral e ética de muitas sociedades, tanto no passado quanto
no presente, passando, ainda, a transportar conhecimentos discutidos por grandes
pensadores atuais em todos os ambientes sociais, seja nas instituições de ensino
superior, até nas rodas cotidianas, sem falar do meio virtual, como em canais de
vídeos, debates e até mesmo em redes sociais, fazendo com que suas teorias sejam
entendidas e absorvidas por várias sociedades..

Proponho a você o entendimento de conceitos básicos da loso a moral de Sócrates


e de Aristóteles, além da compreensão da ideia de dever e de intenção do
cristianismo na moral humana.

Devemos, então, continuar essa viagem pelo conceito de natureza humana proposta
por Rousseau e a moral da razão prática de Immanuel Kant. Vale ressaltar que
passaremos também pela perspectiva hegeliana e de Bérgson de cultura e de dever
humano. Também é válido destacar que essa viagem passará, ainda, pela visão ética e
liberdade proposta por Espinosa.

Dentro desse desa o da viagem, conheceremos muito além de conceitos de ética e


moral, pois passaremos pela concepção contemporânea de virtude e do racionalismo
ético, nalizando o trajeto na contribuição da psicanálise à ética humana. Espero que
esteja preparado. Assim partiremos agora!

Muito obrigado e bom estudo!

Plano de Estudo:
1. A Filoso a moral de Sócrates e de Aristóteles;
2. A ideia de dever e de intenção do cristianismo;
3. A Natureza humana de Rousseau;
4. As leis da razão Kantiana;
5. A Perspectiva hegeliana e de Bérgson de cultura e de dever;
6. A Ética de Espinosa;
7. A Concepção contemporânea de virtude e Racionalismo ético.

Objetivos de Aprendizagem:
1. Conhecer a Filoso a moral de Sócrates e de Aristóteles;
2. Entender a ideia de dever e de intenção do cristianismo;
3. Compreender a Natureza humana de Rousseau;
4. Conhecer a moral da razão prática proposta por Kant;
5. Entender Perspectiva hegeliana e de Bérgson de cultura e de dever;
6. Conhecer a Ética de Espinosa;
7. Conhecer e comparar a concepção contemporânea de virtude e o Racionalismo
ético.
A Filoso a Moral de Sócrates e
Aristóteles
Por que estudar as diferentes correntes teóricas sobre a Ética? Por que começarmos
por Sócrates e Aristóteles? Talvez você se pergunte: o que pode me acrescentar essas
teorias?

Podemos começar a rmando que essas correntes teóricas poderão construir um


pro ssional ético e responsável na sociedade atual e, com certeza, essa viagem
começando pelo berço da civilização pode nos nortear a condução ética e moral de
nossas vidas. Vale ressaltar que, quando estudamos a história da loso a,
percebemos que não existe uma ética existente, mas, sim, éticas, pois, com o passar
do tempo, essas teorias são aproveitadas e debatidas por outros pensadores que
formulam novas ideias éticas e morais que conduzem a sociedade e, assim, essas
teorias podem constituir em nosso “ser” e nossa formação, podendo tornar nossas
a rmações éticas e consistentes nos diálogos cotidianos e em nossa formação e de
várias outras pessoas dentro da sociedade.

Podemos, então, começar nossas re exões sobre o mundo grego, que é considerado
o berço da civilização atual e onde podemos buscar a compreensão moral humana,
pois, se zermos uma viagem além do proposto no título do capítulo, podemos
começar a rmando a importância de Sócrates para loso a, pois a loso a é dividida
no momento histórico como antes e depois de Sócrates, ou seja, temos lósofos pré-
socráticos e pós-socráticos. Parece confuso, mas não é: os lósofos pré-socráticos
embasaram seus estudos no princípio de tudo, a origem das coisas, a cosmologia, ou
seja, Tales de Mileto, por exemplo, dizia que o princípio de tudo era a água, quanto
Anaximandro nos dá a de nição Arché e Apeíron, onde o princípio de tudo seria o
indeterminado; já Anaxímenes a rma que o princípio de tudo era o ar, ou seja, os
lósofos pré-socráticos não se preocuparam com o homem em si, mas com o
princípio de tudo. Vale ressaltar que a partir de Sócrates passamos a ter a análise do
ser, do homem e assim nascem os conceitos de ética e moral.
Vamos começar conhecendo um
pouco de Sócrates , que era lho de
um escultor e de uma parteira,
herança essa que o leva a “esculpir”,
ou seja, fazer uma representação
autêntica do homem, pois uma das
críticas ferrenhas de Sócrates seriam
os so stas – termo traduzido como
“sábios”. É importante destacar que
Sócrates não gostava dos So stas,
a rmando que eles não se
interessavam pela autenticidade
humana, ou seja, ele intitulava os
so stas como mercenários do saber,
defensores apenas do que lhes
interessava, começando, assim, a
desvendar o que posteriormente
seria intitulado de moral e ética.
@ ickr

Um grande ponto a ser destacado é que Sócrates saía nas Ágoras, (praças públicas)
conversando com as pessoas e dando demonstrações de que era preciso unir o saber
e o fazer, a consciência intelectual à consciência prática, ou seja, a moral em si. Assim,
Sócrates entra em uma das principais críticas aos so stas, a questão da consciência
moral, a rmando que o autoconhecimento é o ponto necessário para a ação humana
e a moral, originando a célebre frase inscrita no oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti
mesmo”. Sócrates tendia, ainda, a um diálogo crítico, também chamado de dialética,
criando, assim, duas ideias básicas que nortearam seus pensamentos, a chamada de
Ironia e Maiêutica.

Para exempli car melhor, podemos apresentar as ideias de ética e moral para o
Sócrates. Vamos começar então pelo conceito de moral de Sócrates, pois ele foi o
fundador da ciência moral e da ideia da racionalidade humana, identi cando assim a
ação racional que vai nortear a moral humana. Já a Ética socrática a rmava que o
homem deveria obedecer às leis impostas, pois só assim ele seria identi cado como
ser humano, pois, para Sócrates, essa obediência era o divisor de águas entre o que
chamamos de civilizatório e de barbárie. Para ele, devemos respeitar as leis, atingindo,
assim, o ápice que é a coletividade. Vale ressaltar que Sócrates, para valorizar seu
pensamento sobre moral e ética, não dava importância à questão social, buscando o
autoconhecimento, o que contrariava a sociedade na época e resultou em sua
acusação por “corruptor da juventude”, sendo injusto com os deuses da cidade.
Assim, Sócrates foi condenado pelos gregos a beber cicuta – veneno feito com a
planta de mesmo nome. Entretanto, mesmo condenado, ele não negou suas ideias,
apresentando uma força moral de quem não teme algo por ser ético.
Algum de vós poderia talvez altercar-me: "Sócrates, não te envergonhas
de haveres exercido tal atividade, que agora coloca em risco tua vida? Eu
responderia a este: "Não falas bem se pensa que alguém tendo
capacidade de fazer algum bem, mesmo sendo pequeno, deva calcular
os riscos de vida ou de morte e não deva olhar o injusto e se pratica as
ações de homem honesto e corajoso ou de infame e mau. Estás
enganado, se pensas que um homem de bem deve car pesando, ao
praticar seus atos, sobre as possibilidades de vida ou de morte. O
homem de valor moral deve considerar apenas, em seus atos, se eles são
justos ou injustos, corajosos ou covardes."  (PLATÃO, 2008, p. 80).

Assim como Sócrates e seu discípulo Platão, temos Aristóteles, que sofreu tantos com
os so stas quanto por não ser grego. Talvez você se pergunte: Como assim?
Aristóteles foi aluno de Platão, discípulo direto de Sócrates, não assumindo, por ser
macedônico, a academia losó ca no lugar de Platão, tendo que abandonar a Grécia,
retornando no período de dominação macedônica sobre os gregos. Aristóteles foi
mentor direto de Alexandre Magno (Alexandre o Grande), tornando-se respeitado e
podendo fundar sua própria escola, o chamado “Liceu”.

Podemos a rmar que Aristóteles tem grandes obras a serem estudadas. No entanto,
precisamos saber que ele era lho de um médico chamado Nicômaco e uma de suas
principais obras foi em homenagem a seu pai, ou seja, Ética a Nicômaco, através da
qual Aristóteles aprofunda a discussão sobre as questões éticas do mundo, dizendo
que a Ética é a parte do estudo losó co que nos ajuda diretamente a re etir sobre as
práticas humanas, a rmando também que tudo o que fazemos deve alcançar o bem
ou o que pareça o bem naquele momento, ou seja, devemos alcançar a loso a
moral chamada por ele de “Eudamonia”, termo grego de vida feliz, vida boa. Dessa
forma, segundo ele, o homem pode atingir a “Felicidade e a Virtude”, isso utilizando-
se da razão. Tais a rmações também estão em sua obra intitulada de meta sica.

Para concluir a felicidade tão importante para ética de Aristóteles, iremos citar um
pequeno trecho do Journal of Ancient Philosophy Vol. II 2008 Issue 2, que diz o
seguinte sobre a virtude e a felicidade em Aristóteles:

“Dado que a felicidade é certa atividade da alma segundo perfeita


virtude, deve-se investigar a virtude, pois assim, presumivelmente,
teremos também uma melhor visão da felicidade. (FRATESCH, 2008,
p.05). Revista acadêmica da Unicamp (EN I 13 1102ª5-10)).
REFLITA

Aristóteles, el aos princípios de sua loso a especulativa, e após ter feito


uma análise e um estudo da psicologia humana, veri ca que em todos
os seus atos o homem se orienta necessariamente pela ideia de bem e
de felicidade e que nenhum dos bens comumente procurados (a honra,
a riqueza, o prazer) preenche esse ideal de felicidade. Daí a sua
conclusão: primeiro, a felicidade humana deverá consistir numa
atividade, pois o ato é superior a potência; segundo, deverá ser uma
atividade relacionada com a faculdade humana mais perfeita que é a
inteligência […]” (COSTA,1994, p. 67).
A Ideia de Dever e Intenção do
Cristianismo
Em nossa vida é comum encontrarmos seguidores da religião cristã em todos os
setores da sociedade, desde a pessoa com menos recursos nanceiros até a mais rica.
Temos também indivíduos com o mínimo de conhecimento cientí co até os
intitulados intelectuais. Mas qual é o fascínio dessa religião? Por que tantos
seguidores? Talvez você e eu somos cristãos e não entendemos seu surgimento e até
a sua importância losó ca. Devemos, então, abandonar qualquer tipo de
preconceito religioso existente e analisar sua importância para a construção losó ca.
Você analisará essa evolução e importância neste tópico. Vamos lá?

Para iniciar esse debate losó co, vamos resgatar o contexto do surgimento dessa
religião no mundo, pois, historicamente, o homem sempre teve sua vida ligada ao
misticismo e, na maioria das vezes, essas religiões tinham um caráter político, com
uma dominação nacional e territorial. Vale ressaltar que o cristianismo nasce
aproximadamente no século I, digo aproximadamente porque estudiosos a rmam
que o calendário gregoriano cristão possui um erro de alguns anos. En m, o
cristianismo nasce com os ensinamentos deixados por Jesus Cristo e se espalha pelo
mundo através de seus seguidores que a rmavam a existência de um único Deus,
contrariando as religiões existentes até o momento, com exceção do Judaísmo, que
também acredita em um único Deus. Se, na antiguidade, a religião era ligada a um
território ou a uma comunidade social, no cristianismo era ligada às pessoas que
possuem “fé”, nos que creem. Isso pode ser explicado quando a rmamos que a vida, a
ética e a moral do cristão não são de nidas por sua relação com a sociedade, mas,
sim, na sua única e íntima relação com Deus.

A religião cristã se espalha pelo mundo através dos discípulos de Jesus, que passam a
contar seus legados para o mundo, dentre eles Paulo e João. Paulo era lho de um
tecelão e de alta posição no império romano, pois adquiriu sua cidadania romana e
passou a ter uma visão cruel em relação aos cristãos, ou seja, perseguia os seus
seguidores. Após sua conversão, Paulo andou por vários e vastos territórios
espalhando os conceitos básicos do cristianismo, até sua morte.

Com base nessas a rmações, vamos abordar aqui o que chamamos de “Filoso a
Patrística”, ou seja, trabalharemos uma corrente losó ca cristã que resultou do
esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos primeiros Padres
da Igreja, pois essa loso a recebeu tal nome devido aos primeiros teólogos do
cristianismo, os Padres da igreja, que traduzido signi ca “Pais da Igreja” (Padre = Pai).
O cristianismo com a loso a
patrística ganhou uma forma de
conciliação entre o pensamento
losó co dos gregos e romanos e,
com essa conciliação, ocorreu uma
adesão dos pagãos e essa religião.

A loso a patrística liga-se, portanto,


à tarefa religiosa da evangelização e à
defesa da religião cristã contra os
ataques teóricos e morais que
recebia dos antigos.

@freepik

Nos primeiros séculos da era cristã, os escritos de Aristóteles e Platão haviam


desaparecidos e, com isso, o cristianismo absorveu ideias das escolas helenísticas e
greco-romanas, como o estoicismo e do neoplatonismo apresentando a ideia do uno,
do qual emanariam todas as realidades, começando pelo Logos. O cristianismo, por
sua vez, baseia-se na fé, na bíblia, criada no concílio de Niceia, pois a bíblia vem da
palavra grega biblion, que signi ca conjunto de livros – como a palavra biblioteca, que
remete a um local de muios livros –, ou seja, a bíblia é um conjunto de livros
uni cados a um único livro. É de importante destaque que a bíblia foi dividida entre
antigo testamento, que é a Torá (o livro sagrado dos judeus), e nos livros sagrados
deixados pelos seguidores diretos de Jesus. Assim, podemos a rmar que a origem do
cristianismo está em acreditar nos ensinamentos da palavra revelada, pois para os
cristãos a verdade vem direto do Espírito Santo, ou seja, os lósofos não precisam
mais se dedicar na busca da verdade, pois ela já foi revelada.   En m, começamos
então o maior desa o losó co que é conciliar a fé e a razão.

A partir desse desa o, nos é proposto que a ética cristã vai tomar um lugar
importante na sociedade, pois vamos encontrar o lado espiritual através da fé e o lado
humano através da caridade cristã. É importante salientar que a obediência à palavra
revelada vai formar, no campo da moral, a ideia de dever, uma norma de conduta
moral e ética. Você consegue reconhecer um cristão através de sua conduta ética?
Talvez nessa sociedade atual com tantas manipulações seja um pouco difícil, mas não
deveria, pois o verdadeiro cristão segue essa ideia losó ca e deveria ser fácil
reconhecer, pois o seu seguidor tem um dever a cumprir. Já quando se fala do interior
humano, da interioridade falamos de intenção, que deve ser julgada eticamente, pois
Deus é onipotente, onipresente e onisciente e conhece sua intenção ética e moral.

Dessa forma, podemos veri car na fala de Marilena Chauí abaixo que o primeiro
contato ético se estabelece através dessa relação com Deus
A primeira relação ética, portanto, se estabelece entre o coração do
indivíduo e Deus, entre a alma invisível e a divindade. Como
consequência, passou-se a considerar como submetido ao julgamento
ético tudo quanto, invisível aos olhos humanos, é visível ao espírito de
Deus, portanto, tudo quanto acontece em nosso interior. O dever não se
refere apenas às ações visíveis, mas também às intenções invisíveis, que
passam a ser julgadas eticamente. Eis por que um cristão, quando se
confessa, obriga-se a confessar pecados cometidos por atos, palavras e
intenções. Sua alma, invisível, tem o testemunho do olhar de Deus, que a
julga (CHAUÍ, 2003, p. 37).

Assim, podemos demonstrar a formação ética absorvida pela relação com Deus,
apontando toda questão do sobrenatural que forma a origem de nossas atitudes e
práticas na sociedade, ou seja, tudo que nos torna um ser ético na sociedade.

SAIBA MAIS

Você já ouviu falar em Santo Agostinho? Junto com São Tomás de


Aquino, é considerado um dos mais célebres doutores da igreja, sendo
valorizado em várias religiões, com frases que norteiam a vida cotidiana
até os dias atuais. Vale ressaltar que suas obras guiaram o pensamento
cristão medieval e suas obras como as Con ssões são consideradas
trabalhos a serem seguidas por lósofos, historiadores, entre outros
autores de diversas áreas.

Você conhece alguma de suas frases? Que tal essa: “A medida do amor é
amar sem medidas”? Santo Agostinho.

Fonte: Santo Agostinho (2002).


A Natureza Humana de Rousseau

Rousseau é um lósofo nascido na


cidade Genebra que, em seus
estudos, tentou analisar o homem e
apontou alguns problemas na
relação sociedade e indivíduos,
a rmando que a sociedade é
perversa e corrompe o homem.
Sendo assim, ele propunha ao
indivíduo uma busca ao sentimento
para resgatar sua natureza que seria
boa. Ele acredita que a natureza é
um estado primitivo que tem origem
na sociedade, ou seja, que ela é
espontânea, liberta de toda
escravidão, pois, de acordo com ele, a
sociedade impõe ao homem uma
forma fútil de agir e de se relacionar,
promovendo nele um estado de
inércia no qual os deveres humanos
são esquecidos, o que torna o
homem um ser orgulhoso e cheio de
vaidades. Vale destacar que, para ele,
o homem primitivo vive de acordo
com as necessidades, atingindo a tão
importante felicidade, sem angústias
e sem desespero, evitando fazer o
mal para outros indivíduos.
@wikimedia

Um ponto importante em relação ao homem destacado por Rousseau é que ele deve
valorizar a liberdade, pois ela não é só um direito adquirido, mas, sim, um dever da
natureza humana que deve promover a convivência harmoniosa da sociedade, pois a
natureza do homem, quando pura e sem interferência da sociedade, pode promover
uma sociedade comum e sem individualismos. Você já parou para pensar nas pessoas
que cam paradas em sinais de trânsito pedindo alguma ajuda? Pensou em pessoas
que passam fome e matam, roubam, sequestram, entre outros? Vale apontar que, se
você e eu voltássemos à natureza humana, ao primeiro amor, ao estado natural
primitivo, resgataríamos a essência natural humana.

Nós estamos presos a uma sociedade egoísta e individualista que nos exclui uns dos
outros. Você conseguiu entender a ideia proposta por Rousseau? Esse pensador
acredita na bondade humana e que a sociedade afasta o homem de sua verdade,
promovendo sentimentos que os destroem, uma vez que, com o processo de
socialização, o homem cria o senso moral, desnecessário no mundo natural. Rousseau
acredita, ainda, que a razão leva o homem para fora de si, de sua natureza, por isso ele
propõe um contrato social para que ocorra uma vontade geral da sociedade,
apresentando todos as falhas do homem que foge de sua natureza. Assim, a proposta
é que tudo seja harmonioso.

A comunhão com a natureza é a única forma de preservação da


verdadeira essência do homem. Um retorno ao arquétipo, as origens.
Uma transposição da ordem social para a ordem natural que tem como
consequência a reconquista da verdadeira liberdade e felicidade. Mas as
leis eternas da natureza e da ordem existem [...]. Elas estão escritas no
fundo de seu coração pela consciência e pela razão; é a estas que ele
deve sujeitar-se para ser livre […]. A liberdade não está em nenhuma
forma de governo, ela está no coração do homem livre, ele a carrega por
toda parte com ele […] (BARROS, 2018, p. 199).

Sendo assim, podemos entender a base do seu pensamento através do contrato


social, tornando a relação e a convivência em sociedade algo viável e harmonioso.
A Moral da Razão Prática de Kant

REFLITA

Você já se desa ou em sua vida? Já criticou o que pensa ou pensou? Já


parou para tentar superar algo que está em duas frentes? Que tal tentar
responder a essas perguntas ou a perguntas como “o que posso saber?
O que posso esperar? O que devo fazer?”.

Tais dúvidas são constantes na vida de algumas pessoas, ao passo que são totalmente
desnecessárias para outras. Porém, existiu um lósofo que se preocupou em buscar
soluções para dúvidas parecidas com essas: esse lósofo era chamado de Emanuel
Kant, um lósofo alemão, professor universitário, considerado por vários pensadores
como um dos lósofos mais in uentes dos tempos modernos. Sua loso a tem uma
grande crítica na relação entre racionalismo e empirismo e, com suas propostas,
procura superar esse tema destacando a Razão através da crítica pura para saber seus
limites. Superando a ideia na capacidade plena da razão, sem analisá-la ou criticá-la,
podemos a rmar ainda que Kant faz a crítica ao chamado dogmatismo, que é
quando a razão acredita em algo sem discutir, sem debater, acreditando e pronto,
como, por exemplo, alguns dogmas da igreja católica, nos quais aquilo não se discute,
ou seja, o dogmatismo pode ser considerado um limite para razão pura, um
conhecimento conveniente.

Kant escreveu duas obras importantes: a chamada “Crítica da Razão Pura e Crítica a
Razão Prática”, na qual ele nos aponta uma razão teórica e uma prática que se
complementam como diz Höffe (2005, p. 187):

[...] a razão prática não é nenhuma outra que a razão teórica; só há uma
razão, que é exercida ou prática ou teoricamente. De modo geral a razão
signi ca a faculdade de ultrapassar o âmbito dos sentidos, da natureza.
A ultrapassagem dos sentidos pelo conhecimento é o uso teórico da
razão, na ação é o uso prático da razão.

A razão pura também é chamada por Kant de loso a transcendental, aquela que
ocorre quando temos conceitos, de nições puras que atingimos através de análises
da própria razão. Já a razão prática procura nos apontar um princípio para a
moralidade, pois, para ele, a moral não vem da experiência, o que tornaria a moral
fraca e sem sentido.
CONCEITUANDO

Segundo Andrade (2011), a loso a prática de Kant busca a implantação


de uma lei moral que seja um princípio prático universal a ser seguido.
Essa parte da loso a kantiana traz o que podemos chamar de uma
fundamentação da moralidade, encontrando uma lei central para
determinar o agir com moralidade entre os homens, respeitando a
vontade, o dever e a liberdade, temas esses abordados em outros
momentos de nossa disciplina.

Para prosseguir o raciocínio, responda a pergunta a seguir para você mesmo: você se
acha livre? Você pode ser livre e ético ao mesmo tempo? Assim que responder a si
mesmo, poderemos prosseguir com a ideia de Kant, pois, para ele, a razão prática diz
que somos livres e essa razão que tomamos e utilizamos nos dá o conceito real para
decidirmos entre ser moral ou imoral. Vale ressaltar que a razão prática nos dá
autonomia em relação à liberdade, ao agir, determinando nossas ações concretas.

A moral proposta por Kant nos leva a de nir o chamado dever, que, por sua vez, não
diz respeito a um indivíduo ou a outro, mas, sim, a todos os seres humanos, pois
temos a partir daí uma razão moral com princípios racionais, uma vez que o próprio
Kant (2008) dizia que a “virtude é a força da máxima do homem em sua obediência
ao dever”.

As Leis da Razão Kantiana


Você respeita as regras sociais? Sempre agiu dentro das leis da sociedade? Como
seres racionais que você e eu somos, agimos dentro das regras e leis sociais, pois,
segundo Kant, temos razão e, por isso, respeitamos o que nos é imposto. Mas que leis
são essas? Como analisá-las? Kant diz a você que essas leis podem ser categóricas ou
hipotéticas.

Observe o quadro a seguir para melhor compreensão:


Quadro 1 - Imperativo Hipotético E Categórico

IMPERATIVO HIPOTÉTICO IMPERATIVO CATEGÓRICO

Faz isso, mas na verdade quer fazer aquilo. Faz isso e pronto.

Cumpra tudo o a rma, ou o que prometeu, isso se você quer Cumpra tudo o a rma, ou o que
receber olhares de aprovação na sociedade. prometeu.

Você pode ser desacostumado,


Você pode ser acostumado, condicionado se....
incondicionado se....

O comando é o meio de se atingir o objetivo. O comando é o objetivo em si.

A vontade tem autonomia, ou seja,


A vontade vem de algo exterior a você.
vem de si, de você.

Independente da Razão Dependente da Razão.

Fonte: O Autor.

Para explicar melhor a proposta kantiana e a tabela acima, devemos a rmar que o
imperativo hipotético visa um m direto, te condiciona a esse m. Já o chamado de
imperativo categórico é uma imposição, um dever imposto pela razão.

Assim, podemos ter noções morais utilizando a razão e abandonando o que está
pronto e acabado, ou seja, não acreditamos em tudo. Um exemplo clássico dessa
a rmação seria utilizarmos a razão e, assim, jamais compartilhar as chamadas “fake
news” nas redes sociais, uma vez que procuraremos analisá-las racionalmente, não
acreditaremos no pronto e acabado.
A Perspectiva Hegeliana e de
Bérgson de Cultura e de Dever
Nos itens anteriores, estudamos a loso a kantiana e também as ideias de Rousseau,
que, por sua vez, buscaram a conciliação sobre o dever humano e a natureza humana,
isso relacionado à moral. No entanto, não deixam claro a relação de ética, cultura e
dever. Hegel vem investigando essa problemática e a rma que temos que superar as
propostas de Rousseau e Kant, pois ambos analisaram somente o homem e a
natureza humana, se esquecendo de olhar com calma para relação homem e cultura,
sem falar das relações pessoais entre os indivíduos, como entre as famílias, por
exemplo. É importante frisar que essas relações pessoais entre os indivíduos
determinam a moral e a ética dessas pessoas: imagine você que, desde pequeno,
ouviu de seus pais “devolva esse lápis. Não é seu.”, ou seja, ouviu seus responsáveis
ensinando-o o certo e o errado, o correto e o incorreto, o justo e o injusto. Como
desprezar essa relação familiar e pessoal no exercício da vida ética?

Apesar de conhecer a importância dos estudos kantianos e de Rousseau, Hegel


a rma que somos sujeitos históricos e culturais, ou seja, construímos nossa moral e,
nesse processo de construção, todas as instituições que compõem nossa sociedade
são importantes, pois é através delas que formamos o que estudamos no primeiro
capítulo: os valores.

A formação ética vai além de nossas vontades, ou seja, essas instituições apontam
para além de nossa vontade individual, criando a ideia que chamamos de dever.
Outro ponto a ser destacado é que não devemos cometer anacronismos, pois apesar
de formarmos nossa moralidade na cultura de uma sociedade, essa sociedade pode
ter novas partes culturais com o passar do tempo, ou seja, as normas morais da época
dos seus avós podem não ser as mesmas propostas a você. Por isso, Hegel
considerava que, cumprindo o dever imposto pela sociedade em que vivemos,
podemos ser livres e seguir as normas morais da sociedade, respeitando toda sua
in uência.

Outra a rmação importante destacada por Hegel é que, utilizando a razão, podemos
perceber essa mudança de uma sociedade para outra e até mesmo dentro de uma
sociedade. Isso ocorre quando começamos a transgredir as regras morais vigentes.
Você já deve ter ouvido seus avós ou
seus pais dizendo “na minha época,
só de meu pai olhar, eu já sabia que
depois tinha uma surra” .

Talvez ouviu também “ai de mim se


passasse pelo meio da conversa de
pai e a visita sem pedir licença” .
Diante disso, percebemos que, sendo
verdade ou uma fantasia do seu
responsável, essas falas nos ensinam
a compreender que a sociedade
muda culturalmente e nos molda
moralmente.
@freepik

No século XX, Bergson, complementa a loso a hegeliana da relação do dever e o


tempo/cultura, apontando o que ele chama de moral aberta e moral fechada.

A moral fechada é o acordo entre os valores e os costumes de uma


sociedade e os sentimentos e as ações dos indivíduos que nela vivem. É
a moral repetitiva, habitual, respeitada quase automaticamente por nós.
Em contrapartida, a moral aberta é uma criação de novos valores e de
novas condutas que rompem a moral fechada, instaurando uma ética
nova. Os criadores éticos são, para Bergson, indivíduos excepcionais –
heróis, santos, profetas, artistas -, que colocam suas vidas a serviço de
um tempo novo, inaugurado por eles, graças a ações exemplares, que
contrariam a moral fechada vigente. (CHAUÍ, 2000, p. 40).

Já Hegel,

diria que a moral aberta bergsoniana só pode acontecer quando a


moralidade vigente está em crise, prestes a terminar, porque um novo
período histórico-cultural está para começar. A moral fechada quando
sentida como repressora e opressora, e a totalidade ética, quando
percebida como contrária à subjetividade individual, indicam aquele
momento em que as normas e os valores morais são experimentados
como violência e não mais como realização ética (CHAUÍ, 2000, p. 41).

Assim, podemos a rmar que tanto Hegel quanto Bergson nos aproximam ainda mais
do ser moral com suas críticas e seus complementos.
A Ética de Espinosa

SAIBA MAIS

O lósofo holandês Baruch Espinosa viveu no século XVII e deixou uma


ideia destacada por vários estudiosos, sendo considerado por muitos um
dos grandes nomes do debate sobre ética e liberdade. Espinosa (2017)
considera que Deus não é um ser transcendente separado daquilo que
criou, ou seja, é uma substância que criou o universo inteiro e não se
separa da matéria, por isso do termo “Deus sive Natura”: Deus ou
Natureza.

Para Espinosa, todos os seres têm uma ligação com o ser divino e ele dá a essa
ligação o nome de Conatus, ou seja, uma força vital que expressa o corpo e a alma
juntos. Parece loucura esse início de conteúdo, mas não é. Para ele, há as paixões
alegres e paixões tristes, que não se separam e que crescem de acordo com cada
uma, como, por exemplo, os desejos e vontades, que surgem mais das alegres do que
das tristes. Se você ainda não entendeu, vamos começar explicando como elas
nascem.

Desejos nascidos da tristeza:

“[...] (inveja, ódio, medo, orgulho, ciúme, vingança) são mais fracos por que impedem o
crescimento, corrompem as relações e as orientam para as formas de exploração e
destruição” (ARANHA, 2013, p. 194).

Desejos nascidos da alegria:

[...] (amor, amizade, generosidade, benevolência, gratidão) são mais fortes porque
aumentam nossa capacidade de agir e de pensar, permitem o desenvolvimento
humano, facilitam o encontro de pessoas (ARANHA, 2013, p. 194).

En m, podemos a rmar, em outras palavras, que a alegria faz o corpo e alma


expandirem seus talentos, fazendo com que o ser humano se afaste das coisas tristes.
Vale destacar seu pensamento diferente dos outros lósofos estudados que
classi cam a razão superior aos sentimentos, não cabendo a ela o controle dos afetos
humanos. Para Espinosa (2017), os desejos jamais serão dominados por uma ideia ou
uma vontade, mas somente por outro sentimento mais forte. Mas onde entra a
liberdade nisso? De acordo com ele, a liberdade não pode ser corrompida por nada se
houver as paixões tristes que reservam o ser humano e não os torna escravos.
Devemos, pois, nos dedicar, sobretudo, à tarefa de conhecer, tanto
quanto possível, clara e distintamente, cada afeto, para que a mente seja,
assim, determinada, em virtude do afeto, a pensar aquelas coisas que
percebe clara e distintamente e nas quais encontra a máxima satisfação
(ESPINOSA, 2017, p. 217).

Espinosa foi excomungado de sua religião e, a partir daí, começou a desenvolver suas
teses, nas quais ele valoriza a felicidade humana, descartando a tradição cristã que,
para ele, faz com que o homem se torne fraco e sem valor. O autor a rma que
ninguém é totalmente livre e sempre é ligado a algo na vida, não podendo agir como
quer ou como bem entender, pois sua ética a rma que o homem acaba tornando-se
escravo das paixões.

Para Espinosa (2017), Deus é uma força, um ser, grande e poderoso que não tem
tempo para voltar o olhar aos insigni cantes humanos, ou seja, Deus, para ele, não é
responsável pelo que acontece com você, pois você é fruto das suas próprias escolhas.
Absorvendo a Ética de Espinosa, o homem tem paz, pois passa acreditar que sua
salvação nasce do conhecimento próprio.

SAIBA MAIS

A liberdade é, provavelmente, a maior conquista humana e, com isso,


temos diversos lósofos que passaram a estudar e publicaram várias
obras abordando a liberdade em si. Entre eles, podemos citar Marx,
Sartre, Descartes, Kant e outros. Por exemplo, Descartes a rmou que a
liberdade é motivada pela decisão humana e, muitas vezes, essa vontade
depende de outros fatores, como dinheiro ou bens materiais.

Fonte: Santos (2017).


A Concepção Contemporânea de
Virtude e o Racionalismo Ético
A concepção contemporânea de virtudes é repleta de fatores sociais e lógicos, uma
vez que devemos considerar e focar na virtude e no caráter humano, o que nos
possibilita entender melhor as pro ssões e suas características básicas.

Adaptando o que diz Solomon (2006), a vida corporativa para pro ssão, e, por m seu
sucesso, vai depender do caráter e da personalidade do pro ssional. Vale ressaltar
que as virtudes pro ssionais vão depender do local e da cultura onde se aplicam, pois
os valores adquiridos pelo pro ssional vão nortear toda a instituição representada por
ele.

Ainda de acordo com Solomon (2006), Aristóteles considera que as virtudes são
de nidas com a prática humana na sociedade e do próprio ser humano em questão.
Assim, a soma das virtudes do indivíduo e da instituição que ele exerce sua pro ssão
satisfaz as necessidades da sociedade, pois contempla todos os desejos humanos e as
relações interpessoais.

Podemos a rmar que, até o momento, conhecemos diversas teorias sobre ética, nas
quais algumas se completam e outras se diferem, mas podemos chegar à conclusão
de que ela, bem como suas virtudes, é extremamente necessária para que ocorra
uma ótima convivência em sociedade.

Toda pro ssão e instituição precisam de indivíduos com virtudes capazes de somar,
contemplando a missão proposta por ambas. Pergunto, então, a você: quais as
virtudes você tem ou pode adquirir para se somar a sua pro ssão e/ou para
instituição em que vai oferecer e/ou exercer seu trabalho? Pense e re ita na
importância da sua virtude, pois, na contemporaneidade, temos muitos desa os para
sua virtude – desde o consumo do álcool até mesmo as redes sociais podem
demonstrar a virtude humana desenfreada. A partir daí você pode utilizar a Razão, ou
o racionalismo ético, isso em todas suas vertentes, pois temos de nições diferentes
de razão também, que se completam.

Observe abaixo algumas explicações para as diferentes formas de racionalismo:


I. No sentido metafísico, doutrina segundo a qual nada existe que não
tenha sua razão de ser, de tal maneira que por direito, senão de fato, não
há nada que não seja inteligível.

II. Doutrina segundo a qual todo conhecimento certo provém de


princípios irrecusáveis, a priori, evidentes, de que ela é consequência
necessária, e por si sós, os sentidos não podem fornecer senão uma ideia
confusa e provisória da verdade. (Descartes, Espinoza, Hegel)

III. Doutrina segundo a qual só nos devemos ar na razão (sistemas de


princípios universais e necessários) e não admitir nos dogmas religiosos
senão o que ela reconhece como lógico e satisfatório segundo a luz
natural. (Teólogos, de nição dominante até século XIX).

IV. A experiência só é possível para um espírito que tenha disciplina


intelectual: fé na razão, na evidência e na demonstração; crença na
e cácia da luz natural. (Kant).

Fonte: GOMES, W. B. Relações entre Psicologia e Filoso a: A psicologia


losó ca. Psicologia/Filoso a, Porto Alegre, [S.I.], 2003.

Acesse: http://www.ufrgs.br/museupsi/dicotomia.htm

Mesmo com tantas de nições acima, você pode entender o racionalismo ético,
mesmo que super cialmente, associando-se à virtude contemporânea debatida em
vários momentos e compreender que você precisa se encontrar na sociedade,
fazendo suas escolhas para ser um pro ssional de excelência.
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Filme

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Ética, esportes e educação
física

AUTORIA
Cleber Henrique Sanitá Kojo
Guilherme França Fusco
Sumário
Introdução

1 - Valores Éticos e Morais no Sistema CONFEF/CREFs (Conselho


Federal e Regional de Educação Física)

2 - Código de Ética Pro ssional e Exercício Pro ssional

3 - Ética e Vida Pro ssional

4 - Identi cando Valores para o Estudo do Esporte

5 - Esporte, ética e intervenção no campo da Educação Físic

6 - Ética e Docência

7 - Ética no Esporte, Ética Pro ssional, Fair Play e Olimpismo

8 - Ética do Pro ssional de Educação Física: do Dever-Ser ao Dever-


Fazer

Considerações Finais

Introdução
Seja muito bem-vindo (a)!

Caro (a) aluno (a), que atento, pois identi caremos juntos as transformações que
podemos proporcionar a sociedade através do que será abordado nesta disciplina.
Estudando, lendo e analisando os conteúdos das unidades III e IV construiremos uma
base para triunfar sobre os instrumentos propostos. Meu objetivo é que consigamos
construir uma sapiência sobre a Ética na Educação Física, fazendo com que se
esclareça o comportamento pro ssional do professor em suas áreas de atuação.

Proponho um entendimento em conjunto sobre os documentos que nos norteiam


CONFEF/CREFS (Conselho Federal e Regionais de Educação Física), acerca dos
Valores Éticos e Morais do Sistema. Vamos explorar tudo o que puder relacionar a
Ética ao exercício pro ssional e descobriremos a relação Ética e vida pro ssional.
Direcionaremos para a identi cação dos valores dos estudos dos esportes, veri cando
a importância de a Ética estar inserida nos Esportes e a sua intervenção no campo da
Educação Física. Proponho ainda que juntos possamos despertar a curiosidade sobre
a importância do assunto na sociedade e na área pro ssional.

Vamos explorar os conceitos Ética e Docência, trazendo valores que possamos


experimentar na prática docente. Exploraremos também situações que
contextualizam a Ética nas variadas formas de ver o esporte.
Por m, desvendaremos a Ética do Pro ssional de Educação Física do dever-ser ao
dever-fazer, além de como a postura do professor interfere na resolução de situações
e vivências que possam acontecer no cotidiano.

Muito obrigado e bom estudo!

Plano de Estudo:
1. Valores Éticos e Morais no Sistema CONFEF/CREFs (Conselho Federal e Regional
de Educação Física);
2. Código de Ética Pro ssional e exercício pro ssional;
3. Ética e vida pro ssional;
4. Identi cando Valores para o Estudo do Esporte;
5. Esporte, Ética e Intervenção no campo da Educação Física;
6. Ética e docência;
7. Ética no esporte, ética pro ssional, fair play e olimpismo;
8. Ética do Pro ssional de Educação Física: do dever-ser ao dever-fazer.

Objetivos de Aprendizagem:
1. Conhecer e apontar quais são os Valores Éticos e Morais no Sistema
CONFEF/CREFs (Conselho Federal e Regional de Educação Física);
2. Entender o Código de Ética Pro ssional e exercício pro ssional;
3. Compreender Ética e vida pro ssional;
4. Identi car os Valores para o Estudo do Esporte;
5. Contextualizar o Esporte, Ética e Intervenção no campo da Educação Física;
6. Conhecer sobre Ética e docência;
7. Compreender a Ética no esporte, ética pro ssional, fair play e olimpismo;
8. Entender a Ética do Pro ssional de Educação Física: do dever-ser ao dever fazer.
Valores Éticos e Morais no
Sistema CONFEF/CREFs
(Conselho Federal e Regional de
Educação Física)
Na década de 90, próximo ao ano 2000, mais exatamente em 1° de setembro de 1998,
entrou em vigor a Lei n° 9.696, que dispõe sobre a regulamentação da pro ssão de
Educação Física e cria os respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais de
Educação Física.  Este conselho, dentro de seu estatuto, cria uma Comissão de Ética
Pro ssional, a qual lhe dá a competência de, entre outras atribuições, zelar pela
observância dos princípios do Código de Ética do Pro ssional de Educação Física,
trazendo em sua Resolução n° 307/2015 o Código de Ética dos Pro ssionais de
Educação Física registrados no Sistema CONFEF/CREFs, buscando como ideal da
pro ssão a prestação de um atendimento melhor e mais quali cado a um número
cada vez maior de pessoas, tendo ainda como referencial um conjunto de princípios,
normas e valores éticos livremente assumidos, individual e coletivamente, pelos
pro ssionais de Educação Física.
A construção do Código de Ética para a Pro ssão de Educação Física foi
desenvolvida através do estudo da historicidade da sua existência, da
experiência de um grupo de pro ssionais brasileiros da área e da
resposta da comunidade especí ca de pro ssionais que atuam com esse
conhecimento em nosso país.

Assim, foram estabelecidos os 12 (doze) itens norteadores da aplicação do


Código de Ética, que xa a forma pela qual se devem conduzir os
Pro ssionais de Educação Física registrados no Sistema CONFEF/CREFs:

I - O Código de Ética dos Pro ssionais de Educação Física, instrumento


regulador do exercício da Pro ssão, formalmente vinculado às Diretrizes
Regulamentares do Sistema CONFEF/CREFs, de ne-se como um
instrumento legitimador do exercício da pro ssão, sujeito, portanto, a um
aperfeiçoamento contínuo que lhe permita estabelecer os sentidos
educacionais, a partir de nexos de deveres e direitos;

II - O Pro ssional de Educação Física registrado no Sistema


CONFEF/CREFs e, consequentemente, aderente ao presente Código de
Ética, na qualidade de interventor social, deve assumir compromisso
ético para com a sociedade, colocando-se a seu serviço primordialmente,
independentemente de qualquer outro interesse, sobretudo de natureza
corporativista;
IIII - Este Código de Ética de ne, para seus efeitos, no âmbito de toda e
qualquer atividade física, como destinatário, o Pro ssional de Educação
Física registrado no Sistema CONFEF/CREFs e, como bene ciários das
intervenções pro ssionais os indivíduos, grupos, associações e
instituições que compõem a sociedade. O Sistema CONFEF/CREFs é a
instituição mediadora, por exercer uma função educativa, além de atuar
como reguladora e codi cadora das relações e ações entre bene ciários
e destinatários;

IV - A referência básica deste Código de Ética, em termos de


operacionalização, é a necessidade em se caracterizar o Pro ssional de
Educação Física diante das diretrizes de direitos e deveres estabelecidos
normativamente pelo Sistema CONFEF/CREFs. Tal Sistema deve visar
assegurar por de nição: qualidade, competência e atualização técnica,
cientí ca e moral dos Pro ssionais nele incluídos através de inscrição
legal e competente registro;
V - O Sistema CONFEF/CREFs deve pautar-se pela transparência em suas
operações e decisões, devidamente complementada por acesso de
direito e de fato dos bene ciários e destinatários à informação gerada
nas relações de mediação e do pleno exercício legal. Considera-se
pertinente e fundamental, nestas circunstâncias, a viabilização da
transparência e do acesso ao Sistema CONFEF/CREFs, através dos meios
possíveis de informação e de outros instrumentos que favoreçam a
exposição pública;
VI - Em termos de fundamentação losó ca o Código de Ética visa
assumir a postura de referência quanto a direitos e deveres de
bene ciários e destinatários, de modo a assegurar o princípio da
consecução aos Direitos Universais. Buscando o aperfeiçoamento
contínuo deste Código, deve ser implementado um enfoque cientí co,
que proceda sistematicamente à reanálise de de nições e indicações
nele contidas. Tal procedimento objetiva proporcionar conhecimentos
sistemáticos, metódicos e, na medida do possível, comprováveis;

VII - As perspectivas losó cas, cientí cas e educacionais do Sistema


CONFEF/CREFs se tornam complementares a este Código, ao se
avaliarem fatos na instância do comportamento moral, tendo como
referência um princípio ético que possa ser generalizável e
universalizado. Em síntese, diante da força de lei ou de mandamento
moral (costumes) de bene ciários e destinatários, a mediação do
Sistema produz-se por meio de posturas éticas (ciência do
comportamento moral), símiles à coerência e fundamentação das
proposições cientí cas;
VIII - O ponto de partida do processo sistemático de implantação e
aperfeiçoamento do Código de Ética dos Pro ssionais de Educação
Física delimita-se pelas Declarações Universais de Direitos Humanos e da
Cultura, como também pela Agenda 21, que situa a proteção do meio
ambiente em termos de relações entre os homens e mulheres em
sociedade e ainda, através das indicações referidas na Carta Brasileira de
Educação Física (2000), editada pelo CONFEF. Estes documentos de
aceitação universal, elaborados pelas Nações Unidas, e o Documento de
Referência da qualidade de atuação dos Pro ssionais de Educação Física,
juntamente com a legislação pertinente à Educação Física e seus
Pro ssionais nas esferas federal, estadual e municipal, constituem a base
para a aplicação da função mediadora do Sistema CONFEF/CREFs no
que concerne ao Código de Ética;

IX – Além, da ordem universalista internacional e da equivalente legal


brasileira, o Código de Ética deverá levar em consideração valores que lhe
conferem o sentido educacional almejado. Em princípio, tais valores
como liberdade, igualdade, fraternidade e sustentabilidade com relação
ao meio ambiente, são de nidos nos documentos já referidos. Em
particular, o valor da identidade pro ssional no campo da atividade física
- de nido historicamente durante séculos - deve estar presente,
associado aos valores universais de homens e mulheres em suas relações
socioculturais;

X - Tendo como referências a experiência histórica e internacional dos


Pro ssionais de Educação Física no trato com questões técnicas,
cientí cas e educacionais, típicas de sua pro ssão e de seu preparo
intelectual, condições que lhes conferem qualidade, competência e
responsabilidade, entendidas como o mais elevado e atualizado nível de
conhecimento que possa legitimar o seu exercício, é fundamental que
desenvolvam suas atuações visando sempre preservar a saúde de seus
bene ciários nas diferentes intervenções ou abordagens conceituais;
XI - A preservação da saúde dos bene ciários implica sempre na
responsabilidade social dos Pro ssionais de Educação Física, em todas as
suas intervenções. Tal responsabilidade não deve e nem pode ser
compartilhada com pessoas não credenciadas, seja de modo formal,
institucional ou legal;

XII - Levando-se em consideração os preceitos estabelecidos pela


bioética, quando de seu exercício, os Pro ssionais de Educação Física
estarão sujeitos sempre a assumirem as responsabilidades que lhes
cabem. (CONFEF/CREFs, 2020).

Tendo esses itens como norteadores, foram classi cados alguns princípios aos quais
se pauta o Pro ssional de Educação Física no Art. 4° da resolução citada, tais como: o
respeito à vida e à dignidade, à integridade e aos direitos do indivíduo, a
responsabilidade social, ausência de discriminação ou preconceito de qualquer
natureza, o respeito a ética nas diversas atividades pro ssionais, a valorização da
identidade pro ssional no campo das atividades físicas, esportivas e similares, a
sustentabilidade do meio ambiente, prestação, sempre, do melhor serviço a um
número cada vez maior de pessoas, com competência, responsabilidade e
honestidade e atuação dentro das especi cidades do seu campo e área do
conhecimento, no sentido da educação e do desenvolvimento das potencialidades
humanas, daqueles aos quais prestam serviços.

No mesmo documento, o Art. 5° rege as diretrizes para a atuação dos órgãos


integrantes do Sistema CONFEF/CREFs e para o desempenho da atividade
pro ssional em Educação Física, sendo elas: comprometimento com a preservação
da saúde do indivíduo e da coletividade e com o desenvolvimento físico, intelectual,
cultural e social do bene ciário de sua ação, o aperfeiçoamento técnico, cientí co,
ético e moral dos Pro ssionais registrados no Sistema CONFEF/CREFs, a
transparência em suas ações e decisões, garantida por meio do pleno acesso dos
bene ciários e destinatários às informações relacionadas ao exercício de sua
competência legal e regimental, a autonomia no exercício da pro ssão, respeitados
os preceitos legais e éticos e os princípios da bioética, priorização do compromisso
ético para com a sociedade, cujo interesse será colocado acima de qualquer outro,
sobretudo do de natureza corporativista, integração com o trabalho de pro ssionais
de outras áreas, baseada no respeito, na liberdade e independência pro ssional de
cada um e na defesa do interesse e do bem-estar dos seus bene ciários.

Por m, quando o pro ssional efetua seu registro no CONFEF/CREFs, seja para
licenciatura ou bacharelado, implica em total aceitação e submissão às normas e
princípios contidos neste código.
SAIBA MAIS

“Compete ao Pro ssional de Educação Física coordenar, planejar,


programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, avaliar e executar
trabalhos, programas, planos e projetos, bem como prestar serviços de
auditoria, consultoria e assessoria, realizar treinamentos especializados,
participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar
informes técnicos, cientí cos e pedagógicos, todos nas áreas de
atividades físicas e do desporto”.

Fonte: Brasil (1998).

REFLITA

De acordo com Paolucci (2013), a aplicação do mesmo Código de ética


também proporciona a transformação da vida das pessoas para a
melhor, e não somente proporciona grandes conquistas tecnológicas e
metodológicas de todas as áreas demarcadas pelos pro ssionais.
Código de Ética Pro ssional e
Exercício Pro ssional
Compete ao CONFEF editar e alterar o Código de Ética do Pro ssional de Educação
Física, através de uma Comissão de Ética pro ssional a qual tem a responsabilidade
de: propor mudanças no Código de Ética do Pro ssional de Educação Física, também
zelar pela observância dos princípios do Código de Ética do Pro ssional de Educação
Física, funcionar como Conselho Superior de Ética Pro ssional, examinar e julgar os
recursos das decisões dos Tribunais Regionais de Ética, inclusive, determinando
diligências necessárias à sua instrução, levando, após o julgamento, ao conhecimento
do Plenário, responder consultas e orientar as Comissões de Ética dos CREFs sobre o
disposto no Código de Ética do Pro ssional de Educação Física e no Código
Processual de Ética, responder consultas e orientar sobre a conduta esperada dos
Pro ssionais de Educação Física. Vale ressaltar que esse código de ética compete
tanto aos licenciados como aos bacharéis.
SAIBA MAIS

Revista Educação Física UNIFAFIBE, Ano II, n. 2, p. 125-142, dezembro/2013.

a) Respeito mútuo e cumprimento dos deveres sociais e políticos;

b) Senso criativo e crítico construtivo;

c) Auto valorização da cultura brasileira;

d) Respeito às diferenças;

e) Valorização do ambiente em que se vive;

f) Desenvolver auto con ança, afetividade e respeito para com seu


próximo;

g) Adquirir hábitos saudáveis para sua qualidade de vida e de todos;

h) Se expressar, interpretar, e produzir conhecimento de forma verbal,


matemática, grá ca, plástica e corporal;

i) Se utilizar de diversos recursos tecnológicos;

j) Solucionar problemas de forma lógica, criativa e intuitiva.

É tarefa da Educação Física escolar, portanto, garantir o acesso dos


alunos às práticas da cultura corporal, contribuir para construção de um
estilo pessoal de exercê-las e oferecer instrumentos para que sejam
capazes de apreciá-las criticamente (PCNs 2000, p. 28).
Ética e Vida Pro ssional
Para discutirmos a Ética na vida pro ssional, precisamos antes levantar os
questionamentos concernentes à formação pro ssional na sociedade.

Enfatizando a ética como condição primordial para os futuros


pro ssionais, haja vista que a ética acontece no interior do ser humano e
se veri ca a partir do momento em que questionamos a ação ou
conduta praticada ou que se pretende praticar, como uma maneira de
controle interno da ação humana (D’ALVA, 2004, p. 08).

A sociedade é produto de ações individuais e coletivas. Cada pro ssional deve ter,
desde a sua formação, a capacidade de questionar e revisar suas ações
constantemente. Os códigos deontológicos que fazem parte da formação de cada
pro ssão devem ser como bússola que orienta preceitos morais e não ter caráter
corporativista de proteção aos pro ssionais (KIPPER, 2003).

O pro ssional de Educação Física, por sua vez, tem uma abrangência de atuação, a
qual sua formação permite explorar inúmeros segmentos das manifestações da
atividade física além dos esportes, com suas características especí cas. De acordo
com o Art. 9 do Estatuto do Conselho Federal de Educação Física – CONFEF de 2010,
são elas:

Ginásticas, exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira, artes


marciais, danças, atividades rítmicas, expressivas e acrobáticas,
musculação, lazer, recreação, reabilitação, ergonomia, relaxamento
corporal, ioga, exercícios compensatórios à atividade laboral e do
cotidiano e outras práticas corporais, sendo da sua competência prestar
serviços que favoreçam o desenvolvimento da educação e da saúde,
contribuindo para a capacitação e/ou restabelecimento de níveis
adequados de desempenho e condicionamento siocorporal dos seus
bene ciários, visando à consecução do bem-estar e da qualidade de
vida, da consciência, da expressão e estética do movimento, da
prevenção de doenças, de acidentes, de problemas posturais, da
compensação de distúrbios funcionais, contribuindo ainda, para
consecução da autonomia, da autoestima, da cooperação, da
solidariedade, da integração, da cidadania, das relações sociais e a
preservação do meio ambiente, observados os preceitos de
responsabilidade, segurança, qualidade técnica e ética no atendimento
individual e coletivo (CONFEF, 2010, on-line).

Contudo, esse leque de possibilidades exige uma gama de habilidades que precisam
ser desenvolvidas ao longo da carreira pro ssional. Para tal, é preciso que tenhamos a
mente aberta para compreender a dimensão da ética e sua dinâmica no mundo e
com as pessoas de diferentes culturas, sendo necessário considerar que “uma ética da
complexidade, da cumplicidade e da (com) paixão, requer que repensemos as ideias
de prudência, temperança e desprendimento” (ALMEIDA, 1998).
Identi cando Valores para o
Estudo do Esporte
Todos os conteúdos de educação física possuem valores éticos e morais. No entanto,
nesse momento, vamos nos prender ao esporte, pois ele é um dos grandes aliados da
educação de crianças e adolescentes. Por meio dele, valores éticos e morais, como a
socialização, a cooperação, a solidariedade, a disciplina, o espírito de equipe e tantos
outros, fundamentais para a formação integral de uma pessoa, podem ser
trabalhados e desenvolvidos (UNESCO, 2013).

O esporte tem uma participação muito importante na sociedade, seja ela em


qualquer uma de suas dimensões citadas por (Tubino, 2001), através do esporte de
participação, competição ou esporte escolar.

Já Bracht, 1989, refere-se ao esporte como uma atividade corporal de movimento com
caráter competitivo que surgiu no âmbito da cultura européia por volta do século
XVIII e se expandiu por todos os cantos do planeta. Em seu desenvolvimento, ele
assumiu as seguintes características básicas: competição, rendimento físico-técnico,
record, racionalização e cienti cação do treinamento.

O esporte também é importante no lado social social, pois o mesmo  se apresenta em
três dimensões, seja ela no esporte escolar, através do trabalho de inclusão,
relacionamento saudável, tolerância, cooperativismo.

Já no esporte participação temos a socialização, o bem estar, a promoção da saúde,


além de outros benefícios igualmente citados anteriormente, por m mas não menos
in uente o esporte competição ou de rendimento, o qual tem uma visibilidade
mundial, e traz além de todo seu valor histórico, uma série de atribuições vinculadas a
essa dimensão, como por exemplo os megaeventos esportivos, as Olimpíadas, as
Paraolimpíadas, a Copa do Mundo de Futebol entre outros.

No entanto, em se tratando de esporte competição, problemas podem surgir e que


levam a necessidade de atitudes para suas coibições, como o vencer a qualquer custo,
as apostas esportivas, os interesses publicitários, além de, em algumas situações, o
interesse pessoal prevalecer sobre a ética e a moral.

REFLITA

A prática de esportes constitui um direito universal, positivado em


diversos instrumentos internacionais. Devido ao seu potencial para o
desenvolvimento individual e coletivo, da mesma forma, é componente
essencial para uma educação de qualidade (UNESCO, 2013).
Esporte, ética e intervenção no
campo da Educação Física
Como abordado no item anterior, o esporte, em todas as suas dimensões, exige que
sejam regulamentadas leis e normas para que se evite, por exemplo, o
descumprimento das regras, o abuso, a intolerância, o desrespeito, a discriminação
em qualquer uma de suas formas e o preconceito. Para isso, existem os órgãos
competentes os quais são responsáveis por elaborar, modi car, orientar, disciplinar e
scalizar os pro ssionais e as modalidades esportivas. Através das Federações,
Confederações, Ligas, Conselhos e Entidades são estipulados as normas e deveres
esportivos.

A Educação Física brasileira, bem como a Pro ssão de Educação Física,


vive momentos de transição e de mudanças de paradigmas, tornando-se
cada vez mais necessário evidenciar, identi car e desenvolver suas
dimensões sociais, culturais, econômicas e políticas (CONFEF, 2020,
online).

No Código de Ética dos Pro ssionais de Educação Física (CEPEF), de 2003, (os
capítulos de I a V) encontramos um conjunto de princípios, normas, direitos,
responsabilidades, infrações e punições que regem o trabalho dos pro ssionais dessa
área.

Considerando as dimensões que caracterizam a Educação Física, ela é concebida


como área de conhecimento e de intervenção pro ssional que tem como objeto de
estudo e de aplicação o movimento humano, com foco nas diferentes formas e
modalidades do exercício físico, da ginástica, do jogo, do esporte, da luta/arte marcial,
da dança, nas perspectivas da prevenção, da promoção, da proteção e da reabilitação
da saúde, da formação cultural, da educação e da reeducação motora, do rendimento
físico-esportivo, do lazer, da gestão de empreendimentos relacionados às atividades
físicas, recreativas e esportivas, além de outros campos que oportunizem ou venham
a oportunizar a prática de atividades físicas, recreativas e esportivas (PARECER
CNE/CES Nº 58, 2004)

Por isso a importância de discutirmos alguns assuntos relacionados a Ética no


esporte. Impossível estabelecer uma formação fundamentada nos princípios de
qualidade, competência e ética sem a identi cação para qual Intervenção
Pro ssional se destina essa preparação, uma vez que, para tal, a formação e a
intervenção pro ssional devem andar juntas.
A Intervenção Pro ssional é a
aplicação dos conhecimentos
cientí cos, pedagógicos e técnicos,
sobre a atividade física, com
responsabilidade ética.   A
intervenção dos Pro ssionais de
Educação Física é dirigida a
indivíduos e/ou grupos-alvo, de
diferentes faixas etárias, portadores
de diferentes condições corporais
e/ou com necessidades de
atendimentos especiais e
desenvolve-se de forma
individualizada e/ou em equipe
multipro ssional, podendo, para isso,
considerar e/ou solicitar avaliação de
outros pro ssionais, prestar
assessoria e consultoria (CONFEF,
2020, online).
@freepik

O Pro ssional de Educação Física, pela natureza e características da pro ssão que
exerce, deve ser devidamente registrado no Sistema CONFEF/CREFs - Conselho
Federal/Conselhos Regionais de Educação Física, possuidor da Cédula de Identidade
Pro ssional, sendo interventor nas diferentes dimensões de seu campo de atuação
pro ssional, o que supõe pleno domínio do conhecimento da Educação Física
(conhecimento cientí co, técnico e pedagógico), comprometido com a produção,
difusão e socialização desse conhecimento a partir de uma atitude crítico-re exiva
(PARECER CNE/CES Nº 58, 2004).

No esporte, precisamos de aprimoramento do pro ssional em busca de novos


conhecimentos cientí cos e práticas que possam contribuir para o desempenho do
esportista, além do aperfeiçoamento e desenvolvimento de novas técnicas e táticas
esportivas, ou seja, o pro ssional deve buscar novas fontes de conhecimento para
realizar uma intervenção correta no processo de desenvolvimento do indivíduo e em
sua pro ssão.

Na sua intervenção, o Pro ssional de Educação Física utiliza-se de procedimentos


diagnósticos, técnicas e instrumentos de medidas e avaliação funcional, motora,
biomecânica, composição corporal, programação e aplicação de dinâmica de cargas,
técnicas de demonstração, auxílio e segurança à execução dos movimentos, servindo-
se de instalações, equipamentos e materiais.
SAIBA MAIS

INTERVENÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO


TREINAMENTO ESPORTIVO

Intervenção: Identi car, diagnosticar, planejar, organizar, dirigir,


supervisionar, executar, programar, ministrar, prescrever, desenvolver,
coordenar, orientar, avaliar e aplicar métodos e técnicas de
aprendizagem, aperfeiçoamento, orientação e treinamento técnico e
tático, de modalidades desportivas, na área formal e não formal.

Fonte:  Farias (2016) e Juarez (2016).


Ética e Docência
Para compreendermos melhor todas as dimensões do trabalho docente, é
importante sabermos que a ética é a dimensão fundante do trabalho competente,
uma vez que, no espaço da ética, somos levados a questionar a nalidade do trabalho
educativo, a sua signi cação, o seu sentido: para que ensinamos? Para que
realizamos nosso trabalho? Que princípios fundamentam essas ações?

É importante, para seguir adiante, estabelecer a diferença entre os conceitos de ética


e moral. Enquanto a moral se constitui num conjunto de prescrições – normas, regras,
leis – que orientam as ações e relações dos indivíduos em sociedade e que, portanto,
tem um caráter normativo, a ética é a re exão crítica sobre a moral, é o olhar agudo
que procura descobrir os fundamentos dos valores, tendo como referência a
dignidade humana e como horizonte a construção do bem comum” (RIOS, 2009, p. 5).

Na con guração da prática pedagógica, é possível explicitar as


dimensões da competência dos professores – técnica, estética, política e
ética. E tornam-se mais claras as exigências para um trabalho docente
de boa qualidade: além de um domínio do conhecimento de uma
determinada área e de estratégias para socializá-lo, um conhecimento
de si mesmo e dos alunos, da sociedade de que fazem parte, das
características dos processos de ensinar e aprender, da responsabilidade
e do compromisso necessário com a construção da cidadania e do bem
comum (RIOS, 2009. p. 5).

A forma de estabelecermos nossos relacionamentos com o colega de trabalho, com


os alunos e a forma com que estabelecemos os conteúdos e métodos de ensino
deverão ser questionadas se no nal não tiverem um bem comum. É aí que a escola é
considerada uma construtora de cidadania e da felicidade, ambos de bem comum.

A Ética se xa nos princípios do respeito, da justiça e da solidariedade, a busca pelo


reconhecimento do outro. Caso isso não aconteça, estamos propícios que aconteçam
as alienações, sejam elas, do trabalho, econômica uma alienação de caráter ético,
signi cando o não reconhecimento do outro, di cultando a propagação do diálogo,
solidariedade e justiça.
Ética no Esporte, Ética
Pro ssional, Fair Play e
Olimpismo
O esporte com a publicação da Carta Internacional de Educação Física e Esportes,
documento elaborado pela UNESCO, passou a ser estimulado para crianças e
adolescentes em incentivo ao esporte educativo (RIBEIRO, 2009, p. 5).

As questões relacionadas com a ética e a moral não são uma


preocupação recente no esporte. Passaram a ser foco de maior interesse
a partir das últimas décadas, em razão do aumento da violência e
mercantilização do esporte, assim como os frequentes comportamentos
de desrespeito às regras manifestadas nos espetáculos esportivos
(REGNIER, 1990. p. 5).

É impossível desvincular a ética esportiva da ética da sociedade, uma vez que o


esporte acontece num contexto sociocultural, vinculado a uma ética da sociedade
moderna. Na mesma proporção que se aumentam as manifestações esportivas na
sociedade, também aumentam as preocupações com a ética esportiva. Apesar do
avanço dos métodos de treinamento e da ciência no esporte, ainda não se tem claro,
por exemplo, quais os parâmetros para uma ética da prática do esporte com crianças,
como também os parâmetros para uma ética do treinador. Bento (1990, p. 39) destaca
que:

[...] o desporto não pode esquecer o” humano “e deve procurá-lo não em


apelos difusos, abstratos e pouco vinculativos, mas sim na forma
concreta como lida com cada praticante. E não deve ignorar que os
limites humanos são mais estreitos do que os manipuláveis limites
biológicos e técnicos.

Os problemas levantados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) nas últimas


décadas, como torcidas violentas, extremamente impulsivas, o doping dos
esportistas, a violência dos esportistas em algumas modalidades como o hóquei e o
basquetebol, a corrupção de árbitros e dirigentes de futebol, o trá co de atletas que
assinam contratos em branco, drogas colocadas em alimentação de atletas por
treinadores inescrupulosos, sabotagens, manipulação de resultados e o esporte
sendo tratado como objeto de obtenção de lucro.  Vale destacar que com esses dados
exempli cados acima, podemos perceber que a Ética no Esporte necessita do
empenho de todas pessoas envolvidas com este fenômeno.
SAIBA MAIS

O Fair Play (Espírito Esportivo) é usado como sinônimo de justiça, justiça


social, conduta honesta ou conduta imparcial. As grandes preocupações
levantadas anteriormente, como a valorização exagerada da vitória do
prestígio pessoal e nanceiro zeram com que o COI (Comitê Olímpico
Internacional) apontasse que o Fair Play é a essência do esporte e que,
sem essa condição, não poderia ter essa denominação.

O Comitê Internacional de Fair Play, o Comitê Olímpico Internacional, o ICSPE e


outros organismos internacionais criaram uma comissão de especialistas de vários
países para preparar um documento sobre o Fair Play, o qual foi publicado em 1975. O
documento elaborado apresentava as seguintes orientações:
1. O Fair Play é demonstrado pelo participante das atividades
esportivas, pela observância das regras do esporte;
2. É importante reconhecer que, por trás das regras escritas, estão
regras implícitas, o espírito ou intenção correta ou leal, nas quais
estão envolvidos os competidores esportivos;
3. Os comportamentos segundo o espírito do Fair Play serão
reconhecidos pelas ações de:

Não questionamento das decisões dos árbitros, a não ser que o


regulamento do esporte o permita;
Jogar para vencer deve ser o primeiro objetivo, porém recusar a
vitória por qualquer meio;
Honestidade, correção e uma atitude digna quando os outros
participantes não jogam de forma justa;
Respeito aos colegas da sua própria equipe;
Respeito aos adversários e o reconhecimento da importância destes
para que a competição se realize;
Respeito aos árbitros através da atitude positiva, tentando colaborar
com este a todo momento;
O Fair Play envolve modéstia na vitória e elegância na derrota,
assim como generosidade na criação de sinceras e duradouras
relações humanas;
O Fair Play não é uma responsabilidade apenas dos competidores.
Treinadores, árbitros, espectadores e todas as pessoas envolvidas na
competição têm um importante papel no desenvolvimento de
atitudes positivas, para, principalmente, envolver os participantes
da competição em um comportamento de tolerância
(INTERNATIONAL COUNCIL OF SPORT AND PHYSICAL EDUCATION,
1975, p. 2-5).
O fair play é uma realidade em todos os esportes e isso nasce desde
as aulas de educação física, pois nelas as crianças aprendem que o
respeito com os adversários deve ser o mesmo que tem com seu
time. Vale destacar que o pro ssional de educação física deve
ensinar que o importante não vencer e nem competir, mas
competir de forma justa.   Pois a vitória não tem sentido se não for
de forma justa.
Ética do Pro ssional de Educação
Física: do Dever-Ser ao Dever-
Fazer
Quando falamos da atuação do pro ssional de Educação Física, como abordamos no
início do nosso conteúdo, estamos expostos a situações que vão de deveres o ciais da
pro ssão, deveres judiciários, pedagógicos e sociais. Conduzir com ética e a devida
moral desde trabalhar regularmente, dispor de uma conduta condizente à docência,
decisões de cunho ético-normativo, e por m de interesse coletivo da sociedade.

A intervenção do pro ssional de educação física no fenômeno (d)


esporte (o), e, em especial na manifestação da vertente educacional é
fato universalmente consagrado, cuja relevância fêz a Assembléia Geral
da Organização das Nações Unidas (ONU) proclamar 2005 como o “Ano
Internacional do Esporte e da Educação Física”. (ONU, 2005, online).

Quanto a prática da moralidade no esporte implica em dever-ser bons exemplos para


a sociedade, particularmente expresso na dimensão disciplinar, destacando a
conduta correta no combate a irregularidades acerca das dimensões que o esporte
está inserido. Colocando em prática os bons costumes e posturas adequadas ao
exercício legal da pro ssão, desempenhando o “dever-fazer” de forma satisfatória aos
interesses éticos da sociedade.

O pro ssional de educação física precisa ter um per l ético que se relacione com os
demais professores da instituição em que trabalhe, pois assim o mesmo terá o apoio
de todos e será aparente que não trabalha só pelo salário e sim pelo bem maior que é
o aluno. Podemos a rmar que um pro ssional ético de educação física, deve ter e
seguir princípios básicos para convivência no dia a dia, como se atualizar, ser honesto,
competente em relação aos conteúdos entre outros.

Uma que questão importante que o pro ssional deve apresentar em seu trabalho é o
respeito às diferenças e limitações dos educandos, garantindo assim que todos seus
direitos sejam cumpridos. Vale destacar que o pro ssional encontrará em seu
cotidiano, vários alunos com de ciências, sejam físicas e cognitivas e o mesmo deve
respeitar suas limitações adaptando sua aula promovendo uma absorção e um
relacionamento direto entre todos os alunos. Destacando ainda que essa inclusão
deve ser promovida em todos os momentos e a todas as diferenças, desde as
questões de gênero até mesmo racial, evitando assim o preconceito.

O pro ssional de educação física deve ser exemplo aos seus alunos, promovendo
diálogos sobre comportamentos, higiene, sem apontar casos diretamente, ou seja,
promover a socialização em todos os âmbitos, promovendo assim o respeito a todos
os grupos minoritários de sua escola.
Um grande diferencial da área em questão é identi car problemas dentro da turma e
da instituição em que trabalha e tentar resolver, mas o principal é adaptar-se a sua
realidade com a dos alunos e escola, pois em seu cotidiano encontrará educandos em
situação vulnerabilidade social. Vale destacar que o mesmo deve sempre buscar o
apoio da equipe pedagógica relatando tudo que ocorre em suas aulas e se preciso
fazer intervenção até mesmo com o apoio do conselho tutelar.

O pro ssional deve então ter um compromisso com a cidadania, promovendo


interação física e jogos que forneçam uma participação coletiva e se possível
inserindo a família nesse processo de interação.

SAIBA MAIS

Dever-ser e Dever-fazer devem ser materializados e exercitados em


conjunto por todos os pro ssionais de educação física do Sistema
CONFEF/CREFs.

Fonte: o autor.
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Filme

Filme
Conselhos de Classe e
Participação

AUTORIA
Cleber Henrique Sanitá Kojo
Guilherme França Fusco
Sumário
Introdução

1 - Gestão Democrática

2 - Conselho Escolar

3 - Conselho de Classe

4 - As Possibilidades do Conselho de Classe

5 - Estudo de Caso

Considerações Finais

Introdução
Olá, caro (a) aluno (a)! Tudo bem?

Seja bem-vindo a mais uma unidade, na qual poderemos compreender e re etir


sobre a importância dos Conselhos de Classe e sua verdadeira função. Saiba que esta
unidade tem como objetivo debater ao papel e a importância dos Conselhos de
Classe para um bom andamento das Instituições de Ensino de Educação Básica em
nosso país.

Para que isso ocorra, faremos uma re exão primária, buscando seus conhecimentos
prévios. No entanto, estudaremos o mais importante sobre algumas instâncias da
gestão escolar, a partir de uma perspectiva que privilegia a Gestão Democrática
dentro das instituições de ensino, onde ocorrerá uma garantia e uma ampla
participação de todos os agentes que compõe as escolas e a educação em si.
Faremos, então, uma exposição e um debate sobre Gestão Democrática e Conselho
Escolar, para que você possa conhecer, mesmo que brevemente, as estruturas dessas
instâncias.

Nosso principal foco, como você pode observar, são os Conselhos de Classe.
Destacando, ainda, que o Conselho de Classe é um dos momentos e/ou uma das
instâncias mais importantes das instituições escolares, pois têm um papel consultivo
e deliberativo sob diversas tomadas de decisões. Nesse sentido, compreender o seu
papel e seu funcionamento são fundamentais para que o educador consiga
desempenhar e ocupar o seu espaço nessa instituição entendendo a individualidade
do educando.

Nesse momento, vamos re etir sobre a estrutura organizacional da escola e o


Conselho de Classe, enquanto instância colegiada, como espaço de avaliação coletiva
do trabalho escolar e como ferramenta para o processo de gestão democratizada das
escolas.

Para você que está se formando para trabalhar nas escolas, é fundamental fazer essa
re exão, na medida em que este órgão, essa instância – o Conselho de Classe – é
essencial na avaliação de todo processo de ensino-aprendizagem. Vale destacar que
constitui um espaço primordial para conhecer cada um dos alunos suas
necessidades, habilidades e competências.

Você irá compreender que esse espaço deve ser democrático e coletivo com objetivo
de avançar no desenvolvimento dos alunos e da própria escola, ele deve recuperar as
di culdades e as falhas durante o processo.

Será possível debater com você, aluno, que o Conselho de Classe se trata unicamente
de uma ferramenta que aprova ou retém os alunos, mas, antes de tudo, é uma
importante ferramenta de avaliação da própria instituição escolar. Por isso, conhecer
os mecanismos de seu funcionamento, através do PPP - Projeto Político Pedagógico
da escola onde você irá trabalhar e, mais do que tudo, participar ativamente desse
espaço, é fundamental para o processo de formação dos alunos, para que possam ser
agentes da transformação da realidade que nos cerca.

Desde já, eu desejo a você um excelente estudo.

Muito obrigado!

Plano de Estudo:
1. A Gestão Democrática;
2. O Conselho Escolar;
3. O Conselho de Classe;
4. A Avaliação e o Acompanhamento Escolar através dos Conselhos de Classe;
5. A Legalidade dos Conselhos de Classe;
6. O Estudo de Caso.

Objetivos de Aprendizagem:
1. Compreender a importância da Gestão Democrática para o funcionamento das
escolas;
2. Analisar a composição do Conselho Escolar e seu funcionamento;
3. Debater a importância dos Conselhos de Classe e seu funcionamento;
4. Discutir as possibilidades e limitações dos Conselhos de Classe;
5. Desconstruir os mitos por trás dos Conselhos de Classe;
6. Conhecer a legislação e as normas dos Conselho de Classe;
7. Compreender a importância do Estudo de Caso e seu papel formador.
Gestão Democrática
Você já seperguntou qual o papel da direção de uma escola? Na escola em que você
estudou,a diretora concentrava todas as funções em suas mãos? Você percebeu a
presençados pais na escola? Em tempo, direção da escola em que você estuda ou
trabalhaouve e acata a opinião dos professores e funcionários da instituição? Se
vocêpercebeu alguns desses pontos, talvez entenda de uma maneira melhor o que é
agestão democrática de uma escola. Vale ressaltar que consideramos a escola
comoum espaço indiscutivelmente fundamental no processo de socialização
dosindivíduos e, por isso, um ambiente de relações sociais, organizado
entreindivíduos de diferentes origens, valores e crenças que re etem as relações
danossa sociedade.

Por isso,entendemos que a escola deve cumprir um papel que vai além da aquisição
dosconteúdos sistematizados, além do mundo do trabalho. Podemos perceber isso
emBagnara e Fensterserifer (2019, p. 36), os quais consideram-na crucial
na“produção/construção/transmissão de conhecimentos e saberes”.

A escola também deve criar em seus alunos umencorajamento para que o educando
possa apresentar um desenvolvimento crítico,lhes fornecendo autonomia, como
a rmam Neira e Nunes (2009). Nesse sentido, éfundamental garantir ao aluno o
maior desenvolvendo possível; um ensino dequalidade que possa dar condições a
esse indivíduo de uma participaçãoconsciente, crítica e criativa na transformação da
sociedade.

Neste viés é que a gestão democrática no interior das escolas pode proporcionar aos
alunos uma efetiva formação para as tomadas de decisões e participação na vida
pública. Para que esse processo ocorra, é necessário que as escolas proporcionem
esses espaços de organização e debate, espaços estes que devem constar no Projeto
Político Pedagógico de cada escola.

O processo de gestão democrática nas escolas é previsto legalmente na Lei de


Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), no artigo 206 inciso VIII: “gestão
democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de
ensino”.

Art. 14: Os sistemas de ensino de nirão as normas da gestão


democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as
suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I - participação dos pro ssionais da educação na elaboração do projeto
pedagógico da escola;
II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares
ou equivalentes. (BRASIL, 1996, p.15).

Como você pode observar, a LDB informa que o processo de gestão democrática “é
objeto de regulamentação nas normas de cada sistema de ensino [...]. Os quais
tomam como referência a noção de participação como elemento emblemático da
democracia” (SOUZA; PIRES, 2018, p. 69).
É importante destacar que nossa
Constituição deixa bem claro que
todo o ensino deverá ser articulado
com base em vários princípios e
justamente um deles é a gestão
democrática apresentada no art. 206,
inciso VI, o que se amplia e/ou se
adapta nas Leis Estaduais e nas Leis
Orgânicas de todos os Municípios.
Destacamos, ainda, que a gestão
democrática é uma exigência
constitucional e, como foi
apresentado acima, a LDB (1996)
também apresenta, em seu artigo 3.º,
um dos princípios que norteiam a
educação escolar: “VIII - gestão
democrática do ensino público, na
forma desta Lei e da legislação dos
sistemas de ensino” .
@freepik

Assim, entende-se que é extremamente necessário compreender o signi cado de


gestão democrática. Vale ressaltar que sempre associamos a palavra gestão à
administração e que sempre atrelamos a uma che a autoritária com decisões, muitas
vezes, obscuras e ditatoriais. No entanto a gestão deve ser democrática,
contemplando toda necessidade do cotidiano escolar, desde o processo docente, de
secretaria, dos assistentes de limpeza, de pátio, de atendimento aos responsáveis, ou
seja, todo conjunto da instituição, todas as personalidades democráticas.

No livro Democracia na Escola, de julho de 2019, em sua terceira edição, da prefeitura


da cidade de São Paulo, elaborado com a participação dos professores de todo o
município, temos um apontamento de algumas bases e exigências para a gestão
escolar democrática, que são:
I. participação ampliada (interna e externa à escola) nos processos
decisórios de interesse da comunidade escolar, com corresponsabilidade,
diálogo, respeito mútuo, colaboração, solidariedade;

II. clareza sobre os objetivos, os direitos e os deveres relativos a todas as


funções e tarefas desenvolvidas no âmbito escolar;

III. criação e consolidação de mecanismos e espaços de reuniões,


deliberações e tomada de decisões, com liberdade de palavra e voto para
todos, com respeito às divergências, com estímulo à criatividade e com
destaque à participação das famílias;

IV. conhecimento constantemente atualizado da realidade


socioeconômica e cultural dos alunos e da comunidade escolar, assim
como das condições de trabalho de docentes, técnicos e pro ssionais de
apoio;

V. disponibilidade para questionar práticas tradicionais estabelecidas,


visando a mudanças mais e cazes e mais éticas para os ns pretendidos;
transparência dos processos administrativos e pedagógicos, garantindo
o acesso à informação e a legitimidade de scalização;

VI. formação gradual e constante de sujeitos políticos, capazes de


julgamento crítico, de identi cação dos problemas, dos diferentes
interesses e demandas, assim como de colaboração em trabalho coletivo.

Fonte: Democracia na escola: Prefeitura de São Paulo. 2019. pg. 18.

Assim que abordarmos essas exigências da gestão democrática, teremos o exercício


de uma participação de membros da instituição que re etem os princípios de
igualdade de direitos apresentando uma liberdade de exposição de ideias e um
desenvolvimento da instituição em seu papel gestor.
SAIBA MAIS

Assista a entrevista feita pelo canal Futura com a Presidente da União


Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, Cleuza Repulho, para
compreender um pouco mais sobre o funcionamento do processo de
gestão democrática nas escolas.

Gestão democrática da educação - Cleuza Repulho - Entrevista - Canal


Futura

Link: https://www.youtube.com/watch?v=_a13nWelrbE
REFLITA

Segundo a LDB, as escolas deveriam organizar sua gestão de forma a


garantir uma ampla participação de alunos, pais, professores,
funcionários e comunidade nas tomadas de decisões. O Plano Nacional
da Educação (PNE), aprovado em 2014, tinha como uma das suas metas
(meta 19):

Assegurar condições, no prazo de 2 (dois) anos, para a


efetivação da gestão democrática da educação, associada a
critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta
pública à comunidade escolar, no âmbito das escolas
públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para
tanto. (MEC, 2014, online).

Nesse sentido, deveríamos ter dentro das escolas, neste momento, um


espaço muito democratizado. Mas será que podemos veri car esse
avanço nas escolas? Você já participou de alguns desses espaços?

O infográ co abaixo mostra como, de maneira geral, estão organizadas


as instâncias que fazem parte do processo da gestão democrática nas
escolas. Observe, pois, na sequência, abordaremos brevemente duas
dessas instâncias, as quais, neste momento, são mais relevantes para os
debates feitos neste capítulo. Isso não te impede de buscar mais
referências e leituras sobre as outras instâncias citadas. A pesquisa é
sempre muito importante para a compreensão do que se discute em
cada capítulo e isso, com certeza, lhe trará uma melhor formação sobre o
tema.
Figura 1 - Gestão Democrática

Fonte: Artigas (2018).


Conselho Escolar
Esse é um espaço de gestão das instituições de ensino, democrático, participativo e
deliberativo. Deve funcionar em uma estrutura de colegiado através da qual as
decisões são tomadas em coletividade. Além disso, possui estatutos próprios e é
obrigatório em todas instituições escolares.

Trata-se da instância em que os professores, funcionários, secretários, pais e alunos,


além de equipe pedagógica e diretiva, auxiliam nas tomadas de decisão de
funcionamento das escolas. Esse é o espaço com maior de poder de tomada de
decisão das escolas, motivo pelo qual deve acompanhar de perto o desenvolvimento
das escolas, do pedagógico ao nanceiro e administrativo. A caracterização deste
Conselho deve estar prevista no PPP de cada escola.

Vale ressaltar que a participação da comunidade deve ser conforme a citação abaixo:

[...] cabe a eles deliberar sobre as normas internas e o funcionamento da


escola, participar da elaboração do projeto político-pedagógico; analisar
as questões encaminhadas pelos diversos segmentos da escola,
propondo sugestões, além de acompanhar a execução das ações
pedagógicas, administrativas e nanceiras da escola e mobilizar a
comunidade escolar e local para a participação em atividades em prol da
melhoria da qualidade da educação, como prevê a legislação (SEED,
2019, online).

A democracia na escola só acontece com a participação de todos, quando temos


propostas que podem acrescentar ou evoluir a educação como um todo.

SAIBA MAIS

O MEC disponibilizou uma cartilha que explica, de acordo com o que


prevê a LDB, o funcionamento mais geral dos Conselhos Escolares. Vale a
pena você consultar esse material para compreender melhor essa
importante instância do interior das escolas.

Fonte: MEC (2004).

No vídeo que destacamos abaixo, você poderá compreender um pouco


melhor o que são e como funcionam os conselhos escolares.

Gestão em Foco - Conselho Escolar – Canal Acervo Educa Play PR

Link: https://www.youtube.com/watch?v=gQM4NrMeBS4
REFLITA

Com base nas leituras e no vídeo destacado, você pode imaginar os


benefícios que os conselhos escolares podem trazer à gestão escolar e á
formação dos alunos? Levante alguns pontos que possam demonstrar as
possibilidades.

Fonte: os autores.
Conselho de Classe
Observe a imagem abaixo:

Fonte: freepik

Com certeza você percebeu que a imagem mostra uma avaliação e, caso o aluno não
atinja seu objetivo, o que você deve fazer? Como agir na docência? Então, vamos
observar as a rmações abaixo para compreender melhor nosso papel, pois para você,
estudante de licenciatura, que um dia já foi aluno do ensino básico, essa instância é
bem conhecida.

No imaginário dos alunos, os Conselhos de Classe são quem aprova ou reprova os


alunos que não atingiram as médias anuais. Essa é uma visão limitada dessa
importante instância das escolas, principalmente para o processo de gestão
democrática e para a formação dos alunos.

Os Conselhos de Classe são, também, uma instância colegiada representativa das


várias outras instâncias escolares. Esse espaço é o que mais dá atenção para o
processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, os Conselhos de Classe devem
debater a vida escolar de cada um dos alunos; não somente daqueles que estão com
as notas abaixo da média.

Nesse espaço também se debatem as metodologias que devem nortear o trabalho


dos professores para que os objetivos de aprendizagem dos alunos e a sua formação
sejam mais completas, logicamente, pensando nas especi cidades e necessidades de
cada aluno.

Os Conselhos de Classe avaliam todo o processo de ensino-aprendizagem, para que


os objetivos da escola e da formação dos alunos sejam alcançados.

Quando se discute o Conselho de


Classe, discutem-se as concepções
de avaliação escolar presentes nas
práticas educativas dos professores.
Neste sentido, a importância dos
Conselhos de Classe e dos processos
avaliativos da escola está nas
possibilidades e capacidades de
leitura coletiva da prática, bem como
diante do reconhecimento
compartilhado das necessidades
pedagógicas, de modo a mobilizar
esse coletivo no sentido de alterar as
relações nos diversos espaços da
instituição (OLIVEIRA; MACHADO,
2020. p. 37).
@freepik

Nesse sentido, os Conselhos de Classe são espaços coletivos de permanente avaliação


do trabalho escolar, onde se tem a possibilidade de debater em grupo o que é melhor
para a escola e para os alunos, no processo de formação destes, de forma
democrática.

Por esse motivo, é fundamental a participação de todos os integrantes da escola –


professores, pedagogos e direção – nesse espaço, para que se possa avaliar e
encaminhar ações, com base no PPP da escola, de forma coletiva e democrática, para
avançar nas práticas pedagógicas e no resgate dos alunos que de alguma forma não
conseguem acompanhar o andamento das atividades.

Nesses espaços dos Conselhos de Classe, também será construída uma relação entre
os agentes que compõem esse órgão, a m de que possam se ajudar a alcançar os
objetivos traçados pelo grupo.

Segundo Grochoska (2014, pg. 12), apud Libâneo, os objetivos do Conselho de Classe
são:
Diagnosticar os problemas e di culdade da escola;
Coletar informações sobre o rendimento de cada aluno, facilitando,
assim, o encaminhamento das ações;
Buscar soluções para as situações, de maneira criativa e alternativa;
Elaborar programas ou projeto de recuperação e apoio a alunos
especí cos;
Retomar o plano de ensino e corrigir rumos quando necessário;
Identi car, por meio de registro de acompanhem-no, se houve ou
não avanços na vida escolar dos alunos.

Talvez você se pergunte: posso ter alguma atitude antes do Conselho de Classe? A
SEED, Secretaria de Educação do Estado do Paraná, a rma, em sua página (site) do
dia-a-dia-educação em 2020, que devemos realizar um pré-conselho, pois, para a
SEED, o Conselho de Classe pode ser organizado em três momentos:

Pré-conselho: levantamento de dados do processo de ensino e disponibilização aos


conselheiros (professores) para análise comparativa do desempenho dos estudantes,
das observações, dos encaminhamentos didático-metodológicos realizados e outros,
de forma a dar agilidade ao Conselho de Classe. É um espaço de diagnóstico.

Conselho de Classe: momento em que todos os envolvidos no processo se


posicionam frente ao diagnóstico e de nem em conjunto as proposições que
favoreçam a aprendizagem dos alunos.

Pós-conselho: momento e que as ações previstas no Conselho de Classe são


efetivadas (SEED, 2018, on-line).

A rma, ainda, que:

As discussões e tomadas de decisões devem estar respaldadas em


critérios qualitativos como: os avanços obtidos pelo estudante na
aprendizagem, o trabalho realizado pelo professor para que o estudante
melhore a aprendizagem, a metodologia de trabalho utilizada pelo
professor, o desempenho do aluno em todas as disciplinas, o
acompanhamento do aluno no ano seguinte, as situações de inclusão, as
questões estruturais, os critérios e instrumentos de avaliação utilizados
pelos docentes e outros.
Cabe à equipe pedagógica a organização, articulação e
acompanhamento de todo o processo do Conselho de Classe, bem como
a mediação das discussões que deverão favorecer o desenvolvimento
das práticas pedagógicas (SEED, 2018, on-line).
O Conselho de Classe, bem debatido e abordando as regras e metodologias corretas,
pode ser uma grande ferramenta no processo de ensino e aprendizagem, pois, além
de avaliar os alunos, pode elencar problemas e soluções no trabalho docente
cotidiano.

SAIBA MAIS

O texto de Joice Maria Lamb, professora e nalista do Prêmio Educador


Nota 10 2017, publicado no site da Revista Nova Escola, na página de
Gestão Escolar, apresenta algumas dicas do que discutir nos Conselhos
de Classe, para que se possa ter maior proveito deste.

Fonte: Lamb (2018). Disponível em:


https://gestaoescolar.org.br/conteudo/2105/conselho-de-classe-7-dicas-
para-avaliar-os-alunos-sem-dar-sentenca

REFLITA

Você já participou de algum Conselho de Classe? Quais eram as


principais discussões que foram feitas nesse espaço?

Leia o texto disponível no link abaixo e analise os erros mais comuns


cometidos nos Conselhos de Classe.

Link: https://gestaoescolar.org.br/conteudo/1910/10-problemas-comuns-
no-conselho-de-classe-que-voce-precisa-evitar
As Possibilidades do Conselho de
Classe
Preste atenção no que diz Iavelberg (2011, p. 23) a respeito da função dos Conselhos de
Classe:

A função do conselho - que deve contar, sempre que possível, com a


participação do diretor, do coordenador pedagógico e do orientador
educacional, além dos professores - não é julgar o comportamento dos
alunos, mas compreender a relação que eles desenvolvem com o
conhecimento e como gerenciam a vida escolar para, quando
necessário, propor as intervenções adequadas.

Você pode perceber através dessa a rmação que os Conselhos são muito maiores
que um julgamento dos alunos. Porém, muitas vezes você irá se deparar com esse
tipo de situação no ambiente escolar. Muitos pro ssionais encontram nesse espaço
um momento de desabafo das suas relações e condições de trabalho e, muitas vezes,
culpam exclusivamente o aluno e seus familiares pela frustração que possuem
relacionadas a essas condições de trabalho.

É preciso que você compreenda que os Conselhos de Classe, assim como todas as
instâncias colegiadas que você poderá participar quando for trabalhar na escola,
devem ser um espaço racional e não passional. Deve-se avaliar e não condenar. O
espaço para as lutas por melhorias nas condições de trabalho e de todo o sistema
educacional é nos sindicatos.

Os Conselhos devem ser de natureza consultiva e deliberativa em assuntos didático-


pedagógicos, reunindo professores, equipe pedagógica e direção para avaliar “as
ações educacionais e indicar alternativas que busquem garantir a efetivação do
processo de ensino e aprendizagem dos estudantes” (SEED, 2020, on-line).

Diante do que foi exposto aqui, caro aluno, é importante que você re ita sobre o
funcionamento dos Conselhos de Classe, seus objetivos e orientações, levando
sempre em conta que essa instância, deve ser democrática e colegiada, assim como
deve pensar sempre no processo educacional de formação dos alunos para que estes
possam contribuir para as transformações necessárias da nossa sociedade.

Para nalizar nosso debate, quero deixar claro a você que existe uma grande
diferença entre o Conselho de Classe e o conselho escolar. Fique muito atento e
veri que, logo abaixo, uma de nição para que você identi que essa diferença:

O Conselho de Classe é composto essencialmente por membros da própria escola.


Ainda assim, membros da comunidade escolar podem participar como convidados,
sem poder decisório, ainda que estejam ali para enriquecer a discussão.
O Conselho Escolar, em contrapartida, faz parte majoritariamente grupos externos
ao corpo docente e à gestão, como representantes dos pais e alunos, além de outros
membros da comunidade da qual a instituição faz parte (SOMOSPAR, 2020, on-line).

Dessa forma, podemos compreender melhor toda a diferença entre o Conselho de


Classe e o conselho escolar, entendendo o papel de cada um no processo
educacional.
Estudo de Caso
Você já pensou em uma metodologia diferenciada para que o educando não chegue
a precisar do Conselho de Classe? É claro que existem muitas metodologias para
melhorar o processo de ensino-aprendizagem, mas iremos debater, nesse momento,
o chamado estudo de caso. Vale ressaltar ele pode ser considerado uma das grandes
ou excelentes metodologias para que ocorra uma abordagem completa para todo
processo de ensino-aprendizagem.

Podemos destacar, ainda, que o estudo de caso tem uma grande vantagem em sua
metodologia de adotar uma abordagem simples e com orientação norteando a
resposta sem fornecê-la diretamente.

Dentro de um estudo de caso, precisamos envolver um con ito em um determinado


assunto o qual necessita de uma solução plausível. Para que isso ocorra, temos que
cobrar dos educandos um posicionamento sobre o desa o proposto, ao qual ele deve
buscar as soluções ou abordagens apropriadas, ou seja, ele deve participar do
processo de propor soluções para um caso real apresentado, desenvolvendo uma
ética e moral dentro da questão debatida. É importante salientar o papel do
educador nesse processo, que precisa abandonar métodos tradicionais e adotar essa
metodologia de estudos promovendo novas competências e habilidades em relação
a sua docência. A utilização de estudos de caso pode promover no educando uma
procura e pesquisa maior sobre o assunto, momento em que ele se empolga com
todo o processo, se posicionando sobre o tema.

Toda vez que você aplica um estudo


de caso no processo de ensino-
aprendizagem, desenvolve uma
solução prática e, assim, pode utilizar
a estrutura dessa prática em um
nova observação.

Uma outra vantagem em utilizar o


estudo de caso está intimamente
ligada ao desenvolvimento do
educando, fazendo com que ele se
sinta fazendo parte do processo, se
posicionando e, em alguns
momentos, expondo sua vivência, o
que, muitas vezes, torna o estudante
um especialista em determinado
assunto.
@freepik
En m, podemos a rmar que a aplicabilidade do estudo de caso vai permitir que os
educandos aprendam de uma maneira diferenciada, quando eles assumem um
papel ativo no processo de aprendizagem. Como exemplo clássico, podemos destacar
o estudo de caso sobre a má a no futebol apresentado na disciplina: como podemos
melhorar a questão da arbitragem e a ética no futebol? Assim, o aluno se sentirá
parte de todo o processo de ensino-aprendizagem.
Livro

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Conclusão

Prezado(a) aluno(a),

Neste material, buscamos trazer para você os principais conceitos a respeito da


formação ética e moral. Para tanto, abordamos as de nições teóricas e, neste
aspecto, acreditamos que tenha cado claro o quão importante é para sociedade e
para o pro ssional de educação física. Espero que tenha compreendido os
processos éticos e morais e as necessidades de desenvolvê-los na sociedade,
promovendo, assim, pessoas aptas, tanto na parte física quanto pessoal.

Destacamos também importância histórica de vários lósofos e suas ideias,


promovendo uma comparação ou, em outros momentos, uma diferenciação de
loso as e visões, baseando sua formação em critérios sólidos que podem contribuir
para o sucesso humano. Além dos aspectos teóricos que contribuíram
profundamente para o entendimento dos assuntos aqui abordados, trouxemos
vários exemplos e técnicas para uma melhor compreensão sobre sua pro ssão,
apresentando o código de ética pro ssional no âmbito regional ou federal da
educação física, possibilitando a você conhecer melhor e se posicionar em relação a
pro ssão escolhida.

Levantamos, ainda, aspectos sobre o conselho de classe no exercício da pro ssão e


como visualizar os educandos na sociedade. Vale ressaltar que essa visualização para
a pro ssão serviu para entender o presente e esmiuçar o futuro, que é algo inerente
aos pro ssionais de educação física que pensam na excelência pro ssional.

A partir de agora acreditamos que você já está preparado para seguir em frente,
desenvolvendo ainda mais suas habilidades éticas e morais para exercer sua
pro ssão criando cidadãos responsáveis com o corpo, saúde e responsabilidade.

Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigado!

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