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PUC Minas – Coração Eucarístico

Curso – Psicologia / Noite

Atividade Avaliativa: Refletindo sobre o conteúdo da Disciplina – Valor: 20pts

Professor – Robson Nascimento da Cruz

Data – 23/05/2021

Nome: Alice Rodrigues Ferreira Silva


Durante este semestre estamos, de um modo ou de outro, discutindo questões essenciais sobre
nossas habilidades acadêmicas, assim como discutindo como práticas e conceitos da análise do
comportamento se relacionam a problemas sociais urgentes que afetam todos nós. O
imediatismo, o controle do comportamento por consequências imediatas, a desatenção devido ao
excesso de estimulação e o problema da busca constante por evitação (esquiva experiencial) do
mal-estar psicológico são alguns exemplos de temas debatidos em aulas e textos. Dito isso,
gostaria que você se permitisse, sem necessariamente ler algum texto da disciplina (mas você
pode fazer isso se quiser), a escrever como a disciplina como um todo afetou seu modo de ver o
mundo e a si mesmo. Sei que a questão é ampla e um tanto genérica. Mas essa é uma forma de
avaliar o quanto uma disciplina de fato começou ou não a fazer parte de nosso repertório verbal.
Não há tamanho mínimo de páginas.

*Texto escrito em escrita livre.

Como boa Millennial sempre tive muita sede por novas informações e ânsia por
obtê-las o mais rápido possível. Como consequência disso experenciei minhas primeiras
crises de ansiedade aos 6/7 anos, era a clássica criança com TDAH: que aparentava
estar sempre agitada, com fala acelerada e urgência em ser ouvida. Cresci ouvindo como
era uma ironia ter o nome Alice e ser tão parecida com o coelho da história: agitada,
impulsiva e sempre atrasada... rs

Com o tempo fui aprendendo e desenvolvendo técnicas para tentar ser melhor
entendida, mas com marcas de uma baixa confiança e com o velho medo de me atropelar
em meio a tantas palavras, temia não ser ouvida e pouco a pouco me silenciei. E foi
tentando calcular cada palavra, cada vírgula e cada pausa para respirar, que me peguei
sufocada em meus próprios pensamentos.

Senti essas marcas ainda mais dolorosas ao chegar à Universidade. Um lugar


onde todos tinham tanto a acrescentar, tantas bagagens interessantes eu ali: perdida,
sem graça, sem conteúdo. Me vi cada vez menor. Desde o início do curso um dos meus
maiores objetivos era aprender a diferenciar os momentos nos quais eu deveria falar dos
que deveria me calar, contudo foquei mais no me calar.
Desde que fui alfabetizada me apaixonei pela leitura e escrita. Era ali que eu
encontrava minha voz. Entretanto - por medo, resistência e muita esquiva - me deparei
com muitos momentos de bloqueio. Uma grande dificuldade em tornar o meu processo de
escrita mais fluido e prazeroso. Um problema que foi se agravando ao me deparar com
disciplinas que pouco falavam comigo, me vi mais uma vez soterrada com uma enxurrada
de pensamentos desorganizados.

Passei então a tentar fugir de todos esses obstáculos e, por consequência,


apresentava cada vez mais um comportamento de esquiva frente a situações que me
colocavam em evidência - evitava apresentar trabalhos, guardava minhas dúvidas por
achá-las muito bobas, escrevia cada vez menos e por fim, me percebi muito desatenta e
desmotivada em aulas cujos temas antes tanto me interessavam.

Em meio a tudo isso vivi um processo de Burnout (associado a outras


complicações) e fui afastada do meu trabalho por um ano e tranquei o curso. No semestre
que consegui retornar achei que tudo voltaria ao normal. O que aconteceu? Pandemia
Mundial! Quarentena, Home office, EAD... não consegui acompanhar o ritmo e tranquei o
curso mais uma vez. Foi no segundo semestre de 2020 que me vi, mesmo
completamente assustada, agarrando uma oportunidade de tentar mais uma vez – me
organizei melhor no trabalho, entrei em uma turma completamente nova em um regime
remoto e me surpreendi! Me deparei com pessoas que seguraram a minha mão e gostei
tanto que eu (a menina que passava mal ao levantar a mão para tirar uma simples
dúvida), me tornei representante de turma naquele mesmo semestre... rs

Chegou então o sexto período (novamente). Psicanálise, Sistêmica, Humanista,


Psicopatologia e Comportamental. Tive certeza de que não daria conta e semana por
semana fui surpreendida... hoje paro para analisar e me surpreendo com a quantidade de
obstáculos que superei e os aprendizados que tive em todas as disciplinas. A
Comportamental, que antes era uma abordagem que tanto me assustava pela
tecnicidade, se tornou uma das melhores disciplinas que já tive. Me permiti testar cada
técnica proposta durante as aulas e me vi novamente como aquela menina recém
alfabetizada: sedenta por novos aprendizados, sem a obrigação de compreender cada
linha, mas se permitindo conhecer novas perspectivas.

Adotei a escrita livre no meu cotidiano e tenho tido um retorno incrível tanto no meu
trabalho quanto nas demais disciplinas. Ainda estou tendo dificuldades quanto a técnica
das notas, eu utilizava algo semelhante durante o Ensino Médio, mas ainda não consegui
encontrar uma forma de ser funcional no meu dia a dia (mas vou seguir tentando... rs). O
que mais me deixou feliz foi ter recuperado o prazer em escrever, sinto que estou
avançando em pequenos passos, mas já é uma grande vitória estar me permitindo.

Algumas falas suas me marcaram bastante, como: “Comportamento verbal é


eminentemente social” e “O Comportamento verbal é, portanto, comportamento
operante e é mantido por consequências mediadas por um ouvinte que foi
especialmente treinado pela comunidade verbal para operar como tal.” A princípio
confesso que relia essas frases mil vezes em meu caderno, mas pouco a pouco fui
compreendendo-as e hoje elas fazem tanto sentido! Se encaixaram e me ajudaram a
entender melhor parte das minhas dificuldades - ser mais “natural” ao expressar minhas
opiniões sem tanto sofrimento e, principalmente, na minha escrita acadêmica. Entendo
que experenciei punições e fui condicionada a esquivar frente a situações de exposição,
agora é buscar as melhores maneiras de lidar com esse mal-estar.
Além disso, a sua fala sobre a leitura de um texto estar sempre relacionada ao
combo: texto + nossa história comportamental me ajudou a compreender algo que
mesmo sabendo eu tinha dificuldade em concordar, na minha cabeça existiam pessoas
que conseguiam compreender bem os textos simplesmente por serem “inteligentes” e
ponto. Sei que sempre vou me deparar com dificuldades ao ler diferentes textos, mas isso
não deveria me impedir de prosseguir. Compreendo que ainda tenho um árduo caminho
pela frente, mas saber que essa estrada pode sim me trazer satisfação me motivou
bastante. Sou muito grata pelas suas aulas, Robson. Muito obrigada!

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