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FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA DA

SAÚDE

O PSICÓLOGO E O ATENDIMENTO A
PESSOAS COM DST, HIV E AIDS

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1 Dimensão ético-política do atendimento a pessoas com
DST, HIV e AIDS
A AIDS surgiu, no Brasil, no início da década de 1980, no exato momento em que o país sofria transformações

político-sociais importantes para o direcionamento das ações políticas no campo da saúde e, no caso em

particular, da AIDS.

Nesta ocasião, podemos ressaltar o surgimento de alguns marcos históricos na área de saúde do país: a reforma

sanitária, a Conferência Nacional de Saúde, a criação do SUS e todas as conquistas do movimento de saúde na

elaboração da Constituição Federal Brasileira, de forma a garantir que o direito dos cidadãos brasileiros à saúde

fosse assegurado, como citado no Art. 196:

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à

redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua

promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988).

2 Eixos da Política Nacional do programa brasileiro


Com o intuito de dar respostas políticas ao momento de epidemia do HIV/AIDS, a Política Nacional do programa

brasileiro compreende três eixos principais, para que venham a funcionar de forma integrada e com base nos

princípios do SUS:
• Promoção à saúde, proteção dos direitos fundamentais das pessoas vivendo com HIV e AIDS e prevenção
da transmissão das DST, do HIV/AIDS e do uso indevido de drogas.
Esse componente articula suas diretrizes, estratégias e ações, tendo em vista a redução da incidência da infecção

pelo HIV/AIDS e por outras DST (BRASIL, 1999, p.13).

Diagnóstico e assistência

Visa garantir o acesso a procedimentos de diagnóstico e tratamento à população em geral e a pessoas vivendo

com DST/HIV/AIDS. Lei Federal n” 9.313, de 13/11/1996, que dispõe sobre a obrigatoriedade do acesso

universal e gratuito aos medicamentos antirretrovirais pelo sistema público de saúde, que contribui

significativamente para a maior sobrevida e qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV/AIDS (BRASIL,

1999, p.46).

Desenvolvimento institucional e gestão do programa

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Esse terceiro componente tem relação, principalmente, com o princípio de descentralização do SUS no que se

refere aos vários aspectos de gestão do programa nacional, da execução de políticas e do seguimento de

diretrizes pelos programas estaduais e municipais.

3 A Psicologia e o campo DST/AIDS


O trabalho do psicólogo no campo das políticas públicas relativas às DST/AIDS respeita, praticamente, os

mesmos compromissos sociais subjacentes às práticas profissionais que estabelecem os parâmetros a serem

buscados nas ações desenvolvidas nesse campo.

O psicólogo atuando no campo da AIDS deve:

Ajudar

Ajudar no processo de ressignificação pessoal e coletiva das pessoas envolvidas no processo em especial na sua

relação com o dia a dia.

Atuar

Atuar de modo auxiliar na recuperação das pessoas fragilizadas pela doença, buscando sua recolocação no

processo social e melhora na condição de vida.

Observar

Observar o contexto histórico particular de cada indivíduo, para que este não seja descolado do seu ambiente

natural e zona de conforto neste processo de recuperação. Cada indivíduo é um mundo particular e isto deve ser

respeitado.

Fique ligado
O psicólogo está incluído nas políticas públicas no campo da AIDS, dentro das equipes
multidisciplinares. Sua atuação, no campo da AIDS, tem ocorrido em três dimensões diferentes:
• Atuação na formulação das políticas e programas;
• Execução das ações programáticas previstas;
• Avaliação e acompanhamento das ações.

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4 Capacitação do psicólogo
O psicólogo deve ter como referência a epidemiologia e os programas de saúde (federal, estaduais e municipais),

pois essas informações fornecerão elementos para decidir quais serão as áreas prioritárias e as demandas da

população.

Três itens devem ser observados na capacitação de um psicólogo para este ambiente:
• Conhecimento teórico e prático sobre DST, HIV, AIDS e hepatites, além de informações básicas na área
de saúde em geral e capacidade de controle de grupos.
• Conhecimento específico do conteúdo programático do sistema.
• Conhecimento sobre suporte pessoal, ou seja, como cuidar daquele que também cuida.

5 Atuação do psicólogo em programas de DST/AIDS


Dentro do sistema promotor de saúde pública, principalmente nas equipes multidisciplinares, existe uma série

de atividades onde a responsabilidade pertence a todos os profissionais de saúde que, na maioria das vezes, não

é reconhecida como própria de uma ou outra profissão.

É comum, nestes casos, ver o psicólogo questionar a pertinência de dirigir uma ação educativa, uma vez que “não

se formou para isso”. As ações comuns à equipe, no entanto, se inserem no paradigma da prevenção e da

promoção da saúde, e estas constituem campo de atuação de todos os indivíduos envolvidos com as questões da

saúde.

Há relevância em como o profissional psicólogo deve se portar, em sua ação diante da fragilidade ao vírus HIV ou

a qualquer DST, não só pela vulnerabilidade social – que desfavorece em maior ou menor grau o indivíduo em

análise –, mas também pela exposição a transtornos ou desordens emocionais.

Saiba mais
A forma como o sujeito reage a condição de portador determina maior ou menor propensão a
instabilidades emocionais, e a forma de reação não é apenas individual: é também coletiva –
tanto social como institucional. Um serviço que não oferece suporte emocional aos portadores
de HIV pode estar corroborando para o aumento da fragilidade emocional dos usuários ali
cadastrados.

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6 Sistema de prevenção de saúde
De acordo com a lógica de atenção proposta pelo SUS, além de desenvolver as noções de campo, núcleo e

vulnerabilidade, as ações deverão estar organizadas em atividades de prevenção, promoção e assistência.

O sistema de prevenção de saúde é divido em três níveis de complexidade:

Prevenção primária

Esta seria a primeira linha de defesa contra determinados agentes patógenos. São ações que visam à divulgação

dos cuidados de prevenção ao DST/AIDS, e o psicólogo também se enquadra neste trabalho de palestras,

aconselhamento individual e coletivo pré e pós-teste, oficinas e qualquer atividade que vise o esclarecimento a

respeito do tema.

Prevenção secundária

As ações da prevenção secundária devem ser exercidas pelo psicólogo e visam impedir o avanço da doença ou a

sua cronicidade. Neste ponto, é importante a escuta psicológica e o aconselhamento com monitoramento da

situação psicológica do sujeito atendido.

Prevenção terciária

É a última linha de defesa e trabalha buscando a reabilitação, além de evitar ou diminuir o risco de invalidez total

ou parcial, logo após a doença ter sido curada ou estabilizada, como no caso da AIDS.

As ações da prevenção terciária constituem em intervenções na comunidade com o intuito de:


• Diminuir o preconceito e a discriminação;
• Cuidar da reinserção no mercado de trabalho ou na comunidade do sujeito que acaba de travar uma luta
contra a doença;
• Manter uma relação de atendimento com a família e comunicantes;
• Preparar a construção de uma rede de apoio social dentro da comunidade onde o sujeito está instalado.

7 O psicólogo no sistema de prevenção de saúde


O psicólogo, no sistema de prevenção de saúde, pode atuar nos três níveis!

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As necessidades de saúde que não podem ser resolvidas no nível da atenção básica são encaminhadas à atenção

especializada, no nível de média complexidade ou atenção secundária.

Os serviços de alta complexidade – atenção terciária – estão no mais alto nível de recursos tecnológicos para o

atendimento à necessidade de saúde do usuário, como, por exemplo, no serviço de transplante de órgãos ou nas

unidades de tratamentos intensivos.

8 Gestão do trabalho nos programas de DST/AIDS


No trabalho de gestão no ambiente DST/AIDS, o trabalho do profissional psicólogo deve observar três pontos

como principais:

Fique ligado
A função do psicólogo é mais completa do que apenas o foco no atendimento individual ou
coletivo. Ele deve primar pela capacitação dos profissionais desta área, seja ele da iniciativa
privada ou do sistema SUS. Estando envolvido no trabalho dos conselhos, o leque de contato se
amplia, possibilitando um toque maior na sociedade ligada à prevenção.

Descentralização dos serviços

De acordo com Lei nº 8.080/1990 dispõe sobre a descentralização político-administrativa nas três instâncias do

poder público e dá ênfase à municipalização de todos os serviços e ações de saúde pública. Também observa

como se dá a redistribuição de poder, responsabilidades e recursos financeiros para os municípios.

Princípio da integralidade

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Antes separadas, as ações de saúde agora devem manter o princípio de integralidade em todo o sistema SUS. Isto

se faz para dar organicidade ao sistema, tornando cada vez mais unificadas as ações nos Ministério da Saúde e da

Previdência.

Controle social

Os psicólogos envolvidos no sistema de prevenção de DST e AIDS podem participar dos Conselhos locais,

municipais, estaduais e nacionais como profissionais da área de saúde. Assim, ampliam o toque da informação

participativa aos membros da comunidade, principalmente em dois pontos específicos:


• Prover o preparo de novos profissionais capazes de atuar dentro dos projetos de DST/AIDS no Brasil;
• Investir na capacitação para atuar de forma mais eficiente no processo de gestão, utilizando métodos
integrativos e participativos no planejamento, programação, vigilância e avaliação, melhorando a
capacidade de autonomia gerencial e tornando o processo de decisão mais rápido, adaptativo e
participativo, capaz de ter sustentabilidade das ações, que é um subcomponente de gestão.

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