Departamento de Filosofia Metodologia Filosófica I Prof. Dr. Noeli Dutra Rossatto
Exercícios - ARISTÓTELES
Texto 1: “A virtude é portanto uma disposição adquirida voluntária,
que consiste, em relação a nós, na medida, definida pela razão em conformidade com a conduta de um homem ponderado. Ela ocupa a média entre duas extremidades lastimáveis, uma por excesso, a outra por falta. Digamos ainda o seguinte: enquanto nas paixões e na ação o erro consiste ora em manter-se aquém, ora em ir além do que é conveniente, a virtude, segundo sua essência e segundo a razão que fixa sua natureza, consiste numa média, em relação ao bem e à perfeição ela se situa no ponto mais elevado” (Ética a Nicomaco, II, Trad. Francesa J. Voilquin, In. FOLSCHEID e WUNENBURGER, p. 56).
Texto 2: “A excelência moral, então, é uma disposição da alma
relacionada com a escolha de ações e emoções, disposição esta consistente num meio termo (o meio termo relativo a nós) determinado pela razão (a razão graças à qual um homem dotado de discernimento o determinaria). Trata-se de um estado intermediário, porque nas várias formas de deficiência moral há falta ou excesso do que é conveniente tanto nas emoções quanto nas ações, enquanto a excelência moral encontra e prefere o meio termo. Logo, a respeito do que ela é, ou seja, a definição que expressa a sua essência, a excelência moral é um meio termo, mas com referência ao que é melhor e conforme ao bem ela é um extremo” (Ética a Nicômacos, 1106b, Aristóteles, Traduzido por Mário de Gama Filho, 2ª Edição, Brasília, 1992, Editora da Universidade de Brasília, p. 42).
1. Qual o termo grego para “virtude”?
2. Que termo português traduz “virtude” nos textos acima? 3. A virtude é meio termo ou extremo? 4. Definir: a) ação; b) paixão; d) virtude. 5. Faça a citação correta dos textos acima.
Estudo dirigido
Questões 1.2. O termo grego para virtude é areté. Em trabalhos técnicos,
usa-se o termo original para evitar mal entendido. Compare as duas citações acima do mesmo texto da Ética a Nicômaco de Aristóteles em que se nota que o termo grego areté é traduzido por virtude e por excelência moral. As duas traduções podem ser consideradas corretas, no entanto elas acentuam aspectos diferentes que nem sempre são satisfatórios em um trabalho acadêmico. Exercício: encontre outras noções traduzidas de modo diferente nas duas versões do texto Aristóteles e procure o termo no original grego.
Questão 3. A virtude é meio termo ou extremo? A resposta a esta questão
tem de levar em conta dois aspectos presentes na definição dada no texto de Aristóteles. Os dois aspectos estão dados na conclusão: “Logo, a respeito do que ela é, ou seja, a definição que expressa a sua essência, a excelência moral é um meio termo, mas com referência ao que é melhor e conforme ao bem ela é um extremo”. Como sei que esta frase é conclusiva? Pelo uso do termo “logo” ou “ora” (veja nos textos acima). Também poderiam ser usados os termos “portanto”, “em suma”, “em conclusão”, entre outros. O importante é identificar a frase conclusiva na estrutura geral do texto ou parágrafo. É importante notar que a frase que traz a conclusão parece paradoxal, pois, diz que a virtude é “meio termo” e “extremo”. Como entender? O texto nos dá a resposta. “Meio termo” em relação ao que “ela é”, ou seja, quanto a sua “essência”. Aqui temos uma definição em termos ontológicos, isto é, pelo ser da coisa: ontos em grego igual a “ser”; apesar disso, o termo essência (eidos) ou substância (ousia) é utilizado como sinônimo. (Por isso, mais uma vez teríamos de conferir o texto grego original e utilizar o termo que julgarmos mais apropriado). Por outro lado, “extremo” não está relacionado ao ser ou essência da virtude, mas ao que “é melhor” ou ao “bem”. Ser melhor e bem são termos que remetem à ética e não à ontologia.
Concluindo: a virtude é um meio termo (mesótes) ou uma medida no
que diz respeito ao ser ou essência; e um extremo em termos do bem, ou seja, em termos éticos. Por exemplo: a virtude da coragem é o meio termo entre ser covarde (ter medo de tudo) e ser destemido (não ter medo de nada). É um extremo em relação ao bem, pois é o valor ou bem mais alto, a excelência moral. Assim, a virtude para Aristóteles é meio termo em relação ao ser (ontológico) e é um extremo em relação ao bem (ético ou moral). Exercício: encontre o esquema das virtudes e dos vícios em Aristóteles.
Questão 4. Definir: a) ação; b) paixão; d) virtude.
a) ação: Os termos gregos práxis ou techné podem ser traduzidos por ação. No entanto, práxis e techné se distinguem. Práxis diz respeito a uma ação que tem finalidade fora dela mesma (techné), como fazer uma cadeira; e também pode ser uma ação que tem finalidade em si mesma, como ser virtuoso, sendo sinônimo de phrônesis, sabedoria prática ou virtude. A partir de Aristóteles, Hannah Arendt vai distinguir três conceitos de ação: labor (comer, beber), trabalho (fazer algo, techné), ação (ética no sentido de phrônesis). b) Paixão (pathos): algo que se padece de fora e é independente do agente. Na comparação entre as duas traduções, temos paixões e emoções como sinônimos. c) Virtude (areté): disposição adquirida, hábito.
Exercício: Aristóteles (EN 1106b) diz: “Logo, a respeito do que ela é,
ou seja, a definição que expressa a sua essência, a excelência moral é um meio termo, mas com referência ao que é melhor e conforme ao bem ela é um extremo.” A expressão “a respeito do que ela é” é sinônimo de: I. conforme ao bem; II. de acordo com o ser; III. com referência ao que é melhor; IV. conforme a natureza.
Está (ão) correta (s): a) I e II apenas. b) II e III apenas. c) III e IV
apenas. d) II e IV apenas. e) I, II, III e IV.
Questão 5. Faça a citação correta dos textos acima.
1. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Francesa J. Voilquin, In.
FOLSCHEID, D.; WUNENBURGER, J.-J. Metodologia filosófica. São Paulo: Martins Fontes, 2006. 2. ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Traduzido por Mário de Gama Filho, 2ª Edição, Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1992.