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FICO Carlos A Historia Que Temos Vivido
FICO Carlos A Historia Que Temos Vivido
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História que temos vivido'
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tabu como o genocídio, a perseguição dos judeus na França ou a atuação do
rei Leopoldo III da Bé.lgica no episódio de sua rendição aos alemães. Mar-
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esteve longe de ser apenas francesa. 3
Na Itália a caminhada também foi
----- ----- - ~.. -" ~--, ._._- lenta (Galimi, 2003). A Alemanha - que viveu, centralmente, a interdi-
ada pela história política tradicional, a produção dessa fase deu visibilidade ção da modalidade no século XIX - assistiu a uma gradual aceitação da
a história recente, mas foi significativamente distinta da que viria a ser pro- história dos períodos recentes: em 1959, a direção do Institut für Zeit-
duzida no final do século XX. Assim, embora seja inegável a centralidade da geschichte admitiu a introdução dos estudos do pós-guerra em seus pro-
([ Guerra Mundial como "acontecimento inaugural", também é perceptível gramas (Klessmann e Sabrow, 1997: 221).
que ~t;s te~ enfoques da hist~o temp;;- pre;-nte ~ se tornaram. Fritz Ernst, em um artigo de 1957 que continua atual, assinalou a
marcantes - como a deportação de judeus ou a problemática da memória importância da I Guerra Mundial para a derrubada de anti _as restri ões:
- só se consolidariam a partir dos anos 1980 (Rousso, 2000: 32). praticada esporadicamente desde o final do século XIX, a história do
A c~ção do Institut d~Histoire du Ternps ~~t, na Fra~ç~~m tempo presente se impunha aos alemães devido à necessidade de enten-
197~, teve a capacidade de estabelecer, pelo debate que se seguiu, uma dimento daque êCõrÍ~Po~s;,~ie, os impedimentos foram v-;;-
s 'rie de argumentos que tinham o propósito explícito de configurar um ddos (Ernst, 1957: 179), mas a importância da 11Guerra Mundial seria
novo campo disciplinar - distinto da modalidade existente até o século maior e a luta pela retomada da modalidade no final do século XX tem,
XIX, mas também novo em relação à história do tempo presente pratica- sobretudo na Fran a e na Alemanha uma orte conota ão de acerto de
da desde o fim da guerra. I A nova versão francesa tomou como modelo, contas com o assado traumático. Assim, em termos gerais, podem ser o
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m termos de nome, a congênere alemã - Zeitpeschichte - na medida em >
assinaladas duas grandes fases dessa retomada: a que decorre do im acto s
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que o instituto francês, apesar de ter sido criado como herdeiro do antigo das guerras mundi~s e a que se inicia no final dos anos 1970,_~ contex- o
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omité d'Histoire de Ia Seconde Guerre Mondiale (1950), dele queria I-
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diferençar-se, não obstante também pretendesse ocupar-se da história ::J
2 A disposição combativa deu a impressão de que a história do tempo presente surgiu na O
posterior à 11Guerra Mundial.
França, o que certamente não é o caso. Ver, por exemplo, Aróstegui (1998: 16).
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c.::
3 Segundo Gérard Noiriel, a história contemporânea teria ficado restrita ao ensino desde
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a criação de cadeiras de história contemporânea na Sorbonne, a partir de 1884, com o I
I I ara um entendimento próximo a esse, ver Lagrou (2003:3). Na visão de Lagrou, a que ficaram desqualificados os historiadores não universitários que faziam oposição à
distinção verifica-se em relação ao século XIX. Terceira República abordando o período recente. Ver Noiriel (1998). 71
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1I,\rr,\li V.Id, NII.I''!Instituição.
11111,1 d ulo rn m 'IH (do prl's .nt ) possui características tais que o situam,
A (rgum nt çao essencialmente metodológica a que m r ,firo tal lnduhitavelment , no rol daquilo que o senso comum chama de "fatos
v,'~ t nha sido a outra face da mesma estratégia de luta e justifica ,;- d, históricos": uma antecipação do trabalho do historiador.
IdslÓria do tempo presente: evitando confrontar os problemas teórico' O_debate sobre o nome e/ ou a periodização da especialidade tomou
1I1.\isespinhosos como o da perspectiva histórica, do distanciamento do bs stante tempo. Se quisermos ironizar, podemos dizer que a dificulda-
nhj to ou da neutralidade científica, boa parte dos debat~s concentrou- d para encontrar um nome tão inadequado quanto aqueles com que
N ' na afirmação de que a especialidade era rigorosa, distinta de "gêneros batizamos os períodos anteriores - tais como "Idade Média" ou "Ida-
1111'
.riores" como o jornalismo, e em polêmicas quase nominalistas sobre de Moderna" - deveu-se à circunstância de que, dessa vez, o fizemos
110m nclatura e periodização. conscientemente. Koselleck, em seus levantamentos conceituais, atribui
Arthur Schlesinger, Jr. - que além de historiador também foi assessor a Johann Büsch a proposta, feita em 1775, de organização da história "se-
,10 presidente norte-americano cujo assassinato se tornaria um Ícone do gundo o tempo" - em Antiga, Média e Moderna -, esta última abran-
('culo XX -, escrevendo logo após a morte de Kennedy, disse que a histó- gendo a história contemporânea, correspondente ao período da última
I 1.1r cente esteve nas mãos de um "bando desordenado de memorialistas e geração (Koselleck, 2006:280). No início do século XIX, o historiador
lornalistas" (Schlesinger, 1967). ° historiador alemão Gerhard Ritter, anos alemão Arnold
rânea" só deveria vigorar
Heeren diria que a designação
a longo prazo e a descartou
de "história contempo-
(apud Koselleck,
.1111.s, lamentava o fato de que o historiador jamais conseguia superar a
wlo idade e o poder de convencimento dos jornalistas (Ritter, 1961 :269). 2006:281). Seria uma "questão para os historiadores do século XX, não
I,ss, ompetição com o .ornalismo tem relação com a coincidência de te- para os do primeiro quartel do século XIX", disse Heeren (apud Kosel-
1I1.ls,mas também diz respeito a certa visão negativa em relação aos meios leck, 2006:281). Mas a restrição de Heeren não prosperou: o próprio
dI' 'ornunicaçâo de massa, sobretudo depois das reflexões de integrantes Leopold von Ranke usou a expressão "história dos tempos mais recentes"
d,I Escola de Frankfurt, como Adorno e Horkheimer (1985). As interpre- ou "história contemporânea" e também "história do nosso tempo", para
I.",õ s difundidas pelos meios de comunicação estariam, de algum modo, designar a época na qual ele vivia. Na Alemanha, fixou-se o termo Zeit-
"ollsl urcadas e, para algumas leituras mais pessimistas, não existiria um geschichte, literalmente ''história do tempo", como abreviação de ''história
• vspaço puro, exterior à cultura da mercadoria" (Huyssen, 2000: 19). do próprio tempo"- historia temporis sui - incorporado à tradição fran-
cesa, conforme visto há pouco, como história do tempo presente no final o
Em resumo, como afirmou Kosellec~ em seu estudo sobre os concei-
°
o
dos anos 1970. já mencionado Fritz Ernst, enriquecendo os debates
s
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los de movimento na modernidade, de 1977, a tópica do "gênero infe-
Vl
1101-"firmou a leitura de ue a história do tem o resente, ar.ós a interdi- sobre a estranheza desses nomes, cogitou Gegenwarts8eschichte (história do o
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,',10 do século XI.?", d~slizou ara esse atamar desprestig~o (Koselleck, presente), mas adotou Geqeti wartschronisti]: (cronografia do presente), que f-
ui
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O() :293), passando a ser cultivada por jornalistas, "armadilha" contra a não frutificou (Ernst, 1957: 139), o
«
'I tI,,1 ra preciso estar atento - a ertava Henry Rousso. 4 O_direito de e~a- ~ a França, a expressão contemporaine desi~a a é oca osterior à c:<:
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f-
Revolução Francesa, ~quanto os fal~tes de língua inglesa reserv.:.!? a
°
Vl
I
expressão contemporary history p~a desig!!ar o erÍodo recente. histo-
I I 'ut r vista Sobre a história do tempo presente com o historiador Henry Rousso conce-
dld,\ • Arend e Macedo (2009:205). riador britânico Llewellyn Woodward julgava mais adequada a expressão 73
h/II"') "I "'li "1111(/"1/' (I, NI{lI'l.ldo nosso próprio tempo), mas não achou
11111 baseadas em características peculiares ao século XX - com~.~ráter
111 1 6:1). Na antiga República Democrática Ale-
1)1'11'111111'''1''1'1110
traumitico do Holoca~sto mi" a eXãCerbação do-fenômeno da memória'
'1111,,I (' plt', 11(11'q(' ,li ente a história contemporânea designava apenas
- são exem 10 do enfo ue realista.
o p ·,.{odo PONII"'jOl',I I 45, mas os marxistas não viam com seriedade o
Para o historiador francês Henry Rousso, fenômenos como a queda
~llId) hi.~«'wi('()d 'SS 'poca (Klessmann e Sabrow, 1997:221).
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do Muro de Berlim, a íncriminação de antigos chefes da polícia política
N,. 'I landa, a d signação do período moderno através da expressão
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Geschiedenis
10 1789/1940
levou ao uso do superlativo nieuwste para designar o
e à inovação de eigentiJsfse Geschiedenis (história do
alemã nos anos 1990, o julgamento
mes acontecidos
na França, 50 anos depois, de cri-
durante a II Guerra Mundial, bem como a derrubada
de ditaduras militares na América Latina seriam correlatos e integrariam
N('U próprio tempo) para o período posterior a 1945 (Lagrou 2003) N
" h ' . a um momento que é possível comparar (Rousso, 2000:39). Estudioso de
lHp.n a, a expressão tietnpo presente por vezes confundiu-se com a abor-
literatura, Andreas Huyssen também considera haver um vínculo que
d,) rem scolar da história do "mundo atual", que Julio Aróstegui advertia
identifica os processos históricos posteriores aos eventos traumáticos de
.~I·,.
nssunn, distinto (Aróstegui, 1998: 15). Na Itália, a noção de tempo
países que viveram totalitarismos, ditaduras militares, o apartheid e exter-
pr 's nt não é usada comumente, prevalecendo a expressão história con-
mínios no final do século XX. Segundo sua interpretação, a revisão dos
Ivmp rânea para o período posterior ao século XIX (Galimi, 2003).
respectivos passados nacionais, regionais ou locais deveria ser pensada
1\ rn 's Chaveau e Philippe Tétart, escrevendo no fmal do século XX
em conjunto. Ele vê no Holocausto um "Índice" ou uma "chave" do século
/:I'I'/"I"i rn designar os últimos 30 anos como ''história próxima" e os úl~
XX e do fracasso do Iluminismo: o evento teria se transformado em uma
"")OS 50 ou 60 como história do tempo presente. Haveria, ainda, uma
metáfora de outras histórias traumáticas, como as políticas genocidas em
"ldNtóri< imediata", que seria apenas "testemunho", complemento da mo-
Ruanda, Bósnia e Kosovo.' A marca do ter o final do século XX seria a
",11 d,'d I rincipal, mas que não resultaria de verdadeira pesquisa histórí-
de uma rande instabilidade e angústia di~te de m~dan~as~iado
1'.1 hav au e Tétart, 1999:27-28). Muitas outras propostas foram feitas.
a~as. Essa nova temporalidade gera~ia um "~nso pânic<::público
H,'( "'lIl m nte, como consequência da abundância de estudos sobre a
~uecimento" que explicaria a conv:~ão da ~emória ~_~~~~b-
'1II'II'!>,'i" sugeriu-se definir como objeto da modalidade as memórias de
se~são cultural de prop-;;-;ções mon;--m~ntais no mundo inteiro" (Huyssen,
1'110 II,el1 s uma das três gerações que compartilham um mesmo presen-
11'1, Ió,.ic (M d . 2009 106 200: 15, 18-19, 22-23). A professora argentina de literatura Beatriz Sarlo
. u rovClc, : ). Essa estranha sucessão de propostas
também compartilha a ideia de que os debates sobre o Holocausto e a
d, 1111 "1.~I'~L
a centralidade do problema da designação de um novo perío-
dll I, . t61"1' - ao qual eu voltarei. transição democrática no sul da América Latina se entrelaçaram em mea-
dos dos anos 1980 (2007:46).
( ) ('o",)t J' aleatório de algumas dessas soluções não deve ocultar a im-
Seria possível discutir o que há de acertado ou exagerado nessas pers-
I"" 1,llId,\ d debate sobre periodização, por vezes menosprezado pelos
o
p ctivas - e a mim parece que há algo de significativo nessa, digamos, o
II 10011Ido/'.s. Uma distinção básica diz respeito ao caráter convenciona- s
"retórica da iminência" e no vocabulário psicanalítico que tomou conta >
I 101011 "VI lista das propostas de periodização, isto é, trata-se de apenas Vl
d muitos textos, sobretudo quando se pensa na crítica da cultura e da O
,1/1,"',11' {/UI.' um dado período histórico passará a ser reconhecido por ::E
UJ
lit ratura, em sp cial, mas também em certa reflexão que transita entre I--
I 11'1111H/li 'I n m ,ou pod rn distinguir um conjunt ('SI .;n. de UJ
::J
O fll ' fi m a suposição de Paul Ricceur de que, em o
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leração, fez com ue se tornasse cada vez mais difícil escrever a história ::>
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do tem ;;- ue estava sendo vivido". Kose lec cita vários autores que s
" R ;Firo-.~e à sup~sição de que inúmeros eventos ao longo do século XX (como os re- C<:
'0
I' im s militares latmo-americanos ou os massacres de Ruanda, Bósnia e Kosovo) podem exemplificam isso (2006:82, 181-182, 292). l-
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,~." ompreendidos segundo esta matriz e este trauma. Isso não significa, evidentemen_ I
dll hlslQriad r etc. (Klessmann e Sabrow, 1997:224-226). o regime de Vichy. Embora se trate de um tipo de reconhecimento do
AM~ ntes orais têm sido francamente utilizadas e houve certa polêmi- mérito do especialista (Ernst, 1957: 141), haveria riscos evidentes para o
I'li 11'I. ndo da constituição do que terminou sendo designado por "história historiador que pretendesse se tornar um perito.
ul", modalidade
111 de grande sucesso. e bastante articulada à história do O importante a destacar é que ? relato do vivenciado tem uma pecu-
11"'1>0 presente em função dos estudos sobre memória e do potencial liaridade em relação a outras narrativas históricas: escrevemos para quem
di li,tSfontes como testemunho. 10Aqui, entretanto, eu gostaria de assina- viveu aqueles episódios e essa forma singular de "pressão pela verdade",
1111
outro aspecto. O a el reponderante do relato testemunhal para a exercidapelos coetâneos, tem marcado o estatuto discursivo de nossa es-
II Hlória do tempo vivido tem sido destacado desde o término da II Guer- pecialidade: "[ ... ] não há dúvida de que parte da cronografia do presente,
antiga e medieval, foi criada sob esse signo" (Ernst, 1957: 146). O mesmo
1.1Mundial. A discussão sobre o testemunho
--- -- ~--------
é essencial
ara essa história,
pode ser dito da atual história do tempo presente. Num momento de
lurlusive
-"'
o testemunho
\'lIllsiderar dois aspectos
. -
do róp-rio historiador, sobre o qual é possível
-
antagônicos: de um lado, a suposição de que esse grande sinceridade, o já mencionado Schlesinger, ao registrar a vigiÚncia
I1 I 'munho pode ser parcial, em função do envolvimento do historiador dos que podem nos contradizer, disse que "todo historiador do passa-
1'111
li os fatos que ele testemunha e busca narrar, o que levou à interdição, do sabe, no fundo do coração, quanto de artifício encontra-se em suas
1111
século XIX, da história do tempo vivido como não científica. Contra- reconstruções; quanto de sua evidência é parcial, incerta ou hipotética"
Iltltn nte a esse entendimento, fundadas convicções ancestrais garantem, (Schlesinger, 1967). Tanto os recursos retóricos que podemos mobilizar
dl\ ti a Antiguidade, que o testemunho do historiador será mais crível quanto as problemáticas ernpíricas que podemos evidenciar são limitados
IIlIIlnuo for ocular, ou seja, na medida em que trabalhemos com fatos que pela peculiaridade dessa audiência dos que viveram os fatos narrados.
V IIIOScom "nossos próprios olhos" em vez de conhecê-los por "ouvir fa- Como mencionei no início, o debate sobre a especificidade da história
1111''',
como registrou Isidoro de Sevilha. Essa ênfase no videre também es- do tempo presente relativo às questões metodológicas da periodização,
IIIV,Ipresente em São jerônimo e em outros autores da Idade Média. São da designação da modalidade e das fontes beneficia-se do não enfrenta-
Ih,d, explicou que sua história da Igreja da Inglaterra foi feita a partir de mento de questões teóricas que agora, por honestidade intelectual, devo
II li fontes: os documentos antigos, a tradição "dos maiores" e o seu pró- abordar - embora me faltem meios para resolvê-Ias. Pieter Lagrou re-
o
111'10conhecimento (mea n= cognitione scire potui) - o que mescla o ver gistrou, acertadamente, que "a originalidade de nosso domínio não é de o
ordem metodológica" (Lagrou, 2007: 34). Mas não seria incabível ques- s
II ti testemunhar (Karkov, 2001:177; Ernst, 1957:141). Mas essa antiga >
Vl
I'(lllvicção também está presente em autores contemporâneos, como Eric tionar se a modalidade tem alguma específicidade, inclusive no que se o
z
UJ
Ilobsbawm: um jovem historiador que não viveu determinados episódios refere ao seu estatuto epistemológico. Para Richard Rorty, não haveria r-
UJ
• c'lIl ' quanto sobre o passado (Hobsbawrn, 1998:245), Roger Chartier p , .uliaridade , há pouco mencionada, da intensa politização ue envol-
11,\0 indica por que, em sua opinião, "pela própria natureza de suas preo- v 'a es uisa da história do tem o resente, que, em relação aos anos
('Up ões" essa especialidade nos levaria "à exigência de conhecimento I 80 - tempos de afirmação da nova fase da modalidade -, hoje talvez
v .rdadeiro" (1993:252), steja, de fato, mais submetida aos rigores da pragmática metodológica
Parece seguro que, não obstante as opiniões em contrário, haja alguma da história. Para Jean-François Sirinelli, as "obras muito impregnadas de
I'SP cifícidade na história de temas recentes, Talvez a particularidade não presente" mal passariam a "rampa da posteridade" (1999: 91). Hobsb~
I' .sida propriamente na experiência direta com o objeto, como parece se refere, de maneira depreciativa, ao que ele chama de corifortin8 histoty
NUg rir o exemplo de Hobsbawrn sobre o jovem historiador menciona- para designar o sub-ramo dos trabalhos referidos a grupos específicos,
do, Aliás, segundo Collingwood, se pudéssemos visitar o passado numa muitas vezes escritos por historiadores que militam em favor de suas c'!,u-
III~qLlinado tempo, isso não resultaria em conhecimento histórico (apud sas (Hobsbawrn, 1997:452),
Ilh llips, 2004: 135), A particularidade estará, talvez, na circunstância de - Thomas Haskell tem uma avaliação equilibrada sobre esse assunto.
11'11',história do tempo presente mescla política e pesquisa acadêmica em Analisando os anais publicados, em 2001, de uma conferência sobre "So-
1IIIIa"rede estreitamente entrelaçada" (Klessmann e Sabrow, 1997:230). cial Values and the Responsibilities of the Historian", realizada em Ams-
que há de surpreendente no debate sobre a especialidade, por ve- terdã em 1997 (Leerssen e Rigney, 2000), ele considerou que muitos
Zl'S, é a pressuposição, por contraste, de uma prática historiográfica ideal historiadores não veem problemas em associar a defesa de posições po~
II I , ao contrário da história do tempo presente, estaria imune às suas lítícas e/ ou morais à prática de um "empenho cuidadoso para ser obje-
1'1·,gilidades. Quando Woodward dizia que "obtém-se precisão e certeza tivo" e menciona "a proveitosa tensão entre engajamento e objetividade
1l1( is facilmente em assuntos impessoais" (1966:8), ele pressupunha uma que Ginzburg identifica com a era moderna" (Haskell, 2004:357). Para
ob] tividade cuja viabilidade é muito difícil de afiançar, desde que con- Dominick LaCapra, a subjetividade, pela via da "empatia como um com-
skl remos as críticas que, ao longo do século XX, foram feitas ao mito ponente do entendimento histórico" (2010: 198), poderia talvez apontar
d neutralidade científica, bem como os ataques da teoria da literatura, os limites do objetivismo das intepretações contextualistas: ele questiona
11 terço final do século passado, às modalidades prefigurativas do dis- quais seriam os requisitos de uma história "paradoxalmente" objetiva que
o
curso histórico - apenas para mencionar duas grandes discussões que inclua a subjetividade, Para ele, a empatia em relação às vítimas de expe- Cl
s
fragilizaram bastante as intenções objetivistas da história, Pode-se dizer o riências traumáticas é admissivel, mas é preciso distingui-Ia da ideia de s
V'>
Graças a estudos meticulosos como os de Leonard Krieger (1977), presente", disse Ranke em outra ocasião (Ernst, 1957:160). o
~
UJ
hoje temos uma leitura mais precisa de Ranke, que, no início do século A polêmica vinha se constituindo desde muito tempo. Uma dessas f-
UJ
:::J
XX, foi algumas vezes reduzido a uma caricatura de si mesmo. Embo- frases que, posteriormente, seriam muito glosadas no contexto das dis- o
ra ele seja emblematicamente associado ao momento no qual, no século cussões sobre o tempo presente foi dita em m por Gotthold Lessing,
«
c::<:
'o
f-
XIX, a velha história do tempo presente, praticada desde a Antiguidade, escritor e crítico de arte: "só cabe chamar verdadeiramente de hist0r!a- li)
I
roi tida como inviável cientificamente, é conveniente lembrar da impor- dor aquele ~e descreve a hi~~óri~~po e de s~ aís", Ele seria
tância que o presente vivido por ele teve em sua concepção de história muito criticado doravante. Droysen viu nele "a expressão de um ceti- 87
ti Illi' 1111111,"
I li" (1111 1,1')',/ 1/1) M,\ \ "1111 li , I, I'" 111111I1,I I ,I, 111til I 111,di 'I I 11III 1,11111" 11 1111'4(1)11,1
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ItlllI"IHÜdoH pI,ltl 1I,IIIIIII.dIMlllO,
qlll' R, nk igualm nte vivenciou -
.11111111.1 também achava difícil trat I" ,I I'I'Ítssi.\, em I H70, 'X,1' .rb u os ânimos entre as intelectualidades de
,'0111imp. r 'i lidade os acontecimentos recentes, mas acalentava a id i< 11111
I' de utro lado do Reno. Entretanto, Gabriel Monod, quando lançou
d, qUi' hist6ria se aproximava mais da verdade quando narrada por al- .1 Revue Historioue, em 1876 - periódico que se tornaria o veículo por
11I('1llqu vivenciara pessoalmente os fatos (Ernst, 1957: 157). As po- , 'I'ncia, na França, da história metódica -, não deixou de reconhe-
~'m's d Humboldt sobre o tema também podem ser vistas como um c 'r a superioridade alemã (Monod, 1876:27). Embora ele aderisse intei-
,d:\sl;'im nto refletido, tal como sugere Fritz Ernst: em seu estudo sobre ram nte ao projeto metódico-cientificista, descartando os historiadores
«) li -cul XVIII, de 1797, Humboldt reconhece a validade da reflexão so- medievais que se preocupavam mais com o presente do que com o pas-
lH'l' o I r sente, mas assinala a interdição que aos poucos se consolidaria: sado' ("eles não são historiadores propriamente falando") e criticando a
"o últirn e derradeiro juízo fica sempre reservado para a posteridade" influência das "paixões contemporâneas", não era um ingênuo: recomen-
l lumh Idt, 1904:30). dava que afastássemos as opiniões particulares, mas reconhecia que elas
A posição de Ranke evoluiu com o tempo. Já depois de aposentado, no "influem sempre" (Monod, 1876:5, 30, 36). Mas ele não esteve imune
1I 10 que fez em 1878 sobre Frederico Guilherme IV (1795-1861), rei às paixões contemporâneas, envolvendo-se como perito no famoso caso
11,\1I1llssi. desde 1840, para a Allaemeine Deutscbe Bioqraphie, o octogenário Dreyfus: "Monod, que havia defendido a atitude de distanciamento tem-
dor disse que, no caso de Frederico lI, o Grande (que reinara en-
I1 101'1< poral do historiador em relação aos eventos, jogou-se por inteiro na his-
IIt 1740 e 1786), a história podia ser considerada "encerrada", mas, em tória de seu tempo, na história do tempo presente" (Malatian, 2010:331).
1I,II\~':i a Frederico Guilherme IV a situação era diferente porque os fatos A primorosa pesquisa de Reinhart Koselleck sustenta de maneira irre-
1'111I auta "intervêm diretamente no presente" e haveria uma carência de torquível sua tese quanto à constituição, entre 1750 e 1850, de uma nova
11I1()I'maçõesconfiáveis e confusão entre "simpatias e antipatias concor- ideia de história, em função da própria alteração da experiência tempo-
I r-nt s". Por isso, ele se restringira a pesquisar poucos aspectos graças a ral, especialmente a emergência de um "futuro capaz de ultrapassar o
li, lc .larações de documentos autênticos dos arquivos" (Ernst, 1957: 161). espaço do tempo e da experiência tradicional, natural, prognosticável"
.ntretanto, convém distinguir a desaprovação da história do tem o (Koselleck, 2006:36)." O "tempo histórico" (2006: 16) decorreria do
I r 'S nte como modalidade incompatível com "a institucionalização da processo de distinção entre passado e futuro, entre experiência e expec-
d ....
ncia histórica como disciplina acadêmica na segunda metade do sé- tativa. O abandono do velho horizonte de expectativa cristã relativo ao
o
culo XIX" (Martins, 2008:33) do fato de que, para o historicismo, "as fim do mundo, bem como o avanço das ciências e a descoberta do Novo Cl
s
11 ntenças sobre as forças intelectuais do agir humano passado exprimem, Mundo "repercutiram, de início lentamente, ajudando a criar a consciên- s
V'!
O
simultaneamente, o contexto de sentido da vida social contemporânea" cia de uma história universal, que como um todo estaria entrando em um z
lJ.J
I-
(Martins, 2008:40). Assim, a interdi ão o erou-se em função da su osta novo tempo" (2006:278). Expressão da própria era moderna, a noção de lJ.J
:;)
in apacídade meto do lógica intrínseca à modalidade (ausência de recuo história associada à ideia de progresso resultaria na "nova ampliação dos o'
«
t mpo~' fragilidade heurística) e da limItação do sujeito im ossibi- horizontes de expectativa do futuro" (2006:238). ~
'o
l-
lidade-d~nçar a ~cessária imparcialidad:). Po;i'm, tal interdição V'!
:r:
orreu apesar da importância da "pretensão pedagógica" que o histori-
ismo reservou para a ciência histórica em relação ao presente (2008 :40). 11 Ver também Zammito (2004: 124-135).
89
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I '''I II1 '1< d I gi' d p,'o edimento crítico. A pr .pond rância da his i .rl, ('OIllO lU 'ri" KOIwlll·,·k.A . rr lação entre as duas questões foi tratada
I 11'1,1do pr S nt na historiografia antiga e medieval, quando os text s P()l' Kos Il k, n l d m nte quando ele chamou a atenção para o papel
" NI )ri . S ram redigidos quase sempre "a partir dos inícios" (2006: 174) d,IS fll s fias da história como fornecedoras de "categorias adequadas para
" ,11' s "t mpos modernos" (moderna tempora), "até o tempo do escritor" ultrapassar a limitada experiência diária rumo ao seu contexto universal",
00 :274-276) (usque ad tempus scriptoris), dever-se-ia à prevalência da vis-à-vis à nova experiência temporal (Koselleck, 2006:292), mas a centra-
d 'i. I sucessão, Assim, se havia uma continuidade, todas as histórias lidad do problema do subjetivismo tornar-se-ia evidente inclusive nas cri-
.~'I'i, m semelhantes entre si e, por isso, seria possível "aprender com elas ti as que seriam feitas à pretensão de superá-lo - como as já mencionadas
p,II'a futuro" (2006:238). Mas as conclusões que se podiam tirar do pas- de Read, Beard e Becker, além de muitas outras -, enquanto as questões
,Ido para o futuro não excederiam o horizonte de expectativa cristã do das filosofias da história' e da ampliação do horizonte de expectativa não
I' 111,.,Iro que só mudou no século XVIII. foram tão explicitadas nesse aspecto particular. As diversas avaliações sobre
POI'lt nto, Koselleck considera que as objeções contra a velha histó- o "distanciamento intelectual" proposto por Ranke - ora tido como inal-
I ,I do próprio tempo_:~ia~ ~~-~e7ultadoda~difi~çã~' que sua cançável, ora como indesejável - marcaram o debate posterior (Iggers,
11 " l)I"incipal de~a e "não tanto or ~ da situaçã~ políti~dos 1988:xiü). Mas inúmeros historiadores corroborariam o anseio objetivista,
1I Iurladores ou da censuril'" d~pressões políticas ou morais, vale di- como Fustel de Coulanges, para o qual nosso olhar sobre o presente sem-
I', d problema da subjetividade, da tendencio;dade, 'd~ p-;~;;ão, pre é tendencioso por causa de interesses pessoais, preconceitos e paixões:
ti" p. rtidarismo, isto é,_d risco de falta de im arcialidade. Entretanto, "Compreendemos melhor os acontecimentos e revoluções dos quais nada
(, (' i, claramente, o núcleo da motivação de Ranke ao definitivamente temos a temer nem nada a esperar" (Coulanges, 1913:664-665) .
•1/),111<1
nar a história recente. Conforme registra o próprio Koselleck, a A interpretação restritiva que Ranke faz da longa tradição de reflexões
I HIN't de distanciamento temporal em Ranke deveu-se à sua pretensão sobre a questão da perspectiva (que vinha, pelo menos, desde o Renas-
d(' ab trair-se do presente (2006:291, 183). Aliás, Ranke julgava que a cimento) interditou o entendimento de algum modo positivo que estava
qll .stão central não estava na proximidade ou distância de seus objetos: presente em Chladenius - quando, por exemplo, este último fez a co-
nhecida referência às diversas leituras possíveis de uma rebelião (por um
"a diferença da história contemporânea para a história remota [... ) é apenas revoltoso, um estrangeiro, um cortesão, um cidadão ou um camponês)
o
uma questão de grau". O remédio para ambas - além do caráter moral do (apud Haskell, 2004:345), ou em Goethe, quando ele mencionou que o
>
historiador - era construir seu ponto de vista acima da perspectiva indivi- novas perspectivas permitem leituras renovadas da história, que, assim, s
Vl
:r:
I) J, ap den Hollander, em trabalho que citarei mais adiante, também estabelece uma 13 Uma interpretação que também valoriza a perspectiva, sem deixar de problematizá-
" -lnçâo entre o recuo temporal e a superação de oposições fundamentais. -Ia, pode ser vista em Trevelyan (2010: 133 e segs.).
93
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I' di li slltl.I\'.\(II/"' 111"I IItI, 1I\l'/1 .ion '0111 analogia da dissociação
11'110,1<JlIl,mas .abc r gistrar que todo o debate recente sobre a história
do pussado (i\nk 'I'SlIdt, 001: 10). Assim, estabelecer-se-ia um conta-
do I 'Il1PO pr s nt se deu no contexto da chamada "crise da história"
to ,10 m zsrn t mp dir to e indireto com a realidade, combinação que
'I11I',Illlm I itura possível, seria a expressão, em nosso campo, da grand~
ln li '( ria o processo de autodistanciamento que permitiria a separação
"I'ls(' d ' paradigma mencionada, Diante de tal impasse, a impossibilidade
su] ito/ objeto.
d. UI1l, aproximação supostamente "objetiva" de seu tema, que vitimaria
O simples enunciado da proposta, parece-me, suscita uma grande va-
"/'IP(' 'j 1111nte o historiador do tempo presente, torna-se uma quimera,
riedade de perguntas -por exemplo, por que o problema estaria entre o
,,'t<Ju' stabelecimento da verdade seria impossível para qualquer sujei-
contexto histórico do historiador e seu material de pesquisa? -, mas não
I() di, nt de seja lá qual for o seu objeto.
é o caso de enunciá-Ias aqui, dado o caráter preliminar do texto inédito
1:111uma instigante reflexão sobre a questão do distanciamento his-
de Hollander. Entretanto, algumas questões gerais podem ser referidas.
Il"'j('o, ainda inédita, Jaap den Hollander defendeu a posição de que de-
É possível distinguir, em termos analíticos, a questão do acesso ao
V('llios ad tar, preferencialmente, a noção de "distinção" no lugar de dis-
real da suposição de que o passado mais recente nos afeta tão fortemente
I~I,,'I,I histórica para considerar as diferenças entre o contexto cultural
que seríamos incapazes de analisá-lo sem tendenciosidade, conforme a
do "l,~toriador e de seu material de pesquisa. 14 Ele se inspira na ideia de
leitura restritiva de Ranke. A resposta de Hollander, inspirada em An-
"" 1H'I'i'\nciahistórica sublime" de Ankersmit, ou, mais precisamente, na
kersmit, privilegia a questão do acesso. Entretanto, é conhecida a posição
I'"\','0 equivalente de "dissociação sublime do passado", isto é, a radica-
de Ankersmit segundo a qual os períodos específicos da história são atri-
1~I,,'l\()da noção de experiência histórica subjetiva, entendida como a
butos da nossa descrição do passado e não atributos do próprio passado.
11
1 '1'(''I ão de algum momento histórico. Desenvolvida em livro recente
, Ora, se as especificidades de uma época não estão no passado, mas nas
I1111'°1sta pressupõe ultrapassar a epistemologia, mover-se para além da
estruturas narrativas, de que modo poderíamos associar autodistancia-
I'(\nl, de, dissociar a experiência da verdade (Ankersmit, 2005). Supondo
mento a «experiência histórica sublime", considerando que esta última
.1hil tese de um encontro direto com o passado, por intermédio de uma
busca superar a «contaminação" das estruturas linguísticas?
I' 'r' I ção quase mística, Ankersmit articula a experiência histórica subli- Além do problema de ser possível ou não compreendermos bem uma
111' as experiências de tipo coletivo, as mudanças drásticas, a história em
época na qual estamos mergulhados, já que não teríamos condições de
"': nd~ ~scal,a. Seria uma contrapartida filosófica do trauma, e o enfoque
vê-Ia ou de experimentá-Ia transparentemente, ou seja, além da questão
pSI ' loglco e mobilizado por ele no sentido de que a experiência sublime o
do acesso ao real, há o problema da interferência desse real sobre nós, do o
11iria uma experiência de perda do "presente indiscriminado", que assim >
modo como ele nos afeta, e a grande preocupação dos historiadores da >
Iorna-se seu passado. \Il
história do tempo presente tem a ver com essa última questão mais co- o
Hollander diz que devemos criar uma distinção entre sujeito e ob- ~
UJ
mezinha, a da imparcialidade, já que para a maioria dos historiadores a I-
1"11' 111 I1 I'" "I''' li, I' 11.\V,I~,IIIh'S: ,'111 111 111'1111 111' li, ' 1"'" 1',11 1/1" "I' 11 I 'I li" I" I I
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