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História que temos vivido'
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111111.1\,.111dI' 110 ,IH rvali I d 'S, in lusivc para O passado, r c lidades que CARLOS FICO

11111lI/I 111 11 di'Ni'jO de vid, nã o desejo reativo de morte. Só a cria-


", il.I.II I 1II,I~'.I() P 'I, ar t , do conhecimento, da linguagem faz dos
11111li 1IIIIII.IIlOS, r,z ' m clue se inscrevam e escrevam o mundo e a si
I 11111 1I1,li'. '1:\lv'z I aponte uma maneira de fazer história distinta
"1"1,11 'I'Pl'i'sl'nl, da p la guerra, pela revolução, pelos embates políticos
I" LI d Npll(,\H l 'rritoriais que muito infelicitaram o século XX e foram
1j""I ,'1Vi' ,~ P ,I, morte de mais de 500 mil pessoas nas últimas décadas
I II (lll' 1i "li l'olana,1àlvez, como Nietzsche, esteja nos alertando para os
1 }lI! tI,I hiHl6ria para a vida.

A história do tempo presente não é uma especialidade voltada apenas


11 111 ,Jos' 'Iuardo, O vendedor de passados. Rio de Janeiro: Gryphus, 2004,
para assuntos peculiares ao século xx. A expressão assinala o início de
I I I\lNII, Carolina. Ficção pós-colonial retrata conflitos contemporâneos, São
um período histórico que se estenderá por muito tempo. Ela tem sido
(',11111: 'I \I 'ia e Cultura, ri. 59, abr-jun 2007.
usada como equivalente de outras, assemelhadas, que designaram a histó-
111111, Mil" Um rio chamado tempo, uma ~asa chamada terra, São Paulo: Companhia
ria narrada por historiadores desde a Antiguidade, mas que o cientificis-
tI.,~ I i'l ''')S, 003.
mo do século XIX condenou. A discussão de graves demandas teóricas,
1'1 NI 11, S,llldol'. Diário clínico. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
como a necessidade de distanciamento ou as limitações impostas pela
11, 1"li '. ;\n 101a,27 anos depois ... Golpe fraccionista, Disponível em <http:! I
perspectiva, não diz respeito somente à modalidade, mas afetam toda a
\ 'v W, III ronoticías.com/ full jieadlines. php?id=5480>. Acessado em 15
disciplina histórica.
11111. 010,
Antes de argumentar, gostaria de relatar dois episódios à guisa de evo-
I ,1" I, 1'01'//18 li hoje: o medo de existir, 6 ed, Lisboa: Relógio D' Água, 2005,
cação das intricadas relações entre erspectiva, ~stemu~o ':.i~terdição
~IIIIIIN, I{ IS~ I G.A literatura dos PALOP e aTeoria Pós-colonial. Disponível em
"I Ip: II www.casadasafricas,org.brlsite/irng/upload/665414,pcU>, Acessado
- questões que pretendo abordar e que tanto marcam nosso campo.

1111 11) our. 2010.


II MAIIII, [os . Ensaio sobre a ceBueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. • Agradeço a leitura e os comentários críticos de Ronald Polito, Estevão de Rezende
Martins, Andrea Daher, Felipe Charbel Teixeira,Jurandir Malerba, Douglas Attila Mar-
celino, Maria PaulaAraujo, Monica Grin e Diego Knack.
, .rta vez, entrevistando um general moderado que ocupou impor- senhora levantou-se e disse: "Eu fui barbaramente torturada!". Caímos
1,1111('
função durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), perguntei em profundo silêncio. Nada mais podia ser dito após aquela frase.
por qu ele havia apoiado, em 1968, a decretação do Ato Institucional Como se vê, o "falseamento" flagrado na entrevista com o eneral aca-
11" spécie de decretum terribile que tornou o regime, até então res- bou nos aproximando de uma possível verdade, ~a medida ~ ue ex ~i-
11\' (,I I r de alguns direitos básicos, definitivamente autoritário. A partir mentamos, eu e ele, um distanciamento histórico ue até então não haví-
dI, Alo, a tortura tornou-se prática sistemática após as prisões e durante ~~os vivenciado. Já o testemunho autêntico e irretor uivel ue encerrou
'I illl 'rrogatórios de todos quantos eram suspeitos de "subversão". Ele ~gundo e isódio apenas serviu para interditar o debate que se travava,
II\(' liss que, apesar de ser contra a violência e defensor-da democracia, comprometendo, com' sua sacralidade, .a busca de objetividade. A inter-
'Ipoiou decreto desde que se convencera, naquele ano, do poderio dos pretação do historiador confrontada pe~stemunho dos coetâneos; a
"olllunistas, cuja força lhe parecia evidente em função das passeatas e ma- dif~rença entre perspectiv-;-ltistfuica e recuo tem ~; ~;;;;'e--;:
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çõ de protesto que lideravam, sem falar nas ações armadas que pragmática metodológica da história e a memória de "eventos traumá-
p' (1)) viam, como assaltos a bancos e sequestros de diplomatas: "Eles até ticos" - são todos complexos problemas teóricos que têm animad; o
\'\ltI .straram o embaixador dos Estados Unidos!", exaltou-se. Eu o olhei dcl;';te sobre a história do tem o resente , em sua versão do século XX ,
po,' um instante e o corrigi compreensivo: "Mas, general, o senhor sabe embora, evidentemente, não digam respeito exclusivamente a ela.
'1\1/.'()' s qucstro foi depois doAI-5". Ele não estava mentindo. Durante o Refiro-me à versão do século XX porque, como é sabido, a história
IIlom .ntân O silêncio que se instaurou, o militar me olhou surpreendido do tempo vivido foi amplamente praticada durante a Antiguidade, a Ida-
l'l)"si 1 'fi smo, balançou a cabeça como se afastasse o lapso e logo tive- de Média e a Idade Moderna, chegando mesmo ao século XIX, como se
"IOs • P r' pção de que as coisas estavam mais claras. A partir de então, verá mais adiante. A interdição que então sofreu perduraria apenas por
.1 l'l\\r 'vista pro 'eguiu de maneira muito eficaz. décadas, já que, desde a I Guerra Mundial, ela ressurgiria, enfrentando
( H' zund episódio deu-se durante uma palestra por ocasião das cele- percalços, até afirmar-se plenamente no terço final do século XX.
I" ,1\'0 'S I s 40 anos de maio de 1968. Eu tentava desrnistificar - diante A I Guerra Mundial havia sido importante para despertar o interesse
d" pl: \ i, num rosa - a visão romantizada da luta armada durante a I elos eventos responsáveis por sua eclosão, especialmente no contexto
111\',IIl.I ditadura militar: os que atuaram na guerrilha no final dos anos d s relações internacionais. Em 1920, um pequeno grupo que participou
I I( I() (' i" ('i d s anos 1970 têm sido vistos como jovens "tresloucado", d, Conferência de Paz em Paris, no ano anterior, criou o Royal Institu-
I" ,ids 1'()'\1~nti . S a s quais não restava outro caminho senão o da luta Iv f International Affairs em Londres (Woodward, 1966:3), mas, já em
""1,\11.1, [ustarn nt I 'rqu aditadurahaviaendur cido com oAJ-5: E 'a I 15, Justus Has~g~n, editor de uma revista de histó!ia e respeitado ~r
I, I li' ,I, "11\1"'l, nto, limina conteúdo OD nsivo daquela" pção p las 1'- ,~('lIS studos historiográficos, reclamava em seu livro sobre a pesquisa da
111,1'. qUI' '1,10 f' i, I n suma reaçã à r P" ssã do r gim u uma r sis hlstória contemporânea que a Alemanha não contava com bons trabalhos o
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i 111'.1d('II\()('rrtti' um. v z qu O d bat s br a lute rrnada c nirnt v. a nhrc p rÍodo recente, ao contrário da França e da Inglaterra. Ele sus- s
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, 'P'illdllll'Volu'ion ria ant i d 1 8.Aint rpr tação quc 'ususl'nlrlY,' 11'1\rnv: uma série de argumentos que se tornariam temas recorrentes no
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" '101'" il\'iWOld(lrIO, P r<lu p.r' 'i. d s nrar a m .mórlc daqll~'I('H IIIi ""h.H 's br a história do tempo presente. Hashagen dizia, e~mo, UJ
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i ntificamente, distinguindo-se das sce:
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1111 11I" "01,, ", .I. ,II!"IIII IIll1do, Ii .uhudc militante , a ar-
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"li I' .I" LI Libé ration d Ia Fran. ' qu d 'pois se translorm.u-l., '''"'''\II.I~',t(I' '111I,dllll 1111'IIlI'lodológit,(\ dos f' II1d d rc dos Annales.'
n 'ltIil(' d'lll.~t ir de Ia Seconde Guerre Mondiale (Rémond, 199 : 8), 1'('Ol\lIdoOSVl'IIItI 1'(I"tll,II'sd' uci nF bvrecontraahistóriaévénemen-
Um instituto holandês para estudar os episódios recentes foi criado ainda m t icllc, R nó Rêmoud, qll' presidiu a comissão científica do instituto até
1945, em Amsterdã. O italiano veio em 1949, com o estabelecimento, I9 ,disse que "a reintegração do tempo presente faz varrer da visão da
m Milão, do Istituto Nazionale per Ia Storia deI Movimento di Liberazio- história os últimos vestígios do positivismo" (1993:12). Henry Rousso,
ne, incorporado ao Estado em 1967. O Institut für Zeitgeschichte, de Mu- III também dirigiu a instit,:üção, assinalou "a tendência ainda bastante
nique, também é de 1949. O propósito fundamental desses institutos era a viva [... ] de persistir no desejo de justificar a própria possibilidade de
onservação de documentos e ~scrita da história da atividade clandestina uma história do tempo presente" (Rousso, 2007:278). Michelle Perrot
ela resistê~a, mas, em termos gerais, sua produção não surpreendeu: ~ mencionou a "atitude prudente e silenciosa" dos professores da Sorbonne,
vinculação com o Estado levou a uma história de caráter oficial, em alguns nos anos 1950, que dificultava a abordagem da história do tempo presen-
asos necessariamente censurada pelo governo e que não abordava temas te (Perrot, 1993:254). Mas a luta pelo reconhecimento da especialidade

-
tabu como o genocídio, a perseguição dos judeus na França ou a atuação do
rei Leopoldo III da Bé.lgica no episódio de sua rendição aos alemães. Mar-
~
esteve longe de ser apenas francesa. 3
Na Itália a caminhada também foi

----- ----- - ~.. -" ~--, ._._- lenta (Galimi, 2003). A Alemanha - que viveu, centralmente, a interdi-
ada pela história política tradicional, a produção dessa fase deu visibilidade ção da modalidade no século XIX - assistiu a uma gradual aceitação da
a história recente, mas foi significativamente distinta da que viria a ser pro- história dos períodos recentes: em 1959, a direção do Institut für Zeit-
duzida no final do século XX. Assim, embora seja inegável a centralidade da geschichte admitiu a introdução dos estudos do pós-guerra em seus pro-
([ Guerra Mundial como "acontecimento inaugural", também é perceptível gramas (Klessmann e Sabrow, 1997: 221).
que ~t;s te~ enfoques da hist~o temp;;- pre;-nte ~ se tornaram. Fritz Ernst, em um artigo de 1957 que continua atual, assinalou a
marcantes - como a deportação de judeus ou a problemática da memória importância da I Guerra Mundial para a derrubada de anti _as restri ões:
- só se consolidariam a partir dos anos 1980 (Rousso, 2000: 32). praticada esporadicamente desde o final do século XIX, a história do
A c~ção do Institut d~Histoire du Ternps ~~t, na Fra~ç~~m tempo presente se impunha aos alemães devido à necessidade de enten-
197~, teve a capacidade de estabelecer, pelo debate que se seguiu, uma dimento daque êCõrÍ~Po~s;,~ie, os impedimentos foram v-;;-
s 'rie de argumentos que tinham o propósito explícito de configurar um ddos (Ernst, 1957: 179), mas a importância da 11Guerra Mundial seria
novo campo disciplinar - distinto da modalidade existente até o século maior e a luta pela retomada da modalidade no final do século XX tem,
XIX, mas também novo em relação à história do tempo presente pratica- sobretudo na Fran a e na Alemanha uma orte conota ão de acerto de
da desde o fim da guerra. I A nova versão francesa tomou como modelo, contas com o assado traumático. Assim, em termos gerais, podem ser o
o
m termos de nome, a congênere alemã - Zeitpeschichte - na medida em >
assinaladas duas grandes fases dessa retomada: a que decorre do im acto s
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que o instituto francês, apesar de ter sido criado como herdeiro do antigo das guerras mundi~s e a que se inicia no final dos anos 1970,_~ contex- o
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omité d'Histoire de Ia Seconde Guerre Mondiale (1950), dele queria I-
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diferençar-se, não obstante também pretendesse ocupar-se da história ::J
2 A disposição combativa deu a impressão de que a história do tempo presente surgiu na O
posterior à 11Guerra Mundial.
França, o que certamente não é o caso. Ver, por exemplo, Aróstegui (1998: 16).
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c.::
3 Segundo Gérard Noiriel, a história contemporânea teria ficado restrita ao ensino desde
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a criação de cadeiras de história contemporânea na Sorbonne, a partir de 1884, com o I
I I ara um entendimento próximo a esse, ver Lagrou (2003:3). Na visão de Lagrou, a que ficaram desqualificados os historiadores não universitários que faziam oposição à
distinção verifica-se em relação ao século XIX. Terceira República abordando o período recente. Ver Noiriel (1998). 71
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1I,\rr,\li V.Id, NII.I''!Instituição.
11111,1 d ulo rn m 'IH (do prl's .nt ) possui características tais que o situam,
A (rgum nt çao essencialmente metodológica a que m r ,firo tal lnduhitavelment , no rol daquilo que o senso comum chama de "fatos
v,'~ t nha sido a outra face da mesma estratégia de luta e justifica ,;- d, históricos": uma antecipação do trabalho do historiador.
IdslÓria do tempo presente: evitando confrontar os problemas teórico' O_debate sobre o nome e/ ou a periodização da especialidade tomou
1I1.\isespinhosos como o da perspectiva histórica, do distanciamento do bs stante tempo. Se quisermos ironizar, podemos dizer que a dificulda-
nhj to ou da neutralidade científica, boa parte dos debat~s concentrou- d para encontrar um nome tão inadequado quanto aqueles com que
N ' na afirmação de que a especialidade era rigorosa, distinta de "gêneros batizamos os períodos anteriores - tais como "Idade Média" ou "Ida-
1111'
.riores" como o jornalismo, e em polêmicas quase nominalistas sobre de Moderna" - deveu-se à circunstância de que, dessa vez, o fizemos
110m nclatura e periodização. conscientemente. Koselleck, em seus levantamentos conceituais, atribui
Arthur Schlesinger, Jr. - que além de historiador também foi assessor a Johann Büsch a proposta, feita em 1775, de organização da história "se-
,10 presidente norte-americano cujo assassinato se tornaria um Ícone do gundo o tempo" - em Antiga, Média e Moderna -, esta última abran-
('culo XX -, escrevendo logo após a morte de Kennedy, disse que a histó- gendo a história contemporânea, correspondente ao período da última
I 1.1r cente esteve nas mãos de um "bando desordenado de memorialistas e geração (Koselleck, 2006:280). No início do século XIX, o historiador
lornalistas" (Schlesinger, 1967). ° historiador alemão Gerhard Ritter, anos alemão Arnold
rânea" só deveria vigorar
Heeren diria que a designação
a longo prazo e a descartou
de "história contempo-
(apud Koselleck,
.1111.s, lamentava o fato de que o historiador jamais conseguia superar a
wlo idade e o poder de convencimento dos jornalistas (Ritter, 1961 :269). 2006:281). Seria uma "questão para os historiadores do século XX, não
I,ss, ompetição com o .ornalismo tem relação com a coincidência de te- para os do primeiro quartel do século XIX", disse Heeren (apud Kosel-
1I1.ls,mas também diz respeito a certa visão negativa em relação aos meios leck, 2006:281). Mas a restrição de Heeren não prosperou: o próprio
dI' 'ornunicaçâo de massa, sobretudo depois das reflexões de integrantes Leopold von Ranke usou a expressão "história dos tempos mais recentes"
d,I Escola de Frankfurt, como Adorno e Horkheimer (1985). As interpre- ou "história contemporânea" e também "história do nosso tempo", para
I.",õ s difundidas pelos meios de comunicação estariam, de algum modo, designar a época na qual ele vivia. Na Alemanha, fixou-se o termo Zeit-

"ollsl urcadas e, para algumas leituras mais pessimistas, não existiria um geschichte, literalmente ''história do tempo", como abreviação de ''história
• vspaço puro, exterior à cultura da mercadoria" (Huyssen, 2000: 19). do próprio tempo"- historia temporis sui - incorporado à tradição fran-
cesa, conforme visto há pouco, como história do tempo presente no final o
Em resumo, como afirmou Kosellec~ em seu estudo sobre os concei-
°
o
dos anos 1970. já mencionado Fritz Ernst, enriquecendo os debates
s
;;
los de movimento na modernidade, de 1977, a tópica do "gênero infe-
Vl

1101-"firmou a leitura de ue a história do tem o resente, ar.ós a interdi- sobre a estranheza desses nomes, cogitou Gegenwarts8eschichte (história do o
~
ui
,',10 do século XI.?", d~slizou ara esse atamar desprestig~o (Koselleck, presente), mas adotou Geqeti wartschronisti]: (cronografia do presente), que f-
ui
:J
O() :293), passando a ser cultivada por jornalistas, "armadilha" contra a não frutificou (Ernst, 1957: 139), o
«
'I tI,,1 ra preciso estar atento - a ertava Henry Rousso. 4 O_direito de e~a- ~ a França, a expressão contemporaine desi~a a é oca osterior à c:<:
'o
f-
Revolução Francesa, ~quanto os fal~tes de língua inglesa reserv.:.!? a
°
Vl
I
expressão contemporary history p~a desig!!ar o erÍodo recente. histo-
I I 'ut r vista Sobre a história do tempo presente com o historiador Henry Rousso conce-
dld,\ • Arend e Macedo (2009:205). riador britânico Llewellyn Woodward julgava mais adequada a expressão 73
h/II"') "I "'li "1111(/"1/' (I, NI{lI'l.ldo nosso próprio tempo), mas não achou
11111 baseadas em características peculiares ao século XX - com~.~ráter
111 1 6:1). Na antiga República Democrática Ale-
1)1'11'111111'''1''1'1110
traumitico do Holoca~sto mi" a eXãCerbação do-fenômeno da memória'
'1111,,I (' plt', 11(11'q(' ,li ente a história contemporânea designava apenas
- são exem 10 do enfo ue realista.
o p ·,.{odo PONII"'jOl',I I 45, mas os marxistas não viam com seriedade o
Para o historiador francês Henry Rousso, fenômenos como a queda
~llId) hi.~«'wi('()d 'SS 'poca (Klessmann e Sabrow, 1997:221).
(.•
do Muro de Berlim, a íncriminação de antigos chefes da polícia política
N,. 'I landa, a d signação do período moderno através da expressão
=:
pVI'!
Geschiedenis
10 1789/1940
levou ao uso do superlativo nieuwste para designar o
e à inovação de eigentiJsfse Geschiedenis (história do
alemã nos anos 1990, o julgamento
mes acontecidos
na França, 50 anos depois, de cri-
durante a II Guerra Mundial, bem como a derrubada
de ditaduras militares na América Latina seriam correlatos e integrariam
N('U próprio tempo) para o período posterior a 1945 (Lagrou 2003) N
" h ' . a um momento que é possível comparar (Rousso, 2000:39). Estudioso de
lHp.n a, a expressão tietnpo presente por vezes confundiu-se com a abor-
literatura, Andreas Huyssen também considera haver um vínculo que
d,) rem scolar da história do "mundo atual", que Julio Aróstegui advertia
identifica os processos históricos posteriores aos eventos traumáticos de
.~I·,.
nssunn, distinto (Aróstegui, 1998: 15). Na Itália, a noção de tempo
países que viveram totalitarismos, ditaduras militares, o apartheid e exter-
pr 's nt não é usada comumente, prevalecendo a expressão história con-
mínios no final do século XX. Segundo sua interpretação, a revisão dos
Ivmp rânea para o período posterior ao século XIX (Galimi, 2003).
respectivos passados nacionais, regionais ou locais deveria ser pensada
1\ rn 's Chaveau e Philippe Tétart, escrevendo no fmal do século XX
em conjunto. Ele vê no Holocausto um "Índice" ou uma "chave" do século
/:I'I'/"I"i rn designar os últimos 30 anos como ''história próxima" e os úl~
XX e do fracasso do Iluminismo: o evento teria se transformado em uma
"")OS 50 ou 60 como história do tempo presente. Haveria, ainda, uma
metáfora de outras histórias traumáticas, como as políticas genocidas em
"ldNtóri< imediata", que seria apenas "testemunho", complemento da mo-
Ruanda, Bósnia e Kosovo.' A marca do ter o final do século XX seria a
",11 d,'d I rincipal, mas que não resultaria de verdadeira pesquisa histórí-
de uma rande instabilidade e angústia di~te de m~dan~as~iado
1'.1 hav au e Tétart, 1999:27-28). Muitas outras propostas foram feitas.
a~as. Essa nova temporalidade gera~ia um "~nso pânic<::público
H,'( "'lIl m nte, como consequência da abundância de estudos sobre a
~uecimento" que explicaria a conv:~ão da ~emória ~_~~~~b-
'1II'II'!>,'i" sugeriu-se definir como objeto da modalidade as memórias de
se~são cultural de prop-;;-;ções mon;--m~ntais no mundo inteiro" (Huyssen,
1'110 II,el1 s uma das três gerações que compartilham um mesmo presen-
11'1, Ió,.ic (M d . 2009 106 200: 15, 18-19, 22-23). A professora argentina de literatura Beatriz Sarlo
. u rovClc, : ). Essa estranha sucessão de propostas
também compartilha a ideia de que os debates sobre o Holocausto e a
d, 1111 "1.~I'~L
a centralidade do problema da designação de um novo perío-
dll I, . t61"1' - ao qual eu voltarei. transição democrática no sul da América Latina se entrelaçaram em mea-
dos dos anos 1980 (2007:46).
( ) ('o",)t J' aleatório de algumas dessas soluções não deve ocultar a im-
Seria possível discutir o que há de acertado ou exagerado nessas pers-
I"" 1,llId,\ d debate sobre periodização, por vezes menosprezado pelos
o
p ctivas - e a mim parece que há algo de significativo nessa, digamos, o
II 10011Ido/'.s. Uma distinção básica diz respeito ao caráter convenciona- s
"retórica da iminência" e no vocabulário psicanalítico que tomou conta >
I 101011 "VI lista das propostas de periodização, isto é, trata-se de apenas Vl
d muitos textos, sobretudo quando se pensa na crítica da cultura e da O
,1/1,"',11' {/UI.' um dado período histórico passará a ser reconhecido por ::E
UJ
lit ratura, em sp cial, mas também em certa reflexão que transita entre I--
I 11'1111H/li 'I n m ,ou pod rn distinguir um conjunt ('SI .;n. de UJ
::J
O fll ' fi m a suposição de Paul Ricceur de que, em o
'·II.II'II,rl.~II(',),~P uliar s irnan nt . à Sp a que nos inl(',,(, ,~oI?I\.~p" _
s
/1111., 1/1/('(. t.lhl'k'('~'m/l1L/"OkrllndccjOn,is((,()IlI(),'II(;IIII"IiMlllldlll ""I--
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11111/" \d,\I"1 I \111 (I fwrlodo /11'10 ',(111\("'0 di' :1.,.11\'111 ~ 'I'" d, \1 ,ti 111111 ' AI('"l.,nhn,VI'" 1,,( "'1'111 ( 1'111"(,IIH) 1',1111" NtlpIlNI~'.o
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1'/11 111110 , tlllll 11111111111
11111111111
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I .//111111 11(I ti '11",1, 'OIO/tO), 111,1{ IIlIPllssIl'I'M
""" 11111111 di' I )11111/,1
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11/1 ,,1.\111.1.\1'10
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,'111IO,~,II'IIIII',I I', /111111111./ I 11111101\01111'"
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11,III,di'/',II/OI' 'Ill ' (lIdll ti 1/111'J" /1 I1IIOVO,j. que < S~'ll~,I\"I" dc'
() IIIljlOI'(.IIII(',1'"' ("ll, {.,Issint I, r qu a vinculação da história do tempo
/CI\III,~J)d,)logo passará (ou já P<SSOll), Ali/is, a historiador r st S '1111'1'1'
,I

1.I"tf,) m 'no loquente de buscar comprovações empíricas, d fi do que


p'" I'II( ',\ 'ss, s rr bl .mátícas delimitaria um objeto de estudo relativa-
111(,,,11'
pn' .iso ,portanto, seria possível falar de uma especialidade ou ramo
111 ' di~tancjo das osições ue atribuem a eventos como a TIGuerra Mun
d.1 hist ria, omo a "história do Renascimento", por exemplo, no sentido
dLl1 Holocausto u_m caráte!. matricial e generalizadamente traumátí-
dI' (ILI' ssa expressão designa um campo de estudos com seus especialistas
,'o - confo~stabelecido pelo debate osterior aos anos 1 80 _'_,
'<lu se es específicas. Trata-se de interpretação de algum modo discutível
porque .2,lão é simples encontrar evidências significativas das am Ias co-
d vo reconhecer - porque o estabelecimento de uma períodízação e
J)l'~Õ~S c.ausais ;ue, por vezes, :al debate sugere existir," A abordag~m
a d limitação de um objeto (ou, pelo menos, de uma problemática) quase
mrus mstlgante e a e Dominick LaCapra: apesar de sugerir cuidado com
s mpre integram um mesmo processo analítico, tal como se dá quando
1\ suposição de que toda história seria trauma, de que todos comparti-
falamos em "história do barroco alemão" ou em ''história da escravidão mo-
11t.ld,mos uma esfera pública patológica ou uma "cultura do trauma"
derna", que igualmente designam um período histórico e uma questão bem
(c'NI (' .ialmente quando as noções de ausência e perda são confundidas)
delimitada. Certamente os dois processos não estão inteiramente equili-
( / C) 9:712), LaCapra - não obstante preocupe-se com a possibilidade
brados quando nos referimos, por exemplo, à ''história da alta Idade Média"
dI' (I trauma tornar-se uma "obsessão" (200 1:X) _ considera que todos
- muito mais um recorte temporal do que uma temática - ou à "história
'I !ju "invocam o conceito de experiência" devem analisar "o problema
do feminismo" - muito mais uma temática do que um recorte temporal.
,/,) trauma e sua relação com a historiografia e a representação em geral"
Esta ressalva, embora assinale uma distinção pertinente, tem, não obstante,
() 4:55). Além disso, há um efeito estupefaciente nos textos recentes
importância reduzida, desde que se trata menos de negar a possibilidade de
di' LaCa ra quando comparamos suas ressalvas quanto ao risco de os es-
correlacionar episódios do século XX e mais de identificar a constituição
I(I 10.' do traUI~a t~arem-se "objeto de uma fixação que identifique his-
de um novo período histórico, tal como estou sugerindo.
I )ria com trauma e tenda a ver indiscrimi;;;dameiiteõ trati'm-a e~das
A suposição de gue vivemos uma aceleração do ~m o resente não
,Is partes" (2004: 112) e o fato de que todos o-;-se~s trabalhos têm esse
terna como mote principal. é nova, como registrou Koselleck em seu estudo sobre os escritos de
~z von Stein, pesquisador do século XIX: "É c~o se a historio ~a
e.,:u tivesse de caracterizar uma esp~ade do terço final do sécu-
não fosse mais ca az de acom anhar a história", disse Stein em 1843. No
lo XX, ~ão apostaria na identificação de uma e;Periê~cia coletiva;ente
fi~ do século XVIII e início do século XIX, era generalizada a convicção o
Cl
(' mp~~ti~ada de trau~~,~~tiãõü pâIiiC~, mas na reconfiguração ?a s
de que se vivia um momento crítico, de transição, de aceleração, mas essa s
l' pertencia tem oral, sobretudo ditada ela informática _ que, entre- V>
impressão levava a uma cautela, a um impedimento em relação à história o
Ianto, a onta ara a atividade lúdica e não para o sofrimento passivo. Isso :E
UJ
daquele tempo: a Revolução Francesa, "na esteira da experiência da ace- I-
Il~ significa minimizar o fato de que "a extensão e intensidade das ex- UJ

leração, fez com ue se tornasse cada vez mais difícil escrever a história ::>
O
do tem ;;- ue estava sendo vivido". Kose lec cita vários autores que s
" R ;Firo-.~e à sup~sição de que inúmeros eventos ao longo do século XX (como os re- C<:
'0
I' im s militares latmo-americanos ou os massacres de Ruanda, Bósnia e Kosovo) podem exemplificam isso (2006:82, 181-182, 292). l-
V>

,~." ompreendidos segundo esta matriz e este trauma. Isso não significa, evidentemen_ I

I " negar a importância da guerra e a tragédia do Holocausto.


7Ver também Wieviorka (1998). 77
, I 11111,'I'!' 11"tI u ,1I11O Ilolo('.lUslo, ('()IIIII 1i 1'1111
li Idl, • .111111I,d
1111, qlll 1 .111 1,,"1 '.11.I
I 1.1111111 ,H,I""" tI"l' 1'11.,pONslvtll'vlt.\r
do. ('I',do, . ,111111'1"1' I'" rdam a u rra Fria, 'UIIIO,' 1'1'1 . I( IId.1 d,IH "ti ('li 111 I 111 11111 "dl'SII!- quv 1I'"I>"lh.sscrnos
I 11,"" li '1.1.1 .orn uma
dlt,t<lur,s rnilit.1n,~ l.uino-amerícanas até os anos 1980, apontam J ar
11(''1111
IId,i 1'1-1.111\.11111 -ta de 'v ntos (Woodward,
lIiI' 1'(1111)1 1966:2,5).
p.1SS, do recente da 11Guerra Mundial e dão essa sensação de homogen i-
U.~N,\S clis .usso 'S ILIII I -nciam problema do caráter preditivo do enun-
dad que nos induz a delimitar o século XX como uma fase que apresenta +ad ientífico, u seja, o estabelecimento das causas necessárias à
uni lade - um tempo cujos episódios compartilhariam características , rrência de um dado fenômeno (no passado, no presente ou no fu-
vm omum. Porém, se a experiência da aceleração do tempo pode dar a turo), mas, em alguns momentos, a questão é abordada de maneira
N~'nsaçãode singularidade a uma é oca, também ode levar à sua rápida
simplista, tratando-se o problema de causalidade, que ela evoca, como
NU!, ração. P~a Pieter Lagrou, aquilo que temos chamado, desde os anos um simples caso de antecipação ou adivinhação do futuro (Hobsbawm,
I 70, de história do tempo presente, banalizou-sr "~ que nos habituamos 1998: 249). Infelizmente, não é possível descartar essas discussões limi-
,I .harnar de 'tempo resente' é passado", isto é, nós nos distanciamos do
tando nossas análises a objetos situados em uma sequência fechada de
pvríodo 1930-1980, o pós-guerra afastou-se rapidamente do nosso co- acontecimentos, como queria Woodward. A ideia de processo histórico
ikllano e tornou-se parte integrante do passado (Lagrou, 2007:36-37). torna bastante imprecisa a suposição de uma "sequência completa" ou
I:Hsaé a principal razão da estranheza causada pela expressão história do
de uma "série fechada". Aliás, os chama dos "Clatos traumáticos
,. "d o secu-
r

tempo presente quando associada às peculiaridades do século XX: "nos


10 XX têm sido vistos, justamente, como "intermináveis", em função de
scntímos cada vez menos contemporâneos deste século" (Lagrou, 2003).
sua constante reelaboração através da memória.
Além disso, se analisarmos fatos que parecem nos distanciar do "ve- Seja como for, parece razoável convencionar que o período histórico
lho" século XX - como os ataques do 11 de Setembro, a eleição de inaugurado no início do século XX não se encerrou. Além de podermos
um presidente negro nos Estados Unidos ou a pujança econômica da identificar processos históricos que, claramente, estão em pleno desen-
'hina - ainda assim saberemos estar tratando da mesma época, não volvimento (como as mudanças no cenário internacional derivadas da 11
,iP nas pelo fato óbvio de que vivemos este tempo presente, mas tam-
Guerra Mundial, que passaram para um novo patamar com o fim da URSS,
!>('In porque esses fatos integram "s.,tries não concluídas de eventos":
ou o impressionante desenvolvimento da informática na segunda metade
11:\ abemos o que acontecerá 1966:2). A ideia de
depois (Woodward,
do século XX, que certamente está longe de ter atingido seu auge), esse
qu o tempo vivido "não está fechado" (Lagrou, 2007: 36) é um tó os entendimento nos pouparia da necessidade de discutir uma nova termi-
do debate sobre a história do tem o resente. Fritz Ernst, no artigo nologia (Lagrou, 2003). Poderíamos então afirmar que a nova era q'le se
[: .itado, falava em "distanciamento objetivo" para lembrar que "ape-
iniciou no século XX não se restringe a ele, não diz respeito apenas aos
)ILIS o que está encerrado pode ser reconhecido historicamente" (Ernst, acontecimentos derivados da II Guerra Mundial, relativos à Guerra Fria
I ~ 7: 187). Para Fustel de Coulanges, há mais nitidez nesses aconteci- ou às experiências d~ aceleração do tempo ou de exacerbação da memó-
o
o
11)'I1tOS encerrados (Coulanges, 1913:665). Jacques Le Goffmencio- ria do terço final do milênio: o período que temos chamado (sabemos
>
>
uou a dificuldade para o historiador do tempo presente representada V1
o
que inadequadamente) de história do tempo presente apenas se iniciou ~
pcl ignorância do futuro (que as demais especialidades não enfren- no século XX, adentrou o século XXI e não podemos ainda dizer quando
UJ
I-
UJ
1.1111) (Le Goff, 1999: 100). Woodward entendia que uma das razões ::J
terminará. o'
do abandono da modalidade foi justamente a impossibilidade de saber «
Trata-se, ortanto, do estabelecimento de uma periodização, não da c:<:
"0 gue aconteceu depois". Seria preciso um distanciamento de pelo me- 'o
I-
delimitação de um objeto, e daí a importância do debate sobre o nome, !!:!
I
1I0Sduas ou três gerações. Ele enfatizava que Tucídides recolheu mate- que por vezes pareceu prosaico. Ao contrário, a alteração do significado
1'1,I nquanto a Guerra do Peloponeso acontecia, mas não a teria escrito 79
de um conceito, quando se vive a impressão de celeridade do tempo,
,10111., ti 111 d, I,,, Ld," A longo do S' 'LiI XX, sobr 'tudo di • 11 Iv,,,'
()()7: '/H I' /1111.1" 111 111 I di' I'olllt·s .ornplctas e documentos confiáveis"
1)".\1, <11'11" 1111 I, .1 existência de um novo período histórico, (lll • durará
(Ri UX, /1.)1 .):~ ) qWllllo (lU' os recursos documentais são "inesgotáveis"
talvez alguns séculos, usando, infelizmente, uma expressão que designa
( hartier, J 9 :249) ou "superabundantes" (Le Goff, 1999:99), a ponto
também a história que era praticada pelos antigos quando escreviam so-
d sufocar a história do tempo presente (Woodward, 1966:10). Mark
bre o tempo vivido. Mas o novo período histórico a que assistimos surgir
Phillips registrou o aspecto curioso de que supomos haver menos fontes
ultrapassará em muito nossas vidas curtas e nossos interesses fugazes. As
na medida em que os fatos se distanciam, tanto quanto achamos que possa
scolhas feitas, sobretudo no ambiente intelectual e linguístico francês,
haver mais fontes, no futuro, sobre o momento presente, que, entretan-
são indícios significativos de algumas definições: a inspiração explícita na
to, ainda não estão disponíveis. "O aumento da distância temporal pode
I 'rminologia alemã decorreu da intenção de bem assinalar a diferença em
significar perda de informação valiosa. Mas nós também apontamos q~e
r 'lação à "história contemporânea" do pós-guerra (Lagrou, 2003), mas a
a posteridade é frequentemente capaz de ter acesso a documentos nao
('xpressão "história do tempo presente" também marcou os estudos his-
geralmente disponíveis a contemporâneos." (Phillíps, 200~: 1~~). ,.
tóricos sobre o novo período - feitos a partir do final dos anos 1970-
A antiga percepção de que seria difícil realizar uma histona política
d diversas maneiras. A problemática da memória e o enfrentamento de
sobre o período vivido, na medida em que as decisões realmente impor-
temas delicados concernentes à 11Guerra Mundial são os aspectos mais
tantes são ocultadas do público - problemática muito discutida quando
videntes, mas é perceptível que esse "tempo presente" também buscou
da divulgação, em 1918, de documentos anteriores à eclosão da I Guerra
designar uma nova fase da própria disciplina histórica, que passaria por
Mundial (Ernst, 1957:182) -, ressurge, de algum modo, com os deba-
muitas transformações desde o surgimento da "terceira geração" dos An-
tes sobre a liberação de documentos sigilosos das polícias políticas dos
nales, com a nouvelle bistoire, que assinalava a crise do marxismo, o aban-
regimes totalitários e, mais recentemente, das ditaduras militare~ latino-
dono da história estrutural, quantitativa, e apontava para o surgimento
-americanas." Em relação aos documentos outrora sigilosos das ditaduras
d correntes cuja estratégia cognitiva consistia em sublinhar a existência
militares latino-americanas e assemelhados, há o componente político
do indivíduo e de sua subjetividade, sua mentalidade, seu cotidiano etc.,
adicional da chamada justiça de transição. No caso brasileiro, por exem-
tendências que se expandiriam também desde outras tradições historio-
plo, um acervo documental peculiar tem sido constituído a partir d~ do-
gráficas, como a micro-história italiana e a história social inglesa. Assim,
cumentos reunidos pelas próprias vítimas da repressão que, em funçao de
sse "t empo presente "b
, em ora abrangesse o pós-guerra, rompia com a
uma lei recente, pleiteiam reparações financeiras junto ao governo. Desse
história oficializada e rotineira dos institutos desde então criados. Essas
modo, cada processo atual constitui uma espécie de "antidossiê", o re-
são apenas as primeiras marcas da história da historiografia do tempo pre-
verso dos velhos dossiês da espionagem ou da polícia política, que, aliás,
s nte, pois convém reiterar que, acima de tudo, trata-se do sur imento
também estão disponíveis. Não é pequena a dimensão ético-moral desses
de um novo período histórico,cuja historiografia está no começ~.
acervos. Em alguns países tem havido conflitos entre a legislação que ga- o
~ate sobre as fontes não a~ ;;;-uito a ~t;nção-dos que refletiram o
rante o acesso a esses papéis e a que assegura a inviolabilidade da intimi- s
sobre a especialidade, embora tenha sido um dos aspectos importantes s
V)
dade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas. Na Argentina, ~s o
quando da interdição sofrida no século XIX. Sobre o tema há grande ~
LU
testemunhos orais tiveram um papel exacerbado (Sarlo, 2007:61). Após I-
desinteligência: tanto já se disse que há "pouquíssimos arquivos" (Rousso, LU
O colapso da antiga Alemanha Oriental, a decisão de praticamente liberar ::::J
O'
«
1 . I . ~
M "/
m sm podo NI'I' dito, dl\ ldgum modo, em relação à Iibera?ão .de documentos sigi- 'o
. :'. o l~teresse especia pelo emprego de conceitos político-sociais e a anális d sur s l-
V)
MIgmflcaçoes ganham, portanto, uma importância de caráter social e hístóri o." (),~ ••I. IORoNd dil /01111\(·111 I dll //1'1 \l1~'" dll Inl('/lg n j{ das gran I s pot n la~, notadame~te .dos I
I(~ k (2006: 10 1)
I!NI.HIONIInldllN, 1\111 1'1111\'11" d" 111"'"11'1 dllN Opl"'~Ç'II;~ H retos qu t,IS pais S I au ma-
/'.11I1, NOJ,"I'I\II11l dlll,"!11 I I 11111 I 11,101 81
11111,1 , 11I1.IIIIIH\'I'V~lId,1dos PI,W;OSI'~',\d,11I1I111111,11111111111
I1 ,1111111111 1i '11111\11 I 111111
11111111.1\',111
IIgIIl.1I 1I1I,llIdo NIII'li' UtI'.1 ti -mnnda
111,111 do p(mto d . vist
11111.1IIlhl~"11I111111'111.11 ético. Por l'liM.1101/,111,
.1Ali )\ldl, .tI 11"1 III! I 111111 1111II /ilod,ldol' do l 'Inpo pr 'S .ntc .omo um spe-
~III .1~'lltIAklll,1 d(' l listoriador s aprovou, em 1994, uma rcs lu~',\() apa- <"i,1IMIII I' '1111.'di 1111'11'1'1'11'
11 'urso elo julgamento em questão. Tornou-se
bvi ,rcit-rando que as fontes têm valor informativo apenas I'tIIIOH•••II'I'I'tI ,I di' 1I 'Iu'y Rousso de comparecer diante do tribunal quando
Lido,
11111 Cju I preciso observar os contextos diferenciados, os vínculos . do PI'O 'csso .ontra Maurice Papon, acusado de colaboracionismo com

dll hlslQriad r etc. (Klessmann e Sabrow, 1997:224-226). o regime de Vichy. Embora se trate de um tipo de reconhecimento do
AM~ ntes orais têm sido francamente utilizadas e houve certa polêmi- mérito do especialista (Ernst, 1957: 141), haveria riscos evidentes para o
I'li 11'I. ndo da constituição do que terminou sendo designado por "história historiador que pretendesse se tornar um perito.
ul", modalidade
111 de grande sucesso. e bastante articulada à história do O importante a destacar é que ? relato do vivenciado tem uma pecu-
11"'1>0 presente em função dos estudos sobre memória e do potencial liaridade em relação a outras narrativas históricas: escrevemos para quem
di li,tSfontes como testemunho. 10Aqui, entretanto, eu gostaria de assina- viveu aqueles episódios e essa forma singular de "pressão pela verdade",
1111
outro aspecto. O a el reponderante do relato testemunhal para a exercidapelos coetâneos, tem marcado o estatuto discursivo de nossa es-

II Hlória do tempo vivido tem sido destacado desde o término da II Guer- pecialidade: "[ ... ] não há dúvida de que parte da cronografia do presente,
antiga e medieval, foi criada sob esse signo" (Ernst, 1957: 146). O mesmo
1.1Mundial. A discussão sobre o testemunho
--- -- ~--------
é essencial
ara essa história,
pode ser dito da atual história do tempo presente. Num momento de
lurlusive
-"'
o testemunho
\'lIllsiderar dois aspectos
. -
do róp-rio historiador, sobre o qual é possível
-
antagônicos: de um lado, a suposição de que esse grande sinceridade, o já mencionado Schlesinger, ao registrar a vigiÚncia
I1 I 'munho pode ser parcial, em função do envolvimento do historiador dos que podem nos contradizer, disse que "todo historiador do passa-
1'111
li os fatos que ele testemunha e busca narrar, o que levou à interdição, do sabe, no fundo do coração, quanto de artifício encontra-se em suas
1111
século XIX, da história do tempo vivido como não científica. Contra- reconstruções; quanto de sua evidência é parcial, incerta ou hipotética"
Iltltn nte a esse entendimento, fundadas convicções ancestrais garantem, (Schlesinger, 1967). Tanto os recursos retóricos que podemos mobilizar
dl\ ti a Antiguidade, que o testemunho do historiador será mais crível quanto as problemáticas ernpíricas que podemos evidenciar são limitados

IIlIIlnuo for ocular, ou seja, na medida em que trabalhemos com fatos que pela peculiaridade dessa audiência dos que viveram os fatos narrados.
V IIIOScom "nossos próprios olhos" em vez de conhecê-los por "ouvir fa- Como mencionei no início, o debate sobre a especificidade da história
1111''',
como registrou Isidoro de Sevilha. Essa ênfase no videre também es- do tempo presente relativo às questões metodológicas da periodização,
IIIV,Ipresente em São jerônimo e em outros autores da Idade Média. São da designação da modalidade e das fontes beneficia-se do não enfrenta-
Ih,d, explicou que sua história da Igreja da Inglaterra foi feita a partir de mento de questões teóricas que agora, por honestidade intelectual, devo
II li fontes: os documentos antigos, a tradição "dos maiores" e o seu pró- abordar - embora me faltem meios para resolvê-Ias. Pieter Lagrou re-
o
111'10conhecimento (mea n= cognitione scire potui) - o que mescla o ver gistrou, acertadamente, que "a originalidade de nosso domínio não é de o
ordem metodológica" (Lagrou, 2007: 34). Mas não seria incabível ques- s
II ti testemunhar (Karkov, 2001:177; Ernst, 1957:141). Mas essa antiga >
Vl

I'(lllvicção também está presente em autores contemporâneos, como Eric tionar se a modalidade tem alguma específicidade, inclusive no que se o
z
UJ
Ilobsbawm: um jovem historiador que não viveu determinados episódios refere ao seu estatuto epistemológico. Para Richard Rorty, não haveria r-
UJ

diferença entre o entendimento de fenômenos muito antigos ou exóticos ~


dI) scculo XX teria mais dificuldades em compreendê-los inteiramente do o'
«
que ele, Hobsbawm, que os presenciou (Hobsbawm, 1998:247). e daqueles que nos são próximos e compreensíveis: segundo ele, os his- <>::
'o
r-
toriadores dariam importância demasiada ao problema da distância (apud Vl
I
I
Haskell, 2004:346). Conforme Martin Broszat, que dirigiu o Institut für
HI1IIIraa preferência pelo uso da expressão "fontes orais" no lugar de "história oral", ver
1,1(,orf (1999:100) e Lagrou (2007:35). Zeitgeschichte, o problema da subjetividade relacionada ao tempo não 83
11111111111111111 111.1.1."1 IllI.I"IIIII1II'01'11 1111' I" 111 I Z 1111111
li, 111"I I 111,11111111111
101" 11'1'11 1.1 111.1dllll I1Ih,
11,111
.1111
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11111d"gl,III(.lplld kS:mhllll1 'Sabr w, 1997:20),"'11 IllIhNh,\wmcliz .10 . I' 'li IItc 1,,1 1111.1ti I \1111 "posidoll,llll -nto neutro" (Lagr u, 2003),
,11"'11.\<1.\1\\
-ntc lU' noss xpcriên ia pessoal é moldad P ·10 tempo em 1.1 '!'OU, S\..' 'lIl .1I1\('II(l, 11,\0 'sta sust ntando uma posição ingênua em
11'11'vivemos, mas isso interfere tanto quando escrevemos sobre o pr - li 'ks duma n uu-alídade impossível. O deslize linguístico se deve à

• c'lIl ' quanto sobre o passado (Hobsbawrn, 1998:245), Roger Chartier p , .uliaridade , há pouco mencionada, da intensa politização ue envol-
11,\0 indica por que, em sua opinião, "pela própria natureza de suas preo- v 'a es uisa da história do tem o resente, que, em relação aos anos
('Up ões" essa especialidade nos levaria "à exigência de conhecimento I 80 - tempos de afirmação da nova fase da modalidade -, hoje talvez
v .rdadeiro" (1993:252), steja, de fato, mais submetida aos rigores da pragmática metodológica
Parece seguro que, não obstante as opiniões em contrário, haja alguma da história. Para Jean-François Sirinelli, as "obras muito impregnadas de
I'SP cifícidade na história de temas recentes, Talvez a particularidade não presente" mal passariam a "rampa da posteridade" (1999: 91). Hobsb~
I' .sida propriamente na experiência direta com o objeto, como parece se refere, de maneira depreciativa, ao que ele chama de corifortin8 histoty
NUg rir o exemplo de Hobsbawrn sobre o jovem historiador menciona- para designar o sub-ramo dos trabalhos referidos a grupos específicos,
do, Aliás, segundo Collingwood, se pudéssemos visitar o passado numa muitas vezes escritos por historiadores que militam em favor de suas c'!,u-
III~qLlinado tempo, isso não resultaria em conhecimento histórico (apud sas (Hobsbawrn, 1997:452),
Ilh llips, 2004: 135), A particularidade estará, talvez, na circunstância de - Thomas Haskell tem uma avaliação equilibrada sobre esse assunto.
11'11',história do tempo presente mescla política e pesquisa acadêmica em Analisando os anais publicados, em 2001, de uma conferência sobre "So-
1IIIIa"rede estreitamente entrelaçada" (Klessmann e Sabrow, 1997:230). cial Values and the Responsibilities of the Historian", realizada em Ams-
que há de surpreendente no debate sobre a especialidade, por ve- terdã em 1997 (Leerssen e Rigney, 2000), ele considerou que muitos
Zl'S, é a pressuposição, por contraste, de uma prática historiográfica ideal historiadores não veem problemas em associar a defesa de posições po~
II I , ao contrário da história do tempo presente, estaria imune às suas lítícas e/ ou morais à prática de um "empenho cuidadoso para ser obje-
1'1·,gilidades. Quando Woodward dizia que "obtém-se precisão e certeza tivo" e menciona "a proveitosa tensão entre engajamento e objetividade
1l1( is facilmente em assuntos impessoais" (1966:8), ele pressupunha uma que Ginzburg identifica com a era moderna" (Haskell, 2004:357). Para
ob] tividade cuja viabilidade é muito difícil de afiançar, desde que con- Dominick LaCapra, a subjetividade, pela via da "empatia como um com-
skl remos as críticas que, ao longo do século XX, foram feitas ao mito ponente do entendimento histórico" (2010: 198), poderia talvez apontar
d neutralidade científica, bem como os ataques da teoria da literatura, os limites do objetivismo das intepretações contextualistas: ele questiona
11 terço final do século passado, às modalidades prefigurativas do dis- quais seriam os requisitos de uma história "paradoxalmente" objetiva que
o
curso histórico - apenas para mencionar duas grandes discussões que inclua a subjetividade, Para ele, a empatia em relação às vítimas de expe- Cl
s
fragilizaram bastante as intenções objetivistas da história, Pode-se dizer o riências traumáticas é admissivel, mas é preciso distingui-Ia da ideia de s
V'>

identificação, "confusão que conduz à idealização e até à sacralização da o


m smo da avaliação de Lagrou, quando se refere ao ::E
UJ
I-
vítima", Por meio das noções de transferência e de participação do obser- UJ
~
engajamento político de um Martin Broszat, de um Louis de Jong, de um vador, seria possível chegar à análise crítica da empatia e à consideração O'
«
François Bédarida, de um Albert de Jonghe ou de um Roberto Battaglia do "papel da emoção na compreensão histórica" (2004:64-65), ~
'o
l-
[que] escreviam em uma época em que a filiação política não era considerada O hoje bem conhecido J~n Chla~us - graças aos estudos fei- V'>
:r:
um assunto da esfera privada e o exercício da historiografia não era tido tos no final dos anos 1970 por Reinhart Koselleck sobre ponto de vista,
perspectiva e temporalidade - já dizia, na metade do século XVIII, que 85
como um exercício livre de engajamento político [Lagrou, 2003:25].
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Ii IId,1!to)\' I"I() li)i 1I1tI':\P' ss, do" (K tl 11 k, 2006: 1.70), Dt' lato, 'mui.to dI' C'OIIHdlH'11'()
plilll ('li d.l.qlld' lU ra s u amigo, em 1854. ,Confor~e
plowlloHO I' .tornar lisas obs rvações lúcidas de Chladenius, bem como I smbrou Kr i '~'r, Rank tanto defendeu a objetividade histórica ~êEto
1'I'!tI'I'.\r éju' .las foram scritas no remoto 1752, porque no início do HU< ciliorda em da história universal orientada pelo presente (1977:228).
H('('ul XX houve uma supervalorização do problema da subjetividade, Mas, de fato, foi Ranke-:;m estabeleceu categoricamente a impossibi-
1,\lv"/. I or
1l'IlH~
ausa da repercussão de críticas que então foram feitas às pre-
s d objetividade que Leopold von Ranke havia defendido no sécu-
--_._----
~toriador, especialmente
-
lidade de a história do tempo presente atingir o ideal de objetividade do
na crítica que fez à "História do meu próprio
10. nt rior. Assim, durante algum tempo, o debate pareceu estar dividido tempo", publicada pelo bispo Gilbert Burnet em 1724 (1977:270). O
cntr O objetivismo de Ranke e as posições relativistas valorizadoras da livro ganhou uma edição crítica em 1823 e Ranke o resenhou em sua
p erspectiva individual como inerente à produção do conhecimento his- história da Inglaterra, publicada entre 1859 e 1869. Ele sublinhou as dis-
tórico que, assim, era concebido como "uma projeção das ideias e dos torções factuais, ilusões e ignorância de "qualquer um que queira escrever
interesses do presente sobre os dados acumulados da experiência fixada na a história do seu próprio tempo", "a mais abrangente, mais pretenciosa e
m mória" (Read, 1950:275). Os primeiros ataques mais diretos a Ranke ainda mais perigosa tarefa a que pode ousar um autor preocupado com a
f' 'it s por Charles B:,ard miraram o problema da "imparcialidade" e acaba- verdade" (Ranke, 1875:46).
rarn por adotar a perspectiva relativista de que a história é um "ato de fé", Essa complexa relação de Ranke com a história do tempo presente
d pendendo da pessoa de seu criador e mudando com ela (1934:219-231 não é difícii de compreende~~os damos conta de que ele estava
t' 1935 :74-87). Carl Becker, na mesma época, também defendia posições vivendo um momento de transformação, do qual ele próprio seria um
I' Jativistas segundo as quili cada indivíduo criaria uma história diferente, marco, embora não o único. Ele manteve uma revista, a Historisch-Poli-
'orno fruto de sua imaginação, tendo em vista sua experiência pessoal tisclie Zeitschrift, de 1832 a 1836, precisamente sobre a história recente,
(I 32:221-236). Essas posições extremadas devem ser bem compreendi- mas, um ano antes de morrer, disse que "a melhor coisa que aparecia na
das nos respectivos contextos em que foram produzidas e talvez seja um revista era mesmo o histórico", renunciando, assim, às reflexões políticas
P uco arrogante dizer que, hoje, elas nos parecem simplistas. O impor- sobre os acontecimentos da época. Ele vinha reiterando constantemente
rante aqui é destacar que a su ervalorização da suposta o osição entre esse afastamento, como na ocasião em que falou em memória de Georg
I'igor acadêmico (ou objetividade, cientificidade, busca da verdade etc.) ~ Gervinus perante a comissão de história da academia bávara, em 1871,
Hubjetiv~ (ou engajamento, e,:tidarismo, ~denciosidade etc.) ~u ano da morte desse historiador que, em 1853, havia lançado uma intro-
o
a xig~!l.s.i~ co~a história ~Eo resen~~.9E!~ dução à história do século XIX que motivara um processo contra ele jus- o
>
d mais modalidades da história es~!v:.ssem imunes aos riscos em paut~ tamente por tratar do conturbado período recente: "Gervinus destruiu o s
li)

Graças a estudos meticulosos como os de Leonard Krieger (1977), presente", disse Ranke em outra ocasião (Ernst, 1957:160). o
~
UJ
hoje temos uma leitura mais precisa de Ranke, que, no início do século A polêmica vinha se constituindo desde muito tempo. Uma dessas f-
UJ
:::J
XX, foi algumas vezes reduzido a uma caricatura de si mesmo. Embo- frases que, posteriormente, seriam muito glosadas no contexto das dis- o
ra ele seja emblematicamente associado ao momento no qual, no século cussões sobre o tempo presente foi dita em m por Gotthold Lessing,
«
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'o
f-
XIX, a velha história do tempo presente, praticada desde a Antiguidade, escritor e crítico de arte: "só cabe chamar verdadeiramente de hist0r!a- li)

I
roi tida como inviável cientificamente, é conveniente lembrar da impor- dor aquele ~e descreve a hi~~óri~~po e de s~ aís", Ele seria
tância que o presente vivido por ele teve em sua concepção de história muito criticado doravante. Droysen viu nele "a expressão de um ceti- 87
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I li" (1111 1,1')',/ 1/1) M,\ \ "1111 li , I, I'" 111111I1,I I ,I, 111til I 111,di 'I I 11III 1,11111" 11 1111'4(1)11,1
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ItlllI"IHÜdoH pI,ltl 1I,IIIIIII.dIMlllO,
qlll' R, nk igualm nte vivenciou -
.11111111.1 também achava difícil trat I" ,I I'I'Ítssi.\, em I H70, 'X,1' .rb u os ânimos entre as intelectualidades de
,'0111imp. r 'i lidade os acontecimentos recentes, mas acalentava a id i< 11111
I' de utro lado do Reno. Entretanto, Gabriel Monod, quando lançou
d, qUi' hist6ria se aproximava mais da verdade quando narrada por al- .1 Revue Historioue, em 1876 - periódico que se tornaria o veículo por
11I('1llqu vivenciara pessoalmente os fatos (Ernst, 1957: 157). As po- , 'I'ncia, na França, da história metódica -, não deixou de reconhe-
~'m's d Humboldt sobre o tema também podem ser vistas como um c 'r a superioridade alemã (Monod, 1876:27). Embora ele aderisse intei-
,d:\sl;'im nto refletido, tal como sugere Fritz Ernst: em seu estudo sobre ram nte ao projeto metódico-cientificista, descartando os historiadores
«) li -cul XVIII, de 1797, Humboldt reconhece a validade da reflexão so- medievais que se preocupavam mais com o presente do que com o pas-
lH'l' o I r sente, mas assinala a interdição que aos poucos se consolidaria: sado' ("eles não são historiadores propriamente falando") e criticando a
"o últirn e derradeiro juízo fica sempre reservado para a posteridade" influência das "paixões contemporâneas", não era um ingênuo: recomen-
l lumh Idt, 1904:30). dava que afastássemos as opiniões particulares, mas reconhecia que elas
A posição de Ranke evoluiu com o tempo. Já depois de aposentado, no "influem sempre" (Monod, 1876:5, 30, 36). Mas ele não esteve imune
1I 10 que fez em 1878 sobre Frederico Guilherme IV (1795-1861), rei às paixões contemporâneas, envolvendo-se como perito no famoso caso
11,\1I1llssi. desde 1840, para a Allaemeine Deutscbe Bioqraphie, o octogenário Dreyfus: "Monod, que havia defendido a atitude de distanciamento tem-
dor disse que, no caso de Frederico lI, o Grande (que reinara en-
I1 101'1< poral do historiador em relação aos eventos, jogou-se por inteiro na his-
IIt 1740 e 1786), a história podia ser considerada "encerrada", mas, em tória de seu tempo, na história do tempo presente" (Malatian, 2010:331).
1I,II\~':i a Frederico Guilherme IV a situação era diferente porque os fatos A primorosa pesquisa de Reinhart Koselleck sustenta de maneira irre-
1'111I auta "intervêm diretamente no presente" e haveria uma carência de torquível sua tese quanto à constituição, entre 1750 e 1850, de uma nova
11I1()I'maçõesconfiáveis e confusão entre "simpatias e antipatias concor- ideia de história, em função da própria alteração da experiência tempo-
I r-nt s". Por isso, ele se restringira a pesquisar poucos aspectos graças a ral, especialmente a emergência de um "futuro capaz de ultrapassar o
li, lc .larações de documentos autênticos dos arquivos" (Ernst, 1957: 161). espaço do tempo e da experiência tradicional, natural, prognosticável"
.ntretanto, convém distinguir a desaprovação da história do tem o (Koselleck, 2006:36)." O "tempo histórico" (2006: 16) decorreria do
I r 'S nte como modalidade incompatível com "a institucionalização da processo de distinção entre passado e futuro, entre experiência e expec-
d ....
ncia histórica como disciplina acadêmica na segunda metade do sé- tativa. O abandono do velho horizonte de expectativa cristã relativo ao
o
culo XIX" (Martins, 2008:33) do fato de que, para o historicismo, "as fim do mundo, bem como o avanço das ciências e a descoberta do Novo Cl
s
11 ntenças sobre as forças intelectuais do agir humano passado exprimem, Mundo "repercutiram, de início lentamente, ajudando a criar a consciên- s
V'!
O
simultaneamente, o contexto de sentido da vida social contemporânea" cia de uma história universal, que como um todo estaria entrando em um z
lJ.J
I-
(Martins, 2008:40). Assim, a interdi ão o erou-se em função da su osta novo tempo" (2006:278). Expressão da própria era moderna, a noção de lJ.J
:;)
in apacídade meto do lógica intrínseca à modalidade (ausência de recuo história associada à ideia de progresso resultaria na "nova ampliação dos o'
«
t mpo~' fragilidade heurística) e da limItação do sujeito im ossibi- horizontes de expectativa do futuro" (2006:238). ~
'o
l-
lidade-d~nçar a ~cessária imparcialidad:). Po;i'm, tal interdição V'!
:r:
orreu apesar da importância da "pretensão pedagógica" que o histori-
ismo reservou para a ciência histórica em relação ao presente (2008 :40). 11 Ver também Zammito (2004: 124-135).
89
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I '''I II1 '1< d I gi' d p,'o edimento crítico. A pr .pond rância da his i .rl, ('OIllO lU 'ri" KOIwlll·,·k.A . rr lação entre as duas questões foi tratada
I 11'1,1do pr S nt na historiografia antiga e medieval, quando os text s P()l' Kos Il k, n l d m nte quando ele chamou a atenção para o papel
" NI )ri . S ram redigidos quase sempre "a partir dos inícios" (2006: 174) d,IS fll s fias da história como fornecedoras de "categorias adequadas para
" ,11' s "t mpos modernos" (moderna tempora), "até o tempo do escritor" ultrapassar a limitada experiência diária rumo ao seu contexto universal",
00 :274-276) (usque ad tempus scriptoris), dever-se-ia à prevalência da vis-à-vis à nova experiência temporal (Koselleck, 2006:292), mas a centra-
d 'i. I sucessão, Assim, se havia uma continuidade, todas as histórias lidad do problema do subjetivismo tornar-se-ia evidente inclusive nas cri-
.~'I'i, m semelhantes entre si e, por isso, seria possível "aprender com elas ti as que seriam feitas à pretensão de superá-lo - como as já mencionadas
p,II'a futuro" (2006:238). Mas as conclusões que se podiam tirar do pas- de Read, Beard e Becker, além de muitas outras -, enquanto as questões
,Ido para o futuro não excederiam o horizonte de expectativa cristã do das filosofias da história' e da ampliação do horizonte de expectativa não
I' 111,.,Iro que só mudou no século XVIII. foram tão explicitadas nesse aspecto particular. As diversas avaliações sobre
POI'lt nto, Koselleck considera que as objeções contra a velha histó- o "distanciamento intelectual" proposto por Ranke - ora tido como inal-
I ,I do próprio tempo_:~ia~ ~~-~e7ultadoda~difi~çã~' que sua cançável, ora como indesejável - marcaram o debate posterior (Iggers,
11 " l)I"incipal de~a e "não tanto or ~ da situaçã~ políti~dos 1988:xiü). Mas inúmeros historiadores corroborariam o anseio objetivista,
1I Iurladores ou da censuril'" d~pressões políticas ou morais, vale di- como Fustel de Coulanges, para o qual nosso olhar sobre o presente sem-
I', d problema da subjetividade, da tendencio;dade, 'd~ p-;~;;ão, pre é tendencioso por causa de interesses pessoais, preconceitos e paixões:
ti" p. rtidarismo, isto é,_d risco de falta de im arcialidade. Entretanto, "Compreendemos melhor os acontecimentos e revoluções dos quais nada
(, (' i, claramente, o núcleo da motivação de Ranke ao definitivamente temos a temer nem nada a esperar" (Coulanges, 1913:664-665) .
•1/),111<1
nar a história recente. Conforme registra o próprio Koselleck, a A interpretação restritiva que Ranke faz da longa tradição de reflexões
I HIN't de distanciamento temporal em Ranke deveu-se à sua pretensão sobre a questão da perspectiva (que vinha, pelo menos, desde o Renas-
d(' ab trair-se do presente (2006:291, 183). Aliás, Ranke julgava que a cimento) interditou o entendimento de algum modo positivo que estava
qll .stão central não estava na proximidade ou distância de seus objetos: presente em Chladenius - quando, por exemplo, este último fez a co-
nhecida referência às diversas leituras possíveis de uma rebelião (por um
"a diferença da história contemporânea para a história remota [... ) é apenas revoltoso, um estrangeiro, um cortesão, um cidadão ou um camponês)
o
uma questão de grau". O remédio para ambas - além do caráter moral do (apud Haskell, 2004:345), ou em Goethe, quando ele mencionou que o
>
historiador - era construir seu ponto de vista acima da perspectiva indivi- novas perspectivas permitem leituras renovadas da história, que, assim, s
Vl

deve ser continuamente reescrita (apud Koselleck, 2006: 177). Ademais, o


dual e identificar o objeto histórico com uma verdade mais geral. O histo- ::E
UJ
f-
riador "deve conquistar um ponto de vista independente a partir do qual a ao vincular fortemente a questão do ponto de vista à do partidarismo, UJ
:J
verdade objetiva, uma visão geral, torna-se cada vez mais confiável" [Ranke Ranke situou o problema da perspectiva no seu nível mais elementar. o'
s
apud Krieger, 1977:271). No que se refere ao problema da história do tempo presente, :30ção ct:
'o
f-
de erspectíva, algumas vezes, é usada para designar coisas diferentes. Vl
:r:
~i a rejeição do subjetivismo em favor ~usca pelo historiador de uma Perspectiva como ponto de vista peculiar a alguém (ou a uma dada época)
é a definição mais estabelecida. Entretanto, a expressão pode mesclar-se 91
pr tensa neutralidade ou im arcialidade, a "parfait indépendance de son
,ti 11,11
I 1111111.I, I" 1111I11111'111 ,I '" " 111111
II I ItI, 1111 I IlIldll, '''1 di I" 11ft11 '"1,"1 dloll I li' 111111'"11'" 111' 1",111 d.lIl, '1111',I ti", 1.1\',1111
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, .11'111',1.11'
'llelS (""1111( 1111111 III.IIft 1111'11Iwl ti 'S ',lrt;\1"a int .rferêncía da pers-
.11>p.lss,Hlo: pode S' til lisar ' m diversas perspc .tivas \1111
obj .to muito 1'''111,1,dl"III,ltlv,\s de .nfr ntamento do problema. Uma
pl'l,ti .1,11'111.1111
1I'l'II,Hlono l 'mp ,um fenômeno recente ou outro que esteja em cur ,h'I,ls S 'ria c mínho, de algum modo "formalista", de considerar a ques-
Ilml,lnto, t xigência de recuo temporal (cobrança comum entre os gu tao in r nt à construção da narrativa histórica, tomando a perspectiva
"()IHkn,VdTI a história do tempo presente) não conduz, obviamente, a (' m uma forma de limitação prefigurativa. Evidentemente, seria pre-
análís isenta de perspectiva.
1I11l.1 .is outro artigo para aprofundar esse enfoque: tratarei disso em outra
I'! ' rto, no entanto, que a passagem do tempo ajuda a superar inter- casião.
t1i~'õ'S c temas tabu. É muito frequente, nos estudos de temas recentes, Carlo Ginzburg tem uma visão positiva da questão: "a noção de pers-
,I p.HtI,tina aproximação de questões delicadas que, após determinado pectiva deixará de constituir um obstáculo [... ] para se tornar [... ] um
1)\'l'Iodo, podem ser tratadas de maneira crítica, como é o caso do cola- lugar· de encontro, uma praça onde se pode conversar, discutir, dissentir"
1lIlI,\dooismo durante a II Guerra Mundial ou da luta armada, tal como (2001: 198).13 Esse otimismo ecoa a antiga proposta de Habermas relativa
1111'11('/011
'i em um dos exemplos com que iniciei este artigo. '2 Conforme a uma teoria do agir comunicativo. O caráter aparentemente singelo da
di I,,,,ou Mark S. Phillips, isso tem a ver com alterações da capacidade afirmação não deve encobrir a importância de um problema que, indi-
di "p{lblico leitor intera ir com ess~u aguel:..:ssunt?, de modoque retamente, ela toca. Refiro-me à incompreensível ausência de reflexões
11plOhl 'ma do distanciamento não diz respeito apenas ao historiador-e _ no campo dos debates sobre a história do tempo presente - sobre o
.111 (l'sl munhos em pauta, mas também ao público ao qual a narrativa clássico tema da "crise da filosofia do sujeito", isto é, sobre a tentativa de
I t1il'ig (Phillips, 2003:442-443), o que situa o problema no campo superação de tal filosofia - iniciada com Descartes e coroada em Hegel
1"lIlli' ,ético e moral dos temas tabu ou decorosos. Evidentemente, tais e que marcou a filosofia moderna -, constituindo a crise filosófica da ra-
\' 1'('li! stâncias fixarão parâmetros para os recursos formais, retóricos e zão centrada no sujeito consciente, base do paradigma iluminista. Não se-
\'N(illsLicos que mobilizamos, os procedimentos discursivos próprios ao ria possível fundar a objetividade do conhecimento na consciência de um
li ,0n ro" e os efeitos de sentido 'buscados. sujeito isolado que estabelece o que é o real. Como é sabido, esse debate
A .implificaçâo embutida na interdição rankiana da história recente relaciona-se à percepção da fragilidade da razão iluminista como parâme-
rcduzíu o debate sobre distanciamento a um questionamento que "marca tro libertador e possui enorme tradição de reflexões que incluem a crítica
lod s as formas de engajamento político ou emocional contra a 'objetivi- da coisificação, pela recepção de Weber por Lukács; a própria denúncia,
tI.IU '" (Phillips, 2004:98). Entretanto, a marca distintiva da história do sobretudo feita por Adorno e Horkheimer, da razão subjetiva a partir
o
tempo presente não é uma suposta sujeição maior do historiador respec- de uma razão objetiva que eles consideravam defmitivamente destruída; o
2:
liv à subjetividade - traço comum e relativamente banal, em termos o ataque marxista à autossuficiência do sujeito pensante; a revelação de >
V)
o
dos controles já conhecidos e testados. Quando muito podemos falar em Foucault da perversão da vontade de poder; entre outras. Em sua tentati- ::E
UJ
I-
maíor entrelaçamento entre política e pesquisa acadêmica e no descon- va de superação do problema, Habermas registrou que a mencionada cri- UJ
::J
torto suscitado pela abordagem de questões delicadas ocorridas há pouco se consolidou percepções que se tornaram praticamente uma tópica, das O
::!
I 'l11pO,como dito acima. Certamente não são razões para se deixar de quais a mais importante para estas reflexões é a crítica da "vocação teórica ""l-
'o
V)

:r:

I) J, ap den Hollander, em trabalho que citarei mais adiante, também estabelece uma 13 Uma interpretação que também valoriza a perspectiva, sem deixar de problematizá-
" -lnçâo entre o recuo temporal e a superação de oposições fundamentais. -Ia, pode ser vista em Trevelyan (2010: 133 e segs.).
93
11111
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.I, tI"", I' 11,1111,".1111'111111.1,II''''V( '1IIIIIIIdo.llr.\V .s d 'UI11 .úpula de
1.11.1 PI'ol>ll'II,,'t'ka da r, '/,- 111d rna - o que vi 1'111('11''lIl' não s r,
I' di li slltl.I\'.\(II/"' 111"I IItI, 1I\l'/1 .ion '0111 analogia da dissociação
11'110,1<JlIl,mas .abc r gistrar que todo o debate recente sobre a história
do pussado (i\nk 'I'SlIdt, 001: 10). Assim, estabelecer-se-ia um conta-
do I 'Il1PO pr s nt se deu no contexto da chamada "crise da história"
to ,10 m zsrn t mp dir to e indireto com a realidade, combinação que
'I11I',Illlm I itura possível, seria a expressão, em nosso campo, da grand~
ln li '( ria o processo de autodistanciamento que permitiria a separação
"I'ls(' d ' paradigma mencionada, Diante de tal impasse, a impossibilidade
su] ito/ objeto.
d. UI1l, aproximação supostamente "objetiva" de seu tema, que vitimaria
O simples enunciado da proposta, parece-me, suscita uma grande va-
"/'IP(' 'j 1111nte o historiador do tempo presente, torna-se uma quimera,
riedade de perguntas -por exemplo, por que o problema estaria entre o
,,'t<Ju' stabelecimento da verdade seria impossível para qualquer sujei-
contexto histórico do historiador e seu material de pesquisa? -, mas não
I() di, nt de seja lá qual for o seu objeto.
é o caso de enunciá-Ias aqui, dado o caráter preliminar do texto inédito
1:111uma instigante reflexão sobre a questão do distanciamento his-
de Hollander. Entretanto, algumas questões gerais podem ser referidas.
Il"'j('o, ainda inédita, Jaap den Hollander defendeu a posição de que de-
É possível distinguir, em termos analíticos, a questão do acesso ao
V('llios ad tar, preferencialmente, a noção de "distinção" no lugar de dis-
real da suposição de que o passado mais recente nos afeta tão fortemente
I~I,,'I,I histórica para considerar as diferenças entre o contexto cultural
que seríamos incapazes de analisá-lo sem tendenciosidade, conforme a
do "l,~toriador e de seu material de pesquisa. 14 Ele se inspira na ideia de
leitura restritiva de Ranke. A resposta de Hollander, inspirada em An-
"" 1H'I'i'\nciahistórica sublime" de Ankersmit, ou, mais precisamente, na
kersmit, privilegia a questão do acesso. Entretanto, é conhecida a posição
I'"\','0 equivalente de "dissociação sublime do passado", isto é, a radica-
de Ankersmit segundo a qual os períodos específicos da história são atri-
1~I,,'l\()da noção de experiência histórica subjetiva, entendida como a
butos da nossa descrição do passado e não atributos do próprio passado.
11
1 '1'(''I ão de algum momento histórico. Desenvolvida em livro recente
, Ora, se as especificidades de uma época não estão no passado, mas nas
I1111'°1sta pressupõe ultrapassar a epistemologia, mover-se para além da
estruturas narrativas, de que modo poderíamos associar autodistancia-
I'(\nl, de, dissociar a experiência da verdade (Ankersmit, 2005). Supondo
mento a «experiência histórica sublime", considerando que esta última
.1hil tese de um encontro direto com o passado, por intermédio de uma
busca superar a «contaminação" das estruturas linguísticas?
I' 'r' I ção quase mística, Ankersmit articula a experiência histórica subli- Além do problema de ser possível ou não compreendermos bem uma
111' as experiências de tipo coletivo, as mudanças drásticas, a história em
época na qual estamos mergulhados, já que não teríamos condições de
"': nd~ ~scal,a. Seria uma contrapartida filosófica do trauma, e o enfoque
vê-Ia ou de experimentá-Ia transparentemente, ou seja, além da questão
pSI ' loglco e mobilizado por ele no sentido de que a experiência sublime o
do acesso ao real, há o problema da interferência desse real sobre nós, do o
11iria uma experiência de perda do "presente indiscriminado", que assim >
modo como ele nos afeta, e a grande preocupação dos historiadores da >
Iorna-se seu passado. \Il
história do tempo presente tem a ver com essa última questão mais co- o
Hollander diz que devemos criar uma distinção entre sujeito e ob- ~
UJ
mezinha, a da imparcialidade, já que para a maioria dos historiadores a I-

j 'l por meio de um autodistanciamento, dissociando-nos do passado,


primeira questão nem ao menos se constitui e virtualmente todos aderem
UJ
~
o
I'. A d '1 ' d à hipótese filosófica do realismo ontológico intuitivamente, não obstante se<:
. gra eço a genti eza o autor, que permitiu que eu consultasse a comunicação inti- 'o
I-
,~,(dada"Contemporary History and the Art of Self-Distancing", realizada na conferência a importância do "problema mais obstinado [... ] a questão sobre a origem \Il
I
I hcTransfiguratlOn ofthe Present: Reflections on Historical Distance", na Universidade e justificativa das nossas convicções sobre a realidade do mundo exte-
de' Gronrngen, na Holanda, em janeiro de 2010.
rior", como disse Dilthey (apud Rickman, 1976: 162). 95
IIII "",,10 111'oito I I, I1 1I111II1 I1I
II I I 1II I", I I I I I 1111'" 1'11 11111' 111'I 11 1 I ,ti I 'I li' li' lei I I ,,111 11111"I li" 11111
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p.III'IIII'IIII'IIII' () re.il , S .m as .nsa ão d olharmos () 111111li 10 a partir da 111I i, }III//I,," 11/(;111(1'111/'"'," 1I1,1'(()ry, vol. 2, n. 4, out 1997.
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n.l,p.124-135,fev2004. objeto de resistências e interdições, entrou na ord fi d di.1 1111 111.1 11,

não só como objeto de pesquisa acadêmica, mas tamb' rn C()I 10 11111 \1111 I
o desafiador para os historiadores do ponto de vista' ti . I IIlil'O, 'ljlllI
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