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2016

Manual Epicure
Sommelier
Formação inicial

Luis Miguel Alves


Índice

Conteúdo
Introdução ..................................................................................................................................... 3
Os Charutos na História................................................................................................................. 4
A transformação do tabaco em Charutos ..................................................................................... 7
A produção de Charutos.............................................................................................................. 10
Humidificadores .......................................................................................................................... 13
Escolher um charuto ................................................................................................................... 15
Cortar o Charuto ......................................................................................................................... 22
Acender o Charuto ...................................................................................................................... 24
Apagar o Charuto ........................................................................................................................ 26
O fumador experimentado ......................................................................................................... 27

Formação de Epicure Sommelier para Iniciados


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Introdução
O Charuto… é algo que exige respeito.

Apela a todos os sentidos, a todos os prazeres, ao olfacto, ao gosto, ao tacto, ao olhar…

Um bom charuto encerra a promessa

De uma experiencia de puro deleite.

Zino Davidoff

Os antigos Maias fumavam charutos por motivos religiosos. Para os fumadores


apaixonados dos dias de hoje, os próprios charutos são objetos de reverência. Cada vez
mais, os charutos estão a conquistar o respeito e o apreço que lhes são devidos. Na
América, e à semelhança do que se verifica no final do século XIX, os charutos
constituem hoje um acessório de estilo e um sinal de prosperidade. Em 1994 as vendas
de charutos nos Estados Unidos subiram pela primeira vez desde 1970, ano em que se
venderam cerca de oito mil milhões de unidades. Em 1995 as vendas de charutos
premium subiram mais de 30%, estimando-se em cerca de 150 milhões de unidades a
atual procura de charutos importados.

O número de apreciadores não para de crescer, numa verdadeira paixão que perdura
desde a expedição de Colombo ao Novo Mundo.

O prazer de degustar um charuto é pessoal e intransmissível, mas pode ser partilhado


socialmente ou num círculo de amigos. Sendo que as variedades de charutos são quase
infinitas, são também praticamente inesgotável as possibilidades de novas experiencias
que se deparam aos seus apreciadores.

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Os Charutos na História
Esses senhores ofereceram-nos cigarros…

São folhas de tabaco enroladas de tal forma que fazem ao mesmo tempo de cachimbo e
de tabaco.

E tanto as damas como os cavalheiros gostam muito de os fumar

John Cockburn

Na parede de um antigo tempo maia em Palenque, no México, pode ver-se um baixo-


relevo que retrata um homem a fumar. Bem poderia ser uma mulher, já que todos os
Maias fumavam tabaco muito antes de 1492, quando Colombo confundiu as caraíbas
com a India, e um membro da sua tripulação descobriu que os “índios” aspiravam folhas
de tabaco enroladas. O hábito foi trazido para a europa, embora certamente não fosse
essa a descoberta que a rainha Isabel tivera em mente ao financiar a expedição. Com o
passar do tempo, o nacionalismo, o colonialismo, a guerra e as diversas políticas
governamentais viriam a desempenhar um papel importante na história dos charutos.
Como todos os fenómenos culturais, também os charutos estão sujeitos a
transformações sociais e às imprevisíveis oscilações da economia. Mas há mais de dois
mil anos que o hábito subsiste, e a sua história está longe de terminada.

Os Espanhóis, juntamente com os portugueses, foram os primeiros conquistadores do


Novo Mundo, e os primeiros europeus a aperceber-se da beleza do charuto e a explorar
a sua produção. O Colonialismo espanhol fez-se sobretudo sentir na América Central e
do Sul, terras onde crescia a planta do tabaco (Cuba tornou-se colónia espanhola em
1515). Pode dizer-se que os Ingleses perderam a corrida ao tabaco, pelo que começaram
por ser um país de fumadores de cachimbo, com tabaco produzido na Virgínia, uma das
suas colónias Norte-Americanas. Naqueles tempos, o que se fumava dependia do que se
conquistava. Só no seculo XVIII, bastante tempo passado sobre a descoberta de
Colombo, os Espanhóis começaram a cultivar tabaco de forma sistemática no
hemisfério ocidental, com o que manufaturavam charutos em Espanha, que depois
exportavam, através de comerciantes holandeses, até lugares tão remotos como a
Rússia.

Os Charutos cubanos começaram a viajar pelo mundo à medida que o mapa político
mudava. Durante o século XVIII, com as guerras entre potências europeias, o charuto
atravessou fronteiras e invadiu novas culturas. Em 1763 os Ingleses ocuparam Cuba
durante um ano, tempo mais que suficiente para sucumbir ao feitiço dos charutos
cubanos. Em 1803, quando os seus homens travaram conhecimento com os charutos se
estendesse à França.

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A América do Norte provou pela primeira vez um charuto em 1762. Já então os colonos
aí cultivavam tabaco, da mesma forma que os índios o tinham feito antes deles, mas o
contributo de Putnam iria estar na base do desenvolvimento de uma das melhores folhas
de involucro do mundo, a Connecticut Shade, cultivada à sombra. Mais tarde general da
Revolução Americana, Putnam será todavia sempre lembrado pelo decisivo impulso que
trouxe à indústria tabaqueira de Hartford, no estado do Connecticut.

Embora o habito de fumar charuto só se tenha popularizado nos estados unidos à época
da guerra da secessão. Em finais do século XIX o país tinha já desenvolvido uma
importante indústria tabaqueira, que utilizava tabaco produzido nos diversos estados e
também o que importava de Cuba. No último quartel do século XIX, os imigrantes
cubanos, muitos deles fugidos ao colonialismo espanhol, viriam a constituir uma mão-
de-obra qualificada para esta indústria. A Flórida, o ponto de entrada mais próximo para
estes imigrantes, tornou-se na Meca da indústria tabaqueira, e locais como Key West e
Tampa, os maiores produtores de charutos de um país com um apetite cada vez mais
voraz por esse produto. E nem o breve embargo provocado pela guerra Hispano-
Americana de 1898 viria a afetar este estado de coisas.

Durante esse período, os charutos implantaram-se de tal forma na Grã-Bretanha que este
país se tornou no maior mercado mundial para os charutos Cubanos. Os aristocratas e os
mais abastados em geral eram verdadeiros devotos. Quando o financeiro britânico
Leopold de Rothschild manifestou a sua vontade em ter um charuto que se adequasse ao
seu gosto e estilo de vida, com o sabor que só os grandes calibres proporcionavam mas
um corpo suficientemente pequeno para poder ser fumado em pouco tempo, a fábrica
Hoyo de Monterrey fez-lhe a vontade. E assim nasceu o formato Rothschild, ainda hoje
muito popular. A Inglaterra vitoriana, cujo requinte se tornou célebre, perpetuou a
imagem do charuto como um acessório indispensável a um hábito muito bem visto (a
própria rainha Vitória o desaprovava), o charuto fumado depois do jantar numa sala à
parte tornou-se um costume muito apreciado pelos homens, de quem era alias exclusivo.

No século XX a história dos charutos continuou a ser ditada por acontecimentos que
ultrapassavam largamente o simples ato de fumar. Depois da I guerra mundial a
indústria norte-americana de charutos foi praticamente destruída pela crescente
popularidade dos cigarros, uma alternativa bem mais económica. Mas a invenção das
máquinas para o fabrico de charutos rejuvenesceu a indústria, pois permitiu a produção
de charutos de qualidade a preços acessíveis. Feitos ainda com tabaco cubano, o seu
baixo preço permitiu que as pessoas os continuassem a comprar mesmo durante a
grande depressão. Foi assim que nos anos 30 o charuto (à exceção dos habanos feitos à
mão) deixou de ser um privilegio dos mais abastados para se tornar acessível a todos.

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A II guerra mundial trouxe consigo mudanças cujas consequências ainda hoje se fazem
sentir. De facto, depois da guerra o preço dos charutos nos estados unidos subiu em
flecha, levando os fabricantes a optar pelos charutos integralmente feitos à máquina,
com folha de tabaco homogeneizada. Desta inovação resultou um grande crescimento
da indústria tabaqueira, acentuando-se a tendência para a produção de charutos baratos.
Havana, preocupada com a perda desta importante quota de mercado, começou também
a produzir charutos feitos à máquina, que rapidamente se tornaram muito populares nos
estados unidos, até que a politica se intromete… A subida de Fidel Castro ditaria o fim
da relação assente no tabaco e que perdurava há mais de um século. Mas como tantas
vezes acontece, quando se perde uma oportunidade logo novas portas se começam a
abrir. E foi assim que, com a nacionalização da indústria tabaqueira e com o embargo
comercial decretado em 1962 pelo presidente Kennedy, outros países se apressaram a
preencher o vazio criado. O talento local, juntamente com os expatriados cubanos em
países como as Honduras, Panamá, Republica Dominicana e Jamaica, estão hoje na base
da produção de charutos de excelente qualidade, dotados de um sabor e de um caracter
próprios. E também o México, a Nicarágua, o equador e o Brasil têm conseguido bons
resultados. As ilhas de Java e Sumatra, na indonésia produzem igualmente tabaco de
excelente qualidade e, em Africa, os invólucros produzidos nos Camarões são também
de primeira escolha.

Ainda assim Cuba permanece a principal referência quando se fala de charutos


Premium.

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A transformação do tabaco em Charutos
Nunca a terra gerou semente tão Jovial.

Barten Holyday

O intenso prazer de uma hora passada a degustar um bom charuto resulta de meses, por
vezes anos de um trabalho rigoroso e especializado.

Produto inteiramente natural, os charutos começam na planta de tabaco. Mas não num
qualquer pé a crescer espontaneamente numa encosta tropical. De factos, são poucos os
locais abençoados com o solo, a temperatura e a humidade necessária para que ai
floresça uma planta cujas folhas possam ser utilizadas na produção de charutos. As
condições climatéricas não bastam, já que a alquimia reside no solo e não existem dois
locais rigorosamente iguais. Assim, mesmo em Cuba, os tabacos utilizados no involucro
(capa), na subcapa (capote) e no enchimento (tripa) dos puros só se cultivam em
determinados locais, de que o mais famoso é o do vale de Vuelta Abajo, no lado
ocidental da ilha. A mais famosa folha de involucro do mundo, a Connecticut Shade, é
plantada em não mais do que 40 hectares bem demarcados daquele estado norte-
americano. A mesma Planta cultivada no equador muito embora possa ser soberba, será
necessariamente diferente. Por isso independentemente do respetivo grau de excelência,
os charutos produzidos na República Dominicana, nas Honduras, na Nicarágua, no
México ou em cuba nunca poderão ser iguais. Todos eles têm características próprias,
fruto dos diferentes solos nativos e dos seus insubstituíveis ingredientes subterrâneos.

A vida de um charuto Premium começa numa pequena semente, vigiada durante 45 dias
num viveiro para ser depois lançada à terra em campos cuidadosamente lavrados para a
receber. O tabaco desenvolvido à sombra cresce sob amplas estruturas cobertas por gaze
ou redes. Passados mais 45 dias é chegada a altura de colher as primeiras folhas
destinadas aos charutos. Os segredos do paladar de um charuto começam logo nesta
fase, pois o sabor das diferentes folhas varia consoante a sua posição na planta.

Assim, as folhas da parte inferior da planta, a que se dá o nome de volado, têm um sabor
mais suave, as folhas seco, do meio da planta, um sabor intermedio, e as folhas ligero,
do topo, um sabor e uma textura mais fortes. De notar ainda que, em cinco ou seis
destas apanhas, uma planta de tabaco que não rende mais do que 16/18 folhas de
qualidade compatível com os elevados padrões que a produção de charutos Premium
exige.

Essas folhas cuidadosamente escolhidas são atadas em diferentes maços, de acordo com
a respetiva textura e tamanho, sendo os maços depois pendurados em estufas, onde ira
decorrer o processo de cura. Aí permanecem durante 3 a 8 semanas, consoante as
condições as climatéricas e o resultado pretendido. Do verde inicial, as folhas vão então
assumindo diferentes tons de castanho. Terminada a cura, as folhas são novamente
separadas e agrupadas de acordo com o seu tamanho, textura e cor, operação alias
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recorrente ao longo de todo o processo de preparação. São depois reunidas em maços de
vinte folhas a que se dá o nome de “mãos” e levadas para a fermentação, operação
determinante que as transformará de mera vegetação num tesouro em potência.

As “mãos” são então amontoadas em pilhas de um ou dois metros de altura, podendo


atingir um peso de 5000 quilos, os chamados Burros. Extremamente compactados, os
burros impedem a circulação de ar entre as folhas, assim se desencadeando o processo
de fermentação a que também se dá o nome “de transpiração”.

Lentamente a humidade, a seiva, a nicotina e o amoníaco vão-se libertando das folhas,


que devem estar todas à mesma temperatura, para que o processo seja uniforme. O
controlo da temperatura tem uma importância crucial, pelo que esta é constantemente
verificada, mediante o recurso a longos termómetros que são mergulhados no interior
dos burros. Não podendo exceder os 70ºC, a temperatura ronda geralmente os 48ºC so
para as folhas do “maduro” se atingem temperaturas mais elevadas, a fim de se obterem
tons mais escuros.

Quando a temperatura atinge o ponto desejado, o burro é virado, ou seja, a camada


superior é retirada, sacudida e colocada no chão, para servir de base a uma nova pilha.
Esta reconstrução faz-se cerca de dez vezes ao longo de um período de um a três meses,
sob a vigilância atenta de encarregados de verificar o envelhecimento, a textura e a cor.
As folhas destinadas ao maduro chegam a fermentar durante seis meses até atingirem os
ricos e intensos tons de castanho e negro que o caracterizam. Mas estes períodos de
tempo são relativos, já que o processo de fermentação só fica concluído quando, depois
de virado o burro, a temperatura se mantém estável. Em caso de subfermentação os
charutos produzidos terão grande dificuldade em se manter acesos e, pior ainda, terão
um sabor áspero de ardor no peito. No extremo oposto, a sobrefermentação tem como
consequência a produção de folhas gastas e desprovidas de sabor. Efetivamente, o
processo de fermentação é determinante na produção de charutos, podendo mesmo
afirmar-se que sem uma fermentação adequada não estaremos perante verdadeiros
charutos. Terminada a fermentação, o tabaco é de novo meticulosamente separado e
classificado de acordo com a respetiva origem e data de produção, sendo depois levado
para o armazém para envelhecer, processo que durará entre um a 3 anos ou mais.

Terminado este período de maturação, o tabaco está pronto para deixar o armazém.
Todavia, nesta fase as folhas apresentam-se ressequidas e quebradiças, sendo por isso
borrifadas com água para que readquiram a sua maleabilidade. A este processo de
humidificação dá-se o nome de “moja”. Só então as folhas estão prontas a ser
trabalhadas, sendo-lhes removidos os veios e, no caso das folhas de invólucro, cortadas
de modo a separar as dias metades, assim se garantindo a homogeneidade dos charutos
feitos à mão. Finalmente, as folhas são de novo examinadas e separadas consoante se
destinem ao enchimento, à subcapa ou ao invólucro dos charutos. De quando já se
descreveu, fácil se torna constatar que todo este processo exigiu muitas horas de
trabalho manual rigoroso e especializado e a produção dos charutos ainda nem sequer
começou.
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Falta ainda a magia do “misturador”. Se o conhecimento profundo das diferentes folhas
de tabaco, do seu sabor e da sua velocidade de queima, resulta da experiencia e do saber
acumulados pelo trabalhador, já o conhecimento da sua capacidade da combinação, é
uma verdadeira forma de arte. As possibilidades são praticamente infinitas, como as que
se deparam a um pintor se socorre da imaginação para preencher a tela, a experiencia do
misturador irá permitir-lhe selecionar as proporções relativas das diferentes folhas que
conferem à casa marca o seu sabor distintivo. Essas proporções, verdadeiros segredos de
produção, são mantidas secretas pelas diferentes marcas. O trabalho do misturador
representa assim o culminar do longo processo de plantação, crescimento, apanha,
seleção, fermentação e manutenção do tabaco, que está agora pronto para a produção de
charutos.

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A produção de Charutos
À Mão… e à máquina

Sublime tabaco, que de leste a oeste alegras o trabalho do marinheiro e o repouso do


turco.

Lord Byron

Os Mitos são geralmente fascinantes, e a lenda segundo a qual os melhores charutos são
enrolados entre coxas de raparigas virgens não constitui exceção à regra. Mas, na
realidade, o processo é bem mais complexo. É com as mãos, não com as coxas, que se
enrola um bom charuto muitos pares de mãos, habilidosos e incansáveis.

Para melhor compreender a maravilhosa arte da produção artesanal de charutos, torna-se


necessário conhecer o seu vocabulário específico. Assim, e começando pelas duas
extremidades do charuto, dá-se o nome de “cabeça” aquela por onde se fuma e de “pé” a
que se acende. A peça circular de folha de invólucro que envolve a cabeça e se estende
atá aos “ombros” do charuto tem o nome de “tampa”. A estrutura do charuto apresenta 3
componentes fundamentais… o Enchimento, a subcapa e o invólucro, cuja composição
e acabamento determinam a sua qualidade final.

O enchimento é o centro do charuto, o núcleo vital que a subcapa e o invólucro irão


segurar e envolver. É composto por folhas longas que se prolongam a todo o
comprimento do charuto ou, sobretudo nos charutos feitos à máquina, por pequenas
peças cortadas de folhas de diversos tipos. O enchimento dos charutos premium é feito
apenas com folhas longas, a que garante o sabor uniforme de todo o charuto, bem como
uma cinza comprida e consistente. Um enchimento de qualidade é geralmente composto
por dois ou três tipos diferentes de folhas de tabaco, e é da sua proporção relativa que
resulta a riqueza do paladar de um charuto feito à mão.

A Subcapa é a primeira camada que cobre e segura o enchimento. Num charuto de


qualidade a subcapa é feita com uma folha especialmente escolhida para esse fim pela
sua elasticidade e resistência. Na maior parte dos charutos feitos à máquina recorre-se a
folha de tabaco homogeneizada, feita de uma mistura de pedaços de tabaco. A subcapa
influencia o sabor, a velocidade de queima e o aroma do charuto, por isso o seu paladar
tem de ser compatível com o do enchimento e do invólucro.

O invólucro determina a aparência do charuto, pelo que terá de ser esteticamente


atraente, sem veios salientes e com uma textura uniforme e agradável ao tato. Um
charuto cujo invólucro não respeite estas características será mais dificilmente vendável.
O invólucro chega a ser responsável por 60% do paladar do charuto, o que exige que a
folha de invólucro tenha de ser de grande qualidade, e escolhida de forma a
complementar e realçar as características do enchimento e da subcapa. Colocar a folha

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de invólucro no charuto é a operação mais delicada do respetivo fabrico, ocupando os
enroladores, o topo da hierarquia, entre os trabalhadores das fábricas de charutos.

Sempre com estes 3 componentes fundamentais, o processo de fabrico pode todavia


apresentar formas distintas. Assim, nos charutos totalmente feitos à mão todas as fases
da produção são feitas manualmente. Nos charutos enrolados à mão o enchimento é
feito à máquina, sendo o invólucro aplicado manualmente. Por último, há ainda os
charutos feitos à máquina, em que todas as fases do processo de fabrico são mecânicas.

A produção de charutos totalmente feitos à mão assenta numa arte já centenária,


praticamente inalterada desde os seus primórdios. O processo começa nas mãos dos
operários responsáveis por enrolar as folhas de enchimento até que estas adquiram a
característica forma cilíndrica. É uma operação complexa, pois as folhas não são
simplesmente enroladas umas sobre as outras. De facto as folhas de enchimento, são
dobradas em leque no sentido do comprimento, por forma a criar minúsculas passagens
de ar horizontais ao longo do charuto. Indispensáveis para que este queime de modo
homogéneo. As folhas de enchimento enroladas na subcapa tomam o nome de “feixes”
são colocados em moldes de madeira do tamanho pretendido para o charuto, após o que
são prensados. Durante o tempo de prensagem, que se prolonga normalmente por 45
minutos, os charutos vão sendo rodados para aperfeiçoar a sua forma cilíndrica.

É então chegada a hora dos enroladores (torcedores), a elite dos trabalhadores das
fábricas de charutos. Depois de cortada à medida certa, a folha de invólucro é enrolada à
volta do charuto, ficando o topo da folha no pé e a base na cabeça. Desta forma o
paladar será mais suave no início do charuto. Uma vez enrolada a folha de invólucro, do
que desta sobrou corta-se uma pequena peça circular, para servir de tampa, a qual é
colada na cabeça do charuto com uma goma vegetal insípida. Para se chegar a
enrolador, é primeiro necessário passar por um período de aprendizagem de dois anos.
Os poucos que são aprovados para exercer a nobre arte terão depois de trabalhar durante
pelo menos 6 anos até serem versados em todos os formatos. Os critérios são tão
rigorosos que nem vinte anos se consideram tempo demasiado para se formar um mestre
enrolador.

A partir desta fase o facto ser humano torna-se secundário, e é a natureza quem toma
conta do processe. Os charutos acabados, cujo tabaco foi humedecido para poder ser
trabalhado, são então postos a secar em salas forradas a madeira de cedro com
temperatura controlada. Mas não é só a secagem que é importante. Os sabores dos
diferentes tipos de tabaco, cuidadosamente escolhidos para se complementar entre si,
precisam de tempo para se fundir. Só assim cada charuto poderá adquirir os cambiantes
de sabor que caracterizam as várias marcas. E para que esse carácter do charuto possa
desabrochar serão precisas pelo menos 3 semanas, período que será mais prolongado na
series especiais de charutos, que chegam a ficar guardados durante vários meses, as
vezes mesmo mais de um ano.

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Finalmente prontos, os charutos são cuidadosamente verificados, após o que estarão
aptos a ser separados de acordo com a cor e embalados. Cada caixa devera apenas
conter charutos da mesma cor, embora este seja um factor que não se prende com o
sabor, a qualidade ou a consistência dos charutos. e apenas uma questão de orgulho,
cada caixa deve ser um retrato do extraordinário cuidado posto em todo o processo da
produção manual de charutos.

Mas isto não quer dizer que os bons charutos sejam apenas feitos a mão. Desde logo
porque há ainda os charutos feitos a máquina e enrolados a mão, em que ao “feixe”
produzido pela máquina um enrolador ira aplicar a folha do invólucro, sendo depois os
charutos cuidadosamente examinados, separados e envelhecidos. Alias, e em termos
legais, estes charutos ainda se podem considerar feitos a mão, havendo mesmo quem
veja a componente mecânica do processo como uma vantagem, já que garante a
consistência do produto acabado. De facto, o recurso as maquinas permite evitar a
menor homogeneidade, ou mesmo os erros, da produção manual. Isto para não falar do
preço, bem mais convidativo no caso destes charutos acabados a mão.

Os charutos feitos exclusivamente a máquina, produzidos em serie, são ainda mais


baratos. Geralmente são feitos de folha de tabaco homogeneizada, um material
composto por caules e fibras do tabaco misturados com uma substancia semelhante a
celulose, que se usa tanto para a subcapa como para o invólucro. Estes charutos são,
naturalmente, os mais consistentes de todos. E são também consideravelmente mais
suaves, constituindo por isso uma opção para quem fume vários charutos por dia.

Certos charutos feitos a maquina, de que são exemplo os charutos “secos” europeus, são
muito populares em todo o mundo. Alguns são feitos com 100% de tabaco. O
enchimento destes pequenos charutos, muitos dos quais devem classificar-se já como
cigarrilhas, e composto por pequenas aparas de folha de tabaco. A sua qualidade não e
de modo algum negligenciável, havendo mesmo conhecedores que os preferem aos
restantes.

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Humidificadores
Para uma Boa conservação

Fumar e humano, fumar charuto e divino

Anónimo

Alguns bens preciosos, como os quadros e jóias, devem ser mostrados e usados, mas os
charutos, talvez a maior das preciosidades, têm de permanecer bem guardados, num
local escuro e sem alterações climatéricas. Assim, para uma boa conservação, os
charutos devem ser guardados num ambiente com temperaturas de 20ºC a 21ºC e com
valores de humidade entre os 70% e os 72%. Esta recriação do ambiente tropical
destina-se a evitar que os charutos fiquem secos e quebradiços, permitindo assim
conserva-los durante mais tempo, alem de proporcionar as condições ideais para a
continuação do processo de envelhecimento.

O humidificador proporciona aos charutos uma fonte constante de humidade, ao mesmo


tempo que os mantém num ambiente estanque. Todos os humidificadores, mesmo os
mais caros, têm um apetrecho humidificante que precisa de água regularmente. O ideal
será utilizar agua destilada, já que o produtos químicos da água da torneira podem
danificar estes mecanismos, alem de aumentarem as possibilidades de aparecimento de
bolor. Caso alguns charutos venham a secar por um qualquer descuido, isso não implica
que se dêem como perdidos. Há sempre a possibilidade de voltar a humidifica-los,
muito embora o processo não possa ser apressado. Os charutos devem por isso
permanecer durante vários dias no humidificador, o mais longe possível da fonte de
humidade, isto porque qualquer mudança brusca e contraria a natureza intrínseca do
charuto.

E frequente a recomendação de que os charutos devem ser guardado em caixas de


cedro, já que esta madeira lhes intensifica o sabor a medida que envelhecem. Nesse
caso, deve retirar-se a cobertura de celofane que muitas vezes envolve os charutos, por
forma a permitir a mistura de aromas. Caso os charutos sejam guardados numa caixa de
plástico, podem colocar-se no interior desta pequenos pedaços de madeira de cedro,
assim se conseguindo atingir, de forma mais económica, o efeito pretendido. A compra
de um humidificador revela-se toda a via um bom investimento, largamente
compensado pela boa conservação de um charuto. Escolha um humidificador adequado
a quantidade e tamanho dos charutos. Exteriormente, um humidificador deve ter uma
tampa e dobradiças semelhantes as de um piano, que permitam não só fecha-lo com
firmeza como mantê-lo aberto sem se virar. Alguns tem higrómetros para medir o grau
de humidade no seu interior, mas e sempre possível comprar este aparelho
separadamente.

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Um dos males que pode afetar o charuto e o bolor, de cor verde-azulado e de aspeto
muito desagradável. Nesse caso esses charutos deverão ser sacrificados e o
humidificador cuidadosamente limpo e arejado.

Embora os charutos estejam bem acondicionados em sua casa, a verdade e que pode
querer fuma-los noutro lugar. Nesse caso, o ideal será transporta-los numa charuteira de
bolso. Os charutos parcialmente fumados não se devem misturar com os ainda intactos,
pois o seu odor ira contagiar os restantes. Os charutos não fumados devem ser
recolocados diariamente no humidificador, pois a charuteira não tem as condições ideais
para a sua conservação.

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Escolher um charuto
A arte da seleção

No que aos charutos diz respeito, há muitas superstições. E a principal e a de que existe
um padrão ideal, quando nada podia ser menos verdadeiro. A preferência individual e
o único padrão aceitável, o único que pode reger a conduta de cada um. Nem um
congresso de todos os apreciadores de tabaco conseguiria escolher um padrão que o
vinculasse a si ou a mim, ou sequer influenciasse a nossa escolha.

Mark Twain

Uma verdade insofismável em matéria de charutos e não haver um charuto perfeito.


Cada fumador tem o seu ideal de charuto, que será aquele que melhor satisfaça o seu
gosto e o seu olfato. A demanda do charuto perfeito e um prazer em si mesmo. Dada a
enorme variedade existente, a escolha pode revelar-se tão difícil como a chave do
euromilhões. Mas com alguns conhecimentos e uma boa dose de curiosidade pode
lançar-se nessa entusiasmante aventura.

A marca

A informação de que necessita começa pelas marcas. Não esquecendo que apos a
revolução cubana em 1959 e a subida de Fidel Castro ao poder com a subconsequente
nacionalização da industria tabaqueira, muitos produtores abandonaram o pais, crentes
que poderiam levar consigo as respetivas marca. Contudo, os que ficaram em Cuba não
se conformaram com esta atitude, e continuaram a produzir charutos com as suas
designações originais. Esta e a razão pela qual marcas como Romeu Y Julieta,
Montecristo, Partagas, Punch, entre outras são atualmente fabricadas por empresas
diferentes, uma sediada em Cuba e a outra num qualquer lugar das Caraíbas. A origem
cubana de um charuto pode verificar-se pela inscrição “Habana”, em miniatura, na
respetiva cinta.

A cor

A cor e a primeira característica distinta das inúmeras variedades de charutos em


exposição nas prateleiras de uma tabacaria. Os produtores identificam mais de 60
tonalidades diferentes, mas os fumadores não vão alem das 7. Regra geral, quanto mais
clara a cor, mais suave o sabor do charuto; quanto mais escura a cor, mais doce e forte
este será. Embora a natureza nem sempre as respeite, podem enunciar-se as seguintes
cores básicas dos invólucros de charutos.

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Double Claro - verde-amarelado. As folhas desta coloração foram rapidamente secas
por calor induzido e retém a clorofila das folhas. As folhas desta cor geralmente tem
sabor adocicado.

Claro - ocre clara. As folhas foram plantadas debaixo de proteção à luz do sol, colhidas
antes de estarem maduras e secas rapidamente por difusão de ar. Tem sabor neutro.

Colorado Claro ou Natural - castanho-claro. As folhas foram plantadas em exposição


ao sol.

Colorado - castanho médio ou castanho-avermelhada. As folhas foram plantadas na


sombra.

Colorado Maduro - castanho-escuro. Cor intermediária entre Colorado e Maduro.

Maduro - castanho-escuro avermelhada a quase negra. As folhas são fermentadas por


longos períodos de tempo sob temperaturas acima da média ou cozidas em câmaras de
pressão especialmente criadas para esse processo. As folhas com esta tonalidade são
ligeiramente adocicadas e com gosto forte e muito característico.

Oscuro ou Negro - quase negra, mais escura que Maduro. As folhas são colhidas da
planta após longo período de maturação e são usadas somente as folhas da parte
superior da planta de tabaco, onde o sol atinge a planta com mais intensidade e
frequência. As folhas são deixadas para fermentação por longo período.

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O formato

Coberto o enchimento e enrolado invólucro, o charuto pode apresentar-se numa enorme


variedade de corpos, cujas diferenças se medem em frações de polegadas (1 polegada =
25,4 mm). Os charutos classificam-se em função do comprimento e do diâmetro, a que
também se chama “calibre”, o qual se calcula a partir da base de 1/64 polegada. Assim
um charuto de 165 mm x 48 tem 165 mm de comprimento e um diâmetro de 3/4
polegada (48/64). Utilizando o sistema métrico, determina-se o calibre de um charuto
dividindo o seu diâmetro por 0,4 mm.

Independentemente da questão do comprimento e do calibre, existem duas formas


básicas de charutos: os parejos, charutos direitos, e os figurados, de forma irregular.

Especiales

São módulos especiais cujo comprimento está entre 23,5 e 24 cm ou mais, e cujo
diâmetro está em torno de 1,9 cm. Só existem na forma arredondada e são verdadeiras
raridades cuja combustão pode se prolongar por até três horas.

Double Coronas

Com exceção dos Especiales, acima, são os maiores charutos disponíveis, com
comprimento de 19 cm e diâmetro próximo de 2 cm. São considerados os imperadores
do havana e muito apreciados em todo o mundo. O seu fabrico obedece a princípios
muito restritos e poucas marcas tem o privilégio de poderem estampar este detalhe nos
seus charutos.

Churchills

Nome dado em homenagem ao ex-primeiro ministro britânico Sir Wiston Charchill, um


grande apreciador de habanos. É um habano de dimensões medianas, entre 17 e 17,5 cm
e diâmetro variando entre 1,7 e 1,9 cm. As suas variações vão dos suaves aos potentes e
são fabricados pela maioria das marcas relevantes, tendo em si um significado de ser um
charuto "masculino".

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Lonsdales

Havanas com 15 cm de comprimento e diâmetro entre 1,6 e 1,7 cm e, como no caso dos
Churchills, deve o seu nome a um aristocrata britânico, Lord Lonsdale, que
encomendava charutos com essas dimensões para consumo próprio, Possuindo uma
variedade de aromas e sabores, dos mais leves aos mais potentes.

Gran Coronas

Tem um comprimento entre 14 e 15 cm e seu diâmetro variando entre 1,6 e 1,9 cm,
sendo um intermediário entre os tamanhos Corona e Robusto, com grande variedade de
aromas e sabores.

Coronas

Possuem comprimento entre 14 e 15 cm e diâmetro entre 1,5 e 1,7 cm, sendo um


formato bem equilibrado, sendo, hoje, o charuto de maior sucesso entre os havanas. De
fácil manejo, proporciona cerca de uma hora de degustação.

Robustos

Cerca de 12 cm de comprimento e diâmetro de 2 cm, com agradável caráter aromático e


condimentar; um charuto que ingressou nas mais famosas marcas durante os anos entre
1980 e 1990.

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Petits

Coronas São pequenos charutos que medem 12,5 cm e tem diâmetro entre 1,6 e 1,7 cm,
sendo degustado tanto por apreciadores de charuto como por fumadores esporádicos. É
um sucesso de vendas dentre os havanas, com combustão de cerca de 50 minutos, sendo
ideais para uma degustação após as refeições.

Très Petits Coronas

Pequenos charutos de 11 cm de comprimento e 1,6 cm de diâmetro. Ideais para uma


degustação matinal ou para um momento de aperitivo, sendo os preferidos pelas
mulheres para sua degustação, com queima entre 20 e 30 minutos, liberando seus
sabores e aromas lentamente.

Gran Panetelas

Havanas elegantes, com comprimento de 19 cm e diâmetro de 1,5 cm. Obtiveram


grande sucesso nos anos entre 1960 e 1970. Sua combustão dura cerca de uma hora e,
apresentam variações de marca para marca, existindo com dois tipos de cabeça:
levemente torcida e arredondada.

Figurados

São charutos que apresentam uma ponta em forma de bicuda, semelhante a um final
cônico, com sub-itens como o modelo "Torpedo" (foto acima - também conhecido como
pata-de-elefante ou pirâmide), com 14 ou 15 cm de comprimento e 2 cm de diâmetro. O
bico da ponta serve de amplificador de aromas.

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Figurado (Culebra)

Com formato exótico feito de até 3 charutos entrançados e amarrados como um só. As
três partes devem ser separadas e fumadas uma a uma, geralmente possuem 12 a 15 cm
de comprimento e são charutos relativamente raros hoje em dia.

Figurado (Diademas)

Charuto muito comprido (cerca de 21cm ou mais), tem sua ponta totalmente fechada.

Figurado (Perfecto)

Similar a um Torpedo, apenas com a cabeça arredondada ao invés de pontiaguda,


variando muito de tamanho (de 11,5 até 22 cm).

Minicharutos e Panetelas

São os mais curtos e de menor diâmetro entre os charutos feitos à mão, medindo entre
10 e 11 cm de comprimento (podendo chegar, em casos, até 17 cm) por 1,2 cm de
diâmetro, sendo também conhecidos como "cigarritos". A sua combustão dura cerca de
15 minutos, sendo também muito apreciado pelas mulheres.

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A origem do tabaco

Quando se trata de saber em que medida o carácter do charuto e afetado pela folha de
invólucro, as opiniões dividem-se, embora todos estejam de acordo quanto ao facto de
que o seu papel e determinante. Ainda assim, um charuto e na sua maior parte
constituído pelo enchimento, não se podem menosprezar a importância da mistura de
tabaco que a compõem. As características desse enchimento dependem da região de
origem do tabaco. Assim entre os principais produtores mundiais de tabaco e charutos
de qualidade devem destacar-se: Cuba, Brasil, Republica Dominicana, Honduras,
Jamaica, Sumatra, Filipinas, Ilhas Canárias, Camarões, Equador, Holanda, México,
Nicarágua e Estados Unidos, pais de origem da mais famosa folha de invólucro, a
Connecticut Shade, cultivada a sombra. A lista que seguir se apresenta permite aferir
das relações entre o lugar de produção e as características dos charutos ai produzidos:

Republica Dominicana – os charutos aqui produzidos sem dúvida os mais populares


nos Estados Unidos, são tendencialmente suaves, com adocicado sabor a noz.

Honduras – charutos mais fortes e picantes que os Dominicanos, de um tabaco quase


tão rico como o cubano.

Havana – considerados os melhores do mundo, os Habanos tem um sabor que varia


entre o médio e o forte, e um vago perfume de terra, mel e café. O tabaco cubano e
também usado na mistura de que são feitos os charutos secos europeus.

Jamaica – os charutos jamaicanos, são um pouco mais suaves que os Dominicanos.

Nicarágua – os charutos da Nicarágua de cada vez melhor qualidade, são fortes e


aromáticos, com um sabor moderadamente adocicado.

Equador – charutos suaves e aromáticos.

Camarões – este pais não produz charutos, mas uma folha de invólucro de sabor
picante e sabor intenso.

Sumatra – produz uma variedade de tabaco Indonésio, de aroma suave e sabor


levemente picante.

México – produz charutos de grande qualidade e de uma variedade imprevisível, dos


mais suaves aos mais fortes.

Brasil – o tabaco e os charutos brasileiros tendem a ser escuros, ricos e suaves, com um
ligeiro sabor adocicado.

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Cortar o Charuto
O primeiro acto

Tenho por norma nunca fumar mais do que um charuto de cada vez.

Mark Twain

Todos os atos de prazer são antecedidos de rituais preparatórios. E assim e também


como os charutos. Desde o prazer da antecipação ao simples gesto de pegar no charuto e
estimular com ele todos os sentidos, rodando-o suavemente entre os dedos, deleitando-
nos com a sua textura e consistência, admirando a sua cor e formato, inalando sem
pressa o seu suave bouquet.

Todavia, há varias coisas que não se devem fazer nesta altura. Não há qualquer razão
para remover a vitola (cinta), cuja aplicação e, afinal, parte integrante do delicado
processo de produção manual que distingue o charuto de outros passatempos. Alem das
razões de ordem estética, a cinta pode estar colada ao invólucro com um pouco de cola,
sendo provável que o danifique ao ser retirada. Se ainda assim pretender faze-lo, espere
ate que o calor do charuto derreta a cola. Mas acima de tudo, não lamba o charuto. Esta
pratica remonta aos tempos em que não havia humidificadores e hoje em dia não só e
desnecessária como desagradável. Para desfrutar plenamente do prazer de fumar um
charuto há que ter alguns conhecimentos de ordem técnica. O primeiro destes e o corte,
uma abertura que e necessária fazer na cabeça de todos os charutos Premium.

Para degustar um charuto é necessário fazer um pequeno corte na "cabeça" do charuto,


ou seja, no lado que fica em contato com a boca. Alguns charutos precisam ser cortados
também no lado que vai ser aceso. Para cortar corretamente o seu charuto, utilize uma
ferramenta própria de corte como uma guilhotina ou tesoura bem afiados. O corte
correto permite que o fumo flua corretamente do charuto para a boca, sem a necessidade
de muito esforço pulmonar e com o fumo na temperatura correta, ou seja, não muito
quente. Para o corte do lado da "cabeça", procure posicionar a sua guilhotina, ou
tesoura, a cerca de meio centímetro da ponta, ou um pouco menos, e faça o corte. Evite
cortar a "cabeça" inteira pois a folha externa de acabamento da cabeça também segura o
conjunto das folhas externas que suportam todo o revestimento do charuto, e se a cortar,
o charuto poderá desenrolar-se e abrir.

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Não fure o charuto ao invés de cortá-lo, pois o furo além de pequeno e proporcionar
pouca passagem para o fumo, comprime o conteúdo interno do charuto e vai alterar a
degustação. Usar os dentes para cortar o charuto além de deselegante tem outras
desvantagens pois os dentes não são tão afiados como as lâminas de uma guilhotina ou
tesoura, assim, o corte será irregular; mais um "rasgo" do que um corte, e ficará com
tabaco na boca o que é muito desagradável.

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Acender o Charuto
Combustão lenta

Não me peçam para descrever os encantos do sonho ou o êxtase contemplativo em que


o fumo de um charuto nos mergulha.

Jules Sandeau

Acender um charuto e um ritual a que não faltam regras próprias.

A etiqueta da degustação do charuto sugere que homens e mulheres devem acender os


charutos de formas diferentes, elegantes de acordo com a masculinidade e a
feminilidade dos pares; no caso das mulheres primeiro deve aquecer-se a ponta,
mantendo-a a conveniente distância da chama, levemente inclinado para se obter um
aquecimento uniforme e só então levá-lo à boca para que a sucção forme a brasa.

Aos homens é permitido acender o charuto diretamente na boca, fazendo a sucção


enquanto a chama permanece, porém a forma de acender, com a chama a distância
conveniente do charuto, prevalece.
Se a chama encostar no charuto irá queimar o tabaco e as folhas externas ao ponto de
carvão e isto estragará o charuto pois alterará o seu paladar por toda a degustação.
Utilize um acessório correto para acender seu charuto. Um isqueiro apropriado ou
fósforos longos. O combustível que produz a chama pode passar aromas estranhos para
o charuto. Quando a brasa começar a pegar você pode levá-lo à boca ou soprar a parte
em brasa para certificar-se do acendimento correto.

Quanto maior o calibre de seu charuto mais tempo você levará para acendê-lo.

Há a possibilidade de que a queima ao longo da degustação aconteça de forma irregular,


ou seja, que um lado queime mais rápido que outro mesmo no caso de um correto
acendimento, fazendo com que a cinza fique com a base inclinada; se isto acontecer,
infelizmente não há o que fazer a menos que você repouse seu charuto para que ele
apague sozinho, corte a parte já degustada e acenda novamente, mas lembre-se:

Um charuto reacendido nunca será tão agradável como um charuto novo e, se possível,
não acenda novamente o mesmo charuto num evento social; você pode até guardá-lo
apropriadamente na seu porta charutos para posterior degustação em ambiente menos
formal.

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Quanto mais clara for a cinza, melhor o charuto. A cinza mais clara advém da queima
de magnésio, mineral ricamente encontrado nos melhores solos onde se planta o tabaco,
porém, muitos fabricantes de charutos de baixa ou mediana qualidade enriquecem suas
folhas de tabaco já colhidas com magnésio, garantindo, assim, uma boa aparência da
cinza. Um bom charuto de calibre maior poderá segura a cinza por até 3 cm de
comprimento.

Dê atenção à cinza e não a deixe cair sobre roupas ou pele pois ela é bastante quente e,
portanto, queima. Periodicamente bata o seu charuto sobre o cinzeiro, evitando que a
cinza ultrapasse os 2cm de comprimento. Se a cinza cair sobre a roupa, a sua, ou de
outra pessoa, não se preocupe, pois diferentemente do cigarro comum, o charuto é feito
somente de tabaco, sem papel ou outros agentes químicos, portanto sua cinza é somente
pó e vai sair com uma leve escovadela.

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Apagar o Charuto
O último acto

Aquele que não fuma, ou nunca conheceu grande pesar ou recusa a si mesmo o mais
doce dos consolos, só comparável ao que dimana dos céus.

E. G. Bulwer-lytton

Poderá sentir vontade de apagar o seu charuto ou ainda, outras pessoas por diversos
motivos podem solicitar a sua gentileza de apagar o seu habano no melhor momento de
sua degustação.

O seu Charuto apagará sozinho se você o deixar a repousar, no cinzeiro. A sua brasa ira
reduzir e ele irá apagar-se em cerca de 10 minutos. Claro que este tempo varia de
charuto para charuto.

Ao deixar que o seu charuto apague corretamente poderá utilizar a sua guilhotina,
cortador ou tesoura para cortar a parte queimada e a cinza, conservando o restante do
charuto para posterior degustação.

Não se preocupe, isto faz parte da etiqueta de fumar charuto. Apenas não conserve o
charuto que já foi parcialmente degustado junto a outros charutos novos, guarde-os de
forma apropriada, seja em caixa separada seja em outro porta charuto e fume-o depois.
Guardando-os em separado dos charutos novos garante-se que os aromas de charuto
queimado já degustado não adulterem as propriedades dos charutos novos,
prejudicando-os alterando seu gosto.

Evite apagar o charuto como se faz com cigarro, ou seja, apertando a parte em brasa
contra o cinzeiro ou, pior, jogando-o ao chão e pisando. Um charuto apagado
indevidamente exala um forte cheiro pior que o de cigarro apagado

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O fumador experimentado
Como maximizar o prazer

Saber fumar significa recuperar ritmos esquecidos, restabelecer a comunicação com o


nosso ser interior.

Zino Davidoff

E frequente comparar o acto de saborear um bom charuto com o de provar um vinho de


qualidade. Efectivamente, os fumadores experimentados usam a expressão “degustar” o
sabor do fumo. A analogia e adequada pois o prazer proporcionado pela complexidade e
casualidade das combinações de sabores do fumo de um charuto excepcional ou uma
refeição requintada. Mas, para ser devidamente apreciado, o acto de fumar um charuto
requer algumas regras e uma certa prática. A regra numero um e que os fumadores de
charutos nunca inalam o fumo. Limitam-se a mantê-lo na boca durante alguns deliciosos
momentos, para depois o expelirem e se deterem na sua contemplação. O fumo não e
um produto derivado, mas a verdadeira chave para o prazer. O sabor e o aroma do
charuto são transportados pelo fumo que entra e sai da boca do fumador, deixando ficar
o seu paladar a noz ou a madeira, intenso ou suave, terroso ou picante, muitas vezes
simplesmente sublime. Uma sensação que não se pode descrever com palavras mas
apenas com fumo, a mais efémera das substâncias.

Também não deve fumar de forma apressada, manter o equilíbrio deste dueto entre o
fumador e o charuto deve ser bem calculado. Quanto mais depressa fumar, menos
aprazível será a experiencia. Fumar como uma chaminé, não so e deselegante como
contrario ao objectivo de fumar um charuto. Alem disso puxar com demasiada
frequência sobreaquece o charuto, que adquirira então um sabor amargo.

Um charuto lentamente degustado pode proporcionar mais de 45 minutos de prazer,


sendo para isso conveniente manter a respectiva cabeça tão seca quanto possível. O que
implica não o manter na boca. Um charuto empapado, alem de uma aparência
repugnante, adquire um sabor desagradável.

Quando conseguir ser sensível as cambiantes do sabor, ira reparar que a primeira
metade do charuto e bem diferente da segunda. De facto, o paladar altera-se a medida
que o charuto vai diminuindo. O fumo ganha intensidade com a redução da quantidade
de tabaco, ate que atinge um ponto (diferente para cada charuto) em que o sabor muda e
não para melhor. A maior parte dos charutos atinge esse ponto depois de fumado 1/3 do
seu comprimento. Alguns fumadores experimentados preferem pousar o charuto antes
desse momento. A maior parte consegue aperceber-se quando o charuto já libertou a sua
verdadeira essência, sendo então que o pousam satisfeitos.

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