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É difícil saber como o lomi-lomi surgiu no Hawaíi e sem um longo estudo comparado entre
as técnicas de massagem havaianas e dos demais povos polinésios, debateremos isso a frente, é
impossível conhecer o que o torna único frente as práticas relaxantes do Pacífico sul.
Os povos originários da Hawaii fazem parte do grupo dos povos polinésios, um conjunto de
comunidades étnicas que ocuparam uma longa faixa de ilhas do pacífico. Essas populações, apesar
de ditas como primitivas, eram excelentes navegadores, guiavam-se pelas estrelas e tinham o mar
como um horizonte; permitindo uma disseminação por todo um conjunto de ilhas e territórios que
parte de partes da Ásia e da Oceania até mesmo o Brasil. Fazem partes desses povos os Maoris na
Nova Zelândia, os samoanos, os havaianos e os quase -infelizmente- extintos botocudos aqui no
Brasil também tem uma relação com esses conjunto de povos.
Então, quando nós falamos de polinésio é importante ter isso em mente. Polinésios são um
conjunto de povos, as vezes muito diferentes, e sem necessariamente uma relação direta entre si.
Um analogia seria entre italianos, portugueses, espanhóis e franceses. Todos eles são europeus, tem
uma língua parecida e as vezes costumes parecidos. Mas não são todos iguais.
Por quê isso é importante? O que sabemos é que alguns desses povos, não todos, tem entre
suas práticas terapêuticas formas de massagem e é provável que os primeiros havaianos já
conhecessem alguma prática similar a lomi-lomi. Como não temos acesso (seja pela ignorância de
uma literatura especializada ou ausência de pesquisas na área) a informações detalhadas sobre a
transmissão do conhecimento dentro do arquipélago estado-unidense trabalharemos com a
aproximação com povos de uma origem étnica similar, os samoanos, que também apresentam uma
prática de massagem chamada fofō.
Dentro das comunidades samoanas a prática da massagem incluísse no conjunto de práticas
terapêuticas voltadas a saúde. Para essas populações essas inúmeras terapias médicas eram
imbuídas de um fundo holístico, não só como um tratamento para o corpo mas com o objetivo de
controlar e expurgar os espíritos causadores de doença e restaurar as forças vitais. Muitas dessas
práticas, incluindo aqui a massagem, eram realizadas por membros capacitados da comunidade e
por vezes, transmitida de geração em geração ou com a formação de corporações específicas de
profissionais treinados em determinados ramos, como os com conhecimentos dos fitoterápicos
locais.
A prática do fofō era uma atividade masculina. Comumente passada de pai para filho mas
também hábil a ser ensinada a outros de fora do círculo doméstico. Apesar de não formarem
corporações de ofício, como outras práticas curativas, só podia ser exercida pro profissionais
capacitados para tal. Não seria de se estranhar que no Hawaii essa prática tenha sido preservada por
um profissional capacitado e treinado para tal sendo em seguida transmitida entre seus descendentes
de forma similar que ocorria com os samoanos. Sabemos que havia ordens de profissionais
especializados na sociedade havaiana chamados de Kahuna.
Kahuna é uma palavra havaíana que pode ter dois significados. De modo geral pensa-se
Kahuna como o sacerdote da religião tradicional havaíana, o interprete dos deuses. Mas além dos
Kahunas sacerdotais, propriamente ditos, eram também chamados de Kahuna os detentores de
saberes específicos como curandeiros, por exemplo. Sendo que, em maior ou menor grau, os
conhecimentos preservados por essa classe era sacralizado ou envolvia algum nível de dons
místicos pelos seus praticantes. Ao que tudo nos indica, na sociedade havaíana o lomo-lomi era um
dos conhecimentos preservados entre os kahuna e assim como os samoanos transmitido de geração
em geração, fundado em uma concepção holística provavelmente similar aos habitantes da ilha na
Oceânia.
Se não temos certeza como se desenvolveu lomi-lomi dentro do Havaí e o que torna especial
frente a práticas similares de outros povos polinésios, podemos saber um pouco sobre a prática dele
dentro do Hawaii até, pelo menos, o século XIX. Para tal é necessário ter em mente um pouco do
que é a sociedade havaiana antes da anexação pelos Estados Unidos e até mesmo antes da chegada
dos primeiros navegadores europeus. Além de um paraíso tropical, havia ali um conjunto de
sociedades hierárquicas ao entorno de pequenos chefes locais que formavam uma espécie de elite
sobre uma vasta camada de subordinados. Era reservado a essas lideranças regionais uma série de
privilégios em detrimento dos demais, para além dos poderes depositados em suas figuras. Eram
liberados do trabalho duro no campo, obtinham uma boa alimentação e etc. E entre os benefícios
reservados a essa aristocracia estava o lomi-lomi.
Notava-se para os primeiros navegadores europeus a beleza dos corpos dos havaianos, que
assim como a de outros grupos nativos do continente americano, causaram espanto aos pudores
europeus ao mesmo tempo que os fascinavam e seduziam. Não debateremos aqui os problemas
gerados por essa ideia de povos “exóticos” e “desavergonhados”, suavizando os adjetivos
inventados pelos colonizadores sobre essas populações, nos ateremos exclusivamente as práticas
estéticas nativas do pacífico sul e como eles enxergavam a si mesmos segundo o que transparece
das anotações dos navegadores.
Como dito, os nativos Hawaií chocaram os europeus com a sua beleza, mais belos que
qualquer outra população do polinésia naquele século XVIII. A beleza natural dos súditos contudo
esvanecia-se com o fim da juventude enquanto das elites mantinha-se intacta por longo tempo. Qual
era o truque dessa aristocracia? Os bons cuidados na infância, boa alimentação e exercícios físicos
rotineiros, um cuidado constante com a pele a besuntando com óleo de coco e o lomi-lomi. A
massagem aplicada sobre esteiras eram realizadas por horas enquanto os aristocratas dormiam
calmamente sob seu efeito relaxante.
Do século XIX ao XX
Bibliografia
Barendregt, Bart. Tropical spa cultures, eco-chic, and the complexities of new Asianism in
Cleanliness and Culture, Indonesian Histories. Ed. EES VAN DIJK and JEAN GELMAN TAYLOR.
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HOLMES, LOWELL D. TA'U: Stability and Change in a Samoan Village. The Journal of the
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KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos : das origens ao século XXI. São Paulo :
Contexto, 2007.
vídeos consultados:
https://www.youtube.com/watch?v=XK0vneF94HQ&t=495s