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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS DO
PONTAL – ICENP
Curso de Química

Físico-Química de Soluções e Eletroquímica - Experimental


Rosana Maria Nascimento de Assunção e Gilberto Brito

EXPERIMENTO 4: DETERMINAÇÃO DE VOLUMES MOLARES


PARCIAIS A PARTIR DE MEDIDAS DE DENSIDADE

Ana Laura Rodrigues Lemos 21811QMI010


Roberta Marcelino 21811QMI017

Ituiutaba-MG
Janeiro/2022
1. INTRODUÇÃO
O volume molar é definido como o volume ocupado por 1 mol de uma substância pura.
Por exemplo, o volume molar da água pura é 18 cm3/mol, conforme mostrado no cálculo
abaixo:
𝑽 𝒎 𝑴𝑴 𝟏𝟖 𝒈.𝒎𝒐𝒍ˉ¹ 𝒎 𝒎
Vm (H2O) = = . = = 18 cm3.mol-1, onde ρ = en=
𝒏 𝝆 𝒎 𝟏 𝒈.𝒄𝒎ᶟ 𝑽 𝑴𝑴
Assim, quando se adiciona 1 mol de água a um grande volume de água pura, há um
aumento de 18 cm3 no volume total. Porém, quando se adiciona 18 cm3 de água (1 mol) a um
grande volume de etanol puro, o aumento do volume total da mistura é de apenas 14 cm3. Isso
pode ser explicado porque o volume ocupado pelas moléculas de água adicionadas nos dois
casos depende das interações moleculares da mistura. As forças intermoleculares existentes na
solução são diferentes das existentes nos compostos puros, e o empacotamento das moléculas
na solução também é diferente que nos compostos puros. Assim, as moléculas de água cercadas
por moléculas de etanol se agrupam mais, ou seja, se retraem, ocupando um volume menor que
18 cm3, e o aumento de volume total causado pela adição de 1 mol de água, é de apenas 14 cm3.
Tornando essa grandeza no que se denomina volume parcial molar da água em etanol puro.
Ou seja, o volume parcial molar de uma substância em uma mistura é a variação de
volume da mistura para cada 1 mol desta substância adicionada à mistura. A definição formal
do volume parcial molar (Vi) de uma substância em uma determinada composição é:
𝝏𝑽
⩒ᵢ= (𝑬𝒒. 𝟏)
𝝏𝒏ᵢ
onde n, p e T, que indicam número de mols, pressão e temperatura, consecutivamente,
de todas as outras espécies presentes na mistura são constantes.
A Equação (1) nos diz que o volume parcial molar da substância “i” em uma mistura é
o coeficiente angular da curva do volume total da mistura em função do número de mols
de i adicionados à mistura, quando a pressão, temperatura e os números de mols dos demais
componentes permanecem constantes. Os volumes parciais molares dos componentes de uma
mistura variam com a composição, pois as vizinhanças de cada tipo de molécula se alteram à
medida que a composição muda. É esta modificação do ambiente de cada molécula e das suas
interações a causa das modificações das propriedades termodinâmicas de uma mistura em
função da composição.
Podemos escrever uma equação como a Equação (1) para qualquer propriedade
extensiva, como por exemplo, energia interna (U), entalpia (H), entropia (S), energia livre de
Gibbs (G), entre outras. Assim como o volume de uma solução, V, todas essas propriedades
apresentam a característica comum de variarem quando variamos a composição de uma mistura
a p e T constantes; e, portanto, também podem ser escritas como uma propriedade parcial
molar.
As variáveis termodinâmicas podem ser de dois tipos: extensivas ou intensivas. As
propriedades extensivas de uma fase são proporcionais à sua quantidade ou tamanho como, por
exemplo, as funções termodinâmicas: V, H, U, etc. Por outro lado, as propriedades intensivas
são independentes da quantidade ou tamanho da amostra, como por exemplo pressão (p) e
temperatura (T). Algumas propriedades intensivas são uma razão entre duas propriedades
extensivas. Por exemplo, a entalpia de vaporização molar da água é igual à entalpia de
vaporização medida para uma amostra de n mols de água, dividida pela quantidade, em mols,
de água na amostra:
𝜟𝑯
𝜟𝑯ₘ =
𝒏
A entalpia de vaporização molar de uma substância independe do tamanho da amostra,
porque quando a quantidade de matéria (n) dobra, o calor necessário para vaporizar a amostra
(H) também é dobrado.
Variáveis intensivas obtidas desta maneira tem um papel importante na termodinâmica
e são conhecidas como quantidades parciais molares, conforme discutido acima. As
propriedades parciais molares são definidas pela forma geral da Equação (1), que segue a
seguir:
𝝏𝑸
Ǭᵢ = (𝑬𝒒. 𝟐)
𝝏𝒏ᵢ
Na Equação (2), Q pode ser qualquer quantidade extensiva. Para uma fase de um
componente (substância pura), as quantidades parciais molares são idênticas às suas

quantidades molares, ou seja: .


Para uma mistura de gases ideais ou uma solução líquida, certas quantidades parciais

molares ( ) são iguais às suas quantidades molares dos componentes puros que

formam a mistura, enquanto outras não ( ). Para soluções não-ideais, todas as quantidades
parciais molares diferem, em geral, das suas quantidades molares correspondentes. Há grande
interesse em entender como as propriedades parciais de uma substância variam numa solução,
quando comparada com seu estado puro. Assim, é importante saber diferenciar as diferentes
propriedades quando nos referimos a uma solução, a um dos componentes da solução quando
puro ou em solução nas mesmas condições de temperatura (T) e pressão (p).

2. OBJETIVO
Determinar os volumes molares parciais dos componentes de uma mistura binária de
etanol e água.

3. MATERIAIS E REAGENTES
- 9 balões volumétricos de 25,0 mL.
- 2 buretas de 25,0 mL.
- Um termômetro (menor divisão da escala: 0,010°C).
- 1 picnômetro de volume nominal 10,0 mL.
- Acetona grau técnico para secagem.
- Etanol absoluto.
- Água destilada.
- Balança analítica.

4. PARTE EXPERIMENTAL
4.1 Cálculo do volume de água para preparo das soluções da Tabela 1.
Em primeiro momento, fez-se previamente o cálculo do volume aproximado de água
necessário para preparar as soluções que serão dispostas na Tabela 1 dos Resultados e
Discussões do presente relatório.
4.2 Preparação da mistura e cálculo de suas frações molares.
Em seguida, preparou-se as misturas e os realizou-se os cálculos de suas frações
molares, como será apresentado nos Resultados e Discussões do presente relatório. Após limpos
e secos, pesou-se com os 9 balões com suas respectivas tampas e numerou-se os mesmos de
acordo com os números dispostos na Tabela 2. Adicionou-se a quantidade de água calculada
para a solução XB = 0,10, pesou-se novamente o balão com a tampa e em seguida, adicionou-
se o volume previamente calculado de etanol, repetindo também a pesagem. Fez-se o mesmo
procedimento para os 9 balões.
4.3 Cálculo da densidade dos componentes puros: Medida do volume do
picnômetro.
Verificou-se se o picnômetro estava limpo e seco, não permitindo a presença de bolhas
no momento de preenche-lo. Manteve-se, também, a mesma temperatura em todas as soluções
que seriam transferidas para o picnômetro.
Em seguida, pesou-se o picnômetro vazio, para que possamos posteriormente calcular a
massa da solução que será transferida para o mesmo. Pesou-se também, o picnômetro somente
com a água, mediu-se a temperatura e anotou-se. Após, descartou-se a água e com a ajuda da
acetona, secou-se a vidraria.
Determinou-se o volume exato de água presente no picnômetro de acordo com os dados
de densidade da água presente na Tabela 3, disposta nos Resultados e Discussões deste relatório.
Por fim, foi determinada a densidade dos componentes puros e das soluções utilizando
os dados adquiridos durante a realização deste experimento e dispôs-se os resultados obtidos
na Tabela 4 dos Resultados e Discussões.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para obter o volume de água e de etanol necessário para preparar as misturas no balão
volumétrico de 25mL, foi realizado cálculos prévios, considerando uma mistura ideal, através
das equações a seguir.
25𝑋𝑎𝑑𝑏𝑀𝑎
Xa+ Xb = 1 => Xa= 1-Xb Va =
𝑋𝑎𝑑𝑏𝑀𝑎+(1−𝑋𝑎)𝑑𝑎𝑀𝑏

Vb = 25 – Va
Os valores calculados estão dispostos na Tabela 1.

Tabela 1. Volumes e frações molares das soluções de etanol e água


Número XB XA VA VB
1 0,1 0,9 18,52 6,48
2 0,2 0,8 13,99 11,01
3 0,3 0,7 10,64 14,36
4 0,4 0,6 8,07 16,93
5 0,5 0,5 6,03 18,97
6 0,6 0,4 4,37 20,63
7 0,7 0,3 2,99 22
8 0,8 0,2 1,84 23,16
9 0,9 0,1 0,85 24,15
XA- Fração molar água XB- Fração molar etanol VA- Volume de água VB- Volume
de etanol.

A Tabela 2 contém as pesagens dos balões preenchidos com os volumes calculados de


água e etanol para que pudesse determinar o valor da fração molar de etanol corrigida.

Tabela 2. Cálculo fração molar corrigida

M0- Massa balão volumétrico vazio mA – Massa da água mB – Massa do etanol nA –


Molaridade água nB- Molaridade etanol Xb – Fração molar real do etanol.

O valor de Xb foi calculado através da razão entre o número de mols de etanol pela
somatória da molaridade de água e etanol.
𝑛𝐵
Xb = 𝑛𝐵+𝑛𝐴

No procedimento 4.3, referente ao picnômetro, a fração molar de etanol (Xb), se


mantém, apesar das vidrarias terem volumes diferentes, pois a fração molar trata-se de
quantidade de matéria, com isso o volume das mesmas não interfere nessa grandeza.
Para determinar a densidade da mistura de etanol e água transferida do balão
volumétrico para o picnômetro, foi necessário primeiramente determinar o volume exato do
picnômetro. Para isso, pesou-se o picnômetro vazio obtendo uma massa de 13,1011g e depois
pesou-se novamente com ele preenchido de água, obtendo uma massa de 29,6870g.
Para obter a massa da água fez-se a subtração entre a massa da vidraria vazia e dela com
água, obtendo uma massa de 16,5859g. Foi necessário medir a temperatura da água, que no dia
estava a 28°C, para encontrar o valor tabelado de densidade da água nessa temperatura
(0,9962365 g. cm-3) e substituir esse valor na formula de densidade, juntamente com a massa
de água no picnômetro, para achar o volume real do picnômetro.
16,5859𝑔
Vpicnômetro = = 16,6485 mL
0,9962365𝑔/𝑐𝑚^3

Tabela 3. Cálculo de densidade e volumes molares

M média* - massa média Vm* - volume médio

O valor da fração molar de Xa foi calculada subtraindo 1 de Xb e a massa e volume


médios foram calculados a partir das formulas seguintes:
M média = XaMa + (1-Xa). Mb
𝑀 𝑚é𝑑𝑖𝑎
Vm =
𝑑𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 (𝜌)

Através dos valores de densidade e fração molar de etanol da Tabela 3, foi construído o
Gráfico 1, que apresenta uma leve curva e é capaz de fornecer a equação que auxiliará na
obtenção da composição de qualquer outra mistura de etanol e água com densidade diferente
das encontradas nesse experimento.

Gráfico 1 – Densidade em função da fração molar de etanol

0,75
y = -0,1596x + 0,7426
0,7
Densidade (g.cm-3)

0,65

0,6

0,55

0,5
0,0000 0,2000 0,4000 0,6000 0,8000 1,0000
Xb (fração molar etanol)
Substituindo Y da equação pela densidade fornecida 0,8765 g.cm-3 temos que x é igual
a 0,84 que corresponde a fração molar de etanol, portanto xa = 1-0,84 = 0,16.
O Gráfico 2 fornece informações sobre o volume parcial molar da mistura, que são
representados na Tabela 3 como Vm, em função da fração molar de etanol.

Gráfico 2 – Volume molar parcial médio em função da fração molar de etanol.

80,000
y = 54,18x + 22,121
70,000
Vmolar médio(mol.cm-3)

R² = 0,9993
60,000

50,000

40,000

30,000

20,000

10,000
0,160 0,260 0,360 0,460 0,560 0,660 0,760 0,860 0,960
Xb ( fração molar etanol)

Manipulando o Gráfico 2, através do método da tangente, a disposição da reta é


modificada de acordo com a intersecção desejada para determinar o volume parcial molar
médio das substancias puras, que será apresentado no Gráfico 3.

Gráfico 3- Método da tangente

80,000

70,000
Vmolar médio(mol.cm-3)

60,000

50,000

40,000

30,000

20,000

10,000
0,160 0,260 0,360 0,460 0,560 0,660 0,760 0,860 0,960
Xb ( fração molar etanol)
No Gráfico 3 foi feita uma intersecção da reta em Xb= 0 para saber qual o volume parcial
molar da água pura e o valor observado é o que se encontra próximo do primeiro ponto do
gráfico, indicado em aproximadamente 11 mol.cm-3.
Para obter o volume parcial médio do etanol foi feita a intersecção em X b = 1 e como
não houve grande mudança na reta, foi representado também pelo Gráfico 3, porém analisando
o último ponto, obtendo o valor de aproximadamente 80 mol.cm-3.
Obtendo os valores de volume parcial molar pelo Gráfico 3 foi possível calcular o valor
de densidade da água e do etanol puro.
𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑚é𝑑𝑖𝑎 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑚é𝑑𝑖𝑎
Volume molar parcial médio = => V médio =
𝑑𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑉 𝑚é𝑑𝑖𝑜
𝑋𝑎𝑀𝑎+𝑋𝑏𝑀𝑏
=> 𝑑𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒

1 𝑥 18,01528 𝑔/𝑚𝑜𝑙 +0 𝑥 46,07𝑔/𝑚𝑜𝑙


ρ H2O = = 1,6377 g.cm-3 de água
11𝑚𝑜𝑙/𝑐𝑚^3
0 𝑥 18,01528 𝑔/𝑚𝑜𝑙 +1 𝑥 46,07𝑔/𝑚𝑜𝑙
ρ etanol = = 0,5759 g.cm-3 de etanol
80𝑚𝑜𝑙/𝑐𝑚^3

Obtendo os valores de densidade das substancias puras pode-se calcular o volume de


excesso através da formula:
1 1 1 1
Volume excesso = XaMa( - ) + XbMb ( - )
𝜌𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎 𝜌𝐻20 𝜌𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎 𝜌𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜𝑙

Tabela 4. Comparações entre volumes ideais e reais


Volume ideal Volume excesso Volume real
25 8,7510 33,7510
25 8,6122 33,6122
25 6,9387 31,9387
25 -0,1238 24,8762
25 3,4636 28,4636
25 1,6145 26,6145
24,99 0,7083 25,6983
25 -0,3451 24,6549
25 -1,6904 23,3096
O valor real = Volume excesso + Volume ideal
Observa-se que o volume ideal é a soma dos volumes de água e etanol calculados na
Tabela 1 e se comparados com os volumes reais, nota-se que as misturas não são ideais, devido
as interações intermoleculares da água e do etanol.
Com os valores de volume de excesso foi plotado o Gráfico 4 que relaciona os volumes
de excesso com a fração molar de etanol.

Gráfico 4- Volume de excesso em função de fração molar de etanol


10,0000

8,0000

6,0000
Volume de Excesso

4,0000

2,0000

0,0000
0,0000 0,1000 0,2000 0,3000 0,4000 0,5000 0,6000 0,7000 0,8000 0,9000 1,0000
-2,0000

-4,0000
X etanol

Comprando o Gráfico 4 com o Gráfico 2 percebe-se que em aproximadamente Xb = 0,9


a mistura tem um comportamento semelhante ao de mistura ideal, pois é nesse ponto em que o
volume de excesso é menor e no Gráfico 2 ele está em cima da reta.

6. CONCLUSÃO
Os procedimentos envolvendo a mistura de etanol e água no balão volumétrico foram
cruciais para a determinação das frações molares reais de etanol e a partir dela encontrar a de
água e utilizar esses valores para determinação da densidade da mistura no picnômetro e das
substancias puras, usando o método da tangente. Através dos valores de volume de excesso foi
possível calcular o volume real e determinar que a mistura não tem comportamento ideal, já
que os volumes reais não totalizam 25mL como esperado.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- CONSTANTINO, M.G., SILVA, G.V.J. DADONATE, P. M. Fundamentos de
Química Experimental. São Paulo: Edusp, 2004. - ATKINS, P.W., JONES, L. Princípios de
Química: Questionando a vida moderna e o meio ambiente. Porto Alegre: ed. Bookman, 2001.
- Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC. Físico-Química Experimental –
Exp 02. UDESC Oficial, 2015. Disponível em: https://azkurs.org/volume-parcial-molar-
introduco.html. Acesso em: 28 de janeiro de 2022.

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