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3ª Aula

Relações Humanas no Trabalho em Saúde e em Enfermagem

Objetivo

Reconhecer a importância das relações interpessoais no processo de trabalho em saúde e em


enfermagem.

Objetivos Específicos Conteúdos Método

I.1- Analisar aspectos de relações interpessoais que interferem no trabalho em saúde e em


enfermagem.

Conteúdo
1- Relações interpessoais
1.1- Comunicação
• Verbal
• Não verbal
1.2- Liderança
1.3- Motivação
1.4- Trabalho em equipe
2. Relações humanas no trabalho em saúde e em enfermagem

Método
1- Participação em dinâmica de Tribunal de Júri, envolvendo situações vivenciadas pela equipe
de saúde e de enfermagem relativas a questões de relacionamento interpessoal.

2- Debate sobre aspectos de relações interpessoais que impactam nas relações de trabalho e
na qualidade da atenção. Destaque para aspectos individuais, relativos a questões
pessoais/psicológicas e aspectos situacionais, relativos ao ambiente e condições de trabalho,
considerando-se ainda o contexto social, político e econômico.

3- Debate sobre a importância da comunicação nas relações interpessoais e sobre estratégias


que favorecem a comunicação entre as pessoas no processo de trabalho. Destaque para o
papel do supervisor/gestor neste processo.

4- Leitura e discussão do texto: O Trabalho em Saúde e as Relações Interpessoais.

5- Pesquisa junto aos trabalhadores em seu local de trabalho sobre fatores que causam
desmotivação e/ ou dificuldades relativas a relações interpessoais.

6- Trabalho em grupos com propostas de estratégias para ser implementadas em seu local de
trabalho com vistas à superação das eventuais dificuldades levantadas.

Trabalho em Saúde e as Relações Interpessoais

O relacionamento entre as pessoas ocorre desde que surgiu a humanidade, de vários modos e
em circunstâncias diversas. Interagimos com tudo e todos a nossa volta; interferimos no meio,
sendo, ao mesmo tempo, agentes de mudança e seres em constante modificação. Essas
relações permeiam o dia a dia por meio de um processo comunicativo complexo e muitos
detalhes devem ser percebidos para que ocorra uma verdadeira compreensão. O processo de
comunicação pode ocorrer de forma tanto consciente como inconsciente, seja para a pessoa
que emite ou para aquela que recebe a mensagem. Quando falamos das relações interpessoais
na área da saúde, estamos nos referindo à equipe de enfermagem, aos clientes e suas famílias,
à equipe multiprofissional e à comunidade. Todos simultaneamente, emitindo e captando
mensagens e interpretando-as de diversas maneiras. É especialmente precioso nesse contexto,
onde está inserido o técnico de enfermagem, que a informação enviada seja clara e
compreensível para todos, sem lacunas ou distorções no entendimento. Há muitos exemplos
de situações em que cada segundo é valioso para a manutenção da vida e a importância da
comunicação clara. Quando, por exemplo, alguém escuta dentro de um hospital: “Parada!”, já
está implícito que este é um chamado emergencial para a equipe atender alguém que está em
parada cardiorrespiratória, não devendo, portanto, ocorrer perda de tempo entre o
entendimento do código e a ação de levar o material de emergência e prestar o devido
atendimento. Nesse caso, em uma palavra resumem-se todas as ações que deverão ser
realizadas com prontidão, a mensagem é objetiva e não deixa dúvidas. Mas não é só no
estabelecimento de mensagens claras, de códigos sabidamente conhecidos, que o processo
comunicativo se resume.

O sucesso do trabalho no dia a dia dependerá de como tem sido mantida a “saúde” dessas
relações profissionais. Quando acontece um esforço mútuo para uma comunicação clara e
efetiva e as pessoas encontram-se empenhadas em aprimorar-se nesse assunto, o respeito e a
credibilidade necessários são fortalecidos e o trabalho, mais bem desenvolvido. Assim, os
desafios e os obstáculos diários podem ser enfrentados com maior entendimento e
compreensão. O exame minucioso do comportamento comunicativo é imprescindível, pois
quando este se apresenta deficiente promove divergências nos relacionamentos interpessoais
que se refletirão na organização do local de trabalho. Desse modo, ocorrerão tensões,
resistências a novas ideias e propostas e distanciamento entre as pessoas. Isso resulta em
prejuízo na organização do trabalho, na sua eficiência e produtividade. (BALSANELLI, 2006).
Comunicar-se, portanto, é essencial.

Comunicação Para SILVA (2002), comunicar é o processo de transmitir e receber mensagens


por meio de signos, sejam eles símbolos ou sinais. Precisamos da comunicação para ter
condições de compreender a realidade a nossa volta, manter contato com o outro e promover
modificações neste e em si mesmo.

É importante ressaltar que na comunicação estão presentes vários elementos:

• local e situação em que a mensagem será transmitida;

• pessoas para a emitir e receber;

• forma que esta será veiculada.

Um fator importante nessa troca de informações é o entrosamento entre as pessoas, pois as


barreiras de defesa pessoais ou de uma equipe influenciam de forma importante a
compreensão daquilo que se quer transmitir.

As informações veiculam como códigos e quando a mensagem chega ao destino elas precisam
ser decodificadas adequadamente. SILVA (2002) descreve quatro tipos de códigos utilizados no
processo comunicativo:

1. comportamentais: uso de movimentos do próprio corpo como expressão


2. artefatuais: uso de artefatos como objetos, adornos, vestimentas;
3. espaço-temporais: posicionamento de um indivíduo num dado local, ou uso da cadência
de uma música;
4. mediatórios: utilização de métodos gráficos, escrita. Para que verdadeiramente haja
comunicação entre pessoas, alguns componentes são essenciais. Se fizermos uma
5. analogia e compararmos o processo comunicativo a uma peça teatral no momento da
encenação, será imprescindível ter:
• um cenário e palco (locais onde a mensagem é transmitida), que fornecem muitas
informações, como a época e o lugar; as pessoas que se comunicarão, ou seja, personagens e
público;
• mensagens, que são as emoções e informações transmitidas entre os atores. Essas
mensagens são acompanhadas dos signos. Esses signos poderão ser notados e
comparados, por exemplo, numa peça na qual há um rei e um nobre contracenando no
palco, estando o primeiro vestido com roupas elegantes e uma coroa, o que o identifica
como rei.

O símbolo – a coroa – tem seu significado único e claro. O outro personagem usa uma
roupa elegante da época, mas no seu traje não há uma informação específica (não tem
significado único). O tipo de roupa – sinal – mostra que se trata de um nobre (a
vestimenta pode ter vários significados, porém não indica, por exemplo, qual título de
nobreza ele possui).
Nesse processo comunicativo, ainda falta um elemento importante que é a forma pela
qual a mensagem será transmitida, podendo ser utilizados a linguagem, as palavras
escritas, a expressão corporal e facial, os objetos e outros. Utilizando a mesma analogia
para ilustrar as diferentes maneiras de comunicação, se na peça estiver acontecendo um
encontro amigável entre o rei e o nobre, eles tanto poderão estar se comunicando apenas
com um sorriso ou pelo diálogo.

Essas maneiras de transmissão das mensagens são as diferentes formas de comunicação,


que podem ser distinguidas em: verbal e não verbal.

É importante observar algumas técnicas que auxiliarão na comunicação. Na comunicação


verbal, em que o homem se expressa como ser social, é preciso entender que existem três
aspectos basicamente essenciais: expressão, clarificação e validação.

Quanto à expressão, é relevante saber ouvir, evitando falar em demasia, demonstrando


interesse pelo que o outro está dizendo. Exemplificando: durante a exposição de um fato
que esteja sendo narrada por um dos membros da equipe, ou pelo paciente, é crucial
saber escutar e estimular verbalmente para que o orador perceba que está causando
interesse e recebendo atenção. Pode-se encorajar a pessoa a prosseguir naquilo que está
dizendo.

Na clarificação, seja de uma orientação que o cliente, funcionário ou outro membro da


equipe multidisciplinar precise compreender, podem-se usar métodos de comparação,
dizendo: “É parecido com...”, lembrando de utilizar nessa comparação termos e situações
conhecidas dessas pessoas, além de perguntar sobre suas impressões sobre o assunto, a
fim de que ela possa ir completando o raciocínio. Tirar suas dúvidas, esclarecendo termos
complexos.
Para validar se a mensagem foi realmente compreendida, é importante que ela seja
novamente dita e na repetição reforçar os pontos principais. Outro recurso é solicitar que
a própria pessoa repita o que foi dito.
No ambiente de trabalho, o técnico de enfermagem precisa atentar para o uso dessa
prática simples, que pode evitar erros graves e também grandes conflitos. Reforçar
positivamente com um elogio sincero, além de contribuir para a construção de um bom
relacionamento interpessoal, é um facilitador do processo comunicativo. A comunicação
se aprofunda quando nos dispomos a demonstrar admiração pelo outro e permitir que
este também possa senti-la por nós, pois conduz a um ambiente harmônico, em que a
compreensão, nas mais diferentes situações, pode ser desenvolvida. A comunicação não
verbal é aquela que, talvez, exija mais aprendizado, no que diz respeito à sua
identificação, interpretação ou desenvolvimento. Seja no relacionamento com a equipe ou
com o cliente, é essencial a leitura dessa outra forma de expressão, cujos estudos
demonstram ser a parcela que mais dados fornece na transmissão e recepção da
mensagem. No homem esse tipo de comunicação é a manifestação do ser psicológico.

Os sinais presentes nesse tipo de comunicação provêm de:


• fatores do meio ambiente: lugar, com seus objetos, cores e outras peculiaridades;
• características físicas: nas quais a aparência do corpo emite, por exemplo, sinal sobre a
idade, se é alto, magro, modo de se vestir;
• da percepção pelo tato: tacêsica;
• da linguagem corporal: cinésica, manifestada por meio de gestos, expressões da face,
formas de olhar;
• da distância estabelecida entre os interlocutores: proxêmica, que, quanto mais curta,
demonstra maior proximidade no relacionamento;
• o uso de sons emitidos, que não pertençam ao vocabulário linguístico: paralinguagem,
com grande significado na comunicação não verbal, sob a forma de suspiro, entonação de
voz e outros. (SILVA, 2002).

Recordando o exemplo anteriormente citado (a peça teatral com o rei e o nobre),


imaginemos que a iluminação do palco e o som dos microfones estejam deficientes. É
certo que a comunicação ficará prejudicada porque as expressões faciais não poderão ser
observadas claramente, assim como as mudanças na entonação de voz e o entendimento
perfeito dos diálogos. Provavelmente os atores ficarão tensos, com receio de não estarem
sendo bem compreendidos, e isso pode se acentuar pela dificuldade em visualizar e
avaliar a reação do público. Muitas alterações poderão ocorrer quanto à interpretação
cênica e à compreensão por parte do público, devido às interferências na transmissão da
mensagem.
Analogamente ao que acontece num palco, também no trabalho na área da saúde é
crucial que se promova a remoção de todo e qualquer tipo de distúrbio que dificulte a
comunicação, altere o teor da mensagem e provoque erros e desavenças. Essas
interferências, que podem ocorrer em qualquer fase do processo, são chamadas de
ruídos.
Liderança
Para manter um ambiente harmônico, produtivo, com qualidade nos serviços e nas
relações, é necessário exercer com excelência a liderança.
Estudos sobre liderança reforçam que não é necessário a fama ou um cargo elevado para
que ela exista, mas que qualquer pessoa pode desenvolver esta capacidade. (FUNDAP,
2004).
Na área da saúde é primordial que haja liderança, e abordando mais especificamente a
enfermagem, em que está presente a arte do cuidar, é fundamental que a equipe tenha
alguém que se preocupe não só com a coordenação do trabalho em si mas também com
quem cuida. Precisa estar apto a resolver conflitos, agir com ética e com igualdade para
com todos, estabelecendo uma relação de confiança associada à motivação.
(BALSANENELLI, 2006).
Portanto, é relevante que esteja claro que só há liderança se houver consentimento de
quem é liderado. (FUNDAP, 2004).

Há dois tipos distintos de liderança: formal e informal.

Quando se trata de uma liderança formal, nem sempre essa pessoa consegue ser bom
líder.
Para se conseguir mudar o comportamento das pessoas, influenciando ideias e sua
maneira de agir, é preciso estar atento para formas de liderança que estão sendo
utilizadas para que isso se efetive. É importante refletir que uma liderança positiva e
duradoura baseia-se no respeito mútuo (deve-se perceber como se sente o liderado), na
justiça, na competência de suas ações, demonstrando segurança e valorizando os outros.
O trabalho é, assim, desempenhado com eficiência e criatividade, incentivando a troca de
ideias e levando em conta a opinião da equipe, além de delegar poder.
Muitas vezes observamos outra forma de liderar, na qual é esperada submissão dos
liderados, fiscalizando, ameaçando ou ainda manipulando por meio do oferecimento de
vantagens e reforçando a possibilidade de recompensa. Há, nesses casos, centralização do
poder. (FUNDAP, 2004).

Existem várias formas de se exercer a liderança, podendo ser (FUNDAP, 2004):


• autoritária, em que o gestor tem como foco a orientação das tarefas e faz uso de sua
autoridade. Nesse modelo o líder pode decidir sozinho e comunicar aos outros sua
deliberação, induzir a decisão ou ainda permitir a participação, mas, ao final, o que vai
prevalecer é sua opinião.
• democrática, na qual há orientação para as pessoas e participação efetiva do grupo. O
líder permite e estimula que todos se manifestem, leva em conta as sugestões e considera
as decisões do grupo até onde possibilitam os níveis da instituição.

A forma de liderança exercida dependerá das características pessoais do líder, da


instituição que este trabalha, assim como do tipo de trabalho, grau de maturidade do
grupo e seu tamanho.

Para BERTELLI (2004), nas instituições de modo geral enfatiza-se a importância de ter
pessoas que trabalhem compartilhando riscos, tendo uma visão e desenvolvimento
contínuo. Acrescido a isso é preciso que este líder seja um empreendedor, conseguindo
gerar inovação, reação rápida para desencadear as mudanças necessárias e capacidade de
se adaptar. Essa capacidade de adaptar-se a novas situações, apesar das adversidades
vividas, também é conhecida como resiliência. Faz parte do papel de quem está na gestão
identificar essa capacidade do indivíduo e usá-la como auxílio para o seu
desenvolvimento.
Outro aspecto importante, no ambiente de trabalho, a qual o técnico em enfermagem
deve estar atento, é a tomada de decisão. QUIM, R. E. et al. citam Lawler (1986, 1992),
que menciona duas abordagens que poderão ser utilizadas por quem está na gestão: a
tomada de decisão “centrada no controle” e a “centrada no envolvimento”. Isso significa
que há casos nos quais a decisão é tomada por quem está liderando formalmente, e só
depois é comunicada aos outros membros; e há outras situações em que a deliberação é
participativa e há envolvimento de todos, no sentido de opinar e decidir.
Existem vantagens e desvantagens nas duas situações. De modo geral, os prós para
quando há envolvimento no processo decisório são: maior compromisso dos funcionários
no que se refere à aplicação da decisão tomada, com maior compartilhamento do
conhecimento, maior facilidade em identificar obstáculos e sugerir soluções e colaboração
para o desenvolvimento dos funcionários. As desvantagens são de que levam mais tempo
para chegar a um consenso sobre a decisão a tomar e nem sempre há uma capacitação
geral do grupo para isso. (QUIM et AL., 2003).

Motivação
E quando se fala de pessoas é preciso falar de motivação. Mas o que isto significa?
Já é sabido que a motivação está associada à satisfação das necessidades, que podem se
apresentar em diferentes níveis, variando de acordo com o estilo de vida da pessoa, sua
personalidade, idade, profissão e outros. As teorias, neste assunto, relacionam as
necessidades e a motivação. Afirmam que a própria pessoa é responsável pela sua
motivação, apesar dos estímulos externos, e que precisa estar com suas necessidades
satisfeitas para isso. Os estímulos adequados para “despertar” alguém e fazê-lo sentir-se
motivado devem ser no sentido de gerar uma nova necessidade, algo que internamente o
estimule a buscar incentivo. É necessário, entretanto, saber como acontece o processo da
motivação, desenvolver habilidades específicas e principalmente conhecer, compreender
e perceber como se sente esta pessoa que necessita ser estimulada. (FUNDAP, 2004).
KRON e GRAY (1994) apontam para o fato de que não se deve ter esta visão sobre a
satisfação das necessidades humanas básicas apenas para os pacientes e sim lembrar que
as pessoas que fazem parte do nosso trabalho também precisam ter suas necessidades
supridas. Atenta, ainda, para a interferência das respostas emocionais nas relações
interpessoais, em que aponta o prazer, a alegria e o entusiasmo ligados às necessidades
básicas satisfeitas, em contraponto com a não satisfação destas gerando estresse e estafa,
deixando a irritabilidade e a ansiedade afetarem essas relações.
Dentre muitas teorias que falam sobre motivação, citaremos a de Maslow, a de David
McClelland e David Burnhan e a de Ruy Mattos. Elas podem contribuir para analisar o
comportamento das pessoas no local de trabalho e também ser fonte de
autoconhecimento. (FUNDAP, 2004).

• A teoria de Maslow (1908-1970), pesquisador norte-americano do comportamento


humano, cuja teoria recebeu o nome de Hierarquia das Necessidades, representada por
uma pirâmide que ilustra as necessidades divididas em cinco grupos: fisiológicas – ligadas
à subsistência e sobrevivência, segurança – ,emprego, moradia, proteção contra riscos,
sociais – amizade, amor, afeto, etc., estima – autoconfiança, consideração, valorização
pessoal, reconhecimento, etc., e autorrealização – plenitude de sua realização pessoal.
Esta teoria pressupõe que enquanto a necessidade mais básica não for satisfeita, seguindo
a ordem descrita, o indivíduo não tem motivação para outra, que se encontra num nível
acima. Toda motivação está concentrada em resolver a necessidade daquele momento.
Maslow ainda salienta que, quando a pessoa satisfaz esta necessidade, a motivação perde
a força. (FUNDAP, 2004).
• Outra teoria muito utilizada é a de David McClelland e David Burnhan, que, baseada na
teoria de Maslow, classifica as pessoas como pertencentes a uma das três categorias,
mostrando onde se encontra a motivação de cada uma. As categorias são: realização –
pessoas que optam por metas desafiadoras, procuram desenvolver-se e consideram as
metas mais do que recompensas; filiação – aquelas que buscam o bem comum e o
reconhecimento, dando maior valor aos relacionamentos e às amizades e poder – as que
dão importância ao uso do poder, visando ao controle de pessoas e do ambiente.
(FUNDAP, 2004).

• A teoria de Ruy Mattos está voltada para os valores pessoais. O ser humano se
encaixaria numa das quatro fontes existenciais de motivação: o ser – pessoas que
procuram ser cada vez melhores porque almejam encontrar o sentido da vida; buscam a
autorrealização; ter – as que almejam acumular e adquirir bens materiais; saber – seres
racionais, voltados para o conhecimento científico; e poder – pessoas direcionadas para o
domínio sobre os outros. Mattos não está de acordo com Maslow quando este considera
que as necessidades,de todos os níveis, perdem sua influência motivadora quando
saciadas. Segundo Mattos, isto é válido apenas para as necessidades básicas (fisiológicas e
de segurança), pois as outras seriam insaciáveis no ser humano, sofrendo, somente,
períodos de adormecimento. (FUNDAP, 2004).

Exercer a gestão de pessoas, portanto, exige o desenvolvimento de muitas habilidades e


conhecimento. Visa à realização da missão proposta pela instituição, por meio do alcance
dos objetivos traçados, que serão conquistados se as pessoas que trabalham juntas
estiverem motivadas e treinadas. A liderança deve desenvolver, com respeito e ética, o
melhor do potencial de cada um, a fim de que todos possam estar envolvidos numa
melhor e crescente qualidade de trabalho. Espera-se, com isso, um enfrentamento
positivo diante das mudanças que se fizerem necessárias. (BERTELLI, 2004).

Porém, mudanças nem sempre são bem aceitas por todos. As pessoas têm diferentes
pontos de vista, assim como também divergem quanto aos seus interesses, objetivos e
necessidades. (FUNDAP, 2004). Quando isso ocorre podem surgir conflitos que sempre
deverão ser enfrentados, visando a uma solução satisfatória a todos os envolvidos.

Manejo de conflitos

Os conflitos podem ser internos, nos quais a pessoa está em discórdia com ela mesma,
afetando sua relação intrapessoal; ou externo, nas relações interpessoais. Essas relações
podem ter desde uma pequena abrangência (duas pessoas do mesmo turno de trabalho);
acontecer entre equipes ou até mesmo ocorrer entre grandes organizações. ( BERTELLI,
2004).

O técnico de enfermagem precisa estar ciente que se o conflito não for administrado de
forma adequada pode ser causa de grandes danos aos objetivos a ser alcançados, fazendo
com que as pessoas vivam num clima de tensão, prejudiquem a produtividade e a
qualidade no desempenho de suas funções, além do desgaste emocional e nas relações
interpessoais. (GALVÃO, 2000).
Além disso, estas discórdias apresentam nuances que os diferenciam em níveis diferentes:
• conflito percebido – percepção por meio da comunicação não verbal; sensações;
• conflito experienciado – boicotes e vivências desagradáveis;
• conflito manifestado – declarado. (BERTELLI, 2004).
BERTELLI, S. B. (2004) descreve ainda cinco maneiras de se administrar conflitos: o estilo
da evitação – em que é evitado o conflito, não há confronto, mas também não há alcance
dos objetivos em ambos os lados; estilo de acomodação – há suavização da situação na
tentativa de harmonizá-la, mas a causa do conflito é ignorada; estilo competitivo – uso da
autoridade por uma das partes, sendo que esta ganha e a outra perde; estilo de
compromisso – busca soluções baseadas na cooperação, a fim de evitar futuros conflitos;
e estilo de colaboração – beneficia ambas as partes, reconciliando e reduzindo as
diferenças, sendo o mais apropriado.
Ao se administrar adequadamente os conflitos, nota-se melhoria no clima organizacional,
com bons desempenhos e favorecimento do alcance coletivo no que se refere às metas e
objetivos.
Outro assunto relevante para o conhecimento do técnico de enfermagem é a negociação.

Segundo BERTELLI, S. B. (2004), processos da negociação incluem as etapas de:


1. preparação e planejamento, que consiste nos dados sobre o conflito – natureza e
história; as pessoas envolvidas e quais as suas perspectivas. Nesta fase é realizado o
MAPAN (Melhor Alternativa Para um Acordo Negociado);
2. definição das regras básicas, é definir quem fará o quê; quando, como e onde será
realizado e o prazo;
3. justificação e esclarecimento dos fatos;
4. barganha e solução do problema, que é a troca propriamente dita;
5. fechamento e implementação, é quando o contrato formal é estabelecido e o negócio,
concluído.

BERTELLI, S. B. (2004) também ressalta que se deve, no início, ter uma postura positiva,
focar o problema em si e não nas pessoas, não dar tanta importância às primeiras ofertas,
mas gerar confiança entre as partes, valorizando as soluções que serão vantajosas para
todos.

Durante o processo da negociação, o técnico de enfermagem precisa estar atento sobre


variáveis que farão a grande diferença quando se almeja uma solução benéfica e
vantajosa para todos. É importante perceber fatores que interferem diretamente neste
processo como a cultura, as personalidades, as diferenças de condutas tomadas por
homens e mulheres e quando há necessidade da presença de um mediador.

QUIM, R. E. et al. (2003) ressaltam a importância do diálogo, enfatizando que este só será
mantido se houver para ambas as partes o mesmo objetivo, respeito e entendimento. Os
pontos de vista também deverão ser compartilhados.

Trabalho em Equipe

Após tantos assuntos relevantes, abordaremos o trabalho em equipe, pois sabemos que
este é essencial na área da saúde e principalmente na enfermagem. Fazer parte de uma
equipe deve ser motivador, pois várias pessoas precisam estar unidas para o alcance de
um objetivo comum. Portanto, segundo QUIM et al. (2003), o que caracteriza uma equipe
é:
• comprometimento com a mesma meta e propósito;
• papéis e responsabilidades bem definidas e interdependentes a fim de não gerar
conflitos;
• boa comunicação para o intercâmbio de informações;
• a equipe deve compartilhar o que está fazendo, demonstrando compromisso.
• a equipe de trabalho precisa se conhecer bem para executar com competência e
harmonia as tarefas e conquistar os objetivos.

Elas podem estar em vários estágios de desenvolvimento, como no estágio da


organização, o da interdependência do grupo e finalmente o estágio no qual já pode ser
feita uma avaliação de todo o trabalho que foi feito conjuntamente. (QUIM, 2003).

A satisfação de uma conquista coletiva é gratificante, melhora a autoestima e motiva o


grupo, impulsiona para metas mais ousadas, potencializa os conhecimentos e habilidades.

Enfim, todos os profissionais da saúde e, dentre estes, o técnico de enfermagem precisam


capacitar-se para desenvolver uma boa comunicação e formar uma equipe motivada.
Superar adversidades e descobrir o inesgotável potencial humano presente dentro de
cada um são fundamentais para prestar um atendimento digno e de qualidade ao
paciente.

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