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Frei Luís de Sousa

A obra Frei Luís de Sousa foi escrita por Almeida Garrett e representa ambos os géneros
dramáticos: tragédia clássica e drama romântico. No primeiro caso, porque envolve uma
catástrofe, simplicidade e índole. No segundo caso, porque é utilizada linguagem dramática, a
composição é em prosa e existe o objetivo de ensinar algo.

Almeida Garrett baseou-se na sua vida pessoal para escrever este drama, tendo em conta a
situação íntima e socialmente insustentável que fora criada pelas imposições da Igreja católica.
Por outro lado, o drama também tem em conta o lado histórico de Portugal e das
consequentes relações que neste tempo se estabeleceram ou existiram.

Estrutura Interna e Externa, respetivamente:

1. Exposição/ Ato I, cenas 1-2 – representação do conflito e dos seus antecedentes

2. Conflito/ Ato I, cena 3 até Ato III, cena 9 – evoluir do conflito e clímax

3. Desenlace – Ato III, cenas 10-12 – resolução do conflito e catástrofe

A mudança de atos deve-se a alterações de cenário e a mudança de cenas deve-se à entrada


ou saída de personagens.

ATO I
Cena 1

 Inicia-se no fim da tarde, com Madalena


 Madalena encontra-se sentada, a ler repetidamente um excerto d’Os Lusíadas, relativo
a Inês de Castro
 Madalena pensa na sua felicidade e no facto de a ter mas de não usufruir dela, devido
ao seu medo, em semelhança ao que aconteceu com Inês de Castro

Cena 2

 Telmo entre e começa a falar com Madalena sobre o seu marido, Sr. Manuel de Sousa
Coutinho e, mais tarde, sobre a filha do casal: Maria
 Maria tem 13 anos (número do azar) e cresceu demais, tornando-se numa
personagem fora do contexto temporal e numa pessoa frágil, débil
 Telmo diz que Maria é um anjo, devido à sua pureza, brandura e inocência
 Madalena, mais tarde, confessa a Telmo que, após a partida de D. João de Portugal
(que a deixou viúva e órfã. Esta última porque a relação que Madalena estabeleceu
com D. João não foi amorosa, mas paternal), foi Telmo quem passou a ser um pai para
si e foi a Telmo que obedeceu como filha
 Madalena refere que procurou D. João por todo o mundo, mas que, sem resultados
positivos, não restou dúvidas de que este estaria morto. Telmo rapidamente afirma
que ainda lhe restam dúvidas
 D. João estava desaparecido há 21 anos
 Telmo confessa que Manuel nunca seria o espelho de D. João
 Madalena disse que o seu casamento com Manuel partira do consenso e aceitação de
todos e que Maria fora uma bênção de Deus. Porém, disse a Telmo que este estava
sempre a reviver o seu passado com a pequena Maria e que esse facto era suficiente
para as desonrar – era uma dúvida fatal
 Por último, Madalena pede a Telmo que vá ter com Frei Jorge Coutinho para ver se
este tem notícias do irmão (Manuel de Sousa Coutinho).

Cena 3

 Maria entra em cena e diz a Telmo que está à espera que este lhe conte o romance
que lhe prometeu, relativo ao el-rei D. Sebastião, que ainda poderá estar vivo
 Madalena, ao ouvir isto, diz que isso é a imaginação do povo a falar
 Porém, nunca uma pura falsidade chega a obter crédito total
 Maria diz que o seu pai também não pode sequer ouvir falar no regresso de D.
Sebastião e, confusa, pergunta se ele está do lado de D. Filipe.
 Madalena começa a chorar e Maria consola-a. O assunto é posto de parte
 Indícios da doença de Maria (tuberculose)

* A crença sebastianista de Maria e Telmo pressupõe a vida de D. João de Portugal

Cena 4

 Maria pergunta à mãe porque é que os seus pais estão sempre preocupados consigo.
Madalena responde-lhe que é por a amarem tanto, mas Maria diz que não estará
relacionado com isso e que ouve coisas e lê olhos.
 As flores que Maria trazia murcharam. Eram flores do sono, para a fazerem dormir e
não sonhar (papoilas)
 Maria pergunta-se ainda porque não podia ela ser aquilo que o seu pai sempre quis

Cena 5

 Jorge chega com notícias más: os governadores querem sair da cidade e hospedar-se
na casa de Madalena.
 Maria ouve o seu pai chegar (mais um indício da sua doença, dado que mais ninguém o
ouviu).

Cena 6

 Miranda (empregada) diz que Manuel chegou. Madalena espanta-se com o facto de
Maria ter mesmo bom ouvido (pode significar que não tem noção de que a sua filha
está doente)
 Jorge diz que a fantástica audição de Maria é um “terrível sinal naqueles anos”

Cena 7

 Manuel chega e diz à sua família que têm de sair de casa porque Luís de Moura
(arcebispo) e os outros governadores se vão, efetivamente, hospedar na sua casa. Dá
ordens para arrumarem as coisas mais importantes o mais rapidamente possível.
 Maria fica radiante com a decisão e Madalena pede para falar a sós com Manuel,
tendo ficado atormentada
 Maria vai com o seu tio, Jorge, arrumar as suas coisas: livros e papéis; segredos
Cena 8

 Manuel tinha dito a Madalena que iriam para a antiga casa de Madalena: casa de D.
João de Portugal
 Madalena suplicou para que não o fizessem, mas Manuel acabou por iniciar um
discurso no qual refere que ela não tinha de se preocupar com o passado porque o seu
coração e as suas mãos estavam puras

Cena 9

 Telmo alerta para a chegada antecipada dos governadores


 Manuel dá ordens para saírem imediatamente

Cena 10

 Dá-se a continuação da saída

Cena 11

 Manuel incendeia a própria casa e faz antecipadamente uma analogia sobre a morte
de seu pai e a sua possível morte

Cena 12

 Madalena espanta-se com o ato do seu marido e este responde-lhe que ilumina a sua
casa para aqueles que a queriam invadir.
 Com isto, o retrato de Manuel é também incendiado – indício da morte do amor de
Madalena por Manuel e, consequentemente, da união entre estes
 Todos fugiram

ATO II
Cena 1

 Maria arrasta Telmo para uma sala, para finalmente conversarem. Têm o cuidado de
não fazer barulho para não acordar Madalena que não dorme há oito dias, desde que
estão naquela casa.
 Maria confessa que o incêndio a fascinou, apesar de ter destruído a sua mãe. Agora,
era Maria quem tinha de se fazer de forte e sensata/discreta, que tinha de fingir não
acreditar nos destinos e presságios, apesar de neles acreditar fortemente. Tinha a
noção de que uma desgraça estava por vir.
 Telmo diz-lhe que justiça será feita e que o seu pai, Manuel, é um exemplo de Homem,
apesar de só agora lhe ter começado a dar o devido valor.
 Maria dirige-se para os três retratos ao fundo da sala e, apontando para o de D. João
de Portugal, pergunta a Telmo de quem se trata. Inicialmente este não lhe disse toda a
verdade, mas Maria, que já o conhece, tentou perceber o porquê de tanto mistério.

Cena 2

 Entra Manuel, que diz a Maria que o retrato misterioso é de D. João de Portugal
 Manuel pergunta a Maria por Madalena e esta responde-lhe que a mãe está outra
pessoa, mas que continua a dormir
Cena 3

 Maria e Manuel vão conhecer melhor o palácio e partilhar ideias


 Maria pergunta se o pintor foi justo e realista ao fazer o retrato de D. João I. A
resposta foi afirmativa e Manuel acrescentou que apenas as qualidades daquele
Homem é que não estavam ali representadas. (…) E que qualidades!
 Manuel: “se ele vivesse… não existia tu agora, não te tinha eu aqui nos meus braços.”

Cena 4

 Jorge aparece com notícias relativas à invasão: os governadores cederam


 Manuel decide ir a Lisboa e Maria pede para ir com ele, de modo a conhecer Joana de
Castro (Joana de Castro separou-se de Luís de Portugal e seguiram, cada um
separadamente, a vida religiosa – indício trágico)

Cena 5

 Madalena diz-se curada dos maus pensamentos e pede a Manuel para que não saia de
perto de si
 Manuel diz que é sexta-feira (dia da paixão de Cristo) mas que tem de ir a Lisboa e
volta à noite (a noite está associada ao romantismo)
 Jorge fica a fazer companhia a Madalena e Maria vai com o pai

Cena 6

 Madalena diz a Manuel que não quer que Telmo fique no palácio a fazer-lhe
companhia, ao invés de ir acompanhar Maria. E assim foi.

Cena 7

 Madalena começa a chorar mas logo acaba por se despedir deles

Cena 8

 Madalena pede precaução e Manuel diz que nada vai acontecer, que Maria só vai
conhecer Joana de Castro
 Rapidamente a história de amo desta surge na conversa: “depois de tantos anos de
amor… e convivência… condenarem-se a morrer longe um do outro, sós, sós! E quem
sabe se nessa tremenda hora... Arrependidos! (…)”

Cena 9

 Jorge pensa que o mal se instalou nos corações da sua família e, talvez, também se
instalará no seu

Cena 10

 Hoje, sexta-feira, faz anos que Madalena casou com D. João I, que se perdeu el-rei D.
Sebastião e que Madalena viu pela primeira vez Manuel de Sousa
 Crime: Madalena amou Manuel assim que o amou~
Cena 11

 Miranda chega a casa com um recado; um romeiro, que vem de Roma e dos Santos-
lugares, quer ver e falar a Madalena
 Madalena diz a Miranda para o trazer perto de si, já que este insiste em falar com
Madalena e não com Jorge

Cena 12

 Jorge pensa que se trata de uma fraude

Cena 13

 O romeiro entra e Miranda volta para o local onde inicialmente estava


 O romeiro identifica Madalena como sendo a pessoa a quem se quer dirigir (mesmo
após tantos anos)

Cena 14 - CLÍMAX

 O romeiro diz que viveu 20 anos nos Santos-Lugares e que é português. Teve uma vida
miserável, sem filhos e “perdeu” a família
 Fez um juramento há um ano atrás, de que iria estar ali, hoje, diante de Madalena, a
pedido de D. João de Portugal, para lhe dizer que este ainda está vivo, para mal de
muitos
 Madalena fica atormentada, assustada, perdida ao saber isto

Cena 15

 Jorge pergunta ao romeiro quem ele é e este responde “Ninguém!”


o Negação total da sua identidade

O Passado e a Atualidade – Pequena análise


Num país ligado às grandes e longas viagens marítimas, é provável que episódios semelhantes
aos relatados na tragédia se tenham repetido, entre os quais, os pensamentos que invadiam a
mente das esposas abandonadas e dos maridos que poderiam posteriormente encontrá-las
casadas com outro.

Atualmente, o tema do homem que vai para longe e que, de certo modo, abandona a sua
família para descobrir novos mundos (ou até para se descobrir a si mesmo), faz ainda parte da
nossa realidade, dado que vivemos num mundo de guerras, conflitos, interesses e
curiosidades.

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