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Carla Marina Sevene Vitorino

Júlia Primeiro

História da África
A governação dos Estados Africanos Independentes e Sua Cooperação

Universidade Licungo
Extensão da Beira
2021
Carla Marina Sevene Vitorino
Júlia Primeiro

História da África
A governação dos Estados Africanos Independentes e Sua Cooperação
Licenciatura Em História

Trabalho de História da África a ser


submetido ao curso de História para
avaliação parcial.

Docente:
Dra. Albertina Franco

Universidade Licungo
Extensão da Beira
2021
Índice
1.0. Introdução............................................................................................................................3

2.0. A governação dos Estados Africanos Independentes e Sua Cooperação............................4

2.1. Avanço relativo....................................................................................................................5

2.2. Características dos países africanos.....................................................................................6

2.3. Desafios dos governos africanos para o século XXI...........................................................7

2.4. Nova parceria para o desenvolvimento sustentado de África..............................................7

Conclusão..................................................................................................................................10

Referencias Bibliográficas........................................................................................................11
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1.0. Introdução
Neste presente trabalho de História da África, faz uma abordagem sobre A governação dos
Estados Africanos Independentes e Sua Cooperação. Reflectir sobre um continente tão
heterogéneo como o africano e tentar analisar aspectos tão diversos como o socio-cultural, o
político, o institucional e o económico, com as respectivas discriminações, assimetrias e
ênfases, é uma tarefa definitivamente gigantesca e estressante, senão mesmo, muitas vezes
difícil e até impossível.

Como sublinha a economista lusa Fátima Roque, no livro África, a NEPAD e o futuro,
editado em 2007, alguns desses estudos enfatizam a deterioração em muitos dos países que
constituem este continente, dos indicadores de desenvolvimento humano, económico,
financeiro, institucional e sectorial, ao mesmo tempo que evidenciam o comportamento
deficiente de determinadas variáveis qualitativas relacionadas com a paz, a reconciliação, a
legitimidade democrática e a governabilidade política, a desigualdade e a discriminação
(ROQUE 2012: 25-26).

Ao referirem-se aos factores endógenos e exógenos que estão na base da problemática da


pobreza, do atraso e marginalização de África, de exclusão social e da discriminação da
maioria das suas populações, os antigos presidentes sul-africanos e tanzaniano Thabo Mbeki e
Benjamim Mkapa consideraram durante o Fórum Económico Mundial, realizado em Davos,
em 2001, que os conflitos armados, os movimentos migratórios, a falta de humanismo, a
corrupção e a incompetência de muitas lideranças africanas têm contribuído, em parte, para
despoletar as crises contínuas e manter o subdesenvolvimento em que a maioria dos países se
encontra.
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2.0. A governação dos Estados Africanos Independentes e Sua Cooperação


O sistema de governação de muitos países africanos é ainda caracterizado por um total
desrespeito pelos direitos humanos, assim como pela marginalização da grande maioria dos
seus povos.

Neste contexto, Mbeki (2001), Wade (2002), entre outros, consideram que a transformação
estrutural e sistémica da África passa pela construção de sociedades mais abertas, mais
democráticas, mais transparentes, mais participativas e mais justas. Todavia, Fátima Roque
(2005, 2012), sustenta que o sucesso da transformação de África depende da superação dos
obstáculos de pobreza extrema, exclusão social e analfabetismo; frágil harmonia social,
política e militar; corrupção, abuso de poder e clientelismo; fracas estruturas políticas e
sociedades civis pouco desenvolvidas; discriminação de género, de classes e entre a cidade e
meio rural; infra-estruturas debilitadas; falta de quadros, especializações e motivações;
desemprego estrutural e demasiada dependência do sector público; dívidas externas
insustentáveis e problemas nas contas de capital.

Baseando-se, sobretudo, na Nova Parceria para o Desenvolvimento Sustentado de África


(NEPAD) (2001), assim como na Agenda de Desenvolvimento Sustentável (2030), incluindo
os seus Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (2015)2 e no Mecanismo Africano de
Avaliação pelos Pares (APRM) (2002), 3 a presente comunicação pretende identificar e
caracterizar os vectores considerados essenciais para os Estados africanos enfrentarem com
segurança e êxito os múltiplos desafios políticos, sociais e económicos colocados aos seus
governos no século XXI.

A governação em África está melhorar gradativamente, segundo o Índice Ibrahim de


Governação Africano (IIAG) 2018, divulgado esta segunda-feira (29.10). O relatório
apresentado pela Fundação Mo Ibrahim, com sede em Londres, monitora anualmente a
qualidade da governação nos 54 países do continente. A pontuação geral de África foi de 49,9
pontos numa escala de 100, em comparação aos 48,8 pontos registados em 2008.

Os autores do estudo concluíram que o progresso no continente tem sido irregular e que, após
um período de estagnação entre 2010 e 2014, a pontuação média só voltou a subir graças ao
desempenho de 15 países, que disparou nos últimos cinco anos.
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Entre os países lusófonos, Cabo Verde continua a ter a melhor classificação, tendo subido
novamente ao terceiro lugar, sendo apenas superado pelas Ilhas Maurícias (79,5 pontos), em
primeiro lugar no ranking, e Seicheles (73,2 pontos), em segundo lugar. 

O segundo país lusófono mais bem classificado é São Tomé e Príncipe, em 12º lugar no
ranking, seguido por Moçambique, que, apesar do 25º lugar, apresenta deterioração acelerada
na governação, de acordo com o relatório. 

Em 42º lugar, a Guiné-Bissau mostra uma melhora significativa, mas Angola, em 45º, dá
sinais preocupantes. A Guiné Equatorial, na 48ª posição, mostra que a tendência negativa
desde 2008 se acentuou nos últimos anos. 

O relatório baseia a avaliação nos principais factores da governação pública com um "foco
mais forte na responsabilidade, nos direitos dos cidadãos e no bem-estar social". A Costa do
Marfim foi o país que apresentou melhoras em todos os indicadores devido aos
desenvolvimentos em relação à transparência, prestação de contas e respeito ao Estado de
Direito.

"Os factores mais associados a pontuações elevadas de governação são centrados no cidadão,
envolvendo direitos sólidos de propriedade, direitos e liberdades civis, um governo
responsável e um serviço público eficiente, além de políticas voltadas para redes de segurança
social e meio ambiente", referem os autores.

2.1. Avanço relativo


Os maiores avanços na última década foram registados em 34 países, que concentram 71,6%
da população africana, mas não foi acompanhada por 18 países, que tiveram piora na
pontuação. O Quénia, que subiu do 19º lugar para o 11º na tabela, e o Marrocos, que subiu
dez posições para 15º lugar, são alguns dos países com maiores avanços.

Um em cada três países do continente teve um desempenho pior em 2017 do que dez anos
atrás, como a República Democrática do Congo, a Guiné Equatorial e a Líbia. A Somália
aparece em último lugar no ranking, apesar de ter apresentado avanços contínuos.

Entre os critérios de avaliação estão segurança e Estado de Direito, participação e direitos


humanos, oportunidades de economia sustentável e desenvolvimento humano. "Agora é o
momento do Afrorrealismo com políticas públicas sérias baseadas em dados verdadeiros com
o objectivo de entregar resultados", disse o milionário e filantropo africano Mo Ibrahim em
comunicado.
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Em entrevista à DW, Yannick Vuylsteke, diretor de pesquisa da Fundação Mo Ibrahim,


explicou que avanços em saúde em muitos países garantiram uma melhora geral nos índices.
Mais de 90% dos cidadãos africanos vivem em países em que a saúde melhorou na última
década, notadamente pela redução nos índices de mortalidade infantil e tratamento
antiretrovirais.

"Temos visto um crescimento muito positivo em infraestrutura e também a questão de género


no continente está a se fortalecer pouco a pouco", sublinhou.

Por outro lado, as oportunidades económicas para os cidadãos africanos estão estagnadas. "Há
alguns resultados impressionantes, se compararmos com o nível de crescimento do PIB visto
no continente. Isso parece não ter se traduzido em governos que oferecem oportunidades
económicas sustentáveis para seus cidadãos", diz Yannick Vuylsteke.

Entretanto, numa outra obra intitulada O desenvolvimento do continente africano na era da


mundialização, editado em 2005, Fátima Roque, considera que papel igual deve ser atribuído
à escravatura, à cobiça internacional, aos jogos de poder, à exploração, à manipulação de
governos e das multinacionais, ao comércio corrupto de armas e à atribuição de comissões
avultadas para a manutenção de negócios duvidosos (ROQUE 2005: 21; 2012: 26).

2.2. Características dos países africanos


Em síntese, seguindo esta autora, encontramos pelo menos sete (7) características que são
comuns aos países africanos envolvidos em conflitos ou em situação recente de reconstrução
pós-conflito:

 Deterioração dos indicadores sociais e crescente desigualdade na distribuição dos


rendimentos, da riqueza e das oportunidades;
 Défice fiscal elevado e grave desequilíbrio na balança de pagamentos;
 Descoordenada e insustentável dívida externa e serviço da dívida;
 Inflação elevada e controlo ineficiente das despesas públicas, com despesas
importantes não incluídas no orçamento e com desfasamento nas contas fiscais;
 Quase total destruição das infra-estruturas físicas e sociais;
 Sérias rupturas no mercado e desagregação regional e provincial;
 Total desconfiança nas reformas económicas e insatisfação generalizada com a
corrupção ao nível do Estado, do Governo e das Forças Armadas (ROQUE 2005: 23).
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Por conseguinte, a insatisfação e frustração sentidas por muitos africanos em relação aos
líderes políticos e económicos por estes terem sido incapazes de encontrar respostas
adequadas aos problemas estruturais que os afectam, tornam urgente transformar África de
forma a construir-se sociedades mais democráticas, participativas, justas, desenvolvidos e
pacíficas.

2.3. Desafios dos governos africanos para o século XXI


Para ROQUE (2005), parece-nos, por isso, evidente, que entre os mais importantes desafios
colocados aos governos africanos no século XXI, estão:
 Consolidar a legitimidade interna e cooperar activamente na construção do Estado-
Nação (nation-building);
 Reduzir a pobreza e a exclusão social;
 Garantir a segurança e promover a confiança;
 Equilibrar os custos e os benefícios da transformação para um desenvolvimento
inclusivo e da integração nas áreas social, política, económica e institucional.

Para ROQUE (2005), para enfrentar estes desafios, parece imprescindível:


 Melhor prevenção e gestão de conflitos;
 Governação democrática e gestão transparente;
 Tolerância para a diversidade política e cultural;
 Respeito pelos direitos humanos;
 Promoção do papel da mulher em todas as actividades;
 Economias de mercado socialmente orientadas e responsáveis;
 Legislação e instituições adequadas a um desenvolvimento de rosto humano;
 Governabilidade e transparência, incluindo, códigos de conduta e declarações de
património para os dirigentes a nível central, regional e local; fortalecimento dos
serviços de inspecção; desempenho efectivo, com independência dos poderes
políticos, da Alta Autoridade contra a corrupção, dos vários Tribunais e dos
Comissários para a fiscalização dos direitos humanos.

2.4. Nova parceria para o desenvolvimento sustentado de África


Assim, apesar do grande potencial do continente africano — sendo considerado um pólo de
crescimento global — os desafios continuam a ser imensos e as responsabilidades dos seus
líderes legítimos — actuais e futuros — ainda maiores, se se quiser não só concretizar os
objectivos-chave da Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD), aprovada
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em 2001, mas também implementar a Agenda de Desenvolvimento Sustentável 2030,


adoptada em 2015, pelas Nações Unidas, incluindo os seus Objectivos de desenvolvimento
sustentável (ODS).

Com efeito, a nova Agenda para o Desenvolvimento foi formalmente adoptada por 193
países, na Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da ONU, realizada em New York, entre
25 e 27 Setembro de 2015. A partir da adopção desta nova agenda pós-2015 dever-se-á iniciar
o processo da implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

A mesma agenda vigorará durante os próximos 15 anos e ditará, em larga medida, a definição
das políticas para o desenvolvimento, assente em 17 Objectivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), sucessores dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e respectivas
metas e indicadores. Estes abrangem a pobreza, a saúde, igualdade de género, o
desenvolvimento sustentável, o crescimento económico, o ambiente, o clima, a justiça, entre
outras condições necessárias para o bem-estar individual, colectivo e global. As energias
renováveis irão desempenhar um papel relevante no alcance de muitos destes objectivos.

O objectivo 7 (SDG7), em particular, pretende assegurar o acesso a fontes de energia, em


quantidade e em qualidade, de forma sustentável, para todos. Pretende garantir o acesso
universal a serviços de energia, fiáveis e modernos, aumentar substancialmente a quota das
energias renováveis no mix energético global e duplicar a taxa da eficiência energética até
2030.

A aplicação da visão estratégica preconizada pela NEPAD e a adesão dos países africanos ao
Mecanismo Africano de Avaliação pelos Pares (APRM) podem ajudar ultrapassar as
distorções estruturais de que África padece, nomeadamente nos países envolvidos em
conflitos ou em situação complexa de reconstrução pós-conflito.

Neste contexto, a NEPAD e o APRM podem ser considerados marcos históricos na


caminhada do continente africano para um futuro baseado no primado da lei, da
governabilidade democrática e o desenvolvimento socio-económico, os quais têm provado
ser, na prática, a melhor salvaguarda contra os conflitos, a discriminação, a desigualdade e a
pobreza.

Um dos quatro objectivos fundamentais para o sucesso da NEPAD e do APRM é a


consolidação da ordem política constitucional na qual são assegurados a democracia, o
respeito pelos direitos humanos, a lei e a ordem, a separação de poderes, bem como um
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responsável e eficaz sector público, de forma a promover um desenvolvimento sustentado e


uma sociedade estável e pacífica.

Deste modo, para uma transformação sustentável, no século XXI África deve apostar
politicamente em pelo menos quatro (4) vectores fundamentais:

 Construir um continente em paz e unido à volta de objectivos e valores comuns, o que


implica eleger governos eficientes, transparentes e responsáveis perante o eleitorado;
 Garantir e proteger os direitos básicos e liberdades, incluindo a igualdade de
oportunidades para todos e a capacitação/empoderamento (empowerment) dos mais
desfavorecidos;
 Promover o papel da mulher em todas as actividades;
 Estabelecer a paz nacional, regional e continental, baseada na tolerância honesta da
diversidade, bem como desenvolver uma visão humanista da sociedade e da política.

Do ponto de vista económico e social, África deve apostar no século XXI, em pelo menos,
seis (6) linhas estratégicas:

 Conceber e aplicar estratégias de desenvolvimento sustentado a longo prazo;


 Assegurar a estabilidade macro-económica e promover um ambiente propício ao
investimento privado nacional, regional e estrangeiro;
 Promover um padrão equitativo de distribuição do rendimento e da riqueza, bem como
de desenvolvimento regional e provincial;
 Promover o crescimento equitativo e sustentado, bem como o desenvolvimento social,
através de disciplina fiscal, desenvolvimento dos recursos humanos, investimento
directo estrangeiro e redução da dívida externa;
 Reduzir progressivamente a incidência de pobreza e exclusão social;
 Apostar na cooperação produtiva regional e internacional para facilitar uma
participação mais efectiva na economia global.
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Conclusão
O sistema de governação de muitos países africanos é ainda caracterizado por um total
desrespeito pelos direitos humanos, assim como pela marginalização da grande maioria dos
seus povos. A África deve encarar o futuro com determinação, sem deixar contudo de estar
consciente dos desafios gigantescos que a esperam no contexto da NEPAD e dos Objectivos
de Desenvolvimento Sustentável e das transformações causadas pelo fenómeno da
globalização.

Face à sua história recente ligada à memória das lutas pela libertação, aos conflitos constantes
e às reconciliações fracassadas e às distorções estruturais existentes na economia e na
sociedade, o modelo a seguir na área social deve ser o do respeito pelos direitos humanos,
pela diversidade, pelos valores, pelos princípios e pelas diferentes culturas e religiões.

O modelo de desenvolvimento deve ter por base uma economia de mercado com forte
componente social, sendo o poder público o garante da liberdade, da solidariedade e do
interesse nacional e regional, tudo isso, ao serviço da construção de uma sociedade solidária
para com os mais pobres, desprotegidos e excluídos. A inclusão social e, necessariamente, a
económica, deve ter o apoio e o contributo dos agentes políticos, dos empresários, dos
investidores e das organizações cívicas e deve favorecer deliberadamente quem mais precisa.

O futuro do nosso Continente constrói-se todos os dias e é, por isso, fundamental que os
povos africanos sintam que podem ter, por um lado, confiança no Estado e nas suas
instituições e, por outro, esperança numa melhoria significativa das condições de vida.
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Referencias Bibliográficas
 BERGGRUEN Nicolas e GARDELS Nathan, 2013 (1.ª edição), Governação
inteligente para o século XXI. Lisboa, Prisa Edições.
 ROQUE Fátima Moura. 2012 (2.ª edição), África, a NEPAD e o Futuro. Luanda,
Texto Editores.
 ROQUE Fátima Moura (Coord.), 2005, O desenvolvimento do continente africano
na era da mundialização. Coimbra, Edições Almedina.

Documentos

 Agenda de desenvolvimento sustentável 2030, incluindo os Objectivos de


Desenvolvimento Sustentável. New York, United Nations, 2015.
 Mecanismo africano de avaliação pelos pares (APRM), União Africana (UA), Durban,
África do Sul, Julho de 2002.
 Nova Parceria para o Desenvolvimento Sustentado de África (NEPAD), União
Africana (UA), Lusaka, Julho de 2001.

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