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XI I C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI O N EI RO

Educar para a Sensibilidade:


Ed uc aç ão , P ed a go gi a e Es t ét i ca .
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A N AI S – 2 0 1 2
I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9

UM ESTUDO APROFUNDADO SOBRE MACBETH, DE WILLIAM SHAKESPEARE

Viviane Calzado Brandi (G-CLCA-UENP/CJ)


Ederson da Paixão (G-CLCA-UENP/CJ)
Luma de Fatima Sanches (G-CLCA-UENP/CJ)
Mateus Fernando de Oliveira (G-CLCA-UENP/CJ)
Ana Carolina Von Ah Uliana (G-CLCA-UENP/CJ)
Eva Cristina Francisco (G-CLCA-UENP/CJ)
Arnaldo Nogari Júnior (G-CLCA-UENP/CJ)
Luciana Garcia (G-CLCA-UENP/CJ)
Camila de Brito Novaga (G-CLCA-UENP/CJ)
Larissa Fávaro de Oliveira Souza (G-CLCA-UENP/CJ)
Fernanda de Cássia Miranda (Orientadora-CLCA-UENP/CJ)
Mônica de Aguiar Moreira Garbelini (Orientadora-CLCA-UENP/CJ)
Projeto de Pesquisa “Os Primeiros Dramas Elisabetanos”
Grupo de Pesquisa “A Arte Teatral: Conceituação, História e Reflexões”

Resumo: Considerado o gênio do Teatro Elisabetano, William Shakespeare vem sendo


estudado por teóricos de todos os tempos, e observa – se que dependendo da década em que
ele é objeto de atenção, há sempre um novo aspecto a ser considerado no que concerne à sua
vida e às suas produções. Dentre elas, convém destacar Macbeth, considerada por A. C.
Bradley como “a mais veemente, a mais concentrada, a mais tremenda das tragédias de
Shakespeare”, além de ser definida também por alguns críticos como “tragédia do destino”.

Palavras-chave: Teatro elisabetano. William Shakespeare. Macbeth.

Introdução

Considerado o gênio do Teatro Elisabetano, William Shakespeare vem sendo estudado


por teóricos de todos os tempos, e observa – se que dependendo da década em que ele é
objeto de atenção, há sempre um novo aspecto considerado tão pertinente quanto qualquer
outro relacionado à sua vida e às suas produções.
Nascido em Stratford – upon – Avon, em 23 de abril de 1564, Shakespeare consolidou
sua carreira como um dos maiores dramaturgos de todos os tempos, ao escrever (e
reelaborar) peças teatrais, incluindo comédias, peças históricas, tragédias e também
belíssimos poemas e sonetos.

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Ao retratarmos sobre os objetivos de Shakespeare, percebe – se que ele escrevia


peças para ganhar dinheiro e possuir propriedades, sem preocupação em deixar para o futuro
algum legado literário, exceto, talvez, pelos seus poemas.
Nesse sentido, dois amigos dele, Heming e Condell, responsabilizaram – se pela
primeira edição de suas peças reunidas (First Folio), em 1623, sete anos após a sua morte.
Diante disso nota – se que Shakespeare também escrevia suas peças para serem
representadas e não para serem publicadas.
Outra preocupação de Shakespeare era em agradar e aproximar a plateia elisabetana
de suas peças, pois ele sempre procurava promover uma integração entre o mundo real e o
mundo idealizado, através de temáticas diversas.
No que se refere às condições nas quais Shakespeare trabalhou, sabe – se que havia
pouco cenário, e esse fato obrigava o ator a utilizar recursos para criá – lo na imaginação do
público, através de descrições muito realistas e vivas nos textos.
Em relação às cenas, Anthony Burgess considera Shakespeare como cinematográfico,
devido às suas rápidas mudanças de cena, sendo que esta sua agilidade também aplica – se à
sua linguagem, ao inventar palavras novas e escrever com facilidade, além de preocupar – se
com o som das palavras, e que efeito esse som deveria causar nos ouvidos de seu público.
Apesar de Shakespeare não ser bem visto devido às suas reelaborações de peças através de
histórias já existentes, e também pelo fato de ele atuar, é notável a sua ousadia e superação
diante de seus predecessores, conferindo às suas produções, sua genialidade e sua poeticidade
em elaborar palavras novas e de conferir às suas peças o toque criativo e peculiar, com
temáticas sobre a natureza humana, as quais podemos considerá – las atemporais.

O referente extratextual

O personagem Macbeth, a exemplo de todos os heróis dos poemas épicos e da


tragédia clássica, não foi criado pelo autor da peça, mas já existia na história dos reis e
rainhas da Escócia. Macbeth era um grande general, neto do rei Malcon II e tinha os mesmos
direitos ao trono da Escócia que seu primo Duncan I, e numa época turbulenta, em que a
sucessão hereditária não era obrigatoriamente em linha direta, ele derrotou o primo em
batalha, assumindo assim o trono da Escócia. Ele reinou durante os anos de 1040 a 1057 e foi
denominado “o rei generoso”, sendo um governante justo, capaz, admirado e respeitado pelo
povo, trazendo prosperidade ao país durante os dezessete anos de seu reinado. Macbeth
enfrentou algumas rebeliões, o que era comum numa época em que o trono era disputado
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constantemente por aqueles que achavam ter direito a ele, porém conseguiu manter a
segurança e a paz, a ponto de se permitir fazer uma peregrinação a Roma. Ele foi o décimo
sétimo monarca da dinastia MacAlpin e o último rei Celta da Escócia e está sepultado na
Abadia de Iona, juntamente com seus antecessores.
Shakespeare, na sua “Peça Escocesa”, buscou o tema na Escócia para impressionar e
agradar Jaime I, o herdeiro escocês de Elisabeth I, que em 1606 tinha acabado de assumir o
trono inglês, e que teria entre seus antepassados Banquo, uma das vítimas de Macbeth. O
dramaturgo se baseou no relato histórico das Crônicas de Inglaterra, Escócia e Irlanda,
publicadas em 1587 que, por sua vez, estavam baseadas na História do Povo Escocês, do
filósofo Hector Boece, que apresentou Macbeth como tirano, vilão e usurpador. Shakespeare,
ao adaptar para o palco a história escocesa, usando de “licença poética” deturpou o
temperamento do verdadeiro Macbeth e de fatos históricos, conferindo ao personagem o
caráter abominável de um homem cruel, com ambição desmedida, capaz de trair seus amigos
e assassinar inocentes para assumir o trono e permanecer no poder.

Enredo de Macbeth

A tragédia conta a história de um general que viu sua vida mudar após seu encontro
com três bruxas. Estas prevêem que ele será promovido ao posto nobre de General de Cawdor
e mais tarde se tornará o novo rei da Escócia. Porém para que isto aconteça Macbeth sabe que
terá que tramar contra a vida de muitas pessoas e para isso conta com a ajuda de sua esposa.
Com o plano para tomar o trono em prática, Banquo, o amigo que sabia sobre as profecias e
suspeitava das intenções de Macbeth é o primeiro assassinado. A seguir o rei é assassinado
por Macbeth, que passa a ser assombrado por Banquo e pelo fantasma do rei morto. Com
medo de ser responsabilizado pela morte do pai, o rei, Malcom foge com Macduff, um nobre
fiel ao rei. Com o caminho livre Macbeth torna-se rei. Cansado das visões que estava tendo,
Macbeth vai ter com as bruxas e estas profetizam mais uma vez, dizendo que este só seria
derrotado se um “bosque chegasse ao castelo” e que o rei não deveria se preocupar, pois,
nenhum homem nascido de mulher poderia o matar. Apesar de parecer impossível as profecias
se cumprem através de um exército camuflado com ramos de árvores e através de Macduff,
que não havia nascido de uma mulher, mas arrancado do ventre de sua mãe, em uma
cesariana. Assim, Macduff mata Macbeth e Malcom, filho do Rei Duncan, é coroado o novo rei
da Escócia.

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Uma análise dos personagens da obra Macbeth, de William Shakespeare

Podemos perceber que em todas as obras de William Shakespeare, todos os


personagens utilizados sempre representarão tipos da sociedade que estará sendo retratada.
Isso também pode ser verificado na obra acima tomada para esse estudo, a mais curta das
peças shakespearianas.
Segundo estudiosos as principais fontes utilizadas por William Shakespeare para a
elaboração de sua tragédia Macbeth, são relatos sobre os reis Duff e Duncan, extraídos da
obra Crônicas da Inglaterra, Escócia e Irlanda , uma história britânica e de conhecimento do
dramaturgo.
No mundo do teatro há ainda quem diga que a peça em questão é “amaldiçoada”, e
muitas pessoas nem chegam a mencionar seu nome em voz alta.
Ao nos referirmos aos personagens, podemos mencionar os apontamentos de Franco
Junior (2003), ao afirmar que os personagens são seres constituídos por meio de signos
(verbais e visuais – peças de teatro, novelas), e que, portanto, são representações dos seres
que movimentam a narrativa por meio de suas ações e/ou estados.
As personagens podem ser classificadas de dois modos:
a) De acordo com seu grau de importância;
b) De acordo com seu grau de densidade psicológica.

Classificação dos personagens

• Principal: Aquele que é fundamental para a constituição e o


desenvolvimento do conflito dramático;
• Secundário: Aqueles cujas ações não são fundamentais para o
desenvolvimento do conflito dramático;
• Personagem Tipo: Classificados quando sua identificação se dá por meio
de determinada categoria social, e suas ações correspondem às mesmas;
• Personagem Estereótipo: Classificados quando acumulam um excesso
de signos que caracterizam determinada categoria social.

Assim sendo, a obra acima representa os seguintes personagens:


• Duncan, Rei da Escócia;
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• Malcolm, filho mais velho de Duncan;


• Donalbain, filho mais novo de Duncan;
• Macbeth, general do exército do rei Duncan e posteriormente rei da
Escócia;
• Lady Macbeth, Esposa de Macbeth e posteriormente rainha da Escócia;
• Banquo, amigo de Macbeth e general do exercito do rei Duncan;
• Fleance, filho de Banquo;
• Macduff, Thane de Fife;
• Lady Macduff, Esposa de Macduff;
• Filho de Macduff;
• Ross, Lennox, Angus, Mentieth, Caithness, Lordes Escoceses;
• Siward, general das tropas inglesas;
• Jovem Siward, filho de Siward;
• Seyton, criado de Macbeth;
• Hécate, deusa da bruxaria;
• Três Bruxas;
• Três Assassinos;
• Porteiro ou Mensageiro, Médico Inglês;
• Médico Escocês, médico de Lady Macbeth;
• Senhora, criada de Lady Macbeth.

Atmosfera trágica em Macbeth

Esta análise transcorrerá sob o olhar de um dos elementos do teatro: são os cenários.
O que o autor tenta passar ao público seria um conjunto da peça com o ambiente onde
transcorre a história. Os lugares, as cores predominantes, a luz, seriam fatores que teriam
influência sobre a obra?
Para tanto, o objeto de pesquisa para este tópico será o livro Macbeth, de William
Shakespeare, no qual será realizada uma reflexão sobre os elementos atmosféricos
componentes em seu drama.
Logo na cena I observamos a descrição do ambiente: “Lugar deserto. Trovões e
relâmpagos. Entram três bruxas.” Pode-se perceber logo no início que o lugar onde começa o
primeiro ato na cena I é um lugar que remete ao medo, e completa-se entrando as bruxas,
que naquela época eram abomináveis pela sociedade e que estas fariam algo provavelmente
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de mal, por isso os trovões e relâmpagos dão esse contexto de muito barulho e sozinhas
estariam “tramando” algo de ruim. De acordo com AQUINO, 2004 :“O cenário de abertura de
Macbeh vodu no Harlen já mostrava muito a atmosfera do sobrenatural que marcaria essa
produção uma floresta repleta de bruxas, tambores e vudus.” Com isto pode-se ter uma ideia
de há a presença do sobrenatural em torno do enredo, (AQUINO, 2004).
Dentro da cena V do ato I observamos Lady Macbeth enaltecendo a noite: “Vem, noite
espessa, e embuça-te no manto dos vapores do inferno mais sombrios”(Ato I, Cena V) onde
verificamos que a paisagem é à noite, o escuro, e que a personagem está chamando a noite,
ou seja, a escuridão para que a envolva com seu manto escuro e sombrio.
O ato II todo é noite e madrugada, além de acontecer a morte do Rei Duncan,
assassinado por Macbeth. A fala de Lenox fica nítida a tensão do ambiente e a escuridão: “A
noite toda foi desassossegada. [...] Durante toda a noite a ave das trevas não deixou de piar.
Dizem que a terra teve febre e tremeu” (Ato II, Cena III).
Em Macbeth esse contraste de fundo escuro é necessário para criação do contexto em
que a obra foi escrita e o seu sentido. O sombrio aparece sempre à noite, tanto que os
personagens sempre clamam à noite. Ilustrando nesse sentido observemos no ato III, final da
cena II a fala de Macbeth que nos chama a atenção para isto:

Vem, noite cega, tapa os olhos ternos do dia compassivo, e com sangrentas
mãos e invisíveis rasga o grande pacto que me deixa tão pálido! Escurece; para
a mata sombria voa a gralha. Vacila o claro agente, de fraqueza; mas a noite se
atira para a presa. Admiras-te; mas fica sossegada, que o mal reforça a ação
mal começada. Por favor, acompanha-me. (Ato III, Cena II)

Nessa fala de Macbeth é mesclado o claro e escuro, “Vem noite cega, tapa os olhos
ternos do dia...” isso porque nessa cena acontece o desejo do assassinato de Banquo, e
Macbeth com esta fala expressa sua vontade de que passe o dia. “Vacila o claro agente, de
fraqueza; mas a noite se atrai para a presa...” O claro é a luz que representa metaforicamente
o bem e ao contraste a noite que atrai a presa, ou seja, o mal.
O contraste de luz também é notório na cena III do ato III no momento do
assassinato de Banquo. No diálogo os assassinos ouvem Banquo entrar no parque pedindo
uma luz, pois ele percebe a claridade na chegada. Então os assassinos vêem Banquo e seu
filho entrando no parque com tochas nas mãos e disparam. E a luz se acaba. A morte apaga o
claro, a maldade sobressaindo ao inocente.

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Os mistérios destacam-se no ato IV na primeira cena, na qual Macbeth vai até a


caverna das feiticeiras: “Uma caverna. No meio, um caldeirão a ferver. Trovão. Entram as três
bruxas”. A imagem da cena é uma caverna, um lugar deserto com trovões e muito barulho.

Presença do fantástico

Dentre todas as obras de William Shakespeare, Macbeth é a que possui a presença do


Fantástico de forma mais evidente e explícita. A obra Hamlet em uma breve análise possui a
presença do fantástico também, mas se observarmos o período em que as primeiras
representações de Hamlet foram feitas (entre 1600 – 1601) e compararmos às primeiras
representações de Macbeth (representadas por volta de 1605 – 1606), embora Macbeth seja
uma obra mais curta e menos complexa, encontramos um forte amadurecimento estilístico do
autor e isso se reflete na abordagem de alguns temas, inclusive, o Fantástico.
Em Hamlet, a aparição do espectro do pai do jovem Hamlet, apontava em
Shakespeare os primeiros sinais de uma nova abordagem literária, que vai diretamente de
encontro ao texto insólito, porém, para ilustrar melhor essa perspectiva, há uma citação de H.
P. Lovecraft usada por Tzvetan Todorov em sua obra para falar de Edgar Allan Poe, mas que
cabe a essa mesma questão de Shakespeare, que até então configurava suas obras sob a
mesma orientação; “Se sente mais cômodo no incidente e nos efeitos narrativos mais amplos
que no desenho dos personagens” (TODOROV, 1981, p. 85).
Se em Hamlet compreendemos que essa presença do Fantástico se apresenta como
um incidente, em Macbeth temos o Fantástico de uma forma mais estruturada, em que a
presença do sobrenatural se faz mais explícita e mais forte devido à presença das bruxas e da
predição feita por elas, envolvendo a história toda; nota-se então uma inclinação de
Shakespeare ao insólito, que até então só estivera presente na elaboração de suas tragédias e
exceto por Hamlet, nunca antes apresentado junto ao sobrenatural no desenho das
personagens. Macbeth, independente da peça ou do livro, apresenta ao leitor a
verossimilhança ao expor o sobrenatural como algo verídico, e faz do insólito um fator real.
Entendemos então, as Bruxas na obra como uma representação do insólito infiltrada na
realidade, envolvendo a obra toda numa atmosfera fantástica, configurando assim, um dos
elementos básicos do texto fantástico: a narrativa se situa dentro da realidade do leitor, numa
estrutura real, mas imaginária: “El relato fantástico pone al lector frente a lo sobrenatural,
pero no como evasión, muy al contrario, para interrogarlo y hacerle perder la seguridad frente
al mundo real” (ROAS, 2001, p. 09). Complementando essa questão da atmosfera fantástica
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da obra como fator fundamental na caracterização do fantástico, Todorov nos diz que “A
atmosfera é o mais importante, pois o critério definitivo de autenticidade [do fantástico] não é
a estrutura da intriga a não ser a criação de uma impressão específica” (TODOROV, 1975, p.
20).
A obra Macbeth não é caracterizada como uma obra puramente fantástica, pois não
corresponde especificamente a todos os fatores de composição do Fantástico, e nem deveria,
já que as obras fantásticas passaram a surgir em meados do século XVIII, mas o fato é que
Shakespeare de alguma forma contribuiu com a difusão desse gênero e mais ainda com a
elaboração precisa do Fantástico.

Macbeth sob um olhar psicanalítico

Fazer uma análise psicanalítica nada mais é que analisar o inconsciente de uma
determinada pessoa ou personagem. Segundo Freud, o homem não é apenas um ser racional,
há impulsos irracionais que o influenciam e estes se manifestam através do inconsciente.
Neste artigo nos propomos a aprofundar os estudos já existentes sobre a obra
shakespeariana Macbeth, analisando psicanaliticamente as bruxas, Macbeth e Lady Macbeth.
Iniciamos através das figuras das três bruxas que aparecem logo no início da peça.
Elas surgem para representar os desejos guardados no inconsciente, anunciando para Macbeth
e Banquo nada além do que eles já traziam em suas mentes, mas é a partir disso que os seus
desejos mais ocultos são colocados em evidência, quando as bruxas revelam que Macbeth
seria rei e Banquo, pai de reis.
Segundo Victor Hugo (1864) “Dizer que Macbeth é a ambição é o mesmo que não
dizer nada. Macbeth é a fome. Que fome? A fome do monstro sempre possível no homem”
(1994, apud GREEN, p.170). Esse comentário trata da voracidade presente na obra, a
insatisfação de Macbeth diante de sua conquista e o medo de perder o trono por não ter
descendentes o faz ficar sedento de sangue, não mais pelo poder, simplesmente sangue por
sangue, e então passa a cometer diversos assassinatos.
Estes fatos são muito estudados por André Green (1994), que considera a obra ao
começar com um parricídio e continua com infanticídio, pois o rei Duncan pode ser comparado
com a figura de um pai, como podemos confirmar na fala de Lady Macbeth, “Se o rei não se
assemelhasse tanto ao meu pai adormecido. Eu pessoalmente lhe daria o golpe” (p. 60-61),
confirmando-se aí um parricídio e, após, comete outros assassinatos. Macbeth mata Banquo e

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tenta matar Fleance, já um indício de infanticídio, que se confirma depois, quando mata os
filhos de Macduff, tudo isso para evitar que a segunda profecia das bruxas se concretize.
A partir da “morte do pai” podemos analisar Lady Macbeth através do ensaio de Freud
Os arruinados pelo êxito (1916), que explica sua doença como resultado de um conflito edípico
mal resolvido, ou seja, após triunfar sobre a morte do rei Duncan, ela fracassa. Não consegue
suportar a culpa, passa a ter crises e enlouquece. Segundo Freud, “todos os casos de fracasso
ante o êxito devem-se a “crimes” edípicos cometidos na fantasia e não devidamente
elaborados” (1989, apud PORTELLA NUNES).
Ainda em Os arruinados pelo êxito, Freud (1916), cita en passant o autor Ludwig
Jekels, que afirma não ser possível entender Macbeth sem Lady Macbeth, pois eles seriam as
duas faces da mesma moeda: “O que Macbeth temia em seus tormentos de consciência
realiza-se nela, que se torna toda remorso, enquanto o marido se torna todo desafio”. O casal
se identifica de tal maneira que um coloca as suas partes no outro e vice-versa, havendo uma
inversão de papéis.
Eizirick (2002) em Um breve comentário psicanalítico sobre Macbeth faz uma
descrição interessante sobre essa inversão.

No início da peça, Macbeth funciona como uma criança e ela funciona como a
mãe. Em vários momentos ela o insulta, ela o encoraja, ela diz que ele é uma
criança, que é um sujeito que não tem coragem, que não tem valor. Na hora em
que eles vão cometer o crime, ele hesita. Ele diz: “Isso não vai dar certo”. E ela
diz: “Como não vai dar certo? Vai lá. Não seja covarde”. No momento em que
ele assume esse papel, ela coloca esse desejo, essa ambição, essa crueldade,
esse aspecto agressivo, mau, destrutivo dela (assumindo também o dele) dentro
da mente dele, iniciando uma modificação, na qual ela perde essa parte de sua
própria mente, agora depositada no marido. Em seguida, Lady Macbeth vai
enfraquecendo, vai enlouquecendo e acaba se matando, enquanto Macbeth se
torna a figura forte, a figura que representa agora os desejos do casal. (Eizirick,
2002)

Eizirick completa dizendo que a fala de Macbeth no momento da morte de sua esposa:
“Pois deixasse para morrer mais adiante” (Cena V, p.136), vem para confirmar esta análise.
Segundo o autor, “possivelmente é a volta regressiva a um estado em que ela era a mãe e ele
era o filho. E ela morre antes que eles pudessem chegar a uma solução satisfatória. Como se
ele tivesse que morrer antes e ela morrer depois” (Eizirick, 2002).

A intertextualidade em Macbeth ancorando a construção do sentido

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Ao estudarmos Shakespeare, por meio de suas obras, podemos verificar seu estilo e
ancoragens que engendram o interesse público colocando-se como obras contemporâneas e
trazendo a agradabilidade a leitores que fazem parte das mais diversas massas.
Desse modo, cabe-nos o seguinte questionamento: como o escritor conseguia obter
tal façanha?
Sabemos que, para a efetividade de um texto, o efeito de sentido é extremamente
essencial, e é este efeito que dá acesso ao público amante de Shakespeare. Um dos aspectos
que geram esse efeito de sentido é chamado de intertextualidade.
Antes de questionarmos o conceito de intertextualidade retomamos as perguntas por
Koch e Elias 2006: “Quantas vezes, no processo de escrita, constituímos um texto recorrendo
a outro(s) texto(s)? E quantas vezes, no processo de leitura de um texto, necessário se faz,
para a produção de sentido, o (re)conhecimento de outro(s) texto(s) – ou do modo de
constituí-los?”
Ao lermos uma obra shakespeariana, recorremos à intertextualidade, pois, muitas
vezes, não conseguimos decodificar o conteúdo do texto por diversos fatores como: arcaísmos,
cultura, tempo e espaço e muitas vezes o próprio estilo do autor - “no tocante à
intertextualidade, podemos dizer que, enquanto alguns trechos reproduzem o “estilo” do autor
do texto fonte, outros textos se constituem de modo a remeter a passagens deste” (KOCH e
ELIAS, 2006, p. 85)
No que diz respeito à intertextualidade, propriamente dita, podemos recorrer a dois
tipos específicos: a explícita, que ocorre por meio de citações da fonte do intertexto e a
intertextualidade implícita, a qual se dá sem citação expressa da fonte, cabendo ao interlocutor
retomá-la na memória, a fim de construir o sentido do texto, como nas alusões, na paródia,
em certos tipos de paráfrases e ironias (cf KOCH, 1991, 1997, 2004)
Assim, identificamos que a maioria da intertextualidade que ocorre nas obras
shakespearianas em geral e mais especificamente em Macbeth é aquela que se dá
explicitamente, já que muitas vezes temos que recorrer às notas de rodapé nas diversas
edições para construirmos o sentido textual.
Vejamos alguns exemplos:

Lady Macbeth: Todos os nossos serviços, mesmo que fossem dobrados e


redobrados, seriam uma simples e pobre coisa, comparados com as vastas e
grandes honras com que vossa majestade cumula nossa casa. Nossos benefícios
passados e as dignidades recentes que acabais de acrescentar fazem que
fiquemos vossos eremitas. (Ato I – Cena VI)

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Considerando essa fala de Lady Macbeth, só conseguimos contextualizar e


compreender a passagem devido à nota de rodapé que explica que os eremitas só podiam
oferecer orações como únicas posses que tinham, a quem lhes oferecia esmolas.
Apresentemos outro exemplo:

Lady Macbeth em diálogo com Macbeth: “... misturei na bebida uma droga tão
ativa que a vida e a morte lutam para ver quem conseguirá ficar com eles. (Ato
II – Cena II)

Já nessa passagem, para que o efeito de sentido seja construído de forma eficaz
devemos saber que a “bebida” mencionada pela personagem não é um líquido qualquer. Para
tanto, recorremos mais uma vez à nota de rodapé que nos explica que na versão original (em
inglês) a palavra empregada é posset, que é uma bebida feita de leite quente coalhado,
açúcar, vinho e ingredientes aromáticos, o que provavelmente aumentaria o efeito da droga
misturada.
Logo, pudemos perceber a importância da intertextualidade na obra Macbeth. Se não
recorremos a intertextos sejam quais forem suas origens e aspectos, as chances de não
conseguirmos absorver o texto como coerente e coeso seriam muito grandes.

A crueldade presente no drama Macbeth

De acordo com Bloom (2005), Macbeth é “o mais tenebroso dos dramas


shakespearianos e questiona qualquer noção de livre arbítrio”. A partir daí, já percebemos que
o drama Macbeth apresentará o tema da crueldade, a qual será representada pelas ações das
personagens.
Como se sabe, por via oral ou visual, a necessidade de ficção do ser humano se
manifesta constantemente, pois ninguém consegue passar um dia sequer sem fantasiar e
utilizar sua imaginação. Entretanto, a fantasia nem sempre é pura. Muitas vezes ela se refere
a uma realidade a qual se faz presente em nosso cotidiano, podendo refletir um fenômeno da
natureza, um lugar, um acontecimento histórico, emoções, tradições, e ainda, em problemas
sociais. Por esse motivo constatamos uma ligação entre fantasia e realidade, a qual pode
servir de início para pensar na função da literatura, como afirma Cândido:

A fantasia quase nunca é pura. Ela se refere constantemente a alguma


realidade: fenômeno natural, paisagem, sentimento, fato, desejo de explicação,
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costumes, problemas humanos, etc. Eis por que surge a indagação sobre o
vínculo entre fantasia e realidade, que pode servir de entrada para pensar na
função da literatura. (CÂNDIDO, 2002, 80-81)

Por assim ser, as obras literárias por mais que sejam fantasiadas têm por base o real.
Analisando o drama Macbeth, nos deparamos com ações de crueldade contra a natureza
humana, as quais nos fazem refletir, pois as mesmas fazem parte do nosso dia-a-dia.
A primeira crueldade que surge na peça é quando Lady Macbeth fica sabendo das
profecias das bruxas e então elabora um plano para assassinar Duncan. Ela convence o marido
a matar Duncan , cravando uma espada em seu peito.
Para saírem impunes, Lady Macbeth e seu marido (Macbeth), incriminam os criados de
Duncan, colocando punhais sujos de sangue em meio a eles e para não ter perigo de algum
tipo de desconfiança, Macbeth planeja uma briga e os mata, alegando que ficou descontrolado
com a situação.
Para não deixar mais uma das profecias das bruxas se concretizarem, Macbeth manda
seus criados ir até o castelo de Macduff e matar Lady Macduff, seus filhos e todos que estavam
presentes.
Na batalha final, a última profecia é concretizada quando Macduff mata Macbeth e
corta-lhe a cabeça.

Análise estilística

No drama Macbeth, de William Shakespeare, é encontrado traços estilísticos do autor


no seu período renascentista, como a cultura humanística, o racionalismo e o senso crítico do
autor.
A obra está cercada das questões do descontrole dos instintos humanos e da falta de
forças racionais do homem. A obra apresenta personagens em conflito, alguns de seus
membros especificamente não conseguem ou por escolha, não controlam seus impulsos,
deixam-se levar por sentimentos banais e coisas supérfluas, pela ganância e pela própria
ambição, mas ainda assim, demonstra traços do período renascentista do autor.
Assim como em qualquer outra obra clássica de Shakespeare, o maior destaque
estilístico de Macbeth ainda é o estilo próprio do autor. A profundidade com que Shakespeare
trabalha temas simples, a beleza com que elabora diálogos mostra que de fato a preocupação
do autor era com a plateia e não com o leitor, pois são abordagens muito complexas, mas que
no fim cabem perfeitamente à suas obras e revela o quão sublime suas palavras soam mesmo
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lidas ao invés de entoadas. Burgess diz que as falas dos personagens eram “comunicações
intimas com a plateia” (p. 92). E continua: “Shakespeare mostra-se sempre muito consciente
em relação à sua plateia elisabetana, uma mistura de aristocratas, letrados, almofadinhas,
gatunos, marinheiros e soldados de licença, estudantes e aprendizes” (p. 91).
Shakespeare também deu muita atenção quanto às palavras, como podemos ver pela
perspectiva de Burgess:

Mas as palavras têm a maior importância para Shakespeare – não apenas, ou


mesmo basicamente, o significado das palavras, mas o som das palavras.
Shakespeare queria martelar ou cortejar ou encantar os ouvidos de sua plateia
com a linguagem, e, em qualquer uma de suas peças – as primeiras ou as
últimas –, o tesouro das palavras se abre por inteiro, e o ouro se derrama
prodigamente. (...) Shakespeare escrevia com grande rapidez e facilidade,
raramente eliminando qualquer coisa. Isso explica uma certa impaciência com a
linguagem; Shakespeare frequentemente não podia esperar até que surgisse a
palavra certa e, assim, ele próprio acaba inventando uma palavra. (BURGESS,
2005, p. 91)

O que merece um destaque estilístico à parte na obra é a questão da tragédia. A obra


nos leva refletir a questão das escolhas erradas e analisar até que ponto elas podem nos
atingir. Para Cevasco e Siqueira:

Todas essas tragédias (Macbeth, Rei Lear, Hamlet, Otelo, etc) são peças de
grande fôlego, em que mais se evidencia a grande marca do gênio de
Shakespeare – a capacidade de abarcar os mais variados e desconcertantes
aspectos do gênero humano. (1999, p. 26, parênteses nossos)

Sendo assim, os destaques estilísticos da obra ficam por conta do estilo característico
do autor, de sua abordagem à tragédia, na qual Siqueira diz, quanto às obras de Shakespeare,
“o elemento trágico conhece profunda exacerbação” (1999, p.26), a maturidade da obra, e a
valorização do ser humano, sob influência do Renascimento.
Ao concretizá-lo, Shakespeare excedeu-se a si mesmo, sendo evidente o
desajustamento entre a grandiosidade da concepção e o acanhamento dos moldes tradicionais
de que ele dispunha, para dar corpo às suas ideias. Como é frequente nas criações de
Shakespeare.

Tema da astúcia

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Segundo o Minidicionário da Língua Portuguesa, a palavra astúcia significa manha;


sagacidade para enganar; artifício; ardil. A questão da astúcia está presente nas obras de
Shakespeare, a qual será também mostrada nos exemplos abaixo, extraídos da presente peça.

Astúcia das bruxas

Na primeira cena da trama, as três bruxas combinam entre si um plano para


encontrarem Macbeth no meio de seu caminho. E como o combinado, encontram-no numa
charneca (espécie de floresta), em meio a trovões e relâmpagos. As bruxas elogiam-no dizem-
lhe que ele será rei, instigando-o a pensar sobre o que lhe foi dito.

PRIMEIRA BRUXA: Quando estaremos à mão com chuva, raio e trovão?


SEGUNDA BRUXA: Depois de calma a baralha e vencida esta batalha.
TERCEIRA BRUXA: Hoje mesmo então, sem falha.
PRIMEIRA BRUXA: Onde?
SEGUNDA BRUXA: Da charneca ao pé.
TERCEIRA BRUXA: Para encontrarmos Macbeth.
(Ato I – Cena I )

MACBETH: Respondei, se puderes: quem sois vós?


PRIMEIRA BRUXA: Viva, viva Macbeth! Nós te saudamos [...]
TERCEIRA BRUXA: Viva Macbeth, que há de ser rei mais tarde!
[...]
MACBETH: Um momento, oradoras imperfeitas. Falai-me mais um pouco [...]
Dizei de onde tirastes tão insólita notícia [...] Intimo-vos a me falar.
(As bruxas desaparecem)
(Ato I – Cena III)

Astúcia de lady Macbeth

Salvatore D’Onoffre (2002) explica que na época de Shakespeare existiam


preconceitos machistas contra a inteligência das mulheres, mas em Macbeth ele parece não ter
considerado isso, já que Lady Macbeth é a personagem mais astuta da obra, bem como é a
mais cruel, o que a diferencia das outras personagens femininas de Shakespeare como Ofélia e
Gertrudes de Hamlet, Cordélia de Rei Lear e Julieta de Romeu e Julieta.
Lady Macbeth recebe uma carta de seu marido. Nesta carta Macbeth conta-a que as
bruxas lhe disseram que viria a ser rei. Após Lady Macbeth ler a carta, um mensageiro lhe dá a
notícia de que Duncan, o rei, chegará ao seu castelo naquela noite. Logo em seguida, Macbeth
volta ao seu castelo e encontra sua esposa que começa a planejar a morte de Duncan.

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MACBETH: Duncan, meu caro amor, chega esta noite.


LADY MACBETH: E quando vai embora?
MACBETH: Amanhã mesmo [...]
LADY MACBETH: O sol, nunca, nunca verá esse amanhã [...] Cuidemos do
hóspede que chega, sendo que a meu cargo deveis deixar o grande negócio
desta noite, que há de legar dias e noites de alegria [...] deixa comigo.
(Ato I - Cena V)

Astúcia de Malcolm e Donalbain

Após a descoberta da morte de Duncan, Macbeth convoca uma reunião com todos que
estão no castelo. Porém, os filhos de Duncan decidem não participar da reunião por precaução,
já que seu pai fora morto no castelo e o assassino poderia esperar por eles.

MALCOLM: [...] não nos unamos com essa gente. É muito fácil para o homem
fingido aparentar tristeza. Irei para a Inglaterra.
DONALBAIN: E eu para a Irlanda. Separados, assim, nossos destinos cuidarão
de nós dois com maior zelo [...]
(Ato II - Cena III)

Astúcia de Macbeth

Com receio de que Banquo levantasse suspeitas contra si sobre o assassinato de


Duncan, pois, Banquo estava junto com Macbeth no momento em que as bruxas disseram que
Macbeth seria rei. Sendo assim, Macbeth encomenda a morte de Banquo e seu filho Fleance.

MACBETH: Sabeis que Banquo foi vosso inimigo.


SEGUNDO ASSASSINO: É certo, meu senhor.
MACBETH: E meu é ainda [...] Terei de lastimar, assim, a morte de quem eu
derrubei. Esse o motivo de recorrer agora a vosso auxílio [...]
SEGUNDO ASSASSINO: Senhor, faremos quanto nos mandares.
MACBETH: Dentro de uma hora, no máximo, hei de vos mostrar o ponto em que
deveis ficar e a par vos ponho da ocasião mais propícia para a coisa, do
momento adequado, pois que tudo precisará ser feito ainda esta noite [...] sem
que vos esqueçais de que preciso ficar sem mancha nisso [...] Banquo, tua alma
no céu será esta noite.
(Ato III - Cena I)

Astúcia de Macduff

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Macbeth vai novamente visitar as três bruxas, mas desta vez, conversa com seu
superior, Hécate, que lhes dá as respostas do que lhe foi perguntado. A bruxa Hécate diz à
Macbeth que ele deverá tomar cuidado com Macduff. Macbeth, então, envia assassinos até o
palácio de Macduff, no entanto, Macduff havia fugido para a Inglaterra, onde se encontra com
Malcolm e juntos planejam um ataque a Macbeth.

MACDUFF: Não sou traidor.


MALCOLM: [...] traidor é Macbeth [...] lúbrico, falso, enganador, avaro, violento,
malicioso [...] Sirva a todos de consolo saber que já me encontro a caminho da
Escócia. Dez mil homens cedeu-nos a Inglaterra, comandados pelo bondoso
Siward.
(Ato IV - Cena III )

Considerações finais

Ao analisarmos minuciosamente as obras shakespearianas, verifica-se como o


dramaturgo possui uma grande habilidade em inserir tensões, conflitos em suas peças, que
nos remetem a impressões que invadem os nossos sentidos, com belas palavras e amargas
falas.
William Shakespeare, conhecedor e pesquisador da alma humana, consegue
exemplificar habilmente sentimentos e atitudes de seus personagens, os quais, algumas vezes,
chegamos a nos reconhecer neles, cujos aspectos são considerados contemporâneos,
atemporais, pois a traição, o ódio, a vingança, o belo, o feio, a tirania, a ambição, o amor, a
lealdade estão presentes na alma do homem em qualquer tempo, ou época.
Assim, Shakespeare pode ser considerado segundo Burgess, como “enigmático mas
curiosamente simpático” (BURGESS, 2005, p. 99), além de ser um superador de limites de
seus predecessores, perpetuando seu nome na história do drama e da literatura universal.

Referências

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Para citar este artigo:

BRANDI, Viviane Calzado et al. Um estudo aprofundado sobre Macbeth, de William


Shakespeare. In: XII CONGRESSO DE EDUCAÇÃO DO NORTE PIONEIRO Jacarezinho. 2012.
Anais. ..UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Ciências Humanas e da
Educação e Centro de Letras Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2012. ISSN – 18083579. p.
570 – 587.

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