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Numa conversa por Zoom, Michelle Chan, fundadora desta entidade sem fins lucrativos,
fala-nos sobre o mercado laboral português, o impacto da pandemia no trabalho
independente e as diferentes soluções que existem hoje ao dispor de quem decide criar o
seu próprio emprego. A Pronobis é uma delas, procurando garantir direitos iguais a todos
os trabalhadores.
Gerador (G.) – A Pronobis descreve-se como uma solução que oferece aos
freelancers a agilidade de uma empresa e a proteção social de um trabalho por
conta de outrem. De que modo funciona?
Michelle Chan (M. C.) – As cooperativas permitem que os seus associados tenham um
duplo estatuto de empresário e trabalhador da sua própria empresa, tal como acontece
com as empresas unipessoais. A diferença é que esta empresa não é unipessoal, é de
todos e não tem finalidade lucrativa. As pessoas, ao inscreverem-se na Pronobis,
adquirem títulos de capital, passam a ser donas de sua quota parte e – as cooperativas
promovem o autoemprego – portanto, passam a ser empregadoras de si mesmas e têm,
assim, esse duplo estatuto de empregador e trabalhador. Como empresários, conseguem
os benefícios de qualquer empresa: podem usá-la [à empresa] para faturar trabalhos e
têm a possibilidade de descontar as despesas da atividade profissional, que, de outra
forma, poderiam não ter. Este é o benefício de funcionar num sistema empresarial. Do
lado do trabalhador, no caso da nossa cooperativa, as pessoas estão registadas na
Segurança Social como trabalhadores por conta de outrem da Pronobis e, deste modo,
têm os benefícios de qualquer outro trabalhador por conta de outrem.
G. – Têm o melhor dos dois mundos, é isso? E como é que surgiu a ideia de criar
a Pronobis? A Michelle era trabalhadora independente e detetou a necessidade
de uma solução deste género?
M. C. – Sim, havia uma necessidade grande no mercado de encontrar uma solução [deste
género], porque, à época, a legislação dos recibos verdes era diferente da que temos hoje.
Chegámos à conclusão de que precisávamos de criar uma entidade que nos permitisse ter
o acesso à proteção social que não dependesse de termos contratos de trabalho com as
entidades para as quais trabalhávamos, até porque estamos a falar de freelancers que
trabalham para muitas entidades ao longo do ano. Portanto, era necessário criar aqui um
percurso alternativo de acesso à proteção social, porque as pessoas queriam pagar as
contribuições e ter os respetivos benefícios.
G. – Diz que, na altura, a legislação era diferente. Para sermos mais específicos,
quando é que foi criada esta cooperativa?
M. C. – Em 2014.
M. C. – Neste momento, creio que somos 300 e poucos. Já passaram por cá mais
cooperadores do que aqueles que estão cá hoje, porque os freelancers têm vidas muito
diferentes. Há pessoas cuja carreira, entretanto, começou a ter um sucesso maior e
decidiram abrir empresa unipessoal. Há pessoas que foram trabalhar para outros países.
Há pessoas que conseguiram contratos de trabalho com alguns clientes. Portanto, a vida
do freelancer é bastante oscilante. Algumas estão cá desde o início. Há muitas razões que
levam as pessoas a estar na Pronobis: umas, porque poupam dinheiro; outras, porque,
não poupando, têm o nosso apoio e não se sentem tão sozinhas; outras, porque estão
zangadas com os recibos verdes. Há muitas razões que fazem as pessoas vir para a
Pronobis e há outras razões que fazem as pessoas deixar a Pronobis. Se, por exemplo,
numa determinada altura da vida for mais compensatório passar recibos verdes, há
pessoas que optam por voltar aos recibos verdes. É oscilante.
M. C. – Há uma coisa que já não é tão má, que é o facto de as pessoas pagarem as
contribuições de acordo com o que receberam no trimestre anterior. Anteriormente, na
época em que a Pronobis foi fundada, as pessoas estavam a pagar contribuições sobre o
que tinham recebido no ano anterior ou há dois anos, e isso não permitia aos freelancers
fazerem uma gestão saudável da sua vida financeira. Neste momento, o trimestre anterior
[como base do cálculo das contribuições sociais] é algo muito mais próximo e os
freelancers conseguem, de alguma forma, regular [a sua vida financeira].
G. – Ainda assim, acha que há falhas por colmatar neste enquadramento dos
trabalhadores independentes?
G. – Durante a crise pandémica, foram lançados vários apoios, alguns deles para
trabalhadores independentes, mas há quem diga que os chamados recibos
verdes saíram prejudicados em comparação com os trabalhadores por conta de
outrem. Tem essa visão?
M. C. – Sim, as pessoas que trabalham a recibo verde, não todas, mas muitas ficaram com
um apoio que era insuficiente. No caso da Pronobis, durante a pandemia, não houve uma
grande procura de pessoas para se inscreverem e garantirem a tal proteção [social]. A
procura está a acontecer agora. Em 2020 em 2021, os freelancers [que receberam os
apoios extraordinários] ficaram sem trabalho e, portanto, não fazia sentido inscreverem-
se na Pronobis sem terem trabalhos para faturar. As pessoas estavam ainda a tentar
encontrar soluções alternativas de sobrevivência. Quem já se encontrava na Pronobis,
quando começou a pandemia, e perdeu o trabalho teve acesso ao subsídio de desemprego
do regime geral, aquele que existe para os trabalhadores por conta de outrem. Esse é o
modelo que mais vai ao encontro daquilo que é a vida de um freelancer. O subsídio de
desemprego permite fazer a suspensão [dessa prestação para] aceitar um trabalho
pontual e, quando o trabalho acaba, as pessoas podem reativar o subsídio de desemprego,
podendo estendê-lo até três anos. É a coisa mais aproximada que existe em Portugal do
sistema francês dos intermitentes. Permite às pessoas terem um apoio entre trabalhos,
continuando sempre a contribuir para o mesmo regime. Neste momento em que a
economia, sobretudo o setor da cultura, está a regressar à sua atividade normal, as
pessoas começam a pensar duas vezes entre estar num regime que lhes permite este tipo
de apoio ou estar noutro em que se sentem menos apoiadas.
G. – Disse que a procura por soluções como a vossa está a aumentar. Que
evolução terá, em resposta, a Pronobis?
M. C. – É uma pergunta difícil. A primeira coisa que me ocorre seria haver um estatuto
fiscal especial para as cooperativas, porque as pessoas, criando o seu próprio emprego,
ficam sobrecarregadas com uma taxa dupla de Segurança Social. Pagam por serem
trabalhadores e por serem empregadores. Se houvesse um estatuto fiscal específico para
cooperativas, provavelmente seria mais fácil as pessoas acompanharem a evolução do
salário mínimo, por exemplo.
G. – Tem a ideia de que as pessoas que escolhem criar o seu próprio emprego
têm remunerações mais baixas do que a média?
M. C. – As cooperativas não têm uma atividade lucrativa e existem para oferecer uma
resposta coletiva às pessoas que desejam fazer parte delas. Não estamos a falar de uma
empresa unipessoal, em que os benefícios são só para uma pessoa é há intenção de lucro.
É o oposto. Portanto, se houvesse um benefício fiscal no sentido de se pagar [as
contribuições sociais] numa percentagem menor, talvez fosse uma boa ideia.
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