Você está na página 1de 1

CNBB diz que comentário do Papa

sobre união gay demonstra


'humanidade', mas não altera
conceito católico de família
Em documentário, Papa disse que 'pessoas
homossexuais têm direito de estar em uma
família'. Entidade afirmou, em nota, que
comentário 'não muda em nada do ponto de
vista doutrinal ou dogmático'.

Papa Francisco manda um beijo ao chegar para sua


audiência na Praça de São Pedro — Foto: Vicenzo
Pinto/ AFP

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)


se manifestou, nesta quinta-feira (22), sobre os
comentários do Papa Francisco defendendo uniões
civis homossexuais. Segundo a entidade, a fala
demonstra "humanidade", mas "não muda em nada do
ponto de vista doutrinal ou dogmático sobre a família".
Segundo a igreja, o matrimônio só pode ocorrer entre
homem e mulher.

Os comentários do Papa foram feitos em um


documentário e vieram a público na quarta (21). No
filme, ele disse que "pessoas homossexuais têm
direito de estar em uma família" e defendeu a criação
de leis de união civil para garantir o direito dos casais
homoafetivos.

Papa Francisco defende união civil entre


homossexuais
Papa defende união civil gay: o que Francisco já
disse sobre homossexualidade

A nota divulgada pela CNBB nesta quinta é assinada


pelo bispo Dom Ricardo Hoepers, presidente da
Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da
entidade. No texto, ele afirma que "o Papa Francisco
mais uma vez demonstra sua serenidade, voltando-se
também às questões reais da vida cotidiana. Ele tem
uma sensibilidade pastoral tão aguçada que nos
impressiona com seu nível de humanidade".

"A fala em questão trata-se de uma palavra em


um documentário e, portanto, o Papa fala com
o coração aberto sobre os reais sofrimentos
das pessoas de condição homoafetiva. Em uma
sociedade que exclui com preconceitos e
violência, é uma fala sobre dignidade e, acima
de tudo de respeito que devemos ter para com
todas as pessoas", diz a nota.

Na nota, o bispo também diz que o Papa Francisco se


tornou "a voz dos que se tornaram invisíveis nas
periferias geográficas e existenciais", e citou que as
pessoas LGBT devem ter leis que as protejam.

"No caso das pessoas em condição homoafetiva,


muitas delas são abandonadas pelas suas famílias,
discriminadas pela sociedade, e à margem dos
direitos de ter uma cidadania respeitada. A realidade
da discriminação também pode levar à violência e à
exclusão social. Portanto, diante desses perigos, o
Papa entende que uma lei deve buscar garantir a
seguridade que toda pessoa merece ser cidadão de
direitos."

Porém, ao fim do texto, o presidente da Comissão


para Vida e Família da CNBB diz que a fala, no
contexto do documentário não altera o conceito da
igreja católica sobre a família. Segundo a nota, o
próprio Papa Francisco reforçou as diretrizes de que o
matrimônio deve ser entre homem e mulher.

"O Papa Francisco já realizou dois Sínodos e escreveu


uma Exortação Apostólica pós-sinodal chamada
Amoris laetitia – sobre a alegria do amor na família.
Esse documento afirma que continuamos a caminhar
em pleno acordo com a Tradição da Igreja sobre a
sacralidade do Matrimônio e sua dignidade no plano
de Deus: 'O matrimônio cristão, reflexo da união entre
Cristo e a Igreja, realiza-se plenamente na união entre
um homem e uma mulher, que se doam
reciprocamente com um amor exclusivo e livre
fidelidade, se pertencem até a morte e abrem à
transmissão da vida, consagrados pelo sacramento
que lhes confere a graça para se constituírem como
Igreja doméstica e serem fermento de vida nova para
a sociedade (Amoris laetitia, n. 292)'".

Assista ao próximo

Cancelar

Assista também Reveja

Papa Francisco defende união civil para casais


homoafetivos

A fala do Papa Francisco veio a público após a estreia


do documentário "Francesco", do diretor Evgeny
Afineevsky, no Festival de Roma. No filme, ele afirma
que "as pessoas homossexuais têm direito de estar
em uma família. Elas são filhas de Deus e têm direito a
uma família. Ninguém deverá ser descartado ou ser
infeliz por isso".

"O que precisamos criar é uma lei de união


civil. Dessa forma eles são legalmente
contemplados. Eu defendi isso", diz.

Segundo o jornal argentino "La Nación", o filme mostra


um italiano gay que vive em Roma. Ele tem três filhos,
e relata que uma vez escreveu ao papa e pediu para
enviar suas crianças à paróquia, mas que tinha receio
de que as crianças fossem discriminadas.

O homem afirma que o Papa Francisco o incentivou a


mandar os filhos à Igreja e nunca disse qual era a
opinião dele sobre a família formada por pais gays e
que, apesar de a doutrina não ter se alterado, a
maneira de lidar com o tema mudou radicalmente.

União civil, e não casamento

Oferecer resposta a casos de abuso sexual dentro da


igreja é um dos principais desafios do papa Francisco
— Foto: Getty Images/BBC

O Papa Francisco já demonstrou ter interesse em


dialogar com católicos LGBTIs, mas geralmente suas
mensagens são a respeito de acolher esses fiéis. Ele
já deu sinais velados que poderiam ser interpretados
como uma opinião favorável à união civil.

Quando Cristina Kirchner era a presidente da


Argentina, o país legalizou o casamento gay. Na
época, ele ainda não era o papa, mas, sim, o cardeal
Jorge Mario Bergoglio.

Segundo um texto de 2014 da agência "Religion News


Service" (RNS), Bergoglio chegou a dizer que estava
aberto a aceitar a união civil como uma alternativa ao
casamento entre pessoas do mesmo gênero.

Filipe Domingues, vaticanista com doutorado


pela Universidade Gregoriana de Roma, explica
que quando ainda era cardeal, Bergoglio era a
favor da união civil de pessoas do mesmo sexo:
"Ele é contra o 'casamento gay' mas concorda
que pessoas em união estável têm direitos.
Isso não é novo. Mas declarou isso em
documentário, como Francisco, pela primeira
vez".

Domingues ainda aponta que o papa foi mais explícito


agora ao falar de "ser parte de uma família". "Isso é
importante", destaca.

Em 2014, o Papa Francisco deu entrevista ao jornal


"Corriere della Sera" na qual disse que a Igreja ensina
que casamento é entre um homem e uma mulher.
Segundo a agência RNS, ele disse que entende que
governos queiram adotar a união civil para casais gays
por razões econômicas.

Segundo o "Corriere della Sera", o papa disse que "é


preciso considerar casos diferentes e avaliar cada
caso em particular".

O Vaticano então clarificou que Francisco falava de


forma genérica e que as pessoas não deveriam
interpretar as palavras do papa além do que elas
dizem, segundo a RNS.

VÍDEOS: últimas notícias sobre o Papa


Francisco

Leia mais notícias sobre a região no G1 DF.

Você também pode gostar