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RESUMO
1
Mestrando do programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural. DLLARTES/UNEB, Campus II,
Alagoinhas – BA. filipecapena@gmail.com
2
Doutora em Letras e Linguistica (UFBA), Salvador – BA. anaritasantiago16@gmail.com
DE ONDE PARTIMOS
O presente trabalho parte do pressuposto de que uma educação de qualidade
subentende a existência de escolas eficazes e que estejam direcionadas a equidade. De
acordo com o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra equidade significa
“apreciação, julgamento justo; respeito à igualdade de direito de cada um, que
independe da lei positiva, mas de um sentimento do que se considera justo, tendo em
vista as causas e as intenções”, enquanto igualdade significa “qualidade daquilo que é
igual ou que não apresenta diferenças; identidade”. Desse modo, notamos que a
equidade está relacionada com o ato de levar-se em conta as peculiaridades de cada
caso, com as particularidades das partes para se chegar em uma solução
verdadeiramente justa. Neste sentido, não se trata de considerar os indivíduos como
iguais em todos os aspectos, mas de se reconhecer que, mesmo frente à suas diferenças,
estes são iguais em direitos e dignidade.
Em geral, a premissa da igualdade é que todos são iguais perante a lei. Para
Miranda (2009, p.29), “a sociedade que se firma no princípio formal da igualdade é, por
excelência, uma sociedade caracterizada pelas desigualdades sociais que ela promove”.
E isso acontece porque a ideia de igualdade presente nas legislações não atende às
especificidades encontradas em todos os âmbitos da sociedade.
Em artigo que aborda o tema da equidade, analisando as desigualdades na
educação, Scotti argumenta que
A ideia de equidade se refere a uma concepção de distribuição justa, que
respeita a igualdade de direitos. Desta forma, a distribuição dos bens em
questão deve respeitar uma proporção relativa ao direito de cada um.
Distribuição equitativa não é equivalente à ideia de distribuição igualitária.
(SCOTTI, 2007 p.2)
A EDUCAÇÃO BILÍGUE
Derivada de decretos como a de nº 10.502 e projetos de lei como o 4.909/20, a
Lei 14.191, sancionada em 2021, altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), determinando o tratamento da Educação Bilíngue de Surdos como
uma modalidade de ensino independente, onde antes, estava inserida como parte da
Educação Especial. Segundo o art. 60-A, da LDB,
Entende-se por educação bilíngue de surdos, para os efeitos desta Lei, a
modalidade de educação escolar oferecida em Língua Brasileira de Sinais
(Libras), como primeira língua, e em português escrito, como segunda língua,
em escolas bilíngues de surdos, classes bilíngues de surdos, escolas comuns
ou em polos de educação bilíngue de surdos, para educandos surdos, surdo-
cegos, com deficiência auditiva sinalizantes, surdos com altas habilidades ou
superdotação ou com outras deficiências associadas, optantes pela
modalidade de educação bilíngue de surdos.
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
Estamos diante de duas frentes quando se trata da educação para surdos: uma
que está voltada ao movimento de inclusão e que busca incluir todos os alunos,
independente das diferenças ou dificuldades específicas e outra que se apresenta de
forma independente, buscando superar a desigualdade através de escolas bilíngues.
Diante disso, é apresentada a ideia de inclusão aquela em que todos frequentam
o mesmo ambiente, a aprendizagem sucede de forma natural, bem como aquela que
prepara a comunidade escolar para a convivência, respeito e tolerância às diferenças. No
entanto, conseguimos identificar algumas deturpações em relação ao conceito de
inclusão no que tange ao ensino regular. Para Damázio e Alves (2010, p.40.)
Muitos têm tratado da inserção de alunos com surdez na escola comum como
sendo inclusão, mas o que ocorre, na maioria das vezes, ainda é a integração
escolar, entendida como uma forma de inserção parcial, condicionada à
capacidade de os alunos com surdez acompanharem os demais colegas
ouvintes e atenderem às exigências da escola. A integração escolar tem cunho
adaptativo e continua desrespeitando as especificidades desses alunos.
Ainda de acordo com Damázio e Alves (2010, p. 39), “a inclusão escolar implica
mudança paradigmática, ou seja, uma nova concepção de homem, de mundo, de
conhecimento, de sociedade, de educação e de escola, pautada na heterogeneidade, na
não dualidade, na não fragmentação”.
A partir do que apresentamos e discutimos, podemos chegar a compreensão de
que apenas estimular a inclusão não traz uma colaboração efetiva de combate, pelo
contrário, ela pode estar reforçando com as desigualdades entre as pessoas, uma vez que
elas devem ser superadas. Então, retornamos a questão sobre qual sistema está, de fato,
interessado em uma educação equitativa.
Para responder essa pergunta, precisaríamos que outras questões fossem
respondidas, no entanto, conseguimos compreender até aqui que determinar um tipo de
escola para um grupo, ou determinar o aprendizado de uma língua não natural para
quem tem a possibilidade de adquirir uma língua natural, significa de igual modo
oprimir, não incluir.
Por conta disso, comunidades surdas juntamente com pesquisadores e
educadores precisam reavaliar a forma em que estes estudantes estão compondo os
espaços, pois são inegáveis as diversas possibilidades de desenvolvimento para
estudantes surdos dentro das escolas bilíngues, bem como seus benefícios e vantagens.
REFERÊNCIAS