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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS – CECH


CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

O PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE ENSINO: A PEDAGOGIA NA


EMPRESA

Ana Paula de Souza

São Carlos, 2009

1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS – CECH
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

O PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE ENSINO: A PEDAGOGIA NA


EMPRESA

Trabalho de Conclusão de Curso realizado sob


a orientação do Professor Doutor Flávio
Caetano da Silva do Departamento de
Educação da Universidade Federal de São
Carlos, como parte dos requisitos para a
conclusão do curso de Pedagogia.

São Carlos, 2009

2
AGRADECIMENTOS

Os anos de graduação sem dúvida alguma são os anos mais decisivos na vida de
um estudante e, a mim só foi possível trilhar essa caminhada porque tive em minha vida
duas pessoas que sonharam comigo e acreditaram na possibilidade de concretização
dessa etapa: meus pais, Paulo e Lúcia. A eles meus sinceros e profundos
agradecimentos, não só por todo apoio emocional dado em todos os momentos difíceis
passados, mas, sobretudo, por terem financiado esse sonho com o duro trabalho dia após
dia, mês após mês, ano após ano até a presente data.

Ao meu professor e orientador Dr. Flávio Caetano da Silva, pela chance e pela
sinceridade em todas as fases que se sucederam a esse trabalho.

Ao meu amado e querido João Ricardo por ser muito além de um amigo, ser
meu presente e meu futuro. Aquele que me deu a mão, o colo, as certezas e alentos nos
tempos difíceis e, compartilhar comigo dos tantos outros momentos felizes. Por nunca
ter duvidado ou desanimado, pelo contrário, por encontrar novas maneiras para
permanecer ao meu lado.

3
RESUMO

Este trabalho teve como objetivo principal estudar a atuação do pedagogo em


espaços não formais de ensino, em especifico nas empresas. Através do levantamento
bibliográfico feito o que se pode perceber é que, partindo da origem do pedagogo até a
sua delimitação atual, ele é um profissional capaz de trazer grandes significações aos
ambientes em que se está apto a trabalhar.
O foco é o de esclarecer e comparar a prática pedagógica formal e a não formal,
ou seja, dos contextos escola e empresa e traçar um breve panorama a respeito dessas
práticas.

Palavras-chave: educação não-formal, educação não-escolar, pedagogo do trabalho,


pedagogia na empresa, atuação de pedagogos para além da escola, diferentes práticas
educativas, treinamento e desenvolvimento, recursos humanos

4
SUMÁRIO

Agradecimentos
Resumo

Introdução e Justificativa...............................................................................................6

Capítulo I – Pedagogia: Identidade e Formação .........................................................8


1.1 Um olhar sobre a pedagogia .....................................................................................8
1.2 O pedagogo e sua atuação além dos espaços formais de ensino: sua importância e
sua prática ................................................................................................................10

Capítulo II - Breve panorama sobre educação formal, informal e não formal.......14


2.1 Diferenciando Educação formal e não formal .........................................................15
2.2 Foco em um espaço não-formal: a empresa ............................................................16

Capítulo III - O Pedagogo Empresarial e a busca pelo seu conceito........................19


3.1 – Panorama acerca do pedagogo do trabalho..........................................................20
3.2 – O pedagogo do trabalho: o que o credencia e o seu papel na empresa................22

Considerações Finais ....................................................................................................26

Bibliografia Consultada ...............................................................................................28

5
INTRODUÇÃO e JUSTIFICATIVA

O presente Trabalho de Conclusão de Curso em Licenciatura Plena em


Pedagogia tem o intuito de debater um dos temas muito recorrentes nos estudos da
graduação: processos de ensino-aprendizagem em diferentes espaços de educação,
dando foco aqui aos espaços não formais de ensino, mais precisamente as empresas e
corporações.

Em toda a graduação diversas disciplinas influenciaram e despertaram meu


interesse pelos diferentes espaços educacionais, entre elas Administração e Supervisão
Escolar e, Pesquisas e Práticas Pedagógicas em Diferentes Espaços, pois mostrou-me
entre outras coisas, a real possibilidade dessas práticas educativas se darem em diversos
campos de atuação do pedagogo, quer sejam em ambientes públicos, privados ou
comunitários. Sendo assim a literatura mostra que o pedagogo tem, com o passar dos
tempos, ampliado mais e mais suas possibilidades de atuação para além de espaços
escolares formais, inserindo-se, por exemplo, em empresas, serviços de saúde,
desenvolvimento de ações educativas e de pesquisas educacionais em organizações não-
governamentais, entre outros espaços de educação não formal.

A função do pedagogo do trabalho ou do pedagogo empresarial é motivo de


muitas discussões, quer seja no ambiente acadêmico ou de trabalho, pois de um lado
tem sua prática ainda muito ligada a um lado tecnicista da profissão – o que na
graduação pode ser claramente percebido, dado a escassez de abordagem e aceitação
desse tema entre os docentes - e, por outro, a grande disputa entre os profissionais da
psicologia e da administração, pelas funções que hoje já estão sendo desenvolvidas pelo
licenciado em pedagogia.

O foco deste trabalho é tratar deste assunto com o objetivo de esclarecer e


comparar a prática pedagógica formal e a não formal, ou seja, dos contextos escola e
empresa. Para realizar e fundamentar este estudo foi necessário selecionar o material a
ser analisado. A pesquisa partiu após a leitura de dois livros, de publicações recentes,
específicos para a área do pedagogo da empresa. A partir deles, foi possível a
articulação com outras leituras já feitas na graduação e a possibilidade de contatos com

6
outros trabalhos na área. Vale ressaltar que materiais específicos ao tema ainda são
muito escassos, por isso outras palavras chaves também foram utilizadas, tais como:
educação não-formal, educação não-escolar, pedagogo do trabalho, pedagogia na
empresa, atuação de pedagogos para além da escola, diferentes práticas educativas,
treinamento e desenvolvimento, recursos humanos entre outros.

A possibilidade de escolher uma temática para este trabalho tão desafiante como
este, foi o de buscar e compreender quais outros caminhos o pedagogo pode vir a ter
que não a docência dos anos iniciais de ensino, a qual a profissão está tão intimamente
ligada e automatizada na ótica popular. Pesquisar e entender, por meio da literatura,
quais as outras possibilidades de atuação do pedagogo em um contexto corporativo,
onde certamente se deparará com uma contradição: adaptar-se a cultura organizacional,
visto que as empresas têm um objetivo específico baseado no lucro ou se ater as raízes
de sua formação e promover uma educação reflexiva e teórica. Mas não se pode negar
que o pedagogo, com toda sua bagagem teórica-prática, tem seu horizonte ampliado,
não reduzido apenas a um compromisso político com a “escola”.

Sendo assim, acredito muito que o desenvolvimento desta temática seja


importante de se conhecer e debater, pois o contexto atual mostra a quantidade cada vez
maior de pedagogos presentes em corporações, atuando com sua postura reflexiva e
multidisciplinar.

7
Capítulo I - Pedagogia: Identidade e Formação

1.1 Um olhar sobre a pedagogia

Como ciência que estuda a educação, a Pedagogia parte de observações e reflexões


sobre a educação, avanços, alternativas e discursos educacionais, paradigmas e
possibilidades de atuação, gerando conceitos que se convertem em teorias pedagógicas,
segundo Pascoal1, (2007). De acordo com Ghiraldelli Junior (2005, p. 1):
O termo pedagogia, tomado em sentido estrito, designa a
norma em relação à educação. Que é que devemos fazer, e que
instrumentos didáticos devemos usar, para a nossa educação? –
Esta é a pergunta que norteia toda e qualquer corrente
pedagógica, o que deve estar na mente do pedagogo. Em um
sentido lato trata-se da pedagogia como o campo de
conhecimentos que abriga o que chamamos de ‘saberes da área
da educação’ – como a filosofia da educação, a didática, a
educação e a própria pedagogia, tomada então em sentido
estrito. (p. 1).

Apesar de sempre se destacar a importância da educação para a perpetuação das


civilizações, o ofício de ensinar nunca foi uma atividade nobre. Na Grécia Antiga, por
exemplo, tal ofício era cabível a ex-prisioneiros e refugiados, sendo a profissão pouco
valorizada desde então.
Escreve Manacorda (2004) que:
“(...) na época em que a escola já é uma instituição
generalizada e enraizada, a figura do mestre que vimos
nascer historicamente como uma profissão do trabalho
servil, temos que reconhecer que ao prestígio dos estudos
liberais nem sempre correspondeu um igual prestigio de
seus profissionais” (p.89).

1
Doutora pela Faculdade de Educação da UNICAMP e Docente da Faculdade de Educação da PUC-
Campinas.

8
Foi da palavra PEDAGOGO - que começou como simples condutor ou guardião da
criança e acabou por se transformar em um preceptor (mestre encarregado da educação
no lar) - que derivou o termo PEDAGOGIA, vocábulo que aparece para designar uma
ciência e uma arte que tinha raízes antiqüíssimas, quase tão velhas como a própria
humanidade - a da educação das pessoas. (HOLTZ, 2006)
No século XVIII surge, pela primeira vez, no Dicionário da Língua Francesa, o
vocábulo PEDAGOGIA, como Ciência da Educação, que já se usava na linguagem
corrente2. Hoje o termo pedagogia é assim definido pela Língua Portuguesa3:
pe.da.go.gi.a sf (gr paidagogía) 1 Estudo teórico ou prático
das questões da educação. 2 Arte de instruir, ensinar ou
educar as crianças. 3 Conjunto das idéias de um educador
prático ou teorista em educação: A pedagogia de Froebel, a
pedagogia de Rui Barbosa. 4 ant Escola de primeiras letras.

Criado na década de 30 no Brasil, o curso de Pedagogia é marcado por


instabilidades relacionadas ao tipo de formação que deve ter o pedagogo, seu campo de
atuação e quais os saberes necessários para a sua prática. Libâneo (2002) apresenta um
breve panorama histórico da educação e da pedagogia no Brasil, que se divide em
períodos:
 O período que abrange desde a educação jesuítica até a segunda década do
século XX, em que a pedagogia tinha caráter científico ainda que especulativo;
 O período que compreende a Escola Nova no Brasil (a partir da segunda década
do século XX) até o período que antecede a ditadura militar, onde a pedagogia é
associada à docência e à experiência de professores;
 O período do tecnicismo educacional que se inicia com a ditadura militar no
Brasil até o início dos anos 90, evidenciando uma pedagogia de caráter
científico, porém técnico e não teórico;
 O período da concepção de “ciências da educação”, que compreende o início dos
anos 90 do século XX em diante, onde volta então, a concepção de pedagogia no
sentido de metodologia e organização do ensino.

2
Informações retiradas da Enciclopédia Barsa On line.
3
Definido de acordo com dicionário Michaelis da Língua Portuguesa

9
A partir deste levantamento é possível perceber que, desde sua criação, o curso de
Pedagogia desenvolve foco prioritário nos processos que envolvem o ofício docente em
instituições formais e regulares de educação. Assim a figura do pedagogo é cada vez
mais associada à do professor. Ao longo da história, a pedagogia vem buscando sua
identidade (ora geral, ora tecnicista), enquanto ciência ou ciências da educação. Muitas
foram as regulamentações ocorridas no curso de Pedagogia – 1939, 1962 e 1969 que
apresentaram um currículo mínimo como referência nacional e em 1996 deixa de existir
este currículo mínimo cedendo lugar às diretrizes curriculares para as diferentes
licenciaturas, menos para a Pedagogia – somente em 2005 é aprovada as “Diretrizes
Curriculares para os Cursos de Pedagogia” com o Parecer CNE/CP 05/20054. Diz o
documento que “a formação do licenciado em Pedagogia fundamenta-se no trabalho
pedagógico realizado em espaços escolares e não-escolares, que têm a docência como
base”.
Dessa maneira, abriu-se o caminho para o reconhecimento da dimensão
educativa que existe em outras instâncias da vida social, fora da escola regular e da
docência. Entende-se que onde houver uma prática educativa intencional, haverá aí uma
ação pedagógica (LIBÂNEO, 1996). Apesar disso, o pedagogo tem-se ainda
caracterizado como profissional responsável pela docência e especialidades da
educação, como: direção, supervisão, coordenação e orientação educacional, entre
outras atividades específicas da escola.

1.2 O pedagogo e sua atuação além dos espaços formais de ensino: sua importância e
sua prática

Educação engloba ensinar e aprender. É um fenômeno visto em qualquer sociedade,


pois é responsável pela sua manutenção e perpetuação a partir da passagem às gerações
que se seguem, dos meios culturais necessários à convivência e sobrevivência de um
membro. Nos mais variados espaços de convívio social ela está presente.

4
Informação retirada do site CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
http://www.cnte.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=334&Itemid=136 acessado em
10/06/2009

10
De acordo com Torres5, a prática educativa formal – observada em instituições
específicas – se dá de forma intencional e com objetivos determinados, como no caso
das escolas. Por outro lado, a escola não é a única instituição capaz de educar. Educa-se
através das organizações (sindicatos, associações, clubes, empresas, partidos etc.).
Educa-se através das práticas sociais. Ainda de acordo com Torres, entende-se como
prática social as relações que se estabelecem entre as pessoas, entre estas e a
comunidade ou grupos, entre grupos ou grupos e a sociedade.
Pode-se compreender então que as práticas educativas não se dão de forma isolada
das relações sociais que caracterizam a estrutura econômica e política de uma
sociedade, mas estão subordinadas a interesses de grupo e de classes sociais. O objeto
de estudo da Pedagogia é o fato educativo. A partir dele, é tecida uma rede de
informações necessárias ao entendimento de como esse fato se dá. A Pedagogia
preocupa-se não apenas com o fato educativo, dissociado do contexto onde ocorre, mas
interpreta e analisa a realidade social. Estuda ainda as teorias educacionais que mostram
como a criança, o adolescente e o adulto aprendem; estuda também sistemas de gestão
administrativa e, nas disciplinas básicas, de caráter geral como Sociologia, Filosofia,
Psicologia, História da Educação; estuda o mundo, os sujeitos sociais e toda a sua
especificidade.
O curso de Pedagogia tem seu centro nos processos educativos, nos métodos, nas
maneiras de ensinar, no entanto, não se restringe a isto, assume significância mais
ampla. Na escola, na sociedade, na empresa, em espaços formais e não-formais,
escolares e não-escolares, as pessoas constantemente aprendem e ensinam. Não há
forma nem modelo exclusivo de educação, nem é a escola o único lugar em que a
educação acontece. Vale ressaltar então que o pedagogo é um profissional capacitado
para lidar com fatos e situações diferentes da prática educativa em vários segmentos
sociais e profissionais. O profissional pedagogo com a democratização do acesso a
escola e a outros espaços e instituições públicas vem, aos poucos, rompendo o conceito
de que só poderia atuar em uma instituição de ensino.
Libâneo (2002) escreve que o pedagogo tem identidade própria, seu campo de ação
compreende a ação educativa e os processos de ensino e de aprendizagem. A
confluência de outras ciências existentes no curso permite-lhe refletir e compreender as

5
TORRES, Tércia Z. – A prática de bordar e os processos educativos nela inseridos. Relatório da disciplina
“Práticas Sociais e Processos Educativos”. UFSCar, 2004

11
questões relacionadas à sociedade e ao ser humano. Sua formação multidisciplinar
confere-lhe a possibilidade de implementar ações interdisciplinares. A atuação
profissional do pedagogo é tão grande quanto são as práticas educativas na sociedade,
pois é “o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou
indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação ativa
de saberes e de modos de ação, tendo em vista objetivos de formação humana definidos
em sua contextualização histórica”. (p.52)
As possibilidades de exercício profissional do pedagogo são amplas, uma vez que o
objeto principal do seu trabalho é o ato educativo, a aprendizagem humana. Aprender
significa tomar conhecimento, tornar-se apto ou capaz de fazer alguma coisa, em
conseqüência de estudo, observação, experiência. Projetos que estimulem aprendizagens
são cada vez mais requisitados nos locais de trabalho e podem representar uma mudança
radical nas organizações e nas relações que nela acontecem. O Conselho Federal de
Educação, na indicação 70/76, artigo 2°, define o pedagogo como um dos especialistas
em educação "que se aprofunda na teoria, nos fundamentos ou metodologia da
educação” (SILVA, 2003, p. 60). O conceito de pedagogia e o fazer do pedagogo têm se
modificado ao longo dos tempos, hoje se entende que a pedagogia ocupa-se da “reflexão
teórica a partir e sobre as práticas educativas” (LIBÂNEO, 2002).
Atualmente as Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia6, pela Resolução
nº01 de 15 de Maio de 2006, mostra a ampliação da formação inicial para o exercício da
docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de
Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de
serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas, nas quais sejam previstos
conhecimentos pedagógicos, pois a base da formação do pedagogo é a construção de
saberes que permite fazer a leitura do mundo sob múltiplos ângulos e olhares. Entre as
diferentes áreas elencadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais encontra-se a
possibilidade da atuação do pedagogo em atividades educativas em instituições não-
escolares, comunitárias e populares. Para atuar nestes espaços, o pedagogo conta com
sua formação, a qual se fundamenta no trabalho pedagógico que tem como base a
docência.
Os conhecimentos trabalhados no Curso de Pedagogia permitem que os acadêmicos
construam saberes e competências que os habilitam a atuar em diversos espaços

6
Disponível: <www.ministeriodaeducacao.gov.br> Acesso em junho de 2009

12
educacionais. O pedagogo não pode perder de vista os problemas sociais, especialmente
num tempo em que eles são potencializados por reflexos e implicações da globalização,
pela desigualdade e pela pobreza. Em função destas questões, é preciso ampliar o debate
sobre a formação educativa, refletir sobre a possibilidade e a necessidade de os sujeitos
(re)construírem saberes. A ética da condição humana tem sido muito debatida
atualmente no fazer profissional, por isso, insere-se no processo educativo de
desenvolvimento do ser humano e passa, fundamentalmente, pela formação de
consciência de todos os sujeitos na esfera social, profissional (GRISNPUN, 2003).

13
Capítulo II - Breve panorama sobre educação formal, informal e não formal

O antropólogo Carlos Brandão assim escreve sobre as áreas de atuação do


pedagogo:

“Não há uma única forma nem um único modelo de


educação; a escola não é o único lugar em que ela
acontece..., o ensino escolar não é a única prática, e o
professor profissional não é seu único praticante. Em casa,
na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos,
todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: aprender,
para ensinar, para conviver, todos os dias misturamos a
vida com a educação”.

De mesma maneira corrobora Lopes (2008) ao afirmar que na interação do homem


com o meio em que se relaciona, ele enquanto sujeito atuante/participativo, processa sua
aprendizagem, não sendo só uma aprendizagem letrada, mas, uma aprendizagem
sociocultural que passa de geração em geração, formando nossa herança historicamente
acumulada e culturalmente organizada que se transforma todos os dias e a aplicamos em
nossas atividades, sejam elas informais, formais ou não formais.
A tarefa da Educação consiste em conduzir e em tornar produtivo, do ponto de vista
pedagógico, esse processo de relação participativa/interativa e, com isso, promover o
desenvolvimento do homem. A Educação torna-se assim, a mediadora entre a teoria e a
prática, entre o sujeito e sua interação com o meio ambiente no qual está inserido. Estes
processos educativos acontecem em uma variedade de manifestações e atividades –
sociais, políticas, culturais, econômicas, religiosas, familiares, escolares..., por meio de
distintas modalidades – formais, informais e não formais.

Segundo Libâneo (2002), por Educação Informal entende-se que “o ser humano
educa-se pelo simples fato de viver e conviver com outras pessoas, desenvolvendo-se e
transformando-se por efeitos de sua interação com o meio no qual está interagindo.
Trata-se nesse caso de um processo espontâneo, não intencional e não formal, no qual se
observa a aprendizagem de experiências nem sempre conscientes, que preexistem e que
provavelmente formarão os suportes físicos, emocionais e sociais do individuo.

14
São estas situações do dia-a-dia das pessoas que afetam e influenciam, segundo
Lopes (p.19), a Educação de modo inevitável, formando hábitos, atitudes de pensar e
agir do homem e, consequentemente, formando a sociedade em que se vive.

A Educação Formal é aquela que ocorre nas instituições escolares, é mais


sistemática, segue padrões preestabelecidos por sua equipe, é estruturada, intencional,
com propostas políticas educacionais fechadas, em que se observa um programa
curricular a ser cumprido, as quais se desenrolam por meio de uma dinâmica em sala de
aula. O processo é precedido, segundo Haid (2004), de um planejamento em que se
definem os métodos e as técnicas a serem empregados, quais os resultados a serem
alcançados e como serão avaliados e validados.

A Educação Não Formal constitui-se em propostas educacionais mais abertas que se


desenvolvem de forma mais flexível, com emprego de procedimentos metodológicos
diversificados, não seguindo uma sequência convencionada necessariamente. Lopes
(2002, p.20) assim exemplifica: a mídia dissemina saberes e modos de agir nos campos
políticos, social, econômico e moral por meio de mensagens educativas (ou não) para
combate à violência, às drogas, à saúde e entre outros. Já as empresas propõem
programas de formação profissional em serviço – as Universidades Corporativas -,
orientam as atividades profissionais, promovem cursos de aperfeiçoamento e
desenvolvimento de seus funcionários, em que fica claramente identificada a atuação da
Pedagogia.

2.1 Diferenciando Educação formal e não formal

Como já citado anteriormente, a educação não-formal é intencional e objetiva a


formação de sujeitos. Tal modalidade se dá em espaços não-escolares, contudo
educativos. Já a modalidade de educação informal deriva de processos espontâneos ou
naturais, mesmo que carregados de valores e representações, como é o caso, por
exemplo, da educação familiar.
Nesse sentido, o que diferencia a educação não-formal da educação formal e escolar
não é meramente a ausência ou não do espaço escolar. Suas diferenças estão na
organização e na estrutura do ensino oferecido e do aprendizado proporcionado, pois o
tempo e o espaço diferenciados para a aprendizagem proporcionam novos elementos na

15
educação, em que o tempo da aprendizagem não é fixado e são respeitadas diferenças de
assimilação de conteúdos.
É importante lembrar que no Brasil, tal modalidade de educação está vinculada às
classes mais baixas economicamente, pois visa suprir deficiências referentes à qualidade
do ensino que lhes é oferecido. Consequentemente, a educação não-formal acaba por ter
como objetivo a inserção de crianças e adolescentes, clientela essa majoritariamente
atendida, na sociedade, uma vez que foram excluídas desde o processo de seleção do
sistema escolar, em que a educação é destinada a poucos, e não é para o ensino público
na realidade brasileira.

Todas essas modalidades de Educação fazem constatar que a ação pedagógica


perpassa toda a sociedade, extrapolando os âmbitos escolares formal, mostrando que o
campo cientifico da Pedagogia é mais amplo do que se imagina.

2.2 – Foco em um espaço não-formal: a empresa

Por que a pedagogia na empresa?


Porque, no ambiente laboral, encontramos também, profissionais com defasagens,
descontentes e improdutivos. Estes profissionais com defasagens são encontrados em
todas as escalas hierárquicas e não apenas no operacional, no chão da fábrica onde, às
vezes, o nível de escolaridade é menor. E não se pode esquecer que existem déficits em
todas as áreas do desenvolvimento humano, ou seja, no social, no motor, no afetivo, no
cognitivo e etc. É exatamente nessas defasagens que, segundo Lopes (2008, p.52), a
Pedagogia tem sido utilizada em contextos profissionais – formais ou informais -, para
alavancar potencialidades latentes ou mal utilizadas, a fim de que tenhamos indivíduos e
colaboradores laborais mais envolvidos, mais autoconfiantes, mais produtivos e mais
conscientes de seus valores e de sua importância na organização empresarial.
Embora o quesito tecnicamente qualificado seja fundamental para uma empresa
progredir, este não é mais suficiente para fazer a diferença, pois, em um mundo
globalizado em que hoje se vive, a parte tecnológica esta quase se igualando a todas as
partes do globo terrestre; os serviços também são muito semelhantes, mas o humano não
(p.29)

16
Além dessas atitudes necessárias, o investimento no capital intelectual dos
colaboradores da empresa também é fundamental. É inconcebível que uma empresa
moderna não veja que o investimento no seu capital intelectual é que faz a diferença.

O papel da Educação diante dessas mudanças de comportamento nas organizações


tem a ver com um novo modelo de racionalização dos processos produtivos, como
reorganização do trabalho, requalificação profissional, desenvolvimento de novas
competências, flexibilidade do processo produtivo e etc. Cabe à Educação proporcionar
ao individuo um bom domínio da linguagem oral, escrita e corporal, favorecer a
flexibilidade mental, agilidade de raciocínio, capacidade de abstração e análise etc.
E para alcançar essas competências, o profissional moderno precisa desenvolver
alguns parâmetros básicos:
 Espírito de Liderança: sujeito capaz de orientar, conduzir sua equipe para
alcançar resultados. Acreditar nas habilidades e no discernimento das pessoas;
ser flexível, acessível e ter carisma.
 Orientação para o cliente: saber identificar as necessidades do cliente; conhecer
seu perfil; direcionar suas atividades de forma que satisfaçam o mesmo.
 Orientação para resultados: busca incessante para alcançar os objetivos.
 Comunicação clara e objetiva: ter pensamentos ordenados e claros para haver
uma comunicação eficaz e eficiente.
 Flexibilidade e adaptabilidade: adaptar-se às inovações, ter a capacidade de
modificar, em um curto espaço de tempo, a produção ou os produtos em função
de variações no ambiente externo, buscando atender de forma ágil às flutuações
do mercado.
 Criatividade e produtividade: ser inovador, ousado, usar do poder da criatividade
para fazer a diferença nos resultados.
 Iniciativa e pró-atividade: ser ágil, ter ação, antecipar os fatos, os resultados.
 Aprendizagem contínua: buscar sempre superar seus próprios conhecimentos,
acompanhar as inovações, atualizar-se sempre, questionar-se.

Em virtude dessas novas competências exigidas no mundo moderno, a Pedagogia


Empresarial, se apresenta como uma ponte entre o desenvolvimento das pessoas e as
estratégias organizacionais. Isto porque, como já foi abordado no Capítulo I, a

17
Pedagogia é a ciência que estuda de forma sistematizada o ato educativo, isto é, a
prática educativa concreta que se realiza na sociedade. Assim a educação é um conjunto
de ações, processos, influências e estruturas que intervêm no desenvolvimento humano,
na sua relação ativa com o meio natural e social, em um contexto de relações entre
grupos e classes sociais.
Assim, diante dos níveis de exigência ocorrida no mundo empresarial, surge um
novo cunho para a pedagogia, denominada Pedagogia Empresarial, um ramo da
Pedagogia que se ocupa em delinear frentes para que ocorra o desenvolvimento dos
profissionais como um diferencial entre as empresas. Ela - de acordo com alguns
autores consultados ao longo do levantamento bibliográfico feito -, procura favorecer
uma aprendizagem significativa e o aperfeiçoamento do capital intelectual para o
desenvolvimento de novas competências que atendam ao mercado de trabalho. Isso tudo
aliado às competências dos profissionais da área administrativa e psicológica.

18
Capítulo III - O Pedagogo Empresarial e a busca pelo seu conceito.

No levantamento teórico feito para este trabalho, várias denominações para o


Pedagogo que atua fora do ambiente escolar foram encontradas: pedagogo empresarial,
educador organizacional, educador corporativo, pedagogo do trabalho e vários outros.
Segundo Quirino (s.d) o pedagogo que realiza atividades voltadas para a orientação
profissional, embora não previsto em nenhuma lei, parecer ou resolução relativos à
educação no Brasil, constitui-se no pedagogo do trabalho.
Para o autor, o pedagogo do trabalho aparece como mensageiro de uma nova direção
para a pedagogia que não tem raízes na nossa história. A ele cabe a função específica de
orientação vocacional e profissional do educando, mas enfrenta a difícil tarefa de
divulgar valores novos na nossa cultura, os quais ele próprio ainda recusa, vítima que
naturalmente é do processo de endoculturação que rejeita esses valores. Diversas
denominações vêm sendo utilizadas para o pedagogo do trabalho, sendo “pedagogo
empresarial”, a mais usual, principalmente nos cursos de extensão e especialização latu
sensu encontrados no país.
Ribeiro (2008) denomina pedagogo empresarial àquele que se ocupa dos processos
de ensino-aprendizagem no âmbito das organizações de qualquer segmento ou
dimensão, no setor público ou privado, cuidando do caráter educativo das ações ligadas
ao desenvolvimento do trabalhador nas empresas. A autora ainda define também o
educador organizacional que abarca um conjunto variado de profissões e profissionais
que têm como propósito a ação pedagógica de facilitar o processo de ensino
aprendizagem nas organizações. E o pedagogo organizacional,

(...) embora mantenha alinhamento com o


propósito da ação pedagógica
que é o de facilitar o processo de
ensino e aprendizagem nas organizações, tem um
propósito maior e, ao mesmo tempo específico,
que é o de se constituir como um especialista, no
sentido de formação profissional.

O pedagogo extra-escolar, para Lopez (2008), é aquele que desenvolve atividades


educativas fora dos limites da escola e seu campo de trabalho integra diferentes tipos de
organizações e áreas de atuação através de processos de aprendizagem voltados para o

19
desenvolvimento social inter relacionando a área de educação com diferentes campos
temáticos: saúde, esporte e lazer, cultura, profissionalização, meio ambiente, direitos
humanos e outros.
Nos conceitos propostos pelos autores e, nas bibliografias pesquisadas, notei que o
pedagogo atuante nas organizações, embora com denominações diferentes, desenvolve
atividades de orientação, condução e operacionalização da educação do trabalhador nas
empresas.
Apenas para fins didáticos, será adotado o termo pedagogo do trabalho, muito
embora o termo pedagogia empresarial aparecer vez ou outra e, ser de cunho mais
popular ao se fazer pesquisas nesta área.

3.1 – Panorama acerca do pedagogo do trabalho.

A sociedade atual transita da sociedade industrial para a sociedade do conhecimento.


Para Drucker (1997), as atividades que ocupam o lugar central das organizações não são
mais aquelas que visam produzir ou distribuir objetos, mas as que produzem e
distribuem informação e conhecimento.
Essa preocupação com o humano na empresa atravessou vários períodos e redundou
no reconhecimento da importância do trabalho em equipe. Em plena era da
globalização, profundas modificações ocorreram na sociedade como um todo e também
no âmbito empresarial. Essas mudanças ocasionaram novas reestruturações
organizacionais, a chamada reengenharia produtiva (Pascoal, 2007, p.188). Neste
contexto, o setor empresarial tem investido e incentivado “treinamentos”, ou seja, a
formação continuada, que antes era privilégio do ambiente educacional.
O pedagogo começou a ser chamado para atuar na empresa no final da década de
sessenta, início de setenta. Os princípios de racionalidade, eficiência e produtividade
foram transportados da economia para a educação, de modo conciliatório com a política
desenvolvimentista. A concepção de educação que predominava trazia consigo a
ideologia desenvolvimentista, fundamentada nas teorias do Capital Humano, muito
presente no cenário nacional, respaldando políticas e ações que visavam o
aperfeiçoamento do sistema industrial e econômico capitalista. Na década de 70,
observou-se uma crescente automação do processo de trabalho, de novas tecnologias.
No entanto, a classe trabalhadora se encontrava totalmente despreparada para o estágio
de desenvolvimento industrial. O mercado de trabalho passou, então, a reclamar a

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profissionalização dos trabalhadores para acompanhar as mutações que estavam
ocorrendo no mundo do trabalho, decorrentes de transformações tecnológicas. A escola
encontrava-se despreparada para oferecer contribuições na profissionalização dos
trabalhadores para que atendessem as perspectivas de desenvolvimento industrial.
Sendo assim, buscaram-se outros mecanismos situados fora da escola formal para
formar o trabalhador viável àquele momento. A formação profissional passou a ter seu
âmbito cada vez mais definido no local de trabalho ou através de treinamentos
intensivos, coordenados por instituições ou pela própria empresa. (Figueiredo, 2004)
Neste atual cenário, embora não seja política das empresas, tampouco da sociedade,
a democratização e a disseminação generalizada do conhecimento, as formas de
organização do trabalho e os modelos de gestão de pessoas, trazem pressupostos de
novas formas de valorização do saber do trabalhador e implicam numa necessidade de
qualificação e requalificação constante (Souza 1981). As relações sociais sempre foram
tratadas de forma marginal nas empresas, não havia preocupação de relacionar
sistematicamente as relações sindicais com as relações com os empregados e, muito
menos com as relações com a comunidade (Teixeira, p. 90). Os conflitos sociais nas
empresas acabavam focados de fora para dentro, como se causados unicamente por
algum agente externo e tratados apenas na sua dimensão jurídica. Pouca ou nenhuma
importância foi dada aos fatores oriundos das relações com os empregados, da vida no
interior das empresas. Dentro deste enfoque, até por volta de 1990, as empresas não se
interessavam por gastar tempo, dinheiro e energia na preparação de seus funcionários
para corresponder as exigências do mundo corporativo. Se até agora foi suficiente uma
abordagem taylorista da realidade social, retalhando-a em suas diferentes facetas e
distribuindo os pedaços para os diferentes especialistas (administradores, psicólogos,
engenheiros e etc;), a compreensão de que o sistema social é complexo e imprevisível
encaminha as empresas para uma postura estratégica onde se integram concepções de
diferentes áreas das ciências, balanceadas pela progressiva adoção da política como o
referencial para a tomada de decisões.
O termo pedagogia empresarial e todo seu cunho prático surge como aliado para
estabelecer parcerias entre universidades e institutos, pois a educação deve preocupar-se
em integrar, produtivamente, o homem a sociedade, em prepará-lo para seu
desenvolvimento – preparo para a vida e pela vida. Se de um lado ela pode ser
institucionalizada e exercida de modo organizado e sistemático (nos diversos tipos de

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escola e obedecendo a planos pré- estabelecidos), ela é também desenvolvida, de modo
difuso, na família, na sociedade e nas empresas.
Percebe-se então que a ação pedagógica pode se apresentar das mais diversas
formas, e nos mais diversos contextos da atividade humana. A pedagogia tem no ser
humano o foco de seu trabalho e vê nas pessoas a possibilidade de transformar também
a sociedade. Na sua função de preparar indivíduos para a vida, o pedagogo ampliou sua
visão de educação e foi se aproximando do ser humano, nos mais diversos contextos
sociais, onde quer que o capital humano se faça presente. O conhecimento é
indispensável no mundo do trabalho e, para que os recursos investidos na educação do
trabalhador tragam os retornos desejados pelo capital é necessário que o processo
pedagógico seja planejado, implantado e desenvolvido de maneira eficaz, demandando
profissionais aptos para sua operacionalização, assim sendo, a presença do pedagogo na
empresa tem sido bastante discutida e evidenciada. Por exercer funções educativas num
ambiente em que as ideologias e os valores vigentes são diferenciados dos vivenciados
pela escola, a compreensão do contexto no qual e para o qual se desenvolve o trabalho
educativo é imprescindível para o pedagogo do trabalho.

3.2 – O pedagogo do trabalho: o que o credencia e o seu papel na empresa.

Histórica e culturalmente o pedagogo sempre atuou na educação escolarizada e sua


inserção na educação nas empresas tem se dado de maneira importante, porém lenta e
gradual, por isso tamanha dificuldade em se encontrar pesquisas neste sentido ou
literatura apropriada.
Além dos conhecimentos gerais que são proporcionados pelos cursos de Pedagogia,
outros conhecimentos do pedagogo fazem com que ele seja importante para as empresas
e podem ser assim identificados: conhece recursos auxiliares de ensino, entende do
processo de ensino-aprendizagem, sabe avaliar seus programas, estudou didática (arte
de ensinar) no seu curso superior, sabe elaborar projetos. Além desses pré-requisitos que
são indispensáveis à função, outros se fazem necessários para uma boa atuação
profissional.

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“O Pedagogo Empresarial precisa de uma formação

filosófica, humanística e técnica sólida a fim de


desenvolver a capacidade de atuação junto aos recursos
humanos da empresa. Via de regra sua formação inclui
disciplinas como: didática aplicada ao treinamento,
jogos e simulações empresariais, administração do
conhecimento, ética nas organizações, comportamento
humano nas organizações, cultura e mudança nas
organizações, educação e dinâmica de grupos, relações
interpessoais nas organizações, desenvolvimento
organizacional e avaliação do desempenho”. (Ribeiro,
2008, p. 10).

De acordo com Pascoal (2007), as competências de um pedagogo dentro da empresa


se articulam em cinco campos: atividades pedagógicas, técnicas, sociais, burocráticas e
administrativas:
• Conceber, planejar, desenvolver e administrar atividades relacionadas à educação
na empresa;
• Diagnosticar a realidade institucional;
• Elaborar e desenvolver projetos, buscando o conhecimento também em outras
áreas profissionais;
• Coordenar a atualização em serviço dos profissionais da empresa;
• Planejar, controlar e avaliar o desempenho profissional dos funcionários da
empresa;
• Assessorar as empresas no que se refere ao entendimento dos assuntos
pedagógicos atuais. (2007, p. 190)
Segundo Ribeiro (2008), a pedagogia empresarial se ocupa basicamente com os
conhecimentos, as competências, as habilidades e as atividades diagnosticadas como
indispensáveis para a melhoria da produtividade no interior da empresa. Sendo assim há
algumas responsabilidades que fazem parte do universo do pedagogo inserido no
ambiente empresarial, que segundo Holtz (2006) seriam:
 Conhecer e encontrar as soluções práticas para as questões que envolvem a
otimização da produtividade das pessoas humanas - o objetivo de toda Empresa.

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 Conhecer e trabalhar na direção dos objetivos particulares e sociais da Empresa
onde trabalha.
 Conduzir com atividades práticas, as pessoas que trabalham na Empresa -
dirigentes e funcionários - na direção dos objetivos humanos, bem como os
definidos pela Empresa.
 Promover as condições e atividades práticas necessárias - treinamentos, eventos,
reuniões, festas, feiras, exposições, excursões, etc... -, ao desenvolvimento
integral das pessoas, influenciando-as positivamente (processo educativo), com
o objetivo de otimizar a produtividade pessoal.
 Aconselhar, de preferência por escrito, sobre as condutas mais eficazes das
chefias para com os funcionários e destes para com as chefias, a fim de
favorecer o desenvolvimento da produtividade empresarial.
 Conduzir o relacionamento humano na Empresa, através de ações pedagógicas,
que garantam a manutenção do ambiente positivo e agradável, estimulador da
produtividade.

Ainda de acordo com a autora, quem pretende educar (orientar, influenciar, ensinar),
só consegue com os conhecimentos de Pedagogia - que é o conjunto das experiências
práticas e estudos sistematizados do fato educativo -, pois ela estabelece:
 Aquilo que se deve fazer.
 Estuda os meios de realizá-lo.
 Põe em prática aquilo que concebeu.

Percebe-se que a ação pedagógica pode se apresentar das mais diversas formas, e
nos mais diversos contextos da atividade humana. A pedagogia tem no ser humano o
foco de seu trabalho e vê nas pessoas a possibilidade de transformar também a
sociedade. O conhecimento é indispensável no mundo do trabalho, assim sendo, a
presença do pedagogo na empresa é de fundamental importância; pois para efetivar seu
crescimento, a empresa depende da qualidade dos seus funcionários, se o capital
humano estiver bem preparado a instituição aumentará a sua produtividade.
Porém há que se ressaltar que por exercer funções educativas num ambiente em que
as ideologias e os valores vigentes são diferenciados dos vivenciados pela escola, a

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compreensão do contexto no qual e para o qual se desenvolve o trabalho educativo é
imprescindível para o pedagogo do trabalho.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com as leituras realizadas para a elaboração deste trabalho, as práticas


educativas não se restringem à escola ou à família, elas ocorrem em todos os contextos e
âmbitos da existência individual e social humana, de modo institucionalizado ou não,
sob várias modalidades. Entre essas práticas, há as que acontecem de forma difusa e
dispersa, são as que ocorrem nos processos de aquisição de saberes e modos de ação de
modo não intencional e não institucionalizado, configurando a educação informal. Há,
também, as práticas educativas realizadas em instituições não convencionais de
educação, mas com certo nível de intencionalidade e sistematização, tais como as que se
verificam nas organizações profissionais, nos meios de comunicação, nas agências
formativas para grupos sociais específicos, caracterizando a educação não formal.
Existem, ainda, as práticas educativas com elevados graus de intencionalidade,
sistematização e institucionalização, como as que se realizam nas escolas ou em outras
instituições de ensino, compreendendo o que o autor denomina educação formal.

A afirmação de que diversos espaços sociais são educativos, devido ao próprio


caráter de transmissão de conhecimentos que tem a sociedade para a perpetuação da
história cultural do homem, reafirma a possibilidade de atuação do pedagogo em outros
espaços além da escola, já que neles se possibilita a relação de ensino-aprendizagem,
relação essa necessária para a concretização do caráter educativo.

Sendo assim, nessa concepção, pedagogo é o profissional que atua em várias


instâncias da prática educativa, indireta ou diretamente vinculadas à organização e aos
processos de aquisição de saberes e modos de ação, com base em objetivos de formação
humana definidos em uma determinada perspectiva. Dentre essas instâncias, o pedagogo
pode atuar nos sistemas macro, intermediário ou micro de ensino (gestores,
supervisores, administradores, planejadores de políticas educacionais, pesquisadores ou
outros); nas escolas (professores, gestores, coordenadores pedagógicos, pesquisadores,
formadores etc.); nas instâncias educativas não escolares (formadores, consultores,
técnicos, orientadores que ocupam de atividades pedagógicas em empresas, órgãos
públicos, movimentos sociais, meios de comunicação; na produção de vídeos, filmes,
brinquedos, nas editoras, na formação profissional etc.). Essa formulação distingue
claramente a atividade profissional do professor, que realiza uma forma específica de

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trabalho pedagógico (ensino) e a atividade profissional do pedagogo, que se desenvolve
em um amplo leque de práticas educativas (informais, não formais e formais).

A pesquisa proporcionou o repensar de práticas pedagógicas em diferentes espaços


sociais que se constituem enquanto educativos e mostra, através do levantamento
bibliográfico, que, a crescente presença do pedagogo nas organizações empresariais e
outras afins, confirmam a possibilidade de sua atuação em novas áreas de trabalho.
Embora o ato educativo tenha uma natureza não-material e os objetivos da empresa e
escola não sejam os mesmos, pode-se dizer que uma escola também agrega pessoas para
o desempenho de atividades com objetivos definidos. Existe também um líder, o
Pedagogo, gestor e administrador, que a dirige e lidera para a consecução de seus
objetivos educacionais. Não se pode, em hipótese alguma, afirmar que a escola pode se
guiar pelos pressupostos da empresa e vice-versa, mas sim que existe, na prática do
Pedagogo, algo que pode ser feito em benefício do trabalho da empresa, embora a
existência de poucas obras sobre o assunto Pedagogia Empresarial mostre que são
recentes as reflexões sobre esta questão.

A possibilidade de inserção em diferentes campos de atuação do pedagogo revela a


abrangência do conceito de educação para outras modalidades além da formal-escolar,
ampliando o olhar para outras instâncias, de maneira a valorizar as relações de ensino-
aprendizagem que se estabelecem entre indivíduos e grupos em espaços não-formais ou
informais de educação. Assim, o presente trabalho possibilitou compreender que os
caminhos traçados pela experiência de atuar em contexto corporativo ou empresarial
não se limitam a adquirir uma série de habilidades e competências (como listado no
capítulo III), mas sim a uma prática pedagógica reflexiva que ofereça ao pedagogo a
construção de saberes que o habilitem a promover processos educativos em espaços
formais e não-formais de educação.

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