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Não é fácil definir “privatização”. Seu conceito está muito mais afeto à Ciência da
Administração, à Ciência Política e às Ciências Econômicas do que ao Direito. A este último
cabe a tarefa de analisar a viabilidade jurídica, diante do direito positivo, da adoção de
medidas privatizadoras, em uma área em que, além das dificuldades comuns a todas as
inovações, a utilização dessas medidas precede, em grande parte dos casos, a disciplina
legal da matéria.
Essa ideia corresponde a um conceito bem amplo de privatização, que abrange todas
as medidas adotadas com o objetivo de diminuir o tamanho do Estado e que
compreendem, fundamentalmente:
• a desregulação (diminuição da intervenção do Estado no domínio econômico
ou, pelo menos, a mudança na forma de regulação);
• a desmonopolização de atividades econômicas;
• a venda de ações de empresas estatais ao setor privado (desnacionalização
ou desestatização);
• a procura pelas formas privadas de gestão, como a concessão de serviços
públicos e, mais recentemente, as parcerias público-privadas (com a
devolução da qualidade de concessionário à empresa privada e não mais a
empresas estatais, como vinha ocorrendo), além das concessões de obras
públicas e várias modalidades de concessões para exploração de bens públicos;
• os contracting out (como forma pela qual a Administração Pública celebra
acordos de variados tipos para buscar a colaboração do setor privado,
podendo-se mencionar, como exemplos, os convênios e os contratos de obras e
prestação de serviços); é nesta última fórmula que entra o instituto da
terceirização; atualmente fala-se em consensualização para designar a
tendência de buscar as fórmulas contratuais em substituição ou em acréscimo
à atuação unilateral e autoexecutória da Administração Pública;
• a liberalização de serviços públicos, em movimento inverso ao da publicatio;
por outras palavras, atividades antes assumidas como serviços públicos
perdem essa qualidade, passando a ficar abertas à livre-iniciativa; trata-se de
privatização da própria atividade.
Alguns autores referem-se à privatização nesse sentido amplo. É o caso de Jaime
Rodriguez-Arana (1991:75-76), para quem a privatização pode ser definida “como um
conjunto de decisões que compreendem, em sentido estrito, quatro tipos de atividades.
Primeiro, a desregulação ou liberação de determinados setores econômicos. Segundo, a
transferência de propriedade de ativos, seja através de ações, bens etc. Terceiro,
promoção da prestação e gestão privada de serviços públicos. E, quarto, a introdução de
mecanismos e procedimentos de gestão privada no marco das empresas e demais
entidades públicas”.
Mas ele acrescenta que as técnicas propriamente ditas de privatização são muito variadas;
“assim, podemos encontrar operações com finalidade privatizadora, como o
‘desinvestimento’, o fomento do abandono do auxílio público, a remoção de monopólios
para permitir o crescimento da competência ou, se se quer, a promoção de instituições
alternativas”.
Francisco José Villar Rojas (1993:100-101) também adota um conceito amplo, ao afirmar
que o termo privatização foi empregado para abarcar uma infinidade de iniciativas
governamentais dirigidas, em princípio, “a incrementar o papel do setor privado e,
paralelamente, a reduzir o intervencionismo estatal na economia. É um conceito que
engloba vários meios destinados a mudar a relação entre o Governo e o setor econômico
privado, distintos e em grande medida alternativos entre si”. Depois de transcrever vários
conceitos doutrinários de privatização, o autor acaba por definir a privatização como “a
redução da atividade pública na produção e distribuição de bens e serviços, mediante a
passagem (por vezes, a devolução) dessa função para a iniciativa privada”.
Técnicas de privatização
Entre as técnicas de privatização, Rojas inclui:
Como que a confirmar essa ideia de que a privatização é um conceito em aberto, constata-
se o surgimento de novas formas de parceria, como os contratos de gestão com as
chamadas organizações sociais, os termos de parceria com as organizações da sociedade
civil de interesse público (Oscips), os termos de colaboração e os termos de fomento com
as organizações da sociedade civil (OSC) e as parcerias público-privadas.
O próprio vocábulo privatização, ligado a privado, evoca as ideias de gestão por pessoas
privadas e de gestão pelos métodos do setor privado. Insere-se na tendência de fuga do
direito público ou fuga para o direito privado, de que tratamos em texto inserido na obra
coletiva intitulada Direito Privado Administrativo (São Paulo: Atlas, 2013, p. 12-13).
Fonte: http://genjuridico.com.br/2019/06/13/como-definir-privatizacao/