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Só pode fazer o que a lei permite

Pode fazer tudo o que a lei não proíbe

A grande diferença entre a gestão pública e privada é que as organizações da


Administração Pública se regem por regulamentos e normas dispostos de forma
exaustiva, uma vez que “só podem fazer o que a regra permite”. Já as organizações do
setor privado podem “fazer tudo, exceto o que as regras coíbem”. Portanto, seus
regulamentos e normas podem ser mais simples.

É o chamado Princípio Administrativo da Legalidade, decorrente do art. 5º da Carta


Magna, aplicada ao setor público, que significa que o agente público deverá agir em
conformidade com a Lei, fazendo estritamente o que esta determina. É que alguns
autores chamam de legalidade estrita. Diferentemente do particular, a quem é lícito
fazer tudo o que a Lei não proíbe (por exclusão, portanto), o servidor pode e deve agir
exatamente conforme previsto, limitando-se, assim, sua autonomia. A título de
exemplo, pode-se citar a conduta de um auditor-fiscal ao visitar determinado
estabelecimento mercantil e constatar a existência de recursos não-contabilizados.
Independentemente da peculiaridade do contribuinte (rico, pobre, amigo, inimigo),
deverá ser lavrado o auto de infração.

A gestão privada não tem princípios tão bem definidos como os que regem a
administração pública. A direção das empresas privadas tem liberdade e flexibilidade
para criar sua própria filosofia e seguí-la.

Vejamos as principais divergências entre a gestão pública e a gestão privada:

Quanto ao interesse: a gestão pública procurará satisfazer o interesse e bem-estar


geral (voltada para o bem público), enquanto a gestão privada procura satisfazer os
interesses de determinados indivíduos ou grupos (voltada para o bem privado). Como
o governo detém a autoridade suprema, espera-se que resolva todos os conflitos dos
particulares, garantindo, assim, o bem estar comum.
Quanto aos recursos: A gestão privada lida com
recursos próprios ou de investidores, e a pública com
recursos gerados pelos contribuintes.
Quanto ao controle: A teoria das
proteções especiais; segundo Weber, como os
servidores públicos agem em nome do poder público, dispõem, em virtude disso, de
um certo poder de coação, independentemente de seu nível hierárquico; essa
autoridade, para que não se torne abusiva, necessita de controles, não só de seu
chefe, mas também dos colegas, dos subordinados, do povo e do próprio servidor. A
esse controle, Weber denominou Teoria de proteções especiais.

Quanto aos objetivos: A gestão pública visa à consecução de seus objetivos em prol do
interesse coletivo, sem, contudo, buscar lucro em suas atividades.

A gestão privada visa o lucro. Vale ressaltar que as organizações públicas que
oferecem serviços não exclusivos ao Estado (como as empresas públicas, por
exemplo), podem auferir lucro. Assim, os empresários são motivados pela busca do
lucro, as autoridades governamentais se orientam pelo desejo de serem reeleitas.

As empresas normalmente trabalham em regime de competição; os governos usam


habitualmente o sistema de monopólio. No governo, todos os incentivos apontam no
sentido de não se cometerem erros. O governos é democrático e aberto; por isso seus
movimentos são mais lentos comparados aos das empresas, cujos administradores
podem tomar decisões rapidamente, a portas fechadas.

Quanto à privacidade: As empresas privadas podem desejar não fornecer


determinadas informações que julgar necessário, por questões de competição, por
exemplo. Na gestão pública, salvo em áreas de segurança do Estado, não pode haver
segredos.
Quanto às carreiras e promoções: As carreiras e promoções são mais flexíveis no setor
privado, podendo ser revista e reestruturada a qualquer momento de acordo com as
necessidades da gestão visando maior satisfação e conseqüentemente maior
rentabilidade de seus funcionários, na gestão pública as regras estipuladas para cada
órgão devem ser seguidas estritamente.
Quanto à contratação: A gestão privada pode contratar pessoal conforme seu
interesse, sendo por escolaridade, por experiência, por capacidade profissional, até
pelo famoso “QI” (quem indicou!). A gestão pública deve contratar através de
concursos (salvo situações especiais de cargos de confiança. Estudaremos melhor
sobre esse assunto na aula sobre administração de pessoal).
Quanto à estrutura: A administração pública tem sua estrutura mais verticalizada e
burocratizada, enquanto a gestão privada tende a ser mais horizontalizada e flexível.
Adaptações: enquanto na gestão privada o conceito de custo-benefício orienta o
processo produtivo, na gestão pública tal conceito não pode ser utilizado em toda sua
plenitude, tendo em vista as funções sociais do Estado (alocativa, distributiva, etc.).
Assim, nem sempre o mais barato será o melhor para o ente público. Há de se
considerar o papel social do Estado.
Embora as gestões pública e privada possuam muitas diferenças, algumas
convergências podem ser percebidas, tais como a necessidade de planejamento, foco
no sucesso do cliente e uso de ferramentas de qualidade total, dentre outras.
Segundo Abrucio, a atividade governamental é entendida como algo com uma
natureza específica, que não pode ser reduzida ao padrão de atuação do setor privado.
Entre as grandes diferenças, a motivação principal dos comandantes do setor público é
a reeleição, enquanto os empresários têm como fim último a busca do lucro; os
recursos do governo provêm do contribuinte — que exigem a realização de
determinados gastos —, e na iniciativa privada os recursos são originados das compras
efetuadas pelos clientes; as decisões governamentais são tomadas democraticamente
e o empresário decide sozinho ou no máximo com os acionistas da empresa — a
portas fechadas; por fim, o objetivo de ambos é diverso, isto é, o governo procura
fazer “o bem” e a empresa “fazer dinheiro” (OSBORNE & GAEBLER, 1994: 21-23).

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