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AULA 15

Materiais de Construção I
Betão Endurecido e o Controle de Qualidade

1. Betão Endurecido

O betão depois de doseado, fabricado, transportado e colocado em obra, inicia imediatamente um


processo de endurecimento progressivo que o vai converter num material sólido com propriedades
específicas e determinantes da sua utilização.

Lembrar que a resistência mecânica aos esforços e a impermeabilidade são dois aspectos
fundamentais que condicionam a desejada durabilidade deste material de construção.

É importante reconhecer, que o betão, se bem que melhore o seu comportamento à medida que a
idade evolui, está sujeito a fenómenos que podem provocar insucessos ou deficiências inesperados,
comprometendo assim a boa qualidade dos elementos betonados e a respectivas estruturas em que
se integram.

Alguns dos mais importantes referidos fenómenos que condicionam o comportamento do betão
endurecido são a seguir abordados:

— Retracção

O betão como muitos outros materiais sofre variações dimensionais, pois encolhe quando seca ou
perde água, e aumenta de aumenta de volume quando conservado em água.

Nos casos correntes de aplicação do betão em obra, verifica-se um fenómeno de diminuição de


volume que acompanha a presa e o endurecimento, e que pode originar uma microfissuração
superficial e em profundidade, ou fissurações externas visíveis – É a retracção.

O responsável por este tipo de situação é o cimento, cuja natureza e quantidade influem
decisivamente no fenómeno.

O fenómeno da retracção inicia a partir do momento da colocação do betão nos moldes e, é originado
pela saída de água e pela aproximação das partículas, sendo a diminuição do volume praticamente
igual a água perdida.

A retracção do betão fresco é mais acentuada quanto mais seco esteja o ar e mais seja a velocidade da
sua circulação (vento).

No betão, o papel dos inertes é fundamental, já que opondo-se à diminuição de volume, são
responsáveis por a retracção ser menor do que numa pasta de cimento ou argamassa, nas quais
também a dosagem relativa do ligante é mais elevada.

Impedimento da retracção do betão pelos inertes

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Como principais factores da retracção de um betão temos:

 Água da amassadura – a retracção aumenta com o valor de A/C, e portanto com a quantidade
de água.
 Grau de Humidade – a retracção aumenta com o ar mais seco.
 Temperatura – a retracção aumenta com a elevação da temperatura.
 Cimento – a retracção aumenta em função da finura num mesmo tipo de cimento, e do
aumento da dosagem.
 Inertes – a retracção aumenta com a natureza dos inertes desde o menos permeável.
 Quantidade de finos – a retracção aumenta com o aumento de areia fina.

Após a presa, continua a verificar-se uma retracção, desde que o processo de evaporação de água
prossiga, se bem que o esqueleto do cimento hidratado entretanto formado se oponha à aproximação
dos grãos e a amplitude do fenómeno diminua.

Depois de um betão ter endurecido e sofrido os efeitos da contracção por secagem, se for submetido
a ambiente húmido, pode absorver água e expandir, e assim sucessivamente cada vez que seca e é
molhado, podendo dizer-se que está sempre em movimento sob a influência das variações
higrotérmicas.

A avaliação da sensibilidade do cimento à retracção é avaliada por meio do ensaio de anel, no qual
uma coroa de pasta de comento se coloca ao redor de um disco de aço e se conserva ao ar com 50% de
humidade relativa.

O tempo de fissuração, depois de conservada 24 horas em água é um excelente indicativo da


qualidade de cimento, dado que não deve fissurar antes de 20 horas.

Concluindo, para reduzir a retracção total é necessário escolher o cimento e não exagerar a sua
dosagem, limitar a quantidade de água de amassadura, seleccionar inertes duros, evitar produtos de
adição desconhecidos e proteger as superfícies betonadas contra a evaporação da água.

Exemplo de ensaio de anel para avaliar a


retracção da pasta de cimento

— Deformação e Fluência

O betão, como qualquer outro sólido, deforma-se quando suporta uma carga. Esta deformação
aumenta com o tempo de actuação da solicitação e o fenómeno é designado por Fluência.

Há no entanto a considerar que as deformações podem ser instantâneas, por conseguinte elásticas e
reversíveis, que se assemelham às produzidas numa mola, ou plásticas e irreversíveis que se
sobrepõem às primeiras.

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A deformação elástica varia com o estado higrotérmico do ar constatando-se que é menor num estado
saturado do que num meio seco, e depende do estado de endurecimento do betão no momento da
aplicação da carga, diminuindo quando aumenta a idade que o betão tem no instante de aplicação de
carga.

Deformação plástica e o instante da aplicação da carga

A extensão ou deformação plástica do betão é condicionada por factores como a dosagem do


cimento, água da amassadura, granulometria do inerte, dimensão da peça e temperatura.

Para estados de tracção as deformações plásticas contrariam as contracções.

Para as solicitações de compressão ou tracção, a deformação do betão é acompanhada por uma


deformação transversal de dilatação ou contracção como se a matéria elástica quisesse resistir à
variação de volume.

A relação entre a deformação transversal e longitudinal é dada pelo coeficiente de “Poisson”, que é
sempre inferior a 0,5 e correntemente igual a 0,2.

A determinação da elasticidade do betão é indispensável para o cálculo da deformação sofrida pelos


elementos estruturais nas obras. Para tal é necessário conhecer o conceito de módulo de elasticidade,
E, que exprime a relação entre tensão unitária e a deformação elástica correspondente.

F l 
 e  , entao: E  [MPa]
A L 
Quanto maior é o módulo de elasticidade, então menos deformável será o betão. Nos betões
correntemente utilizados, o E varia entre 2,7x105 a 4,0x105 MPa.

O módulo de elasticidade varia consoante diferentes tios de betões, e a natureza do inerte,


aumentando com a resistência e a compacidade daqueles, com a diminuição da água de amassadura, e
também com a idade, tanto mais rapidamente quanto maior for a humidade ambiente.

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Resistência à variação de volume

— Fissuração do betão

Consoante a origem das variações de dimensões do elemento do betão, sejam deformações


resultantes directamente das forças aplicadas, sejam aquelas que advém das tensões provocadas
internamente por variações espontâneas podem surgir fissuras no betão.

As fissuras consistem em micro roturas que aparecem como consequência de tensões superiores
à capacidade resistente.

As fissuras resultantes de esforços actuantes variam em função da sua tipologia:

 Esforços de compressão: fissuras na direcção da força, frequentes em pilares.


 Esforços de tracção: fissuras em direcção perpendicular à direcção do esforço.
 Esforços de flexão: são mais frequentes em vigas e aparecem nas zonas de esforços
máximos e possuem orientação vertical.
 Esforços de corte: fissuras inclinadas e por vezes com tramos quase horizontais.
 Esforços de torção: fissuras cujo o traçado rodeia o perímetro do elemento estrutural,
desenvolvendo-se em direcção oposta num e noutro paramento.

Fissuração do betão pelos esforços: compressão, tracção, flexão, corte e torção, respectivamente.

— Rotura

A rotura do betão surge quando este material se torna incapaz de suportar e resistir às cargas
aplicadas. Então pode romper, fissurar e desagregar-se.

Sob ponto de vista de Engenharia, a rotura, fenómeno inerente ao domínio do conhecimento da


resistência do betão, é correntemente encarado sob três aspectos principais:

 Separação de um sólido contínuo em dois ou mais pedaços distintos.


 Carga máxima suportada por uma peça solicitada de maneira geometricamente fixa.
 Estado de deformação e de fissuração de tal modo excessiva que o material já não é
utilizável.

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Exemplo de rotura de uma viga solicitada à flexão

O betão é um material pouco deformável, portanto “frágil”, e a sua rotura será considerada
doravante, sob aspecto de fissuração e separação devidas a perda de coesão.

2. Controle de Qualidade do Betão

O betão urge no presente como um material aparentemente simples de confeccionar e fácil de


colocar, que a generalidade de intervenientes na obra conhece e que muitos julgam dominar
tecnicamente o que é ilusório e necessita de urgente correcção.

De acordo com o escalonamento do próprio processo construtivo e do ciclo de vida do betão, desde
que é dimensionado e produzido, até à sua colocação e conservação em obra, podem-se distinguir
várias fases de controle de qualidade.

A meta será obviamente a obtenção de um produto final conforme as especificações e as


características exigidas, segundo um compromisso técnico/económico que possibilite a melhor relação
custos de produção/rendimento de execução/adequação e satisfação das necessidades do utilizador.

— Fases de controle de qualidade

Para concretização prática do controle de qualidade do betão poderemos considerar de forma


escalonada, as seguintes três (3) fases principais:

1ª) Controle do Betão Antes do Fabrico

Estudo dos materiais constituintes do betão e sua composição, com a definição e realização de ensaios
prévios inerentes à caracterização das suas propriedades, tendo em conta a escolha criteriosa de tais
constituintes.

Faz a análise e identificação atempada do projecto, da tipologia e localização da obra, condições


ambientais características, classes e tipos de betões previstos ou especificados, e outras prescrições
técnicas do caderno de encargos.

2ª) Controle do Betão Fresco

A partir do momento em que se inicia o fabrico do betão, surge a necessidade de controlar algumas
das propriedades do material enquanto fresco, isto é, desde que sai da misturadora, betoneira ou
central de produção, passando do transporte, até a sua chegada ao local de colocação.

Um primeiro exame de controle deverá ser visual e ter em conta: o aspecto; a cor; a uniformidade da
mistura; a granulometria; a dosagem de água.

Deverá seguidamente, avaliar-se a consistência a partir do ensaio de trabalhabilidade, com uso do


cone de Abrams, devendo seguir o especificado no caderno de encargos.

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Outros ensaios com interesse para o controle das propriedades do betão fresco são ainda, embora
desprezados correntemente:

 Determinação do teor em ar introduzido (processo pneumático);


 Determinação da massa volúmica;
 Determinação da composição;
 Determinação do tempo de presa;
 Determinação da quantidade de água da amassadura.

É, contudo, fundamental proceder a:

 Recolha de amostras de betão fresco em moldes normalizados para posterior caracterização


da sua resistência mecânica à compressão nas idades regulamentares (e/ou flexão);
 Controlar a trabalhabilidade ao longo do fabrico;
 Verificar e vistoriar a qualidade do cimento e inertes através de ensaios específicos ao longo
da fase de produção, ajustando a composição sempre que se surgirem novos inertes;
 Determinação da dispersão de fabrico na central de betão, obtendo-se indicações-chave
sobre a necessidade ou não de ajustamento nas composições previamente estudadas em
laboratório;
 Aferição periódica dos aparelhos de medição e pesagem nas centrais ou estaleiros de fabrico
do betão.

Para além destes aspectos há que mencionar o interesse de se inspeccionarem, antes da betonagem,
os aspectos de:

 Cofragem e armaduras;
 Eficácia dos meios de transporte, compactação e cura, compatíveis com a consistência
especificada para o betão;
 Disponibilidade de pessoal competente.

3ª) Controle do Betão Endurecido

Tem-se verificado que é geralmente assumido que o controle do betão endurecido, suficiente para
alívio de consciência dos intervenientes, é a determinação da resistência mecânica aos 28 dias de idade
(ou outras idades prévias e regulamentares), por ensaios de rotura à compressão.

Importará referir que o controle de resistência mecânica dos betões deve obedecer alguns princípios
regulamentares dos quais, os portugueses: RBLH e a NP ENV 206.

De acordo com o Regulamento de Betões de Ligantes Hidráulicos (RBLH), os betões estruturais são
classificados em função do seu tipo, classe e qualidade.

a) Os tipos de betão considerados são:


1. Tipo B – betão caracterizado por determinada resistência mecânica;
2. Tipo BD – betão que é caracterizado pela durabilidade em determinados ambientes agressivos
(para além da resistência mecânica).

b) A classe de um betão do tipo B é definida pelo valor característico da sua tensão de rotura por
compressão (ou flexão) aos 28 dias, entendendo-se por valor característico aquele valor que é
atingido com a probabilidade de 95%.

c) A classe do betão é definida pelo número que exprime o valor característico da sua tensão de
rotura em MPa (megapascais). No caso de ser por flexão opõe-se a letra F àquele número. Ex.:
B25; B30; B40 ou B2,0F; B4,5F.

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d) Os betões do tipo B devem ser das qualidades mínimas indicadas no quadro seguinte, em
função da classe em que pertencem.

Define-se a qualidade do betão em função dos valores do desvio padrão ou do coeficiente da


variação das distribuições estatísticas dos valores das tensões de rotura por compressão ou flexão
aos 28 dias de idade, referidos aos ensaios sobre provetes cúbicos com 20cm de aresta (ou
provetes com 15cm x 15cm x 55cm no caso de flexão).

Assim, considerando n amostras às quais correspondem n valores de tensão de rotura:

(1) A tensão média será: f cm 


f ci
, onde: fci é a média aritmética dos diversos provetes de
n
uma amostra.

( f ci  f cm ) 2
(2) O desvio padrão ∆ é dado pela expressão:  
n 1

(3) O valor característico da tensão de rotura, fck, é dado por: f ck  f cm  1,64


(4) O coeficiente de variação  é um parâmetro dado por: 
f cm

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O RBLH estipula que no cálculo do valor característico à compressão não poderão ser
considerados valores do desvio padrão inferiores a 2,5 MPa, nem valores abaixo de 7% para o
coeficiente de variação.

e) Assinala-se também que, para o caso de betões prontos, independentemente da classe,


devem ser da qualidade 1 (nível mais exigente).

f) O número mínimo de amostras a ensaiar, para definir uma distribuição estatística de que
resultem os valores pretendidos, é 20, devendo ser retiradas de tal modo que a uma dada
amassadura ou a um veículo transportador não corresponda mais do que uma amostra

Em situações excepcionais devidamente reconhecidas, o número de amostras for inferior a 20,


mas não menor que 3, o betão a que se referem tais amostras poderá ainda ser aceite, em termos
da sua recepção, se forem cumpridas simultaneamente as seguintes condições:

1ª) f cm  f ck  K1 e 2ª) f cl  f ck  K 2 , em que fcl é o menor valor dos obtidos no ensaio.

No início da produção do betão K1=5 MPa e K2=1 MPa e quando se estabilizam as condições de
produção, K1=K2=3 MPa.

g) Relativamente aos betões do tipo BD, são enunciadas as seguintes classes:

 Classe 1– betão que é caracterizado pela durabilidade quando em contacto com águas de
elevada agressividade química;
 Classe 2 – betão que é caracterizado pela durabilidade quando em contacto com águas de
moderada agressividade química;
 Classe 3 – betão que é caracterizado pela durabilidade quando exposto em ambientes em
que a temperatura pode atingir, com frequência, valores inferiores a 5 oC.

h) Face a caracterização anterior dos betões (tipo, classe e qualidade) é usual designar os betões
por siglas formadas pela sucessão dedos indicativos do tipo, da classe e da qualidade.

Ex.: B30.1 (betão do tipo B, da classe 30 e qualidade 1);


B4,5F.1 (betão do tipo B, da classe 4,5 referido à tensão de rotura por flexão e da qualidade 1);
BD2.1 (betão tipo BD, da classe 2 e da qualidade 1);
B20.BD3.2 (betão do tipo B, da classe 20, do tipo BD, da classe 3 e da qualidade 2).

— Exemplo de aplicação:

1. Numa obra, cujo o projecto recomendava a utilização dum betão B25 em elementos estruturais,
para cada betonagem feita com betão amassado no estaleiro da obra eram colhidas amostras em
cubos (de 20 cm de aresta) para posterior ensaio de compressão no LEM. A título de exemplo, no
ensaio aos 28 dias, dos cubos duma das colheitas efectuadas, obtiveram-se os seguintes
resultados, em MPa: 21, 25, 27, 24, 30, 28, 24, 26, 29, 28, 20, 23, 27, 26, 24, 29, 22, 25, 23, 30, 27, 24.
Será o betão fabricado no estaleiro satisfazia o prescrito?

Correcção:

B25 (25Mpa); n=22

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fci
fcm 
n ( fci  fcm ) 2
   2.82Mpa  2.5Mpa
562 n 1
fcm   25.55Mpa
22


 * 100
fcm
fck  fcm  1.64
2.82
fck  25.55  1.64 * 2.82   7%  * 100
25.55
fck  20.92Mpa
  11.03%  7%

fcm  fck  K1 fcl  fck  K 2


25.55  20.92  5 20  20.92  1
25.55  25.92 20  19.92

O betão não satisfaz porque fck < Tensão caracteristica do B25 ( 25 Mpa );

Sendo necessário fazer o caroteamanto e posterior ensaio.

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