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TEMA 03 – PLANEJAMENTO DE

AUDITORIA

Introdução

Planejar é a técnica de se pensar hoje as implicações futuras de uma


decisão que pode ser ou não tomada agora. É o prever hoje o que poderá
ocorrer amanhã. É função basilar da administração, e isso vale também para a
atividade auditorial.
Em sentido genérico, planejamento significa a fixação antecipada do que
deseja atingir (objetivo) e do que deve ser feito para alcançá-lo (estratégias,
táticas, ações), com a definição do quando (cronograma de tempo), em que
sequência (encadeamento), como (metodologia), quem (responsabilidade),
onde (localização), porque (fundamentação) e a que custo (orçamento).
O planejamento de auditoria representa a fase na qual se estabelece a
estratégia global das atividades a serem desenvolvidas, incluindo a natureza,
época e extensão dos exames, de modo que se possa desempenhar uma
auditoria eficiente, eficaz e efetiva.

Planejamento
Primeiramente vamos destacar o Fluxo de um trabalho de auditoria, que
é composto por três grandes etapas: PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO e
ENCERRAMENTO, cujo produto final é a Emissão do Relatório contendo a
opinião do Auditor sobre as Demonstrações Financeiras, conforme Figura 01.

Figura 01 – Fluxo de uma Auditoria


Fonte: acervo do autor

O objetivo do auditor é planejar a auditoria de forma a realizá-la de


maneira eficiente, eficaz e efetiva. O planejamento como um todo envolve o
desenvolvimento da estratégia geral, avaliação do controle interno, análise dos
riscos de auditoria, formação da amostra e definição do plano de auditoria.
Segundo a NBC TA 300 - Planejamento da Auditoria de Demonstrações
Contábeis, um planejamento adequado é benéfico para a auditoria das
demonstrações contábeis de várias maneiras, inclusive para:
 Auxiliar o auditor a dedicar atenção adequada às áreas importantes da
auditoria e resolver tempestivamente problemas potenciais;
 Auxiliar o auditor a organizar adequadamente o trabalho de auditoria
para que seja realizado de forma eficaz e eficiente;
 Auxiliar na seleção dos membros da equipe de trabalho com níveis
adequados de capacidade e competência para responderem aos riscos
esperados e na alocação adequada de tarefas;
 Facilitar a direção e a supervisão dos membros da equipe de trabalho e
a revisão do seu trabalho;
 auxiliar, se for o caso, na coordenação do trabalho realizado por outros
auditores e especialistas.

O auditor não é responsável nem pode ser responsabilizado pela


ocorrência e pela prevenção de fraudes ou erros, entretanto, deve planejar seu
trabalho avaliando o risco de sua ocorrência, de forma a melhorar a
possibilidade de detectar as irregularidades que impliquem efeitos relevantes
nas demonstrações contábeis. Ao planejar a auditoria, o auditor deve indagar
junto à administração da entidade auditada sobre qualquer fraude e/ou erro
que tenham sido detectados em trabalhos anteriores ou pelo controle interno
da auditada. Ao identificá-los, o auditor tem a obrigação de informá-los à
administração da entidade e sugerir medidas corretivas, informando sobre os
possíveis efeitos no seu relatório, caso as medidas apresentadas não sejam
adotadas.
Realizar as atividades preliminares do trabalho de auditoria auxilia o
auditor na identificação e avaliação de eventos ou situações que possam
afetar adversamente a capacidade do auditor de planejar e realizar o trabalho
de auditoria. A realização dessas atividades preliminares permite ao auditor
planejar o trabalho de auditoria para o qual, por exemplo:
(a) o auditor mantém a necessária independência e capacidade para
realizar o trabalho;
(b) não há problemas de integridade da administração que possam
afetar a disposição do auditor de continuar o trabalho;
(c) não há desentendimentos com o cliente em relação aos termos do
trabalho.
No planejamento o auditor deve:
 Conhecer os riscos de auditoria e identificar áreas importantes da
empresa quer pelo volume de transações quer pela complexidade de
suas atividades;
 Conhecer a natureza, oportunidade e extensão dos procedimentos de
auditoria a ser aplicados;
 Tomar conhecimento da existência de entidades associadas, filiais,
partes relacionadas;
 Verificar a necessidade do trabalho de outros auditores e do auditor
interno;
 Conhecer detalhadamente as práticas contábeis adotadas pela entidade
e as alterações procedidas em relação ao exercício anterior;
 Caso ocorra uma situação não abrangida nas normas, o auditor deverá
adotar as práticas já consagradas pela profissão contábil, formalizadas
ou não, pelos organismos reguladores.
 Conhecer o sistema contábil e de controle interno da entidade e seu
grau de confiabilidade.
Estratégia Geral
É a fase onde o auditor realiza uma análise completa e formalizada sobre o
que, como e quando será a auditoria. As principais atividades desenvolvidas
nessa etapa são:
 Definição da Materialidade;
 Avaliação do Ambiente de Controles Internos;
 Análise dos Riscos de Auditoria;
 Elaboração do Programa de Auditoria.

O auditor deve planejar seus trabalhos respeitando as normas e leis, e


de acordo com os prazos assumidos com a empresa. A estratégia global deve
ser documentada, a fim de auxiliar a preparação do plano de trabalho,
detalhando o que for necessário para o entendimento dos procedimentos que
serão executados pelo seu quadro técnico.
Ao definir a estratégia global o auditor deve:
a) identificar as características do trabalho para definir o seu alcance;
b) definir os objetivos do relatório do trabalho de forma a planejar a época da
auditoria e a natureza das comunicações requeridas;
c) considerar os fatores que no julgamento profissional do auditor são
significativos para orientar os esforços da equipe do trabalho;
d) considerar os resultados das atividades preliminares do trabalho de
auditoria e, quando aplicável, se é relevante o conhecimento obtido em outros
trabalhos realizados pelo sócio do trabalho para a entidade; e
e) determinar a natureza, a época e a extensão dos recursos necessários para
realizar o trabalho.
Uma vez definida a estratégia global, será desenvolvido o plano de
auditoria que é mais específico e busca tratar dos diversos temas identificados
na estratégia global de auditoria, definidas a natureza, a oportunidade e a
extensão dos procedimentos que serão aplicados, levando-se em conta a
necessidade de atingir os objetivos da auditoria por meio do uso eficiente dos
recursos do auditor.
O envolvimento do sócio do trabalho e de outros membros-chave da
equipe de trabalho no planejamento da auditoria incorpora a sua experiência e
seus pontos de vista, otimizando assim a eficácia e a eficiência do processo de
planejamento.

Programa de Auditoria

É o plano de trabalho para o exame de áreas específicas, variáveis e


relevantes, que é passível de previsão e deve ser destacado no planejamento
geral, ou seja, o programa será a trilha a ser seguida pelo auditor, sendo uma
lista de sequências das ações do auditor e de sua equipe na aplicação dos
procedimentos de auditoria.
O plano ou programa de auditoria é mais detalhado que a estratégia
global de auditoria visto que inclui a natureza, a época e a extensão dos
procedimentos de auditoria a serem realizados pelos membros da equipe de
trabalho.
Os programas de auditoria objetivam:
a) Evidenciar os requisitos planejados;
b) Estabelecer a extensão e datas dos procedimentos a ser executados;
c) Estabelecer a estimativa de horas por procedimentos a ser aplicados;
d) Controlar os passos do programa realizados e a realizar;
e) Evidenciar quem realizou os passos; e
f) Registrar quem revisou os trabalhos.

Riscos de Auditoria
É o risco de que o auditor expresse uma opinião de auditoria inadequada
quando as demonstrações contábeis contiverem distorção relevante. O risco
de auditoria é uma função dos riscos de distorção relevante e do risco de
detecção (NBC TA 200).
Para fins das normas de auditoria, o risco de auditoria não inclui o risco
de que o auditor possa expressar uma opinião de que as demonstrações
contábeis estão erradas quando de fato estão corretas.
Assim, risco de auditoria representa a possibilidade de o auditor dizer
que as demonstrações erradas estão certas, e não dizer que as
demonstrações certas estão erradas.
A análise do risco de auditoria é um processo que acompanha o auditor
ao longo de todo seu trabalho, devendo este ser conduzido não no sentido da
sua eliminação, mas sim no sentido de reduzi-lo a níveis aceitáveis.
Em um processo de auditoria, o auditor deve obter o maior nível de
certeza possível sobre a exatidão das demonstrações, de tal forma a restringir
o risco de auditoria ao seu menor nível. Por exemplo, se o auditor deseja ter
90% de certeza, então ele estará correndo 10% de risco de auditoria.
O risco de auditoria está relacionado com o que o auditor não examinou
nos trabalhos, ou seja, o risco de auditoria está fora da amostra.
A relação entre risco de auditoria e a amostra é inversamente
proporcional, ou seja, quando menor a amostra maior o risco de auditoria.

Tipos de Risco

Risco de detecção:
É o risco de que os procedimentos executados pelo auditor para reduzir
o risco de auditoria a um nível aceitavelmente baixo não detectem uma
distorção existente que possa ser relevante, individualmente ou em conjunto
com outras distorções.
Risco de distorção relevante:
É o risco de que as demonstrações contábeis contenham distorção
relevante antes da auditoria. Consiste em dois componentes, descritos a
seguir no nível das afirmações:
(i) risco inerente é a suscetibilidade de uma afirmação a respeito de uma
transação, saldo contábil ou divulgação, a uma distorção que possa ser
relevante, individualmente ou em conjunto com outras distorções, antes da
consideração de quaisquer controles relacionados;
(ii) risco de controle é o risco de que uma distorção que possa ocorrer
em uma afirmação sobre uma classe de transação, saldo contábil ou
divulgação e que possa ser relevante, individualmente ou em conjunto com
outras distorções, não seja prevenida, detectada e corrigida tempestivamente
pelo controle interno da entidade.
Os riscos de distorção relevante devem ser avaliados em dois níveis:
a) no nível geral da demonstração contábil; e
b) no nível da afirmação para classes de transações, saldos contábeis e
divulgações.
Há uma relação inversa entre o risco de detecção e os riscos de
distorção relevante (inerente e controle). Quanto maior o risco de distorção
relevante encontrado pelo auditor, menor o risco de detecção a ser aceito por
ele.
Essa mesma relação inversa também existe entre o risco de auditoria e
o nível estabelecido de relevância, isto é, quanto maior for o nível estabelecido
de relevância, menor será o risco de auditoria e vice-versa.
A ideia é que o auditor examine os itens que, se errados, causam um
impacto maior na situação patrimonial e financeira da empresa. Isso permite
ao auditor independente selecionar procedimentos de auditoria que,
combinados, possam reduzir o risco de auditoria a um nível aceitável,
examinando os valores considerados mais relevantes.
O risco de auditoria pode ser calculado pela seguinte fórmula:
Risco de Auditoria = Risco Inerente x Risco de Controle x Risco de Detecção

Materialidade, Relevância e Definição Contas Significativas


Para fins das normas de auditoria, materialidade para execução da
auditoria significa o valor ou valores fixados pelo auditor, inferiores ao
considerado relevante para as demonstrações contábeis como um todo, para
adequadamente reduzir a um nível baixo a probabilidade de que as distorções
não corrigidas e não detectadas em conjunto excedam a materialidade para as
demonstrações contábeis como um todo.
Se aplicável, a materialidade para execução da auditoria refere-se,
também, ao valor ou valores fixados pelo auditor inferiores ao nível ou níveis
de materialidade para classes específicas de transações, saldos contábeis e
divulgações. Distorções, incluindo omissões, são consideradas relevantes
quando for razoavelmente esperado que essas possam, individualmente ou
em conjunto, influenciar as decisões econômicas de usuários tomadas com
base nas demonstrações contábeis.
Julgamentos sobre quais assuntos são relevantes para usuários das
demonstrações contábeis são baseados em considerações sobre as
necessidades de informações financeiras comuns a usuários como um grupo.
A determinação de materialidade pelo auditor é uma questão de
julgamento profissional e é afetada pela percepção das necessidades de
informações financeiras dos usuários.
A materialidade determinada no planejamento da auditoria não
estabelece necessariamente um valor abaixo do qual as distorções não
corrigidas, individualmente ou em conjunto, serão sempre avaliadas como não
relevantes.
As circunstâncias relacionadas a algumas distorções podem levar o
auditor a avaliá-las como relevantes mesmo que estejam abaixo do limite de
materialidade.
O auditor deve incluir na documentação de auditoria os seguintes
valores e fatores considerados em sua determinação:
(a) materialidade para as demonstrações contábeis como um todo;
(b) se aplicável, o nível ou níveis de materialidade para classes específicas de
transações, saldos contábeis ou divulgação;
(c) materialidade para execução da auditoria; e
(d) qualquer revisão de (a) a (c) com o andamento da auditoria.

De acordo com o trecho da norma destacado acima, podemos perceber


que existem diferentes materialidades: uma para as demonstrações contábeis
como um todo, outra para classes de transações ou contas contábeis e outra
para a execução dos trabalhos. Esses valores podem ser revistos conforme o
andamento das atividades.
Importante é destacar aqui a diferença entre Materialidade e Relevância:
algo relevante é aquilo que pode influenciar as decisões econômicas de
usuários, decisões essas tomadas com base nas demonstrações contábeis.
Exemplo prático: numa companhia como a Petrobras, cujos ativos totais
somam 900 bilhões de reais, um erro de 1 milhão de reais poderia não ser
considerado como algo material nem relevante. Agora, se esse 1 milhão de
reais fosse, por exemplo, desviado pelo CFO da empresa, e ele continuasse
exercendo o cargo, neste caso seria totalmente relevante e afetaria a decisão
econômica dos usuários.
Após definida a materialidade, o auditor analisa o Balanço Patrimonial e
verifica quais são as contas significativas (aquelas acima da materialidade)
que efetivamente serão auditadas. Importante destacar que a conta de Caixa e
Bancos, por representar toda entrada e saída de recursos da empresa, e todas
as Contas de Estimativas, pelo seu grau de risco, são consideradas
significativas mesmo que seu saldo seja inferior à materialidade.

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