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Harley Augusto Silva


Tiago Aquino da Costa e Silva (Paçoca)
(organizador)

UM OLHAR PARA O SUICÍDIO


Na visão de educadores e terapeutas

1ª. edição
São Paulo

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2021, Editora Supimpa
brincadeiraseducativas@gmail.com
Facebook e Instagram: Brincadeiras e Jogos
São Paulo - SP – Brasil

O conteúdo desta obra é de responsabilidade dos autores,


proprietários do Direito Autoral. Proibida a venda e reprodução
parcial ou total sem autorização.

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PREFÁCIO

Um livro para ser lido com atenção e corações abertos!


Educadores e terapeutas se uniram para te apresentar
textos e relatos inspiradores em prol do Setembro Amarelo ® -
Mês de Prevenção ao Suicídio!
Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria –
ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM,
organiza nacionalmente o Setembro Amarelo®. O dia 10 deste
mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio,
mas a campanha acontece durante todo o ano.
Eu poderia descrever cada autor e seus capítulos, mas
te darei uma dica essencial para o bom andamento da sua
leitura: corra para as próximas páginas pois precisamos salvar
vidas!
Desejo a você uma leitura inspiradora!
Um grande abraço!

Tiago Aquino (Paçoca)


Diretor da Brincadeiras e Jogos
https://www.instagram.com/brincadeiras.e.jogos/

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SUMÁRIO

1 Uma breve apresentação - Harley Augusto Silva 7

2 Reflexão sobre o suicídio – Harley Augusto Silva 10

3 Dopamina online – Liana Cristina Pinto Tubelo 15

Desafios virtuais, problemas reais – Jouener Santos


4 24
Araújo

5 O corpo avisa – Bruno Rossetto De Góis 30

Olhar pedagógico na prevenção do suicídio – Mel


6 35
Oliani e Renata Batista de Souza

7 Família, mazelas e desafios – Harley Augusto Silva 43

Prevenção através dos relacionamentos e grupos de


8 48
apoio social – Luís Gonzaga Veneziani Sobrinho

Prevenção ao suicídio a partir da primeira infância –


9 54
Anderson Alves da Silva

5
Prevenção ao suicídio: ajudas especializadas –
10 60
Rafael Fiori

Tomando a força da vida através dos pais – Alice de


11 66
Oliveira Rosa

12 Sinais de uma mente suicida – Harley Augusto Silva 71

13 Relatos 77

14 Autores e Organizadores 85

6
7
1 UMA BREVE APRESENTAÇÃO
Harley Augusto Silva

“Não existe meio de verificar qual é a decisão acertada, pois


não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira
vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena
sem nunca ter ensaiado.”
(“A insustentável leveza do ser”, Milan Kundera)

Um projeto que, inicialmente, seria apenas uma ação


simples como forma de não passar desapercebido um tema tão
importante que aflige muitas pessoas e com o propósito de
intensificar a campanha “Setembro Amarelo”, tornou-se este
grande trabalho que, sinceramente, não esperava chegar a esta
magnitude que é a construção deste livro. Que particularmente
me emociono ao escrever estas linhas.
Como um estalo divino, desperto para mais um dia de
trabalho e um sentimento latente em desenvolver algo
relacionado ao tema, me alardeava. Após compartilhar e
expressar minha ideia um grupo de amigos acadêmicos da
página Brincadeiras e Jogos1, em apenas um dia, obtivemos
uma incrível equipe multiprofissional composta por pessoas que
resolveram abraçar a causa e concretizar este material que,
carinhosamente, foi construído para abranger nossos

1 https://www.instagram.com/brincadeiras.e.jogos/
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conhecimentos e a reflexão sobre o tema suicídio que alerta o
mundo todo.
Nesta obra teremos o encontro de grandes mentes
pensantes, educadores, pensadores, pesquisadores e
psicanalistas, mostrando o tema suicídio dentro de suas
expertises.
Textos que nos apresentam, de forma simples e
objetiva, conceitos sobre o suicídio, informações atrelados ao
bullying e a frustração, a internet e sua influência e de seus
desafios perversos, o reflexo emocional que nosso corpo
expressa, o sentimento de impotência entre familiares e amigos,
materiais preventivos abordados desde a infância e o estímulo
positivo dos relacionamentos, as orientações positivas
mostradas por ONGs e por ações vistas pela Psicanálise e pelas
Abordagens Sistêmicas da Constelação Familiar. E no final o
relato emocionante de pessoas que decidiram compartilhar
experiências e sentimentos sobre o tema suicídio.

Boa Leitura!
Harley Augusto Silva
Organizador

9
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2 REFLEXÃO SOBRE O SUICÍDIO
Harley Augusto Silva

O que levaria uma pessoa a cometer um atentado a si


mesmo? Muitas justificativas surgem quando o assunto é o
suicídio: a chance de diminuir alguma angústia própria ou
amenizar o sofrimento de outra pessoa – como um “ato de
amor”, consequência de uma dependência química ou de uma
doença psicopatológica, uma forma de acabar com sofrimentos
de uma perda (luto), bullying, suprir uma carência, demonstrar
ou esquecer um amor de outrora, fugir e muitos outros motivos
impulsionam uma prática de auto aniquilação.
O suicídio é um desejo silencioso de grande magnitude
emocional, é como estar perdido em um grande labirinto escuro,
com sons estranhos, caminho pedregoso, com medo, cansado,
com frio e fome.
A delicadeza deste assunto é evidente pois, diferente de
outras psicopatologias, não existe um padrão comportamental
quando se tem idealizações suicidas, como percebemos
comportamentos tristes e de baixa autoestima à um depressivo
ou aos comportamentos acelerados e inquietos de uma pessoa
ansiosa. Mas há, na ideia suicida, a evidência de uma pulsão de
morte.

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Freud, apresenta a pulsão como uma energia interna
que direciona o comportamento de uma pessoa, e essa energia
pode ser direcionada para a vida ou para a morte. Por exemplo
a alegria e a ansiedade de pegar o carro e seguir numa viagem
é uma pulsão de vida, pois relaciona-se com a expansividade
motivadora de felicidade. Já a pulsão de morte é regida pela
melancolia, angústia, tristeza, desmotivação e baixa libido, é a
ausência libidinal motivadora.
Podem existir diversas formas de expressar a pulsão de
morte que sempre conduzirá para um auto atentado. Algumas
podem ser sutis e outras não. Por exemplo: automutilação,
pessoas que agridem seu corpo e tentam causar-lhes dor com o
objetivo de diminuir sua própria dor emocional; kill selfies, jovens
que se arriscam em tirar uma fotografia colocando-se em risco a
sua própria integridade física.
Devemos ter como verdade que a auto aniquilação está
atrelada, boa parte das vezes, a uma punição a si mesmo, como
uma carga de culpa por um insucesso, uma frustração ou um
choque de realidade.
Vamos para um exemplo simples: um jogador de futebol,
frente ao gol vazio e erra o chute. Uma situação engraçada e
possível, nos dias atuais. Mas, e se esta cena tenha ocorrido na
década de 1980 e que o ex-atleta ainda carregue consigo a culpa
pela derrota de seu time. Daria para considerar que tal
sentimento seria insignificante?
Nos conceitos psicanalíticos, tal história supracitada
refere-se ao quantum afetivo armazenado, no caso, recalcado
no inconsciente, porém a constante latência gera no indivíduo

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um comportamento angustiante e essa dinâmica ocorre devido
as repressões libidinais de não conseguir expressar sua mazela
histórica, muitas vezes, quando expressada em um setting
analítico é classificado como acting-out.
“[...] suas características distintivas, contudo é a
deformação, de grandes consequências, a que o material que
retorna foi submetido, quando comparado com o original.”
(FREUD, 1930). Nesta afirmação o pai da Psicanálise apresenta
quando um conteúdo de mundo interno (recalque) não é
externalizado (verbalizado), existe o risco de uma forma
extremamente diferente e deformada de ser expressa,
originando aqui o risco dos comportamentos destrutivos ou
idealizações suicidas, a fim de sanar com a culpa de um erro
esportivo.
Existem três formas diferentes de objetivar o suicídio:
podendo ser egoísta, um ato feito com o objetivo de reduzir o
próprio sofrimento: desemprego, falência, dívidas. Altruísta: pelo
país, pela família, pela honradez. Anômico: uma desordem
comportamental resultada a uma ausência ou carência de
pertencimento social, uma crise existencial e auto depreciação.
Ou psicopatológico, vozes mentais, imagens distorcidas, frases
com comandos. Pode-se considerar que um sentimento comum
identificado em quaisquer situação é a angústia, um constante
sofrimento sem nome que Freud definiu como um desequilíbrio
entre razão e emoção.
Durante um estado de angústia, onde a busca por uma
solução é incomensurável, diversos questionamentos surgem na
mente humana, a fim de encontrar padrões que justifiquem os

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acontecimentos ou amenizem o sofrimento. E, neste momento
que nossa mente atém a vícios, fugas, dependência,
comportamentos destrutivos, isolamentos, compulsões e a auto
aniquilação.

REFERÊNCIAS
FREUD, S. O retorno do reprimido. Vol. XXIII. 1939. Editora.
Standart Brasileira das obras completas. Rio de Janeiro: Imago,
1969.
CABRAL, J. F. P. Sobre o suicídio na sociologia de Èmile
Durkheim; Brasil Escola. Disponível em: https://bit.ly/3njpz1f.
Acesso em 22 de agosto de 2020.

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15
3 DOPAMINA ONLINE
Liana Cristina Pinto Tubelo

Vivemos uma época de extremo desamparo afetivo, no


âmbito da saúde e educacional, o que nos leva a repensar sobre
como estabelecemos nossas relações sociais, relações
familiares, relações intrapessoais. Com o advento do fenômeno
mundial, a qual chamamos de pandemia por SarsCov 2
(Covid19), nosso universo relacional foi diretamente afetado, no
que tange à “como” expressar nosso afeto às pessoas que
amamos, sem contaminá-las ou se contaminar na proximidade,
no toque, abraço.
Entretanto, durante todo este início de século XXI, e que
já se vão 20 anos, um fenômeno social surge com grande
intensidade e transforma nossa maneira de nos relacionar com
outras pessoas, com amigos e parentes que estão muito longe,
trazendo uma facilidade bem vinda em ter notícias e conversar
com nossos amigos, sem no entanto, estar sentindo sua
presença física, mas outrossim, sua presença através de uma
tela, uma presença digital. Um benefício que trouxe acalento aos
pais, cujos filhos moram longe, à namorados que foram estudar
em lugares longínquos, entre tantas situações pelo qual nos
beneficiamos, incluindo meio de trabalho (home office), estudos
etc.

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Vinte anos se passaram e o que percebemos, em
pesquisas sobre o comportamento humano, é que não só são
enormes os benefícios, mas também são inúmeros os
fenômenos comportamentais e patológicos que vêm surgindo no
decorrer de duas décadas, em se tratando do uso das mídias
sociais com tanta intensidade, por um longo período diário e até
mesmo noturno. “As mídias sociais estão entre os múltiplos
fatores de risco ou proteção para a saúde mental e o
comportamento suicida, embora não possam isoladamente
explicar esses fenômenos multifatoriais e complexos” (WHO,
2014).
As mídias sociais podem acarretar prejuízo
principalmente quando é intenso, acompanhado de
cyberbullying, com exposição excessiva de intimidade,
expectativas fantasiosas, ilusão de felicidade e sucesso alheio,
procrastinação, ausência de crítica, reflexão e de atitudes
responsáveis, permeadas por empatia (ROYAL SOCIETY FOR
PUBLIC HEALTH, 2017).
O Brasil é líder global no tempo gasto com redes sociais,
com média de 21,2 minutos por visita e média mensal de 9,7
horas por visitante. O tempo gasto é 60% maior do que a média
mundial (BANKS, 2015). Em relação à faixa etária, os mais
conectados na web tem entre 25-34 anos (23,2%) e 15-24 anos
(22,4%), pertencentes às gerações Y e Z. Os menores de 15
anos representam 17%. A demografia online brasileira mostra
que mais da metade da população possui menos de 35 anos.
Numa pesquisa realizada pela Global Web Index de
2015 foi perguntado aos participantes: Por que motivo você mais

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utiliza os sites de redes sociais? "para me manter em contato
com o que os meus amigos estão fazendo", foi a resposta que
mais apareceu, seguida de "para me manter atualizado com os
eventos e notícias do momento" e "para preencher tempo livre".
(COHEN, 2015).
Segundo outras pesquisas anteriores, a juventude
tecnológica-digital, é atraída pela oportunidade de conhecer
pessoas e manter relacionamentos (GOBBI, 2012) pelas redes
do Facebook, Twitter, Instagram, WhatsApp, blogs, torpedos ou
outras que apresentem rapidez na comunicação.
Com esses dados, é possível justificar o aparecimento
de novos transtornos, distúrbios e patologias como a
dependência de internet (DI), considerada por muitos médicos e
pesquisadores um dos mais “novos transtornos psiquiátricos do
século XXI” (FARIA, 2015, p.32), já incluído no apêndice do
DSM-V (Manual Diagnóstico e estatístico de transtornos
mentais) como “transtorno de dependência da internet”, sendo
um subtipo da dependência tecnológica.
Com isso, um marcador importante presente nesses
transtornos é o aumento dos níveis do neurotransmissor
dopamina, responsável pela atenção, motivação, regulação de
sono, aprendizado, memória e sistema de recompensa (SR). E
é aí que se encontra o ponto mais importante, pois é um circuito
de prazer e premiação no cérebro humano, ou seja, o núcleo
accumbens (SR) região da recompensa, é ativado durante o
prazer do sexo, comportamento de luta e fuga, sobrevivência.
Quando a dopamina chega ao núcleo accumbens, é como se o
cérebro recebesse uma informação de prêmio: “Isso foi bom!

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Quero mais”, levando a uma atitude viciante, já que essa
sensação dura pouco também. Dessa forma, pesquisas vem
observando que o jovem busca repor essa sensação de prazer
através da visibilidade social que as redes oferecem,
contabilizando “curtidas”, compartilhamentos de suas imagens,
e transformando sua vida relacional em ciclos utópicos de
visualizações.
O problema é que para desenvolver e manter empatia,
capacidade de compartilhar e compreender emoções,
sentimentos alheios, é necessário também de uma outra
substância importante, um hormônio produzido pelo hipotálamo
e liberado pela neuro-hipófise, a ocitocina ou oxitocina. Essa se
consegue através do leite materno, do toque e abraço, da
massagem, ou seja, do vínculo físico que se estabelece com
outras pessoas.
Na falta de um equilíbrio bioquímico das relações e
emoções, as situações podem sair do controle, acumulando
ansiedade, tristeza, falta de amor-próprio, solidão, depressão,
chegando a culminar na ausência do prazer que até então era
suprido pelas “falsas” redes de amigos, virtuais. Entra então em
cena, a ideação suicida.
A ideação suicida é um dos primeiros indícios de que a
saúde mental e emocional está afetada e nem sempre a pessoa
tem consciência desses pensamentos presentes. Que
pensamentos são esses?
São pensamentos que permeiam ações de autodestruir-
se, incluindo um juízo íntimo e pessoal de que a própria vida não
tem mais valor e prazer, levando a pessoa a construir planos

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para pôr um fim em seu sofrimento. Se encontra como um
sinalizador para o risco de suicídio, presente como um elemento
primário de comportamentos suicidas. A ideação suicida
demonstra indicativos de sofrimento emocional grave que deve
ser levado em consideração ao saber-se de uma pessoa que
relate esse pensamento, não ignorar o relato de um jovem que
expressa pensamentos suicidas é agir com prevenção, é ajudá-
lo a tomar consciência de que precisa de ajuda.
Pesquisas de Nock Et al (2008) já mostravam que 34%
dos indivíduos que apresentam ideação suicida no decorrer de
sua vida, organiza um plano suicida; 72% executam um ensaio
de suicídio e 26% das pessoas que experimentam ideação
suicida sem planejar, tentam suicídio. A maior parte das
ocorrências ou tentativas de suicídio, com planejamento ou sem,
acontecem no mesmo ano em que as ideações suicidas se
iniciam (NOCK ET AL., 2008).
Então fica aqui um alerta, atenção ao silêncio de nossos
jovens, observemos enquanto pais o comportamento, as
necessidades primárias, as metas que estabelecem em sua
vida. Segue algumas dicas de dizem respeito às rotinas no meio
digital e modo de relacionar-se com as mídias sociais, com os
participantes físicos das relações familiares e de amizades,
saúde mental, emocional e física.

NEURODICAS PARA ORIENTAR SEUS FILHOS E SUA


PRÓPRIA ROTINA DE TRABALHO, DE VIDA SOCIAL E
FAMILIAR
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1. Evitar o comportamento viciante – determine horário para
cada ação que você precisa realizar online no seu dia, responder
mensagens, fazer postagens, instituindo na sua rotina, como as
demais ações do seu dia.
2. Dopaminado, mas não demais – olhar os cliques de
curtidas, principalmente o adolescente, está virando uma
necessidade, porque ativa uma sensação de recompensa, de
satisfação no núcleo acumbens devido à estimulação de
dopamina, mas leva a pessoa a querer mais. Pesquisas
mostram que é um fenômeno comum da era digital, mas que é
necessário contrabalançar com as relações físicas, estimulando
ocitocina e construir metas reais para a vida do jovem.
3. Selecionar o que realmente importa – ao navegar, tenha
foco no que necessita, não gastando tempo com cliques
desnecessários.
4. Pare de utilizar as redes, internet, celular pelo menos 1
hora antes de dormir pois as luminosidades das telas inibem a
liberação da melatonina, responsável pelo sono.
5. Intercale tempo de atividade digital com tempo de
atividade física. Para cada 30 min de atenção no digital,
caminhe ou faça alguma outra atividade por 15 mim, como
conversar com alguém, preparar um lanche, arrumar a casa,
brincar com o filho. É necessário também descansar o aparelho
visual.
6. Família e amigos reais – seja amigo de seus filhos, parceiro
nas atividades e ouvindo o que eles têm a contar, nutra sua
relação com base na confiança, cumplicidade.

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7. Jogue – quando os jovens são muito introvertidos, vale
estimular a conversa através de jogos coletivos, sejam de
tabuleiros ou esportivos, o lúdico cura, recupera e transforma a
mente humana, caminha conosco ao longo da evolução do
homem.

REFERÊNCIAS
BANKS, Alex. 2015 Brazil Digital Future in Focus. In: Evento
comScore, 2015, São Paulo. Disponível em:
https://bit.ly/3nkQYQE Acesso em: 24 Ago 2020.
COHEN, Davi. INFOGRAPHIC: Top 10 Reasons for Using
Social Networks. Disponível em: https://bit.ly/3BSHkbG.
Acesso em: 24 Ago 2020.
FARIA, Natyelle Gonçalves de Fiz logout do mundo:
dependência de redes sociais: patologia moderna ou nova forma
de subjetividade? Monografia (graduação) – Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Escola de Comunicação, Habilitação
Publicidade e Propaganda, 2015.
GOBBI, Maria Cristina. Nativos digitais na sociedade
tecnológica: desafios para o século XXI. Anagramas Rumbos y
Sentidos de la Comunicacion, v. 5, n. 1, p. 40-80, 2012.
Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/135083>. Acesso
em 24 Ago 2020.
NOCK, M. K., BORGES, G., BROMET, E. J., CHA, C. B.,
KESSLER, R. C., & LEE, S. Suicide and suicidal
behaviour. Epidemiologic Reviews, 30, l33-154, 2008. doi:
10.1093/epirev/mxn002

22
ROYAL SOCIETY FOR PUBLIC HEALTH. Social media and
young people’s mental health and wellbeing. London: Royal
Society for Public Health; 2017. 32 p. [cited 2018 Nov 23].
Available from: https://www.rsph.org.uk/uploads/assets/
uploaded/62be270a-a55f-4719-ad668c2ec7a74c2a.pdf
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Preventing suicide: a global
imperative. WHO Press: Geneva, 2014 [cited 2018 Nov 23].
Available from: https://bit.ly/3zZ1796

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4 DESAFIOS VIRTUAIS E
PROBLEMAS REAIS ONLINE
Jouener Santos Araújo

Constantemente surgem vários desafios na internet,


alguns com a intenção de ajudar, apoiar uma causa, pessoas ou
ações. Porém existem no meio virtual alguns desafios que vem
causando danos à saúde de crianças, adolescentes e jovens.
Não se trata de algo imaginário ou ilusório e sim de
consequências reais como: cortes, mutilações, isolamento
social, ações colocando a vida em risco e chegando ao ponto
máximo do desafio, que é a morte através do suicídio.
A maneira das pessoas se relacionarem e se
comunicarem mudou muito ao longo dos anos, devido ao
desenvolvimento das mídias digitais (ABREU e SOUZA, 2017).
As crianças e os adolescentes vêm sendo muito afetados por
essas mudanças, de maneira que desde muito cedo tem tido
contato com computadores, celulares, tablets, etc. Desta forma,
o contato cada vez mais precoce com as mídias digitais permite
as crianças e adolescentes o acesso a desafios virtuais, que
infelizmente são desenvolvidos com uma linguagem e com
atrativos para esse público (FERREIRA, PASSOS e QUITETE,
2019). Assim podemos sugerir que o aumento nos casos de auto
mutilação e de suicídios em crianças e adolescentes pode estar
25
ligado a desafios deste gênero e que o acesso aos mesmos
ocorre pela exposição cada vez mais precoce as mídias digitais.
A adolescência é uma fase de diversas mudanças
físicas e psicológicas na qual podem surgir carências e exageros
em vários aspectos da vida (ABREU e SOUZA, 2017), o que de
certa forma contribui para a vulnerabilidade aos desafios virtuais
nessa fase da vida.
Esses são alguns dos desafios que viralizaram nas
redes sociais causando dor, lágrimas, tristeza e perdas para
muitas famílias.

BALEIA AZUL
Pesquisas apontam o surgimento desse desafio em uma
rede social russa, onde fotos de feridas e de automutilação eram
compartilhadas com as hashtags do jogo. O termo Baleia Azul
refere-se ao fenômeno de baleias encalhadas, supostamente
suicidas (WIKIPÉDIA, 2020).
O desafio é composto pelo desafiante (participante) e o
curador (administrador), que determina uma lista de tarefas onde
o participante tem que cumprir para passar de nível, até chegar
ao último nível que é o suicídio (WIKIPÉDIA, 2020). Se fosse um
jogo de vídeo game seria algo como zerar a fita ou zerar o jogo,
mas como é algo puramente real, é de fato ZERAR A VIDA,
acredita-se que o desafio da baleia azul foi responsável por mais
de cem casos de suicídio no mundo.
O desafio é composto por um total de 50 tarefas, físicas
e psicológicas que envolvem assistir filmes de terror por longos
períodos, se expor a perigos como subir no telhado, se
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automutilar através de cortes, ficar sem conversar com ninguém,
dentre outros. Sendo que o último desafio é tirar a própria vida.
Assim, fique atento se você observar algo de diferente no seu
filho, irmão, sobrinho, neto, aluno ou em alguém conhecido,
prestem atenção nos detalhes, ele ou eles podem participar do
desafio.

BONECA MOMO
A sua imagem é de uma escultura “Mulher pássaro”, que
em 2016 foi exposta em uma galeria de arte em Tóquio no
Japão. Acredita-se que por causa da aparência assustadora que
essa obra de arte possui, criminosos se apropriaram da imagem
para lançar desafios perigosos pelo WhatsApp.
A estratégia usada pela “Boneca Momo” é enviar
mensagem fazendo um convite com algumas perguntas e
desafios, gerando assim a curiosidade nas crianças e
adolescentes que aceitam participar dos desafios proposto pela
“boneca Momo”, muitos desses desafios são tarefas que levam
a autolesão colocando a vida em perigo, além de incentivar a
prática do suicídio.

HOMEM PATETA
Trata-se de um perfil em redes sociais com o nome de
Homem Pateta que têm como objetivo, assustar as crianças e
propor desafios perigosos, tendo a meta final o suicídio.
A estratégia utilizada pelo “Homem Pateta” é dizer para
vítima, (geralmente crianças), que sabe quem são os seus

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familiares e que conhece a rotina diária da família. Com as
chantagens emocionais a criança aceita a cumprir os desafios
que são encaminhados pelo Facebook ou WhatsApp. São
tarefas de automutilação e envios de vídeos ensinando as
crianças a cometerem o suicídio.
Listamos aqui apenas três desafios que viralizaram na
internet entre 2015 e 2020 e sabemos que outros desafios irão
surgir no decorrer dos anos, é preciso reconhecer que esse tema
não é uma brincadeira de internet, não é algo imaginário, não é
uma fantasia ou faz de conta, pelo contrário é real. É preciso
discutir o assunto com seriedade porque as consequências são
reais e não virtuais.
O suicido de uma maneira geral é uma questão de saúde
pública, e algumas situações conflitantes do dia a dia favorecem
a sua ocorrência (DA SILVA e BARBOSA, 2017). Assim é
necessário estarmos atentos as crianças e adolescentes que
podem estar precisando de ajuda para lidar com conflitos e
anseios e que muitas vezes encontram “atenção” na internet e
se deparam com desafios virtuais que configuram um atentado
contra vida. Desta forma, pensando em proteger nossas
crianças, adolescentes e jovens eu te convido para um
DESAFIO REAL.

REFERÊNCIAS
ABREU, Thales de Oliveira; SOUZA, Marjane Bernardy. A
influência da internet nos adolescentes com ações suicidas.
Revista Sociais & Humanas, v. 30, n. 1, 2017.

28
DA SILVA, Higor Ferreira; BARBOSA, João Victor Alves. Baleia
azul: do pensamento ao ato. Psicologia pt. 2017.
FERREIRA, Elaine; PASSOS, Jacy; QUITETE, Thainá. Mídias
sociais e automutilação: a importância da pedagogia social na
formação do professor/educador nas práticas em ações
preventivas e restaurativas. Journal of Social Pedagogy, v. 7,
n. 2, 2019.
WIKIPÉDIA, 2020:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Baleia_Azul_(jogo) Acesso em
27/08/2020.

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5 O CORPO AVISA
Bruno Rossetto De Góis

Após concluir a pós-graduação em Psicomotricidade no


ano de 2018, onde pude estudar as bases psicomotoras e,
principalmente, entender como os estímulos positivos ou
negativos interferem em cada período do desenvolvimento
humano e, acima de tudo, a relação de Esquema e Imagem
Corporal, e essa sendo associada a percepção de como o corpo
é visto ou representado mentalmente; correspondência afetiva
de como você se imagina ser. As experiências vivenciadas e os
aspectos afetivos, fisiológicos e sociais, refletem em como
percebemos, sentimos e, especialmente, como agimos. O
Esquema Corporal depende da Imagem Corporal e sobretudo da
estimulação, identificação, localização e do uso que fazemos de
cada parte isolada ou integrada com demais partes do corpo, as
posturas e atitudes com o mundo exterior.
Quanto mais experiências vividas pelas crianças na
exploração do ambiente que ela está inserida, melhor será o
desenvolvimento e percepção do corpo. Na sequência, a criança
começa a perceber ou a descobrir as partes de seu corpo.
Para falar sobre o processo de construção e destruição
da Imagem Corporal, faz-se necessário entender que vivemos
um dia diferente do outro, eles nunca serão iguais. As situações
estão sempre se modificando, sendo necessário adaptação
31
constante e superar as adversidades que aparecem em nossa
vida. O contato com mais pessoas favorecerá a construção de
uma boa identidade, porém, quanto mais a pessoa for rejeitada,
mais difícil será sua construção de identidade, visto que as
memórias negativas podem vir à tona com maior facilidade e/ou
frequência.
A destruição ou distorção da Imagem Corporal poderá
contribuir com alguns problemas, tais como a autodepreciação,
status social distorcido por não se sentir inserido em
determinado grupo de amigos e/ou familiares,
consequentemente, pode surgir situações em que a pessoa se
automutila com tesoura ou faca (cutting) se vitimizando ou,
desenvolvendo algum outro transtorno.
De acordo com Melo (2009), apesar de ser construída
internamente pela própria pessoa, a construção da identidade
necessita de contribuições das pessoas mais importantes que
esse adolescente convive, sendo como um modelo de
identificação. Por outro lado, funcionam como um espelho que
devolve a imagem que a sociedade tem a seu respeito.
Girão (2009) traz uma contribuição muito rica sobre os
estudos Psicossociais de Erik Erikson e as 8 fases (estágios) do
nascimento até a velhice no desenvolvimento humano, a crise
psicossocial de cada uma delas, bem como as reflexões
positivas e negativas de cada uma delas. Em uma de suas
divisões (4ª idade – crianças entre 6 e 12 anos), há uma
pergunta que representa tal período muito interessante: Serei
competente ou incompetente? Um dos conceitos fundamentais

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está na crise ou conflito que o indivíduo vive ao longo de sua
vida, desde o nascimento até o final da vida.
Quando há a relação de êxito, a criança gosta de
participar dos jogos, competir e realizar diversas atividades. Em
contrapartida, quando o sentimento é de fracasso, a criança não
possui iniciativa, se considera inferior, medíocre, fracassada
sem ao menos tentar.
Erik Erikson dividiu os estágios da vida em 8 idades,
sendo a 5ª idade caracterizada na adolescência, período de 12
a 20 anos. Para ele, 3 perguntas serão norteadoras neste
período: Quem sou eu? O que fazer da minha vida? Como será
o meu futuro? Quando há a relação de êxito, este jovem cria sua
identidade com maior propriedade, segurança, sendo capaz de
aprender muito mais, tendo maior interesse por uma área de
estudo e/ou trabalho, iniciando os primeiros passos de sua
independência. Quando há a relação de fracasso, ocorrem as
confusões, dúvidas, inseguranças, não sabendo o que deseja
fazer da vida, perdendo a identidade sem saber se situar diante
do trabalho e na sociedade.
Assim, como uma moeda, a vida também possui 2 lados.
Basta você escolher qual lado olhar. Toda situação permitirá
aprender com os erros, encarando as consequências de frente
e mantendo a cabeça erguida desde que não faça mal a si e/ou
ao próximo; ou ficar se lamentando e se vitimizando, se
entregando à derrota, onde só aumentará a sensação de ser um
fracassado. Sempre deve existir reflexões e aprendizados em
relação a qualquer momento de nossas vidas. Ter pessoas de
confiança para desabafar e conversar promoverá uma sensação

33
maior de alívio, diminuindo a tensão e o stress. É inegável a
importância e o valor de um verdadeiro amigo, apoio familiar, ou
um bom psicólogo que não faça julgamento desse momento de
fragilidade emocional.
De acordo com Freire (2017), o jovem deve ser feliz,
apesar das adversidades e conflitos característicos dessa fase
da vida. Quando os pais estão realmente presentes, amparando
e dialogando sobre os tropeços de seus filhos, sendo espelho de
dedicação, servindo de referência e bem-estar, o jovem se
sentirá realmente membro da família e de um grupo social. Ao
acolher e mediar, a família e os amigos diminuirão a sensação
de fracasso, isolamento, e por sua vez, diminuirão as chances
de um possível suicídio.
Ao longo desses quase 20 anos de vivência na
Educação, aprendi com algumas experiências ora positivas, ora
negativas, que o corpo se torna um canal expressivo, sendo
necessário ler o que não está escrito, ou ler nas entrelinhas.

REFERENCIAS
FREIRE, Vanessa Cristina Ramos; Suicídio na adolescência:
Reflexões sobre o mal-estar na atualidade. 2017. ISSN 1646-
6977
GIRÃO, Maria Aparecida Melo; Teoria Psicossocial do
Desenvolvimento em Erik Erikson. Psicologado [S.I.] (2009).
Disponível em: https://bit.ly/3jXKhBO. Acesso em 27 Ago 2020.
MELO, Maria Aparecida Silva; Adolescência e Formação da
Identidade em Erik Erikson Psicologado, [S.I.] (2009).
Disponível em: https://bit.ly/3lh9tmq. Acesso em 22 Ago 2020.
34
35
6 OLHAR PEDAGÓGICO NA
PREVENÇÃO DO SUICÍDIO
Merlyn Mércia Oliani e Renata Batista
de Souza

A escola é um grande palco onde se desenham os


primeiros passos da vida como ela é. É por excelência um
espaço onde os sentimentos são aflorados com uma intensidade
absurda, sejam eles positivos ou negativos. Palco onde a vida
acontece; onde cognitivo, emocional e comportamental
interagem e se convergem. Movimentando atores protagonistas,
coadjuvantes e figurantes.
No palco da vida transita entre diversos papéis, atua no
ambiente escolar, familiar e social, buscando um certo equilíbrio
entre os diversos cenários. Nas relações que estabelece, e
principalmente, na sua capacidade de atuar em cada um deles,
transita entre a realidade e o imaginário, fazendo uso de
máscaras e figurinos que nem sempre deixam evidentes seus
sentimentos.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde
(OMS, 2018), o suicídio é a segunda causa de morte mais
frequente entre os jovens. Ele está associado às circunstâncias:
36
ambientais, sociais e psicológicas. Dados que evidenciam a
necessidade de refletir sobre as relações que estão por trás dos
índices alarmantes de suicídio.
O comportamento suicida inclui ideação (pensar sobre
suicídio), planejamento, tentativa e fato consumado e tem como
principal combustível a persistência em acabar com a dor que
sente. Para o suicida, chegar as vias de fato, é um processo
interno que é intensificado ou não pelos estímulos vivenciados,
transitando entre a dor e a ausência dela. Este é, sem dúvida
nenhuma, um problema de saúde pública que tem chamado a
atenção do mundo. Um estudo de revisão sistemática
desenvolvido por Pistone e colaboradores (2019) alerta para
necessidade de intervenções educacionais mais efetivas para
conter estes tristes episódios.
Trazer para à escola a discussão sobre o assunto é
oportunizar a reflexão frente ao real objetivo da educação. Todo
aquele que se propõe a realizar o trabalho pedagógico, busca
na verdade promover transformação, despertar no outro o
desejo de aprender e/ou desvendar algo novo, assim como, todo
aquele que se propõe a aprender busca espaço para ter vez e
voz, para agir de forma protagonista pautado em seu processo
de autoconhecimento e fazendo repercutir significativamente no
processo de ensino-aprendizagem.
O cenário escolar pressupõe ambiente de convivência
sadia que prima pela qualidade dos afetos, exemplos é da
relação dialógica entre os pares. Pensar na convivência escolar
é dar espaço para melhorar o clima e fazer com que o aluno se
sinta parte de tudo, seja do cenário, do palco, dos figurinos, dos

37
papéis que desempenha e/ou da recepção que a plateia possa
vir a lhe oferecer.
Atuar, na escola ou na vida pressupõe um sentimento de
valorização no ser humano que começa no cenário familiar, ecoa
no cenário escolar e acaba refletindo em ambos, evidenciando a
necessidade de estabelecer relações significativas, de confiança
e diálogo genuíno. Dar sentido ao que se vivencia na escola é
resultado do investimento diário nas relações entre o eu e o
outro, na convivência sadia entre seus pares e na sua relação
com o mundo que o cerca sem restringir-se à um único
momento, fato ou episódio.
Nessa perspectiva, não se trata de resolver o problema
sozinho, mas de direcionar o olhar para além do pedagógico.
Para Costa (2001) é fazer-se presente na vida do aluno
“ajudando-o no âmbito pessoal e social para a superação dos
obstáculos ao seu pleno desenvolvimento como pessoa e como
cidadão”. E “o primeiro e mais decisivo passo para vencer as
dificuldades pessoais é a reconciliação do jovem consigo mesmo
e com os outros”.
Pormenorizando o tema, um outro estudo realizado
durante um período de 15 anos, com quase 12 mil adolescentes
no Peru, Etiópia, Índia e Vietnã, mundialmente conhecido por
“Young Lives” evidenciou que o bullying é corrosivo e está ligado
a efeitos negativos de longo prazo na autoestima, autoeficácia e
relações com os amigos e pais (PELLS et al., 2016).
O debate sobre a criação de estratégias pedagógicas
que possam enfatizar o estreitamento do relacionamento
interpessoal, atitudes colaborativas, parcerias na construção

38
coletiva de conhecimento são urgentes! É preciso mediar a
edificação de valores de convivência e fortalecimento de
vínculos entre todos na unidade escolar oferecendo elementos
concretos para expansão destes, na sociedade. Essa
formatação do processo ensino-aprendizagem deve ser
conduzida por métricas mais humanas e menos tecnicista, ou
seja, uma Pedagogia da Presença exercida por toda equipe
escolar e direcionada as singularidades de cada aluno.
Ainda, quanto aos aspectos relacionados ao suicídio,
outro estudo realizado em Israel, Lituânia e Luxemburgo
analisou a prevalência de bullying presencial e virtual, bem como
sua associação com o comportamento suicida. O cyberbullying
foi apontado como um forte indicador de suicídio na
adolescência nos colocando a pensar sobre a importância do
professor conhecer e usar as mídias sociais utilizadas pelos
seus alunos (ZARBORSKIS et al., 2018).
No Brasil, vários pesquisadores estão alertas, um grupo
formado por professores da UNIFESP e da USP, liderado por
Bottino e colaboradores (2015) apontaram na época, a relação
positiva entre o cyberbullying e a sintomatologia de sintomas
depressivos de moderados a graves, uso de substâncias ilícitas,
ideação e tentativas de suicídio em adolescentes. A Secretaria
Estadual de Educação - SP, em parceria com o GEPEM – Grupo
de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (UNESP-
Araraquara) liderado por Luciene Tognetta atuam com ações de
Melhoria da Convivência e Proteção escolar por do CONVIVA -
SP.

39
Recentemente, CAMPISI e colaboradores (2020)
investigaram a causa de suicídio em adolescentes de 90 países
e encontraram o bullying e o cyberbullying como preditores
importantes de ideação suicida, além do fator de não ter amigos
próximos. Os autores propõem uma série de medidas protetoras,
como:
• Criação de programas direcionados por faixa etária e sexo
para melhorar a saúde mental durante a adolescência,
especialmente em países de baixa e média renda;
• Abordagens inovadoras que transcendem o ambiente
escolar, incluindo a integração da comunidade, dos pais e
intervenções móveis de saúde para prevenir a marginalização
social e a vitimização;
• Educação generalizada, ou seja, campanhas sobre saúde
mental e bem-estar para os pais, professores, serviços públicos
e outros;
• Formação de grupos de autoajuda composto por professores,
alunos, membros da comunidade e profissionais de diferentes
áreas de conhecimento;
• Incentivo às atividades sociais com foco na construção de
relacionamentos e promoção de um senso de confiança e de
amizade.
Em linhas gerais, duas provocações podem ser
deliberadas com o texto atual. A primeira questão posiciona a
escola e os mecanismos educacionais frente ao desafio de se
ensinar para a vida deixando de lado, o modelo industrial que
vem sendo praticado desde o início do século XIX apontando
para a necessidade de um direcionamento de Educação

40
Interdimensional. E, o segundo ponto é, o suicídio,
definitivamente, é um fim que pode ser evitado.
Finalizamos um pequeno ato de um espetáculo dialógico
que uniu o teatro, ao texto e contexto, direcionando nossos
olhares e apreciação para a valorização da vida em seus
diferentes cenários, apreciando a atuação e interação desses
atores com o fazer pedagógico, e principalmente, deixando o
convite para que novos espetáculos sejam produzidos dentro
dessa abordagem.

REFERÊNCIA
BOTTINO, S. M. B.; BOTTINO, C. M. C.; REGINA, C.
G.; CORREIA, A. V. L.; RIBEIRO, W. S. Cyberbullying and
adolescent mental health: systematic review. Caderno de
Saúde Pública, 31(3):463-75, 2015.
CAMPISI, S. C.; CARDUCCI, B.; AKSEER, N.; ZASOWSKI, C.;
SZATMARI, P.; BHUTTA, Z. A. Suicidal behaviours among
adolescents from 90 countries: a pooled analysis of the global
school-based student health survey. BMC Public Health,
20(1):1102, 2020.
COSTA, A. C. G. Pedagogia da Presença – da solidão ao
encontro. Modus Faciendi, Belo Horizonte, 2001.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2018. Disponível em <
https://bit.ly/3ts9k37>. Acesso em: 24 de agosto de 2020.
PELLS, K.; PORTELA, M. O.; REVOLLO, P. E. Experiences of
peer bullying among adolescents and associated effects on
young adult outcomes: longitudinal evidence from Ethiopia.

41
India, Peru and Vietnam: UNICEF Office of Research–
Innocenti; 2016.
PISTONE, I.; BECKMAN, U.; ERIKSSON, E.; LAGERLOF, H.
SAGER, M. The effects of educational interventions on suicide:
A systematic review and meta-analysis. International Journal
of Social Psychiatry, v. 65(5):399-412, 2019.
ZABORSKIS, A.; ILIONSKY, G.; TESLER, R.; HEINZ A. The
association between cyberbullying, school bullying, and
suicidality among adolescents. Crisis. The Journal of Crisis
Intervention and Suicide Prevention, v. 40(2): 100–114, 2018.

42
43
7 FAMÍLIA, MAZELAS E DESAFIOS
Harley Augusto Silva

O primeiro lugar onde um ser humano aprende sobre


pertencimento social é a família, nela se aprende sobre: partilha
e conflito, regras e leis, respeito e hierarquia, vitorias e derrotas,
etc.
E hoje em dia as famílias são classificadas como
contemporâneas, devido as suas diversas facetas funcionais.
Como nos apresenta SILVA apud ROUDINESCO (2004):
A partir de 1960 a família é designada
contemporânea, que tem como
particularidade dois indivíduos que se
juntam através de uma durabilidade
relativa em busca de relações íntimas
ou realização sexual, de modo que a
transmissão da autoridade vai se
tornando mais difícil e questionada à
medida que os divórcios, a
fragmentação e as reorganizações
conjugais aumentam, onde a família
não é mais garantida pela presença
indesatável do divino através da
convenção do casamento, tornando-
se cada vez mais um acordo livre e
outorgado entre os indivíduos
enquanto o amor resistir.
Nesta fala tratamos sobre a grande lacuna de vínculo
emocional familiar existente, onde as pessoas permanecem
unidas apenas para atender seus ganhos secundários. Distantes
da tradicionalidade de um relacionamento afetivo-familiar. Deixa
44
de existir as posturas totêmicas dos líderes da família (pai ou
mãe) e a referência deixa de existir abrindo espaço para
influências instáveis ou insubstancial como TV, Internet, etc.
Nela (na família) diversos ensinamentos são dados,
contudo muitas lições também são esquecidas. Um pai severo
ou uma mãe protetora nem sempre gera um filho apto para a
vida adulta, pois existe a ambivalência dos atos amorosos e isso
é classificado como subjetividade. Uma mãe protetora pode
proporcionar segurança ao filho em todos os momentos de sua
vida, contudo o mesmo comportamento de proteção pode o
enfraquecê-lo, gerando uma fixação de dependência maternal,
deixando o mesmo inapto para tomadas de suas decisões,
inseguro, amedrontado e preso às decisões de outra pessoa. O
pai severo, que busca o fortalecimento de seu filho e propiciar
nele mais autoconfiança, pode, com essa severidade,
desenvolver comportamentos violentos por não saber lidar com
as emoções que se relaciona com a repressão libidinal de raiva
sobre a severidade do pai. Ambos os estímulos e suas
subjetividades influenciam na administração emocional e
atrelada à frustração pode causar um desequilíbrio do controle
emocional, assim como uma panela de pressão.
A família pode ser a luz, mas também pode estimular a
“escuridão” para alguém com ideia suicida. Pois é nela que
surgem as cargas emocionais que podem estimular ou não
ideias de auto aniquilação. Conforme a afirmação lacaniana de
que a família “representa um papel fundamental de transmissão
cultural. É através da família que o ser humano realmente se
humaniza e tem a sua subjetividade desenvolvida”.

45
Por exemplo: um jovem pensa em suicídio pois não está
indo bem na faculdade e suas notas estão ruins e não há
possibilidades de recuperá-las. Podemos identificar 04 possíveis
sinais ansiosos e motivadores vinculados ao âmbito familiar: (1)
Ansiedade voltada para a moralidade ou medo pela desonra à
família (projeção narcísica paterna ou materna); (2) O medo pela
punição que pode vir a sofrer (agressões psicológicas, verbais
ou físicas); (3) A frustração por não ser o que os pais almejaram,
por exemplo: quando equiparado com o irmão mais velho e; (4)
A ansiedade neurótica, como explicar o mal eminente para os
pais.
Como ação instintiva os desejos de proteger aqueles
que amamos é uma forma de impor que uma pessoa aceite a
doença ou problema emocional e definitivamente procure por
tratamentos. Tal imposição familiar à uma pessoa com
idealizações pode acentuar os desejos, pois internamente ela já
passa por pressões de mundo interno.
A ação da família, quando se é identificado tais
comportamentos destrutíveis em um de seus membros, por mais
difícil que seja, o ato de permanecer sempre próximo a essa
pessoa e não querer resolver sua dor, é o caminho, mas é
necessário compreender abastecer esta pessoa com doses
gigantes de respeito à sua dor. Assim como ganhar a confiança
de uma pessoa estranha, a família deve reconquistar a confiança
de seu ente querido. E quando a confiança fora instalada, o
encaminhamento e acompanhamento à profissionais
capacitados é de suma importância.

46
Outro processo bastante pertinente é o apadrinhamento,
quando uma criança nasce, diante de uma comunidade
religiosa, por exemplo, existe o padrinho e a madrinha que
representam, para a comunidade, os corresponsáveis pela vida
da criança, na ausência dos pais. Assim deve haver o
apadrinhamento de uma pessoa com idealização suicida, aquele
que sempre estará como ele/ela diante de todas as dificuldades
e recaídas. Este padrinho ganha uma função, chamado ego-
auxiliar pois auxilia e supre as fraquezas do ego da pessoa
autodestrutiva, sempre a estimulando ao raciocínio e calmaria.

REFERÊNCIAS
__________. Família: definição e importância para a
Psicanálise. Psicanálise Clínica, (2019). Disponível em
https://bit.ly/3C1IZfs. Acesso em 20 Ago 2020.
SILVA, Josanias da Costa. A Psicodinâmica da Família Como
um Possível Sintoma da Contemporaneidade. Psicologado,
[S.l.]. (2014). Disponível em https://bit.ly/38VnkZD. Acesso em
21 Ago 2020.
FREUD, S. (1913). Totem e Tabu. In: FREUD, S. Edição
standard brasileira das obras psicológicas completas de
Sigmund Freud. v. 13. Rio de Janeiro: Imago, 1990.

47
48
8 PREVENÇÃO ATRAVÉS DAS
RELAÇÕES E APOIO SOCIAL
Luís Gonzaga Veneziani Sobrinho

Estamos atravessando um período de grandes


adaptações, mudanças e principalmente de afastamento social
e isolamento. Todas essas intercorrências afetam sobre maneira
a nossa forma de agir. Cada pessoa apresenta uma adaptação
diferente para essa situação, alguns enxergam essa situação
como caótica, outras, por sua vez, enfrentam as dificuldades de
forma mais serena e tranquila. No entanto, a pergunta que fica
é, como e por que as pessoas reagem de formas tão diferentes?
Acredito que a pior parte de toda essa situação é o
isolamento social, o ser humano é completamente sociável,
portanto, ser privado desse convivo de forma repentina,
certamente causou um grande impacto no cotidiano, impacto
esse que pode trazer inúmeras consequências desagradáveis,
sendo a pior delas pensamentos negativos em relação à própria
vida e até mesmo idealização suicida. Estamos enfrentando um
momento muito delicado, onde se faz necessário a manutenção
da tranquilidade e da paz de espírito. Neste sentido, vale
salientar a importância da formação e do estabelecimento dos
laços afetivos.
49
As mídias sociais trouxeram um alívio para essa
situação, porém, não é a solução perfeita para tal situação, ela
funcionou como um paliativo e, ainda esperamos o momento da
flexibilização completa, para podermos ter o contato afetuoso
com nossos familiares e amigos. Ainda assim, precisamos
pensar em possibilidades de ações e intervenções que
favoreçam o fortalecimento dos laços afetivos e da atenção para
com o outro. Muitas vezes, não percebemos a aflição ou a
necessidade de quem está ao nosso lado e, essa pessoa não
tem “forças” para pedir ajuda, se mantém em silencio absoluto,
não se manifesta em relação ao seu problema e o pior, nós não
percebemos a situação e a consequência disso é um sentimento
agravado de solidão e aumento do desespero, isso tudo somado
à falta de força e a imensa dor, leva a pessoa a atitudes radicais
e irreversíveis.
Uma possível solução para tantos problemas, seria a
possibilidade de aumentarmos os contatos e fortalecer as
amizades já existentes, criando dessa maneira mais laços
afetivos e vínculos. Toda essa criação e expansão do ciclo de
amizades pode ser chamada de “Redes de Apoio Social”, um
conjunto de pessoas, da família ou não, com quem podemos
contar em todas ou quase todas as situações. As redes de apoio
social vem sendo estudas pela Psicologia Social desde meados
de 1970, para se chegar a essa definição foi necessário entender
os dois termos separadamente; rede conceito apresentado no
dicionário, fios, cordas, arames entrelaçados, fixados por malhas
que formam como que um tecido; dispositivo feito de rede
utilizado para amortecer o choque da queda de pessoas. Para o

50
termo “social” a definição encontrada é “da sociedade, ou
relativo a ela”. Com isso fez-se necessário a busca do novo
termo “sociedade”, e encontrou-se, agrupamento de seres que
vivem em estado gregário; grupo de indivíduos que vivem por
vontade própria sob normas comuns; meio humano em que o
indivíduo está integrado. Essas definições levam a reflexão que
rede social pode ser definida como a ligação entre indivíduos em
um ambiente social. Vale ainda salientar que esse ambiente
social, não é o ambiente virtual, é sim, o ambiente real, onde as
pessoas se socializam, interagem e vivenciam experiências
reais de interação e trocas. Essa vivência tende a construir e
melhorar os relacionamentos de amizade, fortalecendo assim o
vínculo afetivo.
A rede de apoio social nos oferta uma grande
possibilidade de resolução de problemas, quer sejam
emocionais, físicos, psicológicos e até financeiros, em um
momento tão conturbado, como o que estamos vivendo, ela, a
rede de apoio, pode mudar o rumo de nossas vidas de maneira
muito significativa.
É importante entender que a rede é construída ao longo
do tempo, quanto maior a interação entre as pessoas, melhor e
mais forte será sua rede. As interações de sociais e o
fortalecimento das amizades, podem proporcionar opções
efetivas para a resolução de situações de angústia, sofrimento e
solidão. Situações essas, que de alguma forma, afetam o
indivíduo potencializando a sua dor e sofrimento.
A pessoa que vivencia essa situação, não tem forças
para reagir, para tomar uma atitude, nesse momento faz-se

51
necessário a intervenção das pessoas que compõe a sua rede
de apoio social, os verdadeiros amigos, para de alguma forma
“dar uma força”, mostrar-se presente e interessado em ajudar e
resolver o problema, aliviando a dor e o sofrimento. Quando os
vínculos já estão estabelecidos e fortalecidos, os amigos se
conhecem, cada um sabe identificar no outro quando algum
problema o aflige, nesse momento, ele conversa, escuta
ativamente, apoia, dá conselhos e ajuda o outro a sair dessa
fase de aflição e tristeza.
Você já “falou”, “ligou”, “observou” ou fez algum contato
com as pessoas que são importantes para você hoje? Uma
atitude simples como essa, pode ser, a melhor forma de evitar
que um amigo tenha pensamentos negativos, que podem levá-
lo ao “fundo do poço” e até mesmo pensar em atitudes
destrutivas chegando ao suicídio.
Não deixe para depois, faça isso agora mesmo.
Fortaleça suas relações e viva feliz e ajude as pessoas que
fazem parte de sua vida a serem felizes também.

REFERÊNCIAS
JULIANO, Maria Cristina Carvalho; YUNES, Maria Angela
Mattar. Reflexões sobre rede de apoio social como mecanismo
de proteção e promoção de resiliência. Ambiente & Sociedade,
v. 17, n. 3, p. 135-154, 2014.
FIGUEIREDO, Ana Elisa Bastos et al. É possível superar
ideações e tentativas de suicídio? Um estudo sobre
idosos. Ciência & Saúde Coletiva, v. 20, p. 1711-1719, 2015.

52
GASPARI, Vanessa Paola Povolo et al. Rede de apoio social e
tentativa de suicídio. 2002.

53
54
9 PREVENÇÃO AO SUICÍDIO A
PARTIR DA PRIMEIRA INFÂNCIA
Anderson Alves da Silva

Vivenciamos um cenário atípico, ele tem contribuído no


aumento do suicídio. Sabemos que o suicídio é um grave
problema dentro do sistema público de saúde, onde as vítimas
podem estar em quaisquer faixas etárias e é ocasionado por
aspectos psicológicos, sociais, econômicos, biológicos e
culturais que são estruturados no início da vida, na primeira
infância.
“Primeira infantil” é o princípio, aquele momento em que
iniciamos a nossa trajetória de vida, é nela que recebemos os
primeiros estímulos para o processo do desenvolvimento
humano. Esses primeiros anos de vida são decisivos na
formação da criança, toda a sua identidade será formulada e
grande parte de sua estrutura física, afetiva e intelectual.
E para complementar esse desenvolvimento as
atividades lúdicas, brincadeiras e jogos são fundamentais. Maluf
(2009) orienta acrescentar nesta fase atividades lúdicas, para
intervir positivamente no desenvolvimento e suprir necessidades
biopsicossociais que garantem condições adequadas para
desenvolver suas competências e habilidades.
55
Podemos associar essa fase magnífica ao modelo de
uma construção de um prédio que necessita de uma boa base
para suportar toda estrutura.
Ao falarmos de infância devemos refletir como estamos
nutrindo, estimulando e conduzindo diariamente esse ser incrível
chamado criança. Ingredientes essenciais como afeto, diálogos,
experiências e vivências fazem toda diferença do
desenvolvimento cognitivo e principalmente emocional.
Perin (2010) afirma que ao estimular uma criança, abre-
se um leque de oportunidades e experiências que farão explorar,
adquirir habilidades e entender o que ocorre ao seu redor.
Desde pequenas, crianças constroem suas correntes
neurais através dos estímulos citados anteriormente e eles
facilitam o processo da vida humana. Essas correntes neurais
construídas na maioria das vezes retêm memórias negativas de
momentos frustrantes, maus-tratos e de um lar pobre em
diálogo, afeto e experiências.
Atitudes como cobrança excessiva, falta de
comprometimento, falta de participação nas rotinas diárias, falta
de atenção, separação dos pais, perdas parentais, perda de
objetos ou animais, dificuldades de aprendizagem, bullying
escolar, adaptação escolar, uma simples troca para outra casa
nova pode gerar um alto nível de estresse e conduz o indivíduo
a um quadro depressivo, podendo ainda afetar a estrutura
cognitiva e principalmente emocional.
A autocobrança, pressão de alguns pais e mães para
serem os primeiros e melhores, os xingamentos, as competições
nos âmbitos escolares e sociais, guerrilhas para ter boas notas,

56
bons locais e uma boa condição, tudo isso acaba dificultando a
construção da personalidade e autoestima dos pequenos dando
espaço as frustrantes facilitando o cenário suicida no futuro. E
como intervir e prevenir essa realidade?
Precisamos ficar atentos em alguns pontos negativos
citados anteriormente que podem ocorrer nessa fase importante
da primeira infância é nesse período que podemos passar por
situações traumáticas, que podem levar a problemas como:
ansiedade, raiva, culpa, inibição.
Esses fatores quando não acompanhados por um
profissional em um processo de psicoterapia ampliam as
chances de um ato suicida. Se para um adulto é difícil entender
certas situações imagine o que se passa na cabeça de uma
criança, já que ela ainda não tem o cérebro completamente
formado.
É aí que os pais e responsáveis devem atuar, pois,
muitas crianças são bombardeadas com o dia a dia da vida.
A família é a base para o desenvolvimento e crescimento
pessoal, seu papel é muito importante em todo processo de vida,
podendo ajudar a criança no hoje a se tornar um adulto
altamente estruturado.
O vínculo é uma das principais chaves para prevenir
tendências suicidas entre crianças. Desde o ventre é construído
um afeto, e logo, ele vira a confiança na relação familiar,
portanto, o apoio familiar também é crucial, incluindo ainda as
relações escolares, festas, esportes entre outros ambientes.
Estimular as competências soco emocionais na criança é um
pilar indispensável.

57
As competências soco emocionais estão ligadas à
nossa capacidade de pensar, sentir, decidir e agir, portanto,
variam de indivíduo para indivíduo.
Há várias formas de possibilitar tal desenvolvimento, que
geralmente envolvem o conhecimento sobre si mesmo,
percepção do outro, análise das relações sociais, adequação a
regras de conduta, identificação de emoções e bom senso,
utilizar a escuta ativa, compartilhar experiências, seus
aprendizados, construir rotinas, leva a criança a uma reflexão
em situações frustrantes, treinar a disciplina, motivar o hábito da
empatia e estar sempre perto é de suma importância para
fortalecer essa segurança e o equilíbrio emocional.
Não podemos esquecer de incentivar as comemorações
em pequenas e grandes conquistas, a não ser o melhor mais
sempre dar o melhor faz a diferença na construção de um ser
emocionalmente estruturado.
Aguçar a comunicação e confiança, incentivar e refletir
sobre pequenas frustrações, encorajar em pequenas atividades,
partilhar ideias com os amiguinhos e familiares, evitar
julgamentos, ouvir o outro e principalmente falar sobre os
conflitos pessoais podem amenizar e prevenir.
Diante de enumeras possibilidades vistas anteriormente
cabe aos pais orientar e preparar a primeira infância do seu filho.
Sendo ele o maior responsável pelas atitudes tomadas nas
escolhas dos pequenos.

58
REFERÊNCIAS
MALUF, A. C. Atividades lúdicas para educação infantil:
conceitos, orientações e práticas. 2. ed. Petrópolis:Vozes,2009.
PERIN, A. E. Estimulação precoce: sinais de alerta e
benefícios para o desenvolvimento. REI - Revista de
Educação do Ideau, Getúlio Vargas, v. 5n. 12, p. 2-13,
jul/dez.2010.

59
60
10 PREVENÇÃO AO SUICÍDIO:
AJUDAS ESPECIALIZADAS
Rafael Fiori

Você conhece alguém que já pensou em suicídio? Você


é uma pessoa que já pensou nisso? Infelizmente o suicídio está
entre as principais causas de morte em todo o mundo, sendo a
segunda maior causa de morte entre os jovens. Aqui no Brasil
isso não é diferente. As transformações biológicas, a cobrança
social por uma “estética perfeita”, as cobranças pessoais e até
de familiares sobre o futuro profissional, as pressões de trabalho
e as várias questões ligadas à sexualidade são alguns dos
fatores que podem desencadear um comportamento suicida,
além, é claro, da depressão.
O grande problema é como isso pode ser tratado para
evitar esse desfecho. Um dos primeiros pontos a se pensar é
que esse assunto, embora seja muito presente em notícias,
ainda é tabu para ser conversado em muitos locais, como em
casa e nas escolas, por exemplo. Muitas vezes o jovem
apresenta alguns tipos de comportamentos suicida que passam
desapercebidos, além de não se abrir para uma conversa com
medo de ser taxado ou ter sua fala diminuída por um “isso é uma
fase, vai passar”.
61
Assim como outros assuntos polêmicos, o suicídio
também é algo que precisa ser conversado com a finalidade de
encontrar caminhos que possam evitá-lo, afinal, a morte por
suicídio pode ser totalmente evitada.
Muitas vezes conseguimos apontar os problemas, como
no caso deste texto até agora, mas o que realmente buscamos
são soluções. E como encontrá-las? Esse é um dos objetivos
que tenho ao escrever o texto, apresentar possibilidades de
tratamento que possam evitar a morte precoce, afinal tirar a
própria vida não é a solução de problema algum.
A ajuda profissional é sempre muito importante, para
qualquer pessoa. Terapeutas, psicólogos, psicanalistas,
psiquiatras, entre tantos outros profissionais não devem ser
vistos como profissionais que atuam somente com determinados
grupos de pessoas, afinal todas as pessoas necessitam desses
profissionais, todas as pessoas passam por problemas e após
uma conversa com um profissional especializado as soluções ou
a percepção de que aquele problema não é tão grave assim faz
com que a mente fique mais leve. O que acontece muitas vezes
é um preconceito por grupos da sociedade ao ver uma pessoa
que está passando por algum tipo de terapia, as vezes esse
preconceito surge no próprio grupo de amigos, ao afirmar
através de falácias que a pessoa que está passando por terapia
é ou está louca.
Diferente do que muitas pessoas pensam, as terapias
são acessíveis e não pode ser algo que fique em segundo plano
na vida de uma pessoa. Além de profissionais que atuam de
forma particular e que muitas vezes apresentam uma

62
flexibilidade para pagamentos, temos também as clínicas que
atendem através de planos de saúde, um serviço que muitas
pessoas que são assistidas pelos planos desconhecem e
acabam não buscando.
Outro ponto a se destacar aqui é que há grupos de
profissionais voluntários e ONGs que oferecem ajuda gratuita
para quem está necessitando, isso é algo que nem sempre
chega ao conhecimento das pessoas. Neste momento citarei
aqui algumas dessas instituições. Se você chegou até aqui, você
pode ser um multiplicador e ajudar alguém que esteja
necessitando de ajuda, se for um profissional interessado em
colaborar, também pode fazer parte de alguma dessas
entidades.
A ABEPS (Associação Brasileira de Estudos e
Prevenção de Suicídios) é uma associação sem fins lucrativos
que realiza estudos e congressos sobre o tema, o último deles
foi realizado nos dias 28 e 29 de agosto de 2020 de forma online
e gratuita, com acesso livre para qualquer pessoa mediante
inscrição. Mais informações sobre ela você encontra no site
https://www.abeps.org.br/ ou na página do Facebook
https://www.facebook.com/abeps.brasil.
O GAV (Grupo Amor Vida) é também, uma ONG que
oferece ajuda a quem está passando por problemas emocionais
que podem levar ao suicídio, essa instituição atende por telefone
onde você pode conversar com profissionais que irão ouvir seus
problemas, sem necessidade de identificação. Os telefones
podem ser encontrados no site https://grupoamorvida.ong/.

63
O CVV (Centro de Valorização à Vida) é outra instituição
de apoio que presta ajuda à quem precisa. Atuando desde 1962,
hoje conta com 120 postos de atendimento espalhados pelo
Brasil e atende também por telefone, 24 horas por dia e de forma
gratuita, através do número 188, além de atender via chat e e-
mail. Todas essas informações e endereço dos postos de
atendimento você pode encontras no site www.cvv.org.br.
Se você conhece alguém que sofre de algum tipo de
transtorno afetivo, a ABRATA (Associação Brasileira de
Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) é uma
instituição para ajudar essas pessoas, maiores informações
através do site http://www.abrata.org.br/.
Se você perdeu, ou conhece alguém que perdeu um
ente querido e está em luto e precisando de ajuda, a API (Apoio
a Perdas Irreparáveis) pode ser um ponto de apoio nesse
momento tão difícil, através do site http://redeapi.org.br/ você
terá acesso a alguém com quem possa desabafar ou dividir a
dor de seu luto.
Estes e outros pontos de apoio, inclusive internacionais,
você pode encontrar através do site http://gepesp.org/rede-de-
apoio/, além de poder se voluntariar a ajudar caso seja um
profissional interessado em colaborar.
Se você está passando ou conhece alguém que esteja
passando por algum tipo de problema que pode levar ao suicídio,
não hesite em buscar ou oferecer ajuda, toda vida é única e
extremamente valiosa, não apenas para você, mas também para
todos aqueles que o amam.

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Lembre-se, você não conheceria a luz se não houvesse
a escuridão, você não reconheceria a alegria se não houvesse
os momentos de tristeza. Todos os problemas têm soluções,
todos os caminhos encontram uma saída, as vezes só é
necessária uma ajuda para poder encontrá-los.

REFERÊNCIAS
______. O CVV. São Paulo: CVV, 2020. Disponível em:
https://www.cvv.org.br/o-cvv/. Acesso em: 22 ago. 2020.
GEPESP. Não sofra em silêncio: Peça ajuda. Rio de Janeiro:
Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção, [201-].
Disponível em: http://gepesp.org/rede-de-apoio/. Acesso em: 22
ago. 2020.
OPAS (Brasil). Folha informativa: Suicídio. Brasília, agosto
2018. Disponível em:
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view
=article&id=5671:folha-informativa-suicidio&Itemid=839. Acesso
em: 22 ago. 2020.

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66
11 TOMANDO A FORÇA DA VIDA
ATRAVÉS DOS PAIS
Alice de Oliveira Rosa

Os impulsos suicidas muitas vezes vêm do vazio da


sensação do “não pertencimento” a um sistema.
Por esse motivo convido o leitor a ingressar comigo
nesta dinâmica, ativando seus sentidos para que, cada palavra
tenha um toque especial de amor e traga para a consciência um
olhar mais amplo de pertencimento a esse sistema familiar que
é a base de cura para todo o ser humano.
Como é difícil viver sozinho com a sensação de solidão,
vazio, como um peixe fora d’água, como se estivesse no lugar
errado, na família errada, no planeta errado.
Muitas pessoas têm esse sentimento de estar sempre
esperando mais... algo a mais. Essa sensação de que o que
tenho ou onde estou não é suficiente. O que recebi de meus pais
não foi suficiente.
Enquanto esperamos algo a mais de nossos pais e da
vida, que é nossa base, nosso primeiro olhar, nos sentimos
vazios e incompletos.
Esse preenchimento se dá quando olhamos para nossos
pais e dizemos interiormente frases de impacto, acolhendo tudo
em nosso coração.
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Vamos realizar dois exercícios sistêmicos que trarão
esse novo olhar de pertencimento e plenitude.
Faça quantas vezes sentir necessário, pois esse
movimento de incluir o pai, a mãe e nossa hereditariedade é tão
importante para os movimentos de nossa vida e muitas pessoas
têm dificuldades de inclui-los.
Muitas vezes, inconscientemente, nos sentimos
maiores, arrogantes, donos da verdade e nos colocamos em
lugares que exigem de nós posturas que não estamos
preparados para enfrentar, por estarmos simplesmente fora do
lugar na hierarquia do sistema familiar.
Segundo Bert Hellinger, em sua obra “Ordens do Amor”,
segundo as leis sistêmicas, cada pessoa tem seu lugar que,
estando corretamente nele, traz leveza e centramento.
Esses exercícios sistêmicos que se seguem podem lhe
ajudar a encontrar seu lugar e sentir a força da vida que lhe move
para frente.
Você encontrará, também, meditações sistêmicas em
meu canal do Youtube “Espaço Om Sorocaba”, que ajudarão
muito trazer leveza, centramento, consciência e alegria.

PRIMEIRO EXERCÍCIO SISTÊMICO


Procure um lugar calmo que lhe traga tranquilidade e
segurança. Feche os olhos e respire profundamente três vezes.
Mentaliza as imagens do seu pai e da sua mãe,
conforme estiver lendo este exercício. Se precisar, em alguns
momentos, feche os olhos e repita as frases interiormente.

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Os efeitos desse exercício só serão verdadeiros se
sentidos com corpo, alma e coração.
Internalize o amor através das gerações.
Olhe internamente para seu pai e sua mãe e diga:
“Tudo que recebi de vocês, foi
suficiente. Vocês me deram a vida e
isso basta. Vocês e todos que vieram
anteriormente, como meus avós,
bisavós, são maiores que eu. Eu sou
menor diante de meus ancestrais e
recebo a força da vida que é passada
a mim através de vocês. Honro a
todos, recebo com amor e gratidão a
vida e passo essa força da vida
adiante, através de meus filhos e meu
trabalho. Obrigado papai, obrigado
mamãe pela vida!”
Agora olhe interiormente para eles e faça uma
reverência, acolhendo-os em seu coração. Com isso você se
liberta de toda dúvida, indignação, julgamentos que
anteriormente tinha com relação a eles. Somente fique com o
lado bom e se preencha dessa força e siga, se vire para frente,
olhe para a vida e para o futuro com alegria e caminhe pleno
com tudo aquilo que precisa e é suficiente.

SEGUNDO EXERCÍCIO SISTÊMICO


Feche os olhos e imagine os movimentos da vida que te
impulsiona. Sinta se esse movimento chega a um limite. Todo o
movimento da vida pode ir em direção ao “menos” ou ao “mais”.
Será que esse movimento está indo ao “menos”?
Permita, então, que esse movimento, que é um
movimento criativo, supere esse limite e siga em direção ao

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“mais”. Para longe, para plenitude e grandeza. Para algo
permanente. E amplie esse olhar, esse movimento. E a vida se
expande e cria força!
Sinta até o pulsar das batidas de seu coração! Sinta
ativada essa energia da vida que circula através de seu sangue.
Se sinta cada vez melhor e mais vivo, com vontade em seguir
em direção ao futuro.
Agora continue para a frente no caminho da vida!

REFERÊNCIA
HELLINGER, B. “Ordens do Amor” Ed. Cultrix, São Paulo,
2007.
HELLINGER, B. “Histórias de Sucesso na Empresa e no
Trabalho” Ed. Atman, Rio de Janeiro, 2014.

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71
12 SINAIS DE UMA MENTE
SUICIDA
Harley Augusto Silva

Neste capítulo pretendemos elencar algumas


características, subjetivas ou não, que podem ser identificadas
em uma pessoa que carrega consigo ideias de auto extinção. O
comportamento autodestrutivo pode ser sutil ao ponto de ser
imperceptível, como forma declarada de tentativa.
Reforçando, devemos compreender que evidências de
uma pessoa com idealização suicida nem sempre será
anunciada, imaginemos um câncer, quando descoberto,
geralmente já está em seu estágio bem evoluído acometendo a
surpresa à pessoa. Em muitos casos a família ou amigos, só
descobrem quando o ato ocorre. Contudo quando descoberto
com antecedência, o sentimento de desorientação é comum “o
sentimento de impotência pode se fazer presente, fazendo-nos
acreditar que não há como intervir, uma vez que a pessoa
parece já ter decidido encerrar a própria vida”, mas sempre
haverá uma forma de intervir, e a primeira atitude é a coragem
de se aproximar dessa pessoa com amorosidade e empatia.

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Pré-julgamos a busca por suicídio como foco em
encontrar-se com a morte, como muitos podem acreditar, mas
sim é uma forma (a última tentativa) de cessar a intensa dor da
angústia dilacerante.
Por mais parecidas que sejam, há uma linha tênue que
separa o comportamento suicida e o comportamento auto
destrutivo. Enquanto o primeiro exprime os pensamentos,
tentativas e, muitas das vezes, o sucesso do êxito. O segundo
expressa os comportamentos de auto agressão e de negligência
de si mesmo. Por exemplo: descuido higiênicos, dependências
(drogas lícitas ou ilícitas), promoção aos riscos físicos, entre
outros. Este segundo comportamento promove atos que aliviem
as dores psíquicas e somado à essas dores, não existe a
coragem de realizar um atentado real à vida, ou seja, mas não
quer dizer que não exista as chances da auto aniquilação. Para
ambos os casos existem chances de salvação, quando
identificado e intervindo a tempo.
Devemos considerar que uma tentativa de suicídio é
uma forma de “chamar a atenção”, porém, não deve ser
preconceituada ou considerada como piegas.
Para aqueles que convivem com idealizadores que já
demonstraram comportamentos suicidas entendam da
importância de permanecer paciente e apresentar muita
amorosidade, compaixão e principalmente empatia junto a essa
pessoa e não a julguem como simples atos de carência, muitas
vezes esse comportamento é a única forma de conseguir a
atenção esperada. E mesmo tendo total atenção a ela,
importante a urgência em procurar ajuda médica e terapêutica.

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• Ouça-a sem julgamentos;
• Incentive a procura profissional e permaneça ao lado dela
demonstrando confiança, calma e companheirismo;
• Não a deixe sozinha, esteja sempre ao lado desta pessoa,
caso apresente perigo eminente;
• Certifique da segurança local (acesso a objetos cortantes,
armas de fogo, medicamentos, pesticidas, ou seja, recursos que
provoquem a própria morte).
• Caso não more com essa pessoa, certifique que a família
dela esteja ciente desse risco ou os alerte.

IMPORTANTE!
Não faça desta lista um guia de diagnósticos, ela não se
assemelha à uma lista de sintomas que compõe um diagnóstico,
utilizem-na apenas para obter formas de observação, muitas
vezes, sinais de cansaço da vida não querem dizer procurar da
morte, mas apenas um desabafo inocente para demonstrar
ausência de energia e à procura por repouso. Conforme nos
apresenta o texto publicado pelo Ministério da Saúde:
“Aparecimento ou agravamento de problemas de conduta ou
manifestações verbais por, pelo menos, duas semanas”. O que
o trecho nos mostra a grande necessidade de observarmos a
duração de tempo que estes sinais se apresentam, o estado
emocional suicida é uma permanência regida pelo quantum
afetivo por isso é de suma importância a observação da
permanência deste estado.
• Apatia;
• Ausência de projetos de médio ou longo prazo;
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• Ausências na escola ou trabalho, não para ficar em casa,
mas “perambular” sem destino, como uma busca de sentidos
para algo;
• Constante sofrimento emocional;
• Consumo abusivo de drogas, bebidas ou de remédios;
• Desapego de objetos pessoais, como forma sutil de mostrar
seu desapego aos valores emocionais;
• Descuido com medicamentos, descontinuar tratamentos
necessários ou superdosagem;
• Descuidos de si mesmo, higiene e hábitos comuns (escovar
dentes, banhos, ...)
• Desejo de morte e afeição com assuntos mórbidos;
• Memória fraca, pensamentos distantes e distorcidos;
• Perda de apetite (inapetência constante);
• Ausência de perspectivas;
• Sinais de cansaço da vida, desânimo constante;
• Tentativas de resoluções de pendências, por exemplo: idosos
que antecipam a herança mesmo em vida;

REFERENCIAS
________. “Prevenção do suicídio: sinais para saber e agir”.
Ministério da Saúde. Disponível em:
http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/suicidio. Acesso em 19
Ago 2020.
________. “O que posso fazer para ajudar quem pensa e
suicídio?” Centro de Valorização à Vida. Disponível em:

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https://www.cvv.org.br/blog/o-que-posso-fazer-para-ajudar-
quem-pensa-em-suicidio/. Acessado em 19 Ago 2020.
LELES, M. B. L. “Setembro Amarelo: quais são as
características do comportamento suicida?” Portal
PEBMED. Disponível em: https://pebmed.com.br/setembro-
amarelo-quais-sao-as-caracteristicas-do-comportamento-
suicida/. Acessado em 18 Ago 2020.

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13 RELATOS
A DOR DE QUEM FICA
Alice de Oliveira Rosa

Quando minha filha decidiu partir, tirando a própria vida,


muitas vezes tive a sensação de ter enfrentado um mar
turbulento, nadando com meus próprios braços, umas vezes
sem força, outras com força sobrenatural, outras vezes
passando por tempestades, mas nunca mar calmo. E quando
cheguei à praia, depois de inúmeros desafios a frase tão
conhecida não saída de todo o meu ser e era o que eu sentia:
“Nadei, nadei e morri na praia!”
Durante anos, meu coração de mãe estava quebrado em
pedaços e toda a vez que eu juntava os pedaços e colocava não
parecia o ser o bastante, ainda estava a ponto de se quebrar
facilmente, bastava um olhar, uma cena de algum filme, um
cabelo parecido com o dela, uma voz de uma menina qualquer
chamando: mãe!
Qualquer gesto, qualquer coisa me faziam voltar para o
lado triste e para a dor.
Hoje, depois de tantas tentativas de enxergar luz e amor
em um gesto que causou tanto sofrimento para toda a família,

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finalmente consigo vê-la sem condenação e julgamento.
Consigo vê-la na sua total integridade e beleza de sua alma.
O “porque” não vamos saber neste mundo, mas sim
devemos nos atentar no “para quê”. Voltarmos nosso olhar para
o que estamos fazendo de nossas vidas após tudo isso.
A força que nos move, que seja a força para honrá-la em
seu tempo de vida. Tudo o que vivemos não pode ter sido em
vão, mas sim uma grande experiência que nos impulsiona para
realizarmos o “nosso” propósito de vida. E que esse amor
reprimido no fundo do peito, sirva para ir além, cada vez mais
longe, atingindo mais e mais pessoas no amor.
No amor de viver... De viver por amor, com amor e para
o amor!
In memoriam de Talita Rosa Pinto – a filha que eu
escolhi!
De Alice de Oliveira Rosa – a mãe que ela escolheu!

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RELATOS
ALTERAÇÃO COMPORTAMENTAL NA
ADOLESCÊNCIA
Bruno Rossetto De Góis

O mês de Setembro é utilizado para alertar sobre alguns


assuntos, entre eles o bullying, comportamento destrutivo e o
suicídio, sendo assim chamado de Setembro Amarelo. Trago a
seguir, um relato de experiências ao longo de mais de uma
década trabalhando em ambiente escolar.
Pude perceber que a cada ano um comportamento
estranho vem aumentando entre os jovens, onde eles escondem
o próprio corpo. Isso é notado a partir dos 9 anos, período em
que a sexualidade começa a aflorar em alguns.
Alguns desses jovens começam a usar roupas que
cubram ou escondam o corpo todo, mesmo em dias de muito
calor e pouca humidade no ar. Outro fator é a autoexclusão das
aulas de Educação Física, para não transpirarem e terem a
necessidade de retirar a blusa por exemplo. Tal justificativa
também se aplica em não desmanchar um penteado, ficar com
mal cheiro devido a transpiração, ou até mesmo borrar a
maquiagem/batom.

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Consequentemente, grande parte desses alunos que se
escondem, começaram a apresentar certo atraso psicomotor,
semblante de humor deprimido, pouca comunicação, relação ao
Esquema e Imagem Corporal distorcidos justamente por não
aceitarem ou por não gostarem das transformações que ocorrem
em seus corpos durante a puberdade.
Outra situação encontrada, é a não aceitação em
determinado grupo, ou seja, exclusão de rodinha de amigos ou
por achar que determinada pessoa não é mais seu(a) amigo(a).
Um reflexo desses pensamentos na cabeça desses jovens,
ocorre quando utilizam a tesoura em seus antebraços e mostram
àquela pessoa que o excluiu, a fim de que ela tenha pena ou dó
e volte a conversar. Tais marcas são escondidas com o uso dos
blusões, dificultando a visualização do professor e até mesmo
dos pais.
Alguns jovens acabam recorrendo aos jogos virtuais e
na criação de avatar tentando ser menos rígidos com as próprias
fraquezas e buscam a supervalorização, que as pessoas
conheçam seus pensamentos e posicionamentos, desejando ser
visto, lembrado, reconhecido e inserido em algum clã. Não tenho
o hábito de jogos virtuais com os alunos, mas sempre fiquei
antenado nas conversas e brincadeiras que um colega faz com
o outro, e com jeitinho, acabo perguntando por que de tal apelido
ou expressão usada aí tudo começa a fazer sentido, onde
começo a ligar os pontos.
Em casos pontuais, conversando com colegas de
profissão, identificamos um ou outro educando que apresentou
diminuição de notas, desinteresse em conversar com os

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professores e colegas de classe, interferindo e muito na
socialização com os membros da comunidade escolar.
Espero ter contribuído um pouquinho com minhas
experiências e principalmente, te ajudar a identificar quando
alguma alteração comportamental citada acima acontecer, ou
qualquer sinal de perseguição ou bullying com determinada
pessoa. Tome uma atitude. Aja rápido. O diálogo pode ajudar a
prevenir maiores problemas e situações indesejadas. Vale
lembrar que o trabalho multiprofissional é indispensável.

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RELATOS
DESAFIO REAL

Gostaria de te propor um desafio real e não virtual, um


desafio que valoriza a vida e não a morte, um desafio que não
tem um nome bobo como “Baleia Azul, Boneca Momo ou
Homem Pateta”. Esse desafio não se aproveita da fragilidade
emocional das crianças e dos adolescentes pelo contrário, vai te
convidar a andar junto para fortalecer os laços de confiança –
SEJA UM PORTO SEGURO.

Te desafio:
A amar e não a odiar.
A ensinar o valor da vida.
A abraçar, para que ninguém tenha vontade de se cortar.
A ouvir mais, para que ninguém tenha vontade de ficar isolado
em um quarto.
A beijar mais, para que nenhum adolescente ou criança tenha
vontade de se mutilar.
A brincar com os seus filhos.
A prestar mais atenção nos conteúdos que seus filhos acessam
na internet.
A ter tempo para os seus filhos.
A compreender a intensidade que é ser adolescente.
A entender a importância do brincar para as crianças.

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A declarar diariamente eu te amo.

E te desafio a pensar sobre esses desafios virtuais que,


ano após ano, tem invadido as casas de várias famílias trazendo
dor, medo, insegurança, lágrimas e muitas vezes até a morte
através do suicídio. Desafios que tem como objetivo atrair
crianças e adolescentes vulneráveis por fatores sociais e
familiares.
Preste atenção aos detalhes, quando a brincadeira não
tem mais graça, quando ficar junto da família não é mais
interessante, quando ficar isolado no quarto é melhor do quer
sair para dar uma volta, quando aparece um corte ou uma
cicatriz do nada, sem explicação, quando é melhor digitar ao
invés de conversar ou quando é mais fácil ficar online para as
coisas e pessoas distantes e offline para quem está ao lado.
O objetivo desse texto é alertar a importância do cuidar
das crianças e adolescentes. E aí, aceita o DESAFIO?

84
85
14 AUTORES E
ORGANIZADORES

ALICE DE OLIVEIRA ROSA


Psicanalista com Abordagens Sistêmica da Constelação
Familiar, Pós-graduanda em Constelação Familiar pela Hellinger
Schule, Graduada em Pedagogia, Pós-graduada em Psicanálise
e Educação, Reflexoterapeuta, Cromoterapeuta, Facilitadora de
Meditação, Mediadora do Canal “Espaço Om Sorocaba”.
Instagram: https://www.instagram.com/espaco_om_terapias/

ANDERSON ALVES
Biólogo, Especialista em Neuroaprendizagem, Analista
comportamental, Músico, Recreador e Humorista infantil. Diretor
do “Estimulando a Mente”, Diretor do “Homekids”.
Instagram: https://www.instagram.com/estimulandoamente/

BRUNO ROSSETTO DE GÓIS


Graduado em Educação Física (FEFISA). Especialista em
Educação Física Escolar (FEFISA) e em Psicomotricidade
(Academus). MBA em Gestão Escolar (USP). Docente
Universitário. Professor de cursos de pós-graduação em
Psicomotricidade. Professor de Educação Física e Coordenador

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pedagógico no Colégio Harmonia (SP). Autor de livros em
Educação e Educação Física.

HARLEY AUGUSTO SILVA


Psicanalista. Terapeuta. Orientador de jovens. Conteudista da
Brincadeiras e Jogos. Coautor dos Livros “Lazer e Recreação:
Conceitos e Práticas Culturais” – Editora WAK; “Brincar para
Todos” – Editora Supimpa; e “Recortes e Reflexões em
Educação, Brincadeiras e Infância” – Editora Brazil Publishing.
Mentor da Universidade do Brincar. Professor. Gestor de
Programas de Lazer E Qualidade de Vida e gestor do grupo
terapêutico gratuito “Viver”.
Instagram: https://www.instagram.com/espaco_om_terapias/

JOUENER SANTOS ARAÚJO (PROF. JHOW)


Graduado em Educação Física (UNIT). Professor de Educação
Física da Rede Municipal de Ensino da cidade de Bragança
Paulista/SP. Professor do Colégio Objetivo. Criador do canal
“Arte do Brincar – Prof. Jhow”. Autor de livros em Educação e
Educação Física.
Instagram: https://www.instagram.com/artedobrincar_prof.jhow/

LIANA CRISTINA PINTO TUBELO


Licenciatura em Educação Física (UFRGS). Especialista em
Ciências do Movimento Humano e Psicomotricidade
(FEEVALE/RS). Especialista em Neuropsicologia (UNIARA/SP).
87
Especialista em método Montessori e desenvolvimento humano
de 0 a 6 anos. Montessori Brasil (UNIFIA/SC). Mestre em
Educação (PUCRS). Brinquedista e Coordenadora do Espaço
Fênix -Brinquedoteca municipal de Capão da Canoa/RS.
Membro Diretor da Brincadeiras e Jogos. Palestrante e
Consultora em eventos, congressos e universidades, Autora de
livros em Educação e Educação Física. Professora cursos de
lato sensu em IES do Brasil nas disciplinas de Neuropsicologia
da Motricidade, Neuropsicologia da Aprendizagem,
Psicomotricidade, Educação e Ludicidade, Neurociências:
história e atualidades entre outras.
Instagram: https://www.instagram.com/lianapintotubelo/

LUÍS GONZAGA VENEZIANI SOBRINHO


Graduado em Educação Física (UNIVAP), Mestre em
Psicogerontologia (EDUCATIE). Professor de Educação Física
Escolar – Escola Monteiro Lobato em São José dos Campos.
Docente da UNIP (Universidade Paulista) e Faculdade
Anhanguera (São José dos Campos). Membro Diretor da
Brincadeiras e Jogos, Recreador. Educador. Palestrante. Autor
de livros em Educação e Educação Física.
Instagram: https://www.instagram.com/luisveneziani/

MERLYN MÉRCIA OLIANI


Graduação em Educação Física (ESEFA/Andradina-SP).
Especialização em Ciência do Exercício Físico na Saúde
(UNOESTE / Presidente Prudente - SP). Mestre em Biodinâmica

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da Motricidade Humana (UNESP / Rio Claro - SP). Professora
na educação básica: rede pública e privada. Professora
universitária nos cursos de graduação e pós-graduação em
educação física, pedagogia, arte e serviço social
(FUNDEC/UNIFADRA-Dracena-SP). Autora de livros, artigos
científicos nacionais e internacionais. Colunista da Brincadeiras
e Jogos. Palestrante. Educadora Social. Consultora. Criadora do
método BrincAção que objetiva levar o conhecimento do
funcionamento básico cerebral de forma simples aos
professores.
Instagram: https://www.instagram.com/mel.oliani/

RAFAEL FIORI
Licenciatura plena em Educação Física (ESEF Jundiaí).
Especialista em Educação Física Escolar (ESEF Jundiaí).
Professor de Educação Física na EM Dr. José Aparecido
Ferreira Franco e EM Therezinha do Menino Jesus Silveira
Campos Sirera na Prefeitura da Estância de Atibaia. Autor de
livros em Educação e Educação Física. Conteudista da
Brincadeiras e Jogos.
Instagram: https://www.instagram.com/ed.fisicanapratica/

RENATA BATISTA DE SOUZA


Graduação em Pedagogia (FCT / UNESP – Presidente Prudente
- SP). Especialização em Psicopedagogia Clínica/ Institucional
com ênfase em Neurociência (FACCAT / Tupã - SP) e Coaching
Educacional (Rhema – Arapongas / PR). Professora

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Coordenadora no Núcleo Pedagógico da Diretoria Regional de
Ensino. Professora na educação básica: rede pública e privada.
Professora universitária nos cursos de graduação de educação
física e pedagogia (UNIESP – Birigui - SP e FUNDEC /
UNIFADRA -Dracena - SP). Coautora de livros, artigos
científicos nacionais. Formadora e Pesquisadora na Educação
de Jovens e Adultos (EJA). Oficinas de Arte Educação como
forma de expressão. Palestrante. Educadora Social – Projeto
SOS Bombeiros e Fundação Mirim. Assessoria em Projetos
Educacionais e Gestão Cultural. Atualmente integrando a equipe
que coordena o PEF – Programa Escola da Família, a PEI –
Programa de Ensino Integral e os Componentes Curriculares do
INOVA Educação.
Instagram: https://www.instagram.com/batistarenatta/

TIAGO AQUINO DA COSTA E SILVA (PAÇOCA)


Graduado em Educação Física (FMU). Membro da World
Leisure Organization. Autor de 50 livros em Educação,
Educação Física e Gestão. Líder de Conhecimento da
Universidade do Brincar. Diretor da Kids Move Consultoria, e
Brincadeiras e Jogos. Consultor e Palestrante. Site –
www.professorpacoca.com.br
Instagram: https://www.instagram.com/tiago_pacoca/

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