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Escola da Ponte
E se falássemos de avaliação?
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José Pacheco
Maria de Fátima Pacheco
(org.)
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Impresso por Nelson Cardoso, E-mail nelsocardoso@hotmail.com para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por
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Muitos foram os cursos feitos, tendo como objeto de estudo o projeto “Fazer a
Ponte” e também foram muitos os educadores que se prontificaram a refletir
sobre a sua práxis e partilhar os seus saberes. Conscientes de que esta
partilha é, por demais, importante para ser esquecida, decidimos dar a
conhecer os diálogos então produzidos. Daí que deva ser visto e/ou sentido
que o autor desta obra é um coletivo. A nossa tarefa, enquanto organizadores,
foi apenas o de criar pontes entre algo que andava disperso.
Muitos dos depoimentos evidenciam contrastes, porque são múltiplos os
olhares: de professores da Escola da Ponte; de ex-professores; de professores
brasileiros, que visitaram a Ponte; de doutorandos e mestrandos, que fizeram o
seu trabalho de pesquisa na Ponte; de ex-alunos; de pais de alunos; de
amigos. Notamos que algumas perguntas são mais extensas do que as
respostas que lhes correspondem. Outras afiguraram-se tão ricas de conteúdo,
que já contêm em si as próprias respostas.
Alguns comentários estão redigidos num designado “código restrito”, enquanto
outros refletem o nosso linguarejar pedagógico. Os seus autores viveram o
cotidiano da nossa escola. E esse exercício suscitou-lhes momentos de
reflexão. Em livros, trabalhos acadêmicos e nas inúmeras palestras proferidas
sobre a Ponte por esse mundo afora, esses autores permanecem anônimos. E
anônimos permanecerão, porque os projetos humanos não são fruto de um
esforço individual, produto de um ser providencial, mas obra de pessoas que se
encontram e partilham propósitos comuns. Um projeto humano é sempre um
empreendimento onde se conjugam muitas mãos.
Na organização deste trabalho, foi nossa intenção dar a palavra a quantos, ao
longo de todos estes anos, contribuíram para transformar um sonho em
realidade, num discreto labor de trabalho em equipe. Pretendemos dar voz
àqueles que viveram, vivem e sofrem a Ponte. Afirmar que a Escola da Ponte
existiu, existe, num tempo e lugar de encontros e desencontros,
independentemente do que o futuro lhe possa reservar. Esta poderia ser a
resposta para a última das perguntas, de entre as que nos foram dirigidas:
“Quais os sonhos sonhados por vocês para o futuro da Escola da Ponte? O
que falta realizar?”
O projeto da Ponte é a vida a recomeçar em cada dia, em cada gesto.
José Pacheco e Maria de Fátima Pacheco
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Prefácio
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Limite Externo
(Natureza, Sociedade)
Zona de
Autonomia
Relativa
(// ZDP)
Limite Interno
Projetado pelo Sujeito
Contradições do Sujeito
Zona de Ação Atual (Eu e/ou o Outro Armadilha)
— Esquema: Zona de Autonomia Relativa—
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.Vasconcellos, Celso dos S. Currículo: a Atividade Humana como Princípio Educativo , 3ª ed. São Paulo:
Libertad, 2011, p. 222 e seguintes.
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A avaliação tem sido uma temática bastante enfatizada pelos professores. Para
alguns, de fato, ela seria o que de mais importante acontece na escola, como
se fosse um fim em si mesma e não um meio para se avançar nas grandes
finalidades da escola (aprendizagem efetiva, desenvolvimento humano pleno e
alegria crítica –docta gaudium- de cada um e de todos os alunos). Não temos
dúvida de que a avaliação é uma estratégia fundamental para a existência,
considerando que não nascemos prontos, nem programados (nossa
programação biológica, embora fundamental para a sobrevivência, é mínima
face ao aprendizado que teremos ao longo da vida), que nos constituímos por
nossa atividade e, ao agir, podemos acertar ou errar. A avaliação nos ajuda na
tomada de consciência dos acertos, o que é decisivo para o fortalecimento da
autoestima, propiciando condições para novas aprendizagens (ampliação da
Zona de Desenvolvimento Proximal); além disto, reforça a validade do percurso
que está sendo feito. A tomada de consciência dos erros, por sua vez, é
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.Santa Rosa, Cláudia S. R. Fazer a ponte para a escola de todos (as). Tese (Doutorado em Educação) –
Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2008.
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importante para que possamos nos comprometer com sua superação, aprender
com eles. Uma boa avaliação aponta ainda elementos potenciais, qual seja,
que não estão ligados aos objetivos inicialmente traçados –ficando, portanto,
fora da questão do acerto ou do erro–, mas que, muitas vezes, são mais
importantes do que aquilo que se pretendia a princípio, por revelar dinâmicas
interiores em desenvolvimento no sujeito. A avaliação é, sem dúvida, uma
conquista da espécie humana.
Todavia, consideramos que, em muitas situações, a ênfase que os educadores
têm dado à avaliação da aprendizagem, tanto em termos de práticas quanto de
discursos, é um tanto excessiva.
Ainda que, muito provavelmente, essa não fosse a intenção original dos
organizadores, a prática avaliativa que este livro resgata é uma denúncia desta
ênfase exacerbada, justamente por revelar como pode ser a avaliação em
outros moldes: como os leitores terão oportunidade de ver, na Escola da Ponte
a avaliação está fortemente presente no cotidiano dos alunos e educadores,
mas, simultaneamente, marcada por uma sutileza e até mesmo, ousamos
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Vasconcellos, Celso dos S. Avaliação: Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação
Escolar, 18ª ed. São Paulo: Libertad, 2011, p. 18.
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dizer, por uma delicadeza, que faz com que praticamente passe
desapercebida, porque incorporada organicamente ao currículo.
Há vinte anos, quando pedi ao amigo Prof. Danilo Gandin que fizesse o
prefácio de meu primeiro livro de avaliação, numa das ricas conversas
informais que tivemos, ele me dizia, a partir de sua vivência infantil no campo,
que falar de avaliação na escola era mais ou menos como lavar porcos: logo
que se terminava de lavar o porquinho, este corria faceiro em direção ao
chiqueiro e sujava-se todo novamente... Numa linguagem filosófica, comparava
o desafio da avaliação ao personagem da mitologia grega, Sísifo: estava
condenado a repetir eternamente a tarefa de empurrar a pedra até o topo da
montanha, de onde ela rolaria abaixo novamente.
Qual o “segredo” da Ponte para superar esta fatalidade da avaliação, tal como
a descrita no mito? Qual o segredo das escolas que fazem diferença, das
escolas que conseguem avançar substancialmente na aprendizagem efetiva,
no desenvolvimento humano pleno e na alegria crítica de seus alunos? É certo
que tudo está relacionado, que devemos considerar os vários aspectos da
realidade escolar, etc. Porém, não haveria alguns elementos essenciais,
substanciais, nucleares, sobre os quais deveríamos colocar nossa atenção de
forma muito especial? O que é mais importante? Já que os recursos materiais
e psíquicos são limitados, onde investir prioritariamente? Muito sinteticamente
diríamos: pessoas e estruturas, estruturas e pessoas (repetimos os termos em
ordem inversa para evitar escapismos dualistas). O “segredo” da Ponte está
nas pessoas com uma nova sensibilidade, com um novo olhar sobre os alunos,
capazes de construir novas estruturas escolares. Simultaneamente, está nas
estruturas, na capacidade de reinventar a organização dos espaços, tempos,
saberes, recursos, criando novos dispositivos pedagógicos. Estas estruturas,
por seu turno, estão voltadas para as pessoas (ex.: estrutura de formação
permanente dos professores; dispositivos pedagógicos centrados nas
pessoas). É claro que são as pessoas que produzem as estruturas, mas, por
outro lado, as pessoas também são produzidas (não mecanicamente) pelas
estruturas. É um processo dialético, de aproximações sucessivas, em que não
há gênese absoluta, um ponto a partir do qual todo e qualquer mudança
deveria se iniciar.
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