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Interpretando a Realidade Macroeconômica

Objetivos Didáticos

Um dos papéis fundamentais do macroeconomista é interpretar a realidade


econômica que o cerca e, a partir disso, elaborar análises e cursos de ação em
diferentes níveis. Este capítulo tem como objetivo fundamental proporcionar uma
visão ampla sobre os principais indicadores macroeconômicos brasileiros (e alguns
internacionais) e como interpretá-los sob uma ótica prática e aplicada.

1. Introdução

A realidade macroeconômica que nos cerca representa um dos aspectos de maior


interesse público em geral. De fato, ao longo do tempo, percebi que muitos alunos se
interessam pelo estudo da ciência econômica motivados pelo interesse em temas
ligados à Macroeconomia. Eu mesmo fui um deles nos tumultuados anos 1980, onde
os preços subiam todos os dias e de forma cada vez mais rápida no Brasil.

O interesse geral pelo tema não é sem razão: o comportamento das variáveis
macroeconômicas afeta nossa vida e nossos negócios a todo o momento. Sob essa
perspectiva, o conhecimento dessa realidade e de suas conexões é fundamental, pois
ela representa o oceano econômico em que navegamos: entendermos
antecipadamente os sinais que representam mudanças no ambiente possibilitam que
adotemos estratégias e ações que permitam que naveguemos de forma mais
adequada sobre mares tempestuosos. Ao mesmo tempo, uma percepção adequada
da realidade macroeconômica permite perceber o momento da inversão em uma
recessão pronunciada e possibilitar que as empresas estejam prontas para uma
retomada das vendas e dos negócios quando os bons ventos voltarem.

A relevância para o tema pode ser percebida pela importância e espaço que a mídia
dedica às questões macroeconômicas. Boa parte dos noticiários são dedicados a
temas econômicos e sobre as ações de política econômica adotadas pelo governo,
procurando noticiá-los e, em muitos casos, interpretá-los para o público em geral.

Sob essa perspectiva, é fato que nunca na história tivemos acesso a tantas
informações econômicas e financeiras de forma tão rápida e tão ampla. Os governos,
bancos centrais, organismos internacionais e institutos de pesquisa disponibilizam
atualmente enormes bancos de dados econômicos ao público de forma gratuita via
internet. Relatórios, notícias, opiniões e análises econômicas estão disponíveis em
sites, blogs, etc a quem tiver interesse sobre o tema.

Essa imensa massa de informações, no entanto, não poderá ser utilizada


adequadamente se não se compreender os principais aspectos e fundamentos
macroeconômicos. Nesse sentido, o bom entendimento sobre os principais
indicadores macroeconômicos se insere em um contexto importante nesse processo.
Esse processo representa o insumo básico do bom macroeconomista, atuando seja
como consultor econômico, em instituições financeiras, governo ou na comunidade
acadêmica como pesquisador.

Usualmente, os livros-texto brasileiros voltados ao campo do estudo macroeconômico


utilizam esse eixo analítico focando-se em temas sobre como calcular o Produto
Interno Bruto (PIB), estruturas básicas da contabilidade nacional, etc. Sob essa
perspectiva, dado que esses temas são amplamente abordados em livros e cursos de
contas nacionais (que não se focam em teoria macroeconômica), nossa abordagem
nesta obra será mais focada em torno da realidade econômica brasileira e nacional
estruturada a partir da realidade aplicada dos principais elementos de contas
nacionais e dos demais indicadores macroeconômicos relevantes para a economia
brasileira.

Em função disso, na próxima seção será apresentado um guia rápido introdutório


sobre como interpretar os principais indicadores macroeconômicos de um país. Na
seção 3, discorreremos sobre os principais aspectos ligados ao Produto Interno Bruto
(PIB) e contas nacionais. Na seção 4, abordaremos a temática da inflação e dos
principais índices de preços nacionais. Na seção 5, discorreremos sobre o emprego e
suas formas de mensuração no Brasil. Na seção 6 incluiremos uma lista de outros
indicadores macroeconômicos ligados à atividade econômica relevantes para a
economia brasileira.

Julgamos que é mais adequado que os indicadores macroeconômicos relativos a


agregados monetários, crédito e taxa de juros sejam abordados na parte dedicada ao
livro relativa à política monetária. Isso decorre do fato de que a melhor compreensão
desses indicadores se dá a partir do conhecimento dos fundamentos da teoria
macroeconômica e atrelada à discussão da política monetária. De maneira análoga,
os indicadores relativos às contas públicas serão abordados na parte dedicada à
política fiscal, enquanto os indicadores referentes ao balanço de pagamentos serão
apresentados na parte do livro dedicada às contas externas e política cambial.

É claro que não pretendemos com isso (nem de longe) esgotar a totalidade de
indicadores macroeconômicos existentes no País e em âmbito internacional. No
entanto, a visão panorâmica proposta tem como objetivo proporcionar os
fundamentos básicos da compreensão de quais são, o que representam e qual a
mecânica operacional dos principais indicadores macroeconômicos. A solidez desse
conhecimento se mostra essencial nas etapas seguintes, que visam apresentar os
principais elementos da teoria macroeconômica moderna.

2. Indicadores Macroeconômicos: Interpretação & Mecânica

Durante as campanhas eleitorais brasileiras observa-se de maneira recorrente que


todos os partidos se esforçam em mostrar que, quando estiveram no poder, a
economia apresentou o melhor desempenho possível. Gráficos e tabelas construídos
de maneira artística procuram evidenciar o sucesso econômico de cada um, indicando
que durante sua administração o crescimento foi o mais elevado, o desemprego caiu
significativamente, a inflação foi a menor registrada na história do País e a taxa de
juros atingiu seu menor nível.

Em meio a toda massa de informações e dados que são apresentados, o cidadão


comum sente que há algo errado nesse discurso e que nem todos podem estar
dizendo a verdade. A realidade dos fatos, no entanto, revela que é possível, a partir
das informações econômicas básicas, construir gráficos e análises que induzam a
conclusões que procurem destacar o lado favorável de cada administração do ponto
de vista econômico. Dessa forma, o bom conhecimento dos indicadores
macroeconômicos permite uma avaliação clara e precisa sobre a realidade que nos
cerca.

Via de regra, os indicadores macroeconômicos podem ser subdivididos em seis


grandes categorias:

i) atividade econômica e emprego;

ii) inflação;

iii) agregados monetários e juros;

iv) contas externas; e

v) contas públicas.

Conforme apontado na seção anterior, abordaremos neste capítulo as categorias i) e


ii), sendo as demais apresentadas posteriormente de forma oportuna.

Do ponto de vista analítico, é preciso fazer um esforço de sintetizar cada indicador de


uma forma prática, procurando traduzir sua essência informacional com vistas a
auxiliar tecnicamente o economista, seja na composição do quadro macroeconômico
com vistas a decisões de investimento, seja no entendimento acerca do conteúdo
informacional daquele indicador e do seu escopo de inserção em um modelo
macroeconômico como uma variável relevante, ou em alguma outra função relevante.

Por conta disso, a abordagem aqui adotada em cada categoria apontada visa apontar
quais são os indicadores mais relevantes, seu grau de abrangência e seu significado.
De forma complementar, é importante associar a cada indicador onde e quando os
mesmos são publicados, assim como se eles estão sujeitos a revisão ou não. Por fim,
e mais importante que tudo, como esses indicadores macroeconômicos devem ser
interpretados.

As informações divulgadas pelos institutos de pesquisa e pelo governo podem vir em


diferentes formatos, dependendo da natureza da construção do indicador de da
informação que deseja ser transmitida.
Os indicadores podem vir nos seguintes formatos:

- Volume, como número de veículos produzidos, total de grãos colhidos, número de


empregos gerados, etc;

- Valor, como valor nominal do Produto Interno Bruto, faturamento do comércio


varejista, total de exportações em dólares, etc;

- Preço, como o preço internacional do petróleo outra ou a cotação do dólar norte-


americano;

- Taxa, como a taxa de desemprego, a taxa de juros, a taxa de inflação, a taxa de


inadimplência sobre a carteira de crédito dos bancos, etc;

- Número Índice, construído a partir de uma série de dados originais e que permitem
visualizar diretamente variações percentuais em relação a uma determinada base.

Os índices de preços ao consumidor representam um bom exemplo desse tipo de


informação.

Dentre essas informações, as que requerem algum grau de compreensão maior


remetem à questão dos números índices. Isso decorre do fato de que sua construção
não é tão direta como as demais informações. Apesar disso, os números índices
representam uma importante ferramenta de insumo informacional básico para os
economistas em diferentes abordagens. Existe uma literatura relativamente ampla
sobre números índices e geralmente nos cursos de graduação em Ciências Econômicas
esse assunto é abordado na disciplinas de Contas Nacionais. No nosso caso, o anexo
do capítulo apresenta uma breve se simples abordagem introdutória sobre o tema.

Taxas de Variação - Aspectos Básicos

O comportamento das variáveis econômicas em termos de volume, valor, preço ou


mesmo taxa pode ser observado diretamente. Por exemplo, a informação de que a
produção de autoveículos brasileira caiu de 3.407,9 mil unidades em 2011 para
3.342,6 mil unidades em 2012 é direta e não requer maiores interpretações à priori.
Da mesma forma, a informação de que a meta da taxa básica de juros brasileira - Selic
- subiu de 9,0% ao ano para 9,5% ao ano também exibe maiores dificuldades de
compreensão.

No entanto, em Economia é possível apresentar a mesma informação de diferentes


formas possíveis. Por exemplo, no mesmo caso mencionado, pode se afirmar que a
produção de autoveículos brasileira caiu 1,9% no ano de 2012 relativamente ao ano
anterior ou, no caso da Selic, que a taxa de juros subiu meio ponto percentual.

Por conta dessa pluralidade de formas de apresentação, é importante conhecer e


permanecer atento às informações divulgadas, para que o teor da mensagem não seja
interpretado equivocadamente ou que se perca alguma peça de informação
importante do ponto de vista analítico.

Os indicadores macroeconômicos de volume, valor e preço podem ser expressos


diretamente pelas suas unidades, como, por exemplo, toneladas de aço produzidas
em um determinado período. Os números índices são números puros construídos a
partir de séries originais e são apresentados dessa forma.

Essas informações, no entanto, podem ser enriquecidas quando analisadas em termos


de variação, o que permite analisar seu comportamento em termos de desempenho.
Essas variações também podem ser expressas pelas suas unidades ou em termos
percentuais. No caso dos números índices, por se tratarem de números puros, a forma
usual de se apresentar suas variações é em termos percentuais.

Usualmente, as estruturas comparativas que se utilizam para apresentar as variações


dos indicadores macroeconômicos ao longo do tempo são as seguintes:

- variação em relação ao período imediatamente anterior: nesse caso, a variação é


calculada considerando-se o período imediatamente anterior de referência, podendo
ser a semana, o mês, o trimestre ou o ano anterior. Exemplo hipotético: queda de 2%
na cotação do dólar em junho relativamente a maio;

- variação em relação ao mesmo período do ano anterior: esse tipo de variação visa
captar o comportamento da variável relativamente ao mesmo período do ano anterior
de referência, geralmente mês ou trimestre. Exemplo hipotético: a produção de
cimento cresceu duas mil toneladas em outubro relativamente ao mesmo mês do ano
anterior;

- variação acumulada no ano: essa comparação visa analisar o desempenho do


indicador em questão durante o ano até o mês de referência relativamente o mesmo
período do ano anterior. Exemplo hipotético: as exportações brasileiras de janeiro a
agosto cresceram US$ 23 bilhões em relação ao mesmo período do ano anterior;

- variação acumulada em 12 meses: compara-se a variação do resultado acumulado


nos últimos doze meses com os doze meses imediatamente anteriores. É interessante
observar que em dezembro, esse tipo de comparação gera o mesmo resultado da
variação acumulada no ano. Exemplo hipotético: o volume de vendas no comércio
varejista cresceu 4,3% nos últimos doze meses encerrados em maio.

- variação dessazonalizada: esse tipo de análise é feita apenas sobre alguns


indicadores macroeconômicos que apresentam comportamento sazonal (exemplo:
vendas no comércio), o que dificulta sua comparação na margem (mês relativamente
a mês imediatamente anterior). A dessazonalização é um processo estatístico que visa
reconstruir a série eliminando o problema da sazonalidade, o que permite a
comparação na margem sem distorções. Exemplo hipotético: queda de 0,3% no PIB
no terceiro trimestre em relação ao trimestre anterior.
As formas apresentadas são as mais utilizadas nas divulgações de vários indicadores
macroeconômicos. É claro que existem outras formas, que podem ser construídas
dependendo que se deseja mostrar ou enfocar. Por exemplo, é possível realizar uma
análise de indicadores com médias móveis (trimestrais, por exemplo), o que permite
suavizar as séries e torná-las menos voláteis.

Com relação aos indicadores expressos em taxa, como a taxa de desemprego, por
exemplo, as variações são usualmente expressas em termos de pontos percentuais.
Exemplo: a taxa de juros caiu um ponto porcentual. Uma outra forma de registrar a
variação desses indicadores é por pontos base, onde cada ponto base represente 0,01
ponto percentual. Nesse caso, um aumento de 200 pontos base representa um
aumento de dois pontos percentuais na taxa.

Essas são as formas mais diretas em que os indicadores macroeconômicos são


divulgados e apresentados. Obviamente, as maneiras aqui apresentadas não esgotam
totalmente o leque de possibilidade, mas procuramos nos restringir às mais usuais.

3. Produto Interno Bruto (PIB)

3.1 – Produto Interno Bruto e Identidades Macroeconômicas Básicas

Uma das principais medidas de desempenho em uma economia diz respeito ao


Produto Interno Bruto (PIB). Basicamente, essa medida representa o fluxo de
produção, renda e demanda em uma economia e seu comportamento é
determinante. Quanto maior o PIB de um país, maior é o seu fluxo de produção de
bens e serviços, de renda e de demanda. A distinção moderna entre países ricos, de
renda média e países pobres é construída através dessa métrica.

Um país que registra bons níveis de crescimento do PIB ao longo do tempo


proporciona, tudo mais constante, condições econômicas cada vez melhores para
seus cidadãos. O crescimento do PIB torna possível que todos os habitantes de uma
nação tenham aumento de renda, criando uma espécie de jogo de soma positiva, onde
todos ganhos. Em contrapartida, países sem crescimento econômico, em que o PIB
permaneça estagnado em um determinado patamar por um período prolongado não
permite esse tipo de jogo. Nesse tipo de situação, a renda de uma cidadão só pode
aumentar às custas da queda da renda de outro cidadão, em outras palavras, nessas
circunstâncias, é criado um jogo de soma zero.

Conforme apontado na seção 1, a definição, conceito e estrutura do Produto Interno


Bruto (PIB) e de seus componentes é um dos pontos centrais da Contabilidade Social.
No entanto, é relevante uma breve revisão abordando esse tema contextualizando-o
na discussão macroeconômica moderna.

O primeiro conceito relevante nessa discussão diz respeito ao fato de que o PIB é uma
variável que representa um fluxo de produção (ou renda ou demanda) em um
determinado período de tempo. Isso significa que se o PIB está crescendo ao longo
do tempo, esse fluxo também está aumentando. A escala temporal em que o PIB é
medido no Brasil é trimestral. Nesse sentido, os quatro trimestres do ano compõem o
resultado do PIB de um ano específico. Por exemplo, o PIB brasileiro de 2014
representa o fluxo de produção (ou renda ou demanda) ocorrido nesse ano específico.
Esse tipo de variável é claramente distinta de uma variável que indica um estoque,
como é o caso do estoque de moeda no Brasil em um determinado mês específico.

O segundo conceito importante no contexto dessa discussão diz respeito ao fato de


que o PIB é mensurado em uma unidade monetária específica. Esse é o expediente
que permite que diferentes bens (carros, laranjas, etc) e serviços (educação, serviços
médicos, etc) produzidos no país sejam agregados em uma única medida. No caso do
PIB brasileiro, a medida oficial é feita na nossa moeda corrente, o Real.
Subsequentemente, pode ser feita a conversão dessa medida para outras moedas,
como o dólar norte-americano, o que, em tese e de forma simplista, permite uma
primeira comparação internacional entre o PIB de diferentes países.

O terceiro conceito importante com relação ao PIB diz respeito que ele é uma medida
de produção agregada de uma economia. Em outras palavras, o que se procura
mensurar com essa métrica não é apenas a produção de uma firma ou indústria
específica, mas sim do conjunto de bens e serviços de uma economia.

Basicamente, existem duas formas de mensurar a produção agregada de uma país:


através do valor adicionado em cada etapa produtiva ou através dos bens e serviços
finais. A compreensão dessas duas formas pode ser feita mais facilmente através de
um exemplo ilustrativo.

Por exemplo, vamos supor que uma determinada economia produza dois bens:
automóveis e bolos. Suponhamos, de forma simplificada que para a produção de
automóveis, utiliza-se chapas metálicas, que é um bem intermediário, e, por sua vez,
para que as chapas sejam produzidas, é necessário aço. De maneira similar, a
produção de bolos utiliza o fubá como insumo no seu processo produtivo, que por sua
vez, requer milho para que o mesmo seja produzido.

Nesse exemplo simplificado, cada etapa do processo produtivo utiliza o produto da


etapa anterior como insumo e agrega valor para a venda para a etapa seguinte. No
caso da produção de automóveis, a produção de aço em um determinado período tem
um valor de venda de $100, que é adquirido pelo setor que produz chapas de aço.
Esse setor agrega $100 de valor e as chapas são vendidas ao valor de $200 para as
montadoras de automóveis. As montadoras, por sua vez, agregam um valor de $200
e vendem os automóveis a $400. Note-se nesse exemplo, que o produto agregado
desse setor pode ser medido de duas formas distintas: pela agregação de valor (aço
$100 + chapas metálicas $100 + automóveis $200 = $400) ou pelo valor do produto
final, que é de $400.

De maneira similar, pode-se medir a produção de bolos através da agregação de valor


em cada etapa de produção (milho $90 + fubá $80 + bolos $110) ou pelo valor do
produto final (bolos) de $400.
O valor do produto agregado nessa economia (automóveis + bolos) foi de $680 nesse
período. Esse resultado pode ser obtido tanto pelo valor do produto final quanto pela
soma de agregação de valor em cada etapa do processo produtivo.

A partir desse exemplo, pode se dizer que o produto agregado é o valor de mercado
de todos os bens e serviços finais produzidos em uma economia em um determinado
período de tempo.

Nas economias modernas, todo processo produtivo gera uma contrapartida de renda.
Essa renda, na verdade, é a remuneração dos fatores de produção nessa economia:
trabalho (salários), capital físico (aluguéis), capital financeiro (juros) e capital próprio
(lucros).

Imaginando-se inicialmente uma economia sem governo e resto do mundo, pode se


dizer que essa renda é apropriada pelas famílias, que a utiliza na demanda por bens e
serviços na economia.

A dinâmica descrita, na verdade, pode ser representada de maneira simplificada pelo


fluxo circular da renda.
O fluxo circular da renda permite visualizar que:

Produção Agregada = Renda Agregada = Demanda Agregada

Logicamente, uma economia não incorpora apenas as famílias e nem todos os bens e
serviços finais produzidos em uma economia são destinadas às mesmas. Parte dos
bens finais produzidos em uma economia, como máquinas e equipamentos, são
destinados a repor o capital depreciado ao longo do tempo ou a ampliar o estoque de
capital existente. Esses tipos de bens são denominados bens de capital, de produção
ou de investimento e são adquiridos pelas empresas. A produção e o consumo desses
bens é importante para uma economia, pois eles representam a expansão da
capacidade da oferta futura de bens e serviços nesse país. Em função disso, denomina-
se Investimentos essa parcela de demanda agregada em uma economia, que diz
respeito à aquisição de máquinas, equipamentos, novos prédios e variação de
estoques. Sob essa perspectiva, analisando-se a demanda agregada incorporando as
famílias e as empresas no âmbito da economia de um país, pode-se dizer que:

Demanda Agregada (DA) = Consumo das Famílias (C) + Investimentos (I)

Ao mesmo tempo, analisando-se do ponto de vista da renda, é possível observar que


a mesma pode ser utilizada pelas famílias no consumo ou pode ser poupada,
formando a poupança agregada (S). Assim:

Renda Agregada (Y) = Consumo das Famílias (C) + Poupança (S)

Como, a partir da identidade contábil básica, a Renda Agregada é igual à Demanda


Agregada, tem-se que:
C + I = C + S => I = S

Isso significa que, em uma economia, os investimentos são iguais à poupança


agregada.

A incorporação do governo no contexto dessa discussão, expande a análise a um novo


patamar. No contexto macroeconômico o governo representa um importante agente
e seu consumo agregado absorve uma importante parcela do produto (bens e
serviços) em qualquer país. O governo visa, basicamente, oferecer um conjunto de
bens e serviços públicos à sociedade, como segurança nacional, exercício do judiciário,
etc. Seu consumo de bens e serviços na economia está diretamente ligado ao exercício
dessas funções. Assim, podemos incorporar os gastos do governo (G) à demanda
agregada e temos que:

DA = C + I + G

Ao mesmo tempo, para viabilizar o pagamento desses bens e serviços adquiridos, o


governo arrecada impostos (T) sobre a sociedade. Se os impostos forem incorporados
na análise, a renda agregada pode ser alocada da seguinte forma:

Y=C+S+T

Isso significa que, dado que Y = DA:

C + S + T = C + I + G => S + T = I + G => I = S + (T – G)

A relação acima exibe um aspecto macroeconômico importante: se os gastos do


governo (G) forem superiores aos impostos arrecadados (T), parte da poupança
privada (S) será utilizada para financiar esse déficit do governo.

Por fim, resta incorporarmos o resto do mundo na análise macroeconômica. Essa


inserção provoca três alterações que devem ser incorporadas na discussão, sendo que
cada uma delas destina-se a uma das componentes da identidade básica apresentada
anteriormente.

Nesse sentido, do lado da oferta agregada total de bens e serviços em uma economia,
devemos incorporar as importações (M). Do lado da demanda agregada total,
devemos incorporar as exportações (X), que representam a demanda do resto do
mundo por bens produzidos no país em questão. A partir disso, a identidade
macroeconômica básica pode ser reescrita como:

Y + M = C + I + G + X => Y = C + I + G + (X - M)

Voltando à ótica da destinação da renda agregada, podemos estender a análise para:

Y = C + S + T = C + I + G + (X – M) => (S – I) + (T – G) – (X – M) = 0
Essa identidade permite uma conclusão interessante: se o governo estiver registrando
um déficit (G > T), ele estará absorvendo recursos do setor privado (S - I) e/ou recursos
do setor externo (X – M) para que a identidade seja preservada.

Por fim, deve se proceder ao ajuste na renda agregada, uma vez que empresas
sediadas no país pode se utilizar de fatores capital e trabalho originários do resto do
mundo e que devem ser devidamente remunerados. A análise também é válida para
empresas de residentes no país que vendem fatores trabalho e capital para o exterior
e que, obviamente, devem ser remunerados por isso. Esse ajuste é consolidado na
Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE), que representa o saldo líquido dessas
remunerações.

Ao considerarmos o setor externo e o fenômeno descrito, surge um novo critério que


deve ser considerado: o da Renda Interna e o da Renda Nacional. A Renda Interna
refere-se à renda gerada dentro de um país. Por sua vez, a Renda Nacional refere-se
à renda cuja propriedade pertence aos residentes do país, independentemente de
onde ela tenha sido gerada, no território nacional ou no exterior. Em função disso,
temos que:

Renda Nacional (RN) = Renda Interna (RI) – RLEE

De forma similar, dada a identidade básica:

Produto Nacional (PN) = Produto Interno (PI) – RLEE

Em termos de definição técnica, deve-se considerar os aspectos ligados à depreciação.


Nesse contexto, deve-se considerar o fato de que a depreciação do estoque de capital
ocorre a cada período no tempo. Isso significa que, para efeitos de cálculo líquido dos
investimentos produtivos, que representa de fato o incremento do estoque de capital,
deve-se subtrair a depreciação a cada período. Isso significa que o investimento
agregado líquido é igual ao investimento agregado bruto menos a depreciação. De
maneira similar:

Produto Agregado Líquido (PL) = Produto Agregado Bruto (PB) – Depreciação

Ou, alternativamente, dada a identidade básica:

Renda Agregada Líquida (RL)= Renda Agregada Bruta (RB) – Depreciação

Uma última consideração a ser feita nesse leque de alternativas de representação do


produto e da renda de um país diz respeito à sua mensuração a preços de mercado ou
a custo de fatores. Nesse sentido, os bens e serviços finais a preços de mercado
embutem automaticamente os impostos indiretos e do seu valor é são reduzidos os
subsídios. Se retirarmos desse valor os impostos indiretos e incluirmos os subsídios do
governo, obteremos o valor do produto a custo de fatores. Nesse contexto, temos a
seguinte relação:
Produto Agregado a Preços de Mercado (pm) = Produto Agregado a Custo de Fatores
(cf)+ Impostos Indiretos – Subsídios

Ou, de maneira similar:

Renda Agregada a Preços de Mercado = Renda Agregada a Custo de Fatores +


Impostos Indiretos – Subsídios

Dessa forma, temos as seguintes possibilidades:

PIL = PIB – Depreciação (RIL = RIB – Depreciação)


PNB = PIB – RLEE (RNB = RIB – RLEE)
PNL = PNB – Depreciação (RNL = RNB – Depreciação)
PIB pm = PIB cf + Impostos Indiretos – Subsídios
PNB pm = PNB cf + Impostos Indiretos – Subsídios
PNL pm = PNL cf + Impostos Indiretos – Subsídios

3.2 – Produto Interno Bruto (PIB) e Inflação

Conforme constatado na seção anterior, a construção do PIB é feita com base nas
quantidades produzidas em um país em um determinado período de tempo
multiplicado pelo preço desses bens e serviços nesse mesmo espectro de tempo. O
cálculo realizado com base nesses preços e quantidades proporciona o valor do PIB
nominal a cada instante no tempo.

No entanto, é importante ressaltar que o valor do PIB nominal, dada a sua construção,
é afetado a cada momento de duas maneiras: pela variação do fluxo de produção e
por mudanças dos preços dos bens e serviços ao longo do tempo.

Logicamente, o efeito decorrente da alta dos preços no PIB é um reflexo apenas do


processo inflacionário a cada período e não representa um crescimento em termos
reais tanto do produto agregado quanto da renda do país. Isso significa que um ajuste
em termos dos preços é necessário para eliminarmos o efeito da inflação a cada
período.

O procedimento adotado para se eliminar esse efeito é selecionar um ano como base
e, a partir daí, manter-se calcular o PIB dos demais anos com base nos preços
praticados nesse ano. Por exemplo, vamos considerar o ano de 2010 como ano base.
Para conhecermos o PIB de 2011 tendo como ano base o ano anterior, calcula-se o
PIB a partir das quantidades de bens e serviços finais produzidas em 2011 e
considerando-se os preços de 2010 (ou seja, somatória de Preços10 X Quantidades11
de cada bem e serviço final).

A partir desse cálculo, uma vez eliminada a problemática relativa da variação dos
preços ao longo do tempo, é possível conhecer a variação do PIB real a cada período,
bastando verificar a variação percentual ocorrida a cada instante a partir desse
cálculo.

A partir desse cálculo, também é possível obter o deflator implícito do PIB, construído
a partir da razão entre o PIB nominal e o PIB real a cada período no tempo. O termo
implícito deriva do fato de que não o deflator não é diretamente observado, mas sim
calculado a partir dessa relação. O deflator do PIB, em tese, representa a medida mais
abrangente de variação dos preços da economia.

3.3 – Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) – Aspectos Básicos

O Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) é medido pelo IBGE (www.ibge.gov.br) em


bases trimestrais. Em geral, a divulgação do PIB trimestral ocorre cerca de dois meses
após o encerramento do trimestre em datas definidas pelo próprio IBGE
antecipadamente (é possível obter o calendário de divulgação no site da própria
instituição).

A ênfase gerada no contexto da divulgação do PIB trimestral realizada pelo IBGE recai
sobre o desempenho do produto brasileiro no trimestre em questão. Por conta disso,
ganhou destaque o resultado do produto livre de efeitos sazonais ao longo dos
últimos anos. Esse tipo de medida permite a comparação com o trimestre
imediatamente anterior sem que os problemas decorrentes da sazonalidade da
atividade econômica interfiram na medida. Em função disso, tornou-se comum
observar na mídia econômica a informação que o PIB brasileiro em um trimestre
específico cresceu (caiu) em relação ao trimestre anterior.

Além do resultado dessazonalizado, o IBGE também divulga outras comparações no


resultado trimestral que são interessantes para acompanhar a evolução dinâmica do
produto: a variação acumulada no ano; a variação acumulada nos últimos quatro
trimestres; e a variação em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Todas essas
comparações se mostram interessantes do ponto de vista analítico para obter uma
noção sobre o comportamento dinâmico da economia brasileira.

Na divulgação do PIB trimestral realizada pelo IBGE, alguns aspectos importantes


também merecem destaque em termos de acompanhamento. Nesse sentido, é
possível observar o comportamento do produto brasileiro a cada trimestre
considerando-se a ótica da produção (ou oferta) e a ótica da demanda agregada.

Dessa forma, considerando-se a ótica da produção (ou da oferta), é possível observar


o desempenho trimestral da Agropecuária, da Indústria e dos Serviços, bem como
dos seus subsetores.

De maneira análoga, é possível acompanhar o desempenho das componentes da


demanda agregada: Consumo das Famílias, Formação Bruta de Capital Fixo, Gastos
do Governo, Exportações e Importações. A cada trimestre, o IBGE divulga não apenas
o comportamento desses setores em termos de variação real, mas também o valor
em reais produzido ou consumido por cada um.

Uma outra informação relevante também divulgada pelo IBGE no resultado do PIB a
cada período diz respeito à taxa de investimento da economia brasileira, medida pela
relação entre a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) e o PIB (ou FBCF/PIB).

4. Inflação

A inflação pode ser definida como a variação positiva do nível médio de preços em
uma economia. Pelo fato de a inflação representar uma variação média, isso significa
que nem todos os preços de todos os bens e serviços em uma economia estão
necessariamente subindo. De fato, a situação mais comum nas economias é que
alguns preços estejam subindo, outros estejam caindo e alguns não registrem variação
no período de mensuração. No entanto, a existência de inflação significa que os
preços, na média, estão variando positivamente.

No entanto, a qual média essa variação se refere? Conforme dito na seção 3, o


deflator implícito do PIB é uma medida abrangente do comportamento dos preços
em uma economia. No entanto, é uma medida que apresenta várias limitações em
termos práticos quando se deseja conhecer o que está ocorrendo com o
comportamento dos preços em uma economia mês a mês. Isso decorre do fato de que
o PIB é medido trimestralmente, ou seja, apenas quatro vezes no ano. Ao mesmo
tempo, sua divulgação é defasada em relação ao período em questão (cerca de dois
meses depois do trimestre se encerrar), sendo pouco útil para quem necessita
conhecer o comportamento da inflação de forma mais rápida para efeitos de tomada
de decisão (o Banco Central, por exemplo, para decisões de política monetária). Por
fim, o PIB também está sujeito a revisões depois da sua divulgação, o que torna
problemática a tomada de decisão de política econômica, por exemplo, com base no
comportamento dos preços a partir do PIB.

Em função disso, para efeitos de acompanhamento da inflação em bases mensais ou


semanais, utilizam-se índices de preços, que são calculados pelos institutos de
pesquisa brasileiros (Fundação Getulio Vargas - FGV, Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística - IBGE, Fundação Instituto de Pesquisa Econômica - FIPE, etc.).

Via de regra, os índices de preços expressam os preços de uma determinada cesta de


bens e serviços definida a partir de critérios estabelecidos por cada instituto de
pesquisa. Nesse contexto, as oscilações desses índices representam as mudanças nos
preços no conjunto dessa cesta.

Pode-se perceber rapidamente que existe um grande número de índices de preços na


economia brasileira, o que torna relativamente confuso o entendimento do que está
ocorrendo em termos de inflação para o leigo. De fato, por diferentes razões
históricas, surgiram diversos índices de preços no País e que, mesmo com a
estabilização da inflação brasileira em patamar baixo, não deixaram de ser calculados.
Usualmente, nas economias desenvolvidas, são calculados basicamente dois índices
de preços: um Índice de Preços ao Consumidor – IPC (ou Consumer Price Index – CPI)
e um índice de preços ao produtor (ou Producer Price Index – PPI).

No Brasil, pode-se classificar, basicamente, os índices de preços em duas grandes


categorias: os Índices de Preços ao Consumidor (ou IPCs) e os Índices Gerais de
Preços (ou IGPs). Em função disso, subdividiremos a discussão dos índices em dois
grandes blocos.

4.1 – Índices de Preços ao Consumidor

Os índices de preços ao consumidor têm como finalidade básica medir o


comportamento dos preços que afetam diretamente o poder de compra do cidadão
comum. Os IPCs se distinguem uns dos outros no Brasil pelas seguintes características:

• Instituição de pesquisa: usualmente IBGE, FGV ou FIPE;


• Metodologia Utilizada1;
• Faixa de Renda: diz respeito à faixa de renda da população que o índice
abrange;
• Abrangência Geográfica: localidades onde os institutos realizam a pesquisa;
• Período de Coleta: período em que os preços são coletados.
• Divulgação: período em que o índice em questão é divulgado.
• Utilização Usual: uso em geral que é feito do índice.

Com base nas características definidas para cada índice de preço, os institutos de
pesquisa realizam periodicamente (usualmente no espaço de alguns anos) a Pesquisa
de Orçamento Familiar, que visa basicamente levantar a estrutura de gastos das
famílias nas faixas de renda especificadas nas áreas geográficas delimitadas pelo
índice.

O quadro a seguir sintetiza algumas das características dos principais índices de preços
ao consumidor existentes no Brasil. Maiores informações podem ser obtidas no site
das instituições de pesquisa (www.ibge.gov.br; portalibre.fgv.br; www.fipe.org.br).


1 - O detalhamento das diferentes metodologias dos índices pode ser encontrado na documentação dos
respectivos sites das instituições de pesquisa.
Índice Instituição Faixa de Abrangência Período de Divulgação Utilização
de Pesquisa Renda Geográfica Coleta Usual
(Salários
Mínimos)

IPCA IBGE 1 a 40 11 maiores 1 a 30 do até o dia 15 do referência para


regiões mês de mês seguinte o regime de
metropolitanas referência ao de metas de
referência inflação e
indexador de
alguns títulos
públicos

INPC IBGE 1a5 11 maiores 1 a 30 do até o dia 15 do usado em vários


regiões mês de mês seguinte dissídios
metropolitanas referência ao de salariais
referência

IPC FGV 1 a 33 7 principais 1o até o até o dia 10 do usado como


capitais do País último dia do mês seguinte uma das
mês de ao de referências para
referência referência apurar a
evolução do
poder de
compra do
consumidor nas
capitais

IPC-S FGV 1 a 33 7 principais 1o até o até o dia 10 do permite


capitais do País último dia do mês seguinte detectar com
mês com ao de agilidade
atualização referência mudança na
semanal trajetória dos
preços nas
principais
capitais

IPC- FIPE 1 a 10 Município de São 1o até o até o dia 10 do acompanhamen


FIPE Paulo último dia do mês seguinte to da inflação
mês com ao de em São Paulo
atualização referência
semanal
Fontes: IBGE, FGV e FIPE

Dentre os índices de preços ao consumidor, o IPCA, calculado pelo IBGE, ganhou maior
destaque desde 1999 pelo fato de que se tornou naquele ano o índice utilizado como
referência para o regime de metas para inflação, que foi implementado na sequência
da mudança do regime cambial brasileiro. Desde então, o Banco Central do Brasil tem
calibrado suas decisões de política monetária tendo como foco cumprir a meta para
inflação estabelecida.
A estrutura desse índice encontra-se subdividida em nove grupos: alimentação e
bebidas, habitação, artigos de residência, vestuário, transportes, saúde e cuidados
pessoais. Cada grupo tem seu peso relativo ajustado mensalmente em função da cesta
de consumo na data-base e da variação relativa dos preços dos itens componentes do
grupo. O levantamento dos preços é feito em estabelecimentos comerciais,
estabelecimentos de prestação de serviços, concessionárias de serviços públicos e,
para efeitos de aluguéis e condomínios, em domicílios. O IBGE considera o valor de
venda à vista na coleta dos preços.

4.2 – Índices Gerais de Preços (IGPs)

A concepção do IGP, criado nos anos 1940 pela FGV, foi norteada com fins de ser uma
medida abrangente das oscilações de preços da economia brasileira. Nesse contexto,
essa abrangência envolveria diferentes atividades e etapas do processo produtivo no
País.

Essa lógica condicionou a estrutura do IGP, que é uma média aritmética ponderada de
três outros índices:

• Índice de Preços no Atacado – IPA (60%)


• Índice de Preços ao Consumidor – IPC (30%)
• Índice Nacional de Custo da Construção – INCC (10%)

O IPA tem abrangência nacional e pode ser subdividido tendo como base dois
conjuntos:

• de acordo com a origem da produção: agropecuária (24,2%) ou industrial


(75,8%).
• de acordo com os estágios de processamento: bens finais (36,0%), bens
intermediários (39,9%) e matérias-primas brutas (24,1%).

O IPC da FGV, conforme descrito na seção anterior, abrange as sete principais capitais
do País: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto Alegre e
Brasília e abrange o espectro de famílias com renda de 1 a 33 salários mínimos. O IPC
é composto por sete grandes grupos: alimentação; habitação; vestuário; saúde e
cuidados pessoais; educação; leitura e recreação; transportes e despesas diversas.

Por sua vez, o INCC tem por finalidade medir o comportamento dos custos das
construções habitacionais. É calculado a partir da média dos índices das sete principais
capitais do País (as mesmas que a FGV realiza o levantamento do IPC). O INCC se
desdobra em dois grupos: i) mão de obra; e ii) materiais, equipamentos e serviços.

O IGP tem três versões diferentes, diferenciadas basicamente pelo seu período de
coleta e divulgação:
• Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), que é um índice
tradicional e cuja origem remonta os anos 1940. É amplamente utilizado
atualmente para o reajuste dos contratos de vários preços administrados além
de ser o indexador da dívida dos Estados com a União. O período de coleta do
IGP-DI é de 1 a 30 de cada mês de referência e é divulgado no início do mês
subsequente;

• Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M), criado para ser utilizado no


reajuste de operações financeiras. Atualmente é o índice mais utilizado como
indexador financeiro. Esse índice também é utilizado para a correção de alguns
preços administrados. O período de coleta do IGP-M é de 21 a 20 de cada mês
de referência e divulgado nos últimos dias do mês;

• Índice Geral de Preços 10 (IGP-10), que tem a finalidade de mostrar a dinâmica


dos preços no período da coleta de sua referência. O período de coleta do IGP-
10 é de 11 a 10 do mês de referência, sendo divulgado em meados do mês.

4.3 – Outros Índices de Preços

Além dos índices citados, existem vários outros índices de preços no País com o
objetivo de medir o comportamento de preços em regiões específicas ou de
determinados setores da economia.

Entre os mais conhecidos temos:

• Cesta Básica Nacional – Dieese;


• Cesta Básica de São Paulo – Procon-SP; e
• Índice de Custo de Vida – ICV – do Dieese.

5. Emprego e Desemprego

Uma das principais questões em torno da macroeconomia moderna diz respeito ao


emprego e ao desemprego em uma economia. O emprego é claramente uma das
variáveis que estão associadas ao bem estar econômico de uma população. O
emprego está associado à capacidade de geração de renda em uma economia e
representa um ponto central dos governos nas questões econômicas.
Como qualquer outro mercado, o mercado de trabalho é composto pela oferta de
mão de obra dos trabalhadores e pela demanda por mão de obra, composta pelas
vagas oferecidas no mercado de trabalho. A dinâmica desse mercado exibe
características específicas e inerentes.

Sob essa perspectiva, economias que crescem pouco e possuem um baixo nível de
capacidade de geração de emprego tendem a conviver com maiores tensões sociais.
Essas tensões se manifestam em diferentes níveis na sociedade e pioram a qualidade
de vida da população em geral.

Em função disso, o papel da moderna teoria macroeconômica é compreender os


mecanismos de funcionamento de uma economia em termos agregados. A partir
disso, o macroeconomista deve propor estratégias de política econômica que visem
ampliar o crescimento do produto e do emprego de forma sustentável, visando a
melhoria do bem estar econômico de uma sociedade.

Tecnicamente, o desemprego ocorre quando parte da força de trabalho de uma


economia deseja trabalhar e não consegue obter emprego. A taxa de desemprego é
a razão entre o número de desempregados em relação ao total da força de trabalho.
Essa razão é expressa em termos percentuais.

⎛ N o de Desempregados ⎞
Taxa de Desemprego (%) = ⎜ x100
⎝ Força de Trabalho ⎟⎠

Em períodos de baixo crescimento ou de recessão, a taxa de desemprego tende a


aumentar. Inversamente, em momentos de expansão acelerada do produto, o
emprego tende a crescer e a taxa de desemprego a declinar.

As teorias macroeconômicas modernas procuram explicar de diferentes formas a


natureza e a causa do desemprego. A partir dessas interpretações, as diferentes visões
macroeconômicas procuram vislumbrar as possibilidades (ou não) do governo
influenciar a economia de forma a estabilizar os ciclos econômicos e o emprego. Essas
diferentes visões serão abordadas e discutidas nos próximos capítulos.

De qualquer forma, a despeito das diferentes teorias macroeconômicas, existem


alguns conceitos usuais do ponto de vista econômico que podem esclarecer
tecnicamente alguns conceitos básicos.

Nesse sentido, utilizam-se as seguintes definições para o desemprego. O desemprego


estrutural é o nível de desemprego associado à incapacidade de uma economia em
gerar empregos a todos participantes que que desejam trabalhar devido a um
descompasso entre as habilidades exigidas pelas vagas disponíveis vis-à-vis aquelas
que os trabalhadores possuem.

O desemprego friccional, por sua vez, é aquele associado ao período de transição do


trabalhador entre um emprego e outro. Esse tipo de desemprego existe devido ao
grau de heterogeneidade presente nos trabalhadores e nos empregos. Esse é um nível
de emprego voluntário existente nas economias.

A taxa natural de desemprego (ou pleno emprego) corresponde ao nível da taxa de


desemprego em que a inflação permanece constante. Via de regra, uma taxa de
desemprego inferior tende a gerar pressões no mercado de trabalho e acelerar a
inflação e, inversamente, níveis de desemprego superior a esse patamar desaceleram
a inflação. Do ponto de vista técnico, essa taxa é correspondente à Taxa de
Desemprego que Não Acelera a Inflação (em inglês: Non-Accelerating Inflation Rate
of Unemployment - NAIRU).

A taxa de desemprego brasileira é uma pesquisa domiciliar calculada mensalmente


pelo IBGE para as seis principais regiões metropolitanas do País (São Paulo, Rio de
Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador).

O IBGE considera como População em Idade Ativa (PIA) pessoas com 14 anos ou
mais2, ou seja, brasileiros tecnicamente capazes de exercer uma atividade econômica.
A População em Idade Ativa (PIA) engloba a População Economicamente Ativa (PEA)
e a População Economicamente Não Ativa (PNEA)3.

A População Economicamente Ativa (PEA) corresponde ao potencial de trabalho que


o setor produtivo da economia brasileira pode contar, composto pela população
ocupada e pela população não ocupada (ou desocupada).

A população ocupada corresponde às pessoas que trabalharam no período de


referência ou que não trabalharam mas tinham emprego (ou seja, em férias). Essas
pessoas são classificadas em: trabalhadores, conta própria, empregadores e não
remunerados4.
A população não ocupada (ou desocupada) refere-se àquelas pessoas que não
tinham trabalho em um período de referência específico, mas se mostraram dispostas
ao trabalho. Para tanto, tomaram alguma providência efetiva na procura por
ocupação(seja pesquisando em jornais, consultando pessoas, etc).

Dados esses elementos, a Taxa de Desemprego Aberto calculada pelo IBGE para um
determinado período de referência é dada pela seguinte relação:

⎛ Desocupados ⎞
Taxa de Desemprego Aberto (%) = ⎜ ⎟⎠ x100
⎝ PEA


2 - Apesar do trabalho infantil ser ilegal, o IBGE considera pessoas com 10 anos ou mais para efeitos de cálculo da
PEA por essa ainda ser uma prática realizada no País.
3 - A PNEA são as pessoas não classificadas como ocupadas ou desocupadas. Podem ser inativos, estudantes,

pessoas que desistiram de procurar emprego, incapacitados, etc.


4 - O IBGE considera ocupados não remunerados aqueles que exerceram uma ocupação econômica, sem

remuneração, pelo menos 15 horas na semana nas seguintes atividades: ajuda a membro da unidade domiciliar
em sua atividade econômica; ajuda a instituições religiosas, beneficentes ou de cooperativismo; ou como aprendiz
ou estagiário.
Além do IBGE, outros institutos e órgãos calculam o emprego e o desemprego no
Brasil. O Ministério do Trabalho (www.mtb.gov.br), por exemplo, realiza o cálculo do
comportamento do emprego formal no País, através do Cadastro Geral do Emprego
e Desemprego (CAGED), que contabiliza o saldo das admissões e demissões no
mercado formal (carteira assinada) no País.

Desde janeiro de 1985, a Fundação SEADE e o Dieese (www.seade.gov.br) realizam a


Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) para a região metropolitana de São Paulo.
Gradativamente, outras regiões também passaram a fazer a pesquisa: Porto Alegre e
Distrito Federal (1992); Belo Horizonte (1995); Salvador (1996); Recife (1997); e
Fortaleza (2008).

6. Outros Indicadores Macroeconômicos de Atividade Econômica

Além do Produto Interno Bruto, dos indicadores de inflação e de emprego, existe um


conjunto de indicadores elaborados pelos institutos de pesquisa no País que têm por
finalidade proporcionar um panorama mais claro e contemporâneo sobre o que está
ocorrendo na economia5.

Esse acompanhamento se mostra relevante em múltiplas dimensões. Do lado do setor


privado, conhecer o que está acontecendo com a atividade econômica auxilia no
processo de tomada de decisão em termos de produção e investimento: sinais de
aquecimento econômico significam, em grande parte das vezes, um aumento no
volume dos negócios e das vendas, o que deve ser antecipado do ponto de vista das
empresas. Da mesma forma, sinais de desaquecimento e de recessão se traduzem em
redução dos negócios e das vendas e as empresas e o conhecimento dessa informação
por parte das empresas permite que ações táticas sejam definidas para evitar maiores
prejuízos.

O conhecimento do grau de aquecimento relativo da economia também é importante


para o governo, que deve tomar decisões em termos de política econômica com vistas
a afetar o ciclo econômico. Nesse sentido, por exemplo, é fundamental para o Banco
Central conhecer o que está ocorrendo com a atividade econômica para tomar
decisões em torno da taxa de juros. Em momentos de baixo crescimento e de inflação
em queda, o Banco Central deve reduzir a taxa de juros para estimular a demanda
agregada e a atividade econômica. De maneira inversa, em períodos atividade
aquecida e inflação em alta, o Banco Central deve elevar a taxa de juros, para
desestimular a demanda agregada e a atividade econômica.

Em função disso, a tabela a seguir elenca alguns dos principais indicadores da


atividade econômica no Brasil:


5 - O PIB, embora represente a principal métrica sobre o que está ocorrendo na economia brasileira, é divulgado
com cerca de dois meses depois de encerrado o trimestre. Essa é uma defasagem muito grande para efeitos de
tomada de decisão nos negócios ou no governo e, por conta disso, outros indicadores que revelem o que está
ocorrendo com a atividade econômica sem uma defasagem tão grande se mostram relevantes.
Indicador Descrição Periodicidade Instituição
Índice de O IBC-Br é calculado pelo Banco Central do Brasil (BCB) e Mensal BCB
Atividade tem por finalidade ser uma proxy da atividade
Econômica do econômica do País. Em grande medida, a proposta desse
Banco Central – indicador é representar uma prévia do PIB.
IBC-Br
Pesquisa Industrial Importante indicador que revela o comportamento da Mensal IBGE
Mensal – PIM atividade industrial brasileira através da sua produção
física.
Pesquisa Mensal Essa pesquisa traz indicadores que permitem Mensal IBGE
de Comércio – acompanhar a evolução do comércio varejista no País,
PMC como, por exemplo, o volume de vendas.
Sondagem Pesquisa que proporciona informações Mensal FGV
Conjuntural da majoritariamente qualitativas levantadas junto à
Indústria de indústria de transformação brasileira. Fornece
Transformação indicações sobre o estado da economia e tendências.
Realizada trimestralmente desde 1966 e mensalmente
desde 2005.
Sondagem de Pesquisa que visa captar o sentimento do consumidor Mensal FGV
Expectativa do quanto ao estado da economia e de suas finanças
Consumidor pessoais. Essa pesquisa tem por objetivo capturar as
intenções do consumidor quanto às suas decisões de
consumo e poupança futuras, permitindo antecipar
tendências.
Indicadores de São basicamente dois: o Indicador Antecedente Mensal FGV
Ciclos Econômicos Composto da Economia (IACE), que visa antecipar o
comportamento da economia brasileira no curto prazo,
e o Indicador Coincidente Composto da Economia
(ICCE), que mede as condições econômicas atuais e a
intensidade da atividade econômica.
Indicadores Esses indicadores são calculados mensalmente pela Mensal CNI
Industriais Confederação Nacional da Indústria (CNI) e têm a
função de proporcionar um panorama da indústria em
diferentes dimensões: faturamento real, horas
trabalhadas na produção, emprego, massa salarial real e
utilização da capacidade instalada. É elaborado em
conjunto com 12 federações estaduais.
Indicador de O INA é calculado mensalmente pela Federação das Mensal FIESP
Atividade da Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e sintetiza as
Indústria (INA) informações conjunturais acompanhadas pela entidade,
Paulista visando antecipar as principais tendências da atividade
econômica da indústria paulista.
Volume e Esses indicadores são divulgados mensalmente pelo Mensal BCB
Concessões de Banco Central do Brasil (BCB) na nota para a imprensa
Crédito de Política Monetária e Operações de Crédito do
Sistema Financeiro Nacional (SFN). A análise desses
indicadores permite acompanhar a evolução do crédito
para a pessoa física (consumidores) e para a pessoa
jurídica (empresas).
Indicador Serasa Esse indicador registra mensalmente a quantidade Mensal Serasa
Experian de (fluxo) de registros de inadimplência da pessoa física Experian
Inadimplência do que sensibilizam a base de dados da Serasa Experian
Consumidor
Fontes: BCB, IBGE, FGV, CNI, Fiesp e Serasa Experian.

É importante destacar que, além dos indicadores apresentados, existem vários outros
indicadores econômicos brasileiros que permitem acompanhar de perto a atividade
econômica no País. Esses indicadores podem ser facilmente acessados a partir da
internet nos sites das diferentes instituições.

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