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Monografia
Etanol e cancro oral: qual a relação?
INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................3
METODOLOGIA..........................................................................................................................................6
METABOLISMO DO ETANOL..................................................................................................................7
CONCLUSÃO.............................................................................................................................................16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................................18
2
Introdução
Quando abordamos o etanol como potencial fator etiológico, o seu papel nas
bebidas alcoólicas pode ser considerado bastante semelhante ao da nicotina no tabaco.
Embora exista apenas uma evidência experimental de que o etanol puro seja
considerado cancerígeno, sabe-se que as bebidas alcoólicas são importantes na etiologia
do cancro oral. No entanto, existe uma dificuldade na avaliação da influência do álcool
na etiologia e patogénese do cancro oral, a qual decorre do facto de que a maioria das
pessoas que bebe muito também fuma. 2 Além disso, pode ser difícil obter informações
fidedignas dos pacientes relativamente ao consumo de álcool. Outra das dificuldades é a
medição precisa de ingestão de álcool (por exemplo, variação na quantidade, tipo e
concentração). Por norma, a abordagem da quantidade de álcool ingerido é feita a partir
de medidas de copos de vinho/cerveja, no entanto a tarefa de aferir resultados concretos
através de dados subjetivos fornecidos pelos próprios doentes continua a ser pouco
válida e conclusiva.5 É ainda importante referir que o tipo de bebida alcoólica foi
considerado significativo após a divulgação dos resultados de um estudo caso-controlo,
que mostrou que os consumidores de cerveja ou vinho apresentam um risco relativo
menor de desenvolver cancro da cabeça e do pescoço, em comparação com indivíduos
que ingerem uísque. 6
3
Visto isto, beber e fumar muito são considerados os fatores de risco mais
importantes no desenvolvimento do cancro da cabeça e pescoço. Evidências relativas à
conexão entre tabagismo e cancro de cabeça e pescoço foram amplamente
documentadas, pois atualmente existe forte evidência científica de que muitos dos
compostos do fumo do tabaco são perigosos para a saúde e alguns são indubitavelmente
cancerígenos. Por outro lado, os efeitos promotores de tumor, no consumo de álcool,
são menos bem definidos, existindo estudos experimentais que demonstram que o etanol
puro não é, por si só, mutagénico ou carcinogénico. 6,7 Além disso, o etanol não é o
único agente cancerígeno encontrado em bebidas alcoólicas, sendo possível encontrar
outros produtos com efeitos mutagénicos na mucosa oral. O etanol é metabolizado em
seres humanos por oxidação em acetaldeído e depois em acetato, que é eliminado na
respiração, na urina e no suor. Num primeiro passo, a oxidação do etanol em
acetaldeído é principalmente realizada pela ADH (enzima álcool desidrogenase,
encontrada principalmente no fígado, mas também na mucosa oral ou até mesmo na
microbiota oral), embora o CYP2E1 também tenha um papel no processo. Numa
segunda etapa, o acetaldeído é oxidado em acetato pela ALDH14. Existem várias
hipóteses sobre a ação cancerígena do álcool, pois por um lado, o álcool pode atuar
como cofator cancerígeno ao solubilizar outros agentes cancerígenos, como os
encontrados no tabaco, e por outro, o acetaldeído pode atuar diretamente como agente
cancerígeno com maiores implicações do que o próprio álcool. O acetaldeído é um
composto altamente reativo e tóxico. Enquanto o acetaldeído é produzido a partir de
etanol no epitélio pela desidrogenase do álcool nas mucosas, a microflora também
contribui para os níveis de acetaldeído por oxidação direta do etanol. Verificou-se que
essa produção de acetaldeído varia amplamente entre indivíduos, no entanto é facto que
os níveis de acetaldeído aumentaram significativamente perante o tabagismo. Portanto,
são necessários mais estudos que permitam fazer uma distinção entre os efeitos do fumo
e do álcool separadamente, mas também dos seus efeitos combinados. 4,8
4
observadas em pessoas que usaram colutório com 25% de álcool ou mais. Lesões
brancas associadas ao seu uso prolongado foram observadas na mucosa oral humana e
em animais de laboratório. Níveis de etanol abaixo de 10% geralmente não causam
importantes sensações de dor. 910
O cancro oral tem sido, portanto, causalmente associado à ingestão de etanol,
principalmente quando consumido acima dos limites superiores recomendados de duas
bebidas por dia (30 g de etanol / dia) nos homens e uma bebida por dia (15 g de etanol /
dia) nas mulheres.11 Atualmente, o mecanismo pelo qual o álcool participa em
atividades orais de carcinogénese não é claro, pois apesar da associação definitiva entre
consumo crónico de álcool e cancro oral, o papel exato do álcool na patogénese da
doença não é totalmente compreendido e o seguinte ponto deve ser considerado: nem
todo os doentes com cancro oral consomem álcool e nem todas as pessoas que bebem
bebidas alcoólicas desenvolvem cancro oral. 3,12
O principal objetivo deste trabalho é explanar a associação existente entre o
etanol e a alta incidência de cancro oral, descrevendo as atualizações relativas ao tema.
5
Metodologia
Procedeu-se a uma pesquisa na base de dados PubMed com recurso à seguinte chave:
26 artigos
Critério de
inclusão:
revisão
26 artigos
Leitura de
título e
resumo
18 artigos
Acesso ao
texto integral
12 artigos
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Metabolismo do Etanol
7
metabólica de certas substâncias carcinogénicas. Pode atuar como co-carcinogénio
através da solubilização de um verdadeiro agente carcinogénico ou como seu promotor
através da estimulação da proliferação celular.
Marichalar-Mendia et al. (2010) defende ainda que o metabolismo do etanol
pode incluir a ativação do CYP2E1. A reação catalisada por este aumenta a quantidade
de radicais livres conduzindo a uma peroxidação lipídica que pode alterar a estrutura da
membrana celular ativando substâncias xenobióticas como as nitrosaminas e os pró-
carcinogénicos.
Segundo este, a capacidade individual para metabolização do álcool em
acetaldeído e depois em acetato é principalmente determinada por genes responsáveis
pela ADH, ALDH e CYP2E1.
8
A*1 de ADH1C está presente em cerca de 50% da população, apresentam 2.5
vezes mais atividade enzimática na transformação do etanol em acetaldeído do que o
alelo *2.
Os que têm *1 apresentam metabolismo do etanol mais rápido no estômago e
fígado enquanto os *2 tem ritmo normal ou lento. Com *1 temos o metabolismo mais
acelerado levando a uma maior acumulação de acetaldeído nos tecidos que tem sido
associado a um maior risco de cancro da cabeça e pescoço. Verificou-se um risco 4
vezes maior de cancro. Apesar destes resultados, ainda não foi encontrada uma relação
entre a presença de diferentes polimorfismos de ADH e o risco de ter carcinomas da
cabeça e pescoço.
As ALDH são um grupo de enzimas NAD dependente que catalisam a oxidação
do acetaldeído, sendo a segunda enzima no processo de oxidação do álcool. A sua
atividade enzimática pode ser diferente tendo em conta as suas diversas isoformas. As
diferenças podem ser a nível das características físico-químicas, propriedades
enzimáticas, localização sub-celular e distribuição tecidular.
As regiões funcionais da proteína são sempre as mesmas nas diversas classes,
mudando apenas a estrutura. As classes 1 e 2 estão envolvidas na conversão do
acetaldeído em ácido acético.
A enzima ALDH1 localizada no cromossoma 9, está envolvida na síntese do
ácido retinóico que é critico para o normal desenvolvimento e homeostasia de diversos
tecidos e órgãos. Algumas variações podem explicar as diferenças na sensibilidade ao
álcool, no entanto estes mecanismos metabólicos ainda não estão bem estabelecidos.
A ALDH1A metaboliza o ácido retinóico que inibe o crescimento tumoral
através da indução da apoptose e da expressão do recetor para o fator de crescimento
epidermal. É sugerido que o ácido retinóico pode ter efeitos quimiopreventivos em
relação ao cancro oral ou pré-cancro.
A ALDH2 é uma enzima mitocondrial do cromossoma 12 com elevada afinidade
para o acetaldeído, importante no metabolismo humano. Os que tem a forma 2 têm uma
enzima inativa incapaz de oxidar o acetaldeído acumulando-o. É mais comum na
população asiática. A presença deste alelo associado ao consumo de álcool aumenta o
risco de desenvolvimento de cancro da cabeça e do pescoço.
O Citocromo p450 2E1 (CYP2E1) são as enzimas predominantes na fase 1 do
metabolismo oxidativo xenobiótico. Está no cromossoma 10. O polimorfismo implicado
na suscetibilidade ao cancro é o *6. (Marichalar-Mendia et al. 2010).
9
bebidas alcoólicas podem conter impurezas carcinogénicas, nomeadamente a N-
nitrosodietilamina.
10
A ingestão em crianças pode causar hipoglicémia, seguida de convulsões,
podendo mesmo ser letal. A literatura relata que o etanol afeta a normal glicogenólise e
gliconeogénese promovendo condições hipoglicémicas derivadas da ingestão destas
soluções pelas crianças. Ao contrário do que acontece nos adultos, as crises de
hipoglicémia nas crianças não estão associadas a pobres condições nutricionais antes da
ingestão destas soluções.
Em alcoólicos, estas soluções quando ingeridas em larga quantidade, podem
contribuir para uma acidose metabólica severa, falência multiorgânica ou mesmo à
morte. A sua utilização não é remendada em pessoas a recuperar da dependência do
álcool.
É recomendada a utilização destas soluções quando existe inadequado controlo
mecânico da placa bacteriana e na prevenção da doença periodontal. Pretende-se que
exista entrega de agentes antimicrobianos às mucosas impedindo a adesão supra e
infragengival das bactérias aos dentes (Lemos-Júnior and Villoria 2008).
Parece haver uma relação inversa entre uma dieta rica em vegetais e frutas
frescas e a prevalência de cancro oral, contrariamente a uma dieta rica em carnes e
gorduras saturadas que leva a um maior risco de cancro oral. Em pacientes alcoólicos o
que se verifica é um estado de má nutrição, que por sua vez aumenta o risco de cancro
devido a menores concentrações de minerais tais como o zinco, ferro, selénio.
11
FIGURA 2- MODELO DO CONSUMO DE ÁLCOOL E OUTCOMES DE SAÚDE GERAL. FONTE:
VARONI EM, LODI G, IRITI M. ETHANOL VERSUS PHYTOCHEMICALS IN WINE: ORAL CANCER RISK IN A LIGHT DRINKING PERSPECTIVE. INT J MOL SCI. 2015
A associação entre a maior falta de peças dentárias, higiene oral pobre e maior
incidência de cancro oral também foi demonstrada por outros autores.
12
(Mascres et al.) Observou atrofia epitelial em células expostas ao consumo de
álcool. Alterações na dimensão da camada basal e também vários graus de destruição
dos tecidos dependendo da concentração de etanol.
O consumo crónico por sua vez causou atrofia da mucosa em contacto direto
com o álcool, mas também alterações a nível sistémico em associação com fenómenos
de hiper-regeneração, devido à ação citotóxica do etanol, que poderá aumentar a
suscetibilidade da mesma aos agentes químicos carcinogénicos.
Outros estudos são necessários tendo em conta fatores como o tipo de exposição,
quantidade e anos de consumo de álcool, também como deficiências nutricionias e
hematológicas podem influenciar os resultados destes estudos. Testes micronucleares
poderão ser utilizados para a deteção do risco de cancro oral.
13
Efeito do Etanol na saliva e glândulas Salivares
Uma diminuição do fluxo salivar leva a uma menor capacidade de limpeza das
mucosas e consequente aumento da suscetibilidade das mesmas à carcinogénese, já que
foi descrito que a saliva inibe a ação de certos agentes mutagénicos.
14
Para Lemos-Júnior and Villoria (2008), o tabaco e o consumo de álcool são
causas primárias no desenvolvimento do cancro faríngeo, enquanto a irradiação solar é a
causa primária de cancro labial, apesar de existirem pequenos aspetos que também
contribuem como a nutrição, profissão e os polimorfismos genéticos.
É sugerido que o etanol altera a superfície das células da mucosa ou dos tecidos
da cavidade oral e que essa alteração pode aumentar a exposição ou facilitar a ação dos
agentes carcinogénicos no tabaco ou mesmo nas bebidas em si.
A associação entre a ingestão de álcool e o cancro oral foi analisado (Kato and
Nomura 1994) em relação aos sítios da cavidade oral em que é mais frequente:
pavimento oral, língua, palato mole, pilar das tonsilas anteriores.
O efeito dose-resposta do álcool consumido por dia foi notório, principalmente
no pilar das tonsilas anteriores que foi superior ao pavimento oral e língua. Os
resultados dos estudos sugerem que a laringe, envolvida diretamente na exposição ao
álcool, tem maior risco de desenvolvimento de cancro (Kato and Nomura 1994).
McCullough and Farah (2008) verificaram que a ingestão de álcool foi um fator
de risco independente do desenvolvimento de lesões, sem diferenças no tipo de bebida,
padrão de ingestão ou utilização do tabaco. Constataram ainda uma interação entre
ingestão de álcool e tabaco derivada dos efeitos aditivos estarem potenciados.
15
Conclusão
16
carcinogéneos e a proliferação celular conduzem a alterações genéticas que produzem
displasia, leucoplasia e carcinoma.
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Referências Bibliográficas
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