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APOSTILA DO CURSO DE COMISSÁRIO DE VOO

SOBREVIVÊNVIA
SELVA – MAR – GELO - DESERTO

Educar Escola de Aviação Civil


01/07/2015

Educar Escola de Aviação Civil – Rev. 01/JUL2015 Página 1


SOBREVIVÊNCIA

GENERALIDADES DE SOBREVIVÊNCIA

Visando garantir operações seguras e eficazes do transporte aéreo no mundo inteiro, a Organização da
Aviação Civil Internacional (OACI) estabelece normas e regulamentos para a Aviação Civil Internacional,
que são homologados pelas Agências Reguladoras de cada país signatário da Convenção de Chicago,
em suas respectivas jurisdições. Portanto, todo equipamento disponível a bordo ou procedimento de
segurança adotado na aviação segue normas emanadas das autoridades aeronáuticas que se baseiam
tanto em pesquisas como em relatórios de investigações de incidentes e acidentes aeronáuticos, visando
aperfeiçoar a segurança de voo e minimizar as possibilidades da repetição desses eventos.
A Agência Reguladora Brasileira, a ANAC, através do RBAC-121 (Regulamento Brasileiro de Aviação
Civil), ratifica as determinações da OACI na área da regulamentação de equipamentos de emergência e,
em seus capítulos 303 e 339, homologa os equipamentos necessários às aeronaves de bandeira
brasileira para o sobrevoo de grandes extensões de terra e de água, respectivamente.
Se o pouso forçado for realizado em terra, em área desabitada, o período de sobrevivência pode ser
vivenciado em uma região de selva, deserto ou gelo. No caso de aterrissagem decorrente de um voo
transoceânico, os sobreviventes vivenciarão uma jornada no mar.
Para permanecer nessas áreas até o resgate, os sobreviventes devem utilizar determinados
equipamentos de emergência e executar procedimentos adequados, alguns dos quais independem do
local em que o período de sobrevivência venha a se desenrolar. Neste capitulo, serão abordados os
equipamentos disponíveis a bordo de aeronaves de transporte de passageiros e os procedimentos
gerais aplicáveis a qualquer situação de sobrevivência.

Equipamentos Utilizados em Situações de Sobrevivência

Designação de Equipamentos
São os equipamentos que devem ser levados pelos tripulantes quando do abandono e do afastamento
da aeronave, após a evacuação de emergência procedida em áreas desabitadas. A responsabilidade
pela sua retirada de bordo é estabelecida no Checklist de Procedimentos de Emergência de cada
aeronave, via de regra, cabendo ao tripulante cujo jump seat (assento) estiver mais próximo de onde o
equipamento estiver armazenado.
Para a execução das ações imediatas e simultâneas após o abandono da aeronave e em qualquer
período de sobrevivência, são necessários:

 Megafone, para o reagrupamento dos sobreviventes.


 Rádio Farol de Emergência ou Radiotransmissor, TLE (Transmissor Localizador de Emergência) Portátil,
Modelo Rescu-99, sempre que disponível, para sinalizar ao Serviço de Busca e Salvamento, possibilitando
a determinação das coordenadas do local do pouso.
 Kit de Primeiros Socorros, para atender as vítimas do acidente.
 Conjunto de Sobrevivência (Survival Kit).
 Machadinha.
 Lanterna.

E, para a execução das ações subsequentes, empregam-se o conjunto de sobrevivência.

Sinalização de Socorro

Serviço de Busca e Salvamento – SAR (Search and Rescue)


Para reduzir a um mínimo o tempo de permanência em áreas desabitadas, uma das ações prioritárias do
sobrevivente de um pouso forçado deve ser a execução imediata da sinalização ao Serviço de Busca e
Salvamento, para fornecer às equipes de socorro as coordenadas do local onde se realizou o pouso,
acelerando o início das operações de resgate.

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Como a busca e o salvamento podem ultrapassar as fronteiras de qualquer país, foi criado um sistema
de cooperação internacional denominado “Programa COSPAS-SARSAT”, que utiliza dois segmentos, um
espacial e outro terrestre.

Esquema de funcionamento do SAR

O segmento espacial emprega satélites que rastreiam os sinais de socorro emitidos por transmissores
localizadores de emergência (TLE) que equipam aeronaves (um TLE fixo no cone de cauda e outro
portátil do tipo RESCU - 99), navios (EPIRB – Emergency Position Indicator Radio Beacon) ou pessoas
(PLB – Personal Locator Beacon), decodificando esses sinais e determinando as coordenadas do ponto
que os originou.
De posse das coordenadas fornecidas pelo segmento espacial, o segmento terrestre – MCC (Mission
Control Center – Centro de Controle de Missão) disponibiliza os recursos humanos e materiais para as
missões de busca e salvamento.
O Brasil foi homologado para ingresso no programa COSPAS-SARSAT em 1998, na condição de
Provedor Terrestre. O território brasileiro possui uma área de 22.000.000 de quilômetros quadrados,
motivo pelo qual o país tem nesse sistema um importante aliado para o sucesso de suas missões de
busca e salvamento. Há três estações terrenas (Brazilian Mission Control Center – BRMCC) que captam
os sinais dos satélites do Sistema COSPAS-SARSAT em nosso território, uma localizada em Manaus,
outra em Brasília e a terceira no Recife.
Portanto, quanto antes o sobrevivente acionar o Radiofarol de Emergência portátil e for iniciada a
transmissão dos sinais, mais rapidamente estes serão detectados pelo Serviço de Busca e Salvamento,
desencadeando as ações das missões de socorro.
As buscas são feitas somente durante o dia e são intensas até o sétimo dia após o acidente (depois do
sétimo dia as buscas diminuem), enquanto o salvamento é realizado a qualquer hora do dia.

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Formas de Sinalização

Modelos de Radiofarol de Emergência Portáteis


O Radiofarol é conhecido também como Transmissor Localizador de Emergência (TLE), derivado do
inglês Emergency Locator Transmiter (ELT). O nome Radiofarol de Emergência é a tradução de
Emergency Radio Beacon para o idioma português. São denominações possíveis de encontrar nas
diversas bibliografias existentes para identificar o mesmo equipamento.
Alguns modelos de Radiofarol de Emergência possuem bateria ativada por água ou qualquer líquido à
base de água.
Esse equipamento não se encontra armazenado nos conjuntos de sobrevivência. As quantidades desses
transmissores e suas localizações são específicas de cada aeronave. É de fácil acesso e deve sempre
ser checado pela tripulação.
Ao ser retirado da aeronave para ser usado em um período de sobrevivência em áreas desabitadas,
deve-ser ter o cuidado de preservar a integridade de sua embalagem plástica, para uso posterior. O
equipamento deve ser acionado imediatamente após o abandono e o afastamento da aeronave,
bastando mergulhá-lo em um curso d’água (rio, lago etc...). Na ausência de curso d’água, liberar
manualmente a antena para a posição de transmissão e recolocá-lo em sua embalagem plástica ou em
qualquer outro recipiente que contenha água ou líquido à base de água.
Quando mergulhado em um curso d’água deve ser fixado às margens;. Quando acionado no mar deve
ser fixado ao barco salva-vidas. Para isso ele possui uma corda de aproximadamente 18 metros.

Radiofarol portátil modelo Rescu 99 mostrando a antena ainda dobrada e a corda de amarração

Uma vez acionado, deve permanecer na posição vertical, pois dela dependem seu correto
funcionamento e utilização. O tempo para o início da transmissão dos sinais está diretamente atrelado ao
tipo de água na qual foi mergulhado. Em água salgada a transmissão tem início em 5 segundos, e em
água doce, em 5 minutos.

O equipamento não possui um dispositivo que possibilite ao sobrevivente a verificação visual de seu
funcionamento. Somente com receptores que captem as frequências dos sinais de socorro emitidos é
que será possível efetuar essa verificação.
Estando em condições, o rádio de bordo pode ser empregado tanto para a transmissão de um sinal de
socorro pela emissão da voz humana, um “MAYDAY”, quanto para verificar se o Rescu acionado está
transmitindo os sinais de SOS nas frequências internacionais de socorro.
O alcance horizontal do Rescu é de 250 milhas náuticas; o vertical é de 40.000 pés.
Uma vez localizados os sobreviventes e iniciado o resgate, pode-se interromper a transmissão do
Radiofarol, colocando-o na posição horizontal.
Alguns tipos de aeronaves possuem nos barcos salva-vidas ou nas escorregadeiras-barco um modelo de
Radiofarol que inicia a transmissão automaticamente assim que a embarcação tenha inflado.

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TLE portátil Locator

Independentemente de modelo ou localização na aeronave, os radiofaróis de emergência transmitem


sinais de SOS durante 48 horas após o seu acionamento, nas três frequências internacionais de socorro:
121.5 / 243.0 (frequências analógicas) e 406.0 MHz (frequência digital). Os alcances horizontal e vertical
também são os mesmos.

Tipos de Transmissores Localizadores de Emergência (TLE)

TLE Fixo do Cone de Cauda


De maneira geral, esse instrumento está embutido no teto da galley traseira. É de acionamento
automático, por impacto da aeronave com o solo. Uma força com intensidade de 5G (G: força inercial
resultante de uma desaceleração brusca) já é o suficiente para ativá-lo, podendo, também, ser acionado
da cabine de comando pelos pilotos. Transmite nas mesmas frequências do Radiofarol de emergência
portátil.

Horário Internacional de Silêncio

São períodos de silêncio nas comunicações, com duração de três minutos e repetidos a cada meia hora
para uma escuta preventiva de sinais de socorro que possam ser emitidos por pessoas, aeronaves ou
navios acidentados.
A escuta dos Serviços de Busca e Salvamento é permanente, porém, aeronaves em voo, navios
navegando, estações radioamadoras obedecem a esses períodos que são diferentes para o Oriente (do
0 aos 3 e dos 30 aos 33 minutos de cada hora) e para o Ocidente (dos 15 aos 18 e dos 45 aos 48
minutos de cada hora), de acordo com a tabela.

Sinalizadores dos Conjuntos de Sobrevivência

Esses sinalizadores somente devem ser acionados ao se visualizar a aproximação de aeronave, navio
ou ao se escutar o ruído de seus motores.
Compõem-se de artifícios pirotécnicos, lanternas, apito, espelho e corante marcador de água (sea dye
marker).

Artifícios Pirotécnicos ou Fumígenos

Há diversos modelos e são empregados para a sinalização diurna e noturna. O agente sinalizador do
lado diurno é a fumaça de cor laranja, enquanto o agente sinalizador do lado noturno é o fogo de
magnésio. Os padrões de cores são convencionados internacionalmente.

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Artifício Pirotécnico
Os foguetes, como também são conhecidos, têm o formato de bastão e medem aproximadamente 20
centímetros; nas suas extremidades há indicações convencionadas em relevo para o reconhecimento
tanto do lado diurno como do noturno, facilmente identificáveis até mesmo no escuro.
Para o acionamento, é necessário segurar o foguete em um ângulo de 45° com o horizonte, a favor do
vento e em um local aberto, de fácil visualização pelas equipes de socorro .

Acionamento do artifício – modo diurno

Acionamento do artifício – modo noturno

Se ao acionar o lado diurno o foguete irromper em chamas, deve-se mergulhá-lo na água ou pressioná-
lo contra a areia, até sair fumaça.
Estando no interior do barco salva-vidas, cuidar para que os respingos do fogo de magnésio do agente
sinalizador do lado noturno não caiam sobre as bordas ou no assoalho do barco.

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Lanterna
As disponíveis nos kits de sobrevivência podem ser de acionamento por baterias a seco ativadas (pilhas)
e por baterias ativadas com água. A utilização da lanterna se faz de acordo com a necessidade do grupo
de sobreviventes.
Apito Sinalizador
Deve ser empregado para chamar a atenção das equipes de busca e salvamento, tanto de dia quanto à
noite, mesmo sob denso nevoeiro. Entre os sobreviventes pode ser utilizado para organizar o grupo
chamando a atenção destes para o coordenador do período de sobrevivência.
Espelho Sinalizador
Há diversos tipos e modelos. A sinalização é a captação e projeção do reflexo dos raios solares em
direção às aeronaves ou navios de resgate. Geralmente, as instruções sobre a utilização se encontram
na superfície não espelhada. A técnica de sinalização consiste, basicamente, em:
 segurar o espelho a poucos centímetros da face e focalizar o alvo através do visor central;
 posicionar o espelho entre a outra mão, em linha com a direção do alvo (aeronave ou navio), até
o aparecimento do reflexo do Sol sobre a mão;
 no orifício central do espelho, visualizar a projeção da imagem do disco solar;
 retirar a mão do alinhamento; projetar a imagem do disco solar visualizado na direção do alvo.

Mesmo que a aeronave ou o navio esteja ainda distante, deve-se projetar a luz solar para o horizonte
porque os reflexos podem ser avistados de longas distâncias.
Corante Marcador de Água
É um pó corante que altera o pH da água. A mancha obtida é contrastante com a cor da água (clara ou
escura) e pode ser visualizada pelas aeronaves de busca e salvamento.
Tanto a duração quanto o tamanho da mancha dependem do tipo de água onde o corante for acionado e
da existência de correnteza. Normalmente, a mancha tem a duração de até 40 minutos e pode ser
avistada de uma distância de 1 MN (uma milha náutica é equivalente a 1852 metros). É um sinalizador
para utilização exclusiva sob a luz do dia e o seu acionamento somente deve ser iniciado ao se visualizar
a aproximação de alguma embarcação ou aeronave ou se ouvir o ruído de motores.

Corante marcador de água.

Conteúdo dos Conjuntos de Sobrevivência na Selva e no Mar

A Agência Reguladora Brasileira, a ANAC, homologou um conteúdo mínimo de equipamento para


sobrevivência na selva e no mar; o acréscimo de qualquer outro item fica a critério da empresa aérea:
 purificador de água;

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 caixa de fósforos, isqueiro ou qualquer outro similar para fazer fogo;
 frasco com repelente de insetos;
 manual de sobrevivência na selva com instruções detalhadas;
 equipamento de sinalização: foguetes pirotécnicos, apito, espelho e corante marcador de água;
 medicamentos (além dos existentes nos kits de primeiros socorros): analgésicos, bandagens,
esparadrapo, anti-séptico,comprimido contra enjoo, amônia, pomada contra queimaduras na
área dos olhos e contra queimaduras nos lábios, pomada para picada de insetos;
 ração sólida: pacotes de açúcar e sal; caramelos e chicletes;
 ração líquida: água doce em pacotes, para uso medicinal;
 faca com bússola removível, agulha, alfinete tipo fralda, anéis de aço e recursos para a pesca;
 conjunto canivete/abridor de garrafa;
 lanterna.

Sinalização com Recursos Locais


Os sobreviventes de um pouso forçado em terra, em áreas desabitadas, podem fazer uso de recursos
existentes no local para obter um meio alternativo de sinalizar às equipes de socorro, lembrando-se de
que, para uma perfeita visualização, os sinais cuja mensagem pretenda transmitir devem contrastar com
a cor do meio ambiente e ser de tamanho adequado. Fumaça Negra das Fogueiras
É empregada para a sinalização diurna. Não há um código específico de
mensagem. Para sua obtenção, basta adicionar à fogueira borracha,
óleo dos motores ou qualquer material sintético disponível na aeronave.

Fumaça Branca das Fogueiras


É empregada para a sinalização noturna. Adicionando-se à fogueira gotículas de água, folhas verdes ou
musgos, pode-se obter fumaça branca. A fumaça produzida pela queima chamará a atenção das
aeronaves e embarcações de busca e salvamento.

Quadro de Sinais Visuais Terra-Ar


Qualquer alteração no meio ambiente é facilmente percebida pelas equipes de socorro. É claro que essa
percepção depende da extensão da alteração executada. Pode-se lançar mão de recursos disponíveis
no local do pouso, de forma a transmitir mensagens às equipes de socorro. Para isso, deve-se empregar
os Sinais Terra-Ar, que são montados com material contrastante com a cor do ambiente e de dimensões
tais que possam ser visualizadas pelas aeronaves – SAR. A OACI estabeleceu cinco códigos para os
sobreviventes sinalizarem às equipes de socorro.
O comprimento mínimo recomendado é de 2,5 metros. Os códigos e as mensagens transmitidas estão
de acordo com a tabela a seguir:

Nº MENSAGEM SÍMBOLO DO CÓDIGO


1 NECESSITAMOS ASSISTÊNCIA V
2 NECESSITAMOS ASSISTÊNCIA MÉDICA X
3 NÃO OU NEGATIVO N
4 SIM OU AFIRMATIVO Y
5 AVANÇANDO NESTA DIREÇÃO 

Para a construção do quadro de sinais, o sobrevivente pode empregar os seguintes recursos:

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Troncos de árvores

Sulcos no solo

Partes da aeronave
Sinalização com o Próprio Corpo

O MMA-64 (Manual do Ministério da Aeronáutica) estabeleceu diversos códigos de sinalização com o


próprio corpo para aplicação no contexto da Aviação Militar, porém, cinco desses sinais podem ser
também empregados por tripulantes da Aviação Civil, conforme as figuras abaixo:

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Sim ou afirmativo Não ou negativo Necessitamos de assistência médica
com urgência.

Estas outras duas mensagens são indicações importantes que o sobrevivente pode dar às equipes de
socorro, na medida em que são adequadas para a orientação do pouso do helicóptero de salvamento:

Aterrisse aqui Não aterrisse aqui

Sinalização da Aeronave – SAR para os Sobreviventes

Após o sobrevoo das sinalizações prescritas no Quadro de Sinais Terra-Ar, o piloto deve dar um retorno
aos sobreviventes quanto ao fato de ter recebido e entendido ou não a mensagem montada no quadro,
sinalizando com manobras da aeronave.
Mensagem Recebida e Entendida
De dia: balançando lateralmente a asa.

À noite: sinalizando com uma luz verde.


Mensagem Recebida e Não Entendida
De dia: fazendo uma curva de 360°, à direita.

À noite: acendendo uma luz vermelha.

Pouso do Helicóptero de Salvamento


A atuação dos sobreviventes na orientação da tripulação do helicóptero para a realização de um pouso
seguro é fundamental para o sucesso do resgate:
 Primeiro, é necessário demarcar o local do pouso com um triângulo bem visível, com lados
medindo 2,5 m, de preferência em um local plano e que ofereça condições de segurança para
suportar o peso da aeronave.
 A direção do vento é outro dado importante para os pilotos do helicóptero. O acionamento do
lado diurno de um foguete pirotécnico fornece a fumaça que lhes indicará de que lado o vento
está soprando.
 A direção da manobra é indicada pelo sobrevivente empregando a sinalização com o próprio
corpo:

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Se a tripulação do helicóptero tiver jogado o cabo de içamento, o sobrevivente deve deixar que o cabo
toque primeiro o solo, para descarregar a eletricidade estática. Evitar, inclusive, tocar no tripulante que
esteja descendo em rapel pelo cabo.
Algumas regras de aproximação do helicóptero de salvamento devem ser obedecidas pelo sobrevivente:
 aproximar-se com o corpo inclinado para a frente, pelas portas laterais e somente no campo de
visão do piloto e do co-piloto;
 evitar a aproximação nas proximidades do rotor de cauda.

A priorização do embarque de feridos deve seguir a regra do maior ou menor risco de vida.

Fatores Adversos ao Sobrevivente


Basicamente, há três tipos de fatores que exercem pressão sobre o indivíduo com maior intensidade em
situações críticas como as dificuldades enfrentadas, principalmente, em ambientes desconhecidos,
hostis e que podem desencadear uma enorme carga de estresse mental e físico: fatores subjetivos,
fatores objetivos e as adversidades do meio ambiente.
Fatores Subjetivos
Começam a se estabelecer na mente do indivíduo no momento em que é comunicada pelo comandante
da aeronave a necessidade da realização do pouso forçado em área desabitada. A primeira reação é de
susto pela notícia inesperada, a segunda é de ansiedade, medo; a seguir, o pânico pode se instalar.
Esses fatores podem persistir e se potencializar no período de sobrevivência, caso não sejam tomadas
medidas eficazes para a superação das adversidades.
Ansiedade, Medo e Pânico
É o conjunto de fatores subjetivos comuns a todos os indivíduos submetidos a situações de risco e
desconhecimento do que lhes poderá acontecer. O controle desses fatores por parte da tripulação deve
ser imediato e é conseguido através de uma liderança eficaz.
O treinamento confere aos tripulantes os fundamentos sobre como proceder em situações de
emergência, elevando o grau de autoconfiança e segurança para a enunciação de comandos para o
abandono, afastamento da aeronave e distribuição de tarefas no período de sobrevivência, fazendo com
que todos se ocupem mentalmente e se sintam úteis nas suas relações com os demais.
Solidão e Tédio
A solidão e a rotina experimentadas em qualquer lugar desconhecido fazem com que o tédio venha a se
instalar. O estreitamento do relacionamento sócio-afetivo entre os sobreviventes é fundamental para
combater os estados de solidão e tédio que possam recair sobre alguém.
Para o combate a esses estados negativos de comportamento, tarefas solidárias e não estressantes são
recomendadas, tais como a pesca, os cuidados com a higiene e com os feridos, a confecção de um
diário.
Com relação ao tédio, especificamente, o estímulo à realização de atividades como a oração em
conjunto, o canto e a narração de fatos históricos positivos da vida de cada sobrevivente é bastante
eficaz. No entanto, ao falar ou cantar, a sensação de sede pode ser potencializada, motivo pelo qual
essas atividades devem ser administradas adequadamente com relação ao suprimento de água
disponível.
Fatores Objetivos
Gerados por aspectos externos ao indivíduo, por questões circunstanciais de ordem física, tangíveis,
concretas, enfrentadas por ele no pós-impacto, no abandono e afastamento da aeronave e no vivenciar
de situações adversas proporcionadas por um ambiente hostil. As dores causadas pelos ferimentos ou
queimaduras que possam ocorrer; o frio, a hipotermia e o congelamento advindos de um pouso em
regiões polares; o calor que se pode sentir em decorrência do pouso realizado em lugares de clima
quente.
Há uma enorme possibilidade da ocorrência de cansaço, sede e fome ao se submeter a tantas pressões.
A desidratação e a diarréia podem se instalar no indivíduo em qualquer situação de sobrevivência,
mesmo quando em climas frios. Evitá-las é um fator importante para a priorização do curso das ações a
serem executadas em um período de sobrevivência em áreas desabitadas.

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Outro aspecto objetivo e de extrema importância a ser citado é a forma do indivíduo lidar com a morte.
Cada ser humano, cada cultura, cada religião tem uma maneira diferente e própria de encarar o fim da
vida. Em situações adversas, encontradas em qualquer sobrevivência, a perda de vidas é uma
possibilidade sempre presente. Respeitando o que há de pessoal, cultural e religioso, esse fato não pode
passar em branco; o falecimento de uma pessoa abate a moral do grupo, pode atrair animais e também
doenças, e isso pode ser decisivo para o período de sobrevivência.
O procedimento a ser adotado será cavar uma cova rasa e, após colocar o corpo na mesma, cobri-lo
com areia, efetuando um registro do momento do óbito, pessoa falecida e qualquer outra informação
necessária e relevante. Esse procedimento é válido para a sobrevivência na selva, no deserto e no gelo.
Na sobrevivência no mar, deve-se jogar o corpo na água, preferencialmente à noite, tendo o cuidado
com o possível aparecimento de tubarões e outros animais na área da sobrevivência.
As Adversidades do Meio Ambiente
O cenário de cada situação é bastante específico e variável, porém, de maneira geral, essas
adversidades estão relacionadas com os seguintes fatores que podem dificultar as ações dos
sobreviventes:
 insetos transmissores de moléstias;
 escassez de água, fauna e flora;
 clima excessivamente frio ou quente;
 tempestades de chuva, neve ou areia, enchentes e alagamentos;
 topografia muito acidentada;
 animais perigosos.
Esses fatores estão contemplados na abordagem de cada situação de sobrevivência em áreas
desabitadas, em particular na selva, no deserto, no gelo e no mar.
Ações Requeridas para a Superação das Adversidades
Sobreviver em áreas desabitadas, à primeira vista, parece ser um problema de difícil solução,
principalmente em se tratando de pessoas de hábitos urbanos, mais sujeitas às adversidades
proporcionadas por um meio ambiente desconhecido e hostil. Não obstante à falta de experiência, os
fatores preponderantes para o indivíduo sobreviver nessas condições adversas são:
 inteligência;
 calma;
 sobriedade;
 resistência.
Vontade de sobreviver, treinamento e liderança eficaz são essenciais. Mantendo-se a esperança no
resgate e a calma, deve-se canalizar todos os esforços no sentido da busca de soluções para os
problemas que se manifestarem.
Cuidados com a Saúde e o Vestuário

A cobertura da cabeça, a proteção dos olhos, um vestuário limpo e completo são essenciais para a
proteção do sobrevivente contra a ação dos raios solares. A proteção das extremidades do corpo
minimiza os efeitos de picadas de insetos ou de arranhões. A proteção do vestuário é eficaz contra o frio
e o calor. A perda excessiva de calor pelo corpo resulta na redução da temperatura da pele dando a
sensação de frio. Se a temperatura do corpo decrescer de 36° para 30°, o sobrevivente pode ter sua
capacidade física e mental deteriorada, entrando em estado de choque; e se a temperatura não parar de
decrescer, a pessoa morre. O vestuário completo pode manter o calor do corpo por um período mais
prolongado.

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Andar descalço deixa a pessoa vulnerável às condições do terreno, com possibilidades de ferimentos
nos pés ou contágio por micróbios, bactérias ou picadas de animais peçonhentos. Sandálias podem ser
improvisadas usando-se como sola um pedaço de pneu da aeronave ou, até mesmo, um pedaço de
casca de árvore. Com o toldo da escorregadeira ou revestimentos de interiores da aeronave pode-se
improvisar a parte superior e as tiras da sandália.

Os cuidados acima descritos, além de preservar a saúde, também nos trazem segurança contra
possíveis danos causados por animais irracionais tais como mordidas, picadas, ferroadas, queimaduras,
penetrações, irritações, sucções e invasões.
Ainda em relação às precauções com a saúde, cabe uma observação importante destinada aos animais
de sangue quente, como piranha, sanguessuga, arraia e candiru, poraquê, carrapato, escorpião, aranha
e cobra: manter-se vestido e protegido para caminhar e nadar, evitando a exposição de qualquer parte
do corpo, é uma medida simples e eficaz para evitar transtornos e acidentes provocados por tais
animais.
Evitar a perda de líquido pelo organismo é um cuidado essencial. A transpiração, a desidratação e a
diarréia podem provocar uma perda líquida excessiva; nesse caso, o vestuário protege todas as
extremidades do corpo, é um ótimo escudo contra essa perda.

Ações Requeridas Após o Abandono e o Afastamento da Aeronave

Há dois tipos de ações a serem empregadas em situações de sobrevivência em áreas desabitadas: as


que exigem uma execução imediata e as que podem ser pensadas e executadas com mais calma e
tranquilidade. Os sobreviventes devem priorizar adequadamente o curso das ações e executá-las de
forma coordenada e segura.

Ações Imediatas e Simultâneas


Em um primeiro plano estão as ações prioritárias, em que as atenções se concentram nos riscos
envolvidos com as possibilidades de fogo e explosão da aeronave, riscos de perda de vidas humanas e
a urgência na obtenção de socorro por parte das equipes de busca e salvamento. Essas ações exigem
dos tripulantes procedimentos embasados em conhecimento, rapidez e coordenação:
 Afastar-se da aeronave (devido ao risco de explosão da aeronave), reagrupando os
sobreviventes. Após a evacuação da aeronave, o grupo deve-se manter unido e próximo ao local
do acidente;
 Acionar imediatamente o Radiofarol de emergência disponível: as equipes de socorro
necessitam das coordenadas do local do pouso para realizar o resgate. Acionar o Radiofarol é
uma ação imediata que deve ser executada.
 Prestar os primeiros socorros às vítimas do acidente: a preservação de vidas humanas é
urgente e essencial. É importante ter conhecimentos básicos de primeiros socorros. Salvar o
maior número de vidas possível é uma prática inerente aos seres humanos e ajuda
psicologicamente a estabilizar o grupo.
 Reunir os demais recursos de sinalização e deixá-los prontos para serem utilizados.

Ações Subsequentes
O curso dessas ações está voltado para o planejamento, a coordenação, o vivenciar de um período de
sobrevivência e que se traduzem nas respostas a questões básicas relacionadas com: o local do
acidente, localização e resgate dos sobreviventes e necessidades básicas do indivíduo em situação de
sobrevivência.
Em um acidente aéreo o tripulante é o coordenador do período de sobrevivência. A função do
coordenador é distribuir tarefas designando quem deve se responsabilizar pela proteção dos
sinalizadores dos kitsde sobrevivência e executar as sinalizações que facilitam o trabalho das equipes de
socorro. Os turnos de vigia, de 2 horas, devem ser estabelecidos e é imprescindível designar os
responsáveis. Esse rodízio é importante para a segurança do grupo, dos equipamentos, dos recursos
criados, da preservação das condições físicas dos sobreviventes evitando a fadiga, além de mantê-los
em atividade. A elaboração de um diário deve ser iniciada.

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O tempo de permanência no local do acidente deverá ser de acordo com o tempo de duração das
buscas. O local do acidente deverá ser abandonado somente após o 8º dia, se houver certeza da posição
geográfica ou se o local para onde ocorrer o deslocamento for habitado. De modo geral, os primeiros
cuidados a serem tomados pelo sobrevivente são manter a calma, não se apressar e preservar o sono,
para a reposição de energia.
Em uma sobrevivência, as necessidades básicas do indivíduo são repouso, proteção, calor, água e
alimento.
Em um período de sobrevivência em áreas desabitadas, afeto e solidariedade são fundamentais. O local
destinado para o repouso deve ser construído pelo próprio sobrevivente com o auxílio dos demais. Os
suprimentos de água e alimento podem até ter sido levados preventivamente de bordo ou obtidos no
próprio local. O certo é que pode haver escassez ou alguma dificuldade em sua obtenção, gerando uma
necessidade de redução no seu fornecimento aos sobreviventes. A fadiga excessiva e a mudança das
fontes de água e alimento são apontadas como causadoras da diarréia, um fator tão adverso. Por essa
razão, o repouso imediato é essencial e os suprimentos de água e alimento somente devem ser
fornecidos 24 horas após o pouso, para que o organismo dos sobreviventes se adapte às novas
condições ambientais e ao novo ciclo.
A obtenção do fogo também deve ser considerada uma das prioridades para o suprimento das
necessidades básicas do sobrevivente, pois, na medida em que serve para purificar a água, é utilizado
para cozinhar o alimento. A priorização das ações subseqüuentes de um período de sobrevivência em
áreas desabitadas está de acordo com a regra balizadora AFA + A:
Abrigo
Fogo
Água
+
Alimento
Abrigo
É o local destinado para o repouso dos sobreviventes de um pouso forçado em terra, em áreas
desabitadas, e lhes serve de proteção contra as adversidades do meio ambiente.
Os tipos de abrigo dependerão da situação de sobrevivência. A sua construção será abordada
separadamente. Falaremos a seguir sobre procedimentos gerais em relação aos abrigos.
A moral dos sobreviventes se eleva na medida em que eles se dedicam às tarefas de modificar a área no
entorno do local do acidente, tornando-a limpa e adequada para a construção do abrigo. É correto
afirmar que nessa etapa se despende um maior consumo de energia, porém, os sobreviventes estão,
ainda, em condições físicas ideais para realizar essas tarefas. Deixar o local do acampamento sempre
limpo e arrumado, além de elevar a moral do grupo, ajuda a afastar animais predadores e manter os
sobreviventes ocupados.
A primeira regra a ser seguida é não se apressar e manter a calma, pois o resgate virá logo, devido
aos recursos tecnológicos hoje disponíveis; a segunda é preservar o sono, pois ele é de vital
importância para a reposição da energia necessária para o desempenho das tarefas em um período de
sobrevivência.
Antes de pensar na construção do abrigo, deve-se avaliar a possibilidade da utilização da própria
aeronave. Para o retorno ao seu interior com a finalidade de verificar as condições de uso, os
sobreviventes devem:
 aguardar o resfriamento dos motores;
 esperar a evaporação do combustível derramado para se resguardar das possibilidades de fogo
e explosão.
As aberturas devem ser cobertas para a proteção contra os insetos e o frio.
De acordo com as condições climáticas, pode-se estabelecer o uso da aeronave como abrigo em cada
situação de sobrevivência.

Critérios para a Escolha do Local para a Construção do Abrigo:


 Local alto, seco, próximo a uma fonte de água, se possível.

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 Evitar construir qualquer tipo de abrigo debaixo de grandes árvores, que tenham grandes frutos
ou galhos secos que podem cair sobre o abrigo.
 NÃO construir às margens de um rio ou curso de água, devido à possibilidade de alagamento.
 NÃO construir em terrenos onde exista charco ou pântano.
Um procedimento importante é cavar valetas de drenagem ao redor do abrigo, permitindo um rápido e
eficaz escoamento da água, em caso de chuva. O interior do abrigo deve ser revestido de material que
proteja o sobrevivente do contato direto com a umidade do solo, o que pode acarretar doenças.

Infra-Estrutura do Acampamento
Para manutenção da higiene e limpeza, é necessária a construção de dois tipos de fossas, uma de
detritos e outra de dejetos
 Fossa de detritos: lixo, restos de alimentos, curativos podem atrair insetos e animais. Manter a
fossa coberta com terra;
 Fossa de dejetos: evita a atração de insetos e de outros animais.Serve para proporcionar
conforto e privacidade aos sobreviventes.Cobrir sempre os dejetos com uma camada de areia.

Os percursos que levam ao curso d´água e às fossas de detritos e dejetos devem ser demarcados no
terreno, para facilitar orientação dos sobreviventes. Deve-se ter todo o cuidado com relação às
possibilidades de contaminação da fonte de água pela infiltração do conteúdo dessas fossas em
períodos de chuva.
Para a proteção do entorno do acampamento, devem ser providenciadas pequenas fogueiras,
distanciadas 50 m umas das outras.
Como material de construção do abrigo pode-se combinar a utilização de partes da aeronave,
escorregadeiras, assentos, mantas, cortinas com recursos naturais disponíveis no local. Os diversos
tipos de abrigo estão detalhados nos capítulos referentes a cada situação de sobrevivência em terra:
selva, deserto e gelo.

Fogo
A obtenção do fogo é necessária pelo seu emprego em:
 sinalização;
 purificação da água;
 cozimento dos alimentos;
 relacionamento sócio-afetivo;
 elemento de segurança do acampamento.
A preparação da área e a manutenção do fogo são itens específicos de cada situação de sobrevivência e
serão abordados separadamente.

Água
A água doce é um fator essencial para a fisiologia humana e cuja quantidade disponível serve de
balizamento para a ingestão ou não de alimento. Sabe-se que é possível viver dias ou até semanas sem
alimento, porém, sem água, vive-se muito pouco.
Em qualquer período de sobrevivência, a maior preocupação dos sobreviventes é com a perda de líquido
pelo organismo através de transpiração, diarréia e desidratação. Em situação normal, o organismo
necessita de 1,5 a 2,5 litros de água por dia. Em uma sobrevivência na selva, no gelo ou no mar, o ideal
é que se beba, no mínimo, 1/2 litro de água por dia. No deserto, essa necessidade mínima é duas a três
vezes maior, ou seja, 1 litro a 1 litro e meio.
A ingestão de outros líquidos como água salgada, urina, bebidas alcoólicas, querosene é totalmente
desaconselhável e considerada absolutamente imprópria em períodos de sobrevivência, pois, além de
causar danos letais ao organismo, acarreta pânico e descontrole da situação.
Os fatores que a água determina, com relação à ingestão de alimentos, são:
 havendo pouca água, deve-se beber toda a reserva disponível, ingerindo-se apenas alimentos
de origem vegetal e evitando-se as proteínas em excesso;

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 na ausência de água não se deve comer, pois a ingestão de alimentos ricos em proteínas,
principalmente, potencializa a desidratação.
O número de fatalidades por ingestão de água salgada, em situações de sobrevivência no mar, é sete a
oito vezes maior do que as registradas entre aqueles que não a ingeriram; portanto, deve-se beber
somente água potável e jamais água do mar. A principal razão consiste no fato de que o corpo humano,
para metabolizar e eliminar o sal contido na água do mar, necessita de mais água.
O consumo de água, dentro das possibilidades, deve seguir o seguinte critério:
 Bom suprimento: 700 ml.
 Suprimento limitado: 525 ml.
 Suprimento racionado: 250 ml.
A água deve ser ingerida em quatro porções diárias!

Fontes de Captação de Água


As fontes variam de acordo com o cenário de cada situação de sobrevivência e os principais objetivos
em apontá-las é dar um referencial às tripulações que sobrevoam grandes extensões de terra desabitada
e grandes extensões de água sobre as maiores possibilidades de onde encontrar água e determinar as
necessidades de purificação.
As maiores chances de se obter água em um período de sobrevivência consistem nas ações pró-ativas
dos tripulantes em preparar os suprimentos restantes, antes do pouso forçado em áreas desabitadas,
coletando as garrafas de água e colocando-as em sacos plásticos para serem levadas no abandono e
afastamento da aeronave.
A seguir, vêm as fontes disponibilizadas pela natureza, como a água da chuva, a água existente em
cursos d’água como rios, lagos, igarapés, água do degelo nas regiões polares.
A natureza ainda disponibiliza água pura e cristalina sintetizada no interior de determinados vegetais que
serão analisados caso a caso quando da descrição de cada situação de sobrevivência.

Destilador Solar
Em uma sobrevivência em terra, selva e deserto, onde haja incidência de sol, poderá se obter água
através da construção de um destilador solar.
Consiste em aproveitar as variações de temperatura quando faz 60°C durante o dia e a temperatura cai
para o entorno de zero grau à noite. O Destilador Solar pode ser montado em poucos minutos e
possibilita a obtenção de uma quantidade média de um 1,5 litro de água por dia.
Para montá-lo, deve-se:
 cavar um buraco de, aproximadamente, 1 m 2 de largura e 50 cm de profundidade;
 colocar um recipiente qualquer no fundo do buraco;
 colocar no interior do recipiente a mangueira de uma máscara oronasal;
 cobrir a cavidade com um pedaço de plástico fino de 2 m 2, aproximadamente, de modo que as
gotas d’água, resultantes da condensação, venham a pingar no interior do recipiente.

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Destilador solar.

Métodos de Captação de Água Doce


Purificar a água é diferente de filtrar. Considera-se purificar a água a ação de eliminar os germes e
bactérias microscópicas nela contidos, enquanto filtrar consiste em eliminar as impurezas sólidas
suspensas na água coletada, como barro ou folhas. A filtragem não dispensa a necessidade de
purificação da água.
A necessidade de purificação depende da fonte onde a água foi coletada. Água da chuva, quando
coletada diretamente, e água de origem vegetal não necessitam ser purificadas, ao contrário da água
colhida de fontes que tenham contato com o meio ambiente e que pode ter sido contaminada por larvas
de insetos e deve ser purificada antes de ingerida.
Num treinamento ou em uma situação de sobrevivência, pode-se utilizar qualquer um dos dois métodos
de purificação da água doce abaixo listados:
 Emprego do purificador de água do conjunto de sobrevivência na selva da aeronave.
Geralmente, os mais utilizados são o Hidrosteril em gotas ou o Clorin em comprimidos, que são
germicidas e bactericidas. A dosagem deve ser de acordo com as instruções contidas na bula.
Um outro purificador constante no conjunto de sobrevivência é o Iodo. Este possui uma regra
específica de utilização, para cada um litro de água deve-se aplicar oito gotas de iodo e aguardar
30 minutos para consumi-la.
 Ferver a água durante pelo menos um minuto.

Para pessoas de hábitos urbanos, o tipo de alimento que proporciona a maior quantidade de proteínas é
o de origem animal. A preferência dos sobreviventes deve recair, então, sobre um cardápio misto:
 carboidrato vegetal: obtido de açúcar, farináceos, frutos e cereais;
 proteína animal: ao consumir carne magra e ovos.
Qualquer tipo de gordura alimentar, não importa se de origem animal ou vegetal, além de exigir grande
consumo de água, não é essencial à nutrição do sobrevivente e o seu consumo deve ser evitado.

Regras Gerais para o Consumo de Alimentos

Em um período de sobrevivência em áreas desabitadas, o suprimento de água é o principal fator


determinante do consumo de alimentos de origem animal ou vegetal:
 Não havendo água, NÃO se deve comer.
 Se a provisão de água for diminuta, procurar alimentar-se, principalmente, de vegetais.
 Não se deve ingerir gorduras de espécie alguma, pois elas aumentam a necessidade de
ingestão de água, podendo, inclusive, causar distúrbios à digestão.

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Alimento de Origem Vegetal

Segundo as diversas bibliografias consultadas, existem no mínimo umas 300.000 espécies de plantas
silvestres no mundo. Grande número delas pode ser ingerido, embora algumas sejam mais agradáveis
ao paladar do que outras. Se forem conhecidas pelos sobreviventes, podem ser consumidas sem receio.
Se forem desconhecidas, devem ser testadas de duas maneiras antes de consumi-las:
 pela observação visual;
 pelo paladar.
NÃO se deve ingerir qualquer alimento de origem vegetal desconhecido sem previamente colocar uma
porção na boca, SEM MASTIGAR, por cinco minutos:
 se não for amargo e o paladar não estranhar o sabor da pequena porção, pode-se ingerir o
alimento; e
 se houver dúvida, deve-se cozinhar o alimento.
Quando o alimento vegetal for totalmente desconhecido, empregar a regra CAL, isto é, o alimento que
for recoberto por fiapos (CABELUDO), apresentar gosto AMARGO ou sumo LEITOSO não deve ser
consumido.
Outra regra segura é a da observação dos costumes de animais silvestres. De maneira geral, não há
perigo em ingerir vegetais consumidos por pássaros e mamíferos, principalmente macacos.
A melhor opção para o sobrevivente é optar por uma sopa de vegetais porque é menos perigosa e
indigesta.
Os vegetais que contêm amido, como algumas raízes e inhame, devem ser cozidos, pois se forem
consumidos crus são indigestos.
Na preparação de alguns brotos de vegetais, principalmente os de samambaias e os do bambu, é
preciso ter um cuidado especial. Ao prepará-los, retirar os fiapos, esfregando-os na água. Ferver os
brotos por dez minutos. Trocar a água e voltar a ferver por mais trinta ou quarenta minutos. Esse
cozimento em duas águas tira-lhes o gosto amargo.

Alimento de Origem Animal

Possui um alto valor energético, superior ao de origem vegetal. Costuma-se dizer que, em questão de
sobrevivência, tudo que anda, rasteja, nada ou voa pode ser considerado alimento. Em condições de
extrema necessidade, a fome prevalece sobre a repugnância.
As formas de obtenção do alimento de origem animal podem ser através da caça e da pesca.
Ao caçar é necessário ter cautela, porque os animais não se deixam capturar facilmente. As trilhas de
animais devem ser pesquisadas, pois conduzem o sobrevivente a sua toca, a uma fonte de água ou a
uma clareira. É possível reconhecer uma trilha através de restos de frutos comidos ou pelas fezes do
animal.
As armadilhas devem ser montadas antes do cair da noite e recolhidas pela manhã.

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Habituados com a configuração da vida ao ar livre, os animais possuem um excelente olfato, motivo pelo
qual não se deve alterar o ambiente ao redor da armadilha nem urinar próximo a ela, pois a caça
pressente a presença humana.
Na inexistência de material para a pesca nos conjuntos de sobrevivência, os sobreviventes podem
improvisar anzóis com pregadores de fraldas, alfinete do brevê, espinhos, pregos, pedaços de ossos,
clipes ou madeira. Se não dispuser de linha, pode-se fazer uso de fios elétricos, arames, linhas de
roupas ou cordões de sapatos. O que puder ser improvisado, como uma pequena rede, ou um arpão
(com canivete ou faca). Até mesmo o facho de luz da lanterna pode ser empregado para a pesca,
atraindo pequenos cardumes. Como iscas, utilizar insetos e vísceras de animais.

Preparação do Alimento

Uma vez abatida a caça, deve-se proceder à retirada do couro. O método da esfola consiste em abrir o
animal pela linha do peito, cuidando para não perfurar a bexiga ou a vesícula biliar. Nenhuma parte das
vísceras deve ser aproveitada como alimento.
Os peixes são descamados da cauda para a cabeça, no sentido contrário às escamas. Não se deve
comer a cabeça nem a cauda do peixe, porque podem ser indigestas.
Para depenar uma ave sem nenhum consumo de água, um processo prático que pode ser empregado é
o do “descamisamento”, que consiste na inserção de um pequeno tubo à semelhança de uma caneta Bic
na parte interna de cada coxa do animal. Nesse processo, a pele da ave é removida junto com as penas.
As cobras podem ser encontradas tanto em ambiente de selva como no deserto. No preparo das cobras
peçonhentas, deve-se desprezar um palmo a partir das extremidades, onde se encontram as glândulas e
partes venenosas e a cauda, cartilaginosa, sem carne. Cobras peçonhentas não possuem carne
venenosa, o veneno está contido nas suas presas e é inoculado por ocasião da picada.
Formigas e gafanhotos podem ser ingeridos assados, pois possuem grande valor nutritivo e em algumas
partes do mundo são considerados pratos exóticos.

Deslocamento em Busca de Socorro

A maior parte dos resgates bem-sucedidos comprova a necessidade de os sobreviventes permanecerem


nas imediações do local do pouso forçado. Para as equipes de socorro, é mais fácil visualizar uma
aeronave acidentada do que um grande número de pessoas se deslocando por uma enorme área. É
muito comum essas pessoas se dispersarem e perderem a vida vagando sem orientação.
Os critérios para decidir abandonar a área do acidente são:
 se já houver passado o sétimo dia, quando se encerram as buscas;
 quando forem consideradas mínimas as chances de resgate;
 quando houver certeza de encontrar socorro;
 se os referenciais para o deslocamento forem bem definidos;
 conhecer a posição geográfica.

Orientações para o Deslocamento

Com exceção de sobrevivência no mar, uma vez decidido o deslocamento para a busca de socorro,
deve-se planejá-lo preparando todo o material necessário para a caminhada e a composição do grupo.
As provisões de água e alimento devem ser divididas em 3 partes. O grupo que se desloca deve levar
2/3 do total disponível.
Quando possível, reúna os equipamentos enumerados a seguir para o seu deslocamento:
 Facão;
 Relógio;
 Estojo de primeiros socorros;
 Suprimento de água e alimento;
 Fio metálico ou corda para armar abrigos;

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 Óculos para proteção contra os raios solares;
Proteger em saco plástico:
 Bússola;
 Velas;
 Fósforo ou isqueiro;
 Sinalizadores;
 Caderno de notas;
 Caneta
A equipe deve ser composta de, no mínimo, quatro pessoas com asseguintes funções:
 Homem Ponto de Referência, responsável pela abertura das picadas com o facão e por fixar o
ponto de referência para as visadas da bússola;
 Homem Bússola, responsável pela visada e pela leitura da bússola, deslocando-se
imediatamente à retaguarda do Homem Ponto de Referência;
 Homem Passo, responsável pela execução, contagem dos passos e sua transformação em
metros. Desloca-se atrás do Homem Bússola;
 Homem Carta, responsável pela coordenação do deslocamento da equipe, pela elaboração dos
croquis com anotações sobre pontos geográficos.

Método de Aferição do Passo


Como deve ser procedido um revezamento de funções durante a caminhada, é importante que todos os
componentes selecionados tenham seus passos aferidos.
Para essa aferição, utiliza-se um terreno plano marcando a distância de 100 m. Deve-se percorrer essa
distância dez vezes e determinar, em cada vez, o número de passos percorridos, calculando-se a média.
A equivalência de “P” passos necessários deve ser estabelecida pela relação (P + 1/3P), sendo 1/3P o
coeficiente de correção dos passos. Fazer a conversão para metros de 50 em 50 ou de 100 em 100
passos.
O Homem Carta deve assinalar os acidentes geográficos tomados como pontos de referência, as
medidas angulares lidas pelo Homem Bússola, as distâncias percorridas medidas em passos. Tiras de
pano coloridas devem marcar o trajeto; cortes em árvores e pequenas pedras alinhadas também podem
ser empregadas; essa marcação é necessária para que as equipes de socorro possam encontrar os
sobreviventes e para que o grupo que saiu em busca de socorro tenha como retornar ao acampamento.
As marchas devem se iniciar ao amanhecer e ser encerradas às 15 horas para improvisação de abrigo.
Para evitar a fadiga, o deslocamento deve ser lento e as caminhadas devem ter a duração máxima de 3
horas. A parada para descanso deve ser de uma hora. Os melhores trajetos são cursos d´água, trilhas
de animais ou de nativos. Se, porventura, se encontrar com um grupo de nativos, deve-se deixar que
parta deles a iniciativa de aproximação.

Transposição de Obstáculos
Durante as marchas, o grupo de deslocamento pode deparar-se com obstáculos, como subidas ou
descidas acentuadas, rios, morros, buracos etc. A regra recomendada é que se a transposição desses
obstáculos exigir esforços demasiados do grupo, é preferível contorna-los.
Na impossibilidade de contornar um morro de aclive acentuado, é preferível subi-lo em ziguezague,
seguindo as curvas de nível para atenuar os esforços. Sempre que se deslocar de um ponto a outro, é
preciso marcar bem o local exato onde ocorreu a mudança de direção.

Ponto de Referência Nítido (Para Obstáculos Pequenos)


O processo consiste em, chegando-se ao obstáculo de pequenas dimensões, como um curso d’água,
por exemplo, determinar no lado oposto um ponto bem definido para servir de referencial para o
prosseguimento da marcha.

Compensação com Passos e Ângulos Retos

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 Para o estabelecimento da direção da marcha caminha-se contando os passos na direção dada
pelo Azimute de Marcha até o ponto A, onde o morro se inicia.
 No ponto A, muda-se de direção para desviar do morro, escolhendo-se um novo Azimute de 90°
com o da marcha, apontando na direção B, e contam-se os passos. Chegando ao ponto B,
retoma-se o Azimute de 90°, paralelo ao da marcha, e contam-se os passos do deslocamento de
B para C.
 Chegando em C, vai-se para D deslocando-se segundo o Contra-azimute da direção AB,
percorrendo-se a mesma distância, pois AB = CD.
 Chegando em D, retoma-se o deslocamento na direção dada pelo Azimute original. Em
decorrência dos acidentes do terreno, é comum ocorrer pequenos desvios na aferição da direção
e das distâncias percorridas. Para reduzir esses erros, deve-se designar dois homens para a
leitura da bússola e dois outros para a contagem dos passos.

Formas de Orientação

Orientação por Bússola


Em todas as situações de sobrevivência, é imprescindível lançar mão da bússola manual existente no kit
de sobrevivência ou a da aeronave (retirar os imãs de compensação). Algumas regras devem ser
seguidas:
 Azimute de um alinhamento é o ângulo formado pelo alinhamento com a direção Norte-Sul.
 Quem determina o Norte é a agulha e não o limbo.
 Para a leitura dos azimutes com segurança, o primeiro passo é zerar a bússola, isto é, coincidir
o Norte indicado pela agulha com o zero do limbo.
 A seguir, marca-se a direção a partir do local do acidente, fazendo-se uma visada para a direção
a ser seguida. Sempre que for feita a leitura da bússola, deve-se certificar de que a mesma não
está sob influência de alguma força magnética externa (imã, ferro, aparelho elétrico...)

Orientação pelo Relógio


Coincidir o número 12 do mostrador com a direção do Sol. No hemisfério sul, a bissetriz do ângulo
formado entre o 12 e o ponteiro das horas indica o norte em qualquer hora do dia.

A linha a ser voltada para o Sol será a do ponteiro das horas e a bissetriz do ângulo desta linha com a
linha 12-6 dará a direção Norte-Sul.

Orientação pelo Sol

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Estende-se o braço direito para o nascente do sol (leste), à esquerda tem-se o oeste, à frente o norte e,
às costas, o sul.

Determinação da linha Norte-Sul pelo Sol do Meio-dia

Consiste na determinação do meio-dia local pelo Método da Estaquinha, cuja sombra projetada
determina a linha norte-sul. A linha da sombra mais curta é a do meridiano local, ou seja, a linha norte-
sul. Ao norte da latitude norte 24°4’, a sombra da estaca se projeta para o sul. Nos trópicos, a indicação
vai depender da data e do local onde estiver o sobrevivente.

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CAPÍTULO 06 - SOBREVIVÊNCIA NA SELVA

O cenário de selva revela grandes recursos hídricos e riqueza de flora e fauna. O desconhecimento
sobre como explorar esses recursos, por parte da maioria dos sobreviventes de um pouso forçado na
selva, pode ser um fator adverso à sua permanência por um período prolongado. Plantas venenosas,
animais venenosos e animais perigosos demonstram essa afirmação. Como saber diferenciá-los, então?
Neste capítulo, serão apresentadas algumas informações importantes para auxiliar aqueles que, após
terem lido este livro, queiram entrar em contato com a natureza. O assunto é muito vasto e não se
esgota nesta obra. A pesquisa realizada foi uma tentativa de coletar informações básicas necessárias
para a obtenção de sucesso em um ambiente hostil, diferente daquele ao qual pessoas de hábitos
urbanos estão acostumadas.
As fontes de consulta foram os manuais do Ministério da Aeronáutica de Busca e Salvamento (MMA 64-
2), o Manual dos Escoteiros do Brasil, o Manual da Força Aérea Americana (AFM 64-5), o Manual do
Exército Americano (US Army Survival Manual FM 21-76). Em nenhuma dessas bibliografias consultadas
se encontrou algo referente aos ensinamentos sobre “ter vontade de viver” e, muito menos, “vontade de
sobreviver”. Esse sentimento está internalizado em cada indivíduo, e é baseado nele que os
sobreviventes de um pouso forçado na selva devem buscar forças para aplicar as informações aqui
contidas.
Somente a experiência de pessoas adaptadas à vida em um ambiente de selva lhes possibilita fazer a
seguinte afirmação com segurança: “A selva pode ser considerada paraíso ou inferno. Tudo
depende do nosso conhecimento sobre ela e de como o aplicamos”.

Cuidados com a Saúde e o Vestuário


Uma das maiores dificuldades possíveis de ser enfrentadas pelos sobreviventes em regiões de selva é o
convívio com os mosquitos e outros insetos. Ao contrário do que se imagina, o corpo e suas
extremidades devem estar totalmente cobertas, independentemente da temperatura e da umidade do
ambiente. Cobrir o corpo proporciona proteção contra as adversidades do meio ambiente. As roupas
impedem que, durante a permanência na selva, galhos e até mesmo espinhos arranhem o corpo do
sobrevivente e abram caminho para que os mosquitos ou outros insetos depositem suas larvas nos
ferimentos. A transmissão de moléstia pelas picadas, pelas ferroadas ou pelo depósito de larvas desses
insetos gera infecções e até mesmo irritações que, mesmo após o resgate, os sobreviventes continuam
a tratá-las em seu retorno à vida urbana. O corpo totalmente coberto também protege das ações nocivas
do sol, uma vez que se deve ter um cuidado muito especial com relação a queimaduras e à
desidratação.
Durante o período de permanência na selva, é muito importante o cuidado para que animais não se
aproximem demasiadamente do acampamento, evitando dessa maneira sérios problemas com relação a
mordidas, ferroadas, penetrações, sucções e a invasão de animais como aranhas, cobras, escorpiões,
bichos-de-pé e carrapatos.
A fadiga e a desidratação debilitam rapidamente o ser humano. Aquele que não puder preservar sua
saúde com um mínimo de higiene e vestuário adequado ao local onde se encontra não terá condições
psicológicas de enfrentar as adversidades de um período de sobrevivência na selva. Após a execução
das ações imediatas e simultâneas, depois do abandono e do afastamento da aeronave, para que o
sobrevivente comece a resgatar parte daquilo que lhe foi tirado no momento do acidente, deve-se dar
prioridade ao curso de suas ações subsequentes com a aplicação da regra AFA + A, de Abrigo, Fogo,
Água e Alimento.

Abrigo

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No interior de um local onde possa se sentir protegido, o sobrevivente começa a resgatar os sentimentos
de dignidade e segurança que lhe foram tomados no momento do acidente e essa nova percepção é
uma importante ferramenta para a criação de uma base consistente para o despertar da “vontade de
sobreviver”.
O abrigo proporciona a proteção contra as adversidades do meio como o sol, a chuva e as variações
bruscas de temperatura. E essa proteção traz conforto espiritual. A construção do abrigo tem como
principal finalidade proporcionar ao sobrevivente um lugar onde ele possa descansar e renovar suas
energias para o desempenho de diversas atividades que se fazem necessárias em um período de
sobrevivência.

Escolha do Local para Construção do Abrigo


Os sobreviventes têm duas opções:
 construir o abrigo com os recursos disponibilizados pelo meio ambiente; ou
 utilizar a própria aeronave como abrigo.
Se a escolha recair sobre utilizar a aeronave como abrigo, alguns fatores devem ser considerados
antecipadamente
 o resfriamento dos motores; e
 a evaporação total do combustível derramado.
Outro acontecimento que deve ser levado em consideração é o fato de que durante um acidente aéreo
há grandes possibilidades de haver pessoas feridas e até mesmo a ocorrência de óbitos, o que deixaria
certamente sangue derramado nas cabines de comando e de passageiros, e até mesmo corpos presos
entre as ferragens, o que seria um empecilho para a utilização da aeronave como abrigo. Os raios
solares incidindo diretamente sobre a fuselagem podem transformar a aeronave em um local de altas
temperaturas, impossibilitando a permanência dos sobreviventes em seu interior.
Após a análise de todos esses fatores, ainda resta a possibilidade de construir um abrigo empregando
tanto recursos da própria aeronave como do meio ambiente. A seleção do local para sua construção
deve recair, preferencialmente, sobre a parte mais elevada do terreno, uma vez que, se chover, as
regiões mais baixas alagam ou armazenam água.
A vegetação existente pode ser utilizada como apoio para a construção do abrigo, mas é preciso ter
cuidado com relação a grandes árvores, pois também grandes são os seus frutos e galhos. É grande a
possibilidade de esses galhos estarem secos ou podres e da queda de frutos, causando estragos tanto
materiais, destruindo o abrigo construído, como pessoais, se atingir algum dos sobreviventes.
Na existência de um curso de água, deve-se construir o abrigo a uma distância segura para que não
ocorra um alagamento em caso de transbordamento de rio, devido às chuvas, mas também não muito
longe, o que pode forçar os sobreviventes a andar demasiadamente para a obtenção de água.

Tipos de Abrigo
No que se refere ao tipo de abrigo a ser construído, há diversas opções. Podem-se construir abrigos
provisórios ou temporários.
Qual a diferença existente entre eles?
Provisório é o abrigo construído com maior premência e o mais rapidamente possível, muitas das vezes
utilizando-se o primeiro material encontrado pelos sobreviventes. É aquele abrigo no qual não houve
tempo hábil de se elaborar devidamente a sua construção.

Abrigo Provisório
Dentre os abrigos provisórios, destaca-se o conhecido como “Rabo de Jacu”. Sua construção se dá a
partir de dois pedaços de madeira ou até mesmo duas árvores. Coloca-se uma terceira madeira apoiada
nessas duas primeiras, formando o que se entende por uma goleira. Para a cobertura desse abrigo,
coloca-se algum tipo de material retirado do interior da aeronave, que pode ser escorregadeira, barco
salva-vidas, carpetes, forros, cortinas, lonas, amarrados na parte superior e esticados para um dos
lados. Deve-se ter o cuidado de fechar as laterais e a frente, deixando apenas uma porta para entrada e
saída dos sobreviventes.

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Abrigo “Rabo de Jacu”
Esse tipo de abrigo é de grande utilidade para quando o acidente ocorrer em um horário com pouca
iluminação do sol ou até mesmo à noite.

Abrigo Temporário
Durante o período em que os sobreviventes se encontrarem no local do acidente, é preciso manter o
grupo em atividade. A estratégia recomendada é a de transformar o abrigo provisório em um abrigo
temporário. Essa determinação depende da liderança exercida no grupo pelo coordenador e de tempo,
tanto cronológico quanto meteorológico, e, é lógico, dos recursos disponíveis.
Dos abrigos temporários destacam-se basicamente dois tipos, que são o

Abrigo tipo A e o Tapiri Simples.


O Abrigo tipo A tem a mesma base do “Rabo de Jacu”, a diferença é que o material empregado na
cobertura, em vez de ser esticado somente para um dos lados, deve ser esticado para ambos os lados.
O fechamento das laterais se torna mais fácil, porém, gera a necessidade do emprego de uma maior
quantidade de material para a sua cobertura.

Abrigo tipo A
O Tapiri Simples é confeccionado a partir de uma base ou estrado instalado a uma certa distância do
chão, entre quatro pedaços de madeira ou árvores. Acima dessa base ou estrado é feita a cobertura.

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Abrigo Tapiri Simples
Independentemente do tipo de abrigo, alguns cuidados devem ser tomados, no que se refere ao local do
acampamento.
O interior dos abrigos ou até mesmo o estrado do Tapiri deve ser forrado com folhas, carpetes, tecidos,
assentos ou qualquer outro material, para que não haja contato direto com o solo, devido à umidade que
possa existir, bem como para deixar mais confortável. Se forem utilizadas folhas ou vegetação, elas
devem ser “flambadas” na fogueira (passadas na chama) para evitar que insetos e animais, como
aranhas e escorpiões, sejam levados com elas para o interior do abrigo.
A altura de uma pessoa agachada serve de parâmetro para dimensionar a altura do abrigo, pois assim
facilita o fechamento das laterais com folhas e galhos e também mantém o calor interno em regiões frias.
No caso de regiões mais quentes, as laterais não devem ser totalmente fechadas, para facilitar a
ventilação.

Turnos de Vigia
Nem todos podem descansar ao mesmo tempo. É preciso estabelecer os turnos de vigia para proteção
do acampamento e para a observação da possibilidade do aparecimento de alguma aeronave ou
embarcação nas imediações.
A capacidade do abrigo deve ser suficiente para comportar quase todos que dele fazem uso, excetuando
os dois sobreviventes que ficarão de vigia, do lado de fora.
Os turnos de vigia não devem ser superiores a duas horas, e esse rodízio de turnos deve ser organizado
de tal forma que todos possam descansar. O descanso é fundamental em uma situação de
sobrevivência.
Infra-estrutura do Abrigo
Ao redor do acampamento devem ser construídas caneletas de drenagem para que, em caso de chuva,
a água que possa escorrer do teto não penetre interior do abrigo. Essas canaletas devem ser
construídas no terreno bem rente às paredes do abrigo. A profundidade e o tamanho devem ser
proporcionais à precipitação pluviométrica e à inclinação do terreno. Desconhecendo-se o regime de
precipitação de chuvas, a profundidade da canaleta pode ser dimensionada em torno de 10 cm.
Do lado oposto ao curso de água, se houver, os sobreviventes devem construir as fossas de detritos e
de dejetos. Elas devem estar a uma distância segura para que o odor exalado não penetre no ambiente
do acampamento e que os sobreviventes possam chegar até elas sem o risco de se perder.

Fogo
O fogo é de fundamental importância para a sobrevivência na selva. Com ele, os sobreviventes estão
protegidos porque os animais normalmente temem a proximidade da chama e qualquer alteração
efetuada em seu habitat os afugenta.

Finalidades da Obtenção do Fogo

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O fogo também pode ser utilizado para sinalizar, purificar a água, cozinhar e, até mesmo, reunir o grupo
de sobreviventes mantendo-os aquecidos, proporcionando um ambiente de união que eleva a
autoestima do indivíduo, despertando e mantendo o desejo de sobreviver.
O princípio fundamental para a obtenção do fogo é a reunião de calor, oxigênio e combustível, que
resulta na reação em cadeia.
O calor pode ser mantido em regiões frias ou dispensado em regiões quentes. No frio, devem ser
construídos anteparos contra o vento, espécie de paredes protetoras, tendo o cuidado de não abafar o
fogo, visto que sem oxigênio ele se extingue.
Com relação ao material utilizado para produzir uma fogueira, os sobreviventes devem armazená-lo em
quantidades suficientes para que não haja a necessidade de sair do local durante a noite para
providenciá-lo. Para fazer o fogo, é necessário que esse material seja de vários tamanhos e espessuras.
Desde a mais remota Antiguidade, quem obteve o fogo deteve o poder sobre aqueles que não o
conheciam. É um milenar princípio inteligente, donde se pode concluir que a selva não pertence,
necessariamente, ao mais forte, mas sim ao mais inteligente, calmo e sóbrio.

Local para Acender o Fogo


Deve ser um local limpo, pois qualquer material seco que estiver em contato com a fogueira queima,
gerando o risco da propagação do fogo para a floresta. A limpeza da área deve ser feita de tal forma que
se deixe somente terra para a base da fogueira e que o seu redor seja demarcado com pedras.

Fogueira
O cuidado com relação às pedras é a possibilidade da existência de bolhas de ar em seu interior, que,
devido ao calor, podem se expandir estourando; as lascas de pedra podem causar ferimentos nas
pessoas mais próximas da fogueira. Pela mesma razão, se estiver sendo cozinhado qualquer alimento e
as pedras estourarem, a comida será perdida.
Fazer o fogo em um local próximo ao acampamento afasta os insetos, por causa da fumaça, e pode até
aquecer o interior do abrigo. Esse local não pode ser na parte mais baixa do terreno, pois se chover o
fogo se extinguirá. É necessário construir um anteparo contra a chuva com altura suficiente para eliminar
o risco de incêndio no anteparo ou nas árvores em seu redor.

Como Obter o Fogo


A fase mais difícil da obtenção do fogo é a da ignição. São necessárias “iscas”, ou seja, materiais de fácil
queima tais como: breu vegetal , papel, folhas secas, vegetação ressecada e pequenos gravetos. De
posse dessas iscas, é possível dar início à obtenção do fogo.
Para a ignição, podem ser empregados os recursos que são encontrados nos kits de sobrevivência na
selva ou mar, na aeronave, nas bagagens de passageiros e tripulantes e, também, na própria selva.

Fósforos e isqueiros são a primeira opção dentre os artifícios que podem dar início ao fogo. Eles
podem ser encontrados nos pertences de passageiros e tripulantes, bem como no kit de sobrevivência
na selva.

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Outros artifícios que podem ser empregados para dar início ao fogo são lentes de óculos, lanternas,
binóculos etc. disponíveis nos pertences dos sobreviventes. Deve-se salientar que a utilização desse
material só dará resultado na presença da luz solar.

Método com lentes convergentes

Baterias (pilhas) existentes em lanternas colocadas em seqüuência, tendo os pólos ligados através de
fiação de pequena espessura geram aquecimento e faísca, capazes de dar início ao fogo. Essa fiação
pode ser encontrada na aeronave. Para efeitos de treinamento, muitas vezes é utilizada a palha de aço
para a demonstração.

Método com pilhas


Alguns tipos de pedras ou até mesmo pedras em contato com metais podem gerar faíscas e com isso
possibilitar a ignição necessária, sem se perder de vista que, nesses casos, a disponibilidade de isca é
fundamental.
Uma excelente isca para a ignição do fogo é o combustível da aeronave. Realmente é a melhor isca,
mas é difícil de se obter, pois os tanques de combustível não se abrem facilmente. As aeronaves, ao
serem abastecidas, recebem o combustível de baixo para cima, sob pressão, portanto não é como em
outros meios de transporte, nos quais é só abrir a tampa e coletar o combustível. Além disso, em um
acidente, as asas normalmente são a primeira parte a se separar da fuselagem gerando o derramamento
do combustível e, na maioria dos casos, sua queima.
O atrito também é uma fonte de calor que quando em contato com a isca adequada pode possibilitar a
ocorrência de ignição. O calor do atrito pode ser gerado com pedaços de madeira ou até mesmo com
uma correia de aço existente dentro do cabo da faca que equipa o kit de sobrevivência.

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Método do atrito com pedaços de madeira

Se na verificação dos pertences dos passageiros se encontrar alguma arma, é bom lembrar que a
munição contém pólvora e esta é de fácil ignição, sendo um excelente auxiliar na geração de faísca.
Algumas árvores produzem um tipo de resina (breu vegetal) que é de fácil ignição e inflamável. Uma vez
encontrada, facilita os procedimentos para a obtenção do fogo.

Água
Elemento fundamental para a existência da vida. Quando as naves interplanetárias pousam em outros
planetas, os cientistas procuram logo por vestígios de água, pois, se forem encontrados, existe uma
grande probabilidade dos terráqueos poderem sobreviver nesses planetas.
Na Terra encontra-se água em abundância. Dois terços da superfície terrestre são compostos de água,
mas somente parte dela não é salgada e, consequentemente, própria para o consumo. Da quantidade de
água existente, 97% encontram-se distribuídos em mares e oceanos, 2,3% em geleiras, 0,6% no solo e
subsolo, 0,09% em lagos e rios e 0,01% na atmosfera. Portanto, ocorrendo uma situação de
sobrevivência, pode-se contar com aproximadamente 0,7% da água existente na superfície terrestre.
Além disso, parte dessa água está no solo e no subsolo e são necessários conhecimentos específicos
para encontrá-la e explorá-la. O que é palpável e acessível em uma sobrevivência na selva são os
suprimentos restantes da aeronave e os recursos locais.
Na aeronave, o material não utilizado durante o serviço de bordo deve ser trazido para o local do
acampamento. Garrafas com água, sucos e refrigerantes devem ser distribuídos entre os
sobreviventes. Em situações de sobrevivência, bebidas alcoólicas não devem ser ingeridas.
Uma pessoa em situação de sobrevivência deve lutar contra a desidratação que, nesses casos, é fatal.
Numa situação normal uma pessoa ingere cerca de 2,5 a 3 litros de água por dia. Em situação de
sobrevivência essa quantidade varia de 400 ml até 1 litro, dependendo das condições de sobrevivência
(região fria ou quente) e da disponibilidade de recursos hídricos.
Independentemente disso, o fornecimento tanto de água quanto de alimento deve ser suspenso nas
primeiras 24 horas. Pode-se viver bastante tempo sem comer, mas sem água esse tempo é reduzido.
Vai depender das condições físicas e fisiológicas de cada indivíduo.

Fontes de Obtenção de Água


Em uma situação de sobrevivência, a aeronave é uma das melhores opções.
Com relação aos tanques de água potável existentes em qualquer aeronave, sabe-se que eles contêm
uma boa quantidade de água e variam, em sua capacidade, conforme o tipo de aeronave, mas é
importante salientar que a água, assim como o combustível, também é colocada nos tanques sob
pressão, de baixo para cima, e que o acesso a esse reservatório não é fácil, mas, sendo possível, pode-
se fazer uso dessa fonte de água também.
Alguns tipos de vegetais sintetizam água em seu interior, como é o caso do coco.
Em algumas regiões da selva amazônica é encontrado um tipo de cipó chamado cipó de casca grossa
(também conhecido como cipó d’água que sintetiza água em seu interior.

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Cipó de casca grossa

Para a extração da água do coco, necessita-se apenas de um facão e um pouco de habilidade para abri-
lo. Já com o cipó de casca grossa é necessário, primeiramente, cortá-lo na parte superior o mais alto
possível e, posteriormente, na parte inferior para que o líquido existente em seu interior escorra em
decorrência da gravidade.
Outro vegetal que possui água em seu interior é o cacto, porém nem sempre é encontrado em florestas
tropicais e, sim, em matas de região semiárida. Deve-se cortar a parte superior da planta com um facão,
pois possuem espinhos fortes e uma casca grossa, em seguida retira-se a polpa, macerando-a para
retirada da água e descartando-a em seguida.

Tipos de cactos

A água de origem vegetal não necessita ser purificada.

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A água captada diretamente da chuva também não requer purificação. Pode ser ingerida diretamente
em quantidade suficiente para satisfazer as necessidades de cada indivíduo. Cabe lembrar que a água
da chuva não contém sais minerais. Se a água captada da chuva for armazenada ou entrar em contato
com materiais que não estejam limpos, é necessário purificá-la.
A água pode ser obtida em outras fontes: rios, lagos, córregos, açudes, vegetais com folhas
resistentes e próximas armazenam água, bambus e até mesmo a retirada do solo. A água captada
dessa forma deve ser purificada antes da ingestão.

Retirada de água armazenada em bambus


A obtenção de água desses recursos é simples, só se deve levar em consideração que ao recolher a
água de rios, lagos, córregos e açudes o sobrevivente não deve revolver o fundo para que o material
orgânico depositado não se eleve, sujando a água. Também não se deve colher a água muito rente à
superfície, pois mosquitos e insetos, de maneira geral, podem depositar seus ovos e larvas, ou até
mesmo serem captados junto com a água colhida.
O mesmo cuidado se deve ter com relação à água armazenada por vegetais com folhas resistentes e
próximas (gravatás e bromélias), onde a ação de mosquitos e insetos é maior.

Retirada de água armazenada em bromélias

Métodos de Purificação da Água


A primeira opção é a utilização de purificadores existentes nos kits de sobrevivência na selva e no mar,
que são usados conforme descrito na sua bula, e a segunda é a fervura facilmente disponível com a
fogueira existente no acampamento. Para purificar a água deve-se deixar ferver por, no mínimo, 1 minuto
e esfriá-la antes de ingeri-la.
Quanto à água existente no solo, sua retirada pode ser através de escavação, mas seria necessário
algum conhecimento para isso.
A água é eliminada naturalmente pelo organismo através da sudorese e da respiração, por isso a
recomendação de ingestão de, no mínimo, 500 ml de água em situação de sobrevivência na selva.
Pode-se, também, controlar a perda através da sudorese, evitando-se realizar esforços desnecessários.

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A eliminação de água através da urina, fezes e saliva é controlada pelo organismo, visto que só se
elimina o que está sobrando. A ingestão de água em excesso pode gerar sensação de desconforto,
donde se pode concluir que, em situação de sobrevivência, a não ingestão de água provoca
desidratação; em contrapartida, a ingestão em excesso também é desconfortável.
Cabe ressaltar que a construção de filtros pode ser feita utilizando algum tipo de recipiente, que pode ser
de pano resistente, lona ou até mesmo gomos de bambu, e colocando dentro inicialmente pedras e,
após, areia, para que a água ao passar deixe suas impurezas, tornando-se mais clara. Todo esse
procedimento não dispensa a purificação da água.

Alimento
Um sobrevivente necessita de energia para sobreviver e desempenhar as tarefas. Essa energia é
suprida com a ingestão de proteína animal e/ou vegetal. A proteína animal pode ser encontrada em
alimentos como carnes e ovos e a vegetal nos carboidratos encontrados, principalmente, nos alimentos à
base de amido e também nas frutas.
Inicialmente, deve-se fazer uso dos alimentos trazidos dos suprimentos restantes da aeronave, pois são
os que estão mais acessíveis e sobre os quais se tem mais conhecimento. Deve-se observar que os
alimentos industrializados e pré-prontos que são servidos a bordo exigem conservação e por isso devem
ser logo consumidos, apesar das recomendações de não se alimentar nas primeiras 24 horas.
As regras existentes devem sempre ser analisadas e reavaliadas, pois cada situação exige um
reordenamento. Essas regras são utilizadas como balizadoras das ações a serem executadas.
Se a quantidade de água descrita anteriormente não for suprida, não se deve ingerir alimentos, pois só
se pode fazê-lo em conjunto com a hidratação.
Havendo água deve-se evitar a ingestão de gorduras, pois podem causar distúrbios à digestão, levando
à desidratação.
Fontes de Captação de Alimento
Podem ser divididas em dois grandes grupos:
 origem vegetal;
 origem animal.

Alimento de Origem Vegetal


Na natureza, há uma grande variedade de vegetais. Fica até mesmo difícil determinar o que pode ser e o
que não pode ser ingerido. É impossível o conhecimento de todas as espécies, razão pela qual algumas
“regras” e “conselhos” daqueles que conhecem devem ser utilizados.
Por não se conhecer vegetais venenosos e não venenosos sugere-se que os sobreviventes coloquem os
vegetais em um recipiente com água e seja feito um sopão, pois, com exceção da mandioca brava e dos
cogumelos, os venenos dos outros vegetais se tornam inócuos com a fervura.
Se houver a necessidade de ingeri-los crus, aconselha-se colocar uma pequena porção na boca e, se
depois de 2 a 3 minutos não sentir dormência, mastigar para extrair um pouco de seu sumo, sem ingeri-
lo. Se ainda assim não sentirem dormência na boca, nos lábios e na língua, os sobreviventes podem
considerar os alimentos testados não venenosos. Toda cautela e paciência são necessárias nessa hora.
Macacos e pássaros são excelentes referenciais, pois tudo o que for ingerido por eles pode ser ingerido
pelo homem.
Quanto a legumes e alguns tipos de hortaliças que por ventura sejam encontrados, devem receber o
mesmo tratamento dispensado na cidade.
Raízes podem ser ingeridas, mas deve-se cozinhá-las, pois são ricas em amido que, se ingerido cru, é
indigesto. Também em situação de sobrevivência na selva a regra que os sobreviventes podem utilizar é
a de não consumir
 C abeludo
 A margo
 L eitoso

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Essa regra deve estar associada ao conhecimento da espécie analisada, pois o mamão ao ser retirado
de sua árvore é leitoso. Kiwi e pêssego são cabeludos e o cupuaçu, existente na região Norte do Brasil,
é amargo e, por serem de conhecimento popular, podem ser ingeridos sem receio.
Portanto, a regra CAL é válida desde que não se conheça o alimento.

Alimento de Origem Animal


Quanto aos alimentos de origem animal, eles serão divididos em grupos para que se possa analisá-los
em suas particularidades. São estes os grupos:
 Insetos
 Répteis
 Peixes
 Mamíferos
 Aves
Insetos são ricos em proteína e devem ser ingeridos após cozimento ou se possível após fritura. A
cultura ocidental não está acostumada a ingestão de insetos, mas nas culturas orientais eles são
oferecidos até mesmo em bancas nas ruas das principais cidades. Para facilitar a ingestão pode-se
colocá-los na sopa a ser preparada.
Répteis também podem servir como alimento. Os mais conhecidos são os ofídios. O cuidado que se
deve ter é primeiramente detectar se é uma cobra venenosa ou não, para evitar complicações no
momento da captura, pois não há soro antiofídico no kit de primeiros socorros.
Uma vez capturada a cobra, para o seu preparo deve-se dispensar, aproximadamente, um palmo na
parte da cabeça, dessa forma eliminam-se as bolsas que contêm o veneno e suas peçonhas. Dispensar,
também, um palmo na cauda, pois é uma parte sem muita carne. Faz-se um corte longitudinalmente ao
corpo para a retirada do couro, abre-se e retiram-se as vísceras; depois é só preparar juntamente com o
sopão ou assada, dependendo do tamanho da cobra e da quantidade de pessoas no grupo de
sobreviventes.

Retirada do couro (esfola)

Havendo anzóis ou se for possível improvisar anzóis e linhas de pesca, pode-se pescar. Os peixes são
considerados uma ótima fonte de proteínas, mas alguns itens devem ser considerados.
A pesca exige conhecimento, paciência e tempo. Conhecimento tanto para confeccionar o material
necessário como também para a limpeza e preparo, pois os peixes não devem ser ingeridos crus,
mesmo que as pessoas estejam acostumadas a frequentar restaurantes onde esse prato seja servido
dessa forma, pois, quando se frequenta um restaurante, pode-se hidratar facilmente; e se, por qualquer
razão, alguém passar mal, existe a possibilidade de ser conduzido a hospitais ou postos de saúde.
Os peixes ideais para consumir crus são os peixes de água salgada. A retirada de suas escamas ou
couro, dependendo do tipo de peixe, também exige alguma habilidade. As escamas devem ser retiradas
no sentido contrário, ou seja, na direção da cauda para a cabeça.
Paciência é exigida, pois a qualquer barulho ou movimento na água os peixes tendem a se afastar. Ao
observar ou sentir qualquer anormalidade os peixes, mesmo os que estiverem em cardumes como os
peixes marítimos, tendem a fugir. A confecção dos equipamentos exige habilidade e também exige

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paciência. Podem-se improvisar anzóis com agulhas, alfinetes, arames e linhas com fios elétricos, linhas
de roupa e até mesmo cadarços.
Tempo será necessário nessa confecção também, mas o principal é o tempo despendido em procurar e
preparar as iscas que podem ser naturais, como minhocas, vísceras de outros alimentos preparados e
até mesmo fachos de luz e pedaços metálicos, pois chamam a atenção dos peixes. Nesse caso,
necessitam-se de redes improvisadas ou artefatos como lanças para a pesca.
Quanto aos mamíferos ou caças a primeira preocupação é com a sua captura. O sobrevivente estará
em um ambiente que não é seu, exalando cheiro de civilização, e esse cheiro é facilmente percebido
pelos animais que se afastam ao perceber a presença humana.
Animais selvagens só atacam quando ameaçados ou quando estão famintos. Via de regra, a sua opção
será pelo afastamento. Qualquer alteração em seu hábitat fará com que o animal fuja. Com a construção
do acampamento e a utilização das fossas de detritos e dejetos, serão exalados odores facilmente
perceptíveis pelos animais, tornando a sua captura mais difícil.
Para capturá-los, é necessário confeccionar lanças ou armadilhas e esperar que o cheiro humano não
seja percebido, por isso, é muito importante permanecer contra o vento, ou melhor, ficar parado,
esperando e torcer para que a caça se aproxime no sentido do vento.
Realizada a sua captura, vem o preparo. Para abatê-lo existem dois métodos, o do sangramento ou
sangria, que consiste em pendurar o animal de cabeça para baixo pelas suas patas traseiras e com uma
faca afiada cortar-lhe a artéria jugular. Se possível, recolher o sangue que escorrerá do animal, também
no método da degola. Após abater o animal, deve-se limpá-lo enquanto a sua carne estiver quente, para
facilitar a esfola, ou seja, o desprendimento do couro da carne.
Se o sangue for coletado, mais tarde, deve ser fervido. Com isso, ele coagula e forma uma camada
branca por cima que é o sal existente no sangue. Este sal pode ser utilizado para temperar a comida.
Não se deve ingerir o sangue das caças.
Para limpar a parte interna da caça, faz-se um corte na linha do peito e retiram-se as vísceras. Das
vísceras retiradas só são aproveitados como alimento o fígado, os rins e o coração, mas devem ser
cozidos antes da ingestão.
Quanto às aves, pode-se dizer que são de captura mais fácil. A curiosidade natural dessa espécie facilita
sua captura e, por isso, acaba por ser o exemplo em quase todos os treinamentos de sobrevivência
existentes.
Os métodos de abate são os mesmos das caças, a única diferença é que ao invés da esfola é feito o
descamisamento, que consiste em descolar a pele juntamente com as penas da carne da ave. Para
isso, após o abate, é feita uma pequena incisão próxima à junção da coxa com o corpo da ave e nela
inserida um tubo, que pode ser encontrado na natureza, feito de bambu ou qualquer outro material.
Sopra-se pelo tubo e logo após cobre-se a saída. O ar fica entre a pele e a carne. Com isso, deve-se
pressionar, como se fosse uma bexiga de ar, fazendo com que o ar se desloque, descolando a pele da
carne.
O corte na pele, juntamente com as penas, na linha do peito ajuda na limpeza e no movimento feito para
a retirada da pele. É ele que dá origem ao nome dessa técnica, chamada descamisamento.
O sangue da ave, se coletado, pode ser ingerido cru repondo sais minerais que se perdem no dia-a-dia.
Das vísceras pode-se comer fígado, rins e coração, como nas caças, só que as das aves podem ser
ingeridas cruas.
Das aves ainda se pode comer a moela, só que para isso é preciso cozinhá-la antes.
Para a abertura do peito e retirada das vísceras devemos dar especial atenção à vesícula biliar, que
contém fel, o qual pode contaminar a carne que entrar em contato com essa secreção.
Como as aves põem ovos, o sobrevivente pode ter a grata surpresa, ao limpar, de encontrar ovos em
seu interior, que também são fontes de proteína.
Para o preparo necessita-se de uma fogueira para realizar o cozimento, fritura ou até mesmo assar o
alimento.
Para o apoio podem-se construir fogareiros e fogões e se a opção for assar a construção de fornos
também é viável.
Recipientes de metal com óleo combustível dentro são excelentes fogareiros e sua construção é fácil,
mas a obtenção desse combustível é difícil como visto no item Fogo.

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Se a opção for um fogão de selva, o material necessário pode ser encontrado no ambiente. Dois
pedaços de madeira são colocados perpendiculares ao chão, tendo nas extremidades que ficam para
fora da terra forquilhas que apóiam um terceiro pedaço de madeira onde estará espetado o alimento.
Dessa maneira fica fácil girá-lo para que seja assado por igual.
Um tripé construído com material encontrado pode ser utilizado tanto para assar como para defumar
(fogão de moquear) o alimento, podendo assim armazená-lo para consumo posterior.

Fogão de moquear

A técnica de espetar o alimento e colocar o próprio espeto cravado no chão próximo à fogueira também
é bastante útil e utilizada nos estados do sul do país, principalmente no Rio Grande do Sul.
Lançando mão de algumas dessas técnicas e usando como material a madeira, é necessário ficar atento
o tempo todo, pois a madeira pode queimar e destruir o fogão.
Existem ainda algumas técnicas de preparo dos alimentos que são utilizadas como fornos de selva.
Envolve-se o alimento em barro ou argila ou ainda em folhas de bananeira e enterra-o pondo fogo por
cima dele. A desvantagem dessa técnica é que não se pode verificar como está o cozimento do
alimento. Toda vez que se quiser verificar se está pronto, é necessário desfazer o fogo. Por isso é
necessário ter prática anterior para que possa empregar esse método em uma situação de
sobrevivência.

Fontes:
 Department of the Army Field Manual. US Army Survival Manual FM 21-76. Headquarters,
Department of the Army. October 1970.
 Manual do Curso de Formação de Comissários do Flex Aviation Center.
 RBAC-121 – Regulamento Brasileiro da Aviação Civil. ANAC – Agência Nacional de Aviação
Civil.

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CAPÍTULO 07 - SOBREVIVÊNCIA NO MAR
Para iniciarmos os nossos estudos, vamos conhecer o que diz o RBAC- 121 com relação a operações de
voos costeiros e transoceânicos e entender o que determina esse regulamento, quando uma empresa
aérea pretende realizar um voo sobre grande extensão de água.

Regulamentos Brasileiros da Aviação Civil (RBAC-121): Conhecendo a legislação pertinente às


operações de voos costeiros e transoceânicos.

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121.339 – Equipamento de emergência para operações sobre grandes extensões de água.
1) Exceto quando o ANAC, por alteração das especificações operativas do detentor de certificado,
requerer o transporte a bordo de apenas alguns dos itens específicos listados abaixo para operações
sobre grandes extensões de água ou, por requerimento do detentor de certificado, o ANAC permitir
desvios para uma particular operação sobre grandes extensões de água, nenhum detentor de certificado
pode operar um avião nas referidas operações sem que o avião tenha o seguinte equipamento a bordo:
a) Um colete salva-vidas equipado com uma lâmpada localizadora aprovada, para cada
ocupante do avião.
b) Um número de botes salva-vidas (cada um equipado com uma lâmpada localizadora
aprovada) com capacidade nominal de flutuação e de assentos suficiente para acomodar todos
os ocupantes do avião. A menos que sejam providos botes em excesso com capacidade
suficiente, deve haver capacidade nominal de flutuação e de assentos suficiente para acomodar
todos os ocupantes do avião no evento da perda do bote de maior capacidade existente a bordo
do avião.
c) Pelo menos um sinalizador pirotécnico para cada bote. d) Um rádio transmissor localizador de
emergência de tipo aprovado para sobrevivência. As baterias do transmissor devem ser trocadas
(ou recarregadas, se for o caso) quando o rádio tiver acumulado uma hora de funcionamento e
também quando 50% de sua vida útil (ou 50% da vida útil da carga, se for recarregável), como
estabelecido pelo fabricante da bateria, tiver expirado. A nova data de expiração deve ser
legivelmente marcada no exterior do transmissor. O requisito de vida útil deste parágrafo não se
aplica a baterias que não sejam essencialmente afetadas por permanência em estoque (como as
baterias ativadas por água).
2) Os botes, coletes e equipamentos-rádio de sobrevivência requeridos devem ser facilmente acessíveis
no evento de um pouso na água, sem tempo apreciável para procedimentos preparatórios. Os
equipamentos devem ser instalados, e conspicuamente marcados, em locais aprovados.
3) Um conjunto de sobrevivência, apropriadamente equipado para a rota a ser voada, deve estar
colocado dentro de cada bote requerido.
[Para os objetivos desta seção, sobrevoo de grandes extensões de água significa o sobrevoo de um
ponto a mais de 370 km (200 milhas marítimas) da terra firme mais próxima.]

(Port. 89/DGAC, 15/1/03; DOU 25, 10/2/03)


121.340 – Meios de flutuação requeridos.
(a) Exceto como previsto no parágrafo (b) desta seção, nenhuma pessoa pode operar um avião em
qualquer operação sobre água, a menos que ele seja equipado com coletes salva-vidas, de acordo com
121.339(a) (1), ou com outro dispositivo de flutuação aprovado, para cada um de seus ocupantes. Esses
dispositivos devem ficar ao alcance de cada ocupante sentado e devem ser facilmente retiráveis para
fora do avião.
(b) Por solicitação do detentor de certificado, o DAC pode aprovar a operação de um avião sobre água
sem os coletes salva-vidas ou os dispositivos de flutuação requeridos pelo parágrafo (a) desta seção,
desde que o detentor de certificado demonstre que a extensão de água sobre a qual o avião vai operar
não é de tamanho e profundidade que requeiram tais equipamentos para sobrevivência dos ocupantes
no caso de um pouso na água.
121.540 – Informações sobre equipamentos de emergência e sobrevivência. [Cada detentor de
certificado deve manter, permanentemente disponíveis para comunicação imediata a um centro de
coordenação de busca e salvamento, listagens contendo informações sobre os equipamentos de
emergência e de sobrevivência existentes a bordo de cada uma de suas aeronaves. Tais informações
devem incluir, como aplicável, o número, cor, tipo e capacidade dos botes infláveis e coletes salva-vidas,
detalhes sobre os conjuntos de sobrevivência, de primeiros socorros e médicos, suprimento de água
potável, tipos e freqüências dos transmissores localizadores de emergência portáteis transportados e
quaisquer outras informações consideradas relevantes para as operações de busca e salvamento.]

(Port. 89/DGAC, 15/1/03; DOU 25, 10/2/03)


Apêndice C - Conjuntos de sobrevivência no mar e na selva

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(a) Conjunto de sobrevivência no mar. Os conjuntos de sobrevivência no mar, requeridos por 121.339(c),
devem atender aos seguintes requisitos e especificações:
(1) Devem estar contidos em bolsas de lona amarela, amarradas aos botes de modo a assegurar
que não serão perdidas durante a abertura e inflagem dos botes, após um pouso na água.
(2) Todo o material contido nos conjuntos deve ser mantido conforme um programa de
manutenção aprovado.
(3) A quantidade de material em cada conjunto deve ser suficiente para atender ao número de
ocupantes do bote ao qual ele está afixado e deve haver um conjunto para cada bote ou
escorregadeira requerido.
(4) Cada conjunto deve conter pelo menos:
(i) Material para reparar e encher o bote;
(ii) Material para dessalinizar água do mar e para fornecer um mínimo de calorias a cada
ocupante do
bote durante 24 horas;
(iii) Material para sinalização, independente do equipamento pirotécnico requerido por
121.339(a) (3) (espelho, marcador de mar etc);
(iv) Material para primeiros socorros, contido em estojo à prova d’água, apropriado para
fazer curativos e para medicar queimaduras, enjôo e dores (analgésico);
(v) Manual de sobrevivência no mar; e qualquer outro material julgado conveniente pela
empresa, em função da rota a ser voada.
Sobreviver não requer apenas força e disponibilidade física. É preciso ser inteligente. É preciso saber
utilizar os recursos disponíveis, e, acima de tudo, poupar energia para as tarefas que realmente fazem a
diferença e são fundamentais para a manutenção da vida. Portanto, não é difícil concluir, que calma,
resistência, sobriedade e inteligência são características fundamentais ao ser humano urbanizado, que
deseja sobreviver em um ambiente hostil.
Diferentemente de outras emergências, o número de acidentes envolvendo um pouso na água com
posterior período de sobrevivência é praticamente nulo. Com certeza, tal fato para a Aviação Civil
internacional é motivo de comemoração.
Dessa forma, antes de iniciarmos os nossos estudos, é importante ter em mente que os procedimentos
que serão apresentados foram extraídos de incansáveis simulações e testes dessa emergência, e
possíveis condições e ocorrências nas quais estaremos submetidos no mar.
Diferentes órgãos de controle da Aviação Civil internacional, forças armadas, fabricantes de materiais
aeronáuticos e experientes profissionais da área colaboraram para o acervo de conhecimento que será
apresentado e estudado, acreditando ser esta a melhor prática para garantir a sobrevida do ser humano
diante de tão complexa situação.
É fato que com os recursos (humanos e tecnológicos) disponíveis atualmente a localização dos
equipamentos coletivos de flutuação/sobreviventes será feita rapidamente. No entanto, devemos sempre
trabalhar com um tempo maior para o resgate, nos preparando para um dos mais difíceis desafios da
profissão.
Conhecer, debater e trabalhar as técnicas adequadas para uma possível sobrevivência no mar, além de
estar a par de todos os fatores inerentes a essa emergência, é fundamental para a sólida formação do
comissário de voo, bem como para a possibilidade de salvar um maior número de vidas.

Equipamentos de Flutuação

De acordo com a Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) e os Regulamentos Brasileiros da


Aviação Civil (RBAC-121), todas as aeronaves que efetuarem voos transoceânicos (além de 200 milhas
náuticas ou 370 km da costa) deverão dispor de equipamentos individuais e coletivos de flutuação.
Aeronaves que efetuarem voos costeiros (rotas de até 200 milhas náuticas ou 370 km da costa) deverão
dispor apenas de equipamentos individuais de flutuação.
Antes de trabalharmos com os procedimentos a serem adotados em uma sobrevivência no mar, vamos
conhecer os equipamentos coletivos e individuais de flutuação disponíveis para os sobreviventes.

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Equipamentos Coletivos de Flutuação
Barcos/botes salva-vidas

Bote salva-vidas.
Apresentam formato poligonal, em diferentes tamanhos e com uma capacidade média variando entre 4 e
69 sobreviventes.
Os botes salva-vidas normalmente estão presentes em aeronaves que não possuem uma
escorregadeira do tipo barco, como o B737, por exemplo. Os mesmos podem ficar acondicionados em
rebaixamentos do teto da aeronave ou dentro dos compartimentos superiores de bagagem, os
chamados bins.
Escorregadeiras-barco

Escorregadeira-barco.
Apresentam formato retangular, podendo variar em tamanho e capacidade de aeronave para aeronave.
Estão presentes nos aviões de grande porte, como B767, MD11 e AIRBUS340, por exemplo, com uma
capacidade média aproximada 51 a 81 sobreviventes.

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As escorregadeiras-barco estão alojadas e protegidas em compartimentos específicos fixados nas portas
das aeronaves. Somente são acessadas quando as portas são abertas em situação de emergência.
Obs.: Mais à frente, faremos um estudo detalhado das escorregadeiras-barco e dos barcos/botes salva-
vidas.

Equipamentos Individuais de Flutuação


Coletes salva-vidas

Colete salva-vidas.

Os coletes salva-vidas possuem duas câmaras de flutuação. Para cada câmara, existe uma cápsula de
gás carbônico (CO2), responsável pela sua inflação.

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Para inflar o colete, basta puxar os comandos vermelhos para baixo.

Em caso de falha no sistema de inflação, os coletes podem ser inflados por sopro, através de um tubo
acoplado a cada câmara.

Os coletes possuem, ainda, uma tira ajustável, que deverá ser fixada na altura da cintura.
Na altura do ombro, entre as câmaras, existe uma lâmpada localizadora (ou sinalizadora), alimentada
por uma bateria ativada à base de água, com uma duração aproximada de 8 horas.

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Cada câmara inflada suporta, em média, um peso inercial de 60 kg. É recomendável que as duas
câmaras sejam infladas, pois se o sobrevivente cair desmaiado na água o colete mantém uma atitude de
flutuação tal que o rosto fica sempre fora d’água.
.

Os coletes salva-vidas adicionais ou reservas também podem ser utilizados para a flutuação de
suprimentos ou de qualquer outro objeto julgado importante para a sobrevivência. Essa hipótese deve
ser considerada, desde que exista tempo suficiente para a preparação antes do pouso.

Correta Utilização do Colete Salva-Vidas


Os passageiros devem ser instruídos para vestir seus coletes sem se levantar de seus assentos.
As tiras que prendem o colete na cintura devem estar ajustadas e nenhuma sobra deve ficar pendurada,
evitando assim que o passageiro fique preso em destroços da aeronave ou a qualquer objeto após o
impacto.
Reforçar a informação já citada na demonstração de emergência e na preparação da cabine (se a
emergência foi preparada) de que o colete somente deverá ser inflado na soleira da porta ao abandonar
a aeronave. Analisando a situação, seria impraticável que todos os passageiros já estivessem com os
coletes inflados antes do impacto, isso prejudicaria muito o fluxo de evacuação e, dependendo da saída
operante, o passageiro poderia ter dificuldades em abandonar a aeronave.
Obs.: No caso das aeronaves que possuem janelas sobre a asa, o passageiro com colete que optar sair
pela janela deverá ser instruído a inflar o colete somente sobre a asa, ou seja, sair primeiro e depois
inflar o colete, uma vez que as dimensões reduzidas das janelas em comparação às portas podem
complicar a saída do passageiro. Instruir para que os passageiros fiquem com os coletes vestidos e
inflados até serem resgatados.

Assentos Flutuantes

Em situação normal de voo, o passageiro está sentado sobre o assento flutuante. Em situação de
emergência, esse assento (removível) deve ser levado com o passageiro para fora da aeronave. Uma
placa interna de poliuretano rígido é responsável pela flutuação do assento. Os assentos flutuantes
suportam um peso médio inercial de 90 kg.
Correta Utilização do Assento Flutuante
Antes de pular na água, o passageiro deve apoiar o queixo na porção mais larga do assento.
Segurar firmemente as alças localizadas sob o assento e somente então se jogar na água.

Utilização do Assento flutuante.

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É importante destacar que o apoio do queixo sobre o assento evita que, ao cair na água, o passageiro
tenha alguma lesão grave no queixo e/ou na mandíbula, uma vez que o assento permanecerá na
superfície, e a força peso do corpo, após o pulo na água, fará com que o queixo do passageiro se
choque fortemente contra o assento.

A Evacuação da Aeronave

Seguramente, a tarefa mais complicada e crítica, que exige grande preparo e liderança por parte dos
tripulantes, é a evacuação da aeronave após o pouso.
Diversos são os fatores que podem, diretamente, influenciar no sucesso dessa operação, entre eles:
 Treinamento da tripulação.
 Conhecimento da localização e manuseio dos equipamentos de emergência.
 Comportamento dos passageiros.
 Condições do mar, iluminação disponível e os danos estruturais apresentados pela aeronave.
Fica complicado determinar o tempo de flutuação da aeronave após o impacto na água. Por esse motivo,
como é citado no capítulo de evacuação, todos os passageiros devem ser retirados imediatamente da
aeronave, tornando a situação de pouso na água uma evacuação evidente.

Escorregadeira-barco: Desconexão Parcial e Definitiva da Aeronave


Após o término da evacuação na água, utilizando uma escorregadeira-barco, a mesma ainda estará
presa à aeronave. É preciso separar imediatamente a escorregadeira do avião, para evitar o risco de
submersão junto com a aeronave e uma possível explosão.

Escorregadeira-barco: Desconexão Parcial da Escorregadeira-barco


Na porção da escorregadeira que fica próxima à soleira da porta (saia da escorregadeira) existe uma
dobra fechada por velcro ou botões de pressão (dependendo da aeronave) chamada de “aba da saia da
escorregadeira”. Sob a aba da saia da escorregadeira há um cabo, chamado de cabo desconector. Para
realizar a desconexão parcial da escorregadeira-barco da aeronave é necessário:
Levantar a aba da “saia” da escorregadeira.

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Puxar o cabo desconector.

Com esse procedimento, a escorregaria estará separada parcialmente da aeronave, uma vez que uma
tira, chamada “tira de amarração”, de aproximadamente 6 metros, ainda a mantém presa à aeronave.
Obs.: É preferencial a transferência direta dos passageiros da aeronave para a escorregadeira-barco.
No entanto, se o mar estiver agitado, a escorregadeira ficará batendo fortemente contra a água,
representando um alto risco para quem tentar acessá-la diretamente. Nesse caso, é necessário separar
parcialmente a escorregadeira da aeronave, minimizando as batidas contra a água, e realizar o
embarque dos passageiros via água. Esse é o motivo pelo qual existe uma separação inicialmente
parcial e depois definitiva.

Escorregadeira-barco: Desconexão Definitiva da Escorregadeira-barco


Para a separação definitiva da escorregadeira-barco da aeronave é necessário cortar a tira de
amarração utilizando uma faca flutuante, localizada na própria escorregadeira, próximo ao final da tira.
Algumas aeronaves podem apresentar um modelo de escorregadeira que, além da faca flutuante, dispõe
de um outro meio para a realização da separação definitiva.

Barco/Bote Salva-Vidas
Retirada do bin e/ou Rebaixamento do teto, Fixação na Aeronave, Lançamento na Água e Desconexão
da Aeronave. Para a realização de uma evacuação na água utilizando um bote salva-vidas é necessário,
após a parada da aeronave, retirá-lo do seu alojamento, fixá-lo à aeronave e lançá-lo na água, efetuando
posteriormente, da mesma forma que se faz com a escorregadeira-barco, a desconexão definitiva da
aeronave.

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Uma vez retirado do seu alojamento, o bote salva-vidas deve ser levado para a saída designada
(depende de cada aeronave), e que esteja acima do nível da água. Antes do lançamento na água, é
necessário fixar o bote por meio da tira de amarração a uma parte fixa da aeronave. A tira de amarração
tem um comprimento aproximado de 6 metros e possui, na sua extremidade, um gancho (tipo
mosquetão) que serve para fixar o bote na aeronave.
O bote encontra-se devidamente dobrado e acondicionado dentro de um pacote apropriado para esse
fim. Como é necessário fixar o bote na aeronave, antes de lançá-lo no mar, a tira de amarração fica
acessível mesmo com o bote dentro do pacote.

Fixação do barco/bote salva-vidas na aeronave.

Após estar corretamente fixado na aeronave, o pacote (bote) deve ser lançado no mar. Quando a tira de
amarração esticar totalmente, o bote infla automaticamente. Também é possível antecipar a inflação do
bote puxando o comando manual de inflação (punho metálico), localizado próximo ao gancho da tira de
amarração.
Os sobreviventes devem pular na água, levando consigo o seu equipamento individual de flutuação, e
nadar até o bote. Até quando for possível, devido ao já citado risco de submersão e explosão da
aeronave, o bote permanece fixado ao avião. Da mesma forma que na escorregadeira-barco, para a
realização da separação definitiva do bote da aeronave, é necessário cortar a tira de amarração
utilizando a faca flutuante, localizada no próprio bote, próximo ao final da tira.

Desconexão definitiva do barco/bote salva-vidas/Cortando com a faca flutuante.

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Escorregadeira-barco e Bote Salva-vidas: Características Principais

Escorregadeira-barco:
As escorregadeiras do tipo barco apresentam pista dupla e inflam automaticamente após a abertura de
uma porta em emergência. As escorregadeiras-barco possuem duas câmaras unidas estruturalmente
entre si e pneumaticamente independentes (inflação independente). Tais câmaras dão formato à
escorregadeira e sustentam o peso dos sobreviventes, tanto em uma evacuação em terra quanto em um
período de sobrevivência no mar. Quarenta por cento da inflação da escorregadeira é executada por um
cilindro que contém CO2 e nitrogênio, localizado na sua base inferior próximo à estação dianteira. Os
60% restantes da inflação ficam por conta dos venturis (aspiradores de ar) localizados em ambas as
câmaras.

Venturi da câmara superior da escorregadeira-barco.

Toda escorregadeira-barco tem indicações escritas, internas e externas, da localização dos seus
acessórios, estações de embarque e capacidade possível de ocupantes.
Obs.: É extremamente importante, antes de realizar uma evacuação, observar se a escorregadeira está
totalmente inflada, através da constatação visual e também com o cessar dos ruídos dos venturis.

Para refletir: Em uma aeronave wide body, como o B777 por exemplo, é possível encontrarmos um
número mínimo de 8 comissários trabalhando e no máximo 12. Esse avião possui 8 portas. Dependendo
do número de comissários, havendo um pouso na água, existirá apenas 1 comissário para cada
escorregadeira-barco, se todas estiverem operantes.
Considerando a escorregadeira de menor capacidade desse equipamento, você, comissário, estará no
mínimo à frente de 51 pessoas em pânico dentro de uma escorregadeira. É muito importante estar
consciente dessa situação, afinal, diferente de uma evacuação de emergência em infraestrutura
aeroportuária, comissários e passageiros (sobreviventes) estarão restritos no mesmo espaço em
condições de sobrevida extremamente adversas. O seu preparo, condicionamento, confiança e
conhecimento podem torná-lo o homem-chave de todo o período da sobrevivência. Pense nisso.
Obs.: A realidade de outras aeronaves narrow body, bem como quando a sobrevivência acontece com
botes salva-vidas, não é diferente do que acabamos de observar e refletir.

Bote Salva-vidas:
Os botes salva-vidas, a exemplo das escorregadeiras, também possuem duas câmaras unidas
estruturalmente entre si e pneumaticamente independentes. Tais câmaras dão formato ao bote e
sustentam o peso dos sobreviventes.
Obs.: Botes de menor capacidade podem apresentar apenas 1 câmara de flutuação.
Quarenta por cento da inflação do bote é executada por um cilindro que contém CO2 e nitrogênio. Os
60% restantes da inflação ficam por conta dos venturis (aspiradores de ar) localizados em ambas as
câmaras.

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Todo bote salva-vidas tem indicações escritas, internas e externas, da localização dos seus acessórios,
estações de embarque e capacidade possível de ocupantes.
Obs.: É parte indispensável do cheque pré-voo do comissário verificar a pressão adequada do cilindro
responsável pela inflação de um equipamento coletivo de flutuação. A pressão adequada é
recomendada pelo fabricante, e pode variar dependendo do equipamento que está sendo utilizado.

ESCORREGADEIRA-BARCO E BARCO/BOTE SALVA-VIDAS: ACESSÓRIOS DISPONÍVEIS


Escorregadeira-Barco Bote Salva-Vidas
Estações de embarque x x
Faca flutuante x x

Lâmpada sinalizadora x x
Anel de salvamento x x

Âncora (biruta d’água) x x


Tira de segurança ou salvamento x x

Cjto. de sobrevivência no mar x x


Toldo x x

Válvula de inflação manual x x


Luzes balizadoras de emergência x

Tira de reentrada x
Freio x

Descrição dos Acessórios


Estações de embarque: local apropriado e mais fácil de realizar o embarque de um sobrevivente.

Estação de embarque da escorregadeira-barco e do barco/bote salva-vidas.

Faca flutuante: necessária para cortar a já citada tira de amarração.

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Faca flutuante

Lâmpadas sinalizadoras: com duração média de 8 horas, as lâmpadas sinalizadoras são acionadas
através de baterias ativáveis à base de água.


Anel de salvamento: localizado normalmente próximo à âncora (biruta d’água), está fixado na
escorregadeira por uma corda; deve ser utilizado para recuperar sobreviventes que estejam na água,
bem como para unir as embarcações após a separação definitiva da aeronave.

Anel de salvamento da escorregadeira-barco. Anel de salvamento do barco/bote salva-vidas.

Âncora (biruta d’água): localizada normalmente próxima do anel de salvamento, está fixada na
escorregadeira por meio de uma corda, é utilizada para retardar a deriva da embarcação, permitindo que
a mesma permaneça o maior tempo possível nas proximidades do local do acidente.
A correta utilização da âncora biruta d’água deve observar a seguinte regra:
Caso o mar esteja calmo: liberar toda a extensão da corda que a prende na escorregadeira.
Caso o mar esteja agitado: liberar somente meia extensão da corda que a prende na escorregadeira.

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Tira de segurança ou salvamento: localizada nas laterais da escorregadeira e ao redor do bote. Os
sobreviventes devem segurar na tira de segurança enquanto aguardam o seu momento de embarque.
Caso haja superlotação da embarcação, um revezamento deve ser realizado. Os sobreviventes que
ficarem fora da embarcação deverão amarrar a tira do colete salva-vidas na tira de segurança. Não
estando de colete, o sobrevivente deve segurar firmemente na tira.

Tira de segurança ou salvamento da escorregadeira-barco.


Fonte: Foto do autor.

Toldo: tem a finalidade de proteger os sobreviventes dos raios solares, chuva e frio e também coletar
água da chuva. Por apresentar uma cor alaranjada forte e contrastante, o toldo aeronáutico serve
também para sinalizar às equipes de resgate. É importante destacar que o toldo vem acondicionado
dentro de um saco, do mesmo material e cor do toldo, e que, após a separação definitiva da
escorregadeira-barco ou do bote da aeronave, o mesmo fica pendurado para fora da embarcação. É
dever do comissário içar o toldo para dentro da embarcação.
Dentro desse mesmo saco, juntamente com o toldo, existem também os mastros metálicos. Esses
mastros são encaixados em locais apropriados nas escorregadeiras ou botes e suportam (junto com os
montantes estruturais no caso de algumas escorregadeiras) o peso do toldo, dando o formato de uma
“cabana” à embarcação.
Já os botes possuem apenas os mastros metálicos para apoio do toldo, atendendo perfeitamente à
necessidade desse tipo de embarcação.

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O toldo também possui pequenos cordéis que são amarrados em locais apropriados na embarcação
(seja ela escorregadeira ou bote). É importante que, ao amarrar qualquer cordel do toldo à embarcação,
seja dado um laço e não um nó, pois como é fato a possibilidade do toldo molhar, ficaria muito difícil,
caso necessário, desatar um nó, ao invés de um laço.

Toldo da escorregaderia-barco sendo armado.

Outro item presente no toldo são as sanefas (janelas distribuídas nas laterais do toldo). Permitem a
entrada de ar em dias quentes e também podem ser utilizadas como dispositivo de navegação da
seguinte forma;caso tenha sido avistada terra firme, e exista um vento soprando em direção à terra,
remova a âncora da água, abra as sanefas do toldo apenas do lado do vento e utilize-o como se fosse
uma “vela” de navegação.
Válvula de inflação manual: dispositivo presente em cada câmara da escorregadeira e do bote, onde
é encaixada a bomba de inflação manual (item presente no conjunto de sobrevivência no mar). Devido à
presença da válvula de inflação manual associada à bomba de inflação manual é possível completar ou
aliviar a pressão do ar dentro das câmaras da escorregadeira ou do bote.

Válvula de inflação manual





Conjunto de sobrevivência no mar: contém os equipamentos necessários, obrigatórios e
fundamentais para um período de sobrevivência no mar. Mais à frente serão detalhados os itens que
compõem o conjunto de sobrevivência no mar.
Luzes balizadoras de emergência: estão distribuídas nas laterais internas da escorregadeira, em toda
a sua extensão. Balizam o local por onde passageiros e tripulantes são obrigados a passar no caso de
uma evacuação em terra, ou permanecer no caso de uma evacuação no mar. A duração média das
luzes balizadoras de emergência é de 15 minutos.

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Montantes estruturais: disponíveis em alguns tipos de escorregadeiras, os montantes estruturais são
estruturas infláveis localizadas sobre a câmara superior e servem de apoio para o toldo.

Montantes estruturais

Tira de reentrada: presente nas escorregadeira-barco e também naquelas que não são do tipo barco,
a tira de reentrada é utilizada (em um pouso em terra) caso haja a necessidade de retornar ao interior da
aeronave.
Freio: localizado no final da escorregadeira, o freio é composto de pequenas ondulações dispostas
horizontalmente, cuja finalidade é retardar a velocidade do passageiro após saltar na escorregadeira em
uma evacuação em terra.

Equipamentos de Sobrevivência no Mar

Logo após a separação definitiva da escorregadeira-barco ou do bote da aeronave, o conjunto de


sobrevivência no mar estará pendurado do lado de fora da embarcação, amarrado a ela através de uma
corda. É dever do comissário içar o conjunto de sobrevivência para dentro da embarcação. Boa parte
dos equipamentos do conjunto de sobrevivência no mar, também está presente no conjunto de
sobrevivência na selva. Esses equipamentos estão descritos e detalhados no capítulo inicial de
sobrevivência na selva. A seguir uma lista dos equipamentos do conjunto de sobrevivência no mar,
explicando apenas o que for específico para uso nessa situação.
Conjunto de Sobrevivência no Mar – Equipamentos:
Apito
Dessalinizador
Purificador de água
Espelho sinalizador
Foguetes pirotécnicos
Corante marcador de água
Rações de sacarose/glicose
Conjunto de canivete/abridor de garrafa
Potes plásticos com água para fins medicinais
Medicamentos e material para primeiros socorros
Manual de sobrevivência com instruções detalhadas
Lanterna acionada à base de água ou bateria/pilha: no caso da lanterna à base de água, basta retirar a
sua tampa, colocar água no seu interior, fechar e agitar. Com a diminuição da intensidade da luz, trocar a
água de dentro da lanterna, repetir o processo e continuar usando-a normalmente.

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Balde: possui a finalidade de remover a água da escorregadeira/bote ou captar a água da chuva. Caso
o balde tenha sido utilizado para retirar água de dentro da escorregadeira ou do bote, é importante
atentar para o fato de o mesmo poder estar contaminado, pois dentro da escorregadeira ou do bote,
além de água, poderemos encontrar também urina, vômitos e sangue.
Esponja desidratada: ajuda a remover a água de dentro da escorregadeira ou do bote em menor
quantidade que o balde. É também possível utilizá-la para secar a escorregadeira ou o bote quando a
porção de água presente no interior da embarcação for pequena.
Bujão de vedação: equipamento utilizado para vedar pequenos furos na embarcação.
Bomba manual de inflação: utilizada para completar a inflação da câmara inferior ou superior da
escorregadeira ou bote. Para utilizála, deve-se encaixá-la ou rosqueá-la (depende do modelo) na válvula
de inflação manual, e movimentá-la para cima e para baixo, utilizando as alças de apoio para o encaixe
da mão.

Ações Imediatas e Simultâneas e Ações Subseqüentes

Ações Imediatas e Simultâneas


Como já foi citado em nosso estudo, após o término da evacuação na água, utilizando uma
escorregadeira-barco ou um bote, os mesmos ainda estarão presos à aeronave. É preciso separar
imediatamente a escorregadeira ou o bote do avião, para evitar o risco de submersão junto com a
aeronave e uma possível explosão.
Começa então o período de sobrevivência. Sem dúvida, as primeiras horas após a separação das
embarcações da aeronave serão as mais complicadas. É um momento de muito trabalho, liderança e
voz de comando por parte dos comissários. Diversas ações devem ser realizadas simultaneamente e de
modo imediato, garantindo o salvamento de um maior numero de vidas e maior rapidez de resgate.
Vamos conhecer então quais são essas ações imediatas e simultâneas.
 Prestar os primeiros socorros: verificar as condições físicas dos sobreviventes, prestando os
primeiros socorros a quem necessitar. Havendo a presença de profissionais de saúde, solicitar a
sua colaboração.
 Buscar por sobreviventes na água: proceder uma busca rigorosa em toda a área por onde a
aeronave pousou, procurando por sobreviventes. Pode-se encontrar na água sobreviventes
conscientes e inconscientes; dessa forma é necessário utilizar o procedimento de recuperação
de homem ao mar, sendo ele:
o Sobrevivente inconsciente: um tripulante amarrado à escorregadeira pelo anel de
salvamento parte em busca do sobrevivente.
o Sobrevivente consciente: um tripulante joga da escorregadeira o anel de salvamento, ou
então um colete salva-vidas amarrado ao anel de salvamento, caso o sobrevivente não o
tenha.
 Acionar o radiofarol de emergência.
 Içar o conjunto de sobrevivência no mar e o toldo: preparar e proteger todos os equipamentos de
sinalização, tais como foguetes pirotécnicos, corantes marcadores de água, apito, espelho
sinalizador e lanterna. Colocá-los em recipientes impermeáveis ou em invólucros plásticos,
protegendo contra umidade e garantindo o seu perfeito funcionamento quando for avistado ou
ouvido o ruído de uma aeronave ou embarcação.

Ações Subseqüentes
Terminadas as ações imediatas e simultâneas, é fundamental a realização de outras tarefas, chamadas
de ações subseqüentes. que são:
 Jogar a âncora: não esquecer de considerar o conceito já estudado da correta utilização da
âncora, de acordo com a agitação do mar, ou seja, o procedimento para mar calmo e mar
agitado. É importante mencionar que, antes de lançar a âncora, se deve observar se a área do
lançamento não está envolta por destroços da aeronave, pois a âncora poderia ser facilmente
danificada.
 Unir as embarcações: havendo mais de um equipamento coletivo de flutuação, é fundamental
unir as embarcações. Esse procedimento evitará que as embarcações derivem para rumos

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diferentes e facilitará o trabalho de localização e resgate pelas equipes de busca e salvamento.
As embarcações devem ser unidas pela corda do anel de salvamento.
 Armar o toldo: como já citado, para proteção durante o dia e a noite, o toldo deve ser armado
assim que possível.

Generalidades

Após a realização das ações imediatas e simultâneas e também das ações subseqüentes, existem
outras atividades e ações fundamentais, que deverão ser observadas e executadas durante a jornada no
mar. A seguir, estudaremos tais ações, destacando que o comissário tem um papel fundamental para
que tudo que for previsto e possível seja realizado.
 Manter a escorregadeira ou o bote o mais seco possível.
 Conservar a embarcação em constante equilíbrio: Os sobreviventes devem permanecer
sentados no assoalho, de costas para as câmaras principais e com os pés voltados para o
centro. Se for necessário se deslocar na embarcação, tente não caminhar, procure engatinhar,
com isso evitamos movimentos bruscos da escorregadeira ou do bote e aumentamos a sua vida
útil.
 Realizar verificações periódicas na âncora, observando a regra correta de utilização já estudada.
 Verificar constantemente a necessidade de completar a inflação da escorregadeira ou do bote
utilizando a bomba de inflação manual.Em dias de temperaturas elevadas, o ar no interior da
escorregadeira irá esquentar e conseqüentemente se dilatar, aumentando a pressão interna da
embarcação. Por esse motivo, as escorregadeiras e os botes salva-vidas possuem uma válvula
de alívio de pressão. Com a queda da temperatura, o ar tende a se contrair, causando uma
deflação das câmaras. Portanto, é importante manter-se atento às condições da embarcação.
 Proteger bússolas, fósforos, isqueiros relógios, equipamentos de sinalização e tudo o que não
puder ter contato com a água, a fim de preservar tão importantes ferramentas.
 Manter turnos de vigília de no máximo 2 horas: Dividir os ocupantes das embarcações (todos,
com exceção dos feridos graves e exaustos) em grupos de vigilância de forma que, enquanto
alguns vigiam, os demais repousam. O grupo de vigilância deve estar atento ao ruído dos
motores de uma aeronave ou embarcação, bem como a visualização de terra à vista. Os
equipamentos de sinalização, já preparados para esse fim, devem estar disponíveis para o grupo
que estiver de vigília. É muito importante que o grupo que estiver de repouso realmente
descanse. Um sobrevivente exausto na embarcação não poderá contribuir com o grupo e
colocará em risco a sua própria vida.
 Não desperdiçar energia em tarefas desnecessárias.
 Definir regras para se livrar dos excrementos, estabelecendo diretrizes de higiene para manter a
escorregadeira limpa e evitar doenças.
 Procurar manter a calma e a moral do grupo elevada: Tranqüilizar os sobreviventes e não deixar
a moral cair são atitudes benéficas e importantes para o resgate de um maior número de
pessoas com vida.
 Navegar a embarcação somente se houver terra à vista. Se conseguir chegar próximo de terra
firme, tenha cuidado ao realizar o desembarque da escorregadeira. Sendo necessário nadar até
atingir o ponto desejado, conserve a vestimenta completa, incluindo calçado se houver. Em
grandes arrebentações, avalie um ponto estratégico e de menor risco para efetuar o
desembarque. Tenha cuidado com recifes e corais, e por razões de segurança jamais realize
desembarque quando o sol estiver baixo.
 Reavaliar periodicamente os ferimentos dos sobreviventes e trata-los dentro das possibilidades.
 Em dias frios, manter as sanefas do toldo fechadas e os sobreviventes agrupados.
 Caso existam alguns destroços da aeronave flutuando, observe cuidadosamente e aproveite
tudo o que for possível e útil.
 Manusear cuidadosamente objetos cortantes ou pontiagudos no interior da embarcação.
 Procure manter tudo o que for trazido para dentro da escorregadeira ou do bote agrupado e
protegido da água do mar.

Água Doce

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Aproximadamente 65% da massa de um corpo humano é constituída de água; entretanto, os corpos
continuamente perdem esse líquido de diversas maneiras: através da urina, suor, dejetos sólidos e até
mesmo pelos pulmões no processo de expiração.
Em condições normais, um adulto perde em média, diariamente, cerca de 1,5 litro de água. O ideal seria
ao menos repor a mesma quantidade de água perdida ingerindo de 1,5 litro a 2,5 litros de água por dia.
Para bebês e crianças a situação não é muito diferente. Um recém-nascido necessita em média de 1 litro
de água por dia, enquanto uma criança mais crescida precisa de 1,5 litro.
O corpo humano exige um constante suprimento de água para que possa permanecer saudável.
O ser humano pode ficar até 5 minutos sem respirar, 35 dias sem comer, mas morre aproximadamente
em 5 dias se não ingerir líquidos.
A água é essencial à vida. Todo ser vivo depende de um fluxo de água contínuo e do equilíbrio entre a
água que o organismo perde e a que ele repõe.
Uma das grandes dificuldades que se encontram numa sobrevivência no mar certamente será a
escassez de água doce.
A falta de água pode levar o indivíduo à morte por desidratação. Desidratação é a falta de água e de sais
minerais no organismo. É causada por perdas anormais de líquidos, principalmente por diarréia, vômitos
ou falta de ingestão. A desidratação ocorre quando o corpo não tem água suficiente para realizar as suas
funções normais e regulares. Ela pode ser leve, e causar sintomas como fraqueza, tonteira, dor de
cabeça e fadiga, ou severa, podendo levar à morte.
Obs.: É importante evitar a perda de água pela sudorese não realizando esforços físicos desnecessários
e mantendo uma boa ventilação na embarcação.
O grande desafio que fica para os sobreviventes é como obter água para consumo. É fato que na
sobrevivência no mar a água é o bem mais precioso, mais importante que o alimento. Portanto, a
primeira regra básica que deve ser observada é a de que se não houver água doce, não devemos nos
alimentar.
Outra regra importante que devemos ter em mente é: Jamais beber água do mar.
A razão é bastante simples quando fazemos uma análise química entre a água doce (possivelmente
potável) e a água salgada. Em comparação com a água doce, a água do mar e do oceano contém
grandes quantidades de sais, podendo variar de 30 a 39 gramas por litro, enquanto a água doce
apresenta um teor de salinidade próximo de zero.
Bebendo água do mar, o ser humano precisará de mais água para metabolizar e expulsar o sal contido
nessa água. Como em uma situação de sobrevivência no mar não existe água natural suficiente para
esse fim, a água utilizada pelo organismo será aquela contida e já armazenada nas células do corpo, o
que facilmente acelera o estado de desidratação e leva à morte.
O resultado da tentativa de aliviar a sede bebendo água do mar é praticamente inútil. A morte por água
salgada é semelhante à morte por sede.

Obtenção de Água Doce


Sabe-se que o que a tripulação tem de mais precioso e perecível em uma emergência é o tempo.
Dependendo da situação, ele pode ser escasso ou significativo. Separar mantimentos (alimento e água)
antes do pouso de emergência é algo que depende de tempo. Havendo essa possibilidade, essa
importante tarefa pode aumentar as chances de vida dos sobreviventes consideravelmente,
principalmente quando falamos de água em uma sobrevivência no mar. Portanto, a primeira fonte
possível e imediata de água que podemos ter em uma sobrevivência no mar é aquela trazida de dentro
da aeronave.
Outra fonte viável, porém dependente de condições meteorológicas, é a água da chuva. Utilizando o
balde, o captador de água presente no toldo, ou qualquer outro meio improvisado de coleta, toda e
qualquer água da chuva deve ser coletada.

Obs.1: A água da chuva não precisa ser purificada quando captada diretamente.

Como possibilidade final de obter água potável, é possível utilizar o dessalinizador ou a água potável
presente em recipiente apropriado, em cada conjunto de sobrevivência no mar.

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Obs.2: Vale destacar que a água potável presente nos conjuntos de sobrevivência no mar não vem em
grande quantidade. Portanto, essa água deve ser preferencialmente utilizada para primeiros socorros e
distribuída, se necessário, para crianças, idosos, gestantes e mais necessitados.

Obs.3: Dentro das possibilidades é recomendável o consumo de pelo menos meio litro de água por dia
em uma situação de sobrevivência no mar.

E, para finalizar o tópico obtenção de água, lembre-se: Estando em uma sobrevivência no mar:
 Não beba urina, sangue nem álcool;
 Não beba a água do mar.
Isso poderia agravar e muito a situação do sobrevivente.

O Racionamento da Água
A água existente na escorregadeira-barco ou no bote somente deverá ser utilizada passadas as
primeiras 24 horas. Primeiro porque existe uma grande possibilidade de os sobreviventes serem
encontrados e resgatados antes do término do primeiro dia. E segundo porque, após 24 horas, o
sobrevivente estará apenas levemente desidratado, e toda água ingerida será retida pelo organismo e
não desperdiçada através da urina.
Alimento
Havendo considerável reserva de água, e tão-somente se houver água, os sobreviventes no mar devem
direcionar os esforços para a obtenção de alimentos. Tal tarefa, além de possivelmente prover
alimentação para o grupo, mantém o sobrevivente ocupado e afastado de pensamentos negativos e
destrutivos.
Antes de estudarmos as formas de obtenção de alimentos no mar, vale destacar que aqueles trazidos da
aeronave devem ser cuidadosamente observados e analisados antes de ser consumidos. Essa medida
visa proteger os sobreviventes de possíveis alimentos deteriorados, que poderiam agravar o seu estado
físico.
Pesca
A pesca, com certeza, é a primeira opção alimentar para os sobreviventes.
No entanto, nem todos os peixes são comestíveis. Vamos dividir os animais marinhos em 5 grupos e
realizar um breve estudo do que é possível e perigoso quando falamos em nos alimentar com peixes.
Animais Mordedores
Nesse grupo encontraremos seres marinhos com características agressivas e/ou hábitos predatórios,
providos de poderosas mandíbulas com dentes afiados que podem causar graves ferimentos e/ou
mutilações ao ser humano, em um encontro casual ou provocado. Esse grupo se restringe basicamente
a tubarões, barracudas, moréias e outros peixes menores capturados por pescadores.
Animais Peçonhentos
Nesse grupo encontraremos animais providos de mecanismos naturais de defesa que entram em ação
apenas quando estes são importunados, não havendo a possibilidade de o homem ser passivamente
atacado e inoculado com a peçonha.
Obs.: Peçonha é uma substância qualquer de origem animal, produzida por uma glândula, capaz de
alterar o metabolismo de outro animal quando inoculada.
As conseqüências ocasionadas por uma peçonha estão diretamente correlacionadas a sua potência,
quantidade inoculada, peso e condições físicas da vítima. Provocam desde uma simples irritação a
reações de extrema dor.
De forma geral, não se deve tocar, manusear ou importunar os seres marinhos desconhecidos, evitando-
se os animais com formas e, principalmente, cores exóticas, que é a sinalização da natureza para o
perigo.

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No grupo dos animais marinhos peçonhentos, podemos destacar os ouriços, corais, caracóis
“venenosos” (apesar do nome são peçonhentos), águas-vivas, polvos (dependendo da espécie), o bagre
e a raia.
Animais Venenosos
Nesse grupo encontram-se os animais capazes de provocar algum tipo de envenenamento quando
ingeridos ainda frescos, pois podem apresentar secreções venenosas em seu organismo ou conter
substâncias químicas venenosas (toxinas) acumuladas em sua carne.
Os peixes venenosos quase sempre vivem em águas pouco profundas, apresentam forma estranha,
carne com odor desagradável, pele dura e em sua maioria possuem boca, olhos e guelras pequenas.
Um exemplo clássico de um peixe venenoso é o baiacu. Os peixes da família dos baiacus podem ser
identificados facilmente, pois inflam ao serem capturados.
Os polvos são habitualmente bons para o consumo. Porém, quando se alimentam de “moluscos
envenenados”, acumulam toxinas em seu organismo, tornando-se venenosos para o consumo humano.
Nesse caso, o polvo pode apresentar-se com uma coloração enegrecida e tentáculos avermelhados. Por
medida de segurança e precaução, os polvos com essas características devem ser descartados.
Animais Traumatogênicos
Nesse grupo são apresentados os animais que, apesar de raramente demonstrar qualquer
comportamento agressivo, são, ainda assim, capazes de ocasionar algum tipo de trauma ou lesão de
forma acidental. Porém sem a implicação de mordidas ou a inoculação de peçonha. A não ser nos
poucos casos em que podem provocar afogamento, na maioria das vezes os acidentes com esses
animais não costumam apresentar graves conseqüências.
Um exemplo de animal traumatogênico é a raia-jamanta.
Animais Eletrogênicos
Nesse grupo são apresentados alguns peixes que, apesar do comportamento inofensivo, não atacam o
homem. Tais peixes possuem órgãos especializados que produzem descargas elétricas. O choque
gerado por tais seres pode provocar, fora um bom susto, algum tipo de dano ao ser humano. A
eletricidade é uma importante constituinte na atividade metabólica de todos os seres vivos. No entanto, a
corrente elétrica gerada pelo metabolismo da maioria dos seres costuma ser tão pequena que só pode
ser detectada por instrumentos de laboratório extremamente sensíveis.
Nos animais terrestres, o ar atua como um bom isolante e as pequenas descargas são difíceis de ser
detectadas a qualquer distância de seu corpo. No caso dos peixes elétricos, seus órgãos especializados
descarregam eletricidade através da água, a voltagens relativamente altas, para deixar suas presas
aturdidas ou mesmo para protegê-los de seus predadores.
Existem cerca de 250 espécies de peixes em todo o mundo com órgãos elétricos especializados
capazes de produzir choque elétrico.
Dentre os vários peixes marinhos que possuem órgãos elétricos, os mais significativos, em termos de
ameaça ao homem, são as raias elétricas e os miracéus.
Após este breve estudo, vamos organizá-los em uma tabela de rápida referência.
C O N S U M O D E P E I X E S

Peixe Consumir Não Consumir Não Consumir Não Consumir Difícil


Peçonhento Venenoso Captura

Tubarão x
Moréia x
Barracuda x
Ouriço x
Água-Viva x
Raia x
Baiacú x
Elétricos x

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Dourado x
Atum x
Agulha x
Xaréu x
Obs.: Ostras, mariscos, mexilhões e outros moluscos, apesar de consumidos regularmente e em larga
escala com bastante segurança, podem, de forma ocasional, em decorrência do local onde vivem e da
época do ano, estar envenenados. O mau cheiro é uma característica marcante de moluscos que não
devem ser consumidos.

O Início da Pesca
Um outro fator que deve ser analisado e considerado é como iniciar a pesca. Lançando mão dos
equipamentos do conjunto de sobrevivência no mar, ou improvisando anzóis com alfinetes, grampos ou
qualquer outro material possível, o sobrevivente deve utilizar uma isca inicial para atrair os peixes.
Pequenos peixes são atraídos pela sombra proporcionada pela embarcação. Fazendo uso de uma rede
improvisada de pano, é possível capturar peixes menores e utilizá-los como iscas para atrair peixes
maiores. Outra opção de isca é algo que tenha sido pego da aeronave, e que possa servir para tal.
Outra maneira de atrair peixes para perto da embarcação é projetar o facho de luz de uma lanterna à
noite na água e tentar capturá-los ou pescá-los como já descrito anteriormente, utilizando uma rede
improvisada.
Nota: Não quero deixar aqui a sensação de que será fácil pescar ou até conseguir uma quantidade
significativa de peixes. No entanto, o período é de sobrevivência, e toda e qualquer possibilidade
existente de garantir a manutenção da vida humana nessa emergência foi cuidadosamente estudada e
relatada neste capítulo.
O Consumo do Peixe
Para consumo dos peixes capturados deve-se remover as escamas, desprezar uma parte da cauda e
limpá-los. Normalmente a carne do pescado crua não é salgada nem desagradável ao paladar.
Lembre-se de que as vísceras dos peixes capturados e limpos podem e devem ser utilizadas como iscas
na próxima pesca.

Tubarões
Ao notar a presença de tubarões nas proximidades da escorregadeira, pare imediatamente a pesca. Não
inicie a limpeza do peixe que tiver apanhado, tampouco jogue no mar as vísceras daqueles que já
tenham sido limpos. Saiba que os tubarões são atraídos por sons irregulares e por microscópicas
gotículas de sangue dispersas na água.
Ainda na presença de tubarões, não deixe mãos e pés para fora da embarcação. Tubarões normalmente
não são atraídos pela carne humana, e muitos ataques acontecem acidentalmente, pelo fato de o
tubarão confundir o membro humano com algum ser marinho. No entanto vale a precaução.
Caso esteja na água, recomenda-se permanecer imóvel; quanto mais nadamos, mais parecidos com
peixes ficamos. Na primeira oportunidade que tiver, retorne para a embarcação.
Caso o tubarão venha atacar a escorregadeira ou o bote, o que é uma possibilidade remota, procure
atingi-lo no focinho e na cabeça utilizando um objeto contundente.
As medidas aqui citadas não significam que estamos imunes aos ataques, porém podem funcionar.

Aves
As aves constituem alimento potencial e possível no mar. Estando próximo de uma encosta, a
probabilidade de uma delas utilizar a embarcação como ponto de descanso se faz presente.
Dentro das condições e limitações existentes, tente capturá-las o mais rápido possível.
Muitas são as espécies de aves que exploram o mar para sobreviver.

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Atobás, tesourões, gaivotões, albatrozes e algumas espécies de trintaréis são exemplos de aves que
podem ser encontradas no litoral brasileiro durante todo o ano.
Existem mais de 300 espécies de aves, divididas em 20 famílias ao redor do globo, que fazem uso do
mar como principal fonte alimentar.
Além de alimento potencial, a maior parte das aves é um importante indicador de que existe terra firme
nas proximidades.

O Racionamento do Alimento
Da mesma forma que a água, o alimento deve ser distribuído passadas as primeiras 24 horas. Vale
ressaltar mais uma vez, que em uma sobrevivência no mar, somente devemos nos alimentar se houver
água disponível.

Cuidados com a Saúde


Inúmeros são os prejuízos possíveis à saúde que os sobreviventes no mar poderão apresentar. Vamos
destacar os principais deles, e reconhecer as formas de minimizar esses impactos negativos e preservar
a vida.

Hipotermia: é uma condição existente quando a temperatura do corpo cai significantemente, podendo
ser fatal ao ser humano. A hipotermia pode ser causada através da exposição do corpo molhado ao
ambiente ou da exposição ao vento frio.
A perda de calor do corpo resulta em perda de destreza, perda de consciência, e eventualmente perda
de vida. Alguns minutos dentro da água fria fazem com que seja muito difícil nadar, respirar e até mesmo
se manter flutuando.
Pessoas de pequeno porte esfriam mais rapidamente que as pessoas de grande massa, e as crianças
esfriam mais rapidamente que os adultos. Ficará complicado sobreviver em águas geladas, caso não
exista nenhum equipamento coletivo de flutuação que possa manter os sobreviventes fora da água.
Observe a seguir a expectativa de vida de um ser humano imerso na água, submetido a baixas
temperaturas.

Temp. da Água ( C ) Tempo Estimado de Vida

< 4,5ºC Menos de 1 hora


Entre 4,5 e 10ºC Em torno de 1 hora

Entre 10 e 15,5ºC Em torno de 6 horas


Entre 15,5 e 21ºC Em torno de 12 horas

> 21ºC Indefinido (dependo da fadiga)

Expectativa de vida de um ser humano imerso na água em baixa temperatura.

Esses valores podem apresentar variações, dependendo do estado físico do sobrevivente e da massa corpórea .
Algumas medidas, caso sejam possíveis, deverão ser adotadas rapidamente, quando um ser humano
apresentar um quadro de hipotermia.
 Remover as roupas molhadas e manter-se seco.
 Proteger a cabeça, o pescoço e a nuca, pois são as regiões do corpo onde ocorrem as maiores
perdas de calor.
 Proteger-se do vento.
 Não tomar bebidas alcoólicas, pois elas abaixam o metabolismo do organismo e
conseqüentemente a temperatura do corpo.
 Evitar chá e café por serem diuréticos.
 Tentar restabelecer a temperatura do corpo gradativamente.
 Caso exista alguma parte do corpo congelada, não massageie ou friccione na tentativa de
transmitir calor, isto provocará lesões na pele podendo levar a uma infecção.

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Obs.: Caso seja inevitável a permanência na água, procure agrupar-se com outros sobreviventes que
também estejam imersos.
Poupe energia e evite agitações. Ao contrário do que se pensa, agitar-se vigorosamente retira do corpo
as últimas reservas de calor. Sendo possível apenas manter parte do corpo fora da água, faça isso, pois
quanto mais fora da água estiver, menos calor perderá.
Cuidados com lábios e pele: poderão ser agredidos pelos efeitos do calor e do frio. A única forma de
prevenir danos é tentar proteger essas partes de alguma maneira.
Prisão de ventre: devido à escassez de alimento e às dificuldades da situação, a falta de funcionamento
do intestino constitui fenômeno comum entre os sobreviventes.
Dificuldade de urinar: da mesma forma que a falta de alimento afeta o intestino, a escassez de água
debilitará diretamente o funcionamento dos rins. É normal a urina tornar-se gradativamente escura e
cada vez menos intensa.
Efeitos do calor e do frio: utilizar, dentro das possibilidades, vestimenta adequada é a melhor forma de
se prevenir contra os efeitos prejudiciais do frio e do calor. Independentemente da temperatura, procure
manter-se seco.
Efeitos da água salgada: a água salgada elimina a umidade natural da pele que a envolve e protege. O
contato direto da água salgada com a pele pode causar grandes assaduras e conseqüentemente
dolorosas feridas no corpo. Evite chegar a esse ponto não se expondo desnecessariamente à água do
mar.
Enjôo: segundo a cirurgiã plástica e capitã amadora Dra Cláudia Barth
(http://www.popa.com.br/diarios/claudiabarth/enjoo-nao-tem-cura.htm), “o enjôo marítimo, também
conhecido como cinetose, doença do movimento ou náusea do mar, é uma situação muito freqüente a
bordo e acomete até os mais experientes navegadores. É um fenômeno fisiológico, uma reação natural
do organismo às variações rápidas e constantes de posição. Caracteriza-se por sintomas como
sudorese, palidez, salivação, náuseas, tonturas, cefaléia (dor de cabeça), fadiga e vômitos. Até o
momento, não existe tratamento definitivo para esse problema”.
A utilização de medicação específica (disponível no conjunto de sobrevivência no mar) ainda é a melhor
forma de minimizar os efeitos do enjôo.
As drogas de melhor escolha são basicamente os anti-histamínicos. A principal ação dessas drogas é
uma diminuição das atividades do sistema nervoso central, caracterizada por uma espécie de sedação
do indivíduo afetado. Sintomas como sonolência e uma diminuição significativa dos reflexos são alguns
dos efeitos benéficos do medicamento contra enjôo.
Fadiga: definida segundo a professora de Educação Física, especialista em Dança Cênica e Mestre em
Ergonomia Rafaela Liberali Fiamoncini e o professor de Educação Física especialista em treinamento
Desportivo e Personal Trainer Rafael Emerim Fiamoncini (www.efdeportes.com/efd66/fadiga.htm), a
fadiga caracteriza-se como “um conjunto de alterações que ocorrem no organismo, resultante de
atividades físicas ou mentais, que levam a uma sensação de cansaço, com a diminuição da capacidade
de trabalho”.
Tal situação pode ser facilmente experimentada pelos sobreviventes caso as atividades relacionadas à
sobrevivência não sejam divididas de maneira igualitária. Ocupar as pessoas, dando a elas atividades
regulares e não excessivas, respeitando as condições físicas e os ferimentos de cada uma, é uma ação
que visa manter o sobrevivente ativo física e mentalmente, afastando pensamentos destrutivos que
podem causar quedas psicológicas acentuadas.

Conclusão – Sobrevivência no Mar


Como já citado no início do nosso estudo, calma, resistência, sobriedade e inteligência são
características fundamentais para uma pessoa que deseja sobreviver a uma situação-limite em que a
vida está em jogo. Para o comissário de voo, a situação não é diferente. Vontade de viver associada ao
conhecimento técnico são ferramentas fundamentais para que o profissional da área seja o elo entre a
esperança de quem está sob seus cuidados e as atitudes corretas que devem ser feitas e desenvolvidas
para que seja viável a tentativa de garantir o máximo de vidas possíveis após um acidente aeronáutico
de extrema grandeza e complexidade, como um pouso no mar com posterior período de sobrevivência.

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Bibliografia:
Paulino, Wilson R. Biologia Atual Volume 2. Editora Ática, 12ª edição, São Paulo, 1998.
Szpilman, Marcelo. Seres Marinhos Perigosos. Editora Instituto Aqualung, 21 de dezembro de 1998.
Fontes:
AF Regulation 64-4 United States – Air Force Search and Rescue Survival Training. 2002.
Brasil. Ministério da Aeronáutica. Departamento de Aviação Civil. Regulamento Brasileiro de
Homologação Aeronáutica 121. Aprovado pela portaria n483/DGAC de 20 de março de 2003.
Brasil. Ministério da Aeronáutica. Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Voo. Manual de Busca e
Salvamento MMA 64-2 – Sobrevivência na Terra e no Mar. 5ª edição. Rio de Janeiro, 15 de dezembro
de 1981.
Department of the Army Field Manual. US Army Survival Manual FM 21-76. Headquarters, Department
of the Army. Revision 1992.
Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal>
Distribuição mundial de recursos hídricos. Disponível em
<http://www.icb.ufmg.br/~limnos/distribuicao_da_agua_no_mundo. htm>.
Federal Aviation Administration. Disponível em <http://www.faa.gov>
Tubarão Branco. Disponível em <http://educar.sc.usp.br/licenciatura/98/deyves.html>
Peixes do Brasil. Disponível em <http://www.ubatubapraiagrande.com.br/animaisperigos/moreia.htm>
Lone Star Taxidermy Supply Co. Disponível em <http://www.lonestartaxidermy.com/barracuda.htm>
Peixes do Brasil. Disponível em <http://www.eishima.com.br/mergulho/biologia/sardinha>
Ourico do Mar. Disponível em <http://www.eishima.com.br/mergulho/biologia/Ourico-do-Mar- 01.jpg>
Búzios. Disponível em <http://www.buziosexplorer.com/galeria_de_fotos/submarinas.htm>
Peixes Comerciais dos Açores. Disponível em
<http://www.apoio_acores.homestead.com/files/u/commfishes.html >
Bonito 2000. Disponível em <http://www.terravalente.com/paginas/aventura/bonito2000.htm>
Pesca Artesanal, Espécies de Peixes. Disponível em <http://educom3.sce.fct.unl.pt/~p-esprei/pesca-
artesanal/especiesde-peixes.htm>
Oceânica de Cabo Frio. Disponível em
<http://www.oceanicaweb.com/english/fotos_pesca/pages/atum_2.htm>
Cidade Poesia. Disponível em <http://www.cidadepoesia.com.br/countrydive/fotos.htm>
Peixes do Brasil. Disponível em <http://www.antares.com.br/cbpds/html/agulha1.htm>
Peixes do Brasil. Disponível em <http://enchova.com/xareu.htm>
Popa.com.br. Disponível em <http://www.popa.com.br/diarios/claudiabarth/enjoo-nao-temcura.htm>
O Stress e a Fadiga Muscular: Fatores que Afetam a Qualidade de Vida dos Indivíduos. Disponível em
<www.efdeportes.com/efd66/fadiga.htm>
Rio de Janeiro. Manual do Curso de Formação de Comissários do Varig Flight Training Center.
Revisão 2. Porto Alegre: Gráfica Multipress FRB, 2005.
Rio de Janeiro. Manual Geral de Operações – Volume 3 – Manual do Comissário. Revisão 7. Porto
Alegre: Gráfica Multipress FRB,2002.
Equipped to Survive. Disponível em <www.equipped.com/ditchtoc.htm>
Inflight Safety – Ditching. Disponível em <www.warman.demon.co.uk/anna/ditching.htm>

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CAPÍTULO 08 - SOBREVIVÊNCIA NO GELO
Introdução
No Brasil, um país tropical, a literatura a respeito de procedimentos em relações a ambientes
extremamente frios é escassa e treinamento para sobrevivência nestas regiões é praticamente nenhum.
Normalmente montanhistas, militares estrangeiros e alguns profissionais de empresas que trabalham em
áreas congeladas recebem esse tipo de treinamento.
Os procedimentos e assuntos aqui abordados foram frutos de pesquisas no Manual da Força Aérea
Americana – US Army Survival Manual FM 21-76, na Enciclopédia Virtual Wikipédia, adaptados para
nossa necessidade, e também de informações gentilmente cedidas pelo Centro de Treinamento da
Finnair, Empresa Aérea Finlandesa.
Uma das situações mais difíceis de sobrevivência é no gelo. O frio e a neve são os maiores inimigos.
Mesmo com o dia claro e ensolarado a temperatura é altamente variável e as nevascas são constantes.
Com conhecimento do ambiente, das plantas, dos animais, dos equipamentos disponíveis a bordo das
aeronaves e de procedimentos apropriados, algumas dificuldades poderão ser superadas, o que
aumentará as chances de sobrevivência. Lembre-se de manter a calma, não ter pressa e preservar o
sono.
O frio é uma ameaça maior do que possa parecer. Ele diminui a capacidade de raciocínio do ser humano
e todas as suas forças são utilizadas para se manter aquecido. As baixas temperaturas paralisam o
corpo e a mente, o que diminui a vontade de sobreviver.
As regiões congeladas no planeta estão basicamente situadas no Pólo Norte, conhecida como Ártico, e
no Pólo Sul, a Antártica, ou Antártida.
O Continente Antártico, o mais isolado, frio, elevado e seco continente da Terra, está situado na região
polar austral; é formado por uma massa continental, localizada quase inteiramente dentro do círculo
polar antártico. É cercado pelo Oceano Antártico, formado pelo encontro das águas dos oceanos
Atlântico, Pacífico e Índico, conhecido como Confluência Antártica. O Continente Antártico constitui
quase 10% da área continental do planeta, aproximadamente o tamanho da América do Sul. Cerca de
98% dele está coberto de gelo e de neve durante todo o ano, com uma espessura média de 2.000 m,
que, em algumas regiões, pode ultrapassar 4.800 m.. Esse gelo representa 90% de toda a água doce do
planeta. As temperaturas médias anuais variam de 0ºC (verão) a –15ºC (inverno) no litoral e de –32ºC
(verão) a –65ºC (inverno) no interior do continente.

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Mapa da região antártica.

O continente da Antártica

O Ártico é a região pertencente ao Pólo Norte e faz parte do Círculo Ártico. Este inclui partes da Rússia,
Escandinávia, Groenlândia, Canadá, Alaska e o Oceano Ártico. Nessas localidades, 48% das terras são
consideradas regiões frias devido a sua localização, elevação do território e correntes do oceano.
Existem apenas duas grandes estações: um verão curto, de aproximadamente 3 meses, e um longo
inverno. As geadas são muito freqüentes. No verão uma fina camada de gelo se derrete tornando a
região muito úmida, quando então aparecem lagos, riachos e brejos. Nessa época do ano, devido à
umidade, a vegetação, conhecida como tundra, é basicamente de musgos, arbustos e salgueiros. A
temperatura média em um período de 24 horas é de –10ºC, ou acima desta. Essa estação caracteriza-se
pelo congelamento durante as horas mais frias da noite e o degelo durante o dia. Isso faz com que o
terreno se torne muito escorregadio e enlameado. A maior preocupação deverá ser proteger-se do
terreno úmido, da chuva congelada e da neve úmida.

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No inverno, a temperatura média no período de 24 horas permanece abaixo de –10ºC. Como nessa
época a temperatura é muito mais baixa do que a normal, o sobrevivente não terá de lutar contra o
congelamento e o degelo. Nessas condições ele precisará de várias camadas de roupas para se
proteger de uma temperatura que poderá chegar até a 60º negativos.

Globo elaborado pela Nasa com destaque do Ártico.

Uma condição extremamente perigosa é quando existe a combinação do vento com as baixas
temperaturas. Essa combinação é conhecida como sensação térmica (windchill), ou seja, o efeito do
vento na pele exposta. Por exemplo, com um vento de 27,8 km/h e uma temperatura de 10º negativos, a
sensação térmica é de 23º negativos. A seguir apresentamos uma tabela onde podemos ver a variação
de temperatura com o vento.

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Tabela de equivalência de temperatura.
É necessário lembrar que, mesmo que não haja vento, este poderá ser criado através de um movimento
acelerado, como correr, ou através do movimento de um veículo, ou do próprio motor da aeronave.
Em um ambiente congelado é muito mais difícil de se conseguir água, abrigo e alimento do que em
outros ambientes. Mesmo que se consiga satisfazer essas necessidades, o sobrevivente deverá ter
roupas adequadas para temperaturas tão baixas. Mas o essencial será a vontade de sobreviver.
Normalmente quando nos dirigimos a locais que envolvam temperaturas baixíssimas, portamos
equipamentos necessários para essas situações. No caso de aeronaves, elas possuem equipamentos
que deverão ser utilizados na eventualidade de uma sobrevivência no gelo.
O sobrevivente provavelmente não estará agasalhado o suficiente para se proteger de uma temperatura
tão baixa, e deverá ter noção de algumas regras para manter o corpo aquecido. Numa sobrevivência no
gelo as maiores dificuldades serão temperatura extremamente baixa, escassez de alimentos e a ação
dos ventos.
Após o pouso de emergência, os procedimentos corretos e, como já dissemos, a vontade de sobreviver
serão fundamentais para o sucesso da sobrevivência.
As ações imediatas e simultâneas deverão ser tomadas após o pouso de emergência como mencionado
anteriormente, não esquecendo que dentro da aeronave existem diversos equipamentos que serão
usados para a sobrevivência.
Vejamos detalhadamente quais os procedimentos do tripulante para uma sobrevivência em ambientes
congelados.

Abrigo
Em uma situação de emergência um abrigo será a melhor forma de proteção. O erro mais comum na
construção de abrigos é o seu tamanho: ele deverá ser grande o suficiente para protegê-lo e pequeno
bastante para conter o calor do corpo, especialmente no caso de uma sobrevivência no gelo. A sua
construção dependerá do material disponível e também da localização em que o sobrevivente se
encontrar.
Uma área arborizada fornece material para a construção de um abrigo, enquanto as áreas descampadas
provavelmente terão somente a neve e o gelo para a sua construção.
Em caso de um acidente aéreo, a fuselagem da aeronave poderá ser usada como abrigo somente no
verão, quando a incidência do sol é maior. Já no inverno ela não poderá ser utilizada, pois o metal
dissipará todo o calor gerado pelas pessoas. Caso o sobrevivente decida utilizar a fuselagem como
abrigo, deve-se certificar de que todo combustível da aeronave tenha se evaporado, evitando assim o
risco de explosão.
As escorregadeiras da aeronave também poderão ser utilizadas como abrigo. Deve-se tomar o cuidado
de não deixar acumular neve em cima do toldo.
Se a área onde se encontra o sobrevivente for descampada, ele terá como material de construção
somente a neve e o gelo. Os abrigos desse tipo requerem ferramentas apropriadas para sua construção
e exigem algumas providências a serem tomadas. No caso de um acidente aéreo, algumas aeronaves
possuem equipamentos como a machadinha e o facão do conjunto de sobrevivência na selva que
poderão ser utilizados. Até mesmo pedaços da fuselagem, manuseados sempre com muito cuidado,
podem auxiliar na construção de um abrigo. Devido à complexidade dos abrigos, serão gastos tempo e
muita energia para sua construção. O abrigo deverá ser bem ventilado e a sua entrada terá de ser
obstruída para evitar correntes de ar e manter o interior aquecido. Nunca durma diretamente sobre o
chão, utilize sempre alguma cobertura, tais como folhas, cortinas, assentos de poltrona. Isso manterá o
corpo do sobrevivente longe do solo e também proporcionará mais retenção de calor.
Abordaremos a seguir alguns tipos de abrigos que poderão ser construídos com neve e gelo. Uma
caverna na neve é um tipo de abrigo muito eficiente, pois a neve isola o frio; o inconveniente é que na
sua construção o sobrevivente provavelmente ficará molhado. Para construir esse abrigo será
necessário um local onde a neve tenha pelo menos 3 m de profundidade, para que se possa cavar um
buraco. Procure fazer com que o teto do abrigo fique arqueado, sem arestas e bem resistente,
permitindo assim que a neve derretida escoe pelas laterais. As paredes e o teto do abrigo deverão ter no
mínimo 30 cm de espessura. Para dormir, deve-se construir uma plataforma acima da entrada e distante
das paredes do abrigo, pois assim o sobrevivente não irá se molhar. O teto deve ser alto o suficiente
para que uma pessoa possa sentar-se em cima da plataforma. Feche a entrada da caverna com um

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bloco de neve ou outro material, faça um duto para ventilação dentro do abrigo. Caso a profundidade não
seja suficiente para cavar um buraco, esse tipo de abrigo também pode ser construído fazendo um
monte com a neve.

Caverna de neve.

Um outro tipo de abrigo poderá ser a trincheira de neve. A idéia nesse tipo de abrigo é que o
sobrevivente fique abaixo do nível da neve e utilize algum material como cortinas ou mesmo uma parte
da escorregadeira como telhado. Caso a neve esteja profunda, pode-se cortá-la em blocos e utilizá-los
como telhado na trincheira.

Trincheira de neve.

Em caso de neve compacta, também se pode construir um abrigo utilizando blocos de gelo para as
paredes e um material impermeável para cobrir o abrigo. No caso de nevascas deve-se retirar a neve da
cobertura impermeável em intervalos regulares, evitando danificar o material.

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Abrigo com blocos de gelo.

Em áreas congeladas normalmente os nativos constroem iglus, que são abrigos feitos de blocos de
gelo, muito eficientes porém requerem muita prática e ferramentas apropriadas para sua construção. Em
uma sobrevivência essas ferramentas deverão ser improvisadas com partes da aeronave ou algum
material metálico e resistente.

Construção de iglu.

A construção de abrigos em áreas arborizadas torna-se bem mais fácil. O tronco de uma árvore pode ser
usado como suporte para um abrigo e os galhos com folhagens como telhado ou cobertura, como mostra
a figura a seguir. Mesmo nesse caso a neve deve ser empilhada nas laterais do abrigo com a finalidade
de isolar o frio.
Até mesmo uma árvore caída poderá ser utilizada como abrigo, tomando-se o cuidado de retirar a neve
debaixo dela e os ramos de seu interior, que poderão ser utilizados como assoalho.

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Abrigo construído com árvore como suporte.

Árvore caída que poderá ser usada como abrigo.

Um abrigo poderá ser construído também junto ao tronco de uma árvore. Para isso deve-se encontrar
uma árvore frondosa e cavar um poço (buraco) junto ao tronco até alcançar a terra ou que atinja a
profundidade suficiente para uma pessoa ficar em seu interior. Coloque algumas folhagens no fundo do
poço e alguns ramos para servir de telhado. Deve-se ter o cuidado de não deixar acumular neve em
cima dos ramos.

Abrigo feito na base de uma árvore.

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Todo abrigo deverá ter uma ventilação. A maior preocupação principalmente em ambientes frios é o
envenenamento por monóxido de carbono. Ele poderá ser provocado pela queima de uma fonte de
fogo em um abrigo não ventilado. Dentro de um abrigo o sobrevivente jamais deverá adormecer com a
fonte de fogo acessa, inclusive uma vela. O monóxido de carbono é extremamente perigoso, é
completamente incolor e inodoro. Mesmo em um abrigo ventilado, poderá ocorrer o envenenamento por
monóxido de carbono. Geralmente não há nenhum sintoma. O estado de inconsciência e a morte podem
ocorrer sem nenhum sintoma. Raramente a pessoa poderá sentir uma pressão nas têmporas, ardência
nos olhos, sonolência, náuseas, pulsação acelerada. Um sinal característico de envenenamento por
monóxido de carbono é quando os lábios e as pálpebras se tornam muito vermelhas. Caso seja
observado esse sintoma em algum dos sobreviventes, ele deverá ser levado para fora do abrigo e
mantido em um local bem ventilado.

Obtenção de Fogo
Uma vez construído o abrigo, o sobrevivente deverá obter o fogo. De extrema importância, ele fornece
meios para a preparação e a preservação do alimento, produz fumaça e luminosidade, que servirão
como sinalização, oferece mais segurança e, principalmente em temperaturas muito baixas, ele ajuda na
obtenção e purificação de água e no fornecimento de calor.
As técnicas abordadas anteriormente para a obtenção e manutenção do fogo serão utilizadas também
nesse caso. Em uma região congelada, a obtenção de material combustível será mais difícil. Nas áreas
arborizadas os combustíveis de origem vegetal serão encontrados mais facilmente em baixas altitudes. É
importante que o sobrevivente conheça alguns tipos de plantas pois umas se queimam com mais
facilidade e outras produzem mais fumaça. As árvores do tipo Spruce (figura A) e Tamarack (figura B)
são frondosas e produzem muita fumaça, sendo ideais para sinalização. O tronco da árvore do vidoeiro
(figura C) queima-se rapidamente, como se estivesse embebido em óleo ou querosene. O salgueiro
cresce em regiões pantanosas do Ártico e também se queima rapidamente, com a vantagem de não
produzir muita fumaça. Outros vegetais que poderão ser usados como combustível são a grama e o
musgo, que quando amassados como uma bola se tornam mais produtivos, pois queimam lentamente.
Em regiões descampadas será mais difícil de conseguir combustível para o fogo. O mais provável será
gordura animal ou algum tipo de óleo. Uma opção será o combustível do tanque da aeronave. O ideal é
que ele seja retirado do avião enquanto estiver morno, caso não ofereça risco de explosão, pois uma vez
frio pode congelar e será mais difícil drená-lo. Caso não haja um compartimento para armazená-lo,
deixe-o cair sobre a neve para congelar e quando houver necessidade raspe e utilize-o. Tenha muito
cuidado ao manusear combustíveis derivados de petróleo, eles poderão causar queimaduras e
congelamento da pele. Produtos plásticos como talheres, sacos de polietileno ou materiais encontrados
na aeronave também se inflamam facilmente, podendo facilitar a obtenção de fogo.
Existem alguns cuidados que o sobrevivente deverá ter na utilização do fogo. Quando produzido por
materiais sólidos, o fogo queima em profundidade e não deverá ser feito próximo ao abrigo com o risco
de derretê-lo. O abrigo deverá ter uma ventilação adequada, evitando dessa forma o envenenamento por
monóxido de carbono. O sobrevivente deverá tomar cuidado para não queimar as roupas ou a si mesmo
na tentativa de se manter aquecido ou de secar sua vestimenta. A neve derretida pode molhar os
sobreviventes, os equipamentos e também extinguir o fogo.
Na preparação de alimentos existem algumas maneiras de utilização do fogo. Pode-se construir um tipo
de fogão lançando mão de algum material metálico, como uma lata, onde o fogo é armazenado sua
superfície aquecida para cozinhar o alimento. Além de ser fácil construí-lo, pelo fato de o combustível
ficar armazenado ele se conserva mais.
Outro modo de cozinhar é fazer uma fogueira com um suporte ao lado, apoiar uma vara e pendurar um
recipiente sobre o fogo.
Quando a finalidade é se aquecer, muitas vezes um fogo pequeno como o produzido por uma vela é
suficiente. Ele requer pouco combustível, gera calor e pode inclusive ser utilizado para esquentar uma
pequena quantidade de líquidos.

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Modelos de fogão.

Água Doce
O próximo passo será a obtenção de água doce, pois o ser humano não sobrevive muito tempo sem
água. Mesmo em regiões frias ele necessita de um mínimo de 2 litros de água por dia para manter o
corpo funcionando bem e não desidratar. O ser humano sobrevive mais tempo sem alimento, mas não
sem água. Até que se encontre uma fonte de água, ela deverá ser racionada. Em uma região congelada
não será muito difícil encontrar água, e devido às baixíssimas temperaturas ela é bem mais limpa. O
ideal contudo é que seja purificada para consumo. A localização e época do ano irão determinar onde e
como o sobrevivente a conseguirá. Durante o verão as melhores fontes de água poderão ser lagos,
lagoas, córregos e até mesmo rios. O gelo e a neve também poderão ser usados, porém devem ser
derretidos antes de consumidos. Comer neve e gelo reduz a temperatura do corpo, leva à desidratação e
pode provocar queimaduras. Caso o sobrevivente utilize a neve como fonte de água, deverá usar a que
está em camadas mais profundas pois a neve superficial poderá estar contaminada com fezes e urina de
animais ou mesmo do próprio homem. Caso o sobrevivente esteja próximo ao mar, ele poderá usar o
gelo para consumo. O gelo opaco e cinzento contém sal e deverá ser dessalinizado. Se estiver cristalino
e azulado, já perdeu sua salinidade e poderá ser consumido. Quando disponível, procure derreter o gelo
em vez de neve. Um copo de gelo rende mais água que um copo de neve, além de derreter mais
rapidamente. Para isso utilize uma lata ou um improvise um recipiente que possa ser colocado próximo
ao suspenso perto do fogo com um recipiente em baixo. O fogo não deverá ser feito somente para
obtenção de água, procure economizar combustível quando existem outras maneiras de conseguir água.
Uma vez que se tenha água, procure mantê-la próxima ao corpo, evitando que se congele novamente.
Ao armazenar água não encha completamente o recipiente e mexa-o regularmente; a água em
movimento demora mais para congelar.
O sobrevivente deve evitar beber muito líquido antes de descansar, para não ter de sair do abrigo e
resfriar o corpo.

Alimentação
Depois da água, o mais importante para o homem é o alimento. Embora possa viver algumas semanas
sem alimento, é necessária a ingestão mínima dele para manter o corpo saudável. As principais fontes
são: os alimentos trazidos da aeronave, alimentos vegetais e animais, pois fornecem calorias,
carboidratos gorduras e proteínas necessárias ao funcionamento do corpo humano. Em regiões
congeladas, dependendo da localização, existem diversos tipos de peixes, animais, aves e plantas.
Durante os meses de verão a vida marinha é abundante em rios, águas costeiras, lagos e córregos. As
águas costeiras do Atlântico e do Pacífico Norte são ricas em frutos do mar. Lá são facilmente
encontrados camarões, caramujos, moluscos, ostras e caranguejos. Em locais onde é grande a variação
das marés, na maré baixa são encontrados mariscos nos recifes bancos de areia e nas piscinas naturais.
Já onde a variação de marés é baixa, normalmente os mariscos são jogados na praia pelas
tempestades.
Nas águas do sul do Alasca e nas Ilhas Aleutas vive um tipo de ouriço- do- mar. Seus ovos, de coloração
amarela, são um excelente alimento rico em proteínas. Sua carapaça pode ser quebrada entra duas
pedras.
A seguir temos a ilustração de alguns moluscos e frutos do mar.

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Moluscos.

Os peixes representam uma excelente fonte de gordura e proteína, geralmente são mais abundantes do
que os mamíferos e mais fáceis de ser capturados. Para facilitar sua captura será necessário o
conhecimento de alguns de seus hábitos de vida. Os peixes não se alimentam em águas turvas, durante
a noite um facho de luz os atrai, o que facilita a pesca; quando existe algum tipo de correnteza, os peixes
normalmente se escondem entre as rochas, onde a água é mais tranquila. Para pescá-los o sobrevivente
poderá usar o anzol do conjunto de sobrevivência, ou mesmo improvisar um, ou até mesmo construir
uma lança conhecida como zagaia. A maioria dos peixes e suas ovas é comestível, com exceção da
carne do tubarão do Ártico e os ovos de um tipo de peixe conhecido como sculpin.

Sculpin

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Geralmente os moluscos e mexilhões são mais saborosos do que os caramujos. No Ártico existe um
molusco conhecido como mexilhão negro que é altamente venenoso. Sua toxina é comparada a
estricnina, e ele não deverá ser ingerido.
Outro animal marinho comestível é o pepino-do-mar. Dentro do seu corpo existem músculos brancos e o
sabor é semelhante ao dos moluscos. No verão normalmente eles ficam mais na superfície, podendo ser
pegos com as mãos.
Nas rochas encontram-se diversos tipos de algas que são comestíveis e frequentemente os peixes
Herring depositam seus ovos nessas algas; esses ovos também são altamente proteicos.

Arenque

Existem várias técnicas para captura dos peixes já descritas neste livro e elas podem ser adaptadas para
regiões congeladas.
Diversos animais marinhos são encontrados no litoral de regiões congeladas. O urso-polar é um
exemplo, mas deve-se evitá-lo pois é o mais perigoso de todos os ursos. A carne do urso-polar não deve
ser cozida e seu fígado não pode ser utilizado como alimento, pois nele há uma concentração altamente
tóxica de vitamina A.
Um animal mais fácil de encontrar é a foca; contudo o sobrevivente deverá ser hábil para se aproximar
dela e aprisioná-la. Normalmente as focas descansam próximas aos buracos no gelo e estão sempre
muito atentas aos ursos-polares, seus grandes inimigos. A melhor maneira de se aproximar das focas é
ficar a favor do vento e mover-se em direção a elas cautelosamente enquanto elas dormem. Ao menor
movimento elas escorregam para dentro da água pelos buracos. Quando o caçador chegar bem próximo
dela deve matá-la instantaneamente acertando a sua cabeça. É preciso pegar a foca antes de ela
escorregar para a água; depois de morta ela boiará e será muito difícil retirá-la de dentro da água. A pele
e a gordura da foca não devem entrar em contato com rachaduras na mão; isto provocará uma reação
alérgica de inchaço conhecida como “spekk-finger”. O sobrevivente deverá tomar muito cuidado, pois
onde tem focas, tem ursos-polares.
Em regiões arborizadas podem-se encontrar porcos-espinhos. Eles se alimentam de árvores, portanto ao
encontrar árvores com troncos descascados, existe a possibilidade de eles estarem por perto.
Durante o inverno as aves são mais difíceis de ser encontradas. As que permanecem são as corujas,
alguns tipos de corvos, os “Jays Canadenses”, Pitarmigans e Grouse, mesmo assim são raramente
avistadas nos topos das árvores. As Pitarmigans e as corujas são as melhores para serem utilizadas
como alimento, os corvos possuem pouca carne, não valendo a pena o esforço de capturá-los. Já no
verão torna-se mais fácil a captura dos pássaros, pois eles ficam de 2 a 3 semanas sem voar devido à
época de reprodução. Ao capturar uma ave, o sobrevivente deve retirar as penas e a pele enquanto ela
ainda estiver morna, pois ao esfriar a dificuldade será muito maior. Caso não consiga fazer isso a tempo,
deve-se retirar as vísceras e armazenar a carne em pequenos pedaços, congelando-os separadamente,
descongelando somente o necessário para consumo.
As plantas também poderão ser utilizadas como alimento, pois fornecem proteínas e carboidratos,
principal fonte de energia. Mesmo em um ambiente congelado onde a carne é praticamente essencial, as
plantas podem sustentar o sobrevivente. O inconveniente de regiões congeladas é que embora as
tundras suportem uma variedade de plantas nos meses mais quentes, elas são muito escassas. A seguir
daremos exemplos de plantas dessas regiões, como uva do Monte Ártico, raspberry, salgueiro, uva-de-
urso, entre outras. Contudo, o sobrevivente deverá ficar atento ao fato de existirem algumas plantas
venenosas. Deve-se usar somente plantas conhecidas; caso tenha dúvida, o sobrevivente precisa seguir
o teste do CAL (cabeludo, amargo e leitoso).

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Condições de Higiene
Em uma sobrevivência as condições de higiene do acampamento são essenciais para a saúde e
segurança dos sobreviventes. Para isso dois tipos de fossas deverão ser construídos. A fossa de
detritos é onde será depositado o lixo do acampamento, tais como vísceras de animais, restos de
alimentos. Ela deverá ser construída longe do acampamento, evitando a aproximação dos animais
selvagens.
A fossa de dejetos será onde os sobreviventes farão suas necessidades fisiológicas. Os cuidados com
a construção dessa fossa é que ela deverá estar distante do acampamento; caso tenha por perto uma
fonte de água corrente, como um rio ou córrego, ela ficará abaixo do acampamento seguindo a
correnteza, evitando assim a contaminação do acampamento. Deve-se também cobri-la com gelo ou
terra após a sua utilização, o que encobre os rastros para predadores. O caminho do acampamento até
a fossa de dejetos deverá ser sinalizado, e, sempre que alguém for utilizá-la, jamais deverá ir sozinho.
Após tomadas as ações imediatas e simultâneas, o sobrevivente deverá continuar com precauções e
atitudes para evitar maiores problemas e colocar em risco a sobrevivência.
Como já falamos anteriormente o sobrevivente deverá se manter aquecido e existem algumas formas
para isso. Por exemplo, procure manter sempre a cabeça, o pescoço, os pulsos e os tornozelos
cobertos. Perdemos de 40% a 45% do calor do corpo com a cabeça desprotegida e podemos perder
muito mais calor se estivermos com o pescoço, os pulsos e os tornozelos descobertos, pois essas partes
do corpo irradiam calor mas possuem pouca gordura, o que permite a liberação do calor corporal. Na
cabeça possuímos muita circulação sanguínea e a maioria dela é superficial; logo, com a cabeça
desprotegida perde-se calor rapidamente, permitindo que o cérebro se torne muito vulnerável.
No manual de sobrevivência do Exercito americano, existem quatro princípios básicos para manter o
corpo aquecido, e o modo que eles encontram para se lembrar deles é utilizando a palavra COLD
(FRIO), fazendo a seguinte associação:
C – Keep clothing clean – Mantenha as roupas limpas – Isto é muito importante para o conforto e
higiene do sobrevivente. As roupas quando sujas e gordurosas perdem a sua capacidade de isolamento.
O – Avoid overheating – Evite o superaquecimento – Quando o corpo fica muito quente, ele começa a
transpirar, as roupas absorvem o suor ficando úmidas, e quando o suor se evapora o corpo esfria. Deve-
se colocar uma quantidade de roupa suficiente para aquecer o corpo. Caso comece a transpirar, abra ou
retire o agasalho, descubra por alguns instantes a cabeça e as mãos. Quando superaquecidas, elas
dissipam muito calor para o restante do corpo.
L – Wear clothes loose and in layers – Vista roupas largas e em diversas camadas – Use roupas
largas e de preferência um agasalho sobre o outro. Roupas e sapatos apertados restringem a circulação
sanguínea propiciando ferimentos e reduzem o isolamento do corpo. É melhor usar vários agasalhos
leves do que um agasalho pesado, dessa maneira pode-se equilibrar o aquecimento do corpo retirando
um agasalho para evitar a transpiração.
D – Keep clothing dry – Mantenha as roupas secas – Em temperaturas muito frias, as roupas tendem
a ficar úmidas por causa da transpiração, ou caso não sejam impermeáveis. Isso poderá ocorrer devido
à chuva ou à neve que derrete com o calor do corpo. Se possível, proteja-se com uma cobertura
impermeável. Retire sempre a neve de cima do agasalho. Meias e luvas molhadas podem ser secas
junto ao corpo ou mesmo próximo ao fogo ou ao sol, suspensas em um varal improvisado. O importante
é não usar roupas molhadas, pois a umidade na roupa diminui a sua capacidade de isolamento.
Durante a noite procure dormir sobe uma proteção impermeável, como um saco plástico ou mesmo a
escorregadeira da aeronave. Mantenha sempre a proteção onde vai deitar seca e limpa. Dentro dos
conjuntos de sobrevivência existem diversos artigos essenciais, como faca, fósforos, lanterna, ração, e
equipamentos de sinalização como foguetes sinalizadores, espelho, corante marcador, apito. Lembre-se
de separar todos os equipamentos e mantenha-os sempre perto e de fácil acesso, pois ao avistar ou
ouvir uma aeronave a sinalização deverá ser feita imediatamente.
A higiene pessoal dos sobreviventes é outro fator muito importante.
Fazer a higiene diária poderá ser difícil, principalmente em um ambiente congelado.
Procure sempre se lavar pois a pele limpa evita rachaduras, o que poderá se tornar um problema mais
sério.

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Pegue um punhado de neve limpa e lave as partes do corpo onde se acumulam mais o suor e a
umidade, como embaixo dos braços e dos pés. Porém tome cuidado de verificar se a pele não contém
rachaduras ou ulcerações.
Lave os pés diariamente, principalmente entre os dedos, e calce meias limpas e secas.
Mude as roupas íntimas pelo menos duas vezes na semana. Se forimpossível lavar as roupas, pode-se
colocá-las sobre a neve para congelar e depois sacudi-las e aquecê-las junto a uma fonte de calor.
O acúmulo de suor e sujeira na roupa poderá provocar o aparecimento e a proliferação de piolhos. Faça
um exame diário no corpo e nas roupas; caso exista algum, pendure a roupa no frio e a seguir bata-a ou
escove-a. Esse procedimento livrará as roupas dos piolhos mas não dos ovos, logo deverá ser feito
diariamente. Outra maneira de evitar parasitas é raspar os pelos do corpo. Se for impossível, procure
fazê-lo antes de se deitar, isso fará com que a pele, que estará muito sensível, se recupere mais
rapidamente. A higiene pessoal além de ser um fator de preservação da saúde é uma forma de elevar a
autoestima do grupo.

Condições de Saúde
Entre as muitas questões que podem comprometer o sucesso da sobrevivência estão os problemas
médicos. Muitos sobreviventes relataram a dificuldade do tratamento das doenças e dos ferimentos
devido à falta de treinamento e de conhecimento nos procedimentos de primeiros socorros.
Os sobreviventes relacionaram que, pelo fato de não terem condições de tratar as moléstias, eram
tomados por um sentimento de impotência e apatia.
Numa situação como essa, uma pessoa com o mínimo de conhecimento em primeiros socorros pode
fazer a diferença. Sem um médico qualificado disponível, é você quem deve saber o que fazer para
permanecer vivo.
Normalmente a temperatura interna em um corpo saudável é de 37ºC. Essa temperatura poderá ser
verificada no tronco de um corpo, pois, devido à camada de gordura, ela se mantém estável. Já na
cabeça e nos membros inferiores e superiores, mais desprotegidos, a temperatura varia muito.
O corpo humano possui um “sistema” que reage quando a temperatura ambiente é muito baixa. Essas
reações visam manter a temperatura do corpo equilibrada, evitando que os órgãos sofram algum tipo de
dano.
O corpo reage de 3 maneiras: produzindo calor, perdendo calor e através do suor. É mais fácil perder
calor do que produzi-lo. O suor é o modo mais fácil que o corpo encontra de liberar calor e equilibrar a
temperatura.
Uma reação natural do corpo quando sente frio é o tremer ou o tiritar. Esse movimento faz com que o
corpo produza calor. Estima-se que um homem despido, sem a influência de correntes de ar, a uma
temperatura de aproximadamente 0ºC, possa manter o calor do corpo se movimentando. Porém ele não
poderá se manter ativo por muito tempo, pois o corpo entrará em fadiga.
O conhecimento de alguns sintomas será fundamental para a prevenção de doenças.
A seguir abordaremos algumas doenças ou ferimentos que poderão ser causados pelo frio. Eles deverão
ser tratados assim que identificados, evitando assim que piorem e que a sobrevivência se torne mais
difícil.
Uma das doenças mais comuns nesse tipo de ambiente é a hipotermia, ou seja, quando a temperatura
do corpo diminui rapidamente. O corpo molhado, o contato direto com a neve ou o ambiente congelado
são as causas mais comuns.
O primeiro sintoma de hipotermia é quando o corpo começa a tremer podendo progredir a ponto de se
tornar incontrolável. Ela faz com que o indivíduo perca a capacidade de cuidar de si mesmo.
O início da hipotermia ocorre quando a temperatura do corpo cai a aproximadamente 35ºC e o corpo
começa a tremer.
Quando a temperatura corporal fica entre 35ºC e 32ºC, os sintomas se agravam tornando o raciocínio
lento e irracional e dando uma falsa sensação de calor. Com a temperatura entre 32ºC e 30ºC os
músculos tornam-se rígidos, o cérebro perde a consciência e mal se conseguem detectar sinais de vida.
Se a temperatura da vítima cair abaixo de 25ºC a morte é praticamente certa.
O tratamento para a hipotermia é o aquecimento do corpo. Esse aquecimento, porém, deverá ser feito
utilizando-se de procedimentos corretos. Caso seja possível, aqueça o corpo da vítima com água morna.

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É necessário que se tenha muito cuidado, pois somente o tronco deverá ser aquecido e a temperatura
da água deverá estar entre 37,7ºC e 43,3ºC. O procedimento de imergir o corpo todo da vítima em água
quente somente poderá ser feito em um hospital, porque existe o risco de uma parada cardíaca ou de a
vítima entrar em estado de choque.
Um outro procedimento para aquecer o corpo da vítima é o de envolvêlo junto com outra pessoa em
panos aquecidos. Nesse caso, ambos deverão estar despidos para que haja uma rápida troca de calor.
Entretanto deve-se tomar cuidado em não permanecer enrolado por muito tempo, pois isso poderia fazer
com que a outra pessoa se tornasse vítima de hipotermia também.
Se a vítima estiver consciente, pode ser dado a ela algum líquido quente e doce. Uma das melhores
fontes de calorias é o mel ou a dextrose. Se não existir açúcar, pode-se usar chocolate ou até mesmo a
ração presente no conjunto de sobrevivência. Porém se a vítima estiver inconsciente, jamais a force a
beber algo.
Existem perigos no tratamento da hipotermia como o aquecimento rápido do organismo, que poderá
causar problemas circulatórios na vítima e até mesmo gerar uma parada cardíaca.
Um dos fatores que poderão afetar os sobreviventes é o congelamento de algumas partes do corpo. Ele
pode aparecer muitas vezes como uma ulceração, e uma das maneiras de identificá-lo será pela
coloração da pele. Em um congelamento superficial, somente a pele ficará congelada, com sinais de
palidez, sem cor; já um congelamento profundo terá sua extensão bem maior, onde os tecidos se
tornarão imóveis e sólidos. Os pés, as mãos e partes expostas do rosto são muito suscetíveis ao
congelamento. As fotos a seguir ilustram esse tipo de congelamento.

Congelamento dos dedos.

Congelamento das mãos.

A melhor maneira de prevenir o congelamento quando o sobrevivente estiver em grupo é um observar a


face do outro para identificar rapidamente algum sintoma, e quando estiver sozinho será cobrir o nariz e
partes do rosto, e manter as mãos sempre com luvas.

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Existem algumas formas de o sobrevivente evitar o congelamento de regiões mais vulneráveis do corpo
quando não possuir agasalho suficiente.
A circulação do rosto pode ser ativada fazendo caretas e exercícios com os músculos faciais. O rosto
poderá ser aquecido também com o calor das mãos. Procure mexer sempre as orelhas e aquecê-las
com as mãos. Mova as mãos dentro das luvas, procure mantê-las próximas ao corpo. Movimente
sempre os pés e os dedos dentro dos calçados.
A perda de sensibilidade nas mãos e nos pés pode ser um indício de congelamento. Verifique a
coloração das mãos, pés, face e orelhas periodicamente. Caso se verifique a mudança de coloração da
pele, procure aquecê-la e evite que volte a resfriar-se. Jamais se deve esfregar neve no local da
ulceração. Evite bebidas alcoólicas; ao contrário do que se pensa, ela não aquece o organismo. Jamais
tente descongelar algum membro que esteja completamente congelado sem assistência medica.
Cuidado ao tocar alguma extremidade do corpo caso esta esteja congelada, pois ela poderá se quebrar
com muita facilidade.
O frio intenso e a umidade podem causar lesões irreversíveis aos pés.
Os primeiros sintomas são a sensação de agulhadas nos pés, formigamento, falta de sensibilidade e dor.
No início os pés ficam encharcados e enrugados, podendo chegar a uma coloração azulada, tornam-se
frios, inchados e com uma aparência de encerados. Andar fica praticamente impossível, pois os pés
ficam dormentes e muito pesados. Em casos extremos pode ocorrer a gangrena, o que levará à
amputação dos pés e das pernas. Lave os pés diariamente e use meias secas. A melhor maneira de se
prevenir é manter os pés sempre secos e agasalhados.
Em um ambiente muito frio, por mais estranho que possa parecer, uma das doenças mais frequentes é
a desidratação. A pessoa na intenção de se manter aquecida fica muito agasalhada e
consequentemente perde muitos fluidos corporais, necessitando de mais água. Os sintomas da
desidratação são urina escura com odor forte, olheiras, falta de elasticidade da pele e sede.
Quando a temperatura é muito baixa a pele exposta ao sol poderá sofrer queimaduras, pois o reflexo dos
raios solares na neve, no gelo e na água se torna mais intenso. Em casos de quedas ou pousos forçados
de aeronaves, os kits de sobrevivência contêm protetor solar que deverá ser aplicado nos lábios e nas
áreas expostas.
Outra parte do corpo com a qual se deve tomar cuidado são os olhos. O reflexo dos raios solares na
neve pode causar um tipo de cegueira temporária, que é conhecida como cegueira da neve
(snowblindness), e os sintomas são a sensação de areia nos olhos, vermelhidão, olhos lacrimejantes,
dor dentro e ao redor dos olhos e na cabeça. A exposição prolongada aos raios ultravioleta pode causar
danos permanentes à visão. Esse tipo de cegueira pode ser prevenido com o uso de óculos de sol,
inclusive em dias nublados, e eles podem ser improvisados com pedaços de cartões, tecido, lascas de
madeira ou outro material como mostra a próxima figura.

Exemplo de proteção para os olhos.

Uma alternativa é pintar a parte de baixo dos olhos com tinta preta ou escura para reduzir a
luminosidade. Em alguns kits de sobrevivência existem pomadas oftálmicas que evitam queimaduras
oculares e também lubrificam os olhos.

Animais de Regiões Geladas

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Um dos maiores inimigos em uma situação de sobrevivência serão os animais. O sobrevivente deverá
ter um mínimo de conhecimento a respeito deles e tomar certas precauções para evitar um ataque.
O urso-polar, por exemplo, é um dos maiores da sua espécie. Alguns deles podem atingir cerca de 2 m
de comprimento e pesar 700 kg. Apesar de ser pesado e maciço, move-se com extrema facilidade, seu
pêlo longo e gorduroso mantém seu corpo aquecido, além de possuir uma camada de gordura
subcutânea que é uma proteção adicional contra o frio. É um excelente pescador e caçador e investe
contra as suas vítimas tanto na água quanto em terra firme. É muito inteligente, incansável, tem
excelente visão e um faro extraordinário. Paciente e esperto, aguarda o momento exato para atacar a
vítima. Sua presa favorita é a foca, mas também se alimenta de outros mamíferos e de peixes como
bacalhau e salmão. Essa espécie é extremamente perigosa para o homem, que encara como presa
especialmente se não houver abundância dos seus alimentos habituais. É uma espécie exclusiva do
hemisfério norte e habita as regiões do Ártico.

Urso-polar.

As focas são um dos mamíferos aquáticos mais conhecidos, vivem em grandes colônias nas áreas
setentrionais do Atlântico e do Pacífico. Fazem incursões em água doce, podendo percorrer rios e lagos
muitas vezes distante da costa. Alimentam-se sobretudo de peixes, lulas e caranguejos. As focas nadam
muito bem tanto no fundo das águas como na superfície, podem atingir profundidades de até 100 m e
ficar sem respirar por mais de 10 minutos. Embora tenham uma espessa camada de gordura sob a pele,
que as protege do frio, elas adoram tomar sol. Enquanto o grupo se aquece, alguns machos ficam de
vigia. Durante os invernos rigorosos, as focas vivem sobre o gelo, porque é o lugar mais quente. Fazem
buracos na superfície gelada, emergindo de vez em quando para respirar. Os principais predadores das
focas são o homem e o urso-polar.

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Foca Foca-leopardo.

Os leões-marinhos, também conhecidos por focas orelhudas, são mamíferos carnívoros habitantes das
costas rochosas, e frequentemente são confundidos com as focas. Recebem essa denominação devido
à força da sua voz e à juba relativamente espessa, exibida pelos machos. Alimentam-se principalmente
de peixes, crustáceos e moluscos. O leão-marinho pode chegar a medir 6 m e a pesar até 3 toneladas.
São encontrados no Ártico, do Estreito de Bering até as costas ocidentais dos Estados Unidos, Japão e
no Pacífico Norte. Na época do acasalamento é quando os machos se tornam mais agressivos, lutando
contra os seus opositores para estabelecer e manter o seu território. O homem é seu maior predador.

Leão-marinho.

A skua, Catharacta skua, ou gaivota-rapineira, é também uma das aves mais características da
Antártica. Possui um bico forte em forma de gancho e sua plumagem é escura. Essa ave é bastante
agressiva e defende seu território contra todos os invasores, inclusive o homem, lançando-se em voo
rasante sobre ele. Possui uma atração especial por ovos e por pequenos filhotes de pingüins. As skuas
vivem em casais e seus ninhos são covas construídas nos musgos, onde põem de um a dois ovos de um
verde cinza-oliva com manchas escuras. Seus filhotes são de cor marrom acinzentado claro. Uma
característica interessante dessas aves é que elas podem migrar para o Ártico durante o inverno
antártico.

Skua.
Deslocamento em Regiões Geladas
No último assunto deste capitulo abordaremos o deslocamento em um ambiente congelado.
Normalmente o sobrevivente estará, de certa forma, sendo “monitorado” por algum tipo de comunicação
com uma base, seja escalando uma montanha, seja em casos de acidente aéreo. A estimativa de
resgate é rápida, a não ser pela dificuldade de acesso ao local. Como já mencionamos anteriormente, o
sobrevivente deverá se manter próximo ao local do último contato feito com a base ou próximo ao local
do acidente, e só deverá abandonar esse o local quando tiver a certeza de que poderá alcançar algum
lugar onde haja auxílio Caso seja necessário se deslocar, o sobrevivente deverá tomar certos cuidados
com os diversos obstáculos existentes. Deslocar-se na neve é praticamente impossível, nunca se sabe
qual a profundidade que ela poderá atingir. Jamais se deve viajar durante uma tempestade. Evite andar
sobre lagos, córregos, rios ou mar que estiverem congelados, eles podem parecer congelados, mas a
camada de gelo pode ser muito fina e se quebrar. Viaje somente durante o dia, e se desloque sempre
em silêncio, qualquer barulho poderá provocar deslizamentos de neve. O deslocamento deverá ser feito
sempre em grupos, uns amarrados aos outros, as roupas devem ser de cores vivas para facilitar a

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identificação na neve. E, o mais importante, o primeiro componente do grupo deverá estar equipado com
uma haste metálica para sondagem do solo. No solo congelado são encontradas as gretas e fendas.
As gretas e fendas são grandes fissuras no gelo que podem conter algumas dezenas ou até centenas
de metros que ficam escondidas quando neva. Se alguém cair em uma greta, poderá se machucar
seriamente ou não conseguir sair de dentro dela. Essas armadilhas escondidas debaixo do gelo são a
causa de morte da maioria dos escaladores, seguidas pelas avalanches.
Dessa forma concluímos este capítulo, lembrando mais uma vez que o fundamental ao sobrevivente é
acima de tudo a sua preservação e a vontade de sobreviver.

Deslocamento no Gelo
Estudos mostram que se deve permanecer próximo aos destroços do acidente, pois a probabilidade de
resgate é maior. Caso se decida por abandonar o local, deve-se fazê-lo somente se tiver a certeza de
conhecer sua posição geográfica e de que se conseguirá alcançar algum ponto onde haja socorro.
Para ajudar nesse deslocamento pode-se utilizar a orientação de direção pelo sol, pelo relógio e pela
bússola, além da navegação terrestre diurna, itens já descritos anteriormente no capítulo de
sobrevivência na selva.
Fontes:
Department of the Army Field Manual. US Army Survival Manual FM 21-76. Headquarters, Department
of the Army. October 1970.
http://www.guiageografico.com/ (acesso em 29/8/2005 à 1:30 PM)
http://pt.wikipedia.org (acesso em 27/8/2005 às 9:47 PM)
http://sotaodaines.chrome.pt/Sotao/leao_marinho.html (acesso 28/8/2005 às 7:24 PM)
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/geografia_antartica_9.html (acesso 28/8/2005 às 8:01 PM)
http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/imagepages/9339.htm (acesso 29/8/2005) às 4:40 PM)
http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/imagepages/3072.htm (acesso em 29/8/2005 às 4:45 PM)

CAPÍTULO 09 - SOBREVIVÊNCIA NO DESERTO


Introdução
Quando falamos em sobrevivência, devemos estar preparados para enfrentar ambientes hostis e de
natureza completamente estranha a que estamos acostumados, como por exemplo a sobrevivência no
deserto.
O tema que iremos abordar neste capitulo nos orienta quanto aos melhores procedimentos a serem
adotados para obter sucesso em caso de um período de sobrevivência no deserto.

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A maior parte desses procedimentos foi pesquisada no Manual de Sobrevivência das Forças Armadas
Americana - US Army Survival Manual (FM 21-76).
Um quinto da superfície do nosso planeta é formado por desertos. São terras secas e desabitadas, onde
o fenômeno da vida é raro e complicado.
O deserto é uma terra de extremos, com bruscas mudanças de temperatura, onde os dias são muito
quentes e as noites extremamente frias e, sobretudo, com longos períodos de ausência de chuvas.
A principal característica de um deserto é a seca. São lugares áridos, que podem ser quentes ou frios,
dominados por montanhas, planícies, pedras ou areia.
A areia esta ligada à imagem que temos dessas regiões, mas cobre somente em torno de 20% dos
territórios classificados como desertos no mundo.
O ecossistema dessas áreas é complexo e muito estudado, sabe-se que existem animas e plantas que
vivem nessas regiões e que possuem algumas características em comum: sobrevivem com pouca
quantidade de água.
Conseguem encontrar e armazenar líquidos e possuem mecanismos de sobrevivência semelhantes para
evitar sua perda ou evaporação.
Os desertos são encontrados em diversas regiões do mundo, com extensões territoriais variáveis. O
maior e o mais conhecido é o Deserto do Saara, na África.

Fotografia do Deserto do Saara.

Existem ainda desertos de menor extensão territorial, como o do Atacama, na América do Sul.

Fotografia do Deserto do Atacama.


E o de Mojave, na América do Norte.

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Fotografia do Deserto de Mojave
Os desertos estão assim distribuídos no mundo:

Ilustração da distribuição dos desertos no mundo.

Quando pensamos em sobreviver em áreas desérticas, vários fatores devem ser observados. A maior
dificuldade está na resistência às temperaturas extremas e na obtenção de água.
Existem alguns fatores ambientais que devemos considerar:
Mudanças bruscas de temperatura: As temperaturas em áreas áridas são extremas, durante o dia
podem estar em 55ºC, e abaixo dos 10ºC à noite.
Luz solar e calor intenso: Estão presentes em todas as áreas áridas, as temperaturas durante o dia
podem subir drasticamente devido à luz solar direta, aos ventos quentes e ao reflexo no solo e nas
rochas.
Escassez de chuvas: É o fator mais evidente em uma região árida, chove muito pouco nos desertos;
em alguns deles a quantidade de chuva não chega a 10 cm anuais. Essas chuvas geralmente são
provenientes de torrentes breves e em áreas isoladas. Como não podemos sobreviver por longos
períodos sem água, especialmente no deserto, devemos procurar outras fontes e recursos para sua
obtenção.
Após a evacuação da aeronave, ações imediatas e simultâneas devem ser efetuadas: afastar-se da
aeronave, sinalização e a prestação dos primeiros socorros compreendem essas ações.
Os recursos para tomada dessas ações, como rádio-sinalizador, os kits de sobrevivência e os outros
equipamentos disponíveis também devem ser utilizados como já citado.
Existem ainda as ações subsequentes que compreendem a obtenção de: abrigo, fogo, água e alimento.
Veremos as melhores ações e práticas para obtenção desses recursos em uma sobrevivência no
deserto.
Obtenção de Abrigo

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A construção de um abrigo é fundamental para proteger e trazer segurança aos sobreviventes. Deve ser
construído próximo ao local do acidente para facilitar o trabalho das equipes de resgate.
A utilização da aeronave como abrigo só deverá acontecer após a evaporação do combustível e a
eliminação do risco de explosão. A avaliação do seu estado e da existência de mortos é fator a ser
considerado.
Devido ao frio durante a noite, o interior da aeronave é um ótimo abrigo, dependendo do seu estado. É
possível construir abrigos menores, com um isolamento mais eficaz ao frio, utilizando partes da
fuselagem, as escorregadeiras, os painéis e os assentos.
Durante o dia, não é aconselhável utilizar a aeronave como abrigo devido à elevada temperatura na
maioria dos desertos. É possível improvisar abrigos ou pequenas tendas utilizando os materiais da
aeronave já citados, ou ainda cavando buracos sob pedras a fim de se obter sombra durante a maior
parte do dia.
Outro cuidado importante que se deve ter é nunca sentar ou deitar diretamente no solo. Deve-se sempre
colocar algo, como por exemplo os assentos das poltronas da aeronave, para que, preferencialmente, se
mantenha elevado do solo o local onde está o sobrevivente.
Não se devem deixar expostas áreas do corpo, para evitar queimaduras solares.

Obtenção de Fogo
È muito importante em qualquer uma das situações de sobrevivência, pois pode ser utilizado para uma
serie de funções, tais como: sinalizar, purificar água, aquecer os sobreviventes à noite devido às baixas
temperaturas, cozinhar e ainda proteger o acampamento.
Para se obter fogo são necessárias iscas, que podem ser papel seco, jornais, pedaços de tecido etc..
Podem-se usar fósforos, item que integra os kits de sobrevivência, ou isqueiros de possíveis fumantes.
Ainda pode-se lançar mão de outros métodos, como o uso de lentes, pilhas e por atrito, como já visto
anteriormente no capitulo de sobrevivência na selva.
O cuidado que se deve ter é que o fogo obtido não se apague. A fogueira deve ser protegida e sempre
monitorada por alguém.

Obtenção de Água Doce


Um fator muito importante na sobrevivência no deserto, esta relacionada com a atividade física, é a
temperatura e o consumo de água. O corpo requer uma quantidade diária de água para um determinado
nível de atividade física, em uma dada temperatura. A falta da quantidade necessária de água causa um
declínio rápido nas habilidades de um individuo, assim como na sua capacidade de decisão.
A temperatura normal do corpo humano é de 36,9ºC. Esse nível de calor varia de acordo as atividades
físicas e a temperatura do ar.
O corpo passa por um processo de refrigeração natural e passa a se livrar do calor excessivo através do
suor. Esse processo é a principal causa de perda de água.
É aconselhável movimentar-se pouco para evitar a perda de líquidos e ficar sempre à sombra.
Conservar o suor é importante. Manter-se completamente vestido, cobrir a cabeça e envolver a garganta
com um tecido improvisando um cachecol, além de se proteger dos raios solares, fará com que a
absorção do suor pela roupa mantenha o corpo com um efeito refrigerado.
Permanecer na sombra inteiramente vestido, evitando falar e respirando através do nariz com a boca
fechada, diminui a necessidade de água de que o ser humano necessita.
No deserto, a necessidade de água do ser humano é duas a três vezes maior do que a que ele precisa
em uma sobrevivência na selva, por exemplo. A busca por água deve ser a maior preocupação dos
sobreviventes.
Se houver chance, é fundamental trazer a maior quantidade possível de água ou de líquidos (não
alcoólicos) da aeronave. Não se deve racionar água no deserto; se possível, deve-se beber sempre que
tiver sede.
Caso seja necessário o racionamento de água, com a quantidade disponível deve-se umedecer os lábios
para aliviar a sensação de sede.

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É possível encontrar água cavando ao redor ou próximo de plantas. Sempre que se acha água,
encontram-se também plantas comestíveis.
Há ainda a possibilidade de procurar água nas curvas de leitos secos de rios ou em áreas baixas. A
areia úmida é indicação de presença de água e, geralmente, a vegetação da área é mais abundante.
A água encontrada, na maioria das vezes, deve ser purificada através de fervura ou utilizando
purificadores de água disponíveis nos kits de sobrevivência.
Existe um grande recurso para obtenção de água em regiões com grande incidência de sol: o destilador
solar.
Para construí-lo é necessário cavar um buraco de aproximadamente 1m 2, com 50 cm de profundidade,
colocar no centro desse buraco um recipiente, cobrir o buraco com um pedaço de plástico fino com o
dobro do tamanho do buraco, ou seja, aproximadamente 2m2.
No meio do plástico, que está sobre o buraco, colocar uma pedra ou algo não muito pesado, que faça
com que o plástico fique com um leve formato afunilado sobre o recipiente que está no centro do buraco.
O calor dos raios solares que irão incidir sobre o plástico fará com que a água do solo se precipite e
evapore, ficando retida no plástico. Como o plástico estará com o formado afunilado, a água irá escorrer
pelo plástico para dentro do recipiente no centro do buraco. Não é necessária a purificação dessa água.
O destilador solar é mais eficiente se for construído em áreas abertas com grande incidência de raios
solares.
Se a água for escassa, não se deve comer. O processo digestivo necessita de água. A digestão dos
alimentos usará a água que é necessária para a refrigeração do corpo, que é feita através do suor.

Obtenção de Alimento
Assim como a água, se possível, deve-se consumir os alimentos que estiverem na aeronave, com o
cuidado de observar sua deterioração.
Deve-se fazer racionamento dos alimentos e a primeira alimentação ocorrerá 24 horas após o acidente.
Existe a necessidade de procurar alimentos em uma sobrevivência no deserto, e este é um outro fator a
ser observado. Podemos dividir esses alimentos em duas categorias: de origem vegetal e de origem
animal.
Origem vegetal: As chances de encontrar vegetais conhecidos em regiões desérticas são muito
pequenas, principalmente devido ao pouco conhecimento que o homem tem dessas áreas.
A vegetação, se existir, deverá ser do tipo herbáceo com a característica de vida curta. Durante os
períodos de maior seca, que podem durar anos no deserto, esses vegetais permanecem “adormecidos”
e sobrevivem graças a suas extensas raízes que conseguem captar alguma umidade das camadas mais
profundas do solo. Ao encontrar um vegetal que tenha o aspecto seco, deve-se cavar e buscar suas
raízes que poderão servir como alimento.
Vegetações ou plantas que porventura sejam encontradas acima do solo serão melhores fontes de
alimento, tais como: flores, frutos, brotos novos e sementes de cascas.
Os cactos bojudos oriundos das Américas do Norte e Sul são encontrados nos desertos da África, do
Oriente e da Austrália. Seus frutos são comestíveis e deve-se ter cuidado com seus espinhos.
Alimentos desconhecidos de origem vegetal que sejam cabeludos, amargos e leitosos (CAL) não devem
ser ingeridos, a menos que o sobrevivente os conheça.
Origem animal: A vida animal no deserto é muito escassa, devido à falta de água e de alimento para
sua existência.
Os mais encontrados são pequenos roedores, coiotes, lagartos e as cobras. Eles devem ser procurados
em lugares onde exista alguma umidade, que podem ser próximos a vertentes ou cursos seco de água,
sob pedras, rochas ou arbustos.
Os roedores são mais facilmente localizados e capturados durante o dia em suas tocas, pois, além de
serem animais notívagos, durante o dia se protegem do forte calor do deserto. Geralmente são vistos
transitando ao amanhecer ou ao anoitecer.
Após a obtenção de abrigo, fogo, água e alimento, outro cuidado importante é com a área do
acampamento.

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O acampamento deve ser mantido limpo e arrumado. A construção das fossas de detritos e de dejetos
contribui para a limpeza e organização, além de manter animais e insetos afastados, a exemplo de
sobrevivências em outros tipos de locais.
Existem ainda outros cuidados que devem ser observados:
As roupas devem ser mantidas e usadas para proteção contra queimaduras do sol na pele, evaporação
do suor e poeira do deserto. É importante improvisar um pano sobre a cabeça, formando uma aba para
proteção dos olhos, e, se possível, usar sempre óculos escuros para evitar sua irritação. As roupas mais
escuras concentram o calor, enquanto as mais claras o refletem.
A saúde e a higiene dos sobreviventes devem ser sempre observadas.
Devido a variações de temperatura, é aconselhável que os trabalhos que demandem mais energia
sejam feitos ao entardecer, quando a temperatura se torna mais amena. Devemos conservar o líquido de
nosso corpo reduzindo as atividades durante o dia.
O sono deve ser preservado.
Beber água em intervalos regulares ajuda o corpo a permanecer hidratado e, consequentemente,
diminui o suor, mesmo que a quantidade ingerida seja pequena.

Perigos do Deserto
Há diversos perigos em uma sobrevivência no deserto: insetos, serpentes, escassez de água,
tempestades de areia e o estresse climático são alguns deles.
Alguns animais que habitam o deserto: escorpiões e aranhas e uma série de tipos de serpentes, que,
como os insetos, habitam as cavernas e rochas. Alguns cuidados devem ser observados para evitar
suas ferroadas e picadas. São eles:
Prestar muita atenção e não colocar a mão em qualquer lugar, sem antes verificar o local. Estar
preferencialmente sempre usando luvas.
Nunca andar descalço e sempre olhar dentro dos sapatos antes de calçá-los.
Inspecionar visualmente a área antes de se sentar ou de se deitar; ter o mesmo cuidado ao se levantar,
verificando sua roupa e o local onde esteve apoiado.
São grandes as possibilidades de transformar o sobrevivente em uma vitima do calor no deserto, devido
aos ferimentos, ao estresse e à falta de recursos e, principalmente, à escassez de água. As doenças
relacionadas ao calor excessivo são:
Câimbra por calor – ocorre devido à perda de sal do corpo e ao suor excessivo. Os sinais e sintomas
podem começar com um desconforto muscular leve, evoluindo para câimbras moderadas a fortes nas
pernas, nos braços ou abdômen.
Caso sejam percebidos esses sintomas, o sobrevivente deve parar suas atividades físicas, ficar à
sombra e beber água. Se não forem percebidos ou mesmo ignorados, as câimbras piorarão e as dores
musculares aumentarão muito.
Exaustão por calor – ocorre devido à grande perda de água e de sal do corpo. Os sinais e sintomas
são dores de cabeça, confusão mental, irritabilidade, suor excessivo, fraqueza, tontura e câimbras. A
pele fica pálida, úmida e fria.
O sobrevivente deve ser colocado imediatamente à sombra, deitado em algo que o deixe a mais ou
menos 45 cm acima do solo. Deve-se afrouxar sua roupa, respingar água em seu corpo e ventilá-lo. É
imprescindível fazêlo beber pequenos goles de água a cada 3 minutos, assegurando que ficará imóvel e
em repouso. Derrame por calor – um acontecimento severo causado pelo calor. Ocorre quando há
extrema perda de água e sal, o corpo perde sua habilidade de se refrigerar.
O sobrevivente pode morrer se não for resfriado imediatamente.
Os sinais e os sintomas são: falta de suor, pele quente e seca, dor de cabeça, tontura, pulso acelerado,
náusea, vômito e confusão mental, que levam ao desmaio. O sobrevivente deve ser colocado à sombra
imediatamente, deitado em algo que o deixe a mais ou menos 45 cm acima do solo. Deve-se afrouxar
sua roupa, derramar água em seu corpo (não importando se a água é limpa) e ventilá-lo. Massagear
seus braços, pernas e corpo. Caso volte à consciência, é necessário fazê-lo beber pequenos goles de
água a cada 3 minutos.

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À noite, a temperatura cai drasticamente no deserto. Ficar exposto a temperaturas muito baixas também
traz grandes riscos. Os sobreviventes devem permanecer aquecidos, secos e protegidos no abrigo,
contra o vento e o frio.
As doenças relacionadas ao frio excessivo são as ulcerações e a hipotermia.
As ulcerações ocorrem devido ao congelamento de partes do corpo expostas ao frio. Sua gravidade
depende da temperatura do ar, do tempo de exposição e do vento. Essas ulcerações podem causar a
perda de dedos, braços, mãos, pés ou pernas. São divididas em moderada e severa.
Na moderada os sinais e sintomas são pele avermelhada com dor local ou pele esbranquiçada e
dormente. Na severa, a região afetada fica com bolhas e gangrenada, com a pele dura e congelada.
Em ambas as situações, imediatamente o sobrevivente deve ser colocado em um lugar aquecido.
Devem-se remover as partes de roupa ou tecido que estejam molhadas e apertando a área afetada. É
necessário retirar anéis, pulseiras etc... Cobrir a área lesionada com roupas ou tecidos secos disponíveis
e manipulá-la com cuidado para não estourar nenhuma bolha.
Nunca se deve tentar massagear ou esfregar a ulceração. A área afetada deve ser aquecida e coberta
por pelo menos 30 minutos.
A hipotermia ocorre quando todo o corpo começa a congelar e sua capacidade de se manter aquecido
passa a falhar. Isso pode ocorrer por uma exposição prolongada ao frio, vento, chuva ou imersão em
água fria.
Necessariamente, a temperatura do ar não precisa estar congelante para a vitima apresentar hipotermia.
Os cuidados devem der imediatos, pois pode levar à morte.
A hipotermia também é dividida em moderada e severa.
Na moderada os sinais e sintomas são tremores, urgência em urinar, perda da coordenação e confusão.
Na severa, os tremores diminuem e os músculos ficam rígidos. A vítima apresenta desejo de ficar
sozinha e sua pulsação é fraca. Também ocorrem tontura, fraqueza, confusão mental, dificuldade em
falar e em enxergar. Seu comportamento é irracional e não demonstra cooperação no seu socorro.
Esses sinais e sintomas se agravam e evoluem para rigidez muscular grave, inconsciência, coma e
parada cardíaca.
Em ambas as situações deve-se mexer na vítima com cuidado. É necessário evitar que ela tenha contato
com mais frio, mantendo-a aquecida, cobrindo sua cabeça e seu pescoço. Se estiver consciente, devem
ser dados líquidos mornos e adoçados. Mantenha a vitima aquecida o tempo todo.
Outro perigo são as tempestades de areia, que ocorrem com frequência na maioria dos desertos.
Permanecer no abrigo é fundamental, assim como proteger os olhos e a boca. Os equipamentos de
sobrevivência também devem ser protegidos e devem ser utilizados somente ao avistar uma aeronave
ou escutar o ruído de seus motores.
Os fortes ventos no deserto podem mudar as dunas de lugar. Em caso de deslocamento, é necessário
estar atento para não ficar andando em círculos.
A poeira e o vento podem interferir nas transmissões de rádio, deve-se estar preparado para utilizar os
outros meios de sinalização como: foguetes pirotécnicos, espelhos sinalizadores e os sinais terra-ar.

Deslocamento no Deserto
Estudos mostram que se deve permanecer próximo aos destroços do acidente pois a probabilidade de
resgate é maior, porém caso se decida por abandonar o local, deve-se fazê-lo somente se tiver a certeza
de conhecer sua posição geográfica e de que conseguirá alcançar algum ponto onde haja socorro.
Para ajudar nesse deslocamento pode-se utilizar a orientação de direção pelo sol, pelo relógio e pela
bússola, além da navegação terrestre diurna, itens já descritos anteriormente no capítulo de
sobrevivência na selva.
A sobrevivência no deserto, como a exemplo das outras citadas neste livro, depende essencialmente da
força de vontade e da preparação técnica do sobrevivente.
Fontes:
Department of the Army Field Manual. US Army Survival Manual FM 21-76. Headquarters, Department
of the Army. Revision 1992.

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Rio de Janeiro. Manual Geral de Operações da VARIG – Volume 3 – Manual do Comissário. Revisão 7.
Porto Alegre: Gráfica Multipress FRB, 2002.
Rio de Janeiro. Manual do Curso de formação de Comissários do VARIG Flight Training Center.
Revisão 2 .Porto Alegre: Gráfica Multipress FRB, 2005.
BOKHARI, Abdulhafeez e GARI, Mohammed. Desert Survival. Prague- Czech Republic, 1st European
Edition of International Aircraft Cabin Safety Symposium. 23 a 25/3/2004. Palestra.
Ecología. Los Desiertos. La Tercera Online, 2001. Disponível em: http://icarito.tercera.cl/2001/837
Acesso em 2/8/2005.
Desertos. Tierramérica, 2002. Disponível em: http://tierramerica.net/2002/0512/pconectate.shtml
Acesso em 2/8/2005.

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