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SOBREVIVÊNVIA
SELVA – MAR – GELO - DESERTO
GENERALIDADES DE SOBREVIVÊNCIA
Visando garantir operações seguras e eficazes do transporte aéreo no mundo inteiro, a Organização da
Aviação Civil Internacional (OACI) estabelece normas e regulamentos para a Aviação Civil Internacional,
que são homologados pelas Agências Reguladoras de cada país signatário da Convenção de Chicago,
em suas respectivas jurisdições. Portanto, todo equipamento disponível a bordo ou procedimento de
segurança adotado na aviação segue normas emanadas das autoridades aeronáuticas que se baseiam
tanto em pesquisas como em relatórios de investigações de incidentes e acidentes aeronáuticos, visando
aperfeiçoar a segurança de voo e minimizar as possibilidades da repetição desses eventos.
A Agência Reguladora Brasileira, a ANAC, através do RBAC-121 (Regulamento Brasileiro de Aviação
Civil), ratifica as determinações da OACI na área da regulamentação de equipamentos de emergência e,
em seus capítulos 303 e 339, homologa os equipamentos necessários às aeronaves de bandeira
brasileira para o sobrevoo de grandes extensões de terra e de água, respectivamente.
Se o pouso forçado for realizado em terra, em área desabitada, o período de sobrevivência pode ser
vivenciado em uma região de selva, deserto ou gelo. No caso de aterrissagem decorrente de um voo
transoceânico, os sobreviventes vivenciarão uma jornada no mar.
Para permanecer nessas áreas até o resgate, os sobreviventes devem utilizar determinados
equipamentos de emergência e executar procedimentos adequados, alguns dos quais independem do
local em que o período de sobrevivência venha a se desenrolar. Neste capitulo, serão abordados os
equipamentos disponíveis a bordo de aeronaves de transporte de passageiros e os procedimentos
gerais aplicáveis a qualquer situação de sobrevivência.
Designação de Equipamentos
São os equipamentos que devem ser levados pelos tripulantes quando do abandono e do afastamento
da aeronave, após a evacuação de emergência procedida em áreas desabitadas. A responsabilidade
pela sua retirada de bordo é estabelecida no Checklist de Procedimentos de Emergência de cada
aeronave, via de regra, cabendo ao tripulante cujo jump seat (assento) estiver mais próximo de onde o
equipamento estiver armazenado.
Para a execução das ações imediatas e simultâneas após o abandono da aeronave e em qualquer
período de sobrevivência, são necessários:
Sinalização de Socorro
O segmento espacial emprega satélites que rastreiam os sinais de socorro emitidos por transmissores
localizadores de emergência (TLE) que equipam aeronaves (um TLE fixo no cone de cauda e outro
portátil do tipo RESCU - 99), navios (EPIRB – Emergency Position Indicator Radio Beacon) ou pessoas
(PLB – Personal Locator Beacon), decodificando esses sinais e determinando as coordenadas do ponto
que os originou.
De posse das coordenadas fornecidas pelo segmento espacial, o segmento terrestre – MCC (Mission
Control Center – Centro de Controle de Missão) disponibiliza os recursos humanos e materiais para as
missões de busca e salvamento.
O Brasil foi homologado para ingresso no programa COSPAS-SARSAT em 1998, na condição de
Provedor Terrestre. O território brasileiro possui uma área de 22.000.000 de quilômetros quadrados,
motivo pelo qual o país tem nesse sistema um importante aliado para o sucesso de suas missões de
busca e salvamento. Há três estações terrenas (Brazilian Mission Control Center – BRMCC) que captam
os sinais dos satélites do Sistema COSPAS-SARSAT em nosso território, uma localizada em Manaus,
outra em Brasília e a terceira no Recife.
Portanto, quanto antes o sobrevivente acionar o Radiofarol de Emergência portátil e for iniciada a
transmissão dos sinais, mais rapidamente estes serão detectados pelo Serviço de Busca e Salvamento,
desencadeando as ações das missões de socorro.
As buscas são feitas somente durante o dia e são intensas até o sétimo dia após o acidente (depois do
sétimo dia as buscas diminuem), enquanto o salvamento é realizado a qualquer hora do dia.
Radiofarol portátil modelo Rescu 99 mostrando a antena ainda dobrada e a corda de amarração
Uma vez acionado, deve permanecer na posição vertical, pois dela dependem seu correto
funcionamento e utilização. O tempo para o início da transmissão dos sinais está diretamente atrelado ao
tipo de água na qual foi mergulhado. Em água salgada a transmissão tem início em 5 segundos, e em
água doce, em 5 minutos.
O equipamento não possui um dispositivo que possibilite ao sobrevivente a verificação visual de seu
funcionamento. Somente com receptores que captem as frequências dos sinais de socorro emitidos é
que será possível efetuar essa verificação.
Estando em condições, o rádio de bordo pode ser empregado tanto para a transmissão de um sinal de
socorro pela emissão da voz humana, um “MAYDAY”, quanto para verificar se o Rescu acionado está
transmitindo os sinais de SOS nas frequências internacionais de socorro.
O alcance horizontal do Rescu é de 250 milhas náuticas; o vertical é de 40.000 pés.
Uma vez localizados os sobreviventes e iniciado o resgate, pode-se interromper a transmissão do
Radiofarol, colocando-o na posição horizontal.
Alguns tipos de aeronaves possuem nos barcos salva-vidas ou nas escorregadeiras-barco um modelo de
Radiofarol que inicia a transmissão automaticamente assim que a embarcação tenha inflado.
São períodos de silêncio nas comunicações, com duração de três minutos e repetidos a cada meia hora
para uma escuta preventiva de sinais de socorro que possam ser emitidos por pessoas, aeronaves ou
navios acidentados.
A escuta dos Serviços de Busca e Salvamento é permanente, porém, aeronaves em voo, navios
navegando, estações radioamadoras obedecem a esses períodos que são diferentes para o Oriente (do
0 aos 3 e dos 30 aos 33 minutos de cada hora) e para o Ocidente (dos 15 aos 18 e dos 45 aos 48
minutos de cada hora), de acordo com a tabela.
Esses sinalizadores somente devem ser acionados ao se visualizar a aproximação de aeronave, navio
ou ao se escutar o ruído de seus motores.
Compõem-se de artifícios pirotécnicos, lanternas, apito, espelho e corante marcador de água (sea dye
marker).
Há diversos modelos e são empregados para a sinalização diurna e noturna. O agente sinalizador do
lado diurno é a fumaça de cor laranja, enquanto o agente sinalizador do lado noturno é o fogo de
magnésio. Os padrões de cores são convencionados internacionalmente.
Se ao acionar o lado diurno o foguete irromper em chamas, deve-se mergulhá-lo na água ou pressioná-
lo contra a areia, até sair fumaça.
Estando no interior do barco salva-vidas, cuidar para que os respingos do fogo de magnésio do agente
sinalizador do lado noturno não caiam sobre as bordas ou no assoalho do barco.
Mesmo que a aeronave ou o navio esteja ainda distante, deve-se projetar a luz solar para o horizonte
porque os reflexos podem ser avistados de longas distâncias.
Corante Marcador de Água
É um pó corante que altera o pH da água. A mancha obtida é contrastante com a cor da água (clara ou
escura) e pode ser visualizada pelas aeronaves de busca e salvamento.
Tanto a duração quanto o tamanho da mancha dependem do tipo de água onde o corante for acionado e
da existência de correnteza. Normalmente, a mancha tem a duração de até 40 minutos e pode ser
avistada de uma distância de 1 MN (uma milha náutica é equivalente a 1852 metros). É um sinalizador
para utilização exclusiva sob a luz do dia e o seu acionamento somente deve ser iniciado ao se visualizar
a aproximação de alguma embarcação ou aeronave ou se ouvir o ruído de motores.
Sulcos no solo
Partes da aeronave
Sinalização com o Próprio Corpo
Estas outras duas mensagens são indicações importantes que o sobrevivente pode dar às equipes de
socorro, na medida em que são adequadas para a orientação do pouso do helicóptero de salvamento:
Após o sobrevoo das sinalizações prescritas no Quadro de Sinais Terra-Ar, o piloto deve dar um retorno
aos sobreviventes quanto ao fato de ter recebido e entendido ou não a mensagem montada no quadro,
sinalizando com manobras da aeronave.
Mensagem Recebida e Entendida
De dia: balançando lateralmente a asa.
A priorização do embarque de feridos deve seguir a regra do maior ou menor risco de vida.
A cobertura da cabeça, a proteção dos olhos, um vestuário limpo e completo são essenciais para a
proteção do sobrevivente contra a ação dos raios solares. A proteção das extremidades do corpo
minimiza os efeitos de picadas de insetos ou de arranhões. A proteção do vestuário é eficaz contra o frio
e o calor. A perda excessiva de calor pelo corpo resulta na redução da temperatura da pele dando a
sensação de frio. Se a temperatura do corpo decrescer de 36° para 30°, o sobrevivente pode ter sua
capacidade física e mental deteriorada, entrando em estado de choque; e se a temperatura não parar de
decrescer, a pessoa morre. O vestuário completo pode manter o calor do corpo por um período mais
prolongado.
Os cuidados acima descritos, além de preservar a saúde, também nos trazem segurança contra
possíveis danos causados por animais irracionais tais como mordidas, picadas, ferroadas, queimaduras,
penetrações, irritações, sucções e invasões.
Ainda em relação às precauções com a saúde, cabe uma observação importante destinada aos animais
de sangue quente, como piranha, sanguessuga, arraia e candiru, poraquê, carrapato, escorpião, aranha
e cobra: manter-se vestido e protegido para caminhar e nadar, evitando a exposição de qualquer parte
do corpo, é uma medida simples e eficaz para evitar transtornos e acidentes provocados por tais
animais.
Evitar a perda de líquido pelo organismo é um cuidado essencial. A transpiração, a desidratação e a
diarréia podem provocar uma perda líquida excessiva; nesse caso, o vestuário protege todas as
extremidades do corpo, é um ótimo escudo contra essa perda.
Ações Subsequentes
O curso dessas ações está voltado para o planejamento, a coordenação, o vivenciar de um período de
sobrevivência e que se traduzem nas respostas a questões básicas relacionadas com: o local do
acidente, localização e resgate dos sobreviventes e necessidades básicas do indivíduo em situação de
sobrevivência.
Em um acidente aéreo o tripulante é o coordenador do período de sobrevivência. A função do
coordenador é distribuir tarefas designando quem deve se responsabilizar pela proteção dos
sinalizadores dos kitsde sobrevivência e executar as sinalizações que facilitam o trabalho das equipes de
socorro. Os turnos de vigia, de 2 horas, devem ser estabelecidos e é imprescindível designar os
responsáveis. Esse rodízio é importante para a segurança do grupo, dos equipamentos, dos recursos
criados, da preservação das condições físicas dos sobreviventes evitando a fadiga, além de mantê-los
em atividade. A elaboração de um diário deve ser iniciada.
Infra-Estrutura do Acampamento
Para manutenção da higiene e limpeza, é necessária a construção de dois tipos de fossas, uma de
detritos e outra de dejetos
Fossa de detritos: lixo, restos de alimentos, curativos podem atrair insetos e animais. Manter a
fossa coberta com terra;
Fossa de dejetos: evita a atração de insetos e de outros animais.Serve para proporcionar
conforto e privacidade aos sobreviventes.Cobrir sempre os dejetos com uma camada de areia.
Os percursos que levam ao curso d´água e às fossas de detritos e dejetos devem ser demarcados no
terreno, para facilitar orientação dos sobreviventes. Deve-se ter todo o cuidado com relação às
possibilidades de contaminação da fonte de água pela infiltração do conteúdo dessas fossas em
períodos de chuva.
Para a proteção do entorno do acampamento, devem ser providenciadas pequenas fogueiras,
distanciadas 50 m umas das outras.
Como material de construção do abrigo pode-se combinar a utilização de partes da aeronave,
escorregadeiras, assentos, mantas, cortinas com recursos naturais disponíveis no local. Os diversos
tipos de abrigo estão detalhados nos capítulos referentes a cada situação de sobrevivência em terra:
selva, deserto e gelo.
Fogo
A obtenção do fogo é necessária pelo seu emprego em:
sinalização;
purificação da água;
cozimento dos alimentos;
relacionamento sócio-afetivo;
elemento de segurança do acampamento.
A preparação da área e a manutenção do fogo são itens específicos de cada situação de sobrevivência e
serão abordados separadamente.
Água
A água doce é um fator essencial para a fisiologia humana e cuja quantidade disponível serve de
balizamento para a ingestão ou não de alimento. Sabe-se que é possível viver dias ou até semanas sem
alimento, porém, sem água, vive-se muito pouco.
Em qualquer período de sobrevivência, a maior preocupação dos sobreviventes é com a perda de líquido
pelo organismo através de transpiração, diarréia e desidratação. Em situação normal, o organismo
necessita de 1,5 a 2,5 litros de água por dia. Em uma sobrevivência na selva, no gelo ou no mar, o ideal
é que se beba, no mínimo, 1/2 litro de água por dia. No deserto, essa necessidade mínima é duas a três
vezes maior, ou seja, 1 litro a 1 litro e meio.
A ingestão de outros líquidos como água salgada, urina, bebidas alcoólicas, querosene é totalmente
desaconselhável e considerada absolutamente imprópria em períodos de sobrevivência, pois, além de
causar danos letais ao organismo, acarreta pânico e descontrole da situação.
Os fatores que a água determina, com relação à ingestão de alimentos, são:
havendo pouca água, deve-se beber toda a reserva disponível, ingerindo-se apenas alimentos
de origem vegetal e evitando-se as proteínas em excesso;
Destilador Solar
Em uma sobrevivência em terra, selva e deserto, onde haja incidência de sol, poderá se obter água
através da construção de um destilador solar.
Consiste em aproveitar as variações de temperatura quando faz 60°C durante o dia e a temperatura cai
para o entorno de zero grau à noite. O Destilador Solar pode ser montado em poucos minutos e
possibilita a obtenção de uma quantidade média de um 1,5 litro de água por dia.
Para montá-lo, deve-se:
cavar um buraco de, aproximadamente, 1 m 2 de largura e 50 cm de profundidade;
colocar um recipiente qualquer no fundo do buraco;
colocar no interior do recipiente a mangueira de uma máscara oronasal;
cobrir a cavidade com um pedaço de plástico fino de 2 m 2, aproximadamente, de modo que as
gotas d’água, resultantes da condensação, venham a pingar no interior do recipiente.
Para pessoas de hábitos urbanos, o tipo de alimento que proporciona a maior quantidade de proteínas é
o de origem animal. A preferência dos sobreviventes deve recair, então, sobre um cardápio misto:
carboidrato vegetal: obtido de açúcar, farináceos, frutos e cereais;
proteína animal: ao consumir carne magra e ovos.
Qualquer tipo de gordura alimentar, não importa se de origem animal ou vegetal, além de exigir grande
consumo de água, não é essencial à nutrição do sobrevivente e o seu consumo deve ser evitado.
Segundo as diversas bibliografias consultadas, existem no mínimo umas 300.000 espécies de plantas
silvestres no mundo. Grande número delas pode ser ingerido, embora algumas sejam mais agradáveis
ao paladar do que outras. Se forem conhecidas pelos sobreviventes, podem ser consumidas sem receio.
Se forem desconhecidas, devem ser testadas de duas maneiras antes de consumi-las:
pela observação visual;
pelo paladar.
NÃO se deve ingerir qualquer alimento de origem vegetal desconhecido sem previamente colocar uma
porção na boca, SEM MASTIGAR, por cinco minutos:
se não for amargo e o paladar não estranhar o sabor da pequena porção, pode-se ingerir o
alimento; e
se houver dúvida, deve-se cozinhar o alimento.
Quando o alimento vegetal for totalmente desconhecido, empregar a regra CAL, isto é, o alimento que
for recoberto por fiapos (CABELUDO), apresentar gosto AMARGO ou sumo LEITOSO não deve ser
consumido.
Outra regra segura é a da observação dos costumes de animais silvestres. De maneira geral, não há
perigo em ingerir vegetais consumidos por pássaros e mamíferos, principalmente macacos.
A melhor opção para o sobrevivente é optar por uma sopa de vegetais porque é menos perigosa e
indigesta.
Os vegetais que contêm amido, como algumas raízes e inhame, devem ser cozidos, pois se forem
consumidos crus são indigestos.
Na preparação de alguns brotos de vegetais, principalmente os de samambaias e os do bambu, é
preciso ter um cuidado especial. Ao prepará-los, retirar os fiapos, esfregando-os na água. Ferver os
brotos por dez minutos. Trocar a água e voltar a ferver por mais trinta ou quarenta minutos. Esse
cozimento em duas águas tira-lhes o gosto amargo.
Possui um alto valor energético, superior ao de origem vegetal. Costuma-se dizer que, em questão de
sobrevivência, tudo que anda, rasteja, nada ou voa pode ser considerado alimento. Em condições de
extrema necessidade, a fome prevalece sobre a repugnância.
As formas de obtenção do alimento de origem animal podem ser através da caça e da pesca.
Ao caçar é necessário ter cautela, porque os animais não se deixam capturar facilmente. As trilhas de
animais devem ser pesquisadas, pois conduzem o sobrevivente a sua toca, a uma fonte de água ou a
uma clareira. É possível reconhecer uma trilha através de restos de frutos comidos ou pelas fezes do
animal.
As armadilhas devem ser montadas antes do cair da noite e recolhidas pela manhã.
Preparação do Alimento
Uma vez abatida a caça, deve-se proceder à retirada do couro. O método da esfola consiste em abrir o
animal pela linha do peito, cuidando para não perfurar a bexiga ou a vesícula biliar. Nenhuma parte das
vísceras deve ser aproveitada como alimento.
Os peixes são descamados da cauda para a cabeça, no sentido contrário às escamas. Não se deve
comer a cabeça nem a cauda do peixe, porque podem ser indigestas.
Para depenar uma ave sem nenhum consumo de água, um processo prático que pode ser empregado é
o do “descamisamento”, que consiste na inserção de um pequeno tubo à semelhança de uma caneta Bic
na parte interna de cada coxa do animal. Nesse processo, a pele da ave é removida junto com as penas.
As cobras podem ser encontradas tanto em ambiente de selva como no deserto. No preparo das cobras
peçonhentas, deve-se desprezar um palmo a partir das extremidades, onde se encontram as glândulas e
partes venenosas e a cauda, cartilaginosa, sem carne. Cobras peçonhentas não possuem carne
venenosa, o veneno está contido nas suas presas e é inoculado por ocasião da picada.
Formigas e gafanhotos podem ser ingeridos assados, pois possuem grande valor nutritivo e em algumas
partes do mundo são considerados pratos exóticos.
Com exceção de sobrevivência no mar, uma vez decidido o deslocamento para a busca de socorro,
deve-se planejá-lo preparando todo o material necessário para a caminhada e a composição do grupo.
As provisões de água e alimento devem ser divididas em 3 partes. O grupo que se desloca deve levar
2/3 do total disponível.
Quando possível, reúna os equipamentos enumerados a seguir para o seu deslocamento:
Facão;
Relógio;
Estojo de primeiros socorros;
Suprimento de água e alimento;
Fio metálico ou corda para armar abrigos;
Transposição de Obstáculos
Durante as marchas, o grupo de deslocamento pode deparar-se com obstáculos, como subidas ou
descidas acentuadas, rios, morros, buracos etc. A regra recomendada é que se a transposição desses
obstáculos exigir esforços demasiados do grupo, é preferível contorna-los.
Na impossibilidade de contornar um morro de aclive acentuado, é preferível subi-lo em ziguezague,
seguindo as curvas de nível para atenuar os esforços. Sempre que se deslocar de um ponto a outro, é
preciso marcar bem o local exato onde ocorreu a mudança de direção.
Formas de Orientação
A linha a ser voltada para o Sol será a do ponteiro das horas e a bissetriz do ângulo desta linha com a
linha 12-6 dará a direção Norte-Sul.
Consiste na determinação do meio-dia local pelo Método da Estaquinha, cuja sombra projetada
determina a linha norte-sul. A linha da sombra mais curta é a do meridiano local, ou seja, a linha norte-
sul. Ao norte da latitude norte 24°4’, a sombra da estaca se projeta para o sul. Nos trópicos, a indicação
vai depender da data e do local onde estiver o sobrevivente.
O cenário de selva revela grandes recursos hídricos e riqueza de flora e fauna. O desconhecimento
sobre como explorar esses recursos, por parte da maioria dos sobreviventes de um pouso forçado na
selva, pode ser um fator adverso à sua permanência por um período prolongado. Plantas venenosas,
animais venenosos e animais perigosos demonstram essa afirmação. Como saber diferenciá-los, então?
Neste capítulo, serão apresentadas algumas informações importantes para auxiliar aqueles que, após
terem lido este livro, queiram entrar em contato com a natureza. O assunto é muito vasto e não se
esgota nesta obra. A pesquisa realizada foi uma tentativa de coletar informações básicas necessárias
para a obtenção de sucesso em um ambiente hostil, diferente daquele ao qual pessoas de hábitos
urbanos estão acostumadas.
As fontes de consulta foram os manuais do Ministério da Aeronáutica de Busca e Salvamento (MMA 64-
2), o Manual dos Escoteiros do Brasil, o Manual da Força Aérea Americana (AFM 64-5), o Manual do
Exército Americano (US Army Survival Manual FM 21-76). Em nenhuma dessas bibliografias consultadas
se encontrou algo referente aos ensinamentos sobre “ter vontade de viver” e, muito menos, “vontade de
sobreviver”. Esse sentimento está internalizado em cada indivíduo, e é baseado nele que os
sobreviventes de um pouso forçado na selva devem buscar forças para aplicar as informações aqui
contidas.
Somente a experiência de pessoas adaptadas à vida em um ambiente de selva lhes possibilita fazer a
seguinte afirmação com segurança: “A selva pode ser considerada paraíso ou inferno. Tudo
depende do nosso conhecimento sobre ela e de como o aplicamos”.
Abrigo
Tipos de Abrigo
No que se refere ao tipo de abrigo a ser construído, há diversas opções. Podem-se construir abrigos
provisórios ou temporários.
Qual a diferença existente entre eles?
Provisório é o abrigo construído com maior premência e o mais rapidamente possível, muitas das vezes
utilizando-se o primeiro material encontrado pelos sobreviventes. É aquele abrigo no qual não houve
tempo hábil de se elaborar devidamente a sua construção.
Abrigo Provisório
Dentre os abrigos provisórios, destaca-se o conhecido como “Rabo de Jacu”. Sua construção se dá a
partir de dois pedaços de madeira ou até mesmo duas árvores. Coloca-se uma terceira madeira apoiada
nessas duas primeiras, formando o que se entende por uma goleira. Para a cobertura desse abrigo,
coloca-se algum tipo de material retirado do interior da aeronave, que pode ser escorregadeira, barco
salva-vidas, carpetes, forros, cortinas, lonas, amarrados na parte superior e esticados para um dos
lados. Deve-se ter o cuidado de fechar as laterais e a frente, deixando apenas uma porta para entrada e
saída dos sobreviventes.
Abrigo Temporário
Durante o período em que os sobreviventes se encontrarem no local do acidente, é preciso manter o
grupo em atividade. A estratégia recomendada é a de transformar o abrigo provisório em um abrigo
temporário. Essa determinação depende da liderança exercida no grupo pelo coordenador e de tempo,
tanto cronológico quanto meteorológico, e, é lógico, dos recursos disponíveis.
Dos abrigos temporários destacam-se basicamente dois tipos, que são o
Abrigo tipo A
O Tapiri Simples é confeccionado a partir de uma base ou estrado instalado a uma certa distância do
chão, entre quatro pedaços de madeira ou árvores. Acima dessa base ou estrado é feita a cobertura.
Turnos de Vigia
Nem todos podem descansar ao mesmo tempo. É preciso estabelecer os turnos de vigia para proteção
do acampamento e para a observação da possibilidade do aparecimento de alguma aeronave ou
embarcação nas imediações.
A capacidade do abrigo deve ser suficiente para comportar quase todos que dele fazem uso, excetuando
os dois sobreviventes que ficarão de vigia, do lado de fora.
Os turnos de vigia não devem ser superiores a duas horas, e esse rodízio de turnos deve ser organizado
de tal forma que todos possam descansar. O descanso é fundamental em uma situação de
sobrevivência.
Infra-estrutura do Abrigo
Ao redor do acampamento devem ser construídas caneletas de drenagem para que, em caso de chuva,
a água que possa escorrer do teto não penetre interior do abrigo. Essas canaletas devem ser
construídas no terreno bem rente às paredes do abrigo. A profundidade e o tamanho devem ser
proporcionais à precipitação pluviométrica e à inclinação do terreno. Desconhecendo-se o regime de
precipitação de chuvas, a profundidade da canaleta pode ser dimensionada em torno de 10 cm.
Do lado oposto ao curso de água, se houver, os sobreviventes devem construir as fossas de detritos e
de dejetos. Elas devem estar a uma distância segura para que o odor exalado não penetre no ambiente
do acampamento e que os sobreviventes possam chegar até elas sem o risco de se perder.
Fogo
O fogo é de fundamental importância para a sobrevivência na selva. Com ele, os sobreviventes estão
protegidos porque os animais normalmente temem a proximidade da chama e qualquer alteração
efetuada em seu habitat os afugenta.
Fogueira
O cuidado com relação às pedras é a possibilidade da existência de bolhas de ar em seu interior, que,
devido ao calor, podem se expandir estourando; as lascas de pedra podem causar ferimentos nas
pessoas mais próximas da fogueira. Pela mesma razão, se estiver sendo cozinhado qualquer alimento e
as pedras estourarem, a comida será perdida.
Fazer o fogo em um local próximo ao acampamento afasta os insetos, por causa da fumaça, e pode até
aquecer o interior do abrigo. Esse local não pode ser na parte mais baixa do terreno, pois se chover o
fogo se extinguirá. É necessário construir um anteparo contra a chuva com altura suficiente para eliminar
o risco de incêndio no anteparo ou nas árvores em seu redor.
Fósforos e isqueiros são a primeira opção dentre os artifícios que podem dar início ao fogo. Eles
podem ser encontrados nos pertences de passageiros e tripulantes, bem como no kit de sobrevivência
na selva.
Baterias (pilhas) existentes em lanternas colocadas em seqüuência, tendo os pólos ligados através de
fiação de pequena espessura geram aquecimento e faísca, capazes de dar início ao fogo. Essa fiação
pode ser encontrada na aeronave. Para efeitos de treinamento, muitas vezes é utilizada a palha de aço
para a demonstração.
Se na verificação dos pertences dos passageiros se encontrar alguma arma, é bom lembrar que a
munição contém pólvora e esta é de fácil ignição, sendo um excelente auxiliar na geração de faísca.
Algumas árvores produzem um tipo de resina (breu vegetal) que é de fácil ignição e inflamável. Uma vez
encontrada, facilita os procedimentos para a obtenção do fogo.
Água
Elemento fundamental para a existência da vida. Quando as naves interplanetárias pousam em outros
planetas, os cientistas procuram logo por vestígios de água, pois, se forem encontrados, existe uma
grande probabilidade dos terráqueos poderem sobreviver nesses planetas.
Na Terra encontra-se água em abundância. Dois terços da superfície terrestre são compostos de água,
mas somente parte dela não é salgada e, consequentemente, própria para o consumo. Da quantidade de
água existente, 97% encontram-se distribuídos em mares e oceanos, 2,3% em geleiras, 0,6% no solo e
subsolo, 0,09% em lagos e rios e 0,01% na atmosfera. Portanto, ocorrendo uma situação de
sobrevivência, pode-se contar com aproximadamente 0,7% da água existente na superfície terrestre.
Além disso, parte dessa água está no solo e no subsolo e são necessários conhecimentos específicos
para encontrá-la e explorá-la. O que é palpável e acessível em uma sobrevivência na selva são os
suprimentos restantes da aeronave e os recursos locais.
Na aeronave, o material não utilizado durante o serviço de bordo deve ser trazido para o local do
acampamento. Garrafas com água, sucos e refrigerantes devem ser distribuídos entre os
sobreviventes. Em situações de sobrevivência, bebidas alcoólicas não devem ser ingeridas.
Uma pessoa em situação de sobrevivência deve lutar contra a desidratação que, nesses casos, é fatal.
Numa situação normal uma pessoa ingere cerca de 2,5 a 3 litros de água por dia. Em situação de
sobrevivência essa quantidade varia de 400 ml até 1 litro, dependendo das condições de sobrevivência
(região fria ou quente) e da disponibilidade de recursos hídricos.
Independentemente disso, o fornecimento tanto de água quanto de alimento deve ser suspenso nas
primeiras 24 horas. Pode-se viver bastante tempo sem comer, mas sem água esse tempo é reduzido.
Vai depender das condições físicas e fisiológicas de cada indivíduo.
Para a extração da água do coco, necessita-se apenas de um facão e um pouco de habilidade para abri-
lo. Já com o cipó de casca grossa é necessário, primeiramente, cortá-lo na parte superior o mais alto
possível e, posteriormente, na parte inferior para que o líquido existente em seu interior escorra em
decorrência da gravidade.
Outro vegetal que possui água em seu interior é o cacto, porém nem sempre é encontrado em florestas
tropicais e, sim, em matas de região semiárida. Deve-se cortar a parte superior da planta com um facão,
pois possuem espinhos fortes e uma casca grossa, em seguida retira-se a polpa, macerando-a para
retirada da água e descartando-a em seguida.
Tipos de cactos
Alimento
Um sobrevivente necessita de energia para sobreviver e desempenhar as tarefas. Essa energia é
suprida com a ingestão de proteína animal e/ou vegetal. A proteína animal pode ser encontrada em
alimentos como carnes e ovos e a vegetal nos carboidratos encontrados, principalmente, nos alimentos à
base de amido e também nas frutas.
Inicialmente, deve-se fazer uso dos alimentos trazidos dos suprimentos restantes da aeronave, pois são
os que estão mais acessíveis e sobre os quais se tem mais conhecimento. Deve-se observar que os
alimentos industrializados e pré-prontos que são servidos a bordo exigem conservação e por isso devem
ser logo consumidos, apesar das recomendações de não se alimentar nas primeiras 24 horas.
As regras existentes devem sempre ser analisadas e reavaliadas, pois cada situação exige um
reordenamento. Essas regras são utilizadas como balizadoras das ações a serem executadas.
Se a quantidade de água descrita anteriormente não for suprida, não se deve ingerir alimentos, pois só
se pode fazê-lo em conjunto com a hidratação.
Havendo água deve-se evitar a ingestão de gorduras, pois podem causar distúrbios à digestão, levando
à desidratação.
Fontes de Captação de Alimento
Podem ser divididas em dois grandes grupos:
origem vegetal;
origem animal.
Havendo anzóis ou se for possível improvisar anzóis e linhas de pesca, pode-se pescar. Os peixes são
considerados uma ótima fonte de proteínas, mas alguns itens devem ser considerados.
A pesca exige conhecimento, paciência e tempo. Conhecimento tanto para confeccionar o material
necessário como também para a limpeza e preparo, pois os peixes não devem ser ingeridos crus,
mesmo que as pessoas estejam acostumadas a frequentar restaurantes onde esse prato seja servido
dessa forma, pois, quando se frequenta um restaurante, pode-se hidratar facilmente; e se, por qualquer
razão, alguém passar mal, existe a possibilidade de ser conduzido a hospitais ou postos de saúde.
Os peixes ideais para consumir crus são os peixes de água salgada. A retirada de suas escamas ou
couro, dependendo do tipo de peixe, também exige alguma habilidade. As escamas devem ser retiradas
no sentido contrário, ou seja, na direção da cauda para a cabeça.
Paciência é exigida, pois a qualquer barulho ou movimento na água os peixes tendem a se afastar. Ao
observar ou sentir qualquer anormalidade os peixes, mesmo os que estiverem em cardumes como os
peixes marítimos, tendem a fugir. A confecção dos equipamentos exige habilidade e também exige
Fogão de moquear
A técnica de espetar o alimento e colocar o próprio espeto cravado no chão próximo à fogueira também
é bastante útil e utilizada nos estados do sul do país, principalmente no Rio Grande do Sul.
Lançando mão de algumas dessas técnicas e usando como material a madeira, é necessário ficar atento
o tempo todo, pois a madeira pode queimar e destruir o fogão.
Existem ainda algumas técnicas de preparo dos alimentos que são utilizadas como fornos de selva.
Envolve-se o alimento em barro ou argila ou ainda em folhas de bananeira e enterra-o pondo fogo por
cima dele. A desvantagem dessa técnica é que não se pode verificar como está o cozimento do
alimento. Toda vez que se quiser verificar se está pronto, é necessário desfazer o fogo. Por isso é
necessário ter prática anterior para que possa empregar esse método em uma situação de
sobrevivência.
Fontes:
Department of the Army Field Manual. US Army Survival Manual FM 21-76. Headquarters,
Department of the Army. October 1970.
Manual do Curso de Formação de Comissários do Flex Aviation Center.
RBAC-121 – Regulamento Brasileiro da Aviação Civil. ANAC – Agência Nacional de Aviação
Civil.
Equipamentos de Flutuação
Bote salva-vidas.
Apresentam formato poligonal, em diferentes tamanhos e com uma capacidade média variando entre 4 e
69 sobreviventes.
Os botes salva-vidas normalmente estão presentes em aeronaves que não possuem uma
escorregadeira do tipo barco, como o B737, por exemplo. Os mesmos podem ficar acondicionados em
rebaixamentos do teto da aeronave ou dentro dos compartimentos superiores de bagagem, os
chamados bins.
Escorregadeiras-barco
Escorregadeira-barco.
Apresentam formato retangular, podendo variar em tamanho e capacidade de aeronave para aeronave.
Estão presentes nos aviões de grande porte, como B767, MD11 e AIRBUS340, por exemplo, com uma
capacidade média aproximada 51 a 81 sobreviventes.
Colete salva-vidas.
Os coletes salva-vidas possuem duas câmaras de flutuação. Para cada câmara, existe uma cápsula de
gás carbônico (CO2), responsável pela sua inflação.
Em caso de falha no sistema de inflação, os coletes podem ser inflados por sopro, através de um tubo
acoplado a cada câmara.
Os coletes possuem, ainda, uma tira ajustável, que deverá ser fixada na altura da cintura.
Na altura do ombro, entre as câmaras, existe uma lâmpada localizadora (ou sinalizadora), alimentada
por uma bateria ativada à base de água, com uma duração aproximada de 8 horas.
Os coletes salva-vidas adicionais ou reservas também podem ser utilizados para a flutuação de
suprimentos ou de qualquer outro objeto julgado importante para a sobrevivência. Essa hipótese deve
ser considerada, desde que exista tempo suficiente para a preparação antes do pouso.
Assentos Flutuantes
Em situação normal de voo, o passageiro está sentado sobre o assento flutuante. Em situação de
emergência, esse assento (removível) deve ser levado com o passageiro para fora da aeronave. Uma
placa interna de poliuretano rígido é responsável pela flutuação do assento. Os assentos flutuantes
suportam um peso médio inercial de 90 kg.
Correta Utilização do Assento Flutuante
Antes de pular na água, o passageiro deve apoiar o queixo na porção mais larga do assento.
Segurar firmemente as alças localizadas sob o assento e somente então se jogar na água.
A Evacuação da Aeronave
Seguramente, a tarefa mais complicada e crítica, que exige grande preparo e liderança por parte dos
tripulantes, é a evacuação da aeronave após o pouso.
Diversos são os fatores que podem, diretamente, influenciar no sucesso dessa operação, entre eles:
Treinamento da tripulação.
Conhecimento da localização e manuseio dos equipamentos de emergência.
Comportamento dos passageiros.
Condições do mar, iluminação disponível e os danos estruturais apresentados pela aeronave.
Fica complicado determinar o tempo de flutuação da aeronave após o impacto na água. Por esse motivo,
como é citado no capítulo de evacuação, todos os passageiros devem ser retirados imediatamente da
aeronave, tornando a situação de pouso na água uma evacuação evidente.
Com esse procedimento, a escorregaria estará separada parcialmente da aeronave, uma vez que uma
tira, chamada “tira de amarração”, de aproximadamente 6 metros, ainda a mantém presa à aeronave.
Obs.: É preferencial a transferência direta dos passageiros da aeronave para a escorregadeira-barco.
No entanto, se o mar estiver agitado, a escorregadeira ficará batendo fortemente contra a água,
representando um alto risco para quem tentar acessá-la diretamente. Nesse caso, é necessário separar
parcialmente a escorregadeira da aeronave, minimizando as batidas contra a água, e realizar o
embarque dos passageiros via água. Esse é o motivo pelo qual existe uma separação inicialmente
parcial e depois definitiva.
Barco/Bote Salva-Vidas
Retirada do bin e/ou Rebaixamento do teto, Fixação na Aeronave, Lançamento na Água e Desconexão
da Aeronave. Para a realização de uma evacuação na água utilizando um bote salva-vidas é necessário,
após a parada da aeronave, retirá-lo do seu alojamento, fixá-lo à aeronave e lançá-lo na água, efetuando
posteriormente, da mesma forma que se faz com a escorregadeira-barco, a desconexão definitiva da
aeronave.
Após estar corretamente fixado na aeronave, o pacote (bote) deve ser lançado no mar. Quando a tira de
amarração esticar totalmente, o bote infla automaticamente. Também é possível antecipar a inflação do
bote puxando o comando manual de inflação (punho metálico), localizado próximo ao gancho da tira de
amarração.
Os sobreviventes devem pular na água, levando consigo o seu equipamento individual de flutuação, e
nadar até o bote. Até quando for possível, devido ao já citado risco de submersão e explosão da
aeronave, o bote permanece fixado ao avião. Da mesma forma que na escorregadeira-barco, para a
realização da separação definitiva do bote da aeronave, é necessário cortar a tira de amarração
utilizando a faca flutuante, localizada no próprio bote, próximo ao final da tira.
Escorregadeira-barco:
As escorregadeiras do tipo barco apresentam pista dupla e inflam automaticamente após a abertura de
uma porta em emergência. As escorregadeiras-barco possuem duas câmaras unidas estruturalmente
entre si e pneumaticamente independentes (inflação independente). Tais câmaras dão formato à
escorregadeira e sustentam o peso dos sobreviventes, tanto em uma evacuação em terra quanto em um
período de sobrevivência no mar. Quarenta por cento da inflação da escorregadeira é executada por um
cilindro que contém CO2 e nitrogênio, localizado na sua base inferior próximo à estação dianteira. Os
60% restantes da inflação ficam por conta dos venturis (aspiradores de ar) localizados em ambas as
câmaras.
Toda escorregadeira-barco tem indicações escritas, internas e externas, da localização dos seus
acessórios, estações de embarque e capacidade possível de ocupantes.
Obs.: É extremamente importante, antes de realizar uma evacuação, observar se a escorregadeira está
totalmente inflada, através da constatação visual e também com o cessar dos ruídos dos venturis.
Para refletir: Em uma aeronave wide body, como o B777 por exemplo, é possível encontrarmos um
número mínimo de 8 comissários trabalhando e no máximo 12. Esse avião possui 8 portas. Dependendo
do número de comissários, havendo um pouso na água, existirá apenas 1 comissário para cada
escorregadeira-barco, se todas estiverem operantes.
Considerando a escorregadeira de menor capacidade desse equipamento, você, comissário, estará no
mínimo à frente de 51 pessoas em pânico dentro de uma escorregadeira. É muito importante estar
consciente dessa situação, afinal, diferente de uma evacuação de emergência em infraestrutura
aeroportuária, comissários e passageiros (sobreviventes) estarão restritos no mesmo espaço em
condições de sobrevida extremamente adversas. O seu preparo, condicionamento, confiança e
conhecimento podem torná-lo o homem-chave de todo o período da sobrevivência. Pense nisso.
Obs.: A realidade de outras aeronaves narrow body, bem como quando a sobrevivência acontece com
botes salva-vidas, não é diferente do que acabamos de observar e refletir.
Bote Salva-vidas:
Os botes salva-vidas, a exemplo das escorregadeiras, também possuem duas câmaras unidas
estruturalmente entre si e pneumaticamente independentes. Tais câmaras dão formato ao bote e
sustentam o peso dos sobreviventes.
Obs.: Botes de menor capacidade podem apresentar apenas 1 câmara de flutuação.
Quarenta por cento da inflação do bote é executada por um cilindro que contém CO2 e nitrogênio. Os
60% restantes da inflação ficam por conta dos venturis (aspiradores de ar) localizados em ambas as
câmaras.
Lâmpada sinalizadora x x
Anel de salvamento x x
Tira de reentrada x
Freio x
Lâmpadas sinalizadoras: com duração média de 8 horas, as lâmpadas sinalizadoras são acionadas
através de baterias ativáveis à base de água.
Anel de salvamento: localizado normalmente próximo à âncora (biruta d’água), está fixado na
escorregadeira por uma corda; deve ser utilizado para recuperar sobreviventes que estejam na água,
bem como para unir as embarcações após a separação definitiva da aeronave.
Âncora (biruta d’água): localizada normalmente próxima do anel de salvamento, está fixada na
escorregadeira por meio de uma corda, é utilizada para retardar a deriva da embarcação, permitindo que
a mesma permaneça o maior tempo possível nas proximidades do local do acidente.
A correta utilização da âncora biruta d’água deve observar a seguinte regra:
Caso o mar esteja calmo: liberar toda a extensão da corda que a prende na escorregadeira.
Caso o mar esteja agitado: liberar somente meia extensão da corda que a prende na escorregadeira.
Toldo: tem a finalidade de proteger os sobreviventes dos raios solares, chuva e frio e também coletar
água da chuva. Por apresentar uma cor alaranjada forte e contrastante, o toldo aeronáutico serve
também para sinalizar às equipes de resgate. É importante destacar que o toldo vem acondicionado
dentro de um saco, do mesmo material e cor do toldo, e que, após a separação definitiva da
escorregadeira-barco ou do bote da aeronave, o mesmo fica pendurado para fora da embarcação. É
dever do comissário içar o toldo para dentro da embarcação.
Dentro desse mesmo saco, juntamente com o toldo, existem também os mastros metálicos. Esses
mastros são encaixados em locais apropriados nas escorregadeiras ou botes e suportam (junto com os
montantes estruturais no caso de algumas escorregadeiras) o peso do toldo, dando o formato de uma
“cabana” à embarcação.
Já os botes possuem apenas os mastros metálicos para apoio do toldo, atendendo perfeitamente à
necessidade desse tipo de embarcação.
Outro item presente no toldo são as sanefas (janelas distribuídas nas laterais do toldo). Permitem a
entrada de ar em dias quentes e também podem ser utilizadas como dispositivo de navegação da
seguinte forma;caso tenha sido avistada terra firme, e exista um vento soprando em direção à terra,
remova a âncora da água, abra as sanefas do toldo apenas do lado do vento e utilize-o como se fosse
uma “vela” de navegação.
Válvula de inflação manual: dispositivo presente em cada câmara da escorregadeira e do bote, onde
é encaixada a bomba de inflação manual (item presente no conjunto de sobrevivência no mar). Devido à
presença da válvula de inflação manual associada à bomba de inflação manual é possível completar ou
aliviar a pressão do ar dentro das câmaras da escorregadeira ou do bote.
Montantes estruturais
Tira de reentrada: presente nas escorregadeira-barco e também naquelas que não são do tipo barco,
a tira de reentrada é utilizada (em um pouso em terra) caso haja a necessidade de retornar ao interior da
aeronave.
Freio: localizado no final da escorregadeira, o freio é composto de pequenas ondulações dispostas
horizontalmente, cuja finalidade é retardar a velocidade do passageiro após saltar na escorregadeira em
uma evacuação em terra.
Ações Subseqüentes
Terminadas as ações imediatas e simultâneas, é fundamental a realização de outras tarefas, chamadas
de ações subseqüentes. que são:
Jogar a âncora: não esquecer de considerar o conceito já estudado da correta utilização da
âncora, de acordo com a agitação do mar, ou seja, o procedimento para mar calmo e mar
agitado. É importante mencionar que, antes de lançar a âncora, se deve observar se a área do
lançamento não está envolta por destroços da aeronave, pois a âncora poderia ser facilmente
danificada.
Unir as embarcações: havendo mais de um equipamento coletivo de flutuação, é fundamental
unir as embarcações. Esse procedimento evitará que as embarcações derivem para rumos
Generalidades
Após a realização das ações imediatas e simultâneas e também das ações subseqüentes, existem
outras atividades e ações fundamentais, que deverão ser observadas e executadas durante a jornada no
mar. A seguir, estudaremos tais ações, destacando que o comissário tem um papel fundamental para
que tudo que for previsto e possível seja realizado.
Manter a escorregadeira ou o bote o mais seco possível.
Conservar a embarcação em constante equilíbrio: Os sobreviventes devem permanecer
sentados no assoalho, de costas para as câmaras principais e com os pés voltados para o
centro. Se for necessário se deslocar na embarcação, tente não caminhar, procure engatinhar,
com isso evitamos movimentos bruscos da escorregadeira ou do bote e aumentamos a sua vida
útil.
Realizar verificações periódicas na âncora, observando a regra correta de utilização já estudada.
Verificar constantemente a necessidade de completar a inflação da escorregadeira ou do bote
utilizando a bomba de inflação manual.Em dias de temperaturas elevadas, o ar no interior da
escorregadeira irá esquentar e conseqüentemente se dilatar, aumentando a pressão interna da
embarcação. Por esse motivo, as escorregadeiras e os botes salva-vidas possuem uma válvula
de alívio de pressão. Com a queda da temperatura, o ar tende a se contrair, causando uma
deflação das câmaras. Portanto, é importante manter-se atento às condições da embarcação.
Proteger bússolas, fósforos, isqueiros relógios, equipamentos de sinalização e tudo o que não
puder ter contato com a água, a fim de preservar tão importantes ferramentas.
Manter turnos de vigília de no máximo 2 horas: Dividir os ocupantes das embarcações (todos,
com exceção dos feridos graves e exaustos) em grupos de vigilância de forma que, enquanto
alguns vigiam, os demais repousam. O grupo de vigilância deve estar atento ao ruído dos
motores de uma aeronave ou embarcação, bem como a visualização de terra à vista. Os
equipamentos de sinalização, já preparados para esse fim, devem estar disponíveis para o grupo
que estiver de vigília. É muito importante que o grupo que estiver de repouso realmente
descanse. Um sobrevivente exausto na embarcação não poderá contribuir com o grupo e
colocará em risco a sua própria vida.
Não desperdiçar energia em tarefas desnecessárias.
Definir regras para se livrar dos excrementos, estabelecendo diretrizes de higiene para manter a
escorregadeira limpa e evitar doenças.
Procurar manter a calma e a moral do grupo elevada: Tranqüilizar os sobreviventes e não deixar
a moral cair são atitudes benéficas e importantes para o resgate de um maior número de
pessoas com vida.
Navegar a embarcação somente se houver terra à vista. Se conseguir chegar próximo de terra
firme, tenha cuidado ao realizar o desembarque da escorregadeira. Sendo necessário nadar até
atingir o ponto desejado, conserve a vestimenta completa, incluindo calçado se houver. Em
grandes arrebentações, avalie um ponto estratégico e de menor risco para efetuar o
desembarque. Tenha cuidado com recifes e corais, e por razões de segurança jamais realize
desembarque quando o sol estiver baixo.
Reavaliar periodicamente os ferimentos dos sobreviventes e trata-los dentro das possibilidades.
Em dias frios, manter as sanefas do toldo fechadas e os sobreviventes agrupados.
Caso existam alguns destroços da aeronave flutuando, observe cuidadosamente e aproveite
tudo o que for possível e útil.
Manusear cuidadosamente objetos cortantes ou pontiagudos no interior da embarcação.
Procure manter tudo o que for trazido para dentro da escorregadeira ou do bote agrupado e
protegido da água do mar.
Água Doce
Obs.1: A água da chuva não precisa ser purificada quando captada diretamente.
Como possibilidade final de obter água potável, é possível utilizar o dessalinizador ou a água potável
presente em recipiente apropriado, em cada conjunto de sobrevivência no mar.
Obs.3: Dentro das possibilidades é recomendável o consumo de pelo menos meio litro de água por dia
em uma situação de sobrevivência no mar.
E, para finalizar o tópico obtenção de água, lembre-se: Estando em uma sobrevivência no mar:
Não beba urina, sangue nem álcool;
Não beba a água do mar.
Isso poderia agravar e muito a situação do sobrevivente.
O Racionamento da Água
A água existente na escorregadeira-barco ou no bote somente deverá ser utilizada passadas as
primeiras 24 horas. Primeiro porque existe uma grande possibilidade de os sobreviventes serem
encontrados e resgatados antes do término do primeiro dia. E segundo porque, após 24 horas, o
sobrevivente estará apenas levemente desidratado, e toda água ingerida será retida pelo organismo e
não desperdiçada através da urina.
Alimento
Havendo considerável reserva de água, e tão-somente se houver água, os sobreviventes no mar devem
direcionar os esforços para a obtenção de alimentos. Tal tarefa, além de possivelmente prover
alimentação para o grupo, mantém o sobrevivente ocupado e afastado de pensamentos negativos e
destrutivos.
Antes de estudarmos as formas de obtenção de alimentos no mar, vale destacar que aqueles trazidos da
aeronave devem ser cuidadosamente observados e analisados antes de ser consumidos. Essa medida
visa proteger os sobreviventes de possíveis alimentos deteriorados, que poderiam agravar o seu estado
físico.
Pesca
A pesca, com certeza, é a primeira opção alimentar para os sobreviventes.
No entanto, nem todos os peixes são comestíveis. Vamos dividir os animais marinhos em 5 grupos e
realizar um breve estudo do que é possível e perigoso quando falamos em nos alimentar com peixes.
Animais Mordedores
Nesse grupo encontraremos seres marinhos com características agressivas e/ou hábitos predatórios,
providos de poderosas mandíbulas com dentes afiados que podem causar graves ferimentos e/ou
mutilações ao ser humano, em um encontro casual ou provocado. Esse grupo se restringe basicamente
a tubarões, barracudas, moréias e outros peixes menores capturados por pescadores.
Animais Peçonhentos
Nesse grupo encontraremos animais providos de mecanismos naturais de defesa que entram em ação
apenas quando estes são importunados, não havendo a possibilidade de o homem ser passivamente
atacado e inoculado com a peçonha.
Obs.: Peçonha é uma substância qualquer de origem animal, produzida por uma glândula, capaz de
alterar o metabolismo de outro animal quando inoculada.
As conseqüências ocasionadas por uma peçonha estão diretamente correlacionadas a sua potência,
quantidade inoculada, peso e condições físicas da vítima. Provocam desde uma simples irritação a
reações de extrema dor.
De forma geral, não se deve tocar, manusear ou importunar os seres marinhos desconhecidos, evitando-
se os animais com formas e, principalmente, cores exóticas, que é a sinalização da natureza para o
perigo.
Tubarão x
Moréia x
Barracuda x
Ouriço x
Água-Viva x
Raia x
Baiacú x
Elétricos x
O Início da Pesca
Um outro fator que deve ser analisado e considerado é como iniciar a pesca. Lançando mão dos
equipamentos do conjunto de sobrevivência no mar, ou improvisando anzóis com alfinetes, grampos ou
qualquer outro material possível, o sobrevivente deve utilizar uma isca inicial para atrair os peixes.
Pequenos peixes são atraídos pela sombra proporcionada pela embarcação. Fazendo uso de uma rede
improvisada de pano, é possível capturar peixes menores e utilizá-los como iscas para atrair peixes
maiores. Outra opção de isca é algo que tenha sido pego da aeronave, e que possa servir para tal.
Outra maneira de atrair peixes para perto da embarcação é projetar o facho de luz de uma lanterna à
noite na água e tentar capturá-los ou pescá-los como já descrito anteriormente, utilizando uma rede
improvisada.
Nota: Não quero deixar aqui a sensação de que será fácil pescar ou até conseguir uma quantidade
significativa de peixes. No entanto, o período é de sobrevivência, e toda e qualquer possibilidade
existente de garantir a manutenção da vida humana nessa emergência foi cuidadosamente estudada e
relatada neste capítulo.
O Consumo do Peixe
Para consumo dos peixes capturados deve-se remover as escamas, desprezar uma parte da cauda e
limpá-los. Normalmente a carne do pescado crua não é salgada nem desagradável ao paladar.
Lembre-se de que as vísceras dos peixes capturados e limpos podem e devem ser utilizadas como iscas
na próxima pesca.
Tubarões
Ao notar a presença de tubarões nas proximidades da escorregadeira, pare imediatamente a pesca. Não
inicie a limpeza do peixe que tiver apanhado, tampouco jogue no mar as vísceras daqueles que já
tenham sido limpos. Saiba que os tubarões são atraídos por sons irregulares e por microscópicas
gotículas de sangue dispersas na água.
Ainda na presença de tubarões, não deixe mãos e pés para fora da embarcação. Tubarões normalmente
não são atraídos pela carne humana, e muitos ataques acontecem acidentalmente, pelo fato de o
tubarão confundir o membro humano com algum ser marinho. No entanto vale a precaução.
Caso esteja na água, recomenda-se permanecer imóvel; quanto mais nadamos, mais parecidos com
peixes ficamos. Na primeira oportunidade que tiver, retorne para a embarcação.
Caso o tubarão venha atacar a escorregadeira ou o bote, o que é uma possibilidade remota, procure
atingi-lo no focinho e na cabeça utilizando um objeto contundente.
As medidas aqui citadas não significam que estamos imunes aos ataques, porém podem funcionar.
Aves
As aves constituem alimento potencial e possível no mar. Estando próximo de uma encosta, a
probabilidade de uma delas utilizar a embarcação como ponto de descanso se faz presente.
Dentro das condições e limitações existentes, tente capturá-las o mais rápido possível.
Muitas são as espécies de aves que exploram o mar para sobreviver.
O Racionamento do Alimento
Da mesma forma que a água, o alimento deve ser distribuído passadas as primeiras 24 horas. Vale
ressaltar mais uma vez, que em uma sobrevivência no mar, somente devemos nos alimentar se houver
água disponível.
Hipotermia: é uma condição existente quando a temperatura do corpo cai significantemente, podendo
ser fatal ao ser humano. A hipotermia pode ser causada através da exposição do corpo molhado ao
ambiente ou da exposição ao vento frio.
A perda de calor do corpo resulta em perda de destreza, perda de consciência, e eventualmente perda
de vida. Alguns minutos dentro da água fria fazem com que seja muito difícil nadar, respirar e até mesmo
se manter flutuando.
Pessoas de pequeno porte esfriam mais rapidamente que as pessoas de grande massa, e as crianças
esfriam mais rapidamente que os adultos. Ficará complicado sobreviver em águas geladas, caso não
exista nenhum equipamento coletivo de flutuação que possa manter os sobreviventes fora da água.
Observe a seguir a expectativa de vida de um ser humano imerso na água, submetido a baixas
temperaturas.
Esses valores podem apresentar variações, dependendo do estado físico do sobrevivente e da massa corpórea .
Algumas medidas, caso sejam possíveis, deverão ser adotadas rapidamente, quando um ser humano
apresentar um quadro de hipotermia.
Remover as roupas molhadas e manter-se seco.
Proteger a cabeça, o pescoço e a nuca, pois são as regiões do corpo onde ocorrem as maiores
perdas de calor.
Proteger-se do vento.
Não tomar bebidas alcoólicas, pois elas abaixam o metabolismo do organismo e
conseqüentemente a temperatura do corpo.
Evitar chá e café por serem diuréticos.
Tentar restabelecer a temperatura do corpo gradativamente.
Caso exista alguma parte do corpo congelada, não massageie ou friccione na tentativa de
transmitir calor, isto provocará lesões na pele podendo levar a uma infecção.
O continente da Antártica
O Ártico é a região pertencente ao Pólo Norte e faz parte do Círculo Ártico. Este inclui partes da Rússia,
Escandinávia, Groenlândia, Canadá, Alaska e o Oceano Ártico. Nessas localidades, 48% das terras são
consideradas regiões frias devido a sua localização, elevação do território e correntes do oceano.
Existem apenas duas grandes estações: um verão curto, de aproximadamente 3 meses, e um longo
inverno. As geadas são muito freqüentes. No verão uma fina camada de gelo se derrete tornando a
região muito úmida, quando então aparecem lagos, riachos e brejos. Nessa época do ano, devido à
umidade, a vegetação, conhecida como tundra, é basicamente de musgos, arbustos e salgueiros. A
temperatura média em um período de 24 horas é de –10ºC, ou acima desta. Essa estação caracteriza-se
pelo congelamento durante as horas mais frias da noite e o degelo durante o dia. Isso faz com que o
terreno se torne muito escorregadio e enlameado. A maior preocupação deverá ser proteger-se do
terreno úmido, da chuva congelada e da neve úmida.
Uma condição extremamente perigosa é quando existe a combinação do vento com as baixas
temperaturas. Essa combinação é conhecida como sensação térmica (windchill), ou seja, o efeito do
vento na pele exposta. Por exemplo, com um vento de 27,8 km/h e uma temperatura de 10º negativos, a
sensação térmica é de 23º negativos. A seguir apresentamos uma tabela onde podemos ver a variação
de temperatura com o vento.
Abrigo
Em uma situação de emergência um abrigo será a melhor forma de proteção. O erro mais comum na
construção de abrigos é o seu tamanho: ele deverá ser grande o suficiente para protegê-lo e pequeno
bastante para conter o calor do corpo, especialmente no caso de uma sobrevivência no gelo. A sua
construção dependerá do material disponível e também da localização em que o sobrevivente se
encontrar.
Uma área arborizada fornece material para a construção de um abrigo, enquanto as áreas descampadas
provavelmente terão somente a neve e o gelo para a sua construção.
Em caso de um acidente aéreo, a fuselagem da aeronave poderá ser usada como abrigo somente no
verão, quando a incidência do sol é maior. Já no inverno ela não poderá ser utilizada, pois o metal
dissipará todo o calor gerado pelas pessoas. Caso o sobrevivente decida utilizar a fuselagem como
abrigo, deve-se certificar de que todo combustível da aeronave tenha se evaporado, evitando assim o
risco de explosão.
As escorregadeiras da aeronave também poderão ser utilizadas como abrigo. Deve-se tomar o cuidado
de não deixar acumular neve em cima do toldo.
Se a área onde se encontra o sobrevivente for descampada, ele terá como material de construção
somente a neve e o gelo. Os abrigos desse tipo requerem ferramentas apropriadas para sua construção
e exigem algumas providências a serem tomadas. No caso de um acidente aéreo, algumas aeronaves
possuem equipamentos como a machadinha e o facão do conjunto de sobrevivência na selva que
poderão ser utilizados. Até mesmo pedaços da fuselagem, manuseados sempre com muito cuidado,
podem auxiliar na construção de um abrigo. Devido à complexidade dos abrigos, serão gastos tempo e
muita energia para sua construção. O abrigo deverá ser bem ventilado e a sua entrada terá de ser
obstruída para evitar correntes de ar e manter o interior aquecido. Nunca durma diretamente sobre o
chão, utilize sempre alguma cobertura, tais como folhas, cortinas, assentos de poltrona. Isso manterá o
corpo do sobrevivente longe do solo e também proporcionará mais retenção de calor.
Abordaremos a seguir alguns tipos de abrigos que poderão ser construídos com neve e gelo. Uma
caverna na neve é um tipo de abrigo muito eficiente, pois a neve isola o frio; o inconveniente é que na
sua construção o sobrevivente provavelmente ficará molhado. Para construir esse abrigo será
necessário um local onde a neve tenha pelo menos 3 m de profundidade, para que se possa cavar um
buraco. Procure fazer com que o teto do abrigo fique arqueado, sem arestas e bem resistente,
permitindo assim que a neve derretida escoe pelas laterais. As paredes e o teto do abrigo deverão ter no
mínimo 30 cm de espessura. Para dormir, deve-se construir uma plataforma acima da entrada e distante
das paredes do abrigo, pois assim o sobrevivente não irá se molhar. O teto deve ser alto o suficiente
para que uma pessoa possa sentar-se em cima da plataforma. Feche a entrada da caverna com um
Caverna de neve.
Um outro tipo de abrigo poderá ser a trincheira de neve. A idéia nesse tipo de abrigo é que o
sobrevivente fique abaixo do nível da neve e utilize algum material como cortinas ou mesmo uma parte
da escorregadeira como telhado. Caso a neve esteja profunda, pode-se cortá-la em blocos e utilizá-los
como telhado na trincheira.
Trincheira de neve.
Em caso de neve compacta, também se pode construir um abrigo utilizando blocos de gelo para as
paredes e um material impermeável para cobrir o abrigo. No caso de nevascas deve-se retirar a neve da
cobertura impermeável em intervalos regulares, evitando danificar o material.
Em áreas congeladas normalmente os nativos constroem iglus, que são abrigos feitos de blocos de
gelo, muito eficientes porém requerem muita prática e ferramentas apropriadas para sua construção. Em
uma sobrevivência essas ferramentas deverão ser improvisadas com partes da aeronave ou algum
material metálico e resistente.
Construção de iglu.
A construção de abrigos em áreas arborizadas torna-se bem mais fácil. O tronco de uma árvore pode ser
usado como suporte para um abrigo e os galhos com folhagens como telhado ou cobertura, como mostra
a figura a seguir. Mesmo nesse caso a neve deve ser empilhada nas laterais do abrigo com a finalidade
de isolar o frio.
Até mesmo uma árvore caída poderá ser utilizada como abrigo, tomando-se o cuidado de retirar a neve
debaixo dela e os ramos de seu interior, que poderão ser utilizados como assoalho.
Um abrigo poderá ser construído também junto ao tronco de uma árvore. Para isso deve-se encontrar
uma árvore frondosa e cavar um poço (buraco) junto ao tronco até alcançar a terra ou que atinja a
profundidade suficiente para uma pessoa ficar em seu interior. Coloque algumas folhagens no fundo do
poço e alguns ramos para servir de telhado. Deve-se ter o cuidado de não deixar acumular neve em
cima dos ramos.
Obtenção de Fogo
Uma vez construído o abrigo, o sobrevivente deverá obter o fogo. De extrema importância, ele fornece
meios para a preparação e a preservação do alimento, produz fumaça e luminosidade, que servirão
como sinalização, oferece mais segurança e, principalmente em temperaturas muito baixas, ele ajuda na
obtenção e purificação de água e no fornecimento de calor.
As técnicas abordadas anteriormente para a obtenção e manutenção do fogo serão utilizadas também
nesse caso. Em uma região congelada, a obtenção de material combustível será mais difícil. Nas áreas
arborizadas os combustíveis de origem vegetal serão encontrados mais facilmente em baixas altitudes. É
importante que o sobrevivente conheça alguns tipos de plantas pois umas se queimam com mais
facilidade e outras produzem mais fumaça. As árvores do tipo Spruce (figura A) e Tamarack (figura B)
são frondosas e produzem muita fumaça, sendo ideais para sinalização. O tronco da árvore do vidoeiro
(figura C) queima-se rapidamente, como se estivesse embebido em óleo ou querosene. O salgueiro
cresce em regiões pantanosas do Ártico e também se queima rapidamente, com a vantagem de não
produzir muita fumaça. Outros vegetais que poderão ser usados como combustível são a grama e o
musgo, que quando amassados como uma bola se tornam mais produtivos, pois queimam lentamente.
Em regiões descampadas será mais difícil de conseguir combustível para o fogo. O mais provável será
gordura animal ou algum tipo de óleo. Uma opção será o combustível do tanque da aeronave. O ideal é
que ele seja retirado do avião enquanto estiver morno, caso não ofereça risco de explosão, pois uma vez
frio pode congelar e será mais difícil drená-lo. Caso não haja um compartimento para armazená-lo,
deixe-o cair sobre a neve para congelar e quando houver necessidade raspe e utilize-o. Tenha muito
cuidado ao manusear combustíveis derivados de petróleo, eles poderão causar queimaduras e
congelamento da pele. Produtos plásticos como talheres, sacos de polietileno ou materiais encontrados
na aeronave também se inflamam facilmente, podendo facilitar a obtenção de fogo.
Existem alguns cuidados que o sobrevivente deverá ter na utilização do fogo. Quando produzido por
materiais sólidos, o fogo queima em profundidade e não deverá ser feito próximo ao abrigo com o risco
de derretê-lo. O abrigo deverá ter uma ventilação adequada, evitando dessa forma o envenenamento por
monóxido de carbono. O sobrevivente deverá tomar cuidado para não queimar as roupas ou a si mesmo
na tentativa de se manter aquecido ou de secar sua vestimenta. A neve derretida pode molhar os
sobreviventes, os equipamentos e também extinguir o fogo.
Na preparação de alimentos existem algumas maneiras de utilização do fogo. Pode-se construir um tipo
de fogão lançando mão de algum material metálico, como uma lata, onde o fogo é armazenado sua
superfície aquecida para cozinhar o alimento. Além de ser fácil construí-lo, pelo fato de o combustível
ficar armazenado ele se conserva mais.
Outro modo de cozinhar é fazer uma fogueira com um suporte ao lado, apoiar uma vara e pendurar um
recipiente sobre o fogo.
Quando a finalidade é se aquecer, muitas vezes um fogo pequeno como o produzido por uma vela é
suficiente. Ele requer pouco combustível, gera calor e pode inclusive ser utilizado para esquentar uma
pequena quantidade de líquidos.
Água Doce
O próximo passo será a obtenção de água doce, pois o ser humano não sobrevive muito tempo sem
água. Mesmo em regiões frias ele necessita de um mínimo de 2 litros de água por dia para manter o
corpo funcionando bem e não desidratar. O ser humano sobrevive mais tempo sem alimento, mas não
sem água. Até que se encontre uma fonte de água, ela deverá ser racionada. Em uma região congelada
não será muito difícil encontrar água, e devido às baixíssimas temperaturas ela é bem mais limpa. O
ideal contudo é que seja purificada para consumo. A localização e época do ano irão determinar onde e
como o sobrevivente a conseguirá. Durante o verão as melhores fontes de água poderão ser lagos,
lagoas, córregos e até mesmo rios. O gelo e a neve também poderão ser usados, porém devem ser
derretidos antes de consumidos. Comer neve e gelo reduz a temperatura do corpo, leva à desidratação e
pode provocar queimaduras. Caso o sobrevivente utilize a neve como fonte de água, deverá usar a que
está em camadas mais profundas pois a neve superficial poderá estar contaminada com fezes e urina de
animais ou mesmo do próprio homem. Caso o sobrevivente esteja próximo ao mar, ele poderá usar o
gelo para consumo. O gelo opaco e cinzento contém sal e deverá ser dessalinizado. Se estiver cristalino
e azulado, já perdeu sua salinidade e poderá ser consumido. Quando disponível, procure derreter o gelo
em vez de neve. Um copo de gelo rende mais água que um copo de neve, além de derreter mais
rapidamente. Para isso utilize uma lata ou um improvise um recipiente que possa ser colocado próximo
ao suspenso perto do fogo com um recipiente em baixo. O fogo não deverá ser feito somente para
obtenção de água, procure economizar combustível quando existem outras maneiras de conseguir água.
Uma vez que se tenha água, procure mantê-la próxima ao corpo, evitando que se congele novamente.
Ao armazenar água não encha completamente o recipiente e mexa-o regularmente; a água em
movimento demora mais para congelar.
O sobrevivente deve evitar beber muito líquido antes de descansar, para não ter de sair do abrigo e
resfriar o corpo.
Alimentação
Depois da água, o mais importante para o homem é o alimento. Embora possa viver algumas semanas
sem alimento, é necessária a ingestão mínima dele para manter o corpo saudável. As principais fontes
são: os alimentos trazidos da aeronave, alimentos vegetais e animais, pois fornecem calorias,
carboidratos gorduras e proteínas necessárias ao funcionamento do corpo humano. Em regiões
congeladas, dependendo da localização, existem diversos tipos de peixes, animais, aves e plantas.
Durante os meses de verão a vida marinha é abundante em rios, águas costeiras, lagos e córregos. As
águas costeiras do Atlântico e do Pacífico Norte são ricas em frutos do mar. Lá são facilmente
encontrados camarões, caramujos, moluscos, ostras e caranguejos. Em locais onde é grande a variação
das marés, na maré baixa são encontrados mariscos nos recifes bancos de areia e nas piscinas naturais.
Já onde a variação de marés é baixa, normalmente os mariscos são jogados na praia pelas
tempestades.
Nas águas do sul do Alasca e nas Ilhas Aleutas vive um tipo de ouriço- do- mar. Seus ovos, de coloração
amarela, são um excelente alimento rico em proteínas. Sua carapaça pode ser quebrada entra duas
pedras.
A seguir temos a ilustração de alguns moluscos e frutos do mar.
Os peixes representam uma excelente fonte de gordura e proteína, geralmente são mais abundantes do
que os mamíferos e mais fáceis de ser capturados. Para facilitar sua captura será necessário o
conhecimento de alguns de seus hábitos de vida. Os peixes não se alimentam em águas turvas, durante
a noite um facho de luz os atrai, o que facilita a pesca; quando existe algum tipo de correnteza, os peixes
normalmente se escondem entre as rochas, onde a água é mais tranquila. Para pescá-los o sobrevivente
poderá usar o anzol do conjunto de sobrevivência, ou mesmo improvisar um, ou até mesmo construir
uma lança conhecida como zagaia. A maioria dos peixes e suas ovas é comestível, com exceção da
carne do tubarão do Ártico e os ovos de um tipo de peixe conhecido como sculpin.
Sculpin
Arenque
Existem várias técnicas para captura dos peixes já descritas neste livro e elas podem ser adaptadas para
regiões congeladas.
Diversos animais marinhos são encontrados no litoral de regiões congeladas. O urso-polar é um
exemplo, mas deve-se evitá-lo pois é o mais perigoso de todos os ursos. A carne do urso-polar não deve
ser cozida e seu fígado não pode ser utilizado como alimento, pois nele há uma concentração altamente
tóxica de vitamina A.
Um animal mais fácil de encontrar é a foca; contudo o sobrevivente deverá ser hábil para se aproximar
dela e aprisioná-la. Normalmente as focas descansam próximas aos buracos no gelo e estão sempre
muito atentas aos ursos-polares, seus grandes inimigos. A melhor maneira de se aproximar das focas é
ficar a favor do vento e mover-se em direção a elas cautelosamente enquanto elas dormem. Ao menor
movimento elas escorregam para dentro da água pelos buracos. Quando o caçador chegar bem próximo
dela deve matá-la instantaneamente acertando a sua cabeça. É preciso pegar a foca antes de ela
escorregar para a água; depois de morta ela boiará e será muito difícil retirá-la de dentro da água. A pele
e a gordura da foca não devem entrar em contato com rachaduras na mão; isto provocará uma reação
alérgica de inchaço conhecida como “spekk-finger”. O sobrevivente deverá tomar muito cuidado, pois
onde tem focas, tem ursos-polares.
Em regiões arborizadas podem-se encontrar porcos-espinhos. Eles se alimentam de árvores, portanto ao
encontrar árvores com troncos descascados, existe a possibilidade de eles estarem por perto.
Durante o inverno as aves são mais difíceis de ser encontradas. As que permanecem são as corujas,
alguns tipos de corvos, os “Jays Canadenses”, Pitarmigans e Grouse, mesmo assim são raramente
avistadas nos topos das árvores. As Pitarmigans e as corujas são as melhores para serem utilizadas
como alimento, os corvos possuem pouca carne, não valendo a pena o esforço de capturá-los. Já no
verão torna-se mais fácil a captura dos pássaros, pois eles ficam de 2 a 3 semanas sem voar devido à
época de reprodução. Ao capturar uma ave, o sobrevivente deve retirar as penas e a pele enquanto ela
ainda estiver morna, pois ao esfriar a dificuldade será muito maior. Caso não consiga fazer isso a tempo,
deve-se retirar as vísceras e armazenar a carne em pequenos pedaços, congelando-os separadamente,
descongelando somente o necessário para consumo.
As plantas também poderão ser utilizadas como alimento, pois fornecem proteínas e carboidratos,
principal fonte de energia. Mesmo em um ambiente congelado onde a carne é praticamente essencial, as
plantas podem sustentar o sobrevivente. O inconveniente de regiões congeladas é que embora as
tundras suportem uma variedade de plantas nos meses mais quentes, elas são muito escassas. A seguir
daremos exemplos de plantas dessas regiões, como uva do Monte Ártico, raspberry, salgueiro, uva-de-
urso, entre outras. Contudo, o sobrevivente deverá ficar atento ao fato de existirem algumas plantas
venenosas. Deve-se usar somente plantas conhecidas; caso tenha dúvida, o sobrevivente precisa seguir
o teste do CAL (cabeludo, amargo e leitoso).
Condições de Saúde
Entre as muitas questões que podem comprometer o sucesso da sobrevivência estão os problemas
médicos. Muitos sobreviventes relataram a dificuldade do tratamento das doenças e dos ferimentos
devido à falta de treinamento e de conhecimento nos procedimentos de primeiros socorros.
Os sobreviventes relacionaram que, pelo fato de não terem condições de tratar as moléstias, eram
tomados por um sentimento de impotência e apatia.
Numa situação como essa, uma pessoa com o mínimo de conhecimento em primeiros socorros pode
fazer a diferença. Sem um médico qualificado disponível, é você quem deve saber o que fazer para
permanecer vivo.
Normalmente a temperatura interna em um corpo saudável é de 37ºC. Essa temperatura poderá ser
verificada no tronco de um corpo, pois, devido à camada de gordura, ela se mantém estável. Já na
cabeça e nos membros inferiores e superiores, mais desprotegidos, a temperatura varia muito.
O corpo humano possui um “sistema” que reage quando a temperatura ambiente é muito baixa. Essas
reações visam manter a temperatura do corpo equilibrada, evitando que os órgãos sofram algum tipo de
dano.
O corpo reage de 3 maneiras: produzindo calor, perdendo calor e através do suor. É mais fácil perder
calor do que produzi-lo. O suor é o modo mais fácil que o corpo encontra de liberar calor e equilibrar a
temperatura.
Uma reação natural do corpo quando sente frio é o tremer ou o tiritar. Esse movimento faz com que o
corpo produza calor. Estima-se que um homem despido, sem a influência de correntes de ar, a uma
temperatura de aproximadamente 0ºC, possa manter o calor do corpo se movimentando. Porém ele não
poderá se manter ativo por muito tempo, pois o corpo entrará em fadiga.
O conhecimento de alguns sintomas será fundamental para a prevenção de doenças.
A seguir abordaremos algumas doenças ou ferimentos que poderão ser causados pelo frio. Eles deverão
ser tratados assim que identificados, evitando assim que piorem e que a sobrevivência se torne mais
difícil.
Uma das doenças mais comuns nesse tipo de ambiente é a hipotermia, ou seja, quando a temperatura
do corpo diminui rapidamente. O corpo molhado, o contato direto com a neve ou o ambiente congelado
são as causas mais comuns.
O primeiro sintoma de hipotermia é quando o corpo começa a tremer podendo progredir a ponto de se
tornar incontrolável. Ela faz com que o indivíduo perca a capacidade de cuidar de si mesmo.
O início da hipotermia ocorre quando a temperatura do corpo cai a aproximadamente 35ºC e o corpo
começa a tremer.
Quando a temperatura corporal fica entre 35ºC e 32ºC, os sintomas se agravam tornando o raciocínio
lento e irracional e dando uma falsa sensação de calor. Com a temperatura entre 32ºC e 30ºC os
músculos tornam-se rígidos, o cérebro perde a consciência e mal se conseguem detectar sinais de vida.
Se a temperatura da vítima cair abaixo de 25ºC a morte é praticamente certa.
O tratamento para a hipotermia é o aquecimento do corpo. Esse aquecimento, porém, deverá ser feito
utilizando-se de procedimentos corretos. Caso seja possível, aqueça o corpo da vítima com água morna.
Uma alternativa é pintar a parte de baixo dos olhos com tinta preta ou escura para reduzir a
luminosidade. Em alguns kits de sobrevivência existem pomadas oftálmicas que evitam queimaduras
oculares e também lubrificam os olhos.
Urso-polar.
As focas são um dos mamíferos aquáticos mais conhecidos, vivem em grandes colônias nas áreas
setentrionais do Atlântico e do Pacífico. Fazem incursões em água doce, podendo percorrer rios e lagos
muitas vezes distante da costa. Alimentam-se sobretudo de peixes, lulas e caranguejos. As focas nadam
muito bem tanto no fundo das águas como na superfície, podem atingir profundidades de até 100 m e
ficar sem respirar por mais de 10 minutos. Embora tenham uma espessa camada de gordura sob a pele,
que as protege do frio, elas adoram tomar sol. Enquanto o grupo se aquece, alguns machos ficam de
vigia. Durante os invernos rigorosos, as focas vivem sobre o gelo, porque é o lugar mais quente. Fazem
buracos na superfície gelada, emergindo de vez em quando para respirar. Os principais predadores das
focas são o homem e o urso-polar.
Os leões-marinhos, também conhecidos por focas orelhudas, são mamíferos carnívoros habitantes das
costas rochosas, e frequentemente são confundidos com as focas. Recebem essa denominação devido
à força da sua voz e à juba relativamente espessa, exibida pelos machos. Alimentam-se principalmente
de peixes, crustáceos e moluscos. O leão-marinho pode chegar a medir 6 m e a pesar até 3 toneladas.
São encontrados no Ártico, do Estreito de Bering até as costas ocidentais dos Estados Unidos, Japão e
no Pacífico Norte. Na época do acasalamento é quando os machos se tornam mais agressivos, lutando
contra os seus opositores para estabelecer e manter o seu território. O homem é seu maior predador.
Leão-marinho.
A skua, Catharacta skua, ou gaivota-rapineira, é também uma das aves mais características da
Antártica. Possui um bico forte em forma de gancho e sua plumagem é escura. Essa ave é bastante
agressiva e defende seu território contra todos os invasores, inclusive o homem, lançando-se em voo
rasante sobre ele. Possui uma atração especial por ovos e por pequenos filhotes de pingüins. As skuas
vivem em casais e seus ninhos são covas construídas nos musgos, onde põem de um a dois ovos de um
verde cinza-oliva com manchas escuras. Seus filhotes são de cor marrom acinzentado claro. Uma
característica interessante dessas aves é que elas podem migrar para o Ártico durante o inverno
antártico.
Skua.
Deslocamento em Regiões Geladas
No último assunto deste capitulo abordaremos o deslocamento em um ambiente congelado.
Normalmente o sobrevivente estará, de certa forma, sendo “monitorado” por algum tipo de comunicação
com uma base, seja escalando uma montanha, seja em casos de acidente aéreo. A estimativa de
resgate é rápida, a não ser pela dificuldade de acesso ao local. Como já mencionamos anteriormente, o
sobrevivente deverá se manter próximo ao local do último contato feito com a base ou próximo ao local
do acidente, e só deverá abandonar esse o local quando tiver a certeza de que poderá alcançar algum
lugar onde haja auxílio Caso seja necessário se deslocar, o sobrevivente deverá tomar certos cuidados
com os diversos obstáculos existentes. Deslocar-se na neve é praticamente impossível, nunca se sabe
qual a profundidade que ela poderá atingir. Jamais se deve viajar durante uma tempestade. Evite andar
sobre lagos, córregos, rios ou mar que estiverem congelados, eles podem parecer congelados, mas a
camada de gelo pode ser muito fina e se quebrar. Viaje somente durante o dia, e se desloque sempre
em silêncio, qualquer barulho poderá provocar deslizamentos de neve. O deslocamento deverá ser feito
sempre em grupos, uns amarrados aos outros, as roupas devem ser de cores vivas para facilitar a
Deslocamento no Gelo
Estudos mostram que se deve permanecer próximo aos destroços do acidente, pois a probabilidade de
resgate é maior. Caso se decida por abandonar o local, deve-se fazê-lo somente se tiver a certeza de
conhecer sua posição geográfica e de que se conseguirá alcançar algum ponto onde haja socorro.
Para ajudar nesse deslocamento pode-se utilizar a orientação de direção pelo sol, pelo relógio e pela
bússola, além da navegação terrestre diurna, itens já descritos anteriormente no capítulo de
sobrevivência na selva.
Fontes:
Department of the Army Field Manual. US Army Survival Manual FM 21-76. Headquarters, Department
of the Army. October 1970.
http://www.guiageografico.com/ (acesso em 29/8/2005 à 1:30 PM)
http://pt.wikipedia.org (acesso em 27/8/2005 às 9:47 PM)
http://sotaodaines.chrome.pt/Sotao/leao_marinho.html (acesso 28/8/2005 às 7:24 PM)
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/geografia_antartica_9.html (acesso 28/8/2005 às 8:01 PM)
http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/imagepages/9339.htm (acesso 29/8/2005) às 4:40 PM)
http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/imagepages/3072.htm (acesso em 29/8/2005 às 4:45 PM)
Existem ainda desertos de menor extensão territorial, como o do Atacama, na América do Sul.
Quando pensamos em sobreviver em áreas desérticas, vários fatores devem ser observados. A maior
dificuldade está na resistência às temperaturas extremas e na obtenção de água.
Existem alguns fatores ambientais que devemos considerar:
Mudanças bruscas de temperatura: As temperaturas em áreas áridas são extremas, durante o dia
podem estar em 55ºC, e abaixo dos 10ºC à noite.
Luz solar e calor intenso: Estão presentes em todas as áreas áridas, as temperaturas durante o dia
podem subir drasticamente devido à luz solar direta, aos ventos quentes e ao reflexo no solo e nas
rochas.
Escassez de chuvas: É o fator mais evidente em uma região árida, chove muito pouco nos desertos;
em alguns deles a quantidade de chuva não chega a 10 cm anuais. Essas chuvas geralmente são
provenientes de torrentes breves e em áreas isoladas. Como não podemos sobreviver por longos
períodos sem água, especialmente no deserto, devemos procurar outras fontes e recursos para sua
obtenção.
Após a evacuação da aeronave, ações imediatas e simultâneas devem ser efetuadas: afastar-se da
aeronave, sinalização e a prestação dos primeiros socorros compreendem essas ações.
Os recursos para tomada dessas ações, como rádio-sinalizador, os kits de sobrevivência e os outros
equipamentos disponíveis também devem ser utilizados como já citado.
Existem ainda as ações subsequentes que compreendem a obtenção de: abrigo, fogo, água e alimento.
Veremos as melhores ações e práticas para obtenção desses recursos em uma sobrevivência no
deserto.
Obtenção de Abrigo
Obtenção de Fogo
È muito importante em qualquer uma das situações de sobrevivência, pois pode ser utilizado para uma
serie de funções, tais como: sinalizar, purificar água, aquecer os sobreviventes à noite devido às baixas
temperaturas, cozinhar e ainda proteger o acampamento.
Para se obter fogo são necessárias iscas, que podem ser papel seco, jornais, pedaços de tecido etc..
Podem-se usar fósforos, item que integra os kits de sobrevivência, ou isqueiros de possíveis fumantes.
Ainda pode-se lançar mão de outros métodos, como o uso de lentes, pilhas e por atrito, como já visto
anteriormente no capitulo de sobrevivência na selva.
O cuidado que se deve ter é que o fogo obtido não se apague. A fogueira deve ser protegida e sempre
monitorada por alguém.
Obtenção de Alimento
Assim como a água, se possível, deve-se consumir os alimentos que estiverem na aeronave, com o
cuidado de observar sua deterioração.
Deve-se fazer racionamento dos alimentos e a primeira alimentação ocorrerá 24 horas após o acidente.
Existe a necessidade de procurar alimentos em uma sobrevivência no deserto, e este é um outro fator a
ser observado. Podemos dividir esses alimentos em duas categorias: de origem vegetal e de origem
animal.
Origem vegetal: As chances de encontrar vegetais conhecidos em regiões desérticas são muito
pequenas, principalmente devido ao pouco conhecimento que o homem tem dessas áreas.
A vegetação, se existir, deverá ser do tipo herbáceo com a característica de vida curta. Durante os
períodos de maior seca, que podem durar anos no deserto, esses vegetais permanecem “adormecidos”
e sobrevivem graças a suas extensas raízes que conseguem captar alguma umidade das camadas mais
profundas do solo. Ao encontrar um vegetal que tenha o aspecto seco, deve-se cavar e buscar suas
raízes que poderão servir como alimento.
Vegetações ou plantas que porventura sejam encontradas acima do solo serão melhores fontes de
alimento, tais como: flores, frutos, brotos novos e sementes de cascas.
Os cactos bojudos oriundos das Américas do Norte e Sul são encontrados nos desertos da África, do
Oriente e da Austrália. Seus frutos são comestíveis e deve-se ter cuidado com seus espinhos.
Alimentos desconhecidos de origem vegetal que sejam cabeludos, amargos e leitosos (CAL) não devem
ser ingeridos, a menos que o sobrevivente os conheça.
Origem animal: A vida animal no deserto é muito escassa, devido à falta de água e de alimento para
sua existência.
Os mais encontrados são pequenos roedores, coiotes, lagartos e as cobras. Eles devem ser procurados
em lugares onde exista alguma umidade, que podem ser próximos a vertentes ou cursos seco de água,
sob pedras, rochas ou arbustos.
Os roedores são mais facilmente localizados e capturados durante o dia em suas tocas, pois, além de
serem animais notívagos, durante o dia se protegem do forte calor do deserto. Geralmente são vistos
transitando ao amanhecer ou ao anoitecer.
Após a obtenção de abrigo, fogo, água e alimento, outro cuidado importante é com a área do
acampamento.
Perigos do Deserto
Há diversos perigos em uma sobrevivência no deserto: insetos, serpentes, escassez de água,
tempestades de areia e o estresse climático são alguns deles.
Alguns animais que habitam o deserto: escorpiões e aranhas e uma série de tipos de serpentes, que,
como os insetos, habitam as cavernas e rochas. Alguns cuidados devem ser observados para evitar
suas ferroadas e picadas. São eles:
Prestar muita atenção e não colocar a mão em qualquer lugar, sem antes verificar o local. Estar
preferencialmente sempre usando luvas.
Nunca andar descalço e sempre olhar dentro dos sapatos antes de calçá-los.
Inspecionar visualmente a área antes de se sentar ou de se deitar; ter o mesmo cuidado ao se levantar,
verificando sua roupa e o local onde esteve apoiado.
São grandes as possibilidades de transformar o sobrevivente em uma vitima do calor no deserto, devido
aos ferimentos, ao estresse e à falta de recursos e, principalmente, à escassez de água. As doenças
relacionadas ao calor excessivo são:
Câimbra por calor – ocorre devido à perda de sal do corpo e ao suor excessivo. Os sinais e sintomas
podem começar com um desconforto muscular leve, evoluindo para câimbras moderadas a fortes nas
pernas, nos braços ou abdômen.
Caso sejam percebidos esses sintomas, o sobrevivente deve parar suas atividades físicas, ficar à
sombra e beber água. Se não forem percebidos ou mesmo ignorados, as câimbras piorarão e as dores
musculares aumentarão muito.
Exaustão por calor – ocorre devido à grande perda de água e de sal do corpo. Os sinais e sintomas
são dores de cabeça, confusão mental, irritabilidade, suor excessivo, fraqueza, tontura e câimbras. A
pele fica pálida, úmida e fria.
O sobrevivente deve ser colocado imediatamente à sombra, deitado em algo que o deixe a mais ou
menos 45 cm acima do solo. Deve-se afrouxar sua roupa, respingar água em seu corpo e ventilá-lo. É
imprescindível fazêlo beber pequenos goles de água a cada 3 minutos, assegurando que ficará imóvel e
em repouso. Derrame por calor – um acontecimento severo causado pelo calor. Ocorre quando há
extrema perda de água e sal, o corpo perde sua habilidade de se refrigerar.
O sobrevivente pode morrer se não for resfriado imediatamente.
Os sinais e os sintomas são: falta de suor, pele quente e seca, dor de cabeça, tontura, pulso acelerado,
náusea, vômito e confusão mental, que levam ao desmaio. O sobrevivente deve ser colocado à sombra
imediatamente, deitado em algo que o deixe a mais ou menos 45 cm acima do solo. Deve-se afrouxar
sua roupa, derramar água em seu corpo (não importando se a água é limpa) e ventilá-lo. Massagear
seus braços, pernas e corpo. Caso volte à consciência, é necessário fazê-lo beber pequenos goles de
água a cada 3 minutos.
Deslocamento no Deserto
Estudos mostram que se deve permanecer próximo aos destroços do acidente pois a probabilidade de
resgate é maior, porém caso se decida por abandonar o local, deve-se fazê-lo somente se tiver a certeza
de conhecer sua posição geográfica e de que conseguirá alcançar algum ponto onde haja socorro.
Para ajudar nesse deslocamento pode-se utilizar a orientação de direção pelo sol, pelo relógio e pela
bússola, além da navegação terrestre diurna, itens já descritos anteriormente no capítulo de
sobrevivência na selva.
A sobrevivência no deserto, como a exemplo das outras citadas neste livro, depende essencialmente da
força de vontade e da preparação técnica do sobrevivente.
Fontes:
Department of the Army Field Manual. US Army Survival Manual FM 21-76. Headquarters, Department
of the Army. Revision 1992.