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Resumo
Palavras-chave
Indicadores de qualidade Introdução: A determinação de indicadores de qualidade básicos e prioritários para os serviços
de cuidados de saúde; de cuidados paliativos em Portugal entendeu-se como um importante campo de estudo. A
método Delphi; cuidados qualidade insurge-se no panorama da Saúde pela intrínseca relação com a resposta às neces-
paliativos. sidades de doentes e famílias; são os cuidados de saúde de qualidade aqueles que garantem
a melhor cobertura em saúde e, simultaneamente, que englobam as estratégias necessárias
à melhor resposta a doentes, famílias e sociedade. Atendendo ao tema mencionado, entendem-se os indicadores de qualidade
como instrumentos essenciais nas políticas de saúde pública e como garante da qualidade das mesmas.
Objetivo: Desenvolver 25 indicadores de qualidade básicos e prioritários para os serviços de cuidados paliativos em Portugal.
Material e métodos: Estudo analítico que decorreu em 2017, com recurso ao Método Delphi, aplicado em determinação de
consenso em 3 etapas. Foi definido para o estudo um painel de peritos de profissionais de saúde a exercerem em serviços de
cuidados paliativos há pelo menos três anos.
Resultados: Os indicadores foram primeiramente selecionados para a formação de consensos; obtiveram-se 44 indicadores de
qualidade com uma variância de seleção entre 64,9 a 18,4% dos peritos compreendendo as diferentes tipologias e domínios:
12 de estrutura, 28 indicadores de processo e quatro de resultado. No desenvolvimento do processo de seleção por consenso,
verificou-se um consenso muito elevado para 17 indicadores (dois de estrutura, 14 de processo e um de resultado), consenso
elevado para 21 indicadores (sete de estrutura, 12 de processo e dois de resultado), consenso moderado em cinco indicadores
(três de estrutura e dois de processo) e baixo consenso em um indicador (de resultado).
Conclusões: O estudo identificou 25 indicadores de qualidade de consenso elevado ou muito elevado, cumprindo o seu objetivo.
Da lista final de indicadores prioritários fazem parte todos os indicadores com consenso muito elevado, tendo sido seriados os
indicadores de consenso elevado por proporção de concordância, entenda-se, a proporção de peritos em concordância ou muita
concordância quanto ao fator prioritário do indicador. Considerando todos os domínios em estudo, os mesmos estão globalmente
representados na amostra final, à exceção do domínio dos aspetos espirituais, religiosos e existenciais do cuidar. Definiu-se, deste
modo, um conjunto de 25 indicadores dos quais fazem parte: quatro indicadores de estrutura, 20 indicadores de processo e
um de resultado. O conjunto de indicadores permite uma análise objetiva e sistematizada dos cuidados, contribuindo para uma
melhor cultura de avaliação, a partir da qual se conseguirá melhor resposta assistencial, efetividade e eficiência.
Abstract
Keywords
Quality indicators in health Introduction: The determination of basic and priority quality indicators for palliative care services
care; Delphi process; in Portugal was understood as an important field of study. Quality emerges in the health landscape
palliative care. due to the intrinsic relationship with the response to the needs of patients and families; It is
quality health care that ensures the best health coverage and, at the same time, encompasses
12 Cade rno s d e S a ú d e Vo l. 10 Nú m ero 2 2 0 1 8
the strategies needed to better respond to patients, families and society. In view of the above, quality indicators are understood
as essential instruments in public health policies.
Aim: To develop 25 basic and priority quality indicators for palliative care services in Portugal.
Material and Methods: Analytical study completed in 2017, using the Delphi Method applied in 3-step consensus determination.
An expert health panel with health professionals working in palliative care services for at least 3 years has been set for the study.
Results: Indicators were first selected for consensus building; 44 quality indicators were obtained with a selection variance
between 64.9% and 18.4% of the experts comprising the different typologies and domains: 12 structure, 28 process and 4 result
indicators. In the developing of the selection process by consensus there was very high consensus for 17 indicators (2 structure,
14 process and 1 outcome), high consensus for 21 indicators (7 structure, 12 process and 2 outcome), moderate consensus
on 5 indicators (3 structure and 2 process) and low consensus on 1 (outcome) indicator.
Conclusions: The study identified 25 high or very high consensus quality indicators, fulfilling its objective. The final list of priority
indicators includes all indicators with very high consensus, and high consensus indicators were ranked by proportion of agreement,
that is, the proportion of experts who agree or very agree on the indicator’s priority factor. Considering all the domains under
study, they are globally represented in the final sample, except for the domain of spiritual, religious and existential aspects of care.
In this way, a set of 25 indicators were defined: 4 structure indicators, 20 process indicators and 1 outcome indicator. The set
of indicators allows an objective and systematized analysis of care, contributing to the best culture evaluation, from which better
care response, effectiveness and efficiency will be achieved.
Apesar da diminuição progressiva do número Gráfico 1 – Experiência profissional, no geral, do painel de peritos,
de participantes, como é habitual nesta tipologia em anos
de estudo, verificou-se não existirem diferenças
estatisticamente significativas nas proporções de
cada uma das áreas profissionais ao longo das três
etapasa (Tabela 3).
Tabela 3 – Área profissional ao longo das etapas
Medida 1.ª Etapa 2.ª Etapa 3.ª Etapa Gráfico 2 – Experiência profissional, em cuidados paliativos
Média 18,1 19,6 20,1
Mediana 16,5 17,5 18,0
Desvio padrão 9,8 10,3 10,1
Variância 95,7 105,7 102,0
Amplitude 39,0 39,0 39,0
Mínimo 3,0 3,0 3,0
Máximo 42,0 42,0 42,0
Intervalo interquartil 16,0 19,0 19,0
Quartil 1 10,0 11,0 11,0
Ao longo das três etapas, cerca de 75% ou mais
Quartil 3 26,0 30,0 30,0
dos peritos possuíam o mais elevado grau de for-
mação em cuidados paliativos. Também aqui não
A mediana do tempo de exercício profissional, em se verificam diferenças estatisticamente significativas
cuidados paliativos, foi constante ao longo das três ao longo das três etapasd (Tabela 6).
etapas, com o valor de 8 anos. Também aqui não
χ2mc(12)=3,819, p=0,998
a c
χ2kw(2)=2,357, p=0,308
χ2kw(2)=2,188, p=0,335
b d
χ2mc(6)=2,981, p=0,841
16 Cade rno s d e S a ú d e Vo l. 10 Nú m ero 2 2 0 1 8
Tabela 6 – Formação em cuidados paliativos do painel de peritos, Avaliação inicial (primeiras 48 h após a admissão) e
ao longo das três etapas regular das necessidades/problemas (que inclui prog-
nóstico, estado funcional, sintomas físicos, psicossociais
1.ª Etapa 2.ª Etapa 3.ª Etapa
Grau de formação e outros sintomas geradores de sofrimento, qualidade
N.º % N.º % N.º % de vida, sobrecarga dos cuidadores, questões espiri-
Sem formação 2 1,8 0 0,0 0 0,0 tuais e existenciais, necessidades de apoio prático e
43,0
financeiro, planeamento avançado dos cuidados) do
Básica 11 9,6 6 7,7 6 8,6 doente e família por equipa multidisciplinar (médico,
Intermédia 16 14,0 11 14,1 9 12,9 enfermeiro, psicólogo ou psicooncologista, assistente
social, assistente espiritual, entre outros), utilizando
Especializada 85 74,6 61 78,2 55 78,6
instrumentos estandardizados e validados com subse-
Total 114 100,0 78 100,0 70 100,0 quente registo no processo do doente
Existência de plano terapêutico no processo clínico do
Indicadores selecionados para processo Delphi doente (por escrito ou informatizado), nas primeiras 37,7
24h de admissão à equipa
Foram selecionados 44 indicadores de qualidade Conhecimento do doente acerca da sua situação clínica,
30,7
das diferentes categorias (12 de estrutura, 28 de quando esta foi solicitada/desejada pelo doente
processo e 4 de resultado) e domínios. Reuniões/conferências familiares, num mínimo de duas
Houve uma variação na seleção dos peritos de (1.ª semana de admissão e na alta ou agonia), com
64,9 a 18,4% (Quadros 1-8). médico e outros membros da equipa, que se julguem
26,3
necessários, de forma a informar-se a família, discutir
Dentro do domínio dos indicadores de qualidade,
objetivos, situação clínica e prognóstico e planeamento
de estrutura e processo do cuidar, foram selecio- avançado dos cuidados, assim como apoio à família
nados, no total, 19 indicadores (de um universo
A equipa de cuidados paliativos deverá avaliar os
Quadro 1 – Indicadores de estrutura e processo do cuidar selecio- doentes que lhe forem referenciados num prazo inferior 22,8
nados na 1.ª etapa; percentagem de peritos que selecionou (n=114) a 48 horas
Existência de reunião introdutória entre a equipa de
Indicadores de estrutura % cuidados paliativos e médico assistente para discutirem
A equipa é interdisciplinar e constituída por profissio- os objetivos terapêuticos futuros do doente a refe- 19,3
nais com formação e treino em cuidados paliativos e renciar/referenciado, assegurando-se a continuidade
inclui, por exemplo, médicos, enfermeiros, assistentes 64,9 dos cuidados
sociais, psicólogos, assistentes espirituais e outros, que Partilha na equipa, e entre os diversos locais de presta-
possam adicionar mais-valia à equipa ção de cuidados ao doente, dos objetivos, preferências,
Existência de protocolos (clínicos, apoio emocional e diretivas antecipadas de vida, valores do doente e
33,3 informação clínica que permita a continuidade dos 19,3
familiar, organização)
cuidados, educação prestada ao doente, através de
Existência de plano formal de prevenção do burnout 32,5 um documento que sumarize a assistência ao doente
Disponibilização de cuidados domiciliários ao doente a ser-lhe entregue no momento da alta
28,1
e família, assim como equipamentos médicos de apoio Formação da família e do cuidador informal de maneira
Disponibilidade de apoio de urgência ou consultas/ a conseguirem cuidar segura e adequadamente do 18,4
/visitas não programadas de acordo com os desejos do 28,1 doente
doente (acessibilidade do doente 24h/d, 7 dias/semana) Registo dos objetivos dos cuidados no processo do
18,4
As unidades de internamento e as equipas de cuidados doente nas primeiras 72 h
paliativos domiciliários deverão incluir na sua estrutura Indicadores de resultado
27,2
física um espaço dedicado para reuniões entre equipa
de saúde e os familiares dos doentes Satisfação dos doentes internados e sua família relativa
a: atendimento/resposta às necessidades/problemas
Registo de reunião entre equipa de saúde para planear, do doente; cuidado humano com que o doente foi
rever, discutir e partilhar a experiência de cuidar dos abordado; proximidade da supervisão que foi efetuada
21,9
doentes em fase final de vida e suas famílias, com ao doente; condições que lhes foram oferecidas; coor-
elaboração da ata da mesma denação da informação disponibilizada; metodologia de
22,8
Existência de plano de monitorização e melhoria da transmissão da informação; escuta dos seus problemas;
19,3
qualidade disponibilidade da equipa para falar com o doente e
Indicadores de processo família; manutenção do doente e família informados
acerca da situação clínica; respeito pelas preferências
Existência de um processo clínico interdisciplinar, terapêuticas do doente; coordenação dos cuidados;
único por doente (por escrito ou informatizado), com tempo de espera para a admissão/consulta
48,2
descrição da avaliação, problemas-diagnósticos, plano
terapêutico e cuidados prestados
In d i ca d o re s d e q ua l i d a d e p r i o r i tá r i o s p a ra o s s er v i ço s d e c ui d a d o s p a l i a ti vo s em Po r tug a l 17
Quadro 6 – Indicadores dos aspetos culturais do cuidar seleciona- para 17 indicadores, em que 2 são de estrutura, 14
dos na 1.ª etapa; percentagem de peritos que selecionou (n=114) de processo e 1 de resultado.
Indicadores de processo % Alcançou-se um consenso elevado para 21 indica-
dores, que incluem 7 de estrutura, 12 de processo
Avaliação cultural que inclua valores que orientam as
tomadas de decisão, preferências quanto à transmissão e 2 de resultado.
da informação e de comunicação da verdade, tomadas Um consenso moderado foi obtido para 5 indi-
de decisão, hábitos dietéticos/alimentares, linguagem,
28,9
cadores, dos quais 3 de estrutura e 2 de processo.
comunicação familiar, desejo de medidas de suporte Foi obtido baixo consenso em 1 indicador, por
assim como de medidas paliativas, terapêuticas com-
sua vez, de resultado (Quadros 9-16).
plementares/alternativas, perspetivas sobre a morte,
sofrimento e luto, rituais de velório/funeral No domínio dos indicadores de qualidade, de
estrutura e processo do cuidar, o consenso muito
Quadro 7 – Indicadores dos cuidados ao doente em morte iminente elevado foi obtido para 4 indicadores, em que 3 são
selecionados na 1.ª etapa; percentagem de peritos que selecionou de processo e 1 é de resultado; o consenso elevado
(n=114) foi obtido para 11 indicadores, em que 5 são de
Indicadores de processo %
estrutura, 5 são de processo e 1 é de resultado;
nos restantes 4 indicadores (2 de processo e 2
Reconhecimento e registo da transição para a fase da
agonia e comunicação ao doente, família e equipa
26,3 de resultado), foi alcançado moderado consenso
(Quadro 9).
Utilização de opioides e sedativos na fase da agonia
para a promoção do conforto do doente, se apresen-
tarem sintomatologia que justifique a sua indicação, 23,7 Quadro 9 – Consenso obtido nos indicadores de estrutura e
trabalhando com a família os mitos de estes anteciparem processo do cuidar
a morte
Apoio domiciliário pela equipa de cuidados paliativos Indicadores de estrutura Consenso
domiciliários no dia da morte do doente (apoio até à A equipa é interdisciplinar e constituída por profis-
21,1
morte do doente e apoio à família no período pós- sionais com formação e treino em cuidados palia-
Muito
-morte imediato) tivos e inclui, por exemplo, médicos, enfermeiros,
elevado
assistentes sociais, psicólogos, assistentes espirituais
Cuidados ao corpo pós-morte de acordo com os valores
e outros, que possam adicionar mais-valia à equipa
religiosos e espirituais do doente e de acordo com a
19,3 Existência de protocolos (clínicos, apoio emocional
legislação em vigor, quando os mesmos são efetuados Elevado
pela equipa de saúde e familiar, organização)
Indicadores de resultado Existência de plano formal de prevenção do
Elevado
burnout
Presença da família, se assim o desejar, no momento
28,1 Disponibilização de cuidados domiciliários ao
da morte do doente Mode-
doente e família, assim como equipamentos
rado
médicos de apoio
Quadro 8 – Indicadores dos aspetos éticos e legais do cuidar
selecionados na 1.ª etapa; percentagem de peritos que selecionou Disponibilidade de apoio de urgência ou consultas/
(n=114) visitas não programadas de acordo com os desejos
Elevado
do doente (acessibilidade do doente 24h/d, 7
Indicadores de estrutura % dias/semana)
Existência de comissão ética ou protocolo de consulta As unidades de internamento e as equipas de
19,3 cuidados paliativos domiciliários deverão incluir
para avaliação de conflitos éticos no final da vida
na sua estrutura física um espaço dedicado para Elevado
Indicadores de processo reuniões entre equipa de saúde e os familiares
Aquando da admissão do doente, e sempre que a dos doentes
situação se altere, deverá estar, obrigatoriamente, Registo de reunião entre equipa de saúde para
registado e atualizadas diretivas antecipadas de vida, 18,4 planear, rever, discutir e partilhar a experiência de Mode-
preferências do doente, ou a razão para não existir cuidar dos doentes em fase final de vida e suas rado
esse registo famílias, com elaboração da ata da mesma
Existência de plano de monitorização e melhoria
Elevado
Desenvolvimento dos consensos da qualidade
Indicadores de processo
Nas últimas duas etapas do processo de Delphi de Existência de um processo clínico interdisciplinar,
desenvolvimento e obtenção de consensos (2.ª e 3.ª único por doente, por escrito ou informatizado, Muito
etapas), e tendo como base os critérios de definição com descrição da avaliação, problemas-diagnósticos, elevado
dos mesmos, atingiu-se um consenso muito elevado plano terapêutico e cuidados prestados
In d i ca d o re s d e q ua l i d a d e p r i o r i tá r i o s p a ra o s s er v i ço s d e c ui d a d o s p a l i a ti vo s em Po r tug a l 19
Avaliação inicial (primeiras 48 h após a admissão) Quanto aos indicadores de qualidade dos aspetos
e regular das necessidades/problemas (que inclui físicos do cuidar, o consenso de muito elevado foi
prognóstico, estado funcional, sintomas físicos, psi- atingido para 5 indicadores, todos de processo;
cossociais e outros sintomas geradores de sofrimento,
qualidade de vida, sobrecarga dos cuidadores,
consenso elevado foi alcançado para 3 indicadores,
questões espirituais e existenciais, necessidades de sendo 1 de cada tipologia; moderado consenso foi
apoio prático e financeiro, planeamento avan- Elevado alcançado em 1 indicador (estrutura) e o baixo em
çado dos cuidados) do doente e família por equipa 1 indicador (resultado) (Quadro 10).
multidisciplinar (médico, enfermeiro, psicólogo
ou psicooncologista, assistente social, assistente
espiritual, entre outros), utilizando instrumentos Quadro 10 – Consenso obtido nos indicadores dos aspetos físicos
estandardizados e validados com subsequente do cuidar
registo no processo do doente
Indicadores de estrutura Consenso
Existência de plano terapêutico no processo clí-
nico do doente (por escrito ou informatizado) nas Elevado Existência de protocolo de regras de aumento das
Mode-
primeiras 24h de admissão à equipa doses dos fármacos, assim como de rotação de
rado
fármacos e equianalgesias
Conhecimento do doente acerca da sua situação clí- Muito
nica, quando esta foi solicitada/desejada pelo doente elevado Existência de protocolo de observação, cuidados
Elevado
à boca e prevenção/tratamento de mucosite
Reuniões/conferências familiares, num mínimo de
duas (1.ª semana de admissão e na alta ou agonia), Indicadores de processo
com médico e outros membros da equipa, que Avaliação e registo de sintomas e do estado global
se julguem necessários, de forma a se informar a Elevado de saúde, com recurso a instrumentos estandardi-
família, discutir objetivos, situação clínica e prog- Elevado
zados e validados, nas primeiras 48 h de admissão
nóstico e planeamento avançado dos cuidados, à equipa
assim como apoio à família
Existência de plano terapêutico para resgate de Muito
A equipa de cuidados paliativos deverá avaliar os
Mode- agravamento ou irrupção de sintomas elevado
doentes que lhe forem referenciados num prazo
rado Utilização dos opioides para o controlo da dor,
inferior a 48 horas Muito
segundo as recomendações da Organização Mun-
Existência de reunião introdutória entre a equipa elevado
dial de Saúde
de cuidados paliativos e médico assistente para
Mode-
discutirem os objetivos terapêuticos futuros do Reavaliação dos sintomas/problemas físicos (estado
rado
doente a referenciar/referenciado, assegurando-se funcional, dor, dispneia, disfagia, fadiga, mucosite, Muito
a continuidade dos cuidados insónia, anorexia, náuseas, vómitos, anemia e elevado
Partilha na equipa, e entre os diversos locais de sintomas relacionados) em todas as consultas/visitas
prestação de cuidados ao doente, dos objetivos, Ajustamento do plano terapêutico em função do
preferências, diretivas antecipadas de vida, valores controlo sintomático, até 24-48 horas após o início
do doente e informação clínica que permita a Muito
Elevado ou alteração da terapêutica, dos sintomas com
continuidade dos cuidados, educação prestada ao elevado
intensidade grave e severa, ou o registo das razões
doente através de um documento que sumarize para o não ajustamento
a assistência ao doente a ser-lhe entregue no
momento da alta Utilização de opioides para o controlo da dispneia,
no doente que não responde à terapêutica com Muito
Formação da família e do cuidador informal de não-opioides ou de causa desconhecida, ou o elevado
Muito
maneira a conseguirem cuidar segura e adequa-
elevado registo de contraindicação a opioidoterapia
damente do doente
Indicadores de resultado
Registo dos objetivos dos cuidados, no processo
Elevado Percentagem de doentes com evidência de que
do doente, nas primeiras 72 h
o controlo sintomático foi alcançado e as suas Elevado
Indicadores de resultado
necessidades foram adequadamente satisfeitas
Satisfação dos doentes internados e sua família
Diminuição, nas primeiras 48 h, em 50% da inten-
relativa a: atendimento/resposta às necessidades/ Baixo
problemas do doente; cuidado humano com que sidade da dor, dispneia, náuseas e vómitos
o doente foi abordado; proximidade da supervisão
que foi efetuada ao doente; condições que lhes
foram oferecidas; coordenação da informação No conjunto dos indicadores do domínio dos
disponibilizada; metodologia de transmissão da Elevado aspetos psicológicos e psiquiátricos do cuidar, o
informação; escuta dos seus problemas; disponibili- consenso muito elevado foi atingido em 2, 1 de
dade da equipa para falar com o doente e família;
manutenção do doente e família informados acerca
estrutura e o outro de processo; no indicador restante,
da situação clínica; respeito pelas preferências de processo, o consenso obtido classificou-se em
terapêuticas do doente; coordenação dos cuidados; elevado (Quadro 11).
tempo de espera para a admissão/consulta
20 Cade rno s d e S a ú d e Vo l. 10 Nú m ero 2 2 0 1 8
Quadro 11 – Consenso obtido nos indicadores dos aspetos psi- Quadro 14 – Consenso obtido nos indicadores dos aspetos culturais
cológicos e psiquiátricos do cuidar do cuidar
Quadro 16 – Consenso obtido nos indicadores dos aspetos éticos Conhecimento do doente acerca da sua situação
e legais do cuidar clínica, quando esta foi solicitada/desejada pelo 70-80%
doente
Indicadores de estrutura Consenso
Partilha na equipa, e entre os diversos locais de
Existência de comissão ética ou protocolo de
prestação de cuidados ao doente, dos objetivos,
consulta para avaliação de conflitos éticos no Elevado
preferências, diretivas antecipadas de vida, valores
final da vida
do doente e informação clínica que permita a conti- 70-80%
Indicadores de processo nuidade dos cuidados, educação prestada ao doente,
Aquando da admissão do doente, e sempre que a através de um documento que sumarize a assistência
situação se altere, deverá estar, obrigatoriamente, ao doente a ser-lhe entregue no momento da alta
registado e atualizadas diretivas antecipadas de Elevado Formação da família e do cuidador informal de
vida, preferências do doente, ou a razão para não maneira a conseguirem cuidar segura e adequa- 70-80%
existir esse registo damente do doente
Assim, resultaram um conjunto final de 4 indica- Quanto aos indicadores de qualidade dos aspetos
dores de estrutura, 20 de processo e 1 de resultado. físicos do cuidar, constam na lista final 6 indicadores,
Todos os domínios estão integrados à exceção do que todos eles de processo (Quadro 18).
inclui os aspetos espirituais, religiosos e existenciais
do cuidar (Quadros 17-23). Quadro 18 – Conjunto final dos indicadores dos aspetos físicos
do cuidar e respetivo standard
Constam na lista final 8 indicadores do domínio
de estrutura e processo do cuidar, em que 3 são de Indicadores de processo Standard
estrutura e os restantes de processo (Quadro 17). Avaliação e registo de sintomas e do estado global
de saúde, com recurso a instrumentos estandardi-
Quadro 17 – Conjunto final dos indicadores de estrutura e processo 70-80%
zados e validados, nas primeiras 48 h de admissão
do cuidar e respetivo standard
à equipa
Indicadores de estrutura Standard Existência de plano terapêutico para resgate de
70-80%
A equipa é interdisciplinar e constituída por profis- agravamento ou irrupção de sintomas
sionais com formação e treino em cuidados palia- Utilização dos opioides para o controlo da dor,
tivos e inclui, por exemplo médicos, enfermeiros, 100% segundo as recomendações da Organização Mun- 70-80%
assistentes sociais, psicólogos, assistentes espirituais dial de Saúde
e outros, que possam adicionar mais-valia à equipa
Reavaliação dos sintomas/problemas físicos (estado
Existência de protocolos (clínicos, apoio emocional funcional, dor, dispneia, disfagia, fadiga, mucosite,
100% 70-80%
e familiar, organização) insónia, anorexia, náuseas, vómitos, anemia e
As unidades de internamento e as equipas de sintomas relacionados) em todas as consultas/visitas
cuidados paliativos domiciliários deverão incluir Ajustamento do plano terapêutico em função do
na sua estrutura física um espaço dedicado para 100% controlo sintomático, até 24-48 horas após o início
reuniões entre equipa de saúde e os familiares ou alteração da terapêutica, dos sintomas com 70-80%
dos doentes intensidade grave e severa, ou o registo das razões
Indicadores de processo para o não ajustamento
Quadro 19 – Conjunto final dos indicadores dos aspetos psicoló- Quadro 23 – Conjunto final dos indicadores dos aspetos éticos e
gicos e psiquiátricos do cuidar e respetivo standard legais do cuidar e respetivo standard
de inclusão destes elementos (tempo mínimo de que prestou concordância ou muita concordância
experiência profissional na área de 3 anos) pode quanto ao fator prioritário.
ser assumido como uma possível limitação, embora Compreende-se, deste modo, um total de 4 indica-
não exista referência a nenhum tempo mínimo dores de estrutura, 20 de processo e 1 de resultado,
adequado.17,27–29 com a relevância de representatividade de todos
No entanto, devido ao processo de desenvolvi- os domínios, à exceção do domínio dos aspetos
mento dos cuidados paliativos no país, consideramos espirituais, religiosos e existenciais do cuidar.
que este tempo mínimo é suficiente para o objetivo Os indicadores reunidos possibilitam-nos a avalia-
do estudo. ção objetiva e sistematizada do cuidado ao doente e
Não é possível, com a máxima evidência, garantir à família em serviços de cuidados paliativos, todavia,
que este conjunto de indicadores obtido no final esta avaliação é entendida como uma ferramenta
reúne o consenso da generalidade dos profissionais que só poderá reverter a favor dos doentes, famílias
de cuidados paliativos com critérios de inclusão e sociedade quando for mote da promoção da
no estudo. No entanto, a multiprofissionalidade, qualidade dos cuidados na análise de áreas de
a diversidade e as características dos participantes intervenção importantes.
parecem contribuir para o fortalecimento dos resulta- Reafirma-se a relevância da qualidade e a possível
dos do estudo. Pudemos verificar que ao longo das intervenção objetiva e científica quanto à mesma; este
etapas as características não apresentaram diferenças trabalho permitiu não só refletir esta objetividade de
estatisticamente significativas. intervenção, como também renovar a importância
Discutindo os consensos obtidos no estudo, da centralidade na avaliação sistematizada e melho-
conseguiu-se um reflexo do estádio de desenvolvi- ria contínua dos cuidados prestados, os quais são
mento dos cuidados paliativos em Portugal. pensados pela avaliação dos resultados.
Regista-se a importância maior prestada aos indi- Espera-se, com estes resultados, motivar a cultura
cadores de estrutura, em conexão com a diminuta de avaliação, com todos os benefícios que daí advêm:
relevância associada aos indicadores de resultados. alocação racional; evidência de efetividade e eficácia
Esta conceção é limitativa do desenvolvimento dos e melhor resposta às necessidades.
cuidados paliativos, na medida em que, enquanto Como recomendações para a prática, enunciamos
não se conseguirem cumprir análises de custo de a utilização destes indicadores para monitorização
investimento face aos resultados obtidos, estarão e identificação de áreas de melhoria pelas equipas
condicionados os esforços de valorização e com- e Rede Nacional de Cuidados Paliativos, para que
provação do real valor dos cuidados paliativos. objetiva e sistematicamente se acompanhe a evolução
Foram obtidos os consensos necessários e mínimos dos cuidados paliativos em Portugal.
em indicadores de todos os domínios, o que deu
origem a um conjunto de ferramentas que possi- Referências
bilitam a melhoria dos cuidados prestados a estes
doentes e famílias nas duas diferentes dimensões. 1. World Health Organization. Strengthening of palliative care as a
Por outro lado, com o conjunto de indicadores component of integrated treatment within the continuum of care.
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