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CARTI

LHADEAPOI
O ÀFAMÍ
LIADEAUTI
STAS
Mães, pais, irmãos, avós e outros
familiares, sejam muito bem-vindos!
Essa cartilha foi pensada especialmente
para vocês, e por isso ficamos muito
felizes que tenham chegado até aqui.
Nosso propósito é oferecer acolhimento,
compreensão e suporte para todas as
famílias de pessoas com TEA.
Hoje vamos refletir sobre o impacto que o
diagnóstico do autismo tem para além do
próprio autista. Estamos aqui para cuidar
dos cuidadores, pois acreditamos que
fortalecer as famílias é também uma parte
muito importante desse universo.
- Descobrindo o Infinito Azul

Um universo de muitos tons de azul e tão


infinito quanto o mar.

02
Contemplando o horizonte
A chegada de um novo membro na família
é naturalmente um momento de
expectativas. Muitas vezes esse é também
um momento que foi sonhado e idealizado
por pais, avós e até irmãos. É natural que
isso mexa com a imaginação das famílias.1
Ele vai se parecer comigo ou com meu
parceiro (a)? Será que vai ser “bonzinho”
ou sapeca? Será que vai gostar das
mesmas coisas que nós?

Ah! Quando meu irmão nascer vamos


brincar disso e daquilo.

É um momento de contemplação. O
- Descobrindo o Infinito Azul

momento onde os olhares estão


deslumbrados e até mesmo distraídos.
Quando a criança finalmente chega, tudo
aquilo que se viveu internamente começa
a tomar forma. Ou não.
É o momento de entrar na água.

03
Colocando os pés na água
Uma experiência nova, agora mais de
pertinho, tem toque e tem cheiro, na mãe
em puerpério, principalmente, um mar
inteirinho de sensações. Ondas de
hormônios: águas que hora são calmas e
hora são agitadas.
Acontece que nem sempre fica claro para a
família, o quanto gerar uma vida é, na
maioria das vezes, muito mais um
mergulho no desconhecido do que de fato
um momento onde dá tempo de
experimentar a água.2
E quando vem uma onda e te leva o
calorzinho que estava confortável? E
quando tudo a sua volta acontece muito
diferente do que se esperava? Aquela
- Descobrindo o Infinito Azul

criança idealizada é diferente, o contato


visual é baixo, as brincadeiras são
escassas e até mesmo estranhas. As
primeiras palavras não vêm no tempo
esperado e o aprendizado padrão parece
dar lugar a mais e mais ondas de incerteza.
04
Conhecendo a imensidão azul
É nesse lugar incerto que mães, pais e para o autista e suas necessidades.
familiares de crianças autistas acabam Não sobra muito tempo para se localizar
tendo que, de um jeito ou de outro, no espaço. O que é autismo? Como lidar?
aprender a lidar. São desafios, incertezas, Quão grave é o comprometimento?
cobranças e autocobranças. Existem outras condições associadas? Que
Como lidar com tantos sentimentos? tipo de terapias são necessárias?
Nós sabemos que nem sempre é fácil. Perguntas primordiais que geralmente
Compreender essa imensidão azul depois andam juntas com àquelas do tipo: Por que
de entrar de corpo inteiro na água é comigo? Foi alguma coisa que eu fiz? 3
realmente assustador. É quase sempre
aqui que vem o diagnóstico. E daqui para É aqui que no meio de tantos desafios que
frente, a maioria dos olhares vai se voltar as famílias vão aprendendo a nadar.
- Descobrindo o Infinito Azul

05
O trecho sem a boia
Ninguém se torna um nadador exemplar do
dia para a noite, e cada um tem seu
próprio ritmo. Depois de se acostumar com
a água, precisamos aprender a respirar, e
os movimentos de braços e pernas. Vamos
aprendendo a nadar por distâncias cada
vez mais longas e ficando mais confiantes.
Até que, finalmente, chega o momento de
tirar a boia do braço.
O momento em que, para dar um novo
passo em direção ao que queremos,
precisamos arriscar. Precisamos saltar, já
sem o apoio anterior, para uma situação
desconhecida. É um momento de
enfrentamento que exige coragem. É hora
de enfrentar o novo, sem saber se teremos
habilidade para lidar com esses desafios.
- Descobrindo o Infinito Azul

Começamos a nos perguntar: “Será que eu


vou conseguir? Acontece que, não há como
simular e antecipar completamente a
situação real. É somente nadando sem a
boia que podemos, completamente,
aprender a nadar sem a boia.
06
Não há como mudar de emprego, terminar
um relacionamento, iniciar um
relacionamento novo, desafiar-se em uma
nova habilidade, mudar de cidade ou
cuidar de um filho (autista ou não) sem
passar pelo “trecho sem a boia”. Não há
como estar completamente preparado
para todas as situações. 
O trecho sem a boia, em que ainda
estamos com medo, meio desajeitados,
dando umas braçadas bem tortas e talvez
até engolindo um pouco de água, faz parte
da vida. Dá uma vontade enorme de voltar
para o solo firme. Mas será que essa seria
uma boa razão para ficar onde estamos e
não mudarmos? Depois das primeiras
travessias sem a boia e com persistência,
- Descobrindo o Infinito Azul

eventualmente uma hora aprendemos Isso, claro, até que a vida nos coloque
definitivamente a nadar. E, então, novas situações e sejamos obrigados a nos
finalmente nos sentimos livres, podendo ir desafiar novamente.
para onde quisermos. Não apenas para Desta vez talvez mais confiantes da nossa
sobreviver às tempestades como também capacidade em lidar com a fração
para explorar todas as belezas do oceano. imprevisível da vida, o trecho sem a boia.4

07
Águas rasas, águas profundas
Com isso em mente, esperamos que você
se sinta inspirado a acolher seus próprios
sentimentos. Lembre-se que é natural que
o diagnóstico de autismo seja um momento
doloroso. Nesta hora, você está perdendo
parte dos planos que imaginou para seu
filho. Você está perdendo as boias.
Depois desse período, as coisas podem
tornar-se desafiantes e intensas, por isso,
está tudo bem sentir-se cansado e
perdido ao enfrentar essas águas, afinal,
elas trazem mesmo ansiedade e medo,
mas também belezas e surpresas.
Com o tempo e as experiências vividas,
você vai poder criar novos sonhos,
explorar outros mares e outros objetivos
- Descobrindo o Infinito Azul

vão surgir, talvez até mais bonitos do que


você tinha imaginado.5 O aprendizado mais
valioso é que depois que aprendemos a
nadar, fica muito mais fácil ajudar nossos
autistas a aproveitar a água!

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Colaboraram com esse conteúdo

Juliana Canavese CRP - 08/14194


Formação em psicologia em 2009 pelo Centro Universitário Filadélfia, com ênfase na área social. Psicóloga
materno-infantil e terapeuta de grupo para mães de autistas em Curitiba-PR. Fundadora do Psipsiu-Desenvolvimento
Infantil, projeto de Orientação Parental e educação emocional para crianças.

Fernanda Brunkow CRP-08/17834


Especialista em Terapia Comportamental pelo Instituto IITCR, 2014. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do
Paraná, 2014. Atuou em instituições de ensino superior como docente do curso de Psicologia e supervisora de estágio
em psicologia clínica. Desde 2012 trabalha como psicóloga clínica em consultório particular, com ênfase em
Psicoterapia Analítico-comportamental.

Referências bibliográficas e data de acesso


1 - Scielo, artigo científico: Expectativas e sentimentos de pais em relação ao bebê durante a gestação - 10/02/2020
2 - Juliana Canavese, colaboração em Autismo em Dia - 12/02/2020
3 - BBC - acesso em 12/10/2020
4 - Fernanda Brunkow, página profissional - 12/02/2020
- Descobrindo o Infinito Azul

5 - Associação Brasileira de Autismo - 12/10/2020.

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