Você está na página 1de 1

"Porque a saúde não é uma constante de satisfação, mas o a priori do

poder de dominar situações perigosas, esse poder é usado para


Um homem não se recupera destes solavancos, ele se torna dominar perigos sucessivos. A saúde, depois da cura, não é a saúde
uma pessoa diferente e eventualmente a nova pessoa anterior. A consciência do fato de curar não ser retornar ajuda o
encontra novas preocupações - Fitzgerald, S. Crack-up. doente em busca de um estado de menor renúncia possível, liberando-
o da fixação ao estado anterior"(Canguilhem, 2005, p. 70 apud
SAFATLE, 2011, p. 23).

Valor: vida
Introdução Norma: aumento ou manutenção de potência

Como se dá o saber sobre a doença (discurso)?


"[...] a reflexão epistemológica não deve se
Como entendemos o que é patológico? perguntar apenas sobre os poderes e direitos
de técnicas e proposições científicas que
Doença como aquilo que problematiza o corpo Como esse entendimento afeta os corpos aspiram validade, mas deve esclarecer a
doentes (e saudáveis)? gênese dos padrões de racionalidade e as
condições de exercício que se encarnam em
Existe aspectos políticos/ideológicos para tal técnicas e proposições" (SAFATLE, 2011, p. 15)
classificação?

"[...] trata-se de discutir o estatuto das estruturas de


definição e de partilha entre fenômenos normais e
fenômenos patológicos [...] encontramos um problema
Obra: O Normal e o Patológico
vinculado à maneira com que a razão moderna determina
a articulação entre vida e conceito, entre ordem e
desordem, entre norma e erro (SAFATLE, 2011, p. 14)

Georges Canguilhem Médico e pesquisador em filosofia

Epistemologia das ciências médicas e biológicas (séc. XX)

Principal aluno: Michel Foucault Obra: O nascimento da clínica

"Uma grande parte do trabalho canguilhemeano de historiador das ciências


está ligada à tentativa de demonstrar como as decisões clínicas a respeito da
distinção entre normal e patológico são, na verdade, um setor de decisões
mais fundamentais da razão a respeito do modo de definição daquilo que
aparece como seu Outro (a patologia, a loucura etc.)" (SAFATLE, 2011, p. 14)

Caráter transcientífico da própria ciência. Ela não está isenta da vida.

Quantidade e qualidade Clínica - história - economia - política - geografia - etc Noção ampliada de clínica

Definição: doença como desordem (aumento,


diminuição ou ausência) dos níveis normais de
atividade orgânica. "Lei do normal"

Área de referência: fisiologia Reconfiguração do corpo


1 - DISTINÇÃO QUANTITATIVA

Metodologia: mesuração matematizável e acessível à observação

Autores: Augusto Comte, Claude Bernard e René Leriche

Teoria Ontológica Presença concreta de instância adoecedora


2 - DISTINÇÃO QUALITATIVA
Perspectivas sobre o normal e o patológico
Teoria Dinamista Desarmonia geral do corpo como causa da doença

Normatividade "Quando classificamos como patológico um sistema ou um mecanismo funcional isolado, esquecemos que

Vital: Georges aquilo que os torna patológicos é a relação de inserção na totalidade indivisível de um comportamento
individual. Há uma diferença qualitativa fundamental que atinge todo o organismo com a integralidade de
seus processos e funções. Pois não haveria um único fenômeno que se realizaria no organismo doente da
Canguilhem mesma forma que no organismo são. Canguilhem chega mesmo a afirmar que ser doente é, para o homem,
viver uma vida diferente. Notemos ainda que tal estratégia de vincular o normal a partir de uma relação
normativa de ajustamento ao meio implica afirmar que não há fato algum que seja normal ou patológico
SAFATLE, Vladimir. O que é uma em si. Eles são normal e patológico no interior de uma relação entre organismo e meio ambiente. Não há
normatividade vital? Saúde e doença a
partir de Georges Canguilhem. Scientiae
[Sávio de Araújo] uma continuidade quantitativa entre normal e patológico, mas descontinuidade qualitativa" (SAFATLE, 2011,
p. 18)
Studia, v. 9, p. 11-27, 2011.

"René Leriche dirá: “se quisermos compreender a doença, é necessário desumanizá-


la”, ou ainda, “na doença, o que menos importa é o homem” (SAFATLE, 2011, p. 19)
O que fazer com a subjetividade do doente?
Para Canguilhem a CONSCIÊNCIA DA DOENÇA é o que caracteriza os estados
patológicos, logo, o processo de cura passar por considerá-la no tratamento
A consciência da doença
Relação normativa estatística (normalização) =
Em que situação ocorre algo como a normatividade social
consciência da doença? O que significa, Patologia = relação organismo/meio
para um organismo, estar doente? Relação normativa orgânica (regulação) =
normatividade vital

Claude Bernard

Levando esse aspecto em conta, consideramos que a saúde


não deve ser associada a uma existência (um estado ideal
de existência), mas a um movimento de modificação, uma
Claude Bernard racionalidade vital estabelecida entre organismo e meio.

Tomar a normatividade como critério exterior à relação


A determinação valorativa própria à experiência organismo/meio é pautar o processo de cura fora da vida
subjetiva da doença teria algo a dizer a respeito como prioridade
da própria natureza da doença?
"Exprimir o estado normal como uma produção para a qual
convergem conceitos estéticos (harmonia, equilíbrio), morais (
contenção, regulação) e mesmo políticos (ordem, hierarquia,
comunicação), ou seja, mostrar como a saúde é uma
determinação valorativa para a qual convergem operações
amplas de valoração convergente com campos sociais: eis
uma tarefa aberta por Canguilhem e que ainda espera para
ser realizada a contento" (SAFATLE, 2011, p. 22)

Anormalidade como, também, via de


produção de novas normatividades
"Produção de novas normas de ajustamento entre o
organismo e o meio ambiente; normas estas vivenciadas
Vida entendida como normatividade positiva
como restrição do mundo e da capacidade de atuação
do indivíduo biológico" (SAFATLE, 2011, p. 23)
A doença aparece assim como fidelidade a
uma norma única

"Não existe fato que seja normal ou patológico em si. A anomalia e a


mutação não são, em si mesmas, patológicas. Elas exprimem outras
normas de vida possíveis. Se essas normas forem inferiores às normas
Apenas uma norma anteriores, serão chamadas patológicas. Se, eventualmente, se
revelarem equivalentes – no mesmo meio – ou superiores – em outro
meio – serão chamadas normais. Sua normalidade advirá de sua
normatividade (Canguilhem, 2002, p. 113 apud SAFATLE, 2011, p. 23).

"Porque a saúde não é uma constante de satisfação, mas o a priori do


poder de dominar situações perigosas, esse poder é usado para
dominar perigos sucessivos. A saúde, depois da cura, não é a saúde
anterior. A consciência do fato de curar não ser retornar ajuda o
doente em busca de um estado de menor renúncia possível, liberando-
o da fixação ao estado anterior"(Canguilhem, 2005, p. 70 apud
SAFATLE, 2011, p. 23).

Você também pode gostar