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A Ciência como Vocação

O problema do texto “ A ciência como vocação” se resume na seguinte pergunta


– a qual Weber já nos introduz no primeiro parágrafo -: quais são as perspectivas de
alguém se dedicar à ciência, no âmbito da vida universitária?
Inicialmente, ao fazer um balanço comparativo entre a carreira universitária da
Alemanha e dos Estados Unidos, Weber chega a uma constatação interessante, o qual
surge na América e vem atravessando o Atlântico para chegar ao país germânico: os
institutos de ciência se transformaram em empresas de capitalismo estatal. A primeira
tese que o sociológico abstraí desse fenômeno é de que a posição do assistente é tão
precária quanto de qualquer outro proletário. Portanto, a carreira do jovem cientista
depende de sua condição financeira pessoal.
Embora este aspecto esteja invadindo o meio acadêmico da Alemanha, Weber
reconhece que há um permanência entre a velha atmosfera e nova nas carreiras
universitárias: o papel do acaso. Segundo Weber, a seleção pela qual o assistente
enfrenta a fim de assumir a posição de professor titular, não são investidas de razões
puramente objetivas, mas sim, entregues ao acaso. O sociólogo cita, a título de exemplo,
o julgamento que se faz quando o jovem cientista a ser avaliada se trata de um judeu.
Após a análise desses fatores, Weber parte para aquilo que será o coração do
texto: a vocação. Esta vocação tem relação tanto com as condições externas do trabalho
(especialização) e internas (a paixão). Porém, mais do que isso, o fato decisivo para o
jovem cientista é a inspiração, atrelada a uma ideia precisa, à uma tese. A inspiração
surge da conjugação da especialização e da paixão.
Não obstante, Weber afirma que o sentido de um obra científica acabada,
advinda daquela inspiração, não tem outra sentido senão fazer surgir novas indagações e
proceder a sua própria superação. Este fenômeno advem do que o sociólogo chama de
lei do progresso e é típico ao trabalho científico. Nesse âmbito, Weber emerge com um
questão fundamental: se nos entregamos a uma tarefa que jamais terá fim, qual é a
significação dessa ciência? Max Weber responde a esta pergunta diante de duas
dimensões: uma externo e outra interna. Por um lado, reveste-se de significação para o
homem prático, para a técnica, por exemplo; por outro lado, o homem se dedica à
ciência pela ciência.
Para responder à pergunta de forma mais apropriada, Weber discorre sobre o
processo de intelectualização e chega à conclusão que sua significação essencial é
permitir que o ser humano recorra à técnica e à previsão. Respondida a esta questão,
Weber realiza nova pergunta: tem a ciência outra significação que ultrapasse a meta
técnica e prática? Aqui, o sociólogo emerge na dimensão existencialista e resgata Leon
Tolstói e Platão, com suas alegorias, das quais surgem o objetivo de conhecer a verdade,
o conceito, a morte sem sentido. Depois faz um balanço histórico geral perpassando
pela Idade Média, na qual a verdade seria o caminho que conduz à Deus; pelo
Renascimento com sua experimentação racional, como meio capaz, inclusive, de
conduzir à arte verdadeira; ao final, discorre sobre o irracionalismo, como tentativa de
livrar-nos no intelectualismo. Tendo em vista todos os diferentes sentidos que a história
da humanidade atribuiu à categoria da verdade dentro da ciência, qual é, afinal, o
sentido da ciência como vocação?
Weber, enfim, nos responde que os pressupostos que estruturam o trabalho
científico variam de acordo com cada ciência, especificamente com os fins de cada
ciência. A principal diferença é que uns pressupõe uma ciência sem pressupostos –
como as ciências naturais - enquanto outros se valem desses pressupostos – como a
teologia. Weber acredita que àqueles para quem a ciência só serve como uma tomada de
posição prática e desprezam os fatos, trata-se de uma atitude absurda, pois “as diversas
ordens de valores se defrontam no mundo, em luta incessante”.
Por fim, Max Weber finalmente nos responde qual a contribuição positiva da
ciência para a vida prática e pessoal. O sociólogo responde em fases. Primeiro, é
possível constatar, como afirmado anteriormente, que a ciência nos permite dominar
tecnicamente a vida por meio da previsão. Em segundo lugar, ela nos proporciona
métodos de pensamento, de modo a contribuir para a clareza; assim, “diante de tal
problema de valor, é possível adotar, na prática, esta ou aquela posição”.
Diante disso, é possível apontar um tese fundamental deste texto de Weber: há
sempre uma tomada de valor pelo cientista. Por isso a ciência não é uma revelação, mas
sim uma vocação “alicerçada na especialização e na tomada de consciência de nós
mesmos e do conhecimento das relações objetivas”.

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