Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
São Paulo
2006
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
São Paulo
2006
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
Banca Examinadora
__________________________________
Maria de Fátima Guimarães Dias
__________________________________
Maria Esmeralda Zamlutti
__________________________________
Orientador: Dr. Arilson Pereira da Silva
__________________________________
Co-orientadora: Ms. Valéria Ribeiro Linard
São Paulo
2006
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ............................................................................................ ii
RESUMO ...................................................................................................... iv
ABSTRACT ................................................................................................... v
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1
1.1 CONCEITUAÇÃO DE TRABALHO ................................................................... 1
1.2 TRABALHO E SUBJETIVIDADE ....................................................................... 5
1.3 ADOLESCÊNCIA E MERCADO DE TRABALHO .......................................... 9
2 OBJETIVOS ................................................................................................ 17
3 MATERIAL E MÉTODO........................................................................... 18
3.1 A AMOSTRA ......................................................................................................... 18
3.2 A INSTITUIÇÃO .................................................................................................. 19
3.3 O MATERIAL ....................................................................................................... 20
3.4 OS PROCEDIMENTOS ....................................................................................... 21
3.5 FORMA DE ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................... 23
REFERÊNCIAS .......................................................................................... 51
ANEXOS ...................................................................................................... 53
Aos nossos pais, pelo exemplo de dignidade, honestidade
e respeito a todos os seres humanos e pelo amor com que
nos criaram, sem poupar esforços para que nos
tornássemos pessoas melhores.
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo compreender as percepções, os sentimentos e as
cidade de São Paulo quanto às questões ligadas ao mundo do trabalho, bem como as
relações que estabelecem entre esses aspectos e suas perspectivas de vida em geral. De
qualquer momento do processo, o que não ocorreu. A coleta de dados foi realizada em
mercado de trabalho, inclusão na sociedade, comprar uma casa, mudar de bairro, mudar de
ABSTRACT
The main goal of this research included the comprehension of a teenagers group, which
lives in São Paulo outskirts. In fact, the study had been focused on their perspectives related
to the market place, and also to their lives in general. The qualitative methodology
considered had a specific tool to get important points for the present research: “The
operative Group”. The main criteria for choosing the participants had defined teenagers
from 15 years old up to 18, members of the same community and same professional
inquire/study. All of them, as well as their parents, had been informed about all the details
before starting he study. By the way, they could give up from the process anytime they
want to, but it did not happen. The collect of data was realized in four meets and have
presented as emergent subjects: exploration, inequality, education, family, first job, fears
and anxieties. As well as, in their life perspectives, this related the insert in the job market,
the inclusion in the society, the desire to buy a house, to change of neighborhood, of social
grande importância compreender em que contexto o indivíduo está inserido e que valores,
atividades mais importantes é o trabalho, razão pela qual a presente pesquisa teve como
TRABALHO:
três estacas utilizado na agricultura, a palavra latina tripalium também era empregada para
trabalho parece ser, até os dias atuais, para a maioria da população brasileira: uma tortura,
um sofrimento.
atividades nas terras (propriedades) da classe abastada, mantendo a ociosidade desta última
(ALBORNOZ, 1994).
pode deixar de ressaltar que a formação da sociedade brasileira foi calcada em uma
economia escravocrata. Embora extinto há pouco mais de cem anos, esse regime deixou
e o desrespeito aos direitos universais do homem, até porque o conceito de cidadania não se
Uma das mudanças sociais ocorridas nos últimos dois séculos em decorrência do
no sentido estrito, trabalho é a atividade que transforma o meio, o termo emprego significa
acima, embora, na maioria das vezes, seja utilizada para indicar emprego, remuneração.
(KRAWULSKI, 1998).
no sentido estrito mas, no cotidiano, não se observa distinção entre essas duas palavras.
Como destaca Albornoz (1994, p.81), “As pessoas trabalham antes para poder consumir
do que propriamente para produzir alguma coisa”. Assim, para muitas pessoas, o trabalho
restringe-se à execução de uma tarefa qualquer que visa a obtenção de remuneração ao final
acesso à renda.
com a laborização: trabalho com sacrifício e sem prazer, marcado pela falta de sentido e
pela alienação, no qual o trabalhador desconhece a finalidade da função que executa. Nesse
seja, não utiliza a sua criatividade e não tem prazer no que faz. Ao confundir-se com o
ganhou outra conotação, qual seja, detenção de status social em função da categorização da
1998).
diferentes etapas da história da humanidade, como: antiga sociedade grega, idade média e,
qualquer indício de desejo (que era considerado pecado para os religiosos e a cultura da
época). O decorrer dos anos, contudo, fez com que o trabalho perdesse a característica de
Essa mudança de imagem do trabalho trouxe três novos sentidos não só à atividade
laboral como à vida do ser humano, como postulam Moulin, Reis e Wenich (1998):
Esse novo quadro, que busca a sincronização entre o trabalho e a realização pessoal e prevê
uma sociedade na qual a especialização do trabalho intelectual é cada vez maior, decorre
dos avanços tecnológicos e da facilidade de acesso à informação: as pessoas não estão mais
subjetividade.
Para Fernandes (1999), o trabalho é a mais valorizada das atividades sociais pois
(produzindo) para estar inserido na sociedade. A sociedade atual reserva aos indivíduos que
a integram uma mensagem implícita, a saber: há lugar para todos, desde que trabalhem e
Sob essa ótica, o trabalho é um exercício que faz as pessoas despenderem energia
trabalho, pois este se apresenta como um lugar seguro em uma parte da realidade. O
trabalho exerce a função de eixo psíquico pois promove o contato com a realidade externa e
faz parte do cotidiano, sendo condição fundamental para a estruturação psíquica. As novas
fundamental na vida subjetiva do indivíduo. Isto porque o trabalho faz com que este
indivíduo se veja integrado à sociedade, e conseqüentemente à realidade, sentindo-se útil e
participante das relações sociais. Em contrapartida, o indivíduo que não nutre expectativas
A vida cotidiana é tomada como uma realidade certa pelos membros da sociedade
que forma um mundo coerente. Dentre as várias realidades que constituem o mundo, a da
se com as cenas de terror que o homem pode proporcionar, mas no dia-a-dia tais imagens
não se fazem constantemente presentes; já população que convive com essa realidade (os
iraquianos), nunca deixa de pensar que uma bomba pode cair em suas casas (BERGER;
LUCKMANN, 1999).
trabalho fez com que este acabasse perdendo o seu sentido original; por conseqüência, a
motivação para desempenhar tal atividade também se vê despida de sentido Essa aversão ao
Nesse contexto, o trabalho pode perder a sua função psíquica de descarga pulsional,
tornando-se árduo pela falta desse investimento. Quando não se apercebe de sua condição
de agente de mudança nas atividades que executa, o trabalhador não responde pela sua
criação. Por outro lado, as instituições favorecem ainda mais essa dessubjetivação ao
promoverem visto que mecanismos que excluem o sujeito: “Destitui-se o sujeito para,
entre o sujeito e o trabalho. Quando se aceita a premissa de que o trabalho tem o mesmo
trabalho e sublimação.
dos filhos etc. “Quando as coisas ficam difíceis meses seguidos na empresa de consultoria,
é como se eu não soubesse quem são meus filhos” (SENNETT, 2002, p. 20).
diversos significados, sejam eles relacionados aos vínculos, à carreira e/ou a outros fatores.
pensar.
processos de renovação. Assim sendo, carreiras e profissões tradicionais, que existiram por
décadas, são hoje reorganizadas para atender às novas exigências do mercado de trabalho
(ANTUNES, 1999).
trabalhadores colocam o seu saber e a sua subjetividade a serviço dos projetos do capital e
das empresas que, a cada dia que passa, tornam-se mais flexíveis e enxutas. Em decorrência
de todo esse ideário e dessa pragmática, o trabalhador é compelido a pensar única e tão
condições para a produção de resultados etc. A partir das décadas de 70 e 80, o Ocidente
que o lema da família Toyota era: “Proteja a empresa, para proteger a sua vida”
(ANTUNES, 1999). A esse respeito, Antunes (1999) destaca que a diferenciação entre
toyotismo, taylorismo, e fordismo no Brasil é inviável, de vez que o país apresenta
trabalho tornaram-se disfuncionais, pois a realidade por eles vivida não se coaduna com a
preocupam com a temática do trabalho? É uma nova realidade, que gera novos conflitos,
novos sentimentos, novas expectativas, com possíveis novas soluções. Essa situação
despertou o interesse das autoras do presente estudo, cujo foco central é avaliar a realidade
trabalho.
das verdades apresentadas pelos adultos, nas quais a criança se espelhava até então. Ou
seja, os adolescentes destróem e reconstróem os modelos adultos, tornando-se anti-adultos
pais-criança que marca a infância permite que o adolescente conquiste a sua independência
Para Carvajal (1998, citado por LEMOS, 2000), na fase da adolescência puberal o
desobediência, desafio e denegrimento das figuras paternas. Apercebe-se de que os pais, até
“Nessa fase o adolescente vivencia vários lutos, luto pelo corpo infantil, luto pelos
pais da infância e pelo paraíso perdido da infância, com todas as fantasias onipotentes que
fase o jovem torna-se um anti-adulto, porque os pais deixam de ser a sua referência. Adota
um estilo próprio e assume as normas e regras do grupo formado, que podem ser até mesmo
mais rígidas e autoritárias do que aquelas determinadas pelos pais. Isto ocorre porque a
necessidade de ser aceito pelo grupo é muito forte, e o medo de ser excluído do mesmo é
família, distanciando-se do grupo, que perde a função característica da segunda fase. Nessa
etapa, inicia vínculos afetivos com um terceiro (namoro) e procura se inserir no campo
constitui-se na mais penosa e prolongada fase de transição da vida, mas é necessária para o
1998).
sociedade. A tentativa de substituição dos modelos parentais faz com que os adolescentes
lazer e trabalho.
Aquilo com que estes jovens se identificam não é exclusivo nem construído por
eles, pois a “ideologia do prazer”, também conhecida como mitificação do prazer, é uma
físico e psíquico adquire valor extremo, razão pela qual o modelo identificatório aqui
concerne à atividade laboral, a sua abordagem é justificada porque os jovens oriundos das
Resumindo: consumo, lazer e trabalho são elementos que parecem compor o universo dos
Tais processos constituirão o tipo de relação com o mundo adulto (LEMOS, 2000). “A
partir do que se admira e deseja e do que se rejeita que surgiram as expectativas a respeito
de si mesmo e as aspirações do modo de ser que se quer alcançar” (LEMOS, 2000, p.7).
De acordo com Fiori (1982, citado por LEMOS, 2000), a escolha profissional é
constituída por duas etapas. Na primeira, o adolescente passa por um momento de crise
caracterizado pela atração por diversas opções profissionais: esse é o momento de não
profissional com a qual se identifica e nela se engaja, com o objetivo de obter sucesso: esse
vivenciar ambas as etapas pois, caso não o faça, sua aquisição de identidade será
prejudicada.
(LEMOS, 2000):
cargos que incluem execução de atividades com baixo grau de satisfação, exploração da
mão-de-obra, baixa remuneração e longa jornada de trabalho, o que está em desacordo com
Gomes (1990a) também sugere que o mercado de trabalho está para o jovem como
um rito de passagem da juventude para o mundo adulto, rito este que é tanto mais penoso
quanto mais cedo ele entra no mercado de trabalho. Ainda segundo o autor, os jovens
tendem a ser considerados trabalhadores de última classe e, quase tanto quanto as crianças,
vista a sua vitalidade e talvez a sua submissão, além da ignorância dos direitos que detêm.
Assim, a liberdade de escolha profissional é mais restrita entre os adolescentes do que nos
outros grupos etários: cabe aos jovens a execução das atividades mais penosas e
inferiorizadas.
E é por essa razão que o autor postula que esse sofrimento é um “rito de
sua posição social - pois, como anteriormente comentado, quanto mais precocemente ele
ingressa nesse mercado, mais sofrerá. Portanto, a posição social que ocupa - que promove
família. Assim, os jovens que se inserem nesse quadro pouco (ou quase nada) usufruem do
ensino formal: ingressam mais tarde (para eles, a pré-escola inexiste), estão sujeitos a maior
vivenciar integralmente essa fase) e, seja por causa ou conseqüência da situação que vivem,
cargos cujas atividades são mais penosas, com remuneração pífia. O jovem trabalhador
um canal de ascensão social, pois somente com o auxílio dela os jovens se qualificarão para
o mercado de trabalho. Isto quer dizer que jovens que tendem a interromper os estudos para
trabalhar em prol do sustento da família sempre terão maiores dificuldades para ingressar
(GOMES, 1990c). “Uma corrente da literatura sociológica desde os anos 30 aponta para
o primeiro trabalho como o momento crucial da carreira profissional e, por isso mesmo,
Como postula Pereira (2001), a construção de sentido das relações de trabalho por
Pereira (2001) investigou como os jovens pensam, sentem e agem diante dos
uma visão estereotipada desses jovens, que sofrem por serem adultos em algumas situações
independência financeira - ainda que o patrão seja seu próprio pai. Embora essa relação
pareça contraditória, o jovem que trabalha para o pai acredita que o que está ganhando é um
salário, e não uma mesada. E se, em um primeiro momento, visa o trabalho como emprego,
atividades, estão aptos a qualquer serviço, além de acreditarem que estar em prontidão para
Lehman (2001) afirma que flexibilidade é sinônimo de ilusão, de vez que, cada
adolescente que busca trabalho. A organização social perde sua força de coesão nesse
momento de contínua mudança, no qual o vínculo torna a busca por trabalho cada vez
Esse também é o foco da reflexão realizada por Sennett (2002), que entende a
vínculo.
significa emprego.
no corpo social e permitir algumas realizações pessoais, tais como: constituir uma família e
sustentá-la. Com isso, o jovem constrói uma visão limitada e pragmática, ou seja: ele não se
permite utilizar a fantasia. Sob o domínio dessa postura cultural o jovem conseguirá
compreender o que um grupo de jovens de uma comunidade de baixa renda pensa, sente e
espera em relação ao mundo do trabalho, e às relações deste com as suas próprias vidas.
2 OBJETIVOS
cidade de São Paulo quanto às questões ligadas ao mundo do trabalho, bem como as
relações que estabelecem entre esses aspectos e suas perspectivas de vida em geral.
3 MATERIAL E MÉTODO
3.1 A AMOSTRA
A definição da amostra a ser estudada foi efetuada por conveniência, a partir dos
sexos, pertencentes a uma comunidade de baixa renda situada na periferia da cidade de São
com pessoas inseridas nessa faixa etária é significativo, uma vez que o melhor
ações mais eficazes, que contemplem a preparação dos jovens para o ingresso no mercado
para a formação do grupo, com base na numeração das inscrições. Mas essa conduta não foi
possíveis integrantes foram eliminados porque não correspondiam aos critérios iniciais,
quais sejam: interesse e disponibilidade nos horários de realização das reuniões. Assim
representantes legais.
apresentação da pesquisa.
grupo pode fornecer dados relevantes para a compreensão de determinada realidade, sem o
objetivo de generalizar os dados, mas com o intuito de articulá-los com referenciais teóricos
3.2 A INSTITUIÇÃO
região da Zona Leste. A entidade atua no Distrito da Zona Leste da periferia da cidade de
ofereceu cursos noturnos até 1984; a partir de então, passou a trabalhar com adolescentes
no período diurno.
TERCEIRO SETOR. Sobrevive graças às parcerias financeiras, técnicas e políticas, sempre sob
instituições.
3.3 O MATERIAL
representantes legais. Esses documentos explicam - tanto para a organização como para os
decorrer das reuniões. Nesses casos, e de acordo com o TCLE, o participante teria toda a
liberdade para optar pela não continuidade no processo ou pela interrupção momentânea.
psicológico. No entanto, no decorrer das reuniões não houve necessidade de utilizar tal
procedimento.
3.4 OS PROCEDIMENTOS
contato com os possíveis integrantes da amostra para transmitir a eles todas as informações
formalizarem a autorização.
(fosse por falta do aval dos responsáveis, fosse por desinteresse dos inscritos), restaram 10
pequena alteração no número de reuniões seria possível, uma vez que o critério de
saturação também foi observado, ou seja, uma certa reincidência de dados que possibilite a
A escolha dessa técnica foi baseada na teoria de Pichon-Rivière (1991, p.174), que
defende que
O instrumento de coleta de dados foi, portanto, o grupo operativo, que teve como
tarefa, em cada reunião, discutir da questão assim formulada: "Como vocês percebem as
A análise dos dados teve como foco estabelecer um paralelo entre o quadro teórico
e o trabalho de campo realizado com o grupo de jovens. A análise foi de ordem qualitativa,
2004).
A análise do material obtido nos grupos operativos exigiu diversas leituras das
trabalho, no âmbito das idéias, dos afetos e também dos comportamentos, das ações.
Portanto, a análise foi pautada no que emergiu no grupo, dando acesso aos aspectos
entre os EMERGENTES que surgiram no decorrer das reuniões e o quadro teórico relacionado
à temática da pesquisa.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
profissional que jovens da periferia enfrentam. “Para você entrar no mercado de trabalho
tem que ter conhecimento e idiomas. O Brasil não é muito desenvolvido. Está diversificado,
sempre pede experiência; nem todo jovem tem acesso a estes cursos”(Sic). Outros fatores
encontrar muitas pedras”. Em uma leitura baseada nos aspectos explícitos e implícitos das
técnicas grupais (PICHON-RIVIÈRE, 1991) verifica-se que, além dos temores com relação
instituição cujo foco é a profissionalização desse público. Com base nessa reflexão, surgiu
o emergente relacionado à idade, em função da necessidade de alistamento militar para os
uma cota de vagas para a contratação de adolescentes. De acordo com o grupo, as empresas
dão preferência a jovens que nasceram nos anos 90 (noventa): “Quem nasceu nos anos 90.
Por causa do procedimento estagiário, porque eles falam que o aprendiz, tendo a mesma
idade do estagiário, dá confusão. Eu sei que eles estão pegando só estagiários dos anos
90”.
Zona Leste, tipo eu também ser negra, acho que discrimina, sim”. Esse discurso
jovens de baixa renda serem incluídos no mercado de trabalho, uma vez que os jovens de
grupo com relação à reunião, que lhes era pesada, sofrida porque, além de abordar um tema
que gera ansiedade, era a primeira reunião, e os integrantes ainda não estava vinculados.
grupo de estar sendo observado por elas, no papel de coordenadora e observadora. Essa
percepção (de estarem sendo observados) gerou desconforto nos participantes, ainda que de
que não lhes são naturais devido a esse controle pois temem que estas não sejam adequadas.
da criatividade torna a surgir, agora especificamente com relação à observadora, o que pode
observadora foi: “... e o cara só olhando assim e anotando, pra ver como a menina ficava,
se ela ficava nervosa”. Esse relato parece traduzir, de forma implícita, os sentimento dos
o emergente relacionado à possível exclusão do grupo que, ainda que de forma implícita,
surge na palavra “dispensou”. Portanto, é possível inferir que os participantes temiam que,
poderiam ser excluídos da atividade. Exemplo disso é que, quando um integrante do grupo
queria se manifestar, levantava o dedo como que pedindo autorização para falar.
Quando se discutiu a relação com o “outro” foi possível observar que, sob a ótica
participantes não nutrem expectativas de colaboração por parte desse “outro”: “Eu acho
que tem muita dificuldade por não saber o serviço que você vai fazer, por outras pessoas
terem que estar te ensinando. Então às vezes as pessoas não teriam paciência de tá te
grupo acredita pautar as relações de trabalho: “Digamos que você entre, consiga entrar, se
você conseguir pegar o serviço rápido, as pessoas que já estão lá dentro há mais tempo,
vai fazer de tudo pra você sair, porque você conseguiu conquistar aquilo rápido na
empresa”.
O grupo deixou transparecer um sentimento raiva que não pode ser expresso, pois
acredita que o mercado de trabalho é conivente com as injustiças: “(...) você é maltratado,
tudo, e você não pode maltratar...”. Essa frase reporta à necessidade da troca de papéis
para um relacionamento mais saudável. Supondo que essa flexibilidade para assumir
mediador entre a exclusão e a inclusão no mercado de trabalho. Parece ter ocorrido uma
“atrasar a produção”, “não tava atingindo”,“fazer de tudo para você sair”, “não agüenta,
mais aí você sai”, “dispensou ela”, “eliminado”, “dificilmente você vê uma pessoa da
periferia trabalhar em um banco”.
“pertencimento” a um mundo que se lhes afigura distante. Tais aspectos podem ser
articulação entre a sensação que eles têm de impotência diante do mercado e a competição
com jovens de classes mais favorecidas, o que lhes traz o sentimento de desvantagem,
como se constata na seguinte frase: “(...) o cargo já tá pré-definido. Tem que ser branca,
loira e quase morena não tem espaço no mercado, o negro”. Enfatizando no implícito, o
mídia:
É que nem novela, na televisão, toda vez quem é empregado é pessoa de
cor. Então eles não tão dando oportunidade. É isso que eu vejo um
problema.
Porque a mídia tá fazendo propaganda pro dia das mães, por que não
tem nenhum negro?.
Eu acho que a pessoa negra não tem tanta, como que eu posso falar,
tanta oportunidade que nem as pessoas brancas porque a gente assiste a
novela, vários programas de televisão e eu tava olhando a revista, poxa,
essa revista aqui não tem quase uma pessoa negra. Olha aí, todo branco.
(...) não tá tendo oportunidade de emprego e muitos jovens às vezes até
desistem, vai querer procurar outro caminho pra arrumar dinheiro para
sustentar a família e acaba prejudicando a própria vida dele (...).
para esse grupo específico, emprego com a conotação de obtenção de algum dinheiro.
Outra frase que explicita esse sentimento é: “(...) Tem como se virar aqui em São Paulo,
pelo menos acho que eu tenho, apesar de São Paulo ser um lugar que tem bastante
o grupo compara o mercado de trabalho a uma “mala pesada” (sic), utilizando essa
metáfora para representar as dificuldades que acredita encontrar, seja a atividade formal ou
informal. Essa mala também tem a conotação de sair de casa, enfrentar os problemas e
vencer as dificuldades.
denominado ACESSO, que tem como conotação a inclusão social. Ao mostrar uma figura
observaram uma transformação das atitudes dos participantes, de algo mais cindido
(primeira reunião) para algo que reconhece a ambigüidade dos sentimentos, conforme as
como indica a própria expressão, implica estar contido, ou seja, não poder manifestar seus
E quem não teve oportunidade? Por que não teve oportunidade? Por que
ele não vai ser um bom empresário? Até quando a gente vai ser passivo?
Quem não tem oportunidade vai ficar de braço cruzado? Só quem tem
estudo que é o cara?
que o grupo parece ser movido por duas forças contraditórias: lutar para mudar algo e/ou
Como novo emergente surge o tema LUGAR IDEAL, expresso nas seguintes falas:
por meio do estudo que, nesse LUGAR IDEAL, é valorizado e estendido a todos. Diante desse
quadro, pode-se realizar uma leitura pautada no distanciamento que tais jovens sentem em
relação à inclusão social. Os LUGARES IDEAIS apontado são geograficamente distantes não
somente desses jovens como do Brasil, ou seja, eles não vislumbram a possibilidade de
experimentar tal realidade no país que habitam. Entretanto, o LUGAR IDEAL não se mostra
de fato como irreal, pois compreende países que existem, embora estejam distantes.
em relação ao lugar que de fato habitam. O grupo deixa claras essas diferenças na seguinte
frase, relacionada à realidade brasileira: “Por que as crianças começam a trabalhar com 7,
6 anos numa lavoura de cana e o que ela pode esperar do futuro delas?”. A análise desses
conteúdos faz pensar em uma contradição, articulando um lugar ideal em confronto com
um lugar real. Indiretamente, parece que os participantes perguntam-se sobre seu próprio
futuro.
ocorre com os jovens de classe média que, graças ao estudo, têm maiores condições de
escolha. Além disso, implicitamente tais jovens sentem-se sabotados pela sociedade pois,
estão explicitamente ligadas ao estudo que lhes falta: “primeiro as pessoas precisam do
dinheiro pra se manter, mas se tivesse as informações poderia... não pela sua capacidade,
se você quiser alguma coisa você primeiramente você vai ter que ter
conhecimento, informação, que só assim você não vai ter tanta
dificuldade. Eu acho que hoje o que mais exige no mercado de trabalho é
o estudo.
informação.
que pode ser relacionado com algo intragrupal, pois as expressões externas transmitem
pelas famílias, o grupo lhes proporciona a sensação de acolhimento, como se constata nas
seguintes manifestações: “Uma das barreiras que você encontra assim é com as famílias.
Muitas vezes os pais ficam falando que você tem que trabalhar (...) até quando eles vão
agüentando você”. “( ...) é nessa idade da vida que a gente tem que pagar o dinheiro que
inferioridade, até mesmo em virtude das fantasias que alimentam com relação a essas
companheirismo por aqueles presentes na reunião. Assim como a frase demonstra: “Sei lá,
tenho medo de chegar assim e de ser queimado, algum gerente chegar e falar que eu não
tenho experiência outras coisas também, que impede de eu chegar no gerente e falar, aí
verificado nas seguintes falas: “(...) os jovens que vão procurar emprego não tem que
temer a nada (...) falar que vai conseguir e conseguir”, ou “ E também vai ter aquelas
pessoas que vão querer puxar também você pra baixo. Própria família: ah pára, você não
vai conseguir”.
deles, pois no grupo de iguais não sentem TIMIDEZ; apenas “lá pra fora” (sic) teriam esse
Outro emergente que vem à tona é o MEDO DE ERRAR, expresso na seguinte frase:
nas seguintes falas:“... a gente se conhece mais, tem uma intimidade a mais.”; “Eu prefiro
tá mil vezes nesse grupo do que na minha sala...”; “Eu gostei porque todo mundo fala com
IGUAIS, como o reconhecimento das diferenças entre os seus integrantes: “Eu acho assim:
diferença todo mundo tem, mas aqui no grupo em si, tipo: 'eu sou melhor que ele', alguma
coisa assim, não tem, acho que não, mas assim: diferenças particulares todo mundo tem
(...)”. Outra frase que também reforça a idéia de contradição do grupo de iguais é a
seguinte: “É, cada um pensa de um jeito, ninguém pensa igual ao outro. Cada um tem a
sua opinião”.
Eu acho até bom porque às vezes você tá com dúvida numa coisinha em
inclusão e ela pode te ajudar, um sempre ajudando o outro. Sempre aqui
tem uma troca de informações, só você ali não adianta. Eu tava
conversando com meu tio esses dias sobre trabalhar em grupo e ele falou:
'o cara que fica só ele ali, é difícil ele ir pra frente, tem que saber
trabalhar em grupo, ele tem que saber conversar, não é só ele saber,
porque ninguém sabe tudo'. Cada um tem sua potencialidade, você tem a
sua, eu tenho a minha (...).
Eu acho que não tem nenhuma dúvida, acho que todos aqui têm o mesmo
pensamento, que nem ela falou: aqui a gente discute sempre os mesmos
assuntos, eu aprendo um pouco; ela, ele também, cada um
compartilhando os conhecimentos, tendo a vantagem de, como por
exemplo, de conhecer o curso, no começo que abriu o curso lá, não sabia,
praticamente, prá nada, prá que servia, e ele mesmo veio falar que ia ser
durante as aulas, é uma troca de conhecimentos que só vai ajudar a
gente.
algum critério importante, o que lhes proporciona uma leve sensação de vitória. De alguma
forma, o fato de participarem do estudo faz com que se sintam incluídos na "sociedade",
escolheram. Além disso, parece que nelas também foi projetado o mercado de trabalho, que
fala:
Eu acho que foi mais que vocês escolheram, porque não teve assim
alguma seleção, esse perfil vai vim. Ou, se teve, vocês não falaram pra
gente. Qual foi a forma que vocês selecionaram aqui no centro, qual foi o
critério de vocês?
posturas dos integrantes por parte das pesquisadoras. Simultaneamente, constata-se o medo
da perda de OPORTUNIDADES.
anteriores, o que indica que ele é significativo para o grupo estudado. Configura-se, nas
especificamente nas situações de seleção pelo mercado de trabalho. Isso revela sentimentos
agora o que eu tenho medo no mercado de trabalho é que você vai apresentar alguma
eram permeadas por diversas fantasias sobre o que encontrariam no mercado de trabalho.
Tal insight pode ser configurado como uma aprendizagem grupal: “(...) A gente pensando
do lado de fora. Porque às vezes a gente fala aqui de uma coisa e fica até pensando,
matutando: ‘será que eu vou encontrar isso lá fora, mesmo’ (...)”. Trata-se de um
questionamento que o grupo faz com suas próprias colocações, que parece lhes fornecer
Essa contenção parece decorrente da busca de manter uma postura "adequada" diante da
(PICHON-RIVIÈRE, 1991), revelam contato com tais sentimentos: “Eu senti raiva, sim.
Esse negócio de preconceito, exclusão. Senti raiva, não do grupo, mas da conversa, sei
(...) às vezes ela fala um negócio que eu tô com dúvida e eu mesmo acabo
esclarecendo (...).
(...) aí muitos tem vergonha de falar e tem gente que nem ela, que gosta
de falar, aí acaba falando e a gente acaba aprendendo (...).
realidade que vivem e a realidade de países distantes, comparando, por exemplo, Estados
Unidos da América e Iraque. Essas situações aparecem nas seguintes frases: “Porque tem
muita gente ganhando muito enquanto outros estão ganhando pouco...”. Assim como:
“Que nem os Estados Unidos: tem bastante tecnologia, o Iraque já não tem...”
pertença ao grupo. Seria algo compensatório à fragilidade de vínculos com outros grupos?
atuantes. “Eu acho que a gente aqui é um tipo como se fosse um corpo, cada um é como um
Um bom exemplo disso daí vocês mesmos podem falar: de vir aqui e ter o
receio de não conseguir o apoio de nós, sei lá (...).
Da gente não demonstrar a nossa vontade, que nem ela falou, conteúdo,
acho que, sei lá, vocês, eu acho, poderiam completar, a palavra receio,
no significado.
(...) Quando vocês vieram fazer o convite para a gente, vocês não ficaram
com receio de ninguém? Tá (...) se disponibilizando, tá participando do
grupo?
coordenação, pois o tema PSICÓLOGO sempre vem à tona nas falas dos integrantes do grupo.
A leitura que se pode fazer dessa situação é de que o grupo, como anteriormente pontuado,
vê as pesquisadoras como representantes dos processos seletivos. Desse modo, sentem-se
avaliados:
sobre como proceder em tais situações, ou seja, conhecimentos que os ajudem a superar
obstáculos para a obtenção de uma colocação profissional. Com relação a esse aspecto,
Vocês têm um conhecimento maior e uma visão ampla, e a visão que nós
precisamos de ter certeza, para não ter dificuldade no mercado de
trabalho, o que nós vamos encontrar. Então eu penso que essa e a
diferença que tem, as informações que você tem, você tem mais
informação que nós.
escolha do local para a realização da pesquisa, que apontavam para uma certa
índice de empregabilidade formal da região, emergentes estes vistos nas seguintes frases:
Se você chegou e parou para pensar você deve ter pensado de ir na Zona
Leste, onde o povo tem mais dificuldade.
Pela dificuldade que o jovem do extremo leste.
Eu acho que escolheu este lugar porque é onde tem mais jovens
desempregados, desempregados, assim que não tem carteira assinada.
produtos de consumo mas não fornece alternativas para que essa população adquira tais
produtos, o que faz com que, para a maioria, a obtenção desses produtos seja uma
Porque, pelo menos eu, todos nós somos da periferia e vê, todos os
jovens passam aperto, onde quer um tênis, camiseta, sei lá, fazer
um cursinho melhor e isso tem que ter dinheiro, para ter dinheiro
tem que trabalhar e você não consegue, trabalho tá difícil, às vezes,
sei lá... Porque você mora na periferia. Os caras têm um emprego e
não vão te dar porque você mora na periferia, e eu fico indignado
com isso, sinto raiva.
o que estaria por vir. O grupo sente esse desconhecido como algo a temer, não pensa em
fatores positivos. Esse sentimento pode ser traduzido no título de uma música do Grupo
Rappa, que interpreta sentimentos manifestados pela população de baixa renda de São
Paulo: “O Silêncio precede o Esporro” (FALCÃO, 2000). Isso indica que a população
ilustram as frases: “A única coisa que incomoda o grupo é o silêncio”., “Dá uma sensação
contradição, nos integrantes do grupo, quando relatam que a ÉTICA é o fator mais
importante para ser um bom profissional. E realmente demonstram essa ética nas reuniões,
pela postura frente aos colegas e à equipe de coordenação. Todavia, a contradição aparece
quando comentam a disputa nos processos seletivos, ao compará-los com uma guerra e com
mundo sem ética, onde o outro passa a ser visto como um inimigo, como em uma guerra?
E, também, a um mundo pautado em avaliação e controle, por "alguém" que nem se sabe
quem é? Entende-se que os participantes trazem, para dentro do grupo, a imagem de que o
mundo é extremamente competitivo, "feroz" até. As seguintes falas são reveladoras desses
conteúdos:
todos: “(...) foi mandando embora quem já tava fora do padrão do que era a empresa lá,
integrantes, um sentimento de PERTENÇA que foi consolidado. Parece que essa "união", esse
estar com pessoas que vivenciam situações similares, mostra-se ao grupo como uma
expressas nas seguintes falas: “a pergunta foi um pouco profundo...”.. Outra fala que
expressa o sentimento de estranheza em relação à pergunta é: “Eu sabia que uma hora ou
outra ela ia vir e eu acho que a última... era a hora certa de vir...”. Nessa fala, “eu sabia
que uma hora ela ia vir” (sic) refere-se à pergunta, e “eu acho que na última... era a hora
certa de vir...”(sic) indica que a integrante considerou apropriado o momento em que foi
parte do cotidiano dos integrantes do grupo, que vivenciam processos seletivos em diversos
(que, em sua fantasia, já passaram por processos de seleção), demonstram tomá-las como
modelo, uma vez que trabalham, estudam. “Mas tipo (...) vocês foram selecionadas (...) ?”
conteúdo este que indica a idéia que o grupo nutre, de descaso das classes favorecidas em
sociais mais amplas, pelos estados psíquicos referentes aos indivíduos, tais como:
.. .às vezes uma pessoa é mais rica que ela e ela se sente diferente,
muitos..., são metidos, nem olha pra você. Aí acho que a pessoa se sente
diferente assim, a auto-estima dessa pessoa, com certeza, você acha que
vai tá lá em cima?
às vezes você tá perto do carro, você olha a pessoa e a pessoa olha... já
demonstra, só naquele olhar, que você vai sentir a diferença. Às vezes ela
tá te esnobando ali, maltratando só pelo olhar. Então a pessoa pode
sentir inferior a ela, diante dela.
Outro emergente foi expresso na reunião através da frase “se espelhar e tentar
espelhar” (sic) sugere que os participantes estão tentando expressar a necessidade de olhar
mais para si mesmos. Além disso, mostra também o medo do errar, ou seja, os jovens
avaliados estão muito presos a referências externas. Confirma-se aqui a percepção de que
Queriam se espelhar para “tentar” consertar. O que será que estava quebrado e
Em seguida, surge outro emergente, relacionado à visão que o grupo tem dos
Pra mim eu acho que é selecionar o indivíduo certo que a empresa gosta,
quem tem o perfil da empresa.
(...) fazer o possível para agradar aquela pessoa que está entrevistando
porque vai depender dessa pessoa pra gente entrar na empresa. Então vai
depender da visão que ela teve da gente pra gente poder entrar na
empresa.
(...) a gente vai ter medo, né? Porque a gente não sabe o que ela vai
pensar, o que ela acha da gente, então (...).
passivo nas relações com esse "selecionador desconhecido", colocando-se numa situação de
dependência de terceiros para a inclusão no mercado de trabalho. Não se identifica um
movimento mais ativo que vise a busca de uma transformação social. Em outro aspecto,
comentado anteriormente tudo indica que, para eles, essas duas personagens representam os
profissionais.
quando discutem a LOCALIDADE QUE HABITAM. Isso pode ser considerado como um
importante emergente pois, em suas falas, sempre vêm à tona: “moramos no extremo leste”
Percebe-se que uma das justificativas que encontram, para serem excluídos do meio social
mais desenvolvido, está por conta dessa localidade. Também se observa, quando o assunto
surge de modo mais explícito, que contradições afloram no grupo: enquanto alguns
integrantes relatam que gostariam de pertencer à classe média - “Ser classe média, assim,
não querer ser ricão ... morar em um bairro assim ...”, “É, classe média. Que você passa
na rua e não tem ninguém. Todo mundo não ser excluído, né?”, outro integrante intervém
Eles falaram de ser excluído, acho que pela fala deles ali foi mais de
morar em um lugar, morar, para mim isto não existe, eu acho que eu só
tendo o meu dinheiro ali, e minha própria casa, não importa onde ela
seja. Seja na favela, eu gostando do lugar, pra mim não importa.
ascensão social: fazer parte da classe média, demonstrando algo sobre as perspectivas de
buscou-se fazer uma síntese dos emergentes que se apresentaram com maior intensidade e
seguinte fala:
Vou falar sobre o meu, o que me chamou atenção primeiro foi o desenho,
eu gosto muito de desenho, e aqui a gente vê um rapaz, como vocês vêem
ele tá saindo de viagem, tá com umas malas na mão, você vê que ele tá
com um pouco de dificuldade e o que eu penso disso é que no mercado de
trabalho a gente vai encontrar muita dificuldade, vai carregar “malas”
pesadas que seriam os problemas, dificuldades e que, independentemente
do seu trabalho sendo formal ou informal, vai chegar a hora, talvez, que
você vai ter que sair, viajar, enfrentar o problema e vencer (Nesse
momento o participante da pesquisa estava ilustrando, através de
figura escolhida, o mercado de trabalho).
decorre da própria história da civilização, que fez com que TRABALHO implicasse a perda de
sentido na realização das tarefas, e servisse para realização dos desejos da classe ociosa e
detentora do poder. “O trabalhador vende sua energia, seu tempo, sua capacidade a
outrem” (ALBORNOZ, 1994, p. 36). Essa relação negativa trabalho-realização pessoal foi
observada pelas pesquisadoras nos emergentes PESO E DIFICULDADE, PENOSO E ÁRDUO,
para essa população, o mercado de trabalho é a porta de entrada para a sociedade que os
exclui. Sendo assim, os integrantes do grupo expressam uma preocupação explícita com a
qualificação: procuram cursos e tentam adequar sua postura quando submetidos a processos
processo seletivo, um dos integrantes do grupo afirma: “não é muito timidez, é medo de
errar” (sic).
Outro aspecto emergente diz respeito à exclusão social, que, no caso em tela, está
qualidade, bem como a possíveis preconceitos (racial, de classe social etc.). Vale lembrar
(KRAWULSKI, 1998).
para o indivíduo se inserir na sociedade, é necessário que seja remunerado pela sua
Morar na Zona Leste, tipo eu também ser negra, acho que discrimina,
sim.
E também hoje eu reparei um homem no Tatuapé, lá no Tatuapé tem uns
playboy, umas patricinhas assim, acho que um moleque que era de São
Matheus foi lá, tipo não foi bem vestido, assim, teve uns playboy lá que
ficou olhando para o moleque. Fiquei com o maior ódio, maior raiva.
Maior preconceito.
pode-se concluir que, para a população estudada, o que prevalece neste momento é o
aspecto EMPREGO, embora Krawulski (1998) postule que TRABALHO é uma atividade que
capitalista. Entende-se que esses jovens demonstram acentuada preocupação pela busca de
colocando menor ênfase em possíveis ações para transformar o meio em que vivem. Essa
assertiva pode ser confirmada nas seguintes frases: “(...) não tá tendo oportunidade de
emprego e muitos jovens até desistem, vai querer procurar outro caminho para arrumar
dinheiro para sustentar a família (...)” e “(...) tem como se virar aqui em São Paulo, pelo
menos eu acho que eu tenho, apesar de São Paulo ser um lugar que tem bastante periferia,
disposição para atuar como agentes transformadores da realidade, pois, em suas reflexões
políticas, não se deixando rotular como “figura alienada”, fazendo, com isso, uma reflexão
de contestação a essas injustiças sócio-econômico-político, percebendo a necessidade de se
(...) Antes os governos, pessoas que estavam na mesa achavam que ‘não
vamos dar todas as informações que eles precisam na escola porque eles
só vão viver no mundinho deles, não vão querer crescer, não vão querer
ser ambiciosas’, e hoje a população ta mudando, tá indo atrás de estudo,
ta indo atrás de informação e com isso eles estão vendo que acabou eles
quererem dominar assim as pessoas porque hoje as pessoas tem a
capacidade de ir atrás de alguma coisa, sabe o que ela quer (...). Então se
ela quer trabalhar ela vai atrás desse emprego, por mais que seja difícil
ela vai entrar(...).
emergentes do grupo, a relação com o outro - aquele que ocupa posição hierárquica
superior, ou seja, as pessoas que representam os agentes da inclusão social desses jovens,
tais como entrevistadores e chefes - foi pautada por conotações como hostilidade,
significativa em relação à hierarquia, ao poder do outro que controla, avalia e pode incluir
ou excluir:
(...) a culpa sempre cai nas costas do mais fraco. Meu tio trabalhava
numa firma (...) aí todos os colegas subiam de produção, até o patrão
dele mesmo veio falar por que ele não tava subindo de produção, quem
nem teve um mês que ele foi o destaque da produção da firma, aí ele
mesmo disse que foi de marcação do chefe dele da área tava fazendo com
ele, que sempre pegava no pé dele (...) Até que chegou um mês que ele
não agüentou mais e pediu as contas.
Assim como:
ter sido facilitada pela instituição, além de os integrantes terem se inscrito voluntariamente.
Deve-se considerar, ainda, que, por se tratar de uma população pertencente ao mesmo
através do próprio estilo, assumindo as normas e regras do conjunto. Essas relações, entre
quando compartilhavam seus anseios, suas angústias e medos por se sentirem excluídos do
ameaçadores, de rejeição - algo como um campo hostil no qual não seriam recebidos de
maneira acolhedora.
De acordo com a análise realizada a partir dos conteúdos expressos por esses
jovens, nas reuniões de grupo operativo podem-se considerar, quanto às relações entre
adolescentes que compuseram a amostra sentem-se injustiçados por pertencer a uma classe
de baixo nível socioeconômico, por serem carentes de educação e por terem ciência da falta
(2002), que constatou que a vestimenta, os produtos de consumo, a cultura e o lazer são
valores hábeis para estabelecer condições de inclusão ou de exclusão social. Por esse
motivo, o processo de busca pela inclusão no mercado de trabalho torna-se árduo e penoso.
O presente estudo também revela a falta de perspectiva dos jovens com relação ao
TRABALHO, ou seja, algo que lhes tenha significado e possibilite gratificação. Enquanto
Pereira (2001), cujo objeto de investigação foram jovens de classe média alta constatou
que, a princípio, estes estão em busca de independência financeira (ou seja, condições para
manter seus gastos, como vestimenta, lazer etc.) mas que, após a conquista dessa
de trabalho, embora haja registros de seus desejos e/ou ambições, tais como comprar uma
implementar planos de intervenção, por meio da adoção de técnicas grupais - como o grupo
aprofundados estudos devem ser implementados, com vistas a orientar as políticas públicas
GOMES, C.A. Como o jovem brasileiro ingressa no trabalho? In: _____. O jovem e o
desafio do trabalho. São Paulo: EPU, 1990b. p. 19-28.
GOMES, C.A. Abordagens teóricas: uma pluralidade de mapas para desvendar a realidade.
In: _____. O jovem e o desafio do trabalho. São Paulo: EPU, 1990c. p. 29-33.
SOUZA, C. A. Reflexões sobre o trabalho, identidade e projeto de vida: sua relação com o
processo de orientação profissional. Revista Semestral da Associação Brasileira de
Orientadores Profissionais - ABOP, Porto Alegre, v. 1, n. 1, 1997.
BIBLIOGRAFIA DE APOIO
1. Nome (iniciais):
2. Idade:
3. Grau de escolaridade:
8. Renda familiar:
ANEXO 02 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, _________________________________________________________________,
_________________________________________________________________________
pesquisadoras
_________________________________________________________________________
_________________________________________________
Nome e assinatura do Voluntário e do Representante Legal
_________________________________________________
Nome e assinatura do Pesquisador Responsável pelo Estudo
ANEXO 03 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, _________________________________________________________________,
_________________________, da organização___________________________________,
situada _______________________________________,
pesquisadoras _______________________________________ e
_________________________________________________
Nome e assinatura do Representante da Instituição
_________________________________________________
Nome e assinatura do Pesquisador Responsável pelo Estudo
ANEXO 04 - SESSÕES DE GRUPO OPERATIVO
Entrevistadora – É mesmo?
Sujeito (Homem) – Não, acho que foi falta de oportunidade mesmo ou descriminação,
porque a maioria era homem, acho que tinha uma ou duas mulher só
dentro da sala pra concorrer com todo mundo.
Sujeito (Homem) – Não porque o próprio serviço era mais pra área masculina também.
Sujeito (Homem) – Mas só chamaram uma menina. Era outro procedimento, ela não tava
concorrendo com nós.
Sujeito (Mulher) – Fazer cotonete?
Entrevistadora – E as vagas são mais voltadas pra escritório informatizado, né?
Sujeito (Homem) – É.
Sujeito (Homem) – Só chamou dois do escritório.
Entrevistadora – Mas vocês têm mais medo de dinâmica, de vocês passarem, ou vocês
têm mais receio em tá entrando na empresa pra ver como que é o dia a
dia, o que vocês assim, sentem mais frio na barriga?
Sujeito (Homem) – Eu acho que pelo menos no tempo da dinâmica assim você já vai ter
uma consciência, eles estão querendo te dar uma lição ali que você vai
superar lá dentro. Por isso eles passam dinâmica, já é pra te
conscientizar, você vai esperar, tipo...
Sujeito (Mulher) – O que você vai ter lá dentro.
Sujeito (Homem) – A professora na escola falou esse negócio de dinâmica aí, tipo, se a
pessoa for muito tímida no grupo, a pessoa tá eliminada, não falar
nada, se não participar da dinâmica, a professora falou que...
Entrevistadora – Não necessariamente vocês vão encontrar isso no caminho, pode ser
que vocês encontrem, pode ser que não.
Sujeito (Homem) – Eu tenho medo de trabalhar algo assim simples, o subordinado chegar
em mim e falar “faça isso” e eu não saber fazer, não dá conta do
recado.
Sujeito (Homem) – Eu no caso já trabalhei num motor de um caminhão novo. O meu
patrão falou assim pra mim: “arruma os bico desse caminhão e coloca
a bomba injetora”, eu nunca tinha colocado uma bomba injetora e ele
saiu pro almoço, só que naquele dia eu tinha tido aula vaga na escola
e eu entrei 11h no serviço.
Entrevistadora – Bom, pessoal. Agora a gente vai iniciar a atividade. Eu vou pedir pra
quem gostaria de iniciar explicando... mostrar a figura pro grupo e
explicar o porque que vocês escolheram isso, que sentimentos que te
representam essas figuras. Quem gostaria de iniciar?
Sujeito (Mulher) – Eu começo. Eu escolhi essa figura porque através dela diz... eu quis
passa um pouco o espaço do jovem em relação ao mercado de
trabalho. Eu acho que nós ainda não temos um espaço grande, maior.
Hoje o espaço do jovem no mercado de trabalho ainda é muito
pequeno. Aí podemos ganhar o mercado de trabalho mais pra frente. É
isso.
Entrevistadora – Obrigada.
Sujeito (Mulher) – O meu, fala aqui que o mercado de trabalho hoje é uma competição,
que nem um jogo de futebol, e aqui tipo quando você vai fazer uma
entrevista o cargo já ta pré-definido. Tem que ser branca, loira e quase
a morena não tem espaço no mercado, o negro.
Entrevistadora – Obrigada.
Sujeito (Homem) – Essa questão de morena tem a ver também com o mulato. Mulato
antigamente, os portugueses chamavam os negros de mulato porque
era uma coisa a ver com mula. Então quando você fala moreno,
mulato, você ta querendo xingar a pessoa, então você fala negro.
Entrevistadora – Mostra a figura sua pros seus colegas. Alguém tem alguma dúvida?
Obrigada J.
Sujeito (Homem) – Aqui fazendo a apresentação, pode às vezes ter pobres trabalhando
nessa empresa, mas pra fazer chegar a apresentação na mídia eles não
dão prioridade, ou seja, só os empresários. Pode ter gente pobre lá
com desempenho bom, mas eles não dão aquela prioridade e a outra
imagem aqui em cima ela divulga uma menina bonita, né? Mas é tanto
também pelos negros que aqui não tem nenhum. Porque a mídia ta
fazendo propaganda pro dia das mães, porque não tem nenhum negro?
Aqui também não tem nenhum.
Entrevistadora – Obrigada, T.
Sujeito (Homem) – Aqui eu to mostrando foto de um jovem, um rapaz aqui trabalhando
numa empresa de automóveis e eu acho que o que também tem que ter
oportunidades pra jovens que depois que termina o ensino médio quer
procurar o seu primeiro emprego e não ta tendo oportunidades de
empregos e muitos jovens às vezes até desistem, vai querer procurar
outro caminho pra arrumar dinheiro, meio de retorno pra sustentar a
família e acaba prejudicando a própria vida dele, vai pro mundo do
crime e não ta tendo muita oportunidade pros jovens.
Entrevistadora – Você colocou duas figuras, né? Mostra pros seus amigos. E esse moço,
o que é?
Sujeito (Homem) – Ah, isso aqui eu acho que ele ta preocupado também com o que ele
deve se apresentar na política. Os políticos se preocupa muito com as
coisas e acaba deixando o pessoal de lado, deixando eles sem
emprego. E é isso só.
Entrevistadora – Entendi. E você acha que tem ligação isso com o mercado de trabalho,
que é tão difícil quanto.
Sujeito (Homem) – Isso.
Entrevistadora – Tudo que ele enfrentou a pessoa vai ter que enfrentar no mercado de
trabalho também. Obrigada.
Sujeito (Homem) – Vou falar sobre o meu, o que me chamou atenção primeiro foi o
desenho, eu gosto muito de desenho, e aqui a gente vê um rapaz, como
vocês vêem ele ta saindo de viagem, ta com umas malas na mão, você
vê que ele ta com um pouco de dificuldade e o que eu penso disso é que
no mercado de trabalho a gente vai encontrar muita dificuldade, vai
carregar “malas” pesadas que seriam os problemas, dificuldades e
que independentemente do seu trabalho, sendo formal ou informal, vai
chegar a hora, talvez, que você vai ter que sair, viajar, enfrentar o
problema e vencer.
Entrevistadora – Obrigada M.
Sujeito (Homem) – Essa daqui é a minha, eu penso assim nessa área de trabalho, que as
pessoas negras, que eu acho que as pessoas negras não fariam essa
peça de teatro aqui. E pra não chegar a fazer uma peça de teatro, lá
em cima, essas coisas assim, você tem que lutar muito, superar várias
barreiras pra chegar aqui. E é isso que eu penso.
Entrevistadora – Entendi.
Sujeito (Homem) – Porque não é aberto pra população pobre, né? Precisa demonstrar a
qualidade dela pra pessoas que não podem pagar o alto custo de um
ingresso igual desse daí. [inaudível] Porque não ser feita num Teatro
Municipal que nem o do CEU e não lá no centro?
Sujeito (Homem) – Teve um... no Programa do Pânico, o Clodovil tava fazendo uma peça
de teatro lá, aí nisso eles estavam brincando, aí ele pegou um ingresso
e deu pra um mendigo lá, aí o mendigo ia entrar, deu o ingresso e os
caras não deixaram ele entrar, barraram ele. Só porque ele tava
vestido mal.
Entrevistadora – Ta ok.
Sujeito (Homem) – Essa figura aqui é de um moço que veio da Bahia e fez só a 8ª série e
ele veio pra São Paulo porque queria arrumar uma profissão boa, mas
só que pelo estudo dele que ele não completou e pela cor dele também,
aí ele resolveu fazer pão, ser padeiro.
Entrevistadora – Mas pela figura ele ta se tornando um vitorioso, né? Ele conseguiu
realizar ou não é isso?
Sujeito (Homem) – Ele conseguiu. Ser padeiro.
Entrevistadora – E isso facilita o mercado de trabalho pra vocês? Como vocês vêem
isso?
Sujeito (Mulher) – Tendo essa chance, tendo essa porcentagem na Etti se facilita? Ah, eu
acho que não facilita porque a pessoa vai ter que fazer a prova do
mesmo jeito. Eu acho que só incentiva mais pessoas negras a tarem
fazendo a prova porque sabe que já vai ter, digamos, um porcentagem
garantida, mas por outro lado é uma discriminação.
Sujeito (Homem) – Se ele passar vai sofrer com o pessoal lá dentro, todo mundo vai falar
que você passou mas que você tinha uma porcentagem, ou você tem
sorte. Vai ter sempre uma pressão em cima dele.
Sujeito (Mulher) – Ele vai ter que ouvir que só passou por causa daquilo, que você teve
aquilo, porque senão...
Sujeito (Homem) – E parece que no ano passado lá tinha um menino que ele era loiro,
alemão, e colocou lá no negócio que ele era descendente pra ganhar o
% da prova lá. Maior injustiça isso daí.
(Risos)
Entrevistadora – O que mais que vocês viram de interessante que a gente discutiu sobre
as figuras no mercado de trabalho.
Sujeito (Homem) – Eu acho que a pessoa negra não tem tanta, como que eu posso falar,
tanta oportunidade que nem as pessoas brancas porque a gente assiste
a novela, vários programas de televisão e eu tava olhando a revista,
poxa, essa revista aqui não tem quase uma pessoa negra. Olha aí, todo
branco.
Entrevistadora – E vocês como jovens, você acham que vocês têm bastante
oportunidade? Como que é isso pra vocês?
Sujeito (Homem) – Eu acho que a gente ta tendo sim como assim com cursos, entendeu?
Assim, cursos a gente ta tendo, agora pra serviço ta complicado.
Sujeito (Homem) – A escola estadual não ta tendo um ensino bom. Pra quem tem
possibilidade de fazer uma escola melhor assim, seja privada,
particular.
Sujeito (Homem) – Muitas das vezes eles jogam na sua cara, tipo assim, se você precisar
de alguma coisa, que você corre atrás, porque tem uns professores que
chegam na sala, vê que ele não ta conseguindo dar aula aí pega, senta
lá: “faz o que vocês quiserem da aula aí’, aí ele marca uma prova você
ta em cima, aí ele pega e vai jogar na sua cara: “aquele dia eu quis
explicar a matéria e ninguém prestou atenção”, mas se eu for ver do
outro lado, nem todos tavam bagunçando, pelo menos eu acho que ele
tem que ter o bom senso e ver ali e analisar certo e depois dar a
explicação.
Sujeito (Homem) – E também hoje eu reparei num homem no Tatuapé, lá no Tatuapé tem
uns playboy, umas patricinhas assim, acho que um moleque que era de
São Matheus foi lá, tipo não foi bem vestido assim, teve uns playboy lá
que ficou olhando pro moleque. Fiquei com o maior ódio, maior raiva.
Maior preconceito.
Entrevistadora – Vocês acharam mais alguma cosia interessante? Por Exemplo “ah me
identifiquei com o que meu colega X falou”. Porque cada um falou de
um sentimento, né? Vocês se identificaram com algum sentimento do
colega de vocês, vocês gostariam de colocar mais algum sentimentos?
Sujeito (Mulher) – Eu achei que a maioria, ah não sei, eu acho que se identificou assim
porque o negro ele ta no mercado de trabalho só que ele nunca ta em
um cargo assim mais alto, melhor que ganhe mais, ele sempre ta em
cargo que ganha salário mínimo. É como se ele não pudesse crescer,
entendeu? É dificilmente que a gente vê um negro em algum cargo alto
de gerência comandando alguma coisa, dificilmente. Eu acho que foi
assim que a maioria das figuras demonstrou.
Sujeito (Homem) – A gente não pode deixar essa questão assim... deixar envolver a nossa
cabeça só porque tem essas questões que a gente comenta que a gente
não vai conseguir, né? Só porque tem essa dificuldade ou tem aquela,
não vai desistir, vamos tentar dá o máximo, tentando porque pelo
menos aqui em São Paulo, eu acho, cada um pode ganhar seu dinheiro
sem fazer coisa errada, né? Cada um pode tentar fazer outra coisa,
vender, sei lá, sem entrar na vida do crime, sem usar drogas, esses
negócios errados. Tem como se virar aqui em São Paulo, pelo menos
eu acho que eu tenho, apesar de São Paulo ser lugar que tem bastante
periferia, mas é um estado altamente industrializado.
Sujeito (Mulher) – Que já vê a questão do empreendedorismo, né? Se você tiver
empreendedorismo eu acho que você vence na vida.
Entrevistadora - E o que vocês acham?
Sujeito (Homem) – E quem não teve oportunidade? Por que não teve oportunidade? Por
que ele não vai ser um bom empresário? Até quando a gente vai ser
passivo? Quem não tem oportunidade vai ficar de braço cruzado? Só
quem tem estudo que é o cara?
Sujeito (Mulher) – Que nem tem a história de um homem que ele tava sem nada pra comer
e ele foi num bar e eu acho que deu cinco reais pra ele que a mulher
dele tava doente, pra ele comprar remédio pra mulher dele. Só que daí
não. Ele viu um saquinho de bala e comprou e vendeu. E nisso ele viu
que deu dez reais, que foi multiplicando. Aí ele comprou mais dois e foi
vendendo e hoje ele é o primeiro lugar no negócio de bala, maior
produtor no país é ele. O cara teve empreendedorismo pra caramba.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que ele aprendeu com as dificuldades que ele teve. Ele sabe
que pela dificuldade que ele passou ele tinha noção, então pra não
ocorrer o que já tava acontecendo no futuro, ele preferiu investir e é
uma boa, mesmo que ele não tivesse estudo, mas ele teve a noção que é
a situação que ele tava, soube melhorar.
Sujeito (Homem) – Que nem o M. falou, tipo assim, você tem um sonho e você não vai
conseguir, mas é só por causa dessa resistência que teve que você não
vai... nada vai te impedir de você conseguir realizar outra coisa. se
você tiver vontade você pode fazer várias coisas mais ainda que você
tinha desejado, sendo sei lá... tendo coragem, vontade e sempre com
aquele pensamento que “eu vou vencer e nada vai me parar”.
Sujeito (Homem) – Tem muita gente também que acha que não tem capacidade pra passar
numa prova, prestar algum vestibular e passar, tem medo de passar...
aí nem vai, deixa as oportunidades passar e fica ali esperando a vida,
vai pensando que o emprego vai bater na porta dele e acaba se
prejudicando, tendo mais problema. Igual o colega hoje ele tava
falando que tava quase deprimido, a mãe dele falava pra ele “vai
trabalhar, vai trabalhar” aí ele tava com a maior raiva, já queria... era
perigoso até ele sei lá... aí ele falou pra mim que tinha que arrumar um
emprego de todo jeito porque não tava dando. Então hoje tá difícil
também pra quem não corre atrás.
Sujeito (Mulher) – Se já tá difícil pra quem corre atrás, pra quem não corre...
Entrevistadora – Quais são as dificuldades que vocês acham que vocês vão encontrar?
Sujeito (Mulher) – Eu acho que experiência. Sempre estão pedindo experiência. Então eu
acho que essa é a dificuldade que o jovem já tá encontrando. Como
que a gente vai entrar no mercado de trabalho, como que a gente vai
entrar no mercado de trabalho, ter o nosso primeiro emprego sendo
que eles exigem experiência. Se a gente nunca trabalhou como que a
gente vai ter experiência?
Sujeito (Homem) – Eles contam experiência como estudo. Sei lá os outros países
industrializados, um bom exemplo mesmo é a Holanda: é o melhor país
do mundo. Os alunos vão procurar emprego o máximo de perguntas
que eles fazem era de quanto você estudou ali na escola. O exemplo é
bem, sei lá... três milhões de vezes mais puxado que os países da
América Latina. Lá o estudo pra eles é uma primeira coisa da vida.
Sujeito (Homem) – Na França também, com 24 anos eles são considerados jovens, só com
24 anos que ele vão procurar emprego, até os 24 anos é só estudar,
faculdade, cursos esses negócios.
Sujeito (Homem) – Porque as crianças começam a trabalhar com 7, 6 anos numa lavoura
de cana e o que pode esperar do futuro delas?
Sujeito (Mulher) – Eu acho que esse exemplo que eles deram muito bom, porque primeiro
a gente tem informação pra depois conseguir um trabalho, uma coisa
assim. Então através da informação a gente vai conseguir o dinheiro, e
aqui é ao contrário, primeiro as pessoas precisam do dinheiro pra se
manter, mas se tivesse as informações poderia... não pela sua
capacidade, mas pelas informações que ela teve de estudo, de tudo ela
seria mais qualificada pro mercado de trabalho, não precisaria desde
pequena ir atrás de dinheiro de algum serviço. Então eu acho que a
informação vem em primeiro lugar só que no nosso país não é assim.
Sujeito (Homem) – E como eles estão pedindo com experiência, ele estão pagando pouco,
se tão pagando pouco pra quem tem experiência, e pra quem não tem
experiência, pra quem não estudou.
Sujeito (Mulher) – Eles nem contrata.
Entrevistadora – Mas algum medo, mais alguma dificuldade que vocês acham que vão
encontrar?
Sujeito (Homem) – O maior de todos eu acho que,na mina visão, é o estudo. Porque que
nem ela falou ali: se você quiser alguma coisa você primeiramente
você vai ter que ter conhecimento, informação, que só assim você não
vai ter tanta dificuldade. Eu acho que hoje o que mais exige no
mercado de trabalho é o estudo.
Entrevistadora – Vocês acham que vocês vão encontrar mais alguma outra dificuldade?
Sujeito (Mulher) – Preconceito: raça, cor. Ser pobre, zona leste.
Sujeito (Mulher) – Em relação ao que ele falou. Antes os governos, pessoas que estavam
na mesa achavam que “não vamos dar todas as informações que eles
precisam na escola porque eles só vão viver no mundinho deles, não
vão querer crescer, não vão querer ser ambiciosas”, e hoje a
população tá mudando, tá indo atrás de estudo, tá indo atrás de
informação e com isso eles tão vendo que acabou eles quererem
dominar assim as pessoas porque hoje as pessoas tem a capacidade de
ir atrás de alguma coisa, sabe o que ela quer. Então se ela quer. Então
se ela quer trabalhar ela vai atrás desse emprego, por mais que seja
difícil ela vai entrar, até ela conseguir alguma coisa.
Sujeito (Homem) – A maior dificuldade é com a qualificação profissional porque o
desemprego aumentou com os jovens procurando serviço, aí sem a
qualificação profissional fica difícil, né? Tamos aqui fazendo o curso
profissionalizante temos que buscar sempre mais, não ficar assim,
sempre ali.
Sujeito (Homem) – O exemplo disso são os pessoais do nordeste que vem pra São Paulo
em busca de uma vida melhor: “ah, vou pra lá vou conseguir tal
coisa”, mas ela só vai ver a realidade mesmo quando ela chega aqui.
Ela vai procurar emprego pede estudo, ela não tem, vai procurar
outro, pede curso, ela não tem, faculdade essas coisas, daí chega a
hora do governo tomar consciência, sei lá... dar mais oportunidade
assim de cursos que o CPA promove. Porque você não vai sair daqui
pronto, mas vai saber das barreiras que você vai enfrentar lá fora.
Entrevistadora – Como que vocês se sentem com essa realidade? Como jovens? Como
vocês olham essa realidade, como que vocês sentem... assim... nesse
meio?
Sujeito (Mulher) – Eu acho muito ruim, porque o jovem hoje tá em busca de algo melhor
pra si mesmo. Então ele vai atrás disso e não consegue, então por mais
que ele persista, isso uma hora vai desanimar ele: “tô lutando tanto e
não consigo isso, por que?”, mesmo que ele tem alguns cursos, sempre
vai ter alguém na frente dele que vai ter alguma coisa a mais que ele,
entoa ele sempre vai ter que tá correndo atrás de uma pessoa, sempre
ter os cursos que essa pessoa tem, aqueles cursos qualificantes que a
outra pessoa também tem, pra ele alcançar algum lugar no mercado de
trabalho.
Sujeito (Mulher) – E também vai ter aquelas pessoas que vão querer puxar também você
pra baixo. Própria família: “ah pára, você não vai conseguir”, que
nem eu falo pra minha mãe que eu quero fazer faculdade de
veterinária, às vezes nem ela mesmo acredita que eu vou conseguir.
Sujeito (Homem) – Também eu acho que a área de trabalho tá sendo muito guiado pela
tecnologia, mas pra fazer carro não era tudo aqueles robôs lá pra
fazer, agora não tem todas essas máquina que fazem mais rápido, mais
carro que antigamente.
Sujeito (Homem) – Exemplo do cobrador que esse negócio da máquina do bilhete, eles
queriam tirar os cobradores, não precisava mais, aí lutaram até
conseguir o emprego de volta.
Sujeito (Homem) – Eu acho que aí vai ter mais vaga pro desemprego, mais gente
desempregada.
Sujeito (Homem) – O que eles visam é apenas o lucro, né? As vantagens.
Sujeito (Homem) – Eu acho que em todos os setores, né? Os trabalhador tem de fazer isso,
tem de lutar pelo seu espaço. Assim, a máquina pode até ajudar, mas aí
tem a coisa de...
Sujeito (Homem) – Além da máquina tirar trabalho de dez pessoas, eles ainda procuram
disponibilizar menos trabalho pro pessoal, por exemplo, teve uma
firma que as máquina eram viradas pra lá e pra lá, 2 lados, 2 lados,
eles viraram pra frente, mandaram 2 embora, então com esse
procedimento fica difícil pra nós serviço, sem ainda com a qualificação
profissional ou estudo, porque pra quem pega lixo na rua tem que ter
estudo, e pra quem trabalha de faxineiro no aeroporto ou na estação
de trem, de metrô, tem que ter o estudo e curso de inglês, aí muitos
jovens ainda não procura isso, então dificulta.
Sujeito (Homem) – Essa também é outra realidade que a gente vive lá fora, pra ir atrás do
primeiro emprego sem sinal algum. Procurar emprego a realidade é
outra. Tipo dá um medo de chegar assim e chegar assim pro gerente,
pro encarregado e falar que quer o emprego. Tipo a mente parece que
pára, fica com medo de falar alguma coisa de te barrar assim na frente
de algum técnico, e às vezes também a gente acaba não tendo força pra
chegar em qualquer empresa, uma empresa grande, uma fábrica, pra
chegar assim e falar pro gerente com medo dele tipo pedir alguma
experiência pra você e você não tiver, às vezes vem esse medo na
gente.
Sujeito (Homem) – Tipo, na minha opinião, os jovens que voa procurar emprego não tem
que temer a nada, tema que ta com a auto estima lá em cima. Falar
que vai conseguir e conseguir. Não ficar com medo.
Sujeito (Mulher) – Mas tem gente, né?
Sujeito (Homem) – Tem uns que não é assim.
Sujeito (Homem) – Quando você ganhar o seu emprego, tem gente que também perdeu.
Talvez tá precisando mais que você.
Sujeito (Mulher) – É.
Sujeito (Homem) – É aquela coisa: todo mundo é individualista, cada um por si.
Sujeito (Homem) – É. Tem isso mesmo na área de trabalho, sim.
Sujeito (Homem) – Tem aqueles que vão puxar o saco do patrão, aqueles que vão querem
se esforçar mais que você ali, vai te derrubar, só pro outro vê que ele
tá trabalhando mais, nem sempre é assim, acho que você tem a fazer a
sua parte e deixar ele com a dele lá e mostrar os eu serviço, por você
mesmo. Que nem ele falou: hoje tem individualismo. Você entra numa
firma você não pode confiar em ninguém, ás vezes você vai confiar
naquele dali e aquele dali lá na frente vai te derrubar.
Sujeito (Mulher) – No próprio meio assim acontece isso. Na própria escola, em qualquer
lugar tem essas pessoas que vai querer te derrubar.
Sujeito (Homem) – Meu pai trabalhava com uma empresa de ônibus tinha um colega dele
que tava sempre precisando de ajuda, meu pai falou pro cara na firma,
só que meu pai era empregado também que dirigia o ônibus, e o cara
nem tinha experiência com ônibus e meu pai como tinha muita amizade
com o rapaz, falou assim: “eu te ponho lá dentro”, aí meu pai chegou
no cara: “olha, tem um rapaz aí que ele é bom, motorista bom e tá
precisando de serviço”, aí o cara falou: “trás ele pra fazer um teste
aqui”, aí meu pai levou ele e ele falou assim “sai você na rua com ele
pra fazer o teste”, aí meu pai deu uma volta com ele e falou “o rapaz é
bom”, meu pai tinha muita amizade, meu pai levava as crianças dele
pra sair, brincar, amizade mesmo, aí só que meu pai saía com o
ônibus, ia na casa do meu tio, só que ele tirava o tacógrafo porque ele
sempre marca. Só que esse cara sempre ficava sabendo de tudo que
meu pai fazia porque era muito amigo do meu pai, chegou um dia o
dono da firma chamou meu pai “você tá saindo com o ônibus?” meu
pai “por que?”, “porque eu tava falando com essa pessoa e ela falou
pra mim que você fica passeando com o ônibus”, meu pai “eu não
acredito numa cosia dessa”, “é”, “sem problema nenhum me dá minha
contas”, “não, não é assim”, “não, não quero saber pode dar as
minhas contas” aí meu pai saiu da empresa, só que o cara também foi
pra rua. Acabou os dois perdendo o emprego. Meu pais saiu porque ele
quis, até o cara pediu “volta pra empresa”, e o meu pai “não, não
quero”.
Entrevistadora – Mas vocês acham que vocês vão ter mais dificuldade pra entrar no
mercado de trabalho ou pra tá lá dentro. Porque pelo que vocês estão
falando aqui, vocês falam muito das dificuldades de entrar no mercado
e outra metade da sala fala um pouco das dificuldades de permanecer
no mercado.
Sujeito (Homem) – Quando a gente tá dentro muitas pessoas vão querer jogar tudo na
nossa mão: “ah se vira”, você vai ter que ter um pavio longo, não um
pavio curto.
Sujeito (Homem) – Tem muita gente que é ruim e outras não, né? Um exemplo que ele deu
no primeiro serviço seu, não foi? O cara largou lá com ele, deixou o
negócio lá e falou: “se vira”, e quando ele chegou lá aí o cara tipo,
rebaixou ele.
Sujeito (Mulher) – Na minha visão, eu acho que vai ser mais difícil pra gente entrar no
mercado de trabalho, pra gente conseguirmos entrar, pra se manter eu
acho que vai ser difícil, mas você já vai ter aquela mente: “ah, eu lutei
tanto pra tá aqui então eu não vou sair”, por mais que estejam jogando
tudo nas suas costas, você sempre vai tentar encontrar um meio pra se
desviar e conseguir sempre o melhor.
Sujeito (Homem) – Se o cara for cabeça ele consegue relevar tudo e quando ele vê ele tá
numa boa. Quando ele vê já comprou roupa pra ele, comprou uma
moto pra ele, tá pagando prestação, entendeu? Ele tem que ir
agüentando, entendeu? Tem que tentar agüentar a pressão, tem muitos
que não agüentam, mas tem que fazer por onde agüentar.
Sujeito (Homem) – Se o cara precisa...
Sujeito (Homem) – Que nem meu pai tipo assim, trabalha no supermercado, teve uma vez
que o dono do mercado começou a entrar em dívida, então deu um
mês, não tinha nem aberto o mercado direito, o cara já queria fechar,
aí meu pai: “não, não vamo tem muito empregado que nem eu nessa
situação, tem que pagar conta”, aí foi indo, agüentou dois, três meses
aí o cara fechou e ele conseguiu pagar metade das contas dele, aí ele
voltou de novo e conseguiu se levantar, sei lá... sempre dentro dos
maiores problemas, naquele pedaço de espaço, ele pode ta a solução.
Sujeito (Mulher) – Acho que vai da necessidade da pessoa.
Entrevistadora – O que mais vocês acham que vão encontrar pela frente?
Sujeito (Homem) – Uma das barreiras que você encontra assim é com as famílias. Muitas
vezes os pais ficam falando que você tem que trabalhar, aí você vai e
não consegue aí vai passando um tempo e eles vão jogando cada vez
mais na sua cara, porque você tem que ajudar em alguma coisa, tem
que ajudar na despesa de casa, as coisas estão apertando aí muitas
vezes assim é que alguns jovens entram pro crime, esses negócios. Não
consegue aí volta, vai passando um tempo cada vez mais os seus pais
ficam jogando na sua cara que você não faz nada, nem curso você não
faz, não corre atrás de nada, até quando eles vão agüentando você.
Sujeito (Mulher) – Que nem meu pai fala: é nessa idade da vida que a gente tem que
pagar o dinheiro que eles gastaram com a gente.
Sujeito (Homem) – Muitos pais mandam criança pequena pedir dinheiro no farol.
Sujeito (Mulher) – Isso daí eu acho muito errado, eu pelo menos não dou dinheiro.
Sujeito (Homem) – Tem uma música de RAP, eu não lembro qual, que a mãe manda ele no
farol e aí ele chega em casa e não conseguiu o dinheiro no farol, aí a
mãe dele: “você tá mentindo” e começou a bater nele. Só que eu não
lembro o nome da música.
Sujeito (Homem) – Também a hora que você entra na empresa, vai lá e o cara manda você
fazer um teste, dá o maior medo na hora do teste. Você vai fazer lá a
entrevista, depois você vai fazer o teste. Se é a sua primeira semana de
teste, manda você lavar banheiro, limpar chão, fazer não sei outra
coisa aí. Você pode ver que muitas pessoas desiste no seu primeiro
mês, de tanta pressão que ela leva. Manda limpar chão, banheiro, tirar
o pó não sei da onde, daí...
Sujeito (Homem) – Eu acho que também é uma coisa que eu acho que é sorte, a pessoa
tipo arrumar. Tem gente que às vezes não tem muita experiência e
acaba indo com força de vontade mesmo, e acaba achando dei lá...
acho que o patrão vê a força de vontade que ele tem e já coloca ele lá,
vê que ele tem uma atitude. Muitas vezes é sorte mesmo. Nem precisa
ter experiência.
Sujeito (Homem) – Meu primo começou trabalhando na fábrica de junta, fabriquinha,
sabe? Fazendo junta só que o patrão dele viu que ele tinha um
desempenho bom, o que ele fez? Começou a bancar uns cursos pra ele,
hoje meu primo tem uma salinha reservada pra ele, ele só fica
desenhando no computador e depois manda os caras fazer.
Sujeito (Mulher) – O que é junta?
Sujeito (Homem) – Junta? Por exemplo, um carro, o fechamento do motor vai. Aí piorou a
situação né?
Sujeito (Mulher) – Hãhã.
(Risos)
Sujeito (Homem) – Vocês não devem saber o que é junta não, né?
Sujeito (Mulher) – É uma coisa de carro, né?
Sujeito (Homem) – É.
Sujeito (Mulher) – Então tá bom. Eu vou acreditar.
(Risos)
Sujeito (Homem) – É tipo uma folha assim.
Sujeito (Homem) – É o vedador.
Sujeito (Homem) – É. Passa cola lá e vai...
Sujeito (Homem) – Tipo uma borracha que veda, entendeu? É que é complicado... e é tão
simples.
Entrevistadora – O que mais vocês gostariam de falar sobre esses sentimentos que vocês
têm em relação à atividade? Vocês acham que ficou faltando alguma
coisa? alguma dificuldade que vocês acham que vão enfrentar alguma
possibilidade?
Sujeito (Homem) – Por exemplo, se você quiser abrir um negócio, eu acho que você vai ter
uma dificuldade pra abrir esse negócio. Que nem meu primo teve
dificuldade pra abrir uma lan house. Ele teve que pedir autorização
pra abrir lá em Brasília, uma cosia assim, ele teve muita dificuldade.
Sujeito (Mulher) – Mas hoje em dia você tem vários cursos pela internet mesmo. Você faz
um curso sobre empreendedorismo, a SEBRAE também fornece cursos
gratuitos pra fazer sobre empreendedorismo.
Sujeito (Homem) – Mas nem todos tem essa oportunidade, né?
Sujeito (Mulher) – Em relação ao que ele falou, eu acho que é difícil de abrir, mas eu
acho que pra você abrir uma coisa comercial é difícil você manter ela,
porque só se antes você fazer uma pesquisa de relação à que público
vai indo lá naquele lugar que você abriu. Se você não tivesse esse
conhecimento, eu acho que o mais difícil vai ser manter o comércio,
porque você vai ter gastado pra tá abrindo ele e não vai ter como
manter, trazer os lucros de volta que você gastou.
Sujeito (Homem) – Que nem no caso do meu primo ele tá ganhando bem, porque lan house
lota lá. Às vezes o pessoal faz corujão, fica a noite toda e paga dez
reais. E é bastante gente que vai.
Sujeito (Homem) – Às vezes a amizade leva a pessoa a se empenhar dentro de uma
empresa. Tem um colega seu que trabalha, ou irmão. Acaba criando
uma amizade com ele, com o gerente também, por isso que as pessoas
arruma emprego.
Sujeito (Homem) – Na hora da entrevista você também tem que tá meio solto assim. Tipo
não ficar muito nervoso, senão... tá solto.
Sujeito (Homem) – Não pode demonstrar muito nervoso, não tem que tá tão tenso. Tem
que tá mais solto.
Sujeito (Mulher) – eu acho que em relação a entrevista você tem que tá pronto pra tudo.
Antes a gente sempre ouve: “você tem que ficar assim, tem que fazer
isso”, mas depende da empresa, depende. Isso que eles falaram que
você tem que tá mais solto, mas acho que vai depender da empresa, se
for um lugar que você tem que vender que você tem que falar, acho que
você tem que tá mais solto mas se for outra área que você tem que ficar
quieto, tem que ficar mais na sua, você não pode demonstrar ser assim
muito comunicativo, vai da área que você vai trabalhar, vai da
empresa.
Entrevistadora – O que vocês acham dessa disputa que tem no mercado de trabalho?
Sujeito (Homem) – Esses argumentos tem que tá em troca, sempre tá atiço, né? Se não
ninguém... se ficar só olhando o próximo, vendo que ele tem um
diálogo bom, então essa pessoa sempre vai sempre ficar pra trás.
Sujeito (Mulher) – Mas tem umas pessoas também que tem medo de falar errado, tem
medo de... que nem no ano passado que eu fazia garagem, eu tinha o
maior medo de falar, eu sabia a resposta mas eu tinha medo de falar,
aí as outras pessoas... não eu sabia tudo mas as outras pessoas
falavam aí o professor falava:”não, tá certo”, aí eu ficava com a maior
cara assim...
Sujeito (Homem) – Também a professora deu um exemplo de dinâmica de grupo, se essa
pessoa numa dinâmica de grupo for muito quieta assim, não contribuir,
tá quase fora.
Sujeito (Homem) – Mas isso não quer dizer que ela não precise, né? Essa questão, eu
acho, de disputa, acho que é ruim.
Sujeito (Homem) – Pesa...
Sujeito (Homem) – Todo mundo que tá no Aprendiz precisa, quem faz curso aqui é porque
precisa. Então você se sente mal, né? Ele conseguiu e eu não consegui,
eu sou um nada, aquele cara é o melhor e eu sou o pior. Então eu acho
que é uma coisa ruim porque você sempre vai ficando mais pra baixo.
Aí você consegue uma vitória aí vem uma derrota maior ainda que a
sua vitória. Então eu acho que é ruim.
Sujeito (Mulher) – Você acaba virando rival da outra pessoa que consegue assim. Tem
umas pessoas que cria uma rivalidade, um quer ser mais que o outro.
Sujeito (Homem) – Desde o primeiro dia a gente é muito amigo, mas sempre vai ter outro
que nunca vai querer levar você pela amizade, por exemplo, ele tá
quase que com o emprego arrumado, tá quase que com a vaga
garantida, você acha que vão querer ter a amizade dele ou vão querer
tá passando ele? Muitos vão querer ficar pisoteando, criar amizades
falsas, esse negócio.
Sujeito (Mulher) – Esse negócio de disputa sempre vai ter no mercado de trabalho,
sempre vai ter uma concorrência, você tem que tá preparado pra você
ou ganhar ou perder e se você perder você saber como superar.
Sujeito (Homem) – Mas é difícil superar.
Sujeito (Mulher) – É difícil, mas a gente tem essa visão. Eu acho que na visão de todo
mundo sabe que vai ter concorrência no mercado de trabalho.
Sujeito (Homem) – Até quando a gente vai ficar esperando essa concorrência?
Sujeito (Mulher) – Até quando a gente agir. Se a gente ficar esperando nada vai
acontecer.
Sujeito (Homem) – Que o mundo não se adapta em nós, nós é que se adapta com ele,
ninguém vai se adaptar ao mundo, a gente quer que ele se adapte a
nós.
Sujeito (Mulher) – É. Como você faz essa diferença?
Sujeito (Homem) – Eu procuro por onde, mas não quero passar por cima de ninguém.
Sujeito (Mulher) – Mas eu acho que todo mundo pensa assim: “eu não quero passar por
cima de ninguém”, mas uma vez ou outra acaba acontecendo, por mais
que a gente não queira. Eu acho, pelo menos hoje, nos dias de hoje eu
acho que isso acontece muito.
Sujeito (Homem) – Porque eles mesmo colocam nós nessa situação.
Sujeito (Homem) – Se todo mundo pensar numa coisa só, a gente consegue, porque nós
somos maiores do que ele.
Sujeito (Mulher) – Eu também acho, só que você pensa desse jeito, eu também já pensei,
eu também penso desse jeito, só que nunca acontece isso. Um exemplo
que eu tenho eu acho que é da passeata que a gente ia fazer
reivindicando 1% pra 5%, os outros grupo não foram, só foi o pessoal
que é C., alguma coisa ligada ao C., as outras pessoas não foram por
que? Porque eles têm o seu garantido, a gente não tem a gente foi
atrás, mas a gente foi minoria. A gente não conseguiu o que a gente...
até agora a agente não conseguiu o que a gente foi procurar, mas a
gente lutou.
Sujeito (Mulher) – É.
Sujeito (Homem) – Quando nós temos um direito, nós temos que lutar, fazer mil deveres
pra ganhar um direito.
Sujeito (Homem) – Pra gente lutar pelos nossos direitos, nós temos que fazer os nossos
deveres.
Sujeito (Homem) – Mas é poucos que pensam assim, não tem muitos.
Sujeito (Homem) - Até quando a gente vai ficar esperando só um pensar por todos? Todos
que temos que pensar em uma coisa só.
Sujeito (Homem) – Então, é por isso mesmo, nem todos pensam assim.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que é difícil. Eu penso de um jeito e eu vou fazer ele pensar
isso. Vai ser trocas de opiniões que a gente vai entrar em acordo. Eu
acho muito difícil que a pessoa que tá do seu lado tá pensando igual a
você. Dependendo da troca de opiniões ai vocês vão entrar em acordo,
não vai ser o que você quer e não vai ser o que eu quero. A gente vai
conversar...
Sujeito (Homem) – A gente vai chegar em uma consciência.
Sujeito (Mulher) – Então, nunca vai ser o que a gente quer.
Sujeito (Homem) – Um líder disso daí... não fazer todos pensar iguais, mas chegar a todos
os direitos... não sei... não quero entrar em política, foi o Lula. Ele
juntou todos os trabalhadores, mostrou tudo ali o direito deles, o que
eles tinham que melhorar e hoje se você for ver isso daí só vai
acontecer de novo só o dia de São Nunca, porque que nem ela falou
ali: de 100 apenas 1 pensa no certo, 99 não quer nem saber deles ali,
tão garantido. Um bom exemplo disso daí é que nem era antigamente a
burguesia, antes eram os pobres que lutavam e eles estavam lá em
cima, só vendo a desgraça alheia.
Sujeito (Homem) – Mas até hoje é assim, a burguesia que comanda e a gente que sofre.
Sujeito (Homem) – Mas daí pra ter um cabeça, não pra sei lá... estimular os outros, mas
pra abrir os olhos vai ser muito difícil. No mundo que a gente vive
hoje, vai ser no dia de São Nunca.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que hoje, não sei quem falou, hoje todo mundo fala muito
individualista, se eu tenho vou me preocupar em manter o que eu
tenho. As pessoas não tão pensando em “vou dividir com ele, vou
ajudar ele”, poucas pessoas pensam dessa maneira.
Entrevistadora – O que vocês acham, vocês que estão nesse grupo, acham sobre isso?
Sujeito (Mulher) – Eu acho que se nós nos uníssemos, mas não só nós aqui, entendeu? E
nós conseguirmos entrar em bom senso com as outras pessoas e
lutássemos por esse direito, nós íamos conseguir, só que nós, não
somos minoria, mas seria muito difícil a gente conseguir entrar em
uma conclusão com outro jovem porque assim, eu acho que é o que ele
falou, o que eu falei, aqui ele tem aquilo garantido e eu não tenho,
então ele não vai tá nem aí, eu que me vire pra conseguir o que eu
quero.
Sujeito (Homem) – Você acha que os jovens tão aí mais pra alguma cosia? Alguns só quer
saber de balada, vida boa, aproveitar a vida, se divertir, e nós aqui,
porque a gente tá aqui discutindo agora alguns estão em danceteria,
em frente ao computador.
Sujeito (Mulher) – Você acha que aquele que tá conversando lá vai querer ficar no nosso
lugar discutindo isso? Não vai tá nem aí, a gente não a gente tá
correndo atrás.
Sujeito (Homem) – E muitos dessas pessoas ainda choram pensando que eles não tem
nada. Mas é que eles não tão no nosso lugar.
Sujeito (Homem) - Que nem minha prima, minha prima tem uma vida boa do caramba,
acho que a vida dela ali é o computador, ela acorda 10h ela limpa a
casa, ela fica até altas da madrugada só no computador, não ajuda
minha tia em nada. Ai o tênis dela rasga ela: “ah, não quero mais esse
tênis, vou jogar fora”, e ela exige pra minha tia: “eu quero outro tênis,
quero outro”, se a minha tia não dá acaba tendo discussão e já foi
várias vezes ela sair de casa, tipo assim, ela saiu se arrepende e volta,
porque aí ela vê o bom que é a vida lá fora. E ela aprende a dar valor.
Sujeito (Mulher) – Aquele que tem tudo, lá fora qualquer coisinha já faz um auê e não dá
valor ao que tem e a gente que não tem tá tentando conquistar isso,
então qualquer coisa que a gente conseguir já vai ser algo mais. Já
vais ser uma vitória.
Sujeito (Homem) – Que nem o tio do meu primo, ele é capitão de bombeiro, ele falou que
ele era pobre, se ele era pobre e tem uma casona, se ele é pobre
imagina as pessoas que moram na periferia como tá vivendo.
Sujeito (Homem) – Meu primo não deu valor, foi pro Pernambuco e ele tem a mesma vida
que tinha aqui em São Paulo. A mãe dele dava de tudo pra ele, ele fez
curso de informática, tava fazendo outro, aí ele não foi pro outro
curso, e o outro a mãe dele ficou pagando e ele não tava indo. Então
ela pagou o curso todo e ele nem foi. É que o pessoal é muito
acomodado, não pensa mesmo em alguma coisa.
Sujeito (Mulher) – Essa pessoa teve oportunidade, era de uma situação boa, teve
oportunidade e não aproveitou, hoje aquis e a gente tem oportunidade
todo mundo vai atrás, agora tinha uma situação melhorzinha, tinha
oportunidade e não foi.
Sujeito (Homem) – Quem tem oportunidade às vezes não aproveita, e quem tem tá
tentando buscar e eles não dão prioridade nós.
Sujeito (Homem) – É que nem numa faculdade, vocês mesmo podem dar o exemplo,
quantos que tão lá dentro nem liga pra o que tá fazendo ali, enquanto
os outros tão lá na porta batendo todo dia ali, será que tem vaga pra
eu estudar, enquanto os outros não querem nem saber. Meu tio mesmo
ele dá exemplo, ele faz faculdade. Ele fala que tem cara na sala dele
que não tá nem aí com a vida. O cara chega, deita dorme, acorda só no
final da aula e ele fala que sempre tem gente na porta pedindo vaga e
não tem. Que nem na escola, os cara vai, faz merda nenhuma o ano
inteiro, passa enquanto o outro tá tentando entrar não consegue e no
futuro o que tá ali lutando sem fazer nada e o outro a mesma coisa, só
impediu o outro de crescer.
Entrevistadora – Bom pessoal, então vocês pegaram esse papel, então pra gente
relembrar, nós estamos falando dos sentimentos em relação ao mercado
de trabalho. Então vocês pegaram esse papel, vocês já sabem o que?
Vocês não sabem de quem é esse sentimento, concorda? Só que vocês
vão falar, por exemplo, o que você diria pra essa pessoa que tem esse
sentimento. O que você diria? Você concorda com ela, você não
concorda, você ia dar um conselho, ta? Peço que vocês pensem no
colega de vocês como se fosse vocês, com o respeito que vocês tem por
vocês, enfim... por todas as outras pessoas, lembrando o que? Que é um
sentimento do colega de vocês que vai ouvir agora. Entendeu? Caso
alguém tenha pegado seu próprio papel faz de conta que é do amigo.
Quem gostaria de iniciar?
Sujeito (Homem) – Com relação à lutar,eu penso que é uma boa atitude que tem que fazer
no mercado de trabalho, então é um sentimento que a pessoa ta ...
Entrevistadora – Vamos sentar? Vamos fechar a roda?
Sujeito (Homem) – Como eu tava falando, essa palavrinha “lutar” a pessoa ta agindo com
a auto estima e agindo como cidadão, não deixando se perder.
Entrevistadora – Mas se vocês não tem timidez aqui, porque vocês teriam numa
entrevista?
Sujeito (Mulher) – Eu não acho assim... na em termos de timidez, como você vai
apresentar pra outra pessoa, nosso vocabulário, digamos, é de um jeito
e da outra pessoa é de outra forma, entendeu? Então acho que teria
timidez dessa parte, de como você se expressar com ela, qual é a
melhor maneira de você fala, entendeu? Eu acho que é mais nessa
parte.
Sujeito (Homem) – Às vezes você fala alguma coisa e você tem outra palavra que podia
expressar...
Sujeito (Mulher) – Não é muito timidez, é medo de errar.
Entrevistadora – Aqui dentro desse grupo vocês têm timidez no diálogo, tem timidez
entre vocês?
Sujeito (Mulher) – Eu não.
Sujeito (Homem) – Todo mundo...
Entrevistadora – E aqui no grupo vocês têm medo de errar, têm esse sentimento?
Sujeito (Homem) – Não como só eu, mas a gente veio pra aprender a passar uma
mensagem.
Sujeito (Mulher) – E muita gente, de uma certa forma, já, digamos, já não se conhece
bem, mas já se conhece de vista, então... todo mundo faz curso no
mesmo lugar...
Sujeito (Homem) – Agora você vai em outro lugar é totalmente diferente, as pessoas que
você nunca viu, você fica meio tímido assim, não sai nada da sua boca.
Entrevistadora – O que vocês acharam desse grupo? Desses encontros? O que vocês
estão achando?
Sujeito (Homem) – Eu acho que a gente pôde se conhecer melhor, porque eu não conhecia
ele, agora eu conversei com ele no intervalo, tá sendo legal. A gente se
conhece mais, tem uma intimidade a mais.
Sujeito (Mulher) – Eu gostei porque todo mundo fala com todo mundo. Todo mundo se
comunica. Então...
Sujeito (Mulher) – E não tem aquela de conversa paralela...
Sujeito (Homem) – Um ficando conversando assim...
Sujeito (Mulher) – É, todo mundo compartilha.
Entrevistadora – Vocês acham que aqui nesse grupo você tem diferença?
Sujeito (Mulher) – Eu acho assim: diferença todo mundo tem, mas aqui no grupo em si,
tipo: “eu sou melhor que ele”, alguma coisa assim não tem, acho que
não, mas assim: diferenças particulares todo mundo tem...
Sujeito (Mulher) – É, cada um pensa de um jeito, ninguém pensa igual ao outro. Cada um
tem a sua opinião.
Entrevistadora – Não, por exemplo, você acha que... vocês acham que você, individual,
tem a mesmo chance que todos?
Sujeito (Mulher) – Ah, eu acho que não. Porque cada um assim, digamos, ele fez mais
curso do que eu, então ele vai ter mais chance do que eu de entrar no
mercado de trabalho.
Sujeito (Mulher) – E outra, quando você vai fazer... entregar currículo ou fazer uma
entrevista ele já tem o perfil pré definido também, entendeu? Às vezes
você não é aquilo que a empresa procura.
Entrevistadora – Então vocês concordam que tem algumas diferenças entre vocês?
Sujeito (Mulher) – Ah, sim...
Sujeito (Homem) – Pequenas. Pequenas diferenças, ou seja também, os cursos, porque a
empresa quer um perfil com outros conhecimentos e as outras pessoas
tem outros conhecimentos diferentes também, então é isso que...
Sujeito (Mulher) – Aí já tem uma diferença.
Sujeito (Homem) – Eles podem também, tipo, na hora de serviço, um exemplo é o curso, ás
vezes pode variar, um faz inclusão, tá estudando uma coisa, aí vai ter
uma empresa que vai preferir ela, que nem o T. faz escritório, pelos
conhecimentos que ela adquiriu. Isso aí bate as diferenças entre nós.
Mas do resto acho que não existe não.
Sujeito (Homem) – Eu acho até bom porque ás vezes você tá com dúvida numa coisinha
em inclusão e ela pode te ajudar, um sempre ajudando o ouro. Sempre
aqui tem uma troca de informações, só você ali não adianta. Eu tava
conversando com meu tio esses dias sobre trabalhar em grupo e ele
falou: “o cara que fica só ele ali, é difícil ele ir pra frente, tem que
saber trabalhar em grupo, ele tem que saber conversar, não é só ele
saber, porque ninguém sabe tudo”. Cada um tem seu potencial você
tem a sua, eu tenho a minha...
Sujeito (Mulher) – Eu acho que se o mundo trabalhasse assim, em grupo, acho que seria
um mundo perfeito. É difícil, mas...
Entrevistadora – Mas vocês acham que pra ter sincronia, pro grupo trabalhar em equipe,
então não pode ter a parte de competição?
Sujeito (Homem) – Eu acho que é isso.
Entrevistadora – Não.
Sujeito (Mulher) – Então eu acho que não teve.
Sujeito (Homem) – Isso já não é competição, é uma oportunidade que aparece que se for
algo que a pessoa olhar e falar: “ah, vai servir”, então deveria ir
buscar, né?
Entrevistadora – Aqui dentro desse grupo, vocês sentem medo, algum medo? Vocês têm
medo de falar de medo dentro desse grupo?
Sujeito (Homem) – Aí eu pergunto: e quem é que não tem?
Entrevistadora – Medo de falar do medo? Receio de falar do medo dentro desse grupo,
vocês têm?
Sujeito (Homem) – Não chega... não tenho medo porque é algo que todo mundo carrega.
Sujeito (Homem) – Situação que dá medo, né? Você falar, você mostrar...
Sujeito (Homem) – Até agora que eu tenho medo no mercado de trabalho é que você vai
apresentar alguma coisa e das pessoas dar risada, sei lá.
Sujeito (Homem) – É verdade.
Sujeito (Homem) – Uma pessoa tirar sarro.
Entrevistadora – Dentro desse grupo vocês tem medo que alguém dê risada aqui?
Sujeito (Homem) – Jamais, aqui não, porque isso é uma atitude de gente imatura. Você
tem que ter até essa atitude, todo o grupo.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que vai de você, a pessoa dar risada, se você der ousadia, se
você falar alguma coisa errada e a pessoa der risada, vai de você, se
você der ousadia e dar risada, ela vai continuar dando risada, agora
se ela der risada e você nem ligar, ela vai parar.
Sujeito (Homem) – E se a pessoa der risada, é falta de amadurecimento.
Sujeito (Mulher) – Ou se não, faz que nem eu, manda ela fazer melhor.
Sujeito (Homem) – Porque às vezes pode falar algo errado aqui, mas não num ambiente
bem... num ambiente saudável. Mas num outro ambiente você pode
falar porque você vai prestar mais atenção, então, no que você errou
no passado. E às vezes a pessoa tava dando risada de você antes, pode
errar porque sempre assim, às vezes elas olham os defeitos dos outros,
mas o defeito tá na pessoa mesmo, como diz os psicólogos.
Sujeito (Homem) – Tipo na escola também, esses negócios, a pessoa tá com uma dúvida e
fica com medo de perguntar, fica com medo de perguntar e alguém dar
risada, alguém zoar. Eu não tenho essa daí não, se eu tiver uma dúvida
eu pergunto, tem um pessoal lá que tem dúvida e não pergunta.
Entrevistadora – Entendi, alguém tem esse sentimento? Por exemplo, vocês acham que a
pessoa que tá dando risada, por exemplo, às vezes eu tom dando risada
dos outros e vocês sentem que doeu em vocês?
Sujeito (Homem) – É, porque dificilmente a pessoa vai perceber que o erro tá nela. Assim
que ela chegar e falar que o erro tá em você, não nos outros. Ela só vai
ter a visão quando a pessoa chegar e falar: “é isso e isso, eu acho que
o erro tá em você, não no próximo”.
Entrevistadora – Esses sentimentos não é... entendeu? Algum problema. Não tem
problema a gente ter esses sentimentos. Às vezes a gente conversa de
algumas cosias que a gente sente, não precisa tá acontecendo pra gente
ter esses sentimentos, às vezes a gente conversa e tem esses
sentimentos. Por isso eu pergunto pra vocês: em algum momento nesse
grupo vocês tiveram uma raiva?
Sujeito (Mulher) – Sobre as conversas que teve?
Entrevistadora – Hum, hum. Ou mesmo às vezes a gente tem vontade de falar, não
consegue falar, né? Enfim, às vezes acontece também. Às vezes você
quer falar e não consegue.
Sujeito (Homem) – Ah, isso é normal, a (???) às vezes fazem isso comigo.
(Risos)
Sujeito (Mulher) – Agora entrando em defeitos. Eu acho que eu tenho esse defeito de falar
muito. Que às vezes eu falo demais e não dou oportunidade da outra
pessoa falar, mas eu acho que aqui até agora não.
Entrevistadora – Então vocês acham que se o mercado de trabalho fosse como o grupo
de vocês aqui hoje seria...
Sujeito (Mulher) – Seria ótimo.
Sujeito (Homem) – Porque tem muita gente ganhando muito enquanto outros estão
ganhando pouco. Se todo mundo ganhava a mesma coisa...
Sujeito (Mulher) – Assim, se o mundo se unisse como esse grupo assim seria melhor,
tipo... tem que nem Iraque e Estados Unidos, são dois países que
podiam se unir, o país lindo que nem os dois, podia se unir, coisa
bonita, assim, alguma coisa...
Sujeito (Homem) – Que nem os Estados Unidos têm bastante tecnologia, o Iraque já não
tem, tem mais armas, então eles podiam trocar, se fosse trocar um
pouco, mas não, quer tudo tomar.
Sujeito (Homem) – Estados Unidos têm só tecnologia por causa do capitalismo, se não
fosse. Porque o capitalismo pra explorar e assim vai. Todas as guerras
o Estados Unidos ta dentro. Por quê? Porque quer explorar o país que
ficar pobre, ele quer explorar depois.
Entrevistadora – O que mais vocês acham que esse grupo tem que poderia melhorar, se
fosse igual seria diferente o mercado de trabalho, hoje, por exemplo.
Sujeito (Homem) – Eu acho que esse grupo aqui é bom, porque aqui nós moramos
praticamente na mesma região, já temos praticamente o mesmo estilo
de vida, e quando a gente entre na empresa tem aqueles mais
bonitinhos, tem classe de vida maior, entra com o pessoal, que é a
gente, que não tem o nível de classe dele. Então aquela pessoa eu acho,
que vai ta sempre querendo pisar nela, entendeu? Não quer deixar ela
progredir, porque às vezes essa pessoa que não é do nível dela tem
mais chance de alcançar ela lá em cima. Então ela vai ta sempre
pisando nessa pessoa.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que se o mercado de trabalho fosse igual ao nosso grupo seria
bom porque o que eu vejo hoje aqui assim é cada um se preocupa um
pouco com o outro, tipo assim, eu saio do curso as cinco horas e fico
aqui sozinha até as seis horas, aí depois chegou ela e ele, e ele já tava
aqui antes, mas ele tava trabalhando, né? Aí eu falei: “onde vocês
estavam, eu tava aqui sozinha’, aí eles falaram: “fui pra casa depois
eu vim”, aí eles dois falaram assim: “se vocês dois tivessem avisado a
gente tinha ficado, não teria ido embora”. Então já tem o
companheirismo, a preocupação. Então se o mercado de trabalho fosse
assim, eu acho que não haveria tanta raiva, tanto egoísmo, tantas
palavras que eles falaram.
Sujeito (Homem) – Nós ia ficar, nós ia até te perguntar, é que a gente tava em dúvida...
Sujeito (Homem) – Mas a gente não te achou, aí a gente falou: “subir lá em cima pra
incomodar a aula deles fica chato”, a gente ficou esperando você...
Sujeito (Mulher) – É porque a gente teve uma visita lá, aí as mulheres demorou na nossa
sala, a gente não saiu no horário normal.
Sujeito (Homem) – Eu tava em dúvida porque eu ia fazer... eu tinha comprado uns
negócios que amanhã eu vou doar, fui fazer uma cesta básica, fizemos
um grupo na escola e vamos levar cesta básica pros idosos, aí eu
fiquei: “não sei se eu fico, não sei se eu vou...” porque eu precisava
comprar, né? Aí eu fui, né?
Entrevistadora – Vocês sentem então que vocês pertencem a esse grupo? Alguém sente
que: “ah não, eu ano pertenço a esse grupo”, como ta o sentimento de
vocês?
Sujeito (Mulher) – Quando esse grupo foi formado eu fiquei com receio porque só eu e ela
de mulher, né? Fiquei assim: “ah só a gente?”, mas eu gostei de todo
mundo, acho que todo mundo se dá bem, eu acho que ta bem legal o
grupo desse jeito.
Entrevistadora – Alguém acha que não pertence ao grupo? O que vocês acham? Todos
se sentem pertencentes ou vocês acham que ainda falta alguma
elaboração de algum assunto?
Sujeito (Homem) – Apesar de todo mundo ter sido profissional, penso que todo mundo
gostou muito.
Entrevistadora – Mas assim, gostar você diz?
Sujeito (Homem) – É.
Entrevistadora – E pertencer?
Sujeito (Homem) – Eu acho que a gente ta se dando tão bem aqui que a gente nem vê a
hora passar. E isso que é legal, porque quando a gente ta num
ambiente que a gente não ta gostando a hora não passa, e a gente ta
aqui conversando, mas quer mais, entendeu? To até chateado, já vai
acabar? Poderia ter mais porque a gente ta junto aqui conversando
numa boa, a gente nem vê a hora passando.
Sujeito (Homem) – O que é bom dura pouco.
Sujeito (Homem) – Todo mundo pertence porque se um falta, fica faltando um momento, a
experiência daquele que faltou.
Sujeito (Homem) – Que nem o J. que na aula passada falou do criolo.
Sujeito (Mulher) – Isso pra mim foi um conhecimento a mais, porque eu não sabia.
Sujeito (Homem) – Eu também não sabia, não.
Sujeito (Homem) – É que nem num teatro, se um faltar a peça não sai, então isso dificulta
quando um falta. No caso aqui nós tamo trocando informações e
pegando experiência de outra experiência.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que a gente aqui é tipo como se fosse um corpo, cada um é
como um órgão, se um faltar... quase que você não pode sobreviver.
Entrevistadora – Alguém não se sente acolhido no grupo? Sente que às vezes não tem
direito o objetivo? Todos estão entendendo o objetivo do grupo? Falta
algum sentimento?
Sujeito (Homem) – Receio.
Entrevistadora – Entendi. E nesse grupo vocês acham que tem alguma diferença?
Olhando o grupo inteiro. Comigo, com a A.
Sujeito (Homem) – Como assim? Não entendi a pergunta.
Sujeito (Homem) – Qual tipo de diferença?
Entrevistadora – Alguma diferença. Porque vocês disseram que o grupo era igual, coeso.
Correto? Vocês acham que nós somos iguais?
Sujeito (Homem) – Em alguma relação eu penso que, com vocês, vocês tem um
conhecimento maior e a visão ampla. É a visão que nós precisamos de
ter pra ter certeza, pra não ter dificuldade no mercado de trabalho, o
que nós vamos encontrar. Então eu penso que essa é a diferença que
tem, as informações que você tem, você tem mais informação do que
nós.
Sujeito (Homem) – Um pergunta que eu queria fazer já, tipo assim, vocês demoraram
muito tempo pra procurar alguma instituição pra fazer o trabalho?
Entrevistadora – Vocês acham então que a gente escolheu essa comunidade por isso? O
que mais?
Sujeito (Mulher) – Pela dificuldade que o jovem do extremo Leste tem.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que escolheu esse lugar porque é onde tem mais jovens
desempregados, desempregados assim que não tem carteira assinada.
Sujeito (Homem) – Mas o critério de verdade, só vocês vão poder falar.
Entrevistadora – Raiva?
Sujeito (Homem) – É.
Entrevistadora – Raiva já foi dito, né? O que você diria em relação a esse sentimento,
por exemplo, se um colega seu falasse: “eu sinto raiva”, o que você
diria pra ele?
Sujeito (Homem) – Raiva, mas de um jeito diferente, raiva que isso é ruim e que a gente
tem que tentar mudar. É nessa linha de pensamento. É isso.
Sujeito (Mulher) – Mas você tem esse sentimento, raiva, em relação ao mercado de
trabalho, mas por quê?
Sujeito (Homem) – Porque, pelo menos eu, todos nós somos da periferia e vê, todos os
jovens passam um aperto, onde quer um tênis, camiseta, sei lá, fazer
um cursinho melhor e isso tem que ter dinheiro, pra ter dinheiro tem
que trabalhar e você não consegue, trabalho ta difícil, às vezes, sei lá...
porque você mora na periferia. Os caras tem um emprego e não vão te
dar porque você mora na periferia, e eu fico indignado com isso, sinto
raiva.
Entrevistadora – Então vocês acreditam que no grupo não tem ninguém querendo ser
melhor que ninguém?
Sujeito (Mulher) – Ah, eu acho que não. Mas falta a opinião dele, que ele chegou agora.
Sujeito (Homem) – Questão de que?
Sujeito (Homem) – Ela deu a gincana, mandou a gente escrever nossos sentimentos no
mercado de trabalho...
Entrevistadora – Mais alguém acha que o grupo não é tão unido assim?
(Risos)
Entrevistadora – Vocês se sentem observados por mais alguém no grupo? Por vocês,
vocês acham que se observam, com quem essa sensação? Vocês se
sentem com alguma observação específica? O que vocês acham desse
silêncio?
(Risos)
Sujeito (Mulher) – Que ninguém se sente incomodado com nada, por esse silêncio... do
meu ver, né? Não sei.
Entrevistadora – Vocês acham que dá pra comparar o silêncio com mercado de trabalho?
Sujeito (Mulher) – Eu acho...
Entrevistadora – Mas o que eu quis dizer, é só pra gente finalizar o pensamento, ta bom?
O que eu quis dizer o que significa esse silêncio pra vocês? É o
desconhecido, vocês não sabem o que vão vir. Quando faz o silêncio
acabou o assunto, vai vir um outro assunto que vocês não conhecem,
vocês concordam?
Todos – Hã, hã.
Entrevistadora – Isso gera o quê? Ansiedade. Porque você não sabe o que vai acontecer
você não está dono da situação, porque você não está controlando a
situação. Pode vir uma fala boa, ou uma fala ruim, ou, entendeu? Isso
gera um atrito, uma ansiedade. Assim como agora que vocês estão
diante do mercado de trabalho, vocês sabem o dia de amanhã de vocês?
Vocês estão numa fase de conquistar, vocês não sabem ainda o chão,
entendeu? Vocês não sabem aonde vocês estão pisando, vocês
entenderam agora a comparação que eu fiz do silêncio, eu digo assim: é
do sentimento que vocês têm quando fala de silêncio, então é uma
situação, entendeu? Quando a sala fica em silêncio é uma situação.
Então imagine aquela ansiedade, aquele desconforto que você tinha
dito, e o mercado de trabalho é a mesma coisa, quando você olha e pára
diante dele. Entendeu: “ah, o que eu quero fazer, que carreira eu quero
seguir, como que vai ser, será que eu vou conseguir...”, entenderam a
comparação que eu fiz? O que vocês acham dessa comparação, só pra
finalizar?
Sujeito (Mulher) – Ó, começou...
Sujeito (Mulher) – Eu acho que a comparação que você fez deixou bem claro o que é e eu
concordo com o que você quis dizer que o silêncio é um desconhecido
que a gente não sabe o que vai acontecer. É o que você falou a gente
fica bem ansioso, eu fico bem...
Entrevistadora – Bom pessoal, pra gente definir a tarde, hoje eu acho que não vai ser
possível, só se a V. chegar porque a V. que não tem disponibilidade de
sábado à tarde, né? Então a gente tem que conversar com ela pa ver
qual é o último encontro dela.
Sujeito (Mulher) – Ela disse que só tinha mais dois encontros.
Sujeito (Homem) – E à tarde... na verdade é até três e meia, que é aqui mesmo, vai ter
mais algumas oficinas.
Todos – Ah, do negócio...
Entrevistadora – Entendi. Então vamos combinar assim, a gente entra em contato com a
Sueli e ela passa pra vocês, tá? Mas a gente fica meio que combinado
entoa, Sábado à tarde, umas 14 horas pra vocês tá bom? Porque aí
vocês saem daqui meio-dia e dá tempo de tá lá. As 14h, não nessa
primeira, nessa segunda, provavelmente na terceira semana, só que a
gente tem que ve direitinho, porque? Por causa do nosso TCC, a gente
tem que ver se não vai ter nada, e por causa dos feriados, porque tem
um monte de feriado.
Sujeito (Homem) – Então no terceiro sábado. E que dia vai cair o terceiro sábado?
Sujeito (Mulher) – Acho que...
Entrevistadora 2 – Porque a gente vai ter que ver as datas lá dos dias que tem que falar
com o pessoal de marketing também, a disponibilidade.
Entrevistadora – Tem todo um procedimento que a gente tem a fazer ainda, só que mais
ou menos a gente já sabe a disponibilidade de vocês. Yes?
Todos – Yes.
Entrevistadora – O que você achou em relação a essa comparação que eu fiz no último...
na sessão anterior, na reunião passada, de comparar o silêncio, o
sentimento que você tem do silêncio porque é um sentimento, na
verdade é uma sensação, porque o silêncio é o desconhecido, né? E o
mercado de trabalho também. Vocês sentem essa ansiedade, essa
sensação também quando fica em silêncio é a mesma coisa que quando
você tá diante do mercado de trabalho, ou não, você concorda ou você
discorda?
Sujeito (Homem) – Ah o sentimento que eu sinto é um sentimento de angústia, não sei se é
o que o outro vai falar do silêncio, não sei se outras pessoas vão falar,
quando tem o silêncio eu não sei se o outro vai falar ou eu falo...
Entrevistadora – Você acha que... porque acontece isso? Porque com todo mundo
acontece isso?
Sujeito (Homem) – Muitas vezes é medo, né? Aí outros não, é timidez.
Sujeito (Mulher) – É porque a gente não sabe o que vai acontecer, né? Então...
Sujeito (Homem) – A pessoa se sente insegura.
Sujeito (Homem) – Eu fui fazer uma entrevista na Ford, uma entrevista assim, porque é
várias etapas lá no curso e tem uma entrevista. Aí eu peguei e fui lá, eu
não sabia o que eles iam falar, né? Fiquei tremendo, branco, aí
quando chegou a minha vez, só faltava eu desmaiar, todo mole, não
sabia o que ia perguntar, tava lá conversando numa boa, aí não foi
nada que eu tava pensando, não, foi até legal.
Entrevistadora – Vocês estavam falando de ética, vocês acham que esse grupo aqui ele
age com ética?
Sujeito (Homem) – Com certeza.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que sim.
Entrevistadora – Eu e a A., nós representamos o quê? Como que vocês vêem a gente?
(Risos)
Sujeito (Homem) – Ah, eu acho assim, vocês tão observando o que a gente tem a
trabalhar.
Sujeito (Homem) – A falar do trabalho, a gente da zona leste.
Sujeito (Homem) – Vocês vieram avaliar a gente da zona leste, a gente jovem.
Sujeito (Homem) – Como que é o nosso pensamento.
Sujeito (Homem) – É, sobre a área de trabalho.
Sujeito (Homem) – Tirar também um pouco o nosso medo né? Sobre o trabalho.
Sujeito (Homem) – É como se você tivesse, você não é entrevistadora, fazendo pergunta e
em cima da nossa dúvida vão preencher uma das outras.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que vocês também tão aqui, vem aqui assim... fugiu a palavra,
depois eu falo...
Sujeito (Homem) – Ensinar, né? Sei lá, tirar dúvida. Vocês quieta, que nem ela ali, só
vendo o nosso agir, nosso modo de se comportar, até ver, acho que até
mesmo fugindo um pouco do assunto pra ver os nossos pensamentos,
ver nossas idéias assim, o que a gente pensa sobre o amanhã, as
chances de trabalho.
Sujeito (Mulher) – Acho que era mais ou menos isso, você estão aqui pra estimular a
gente a discutir mais sobre esse assunto pra gente, o que a gente pode
fazer pra melhorar, porque é desse jeito, acho que é mais pra estimular
esses assuntos assim no mercado de trabalho.
Sujeito (Homem) – As dúvidas que a gente tem, tipo... a gente tem algum assunto que a
gente precisa desenvolver, pra gente passar, que a gente precisa
quando for ver uma vaga já ter mais experiência.
Entrevistadora – Como?
Sujeito (Homem) – Foi tipo... vocês foram selecionadas, vocês duas, pra trabalhar com a
gente ou outros grupos também? Pra trabalhar fora também?
Entrevistadora – Então, na verdade é um trabalho nosso. Não tem mais nenhuma outra
pessoa envolvida, só nosso grupo mesmo.
Sujeito (Homem) – E lá na faculdade lá tinha união lá?
(Risos)
Entrevistadora – Você acha que em outros grupo de outros adolescentes você acha que a
auto estima varia de graduação? Tem grupos que a auto estima é maior,
tem grupos que a auto estima é baixa?
Sujeito (Mulher) – Olha, eu acho que varia, eu acho que tinha que ir no grupo em si, a
auto estima é elevada, mas cada um individual, no seu dia-a-dia, tem
dia que a auto estima um dia ta lá em cima, e no outro ta lá em baixo.
Mas no grupo em si eu acho que quando a gente se reúne, a auto
estima é lá em cima.
Sujeito (Homem) – Varia muito. Pela pessoa também, pelos problemas que passa no dia,
pode ser pessoal mas prejudica no mercado de trabalho ou no
profissional, também no lado profissional pode atrapalhar o lado
pessoal e assim vai.
Sujeito (Homem) – Eu acho também que a pessoa tem que ter uma auto estima em torno
da pessoa mesmo, seja, tipo... pra entrevista. Tem pessoas que vai pra
uma entrevista assim com a auto estima diferente, outro sotaque, vai
arrumar um emprego e vai pra uma entrevista vai todo...
Sujeito (Homem) – Tem cara que vai cabisbaixo.
Sujeito (Homem) – Ou não. Vai triste porque... às vezes a pessoa mostra vários
sentimentos. Tem sentimentos que a gente conhece, olha na cara e ta
maior triste. A pessoa tem que mostrar um auto estima elevada, sempre
alegre, sempre com comunicação.
Sujeito (Homem) – Aí é que ta o problema. Porque às vezes você acorda com a sua auto
estima, digamos, alta, animado, mas se você ta precisando de um
serviço no mercado de trabalho, entoa, querendo ou não você vai ficar
baixa a auto estima e aí vai te prejudicando, você se preocupa com um
problema ali, problema pessoal, e tenta buscar e não dá certo.
Sujeito (Homem) – Aí depende da pessoa, que muitos não consegue.
Sujeito (Homem) – Exatamente.
Sujeito (Homem) – Muitos ficam com depressão.
Sujeito (Homem) – Comportamentos também, que a pessoa tem que ter quando for pra
uma entrevista assim... ir do jeito que... associar né? Igual pra um
entrevista mesmo.
Sujeito (Homem) – Arrumadinho.
Sujeito (Homem) – A pessoa tem que ir com uma auto estima gigante. Demonstrar que
quer trabalhar.
Entrevistadora – É. Porque você falou que é ruim a faculdade porque a pessoa fica se
sentindo diferente. O que é se sentir diferente?
Sujeito (Homem) – Ah, sei lá... às vezes uma pessoa é mais rica que ela e ela se sente
diferente, muitos, que nem muitos falam: “são metidos”, nem olha pra
você. Aí acho que a pessoa que se sente diferente assim, a auto estima
dessa pessoa, com certeza, você acha que vai ta lá em cima?
Entrevistadora – Vocês gostariam de falar de algum sentimento que vocês não falaram
no mercado de trabalho?
Sujeito (Homem) – O silêncio, né? Vai ser o principal. Vai ser como se fosse o seu
principal adversário.
Sujeito (Homem) – Eu acho que toda hora, sempre em todo lugar que você for vai urgir
aquele momento que vai mil pensamentos na sua cabeça, você vai
começar a pensar várias coisas, desde as piores até as melhores. Bom,
eu acho que ali tem a aparecer a sua auto estima. Você arrumar
alguma coisa pra fazer, sei lá.
Sujeito (Homem) – Bom, eu acho que o único sentimento que eu tenho medo no mercado
de trabalho é na hora da entrevista. Tipo assim, se o cara ta
entrevistando e o cara pergunta, às vezes eu me enrolo todo, não sai a
fala. Só isso, só. Só este sentimento.
Entrevistadora – Esqueci. Ah, em relação à uma psicóloga que faz a parte de... o
trabalho, ou a pessoa que faz o trabalho de seleção, como que vocês
enxergam ela? Deixa eu mudar a pergunta, por favor: como você
enxergam uma pessoa que faz o processo de seleção em uma empresa
assim, quem já passou por essa situação de entrevista? Porque eu to
falando? Porque vocês falam muito de entrevista de processo seletivo,
quem já passou por isso, esse processo? Levanta a mão.
Sujeito (Homem) – Foi, no caso, ela ia ser a chefe, era uma ótima pessoa, ia ser
telemarketing, a única coisa era que tinha que ler um texto e foi ótimo,
mas só que depois eu não voltei lá porque eu cheguei em casa e pensei
porque eu tinha que lutar pra tentar vender uma quantidade certa pra
eu conseguir a vaga. Esse seria o processo, e apesar disso foi ótimo. Aí
tive uma também numa oficina com a psicóloga que deu a entrevista...
de uma empresa, ela falou várias coisas e eu não imaginava que ia
chegar gente pra entrevista. Você chegava a vontade, e a pessoa chega
lá e começava a discutir também no meio da entrevista. Então eu vi
que às vezes que com isso eu poderia não ser mal na entrevista, só de
acordo com a entrevista, se eu errar buscar a, aprender e buscar
porque eu errei e melhorar.
Entrevistadora – Mas todos vocês falam. O grupo inteiro fala de processo seletivo, de
entrevista.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que a gente fala bastante disso porque é uma coisa que a
gente sabe que vai ter que enfrentar mais pra frente. Então a gente já
tem uma visão de como que vai ser, o que a gente vai enfrentar lá na
frente.
Sujeito (Homem) – Primeiro o medo né? Tem várias pessoas que a gente conhece que
também que já passaram por esse teste e já conta pra gente como é que
foi. Por isso que eu acho que comento bem.
Sujeito (Homem) – Eu acho também que psicóloga sempre olha pelo jeito do
entrevistador. O jeito que ele ta falando, do jeito que ele se senta, se
comporta. Se ele é social, se ele... uma coisa que eu acho que eles
acham feio, que o entrevistador ele... tipo... a gíria, né? Tem gente que
usa muita gíria assim. Tipo coloca muito na malandragem. Então o
psicólogo já fica de olho nessa falha. Pra depois tipo... quando ele for
entrar na empresa vai ta com sotaque de malandrão assim. alguma
coisa assim, porque a pessoa tem que se auto... ver o seu padrão de
vida. A pessoa sai de casa pra arrumar emprego, chega lá ta de
qualquer maneira, chega na frente da psicóloga falando gíria, todo
malandrão, aí acaba queimando o próprio filme.
Entrevistadora – Como que vocês vêem o profissional dessa área? O que vocês acham?
Sujeito (Homem) – Pra mim eu acho que é selecionar o indivíduo certo que a empresa
gosta, quem tem o perfil da empresa.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que essa pessoa que vai ta selecionando... a gente vai ta
participando da entrevista, e então a gente vai ter que fazer o possível
pra agradar aquela pessoa que está entrevistando porque vai depender
dessa pessoa pra gente entrar na empresa. Então vai depender da
visão q ela teve da gente pra gente poder entrar na empresa.
Sujeito (Homem) – E o perfil também. Eu tive um exemplo, teve secretária que ela
trabalhava com o presidente e tinha uma lá que era mais comum. O
perfil dela encaixou, né? Então a psicóloga que chamou ela foi
profissional, porque igual a mídia, a mídia tava falando assim: “um
currículo muito cheio, uma página assim, se tiver muito cheio, não vai,
tem que ter um pouquinho”, então eu falei, perguntei algumas coisas
pra ela: “e se tiver uma página cheia mas tiver objetivo e estiver bem
elaborado, então pode por”, aí a mídia quis passar outra coisa, né? Já
pensou, se a pessoa tiver lá, o profissional trabalhando
profissionalmente, a pessoa que faz isso, né? Aí chama.
Entrevistadora – Mas qual é o sentimento que vocês têm em relação à essa pessoa?
Vocês...
Sujeito (Mulher) – Eu acho que a gente vai ter medo, né? Porque a gente não sabe o que
ela vai pensar, o que ela acha da gente, então...
Sujeito (Homem) – Às vezes eu acho que sente medo na hora antes de conhecer, mas
muitas vezes você se engana, às vezes são... é legal, algumas vezes não.
Aí depende como for o temperamento dessa pessoa.
Entrevistadora – Vamos cada um falar uma palavra? Em relação à pessoa que ta fazendo
a entrevista. Vamos continuar aqui.
Sujeito (Homem) – Uma palavra?
Entrevistadora – É.
Sujeito (Homem) – Como assim uma palavra?
Entrevistadora – Um sentimento.
Sujeito (Homem) – Nervoso.
Sujeito (Homem) – Ansiedade.
Sujeito (Homem) – Medo, angústia, nervoso.
(Risos)
Sujeito (Homem) – Ansiedade, expectativa, ansiedade.
Sujeito (Homem) – Ilusão(??), vergonha, timidez.
Sujeito (Homem) – Como que você vai se expressar, tristeza, euforia.
Sujeito (Homem) – Solidão. Vai ser só você e ela.
Sujeito (Homem) – Timidez.
Entrevistadora – Eu não.
Sujeito (Mulher) – Mas vocês já tiveram que fazer alguma entrevista pra ta entrando
numa empresa, não?
Entrevistadora – Sobre?
Sujeito (Homem) – Você vai responder?
Sujeito (Homem) – Aproveita que hoje é o último dia.
Entrevistadora – Mas no final a gente responde, por isso que a gente fala “no final”,
entendeu? É por isso.
Sujeito (Homem) – Também tem pessoa que quando entra no mercado de trabalho, tipo...
ele fica muito ambicioso. Ele quer comprar um carro, uma Ferrari...
(Risos)
Sujeito (Homem) – É. Tipo a oficina que teve de automobilismo, tipo assim, a mulher tipo
entrou na empresa Johnson & Johnson, aí tipo, um exemplo que ela
deu: precisa só você ficar só coisando qualquer coisa. Se, pá, caiu uma
caneta, tipo ela falou assim: “eu vou ficar fazendo só isso daqui, eu
vou ter que criar’, ela teve mais criatividade, pensou mais e foi
passando, foi subindo de cargo cada vez mais.
Sujeito (Homem) – Eu acho que não. Desculpa aí ta falando, mas... hoje o meu
pensamento é de trabalhar só pra ajudar a minha família, ter meu
próprio dinheiro, com que eu tenho, se eu fosse, se eu conseguisse com
esforço ajudar meus familiares, dar uma vida melhor pros meus pais,
pro meu irmão, isso daí. Trabalhar, ter meu dinheiro, realizar os meus
sonhos ir pro lugar que eu quero.
Entrevistadora – É.
Sujeito (Homem) – Não da escola, mas eu tenho raiva do governo.
Entrevistadora – Eu falo disso que acontece, é uma realidade que a gente enfrenta não de
hoje, há muito tempo.
Sujeito (Homem) – Eu sinto dos professores, do governo, lá de cima, do presidente do
Brasil.
Entrevistadora – E esse sentimento que vocês tem em relação a escola vocês já tiveram
em algum momento aqui nesse grupo?
Sujeito (Homem) – Na escola, o problema dela é que o professor dá aquela matéria:
“vocês vão aprender isso”, ele quer mais que se dane.
Sujeito (Homem) – É, não ta nem aí.
Sujeito (Homem) – Ele nem vai correr atrás, o aluno não tá entendendo? “mas porque
você não ta entendendo? Ah vamos conversar, vamos passar a
matéria”, o professor mal acaba de passar aquela matéria, já dá outra
em cima pra embaralhar tudo, então você acaba não entendendo nada.
E outra, se o professor chegar e “eu vou passar isso daqui pra vocês,
vocês vai aprender isso pra tal coisa, isso vai ser bom pro seu futuro”,
mas não chega lá e a gente fica sem saber. Outro dia um moleque
perguntou: “pra que eu vou querer essas conta aí pra mim? Vou fazer
o que com essas contas”, o professor perdeu a linha com ele, já pegou
o caderninho amarelo e já fez anotação.
Sujeito (Homem) – Às vezes o diretor não dá atenção pra você, a sua justificação, só a do
professor só.
Sujeito (Homem) – Hoje mesmo eu fiquei do lado de fora da aula, cheguei atrasado do
intervalo, só que antes de eu subir pra sala, eu passei na secretaria pra
pegar um atestado de escolaridade, pra mim fazer um curso lá na USP
porque eles passaram entregando um folhetinho na sala de aula, não
sei se eles entregaram pra vocês, aí eu tava interessado até em ir, né?
Aí eu tava conversando na secretaria e era aula de química, aí nós
chegamos e o professor já tinha fechado a porta. “o professor...”, aí
ele olhou pra nossa cara assim e fechou a porta. Aí eu falei “o V., o
professor não quer deixar entrar na sala de aula”, e eu falei pra ela:
“e eu quero aprender porque essa matéria é importante”, ela falou
assim: “não posso fazer nada se o professor não quer deixar você
entrar dentro da sala de aula pra assistir”.
Sujeito (Homem) – Se vocês quiserem mais um resultado pega um dia e vai na escola. Só
de você entrar pela porta você já vê como que é o atendimento.
Sujeito (Mulher) – Eu acho de errado assim, primeiro uma coisa que o C. valoriza muito é
a opinião dos jovens em tudo, tudo que acontece aqui, quer a opinião
de todo mundo. E na escolinha aqui a gente faz o que a gente acha que
é o melhor, entendeu? E na escola não, vai numa escola tem um monte
de grade, as salas são separadas da escada pra você não sair. Então
eles querem tipo um padrão, vocês não vão fazer isso por causa disso,
eles não querem saber se a gente concorda com isso, se a gente acha
legal ou não, pra eles o importante é eles colocar do jeito que eles
acham melhor.
Entrevistadora – Pessoal, vocês estão falando da escola, mas a gente precisa voltar pro
grupo porque como é o nosso último encontro, né? Enfim...
Sujeito (Homem) – Pior que é mesmo.
Sujeito (Homem) – Que nem aqui no C. não é que nem na escola, os pessoal bagunça: “ah
vou te expulsar”, mandam você pra outra escola, aqui não, eles
conversam com você, porque você ta fazendo isso, ele não expulsa
ninguém do C., na escola você apronta uma coisa aí é advertência,
expulsa. Conselho tutelar.
Sujeito (Mulher) – É que aqui a gente já tem conscientização, se você vai faze, você faz,
você sabe quais são as conseqüências, lá na escola não, vai ter isso e
pronto, lá a gente faz assim mas sabendo que vai levar alguma coisa,
aqui você faz, vai da sua consciência, se você achar que isso é certo,
você ta tendo a oportunidade de ta fazendo um curso, se você acha que
você fazendo isso é bom pra você , então faz.
Sujeito (Mulher) – A responsabilidade é sua.
Sujeito (Homem) – Aí a gente vai vendo que assim, o melhor pra gente é aprender, então a
gente não vai fazer coisa errada, então a gente já tem essa consciência,
agora na escola não, é do jeito que eles querem.
Sujeito (Homem) – Se você for ver aqui a gente entrou na escola, chega lá na frente
quando você acabar o estudo, é tudo a ver que o governo quer. Então é
igual no mercado de trabalho, quer que você seja nada. Acho que
muitas vezes o cara não vai ser nada lá no futuro, não vai conseguir
emprego, que ele pegou um motivo ou raiva lá da escola, o que ele
tinha pra aprender ele não aprendeu, então resumindo é o seguinte:
isso vai pesar muito lá na frente pra ele arrumar um serviço, uma aula
que ele perdeu, não vai ser um professor que vai cair numa entrevista
de trabalho, eu acho que voltando à escola assim, e no mercado de
trabalho, vão ser dois pontos mais aliados, falando assim que tão
começando, que uma coisa que você vai aprender ali que você não
pegou, que você ficou fora da escola, uma hora você vai ter que
utilizar lá e você não vai ter recurso pra saber.
Entrevistadora – E vocês no grupo, quantos vocês acham ... eu queria perguntar se vocês
acham que vocês foram... quanto que vocês... a vaidade de vocês, vocês
acham que vocês tem um auto valor, no grupo aqui. Vocês como grupo.
Vocês estão falando de explorar de valor, que as pessoas não são
valorizadas, né? Entoa por exemplo, normalmente a gente paga um
salário pra uma pessoa, só que ela trabalha muito mais, ela produz
mais, e não tem divisão dos lucros como deveria ter, e o valor de
vocês? É estimável o valor de vocês, do trabalho de vocês?
Sujeito (Mulher) – Olha, eu não entendi assim a pergunta.
Sujeito (Homem) – Eu também não.
Entrevistadora – Porque vocês estavam falando de valores, não tavam?
Sujeito (Homem) – Qual é o seu valor pra você no mercado?
Entrevistadora – Vocês acham que algum dia vocês acham que vão poder pagar o valor
do seu trabalho?
Sujeito (Homem) – Nunca.
Sujeito (Mulher) – Ah, eu acho que sempre você vai pensar que nunca, né? Por mais que
você se esforce o pessoal sempre acha que poderia ta ganhando mais
do que você ganha. Apesar de você ter se esforçado tanto.
Sujeito (Homem) – Que nem eu trabalhava no supermercado por um mês, ralava todo dia
sem folga, e ganhava o que? 150 reais por mês. Eu tinha que ajudar
em casa, estudava de manhã trabalhava à tarde, chegava em casa bem
tarde, e era aquela rotina. Aí eu ia fazer o que? Explorado era, só que
pro patrão eu não tinha valor de nada. Eu como faxineiro ou sei lá o
que, eu não ia ter valor de nada, mas fazer o que a gente precisa. Você
se rebaixa todo, o que você precisar ali, que nem eu, o cara vem hoje
me dar um salário de 200 reais pra eu trabalhar, se acha que... sei lá,
na situação que a gente vive hoje, se o cara me der 100 reais por mês
eu vou.
Entrevistadora – Então, pra gente chegar até o C., antes daqui nós tivemos outras
instituições que nós conhecemos, nós fomos até o outro lado da cidade,
perto da represa do Guarapiranga também, então conhecemos algumas
instituições, mas não foi possível a aprovação porque a gente também
tava em aprovação do nosso comitê de ética. Quando nosso comitê de
ética foi aprovado, porque para que nós chegássemos até vocês, a gente
pegou um processo burocrático, a gente precisa de uma autorização
porque nós estamos fazendo uma pesquisa com pessoas, com vidas,
então a gente tem que ter todo o cuidado, por isso que nós falamos.
Temos a questão da ética também, por isso que nós falamos que
quando vocês se sentissem mal, pra nos avisar, se vocês tivessem
algum tipo de desconforto ou alguma situação, então tudo isso... pra
gente chegar até vocês a gente tinha que tomar todos os critérios de
tudo que poderia acontecer nas sessões. Então através de uma outra
pessoa, que foi conhecido do nosso orientador, nos citou aqui o C.
Então a gente já visitou o C. e o C. nos aceitou aqui, e deu essa
oportunidade. Nós apresentamos o nosso trabalho e ele deram essa
oportunidade.
Sujeito (Homem) – De modo que você ter sido orientada pra vir pra cá, mais pela área da
zona leste, zona norte, zona sul, você acha que tinha que o pessoal
igual foi feito na pesquisa, que nem eu tinha falado, você talvez tinha
escolhido aqui porque talvez a visão nossa do que...
Entrevistadora – Da extremidade da zona leste que vocês falaram? Não foi por essa
questão, a gente precisava sim de um bairro, o qual de repente vai, o
poder sócio-econômico fosse mais inferior pra gente pegar esses dados
de qualquer perspectiva de vocês no mercado de trabalho, que era
assim, a gente trabalha com a psicologia social e era uma fonte que nós
tínhamos de saber o que vocês jovens pensam sobre o mercado de
trabalho, né? Então a gente fez uma pesquisa sobre isso, fizemos
algumas literaturas e fizemos um comparativo entre os jovens de poder
sócio-econômico e aí a gente pegou e referiu essa parte aí também.
Então por isso que na questão do C, foi uma questão assim: alguém
pegou passou o contato pra gente e a gente veio até aqui e eles
aceitaram, entendeu? Sobre essas dúvidas do processo, tudo bem?
Tanto é que depois nós vamos passar as outras pessoas que não vieram,
a gente vai até verificar com a S., se deram retorno e o motivo dessas
pessoas não participarem foi o motivo da disponibilidade do dia, que
muitos não poderiam ser na quinta à noite. Sobre as 4 reuniões, como
que aconteceu esse processo? Então nas 4 reuniões foram interessantes
porque na primeira e na segunda reuniões vocês trouxeram fatores
externos, ou seja, em momento algum você colocaram o sentimento de
vocês, sempre incluindo de forma geral o mercado de trabalho, as
pessoas, tudo. E o que foi interessante é que vocês conseguiram de
repente transportar isso que tava lá fora pra entre vocês mesmos,
começaram a falar sobre os seus sentimentos, e aí a gente vê a
comparação que o sentimento de um se igualava com o sentimento do
outro, por isso a gente falava desse processo terapêutico porque entre
vocês, vocês conseguiram expor esse sentimento e vocês puderam
observar que foi da mesma pessoa, que o colega também teve algum
sentimento que foi parecido. E vocês falaram da experiência
profissional. Todos nós passamos por um processo seletivo, eu tanto
como a I. também passamos por um processo seletivo, aquilo que o J.
falou também, vamos supor se nós estamos participando de um
processo seletivo junto com vocês, não é questão que de repente nós
possamos ter mais chances do que vocês, vai depender muito do qual é
o propósito dessa vaga, qual é o perfil da vaga. Então o que o J. falou,
você mesmo que disse, não foi? Sobre isso? Vai muito de encontro com
o que ele disse, o que essa vaga quer, quais são as atribuições que a
pessoa vai fazer diante dessa vaga.
Sujeito (Homem) – Igual ao que eu tinha falado da secretária, que ela foi da oficina e
secretária que trabalha na mesma empresa, aí ela falou, pode ser o que
for, você tem que buscar o perfil, se você não encaixa, então...
Entrevistadora – Acontece que nem quebra cabeça, né? Cada um tem o seu lugar que
você vai encaixar, uma hora encaixa.
Sujeito (Homem) – E pesquisar a empresa, por exemplo, nós tamo aqui na empresa, aí
você: “o que a empresa faz?”, se o cara não saber direito o que a
empresa faz, então ta sendo desclassificado.
Entrevistadora – Uma coisa que, só um toque pra vocês, você falou agora de uma cosia
eu lembrei, eu sei que vocês nem sempre tem acesso à Internet aqui no
C., não tem acesso no C. via internet?
Todos – Tem.
Entrevistadora – Saber, pegar o site dar uma olhada. Se a empresa não tem site, fazer
alguns questionamentos, eu acho que é interessante.
Entrevistadora – Ainda mais vaga de menor Aprendiz, porque vocês estão indo em
empresa que é grande. Normalmente tem site porque é cota do governo.
Então são só empresas de grande porte que precisam ter essa cota,
normalmente elas que tem bastante serviço pra adolescente Aprendiz.
Entrevistadora – Mas que é um sonho, né? Entrar na Johnson & Johnson em são José.
Que lindo aquele lugar.
Sujeito (Homem) – Aí fiz uma entrevista aqui, mas minha idade não contou, meu perfil,
por cauda que era aproximado da idade de estagiário, então
estagiário, as empresas contratam estagiário com a mesma idade de
aprendiz, a idade não consta, então ele estão pegando mais com 16. é
igual JP Moris, aí, se passar, elas passaram e de dia de sábado vinha
aqui, saber como que tava lá, então eles ajudam a pessoa a buscar a
visão ampla.
Entrevistadora – Eu acho que é uma realidade, né? Ta ali, pra mim o mercado de
trabalho é uma realidade que a gente sempre vai ter que ta encarando,
né a gente tem que se preparar, porém é tranqüilo, caminhando.
Sujeito (Homem) – Nós falamos alguma coisa fora do foco, ou entramo no foco?
Entrevistadora – Meu primeiro emprego foi numa loja, eu sofri gente, eu chorava todo
dia. Mas eu falei: “eu vou ficar aqui”.
Sujeito (Homem) – Você tinha de ser explorada?
Entrevistadora – Uhhh, é uma realidade também.
Sujeito (Homem) – Como você se sentiu?
Entrevistadora – A gente era muito explorada lá, hoje eu sou explorada, mas eu gosto do
que eu faço, quando você gosta de ta trabalhando no que você faz, eu
acho mais fácil você, você sempre vai ser explorado, mas quando você
faz o que você gosta, aí fica mais light entendeu? Fica mais tranqüilo.
Por exemplo, quando eu tava no meu primeiro emprego, eu não gostava
do que eu fazia, então foi muito mais difícil, foi sofrida. Hoje não, hoje
eu já gosto do meu trabalho, então é mais light.
Sujeito (Mulher) – Deixa eu te perguntar: com que idade?
Entrevistadora – Eu tinha 16. Eu fui babá, mas não conta no currículo. Aí depois fui com
18.
Sujeito (Homem) – E a A?
Entrevistadora – O meu primeiro emprego foi aos 15 anos, eu trabalhei na época era
datilografia, eu tenho 28 anos, então a tecnologia ela veio um
pouquinho depois, então naquele época ainda fazia sucesso a
datilografia. Então eu era professora de datilografia e assim como
vocês eu entrei por um processo seletivo, pra fazer entrevista, essas
coisas, tive as mesmas coisas, tive medo, tive receios, eu tive um pouco
de vergonha também, então eu acho que o que prevaleceu mais foi o
medo. O medo eu tive bastante, às vezes eu tinha medo de fazer as
coisas e de repente ta errado, de perguntar pro gerente, então tudo isso
eu tinha esses receios...
Sujeito (Homem) – Isso que é o meu medo.
Entrevistadora – Mas eu acho que tudo que vocês falaram é o que mais... é o sentimento
que mais prevaleceu em mim foi o medo. Eu tive muito medo, medo
assim bastante mesmo, até que depois eu tava trabalhando, você tinha
vontade de chorar, se eu, vamos supor, fui contratada só pra observar a
escrever, se de repente passava alguém e eu tava olhando o celular eu já
cagava de medo: “putz, caramba, eu não podia fazer isso, e agora eu
vou ser mandada embora”, então você vai perder, são medos que eu
acho que faz parte. É a primeira experiência nossa, então você ta um
pouco, não que é imaturo, mas é inexperiente mesmo, depois você vai
pegando a malícia das coisas, né?