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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

Ana Clecia Pinheiro de Almeida


Inoá Coelho de Castro

TRABALHO E PERSPECTIVAS DE VIDA:


um estudo com adolescentes da periferia da cidade
de São Paulo

São Paulo
2006
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

Ana Clecia Pinheiro de Almeida


Inoá Coelho de Castro

TRABALHO E PERSPECTIVAS DE VIDA:


um estudo com adolescentes da periferia da cidade
de São Paulo

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de


Psicologia da Universidade São Judas Tadeu, como parte dos
requisitos para a obtenção do grau de Psicólogo.
Área de concentração: Psicologia Social e do Trabalho
Orientador: Prof. Dr. Arilson Pereira da Silva
Co-orientadora: Profa. Ms. Valéria Ribeiro Linard

São Paulo
2006
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

Ana Clecia Pinheiro de Almeida


Inoá Coelho de Castro

TRABALHO E PERSPECTIVAS DE VIDA:


um estudo com adolescentes da periferia da cidade
de São Paulo

Banca Examinadora

São Paulo, 01 de Dezembro de 2006.

__________________________________
Maria de Fátima Guimarães Dias

__________________________________
Maria Esmeralda Zamlutti

__________________________________
Orientador: Dr. Arilson Pereira da Silva

__________________________________
Co-orientadora: Ms. Valéria Ribeiro Linard

São Paulo
2006
SUMÁRIO

DEDICATÓRIA ............................................................................................ ii

AGRADECIMENTOS ................................................................................. iii

RESUMO ...................................................................................................... iv

ABSTRACT ................................................................................................... v

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1
1.1 CONCEITUAÇÃO DE TRABALHO ................................................................... 1
1.2 TRABALHO E SUBJETIVIDADE ....................................................................... 5
1.3 ADOLESCÊNCIA E MERCADO DE TRABALHO .......................................... 9

2 OBJETIVOS ................................................................................................ 17

3 MATERIAL E MÉTODO........................................................................... 18
3.1 A AMOSTRA ......................................................................................................... 18
3.2 A INSTITUIÇÃO .................................................................................................. 19
3.3 O MATERIAL ....................................................................................................... 20
3.4 OS PROCEDIMENTOS ....................................................................................... 21
3.5 FORMA DE ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................... 23

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................ 24


4.1 ANÁLISE DA PRIMEIRA REUNIÃO ............................................................... 24
4.2 ANÁLISE DA SEGUNDA REUNIÃO ................................................................ 28
4.3 ANÁLISE DA TERCEIRA REUNIÃO .............................................................. 34
4.4 ANÁLISE DA QUARTA REUNIÃO .................................................................. 40

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 45

REFERÊNCIAS .......................................................................................... 51

ANEXOS ...................................................................................................... 53
Aos nossos pais, pelo exemplo de dignidade, honestidade
e respeito a todos os seres humanos e pelo amor com que
nos criaram, sem poupar esforços para que nos
tornássemos pessoas melhores.

Aos nossos irmãos, companheiros de todas as horas.

À avó Nida, pela doçura, desprendimento e sabedoria


com que sempre tratou a todos, fossem eles jovens,
adultos ou idosos.

NÓS AMAMOS VOCÊS!


AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Arilson Pereira da Silva,


nosso orientador, pela paciência e
desprendimento. Não fôra a sua orientação
precisa e a sua constante disponibilidade,
não teríamos atingido o objetivo a que nos
propusemos.

À Profa. Ms. Valéria Ribeiro Linard,


co-orientadora deste trabalho, que não
mediu esforços para nos auxiliar,
muitas vezes em prejuízo de sua vida
pessoal.
ALMEIDA, A. C. P.; CASTRO, I. C.Trabalho e perspectivas de vida: um estudo com
adolescentes da periferia da cidade de São Paulo. Trabalho de conclusão de curso
(Formação de Psicólogo) - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade São
Judas Tadeu. São Paulo, 2006. 05 + 131 p.

RESUMO
O presente estudo teve como objetivo compreender as percepções, os sentimentos e as

expectativas de um grupo de jovens de uma comunidade de baixa renda da periferia da

cidade de São Paulo quanto às questões ligadas ao mundo do trabalho, bem como as

relações que estabelecem entre esses aspectos e suas perspectivas de vida em geral. De

modo específico, buscou-se investigar os conhecimentos desse grupo sobre o mercado de

trabalho, bem como a percepção sobre as perspectivas futuras em relação ao trabalho e à

vida. A abordagem metodológica utilizada foi a qualitativa, tendo como instrumento de

investigação e coleta de dados a técnica de grupo operativo. Os critérios de inclusão foram:

faixa etária de 16 (dezesseis) a 18 (dezoito) anos de idade, vinculação a uma mesma

instituição voltada à capacitação profissional e inserção em uma comunidade da periferia da

cidade de São Paulo, com disponibilidade e interesse em participar da pesquisa. Os

participantes e seus respectivos responsáveis receberam todas as informações necessárias

para que decidissem quanto à participação na pesquisa, com a possibilidade de desistir a

qualquer momento do processo, o que não ocorreu. A coleta de dados foi realizada em

quatro reuniões e apresentaram como temas emergentes: exploração, desigualdade,

educação, família, primeiro emprego, medos e ansiedades. Assim como, em suas

perspectivas de vida, revelaram preocupações e desejos relacionados com: inserção no

mercado de trabalho, inclusão na sociedade, comprar uma casa, mudar de bairro, mudar de

classe social e ter condições de sustentar a família.

Palavras-chaves: mercado de trabalho, adolescente, inclusão social.


ALMEIDA, A.C.P. de, CASTRO, I. C. de. 2006. Life and Work perspectives: a study,
involving teenagers in São Paulo outskirts. The final work for the Psychology
Graduation Course. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade São Judas
Tadeu. São Paulo, 2006: 05 + 131 pgs.

ABSTRACT

The main goal of this research included the comprehension of a teenagers group, which

lives in São Paulo outskirts. In fact, the study had been focused on their perspectives related

to the market place, and also to their lives in general. The qualitative methodology

considered had a specific tool to get important points for the present research: “The

operative Group”. The main criteria for choosing the participants had defined teenagers

from 15 years old up to 18, members of the same community and same professional

insertion/qualification institution in São Paulo City, whose wanted to be part of this

inquire/study. All of them, as well as their parents, had been informed about all the details

before starting he study. By the way, they could give up from the process anytime they

want to, but it did not happen. The collect of data was realized in four meets and have

presented as emergent subjects: exploration, inequality, education, family, first job, fears

and anxieties. As well as, in their life perspectives, this related the insert in the job market,

the inclusion in the society, the desire to buy a house, to change of neighborhood, of social

class and to have conditions of sustaining their families.

Key-Words: job market, teenagers, inclusion in the society.


1 INTRODUÇÃO

A formação do indivíduo como ser humano está relacionada a fatores

biopsicossocioculturais, ou seja, à integração dos aspectos biológicos, psicológicos, sociais

e culturais. Portanto, quando se busca ampliar o entendimento do ser humano, torna-se de

grande importância compreender em que contexto o indivíduo está inserido e que valores,

atitudes, crenças e conhecimentos ele assimilou.

Dentre os aspectos que pautam a construção da subjetividade humana, uma das

atividades mais importantes é o trabalho, razão pela qual a presente pesquisa teve como

foco investigar as relações entre trabalho e perspectivas de vida em um grupo de jovens de

uma comunidade de baixa renda da periferia da cidade de São Paulo.

1.1 CONCEITUAÇÃO DE TRABALHO

Inicialmente, e até mesmo a título de fundamentação teórica, apresentam-se

algumas definições da palavra TRABALHO.

Carmo (1996, p.16) apresenta as seguintes informações sobre a origem da palavra

TRABALHO:

De origem controversa, a palavra “trabalho” remete ao latim tripalium,


nome do instrumento formado por três estacas utilizadas para manter
presos bois ou cavalos difíceis de ferrar. No latim vulgar, ela significa
“pena ou servidão do homem à natureza”. Inicialmente considerado
esforço de sobrevivência, o trabalho transformou-se ao longo da História
em ação produtiva, ocupação e, para muitos, algo gratificante em termos
existenciais.
Já de acordo com Albornoz (1994), além de nominar o instrumento formado por

três estacas utilizado na agricultura, a palavra latina tripalium também era empregada para

denominar um instrumento de tortura. Esse segundo significado nos remete ao que o

trabalho parece ser, até os dias atuais, para a maioria da população brasileira: uma tortura,

um sofrimento.

A conotação negativa da palavra TRABALHO é decorrente da própria história da

civilização. A noção de propriedade remonta aos primórdios da organização social e,

durante um longo período, esteve intrinsecamente relacionada ao ócio. Ou seja, a classe

trabalhadora era constituída por servos, escravos ou camponeses, que executavam

atividades nas terras (propriedades) da classe abastada, mantendo a ociosidade desta última

(ALBORNOZ, 1994).

Além do quadro acima, relacionado à história da civilização como um todo, não se

pode deixar de ressaltar que a formação da sociedade brasileira foi calcada em uma

economia escravocrata. Embora extinto há pouco mais de cem anos, esse regime deixou

marcas permanentes na organização social do país, como a grande desigualdade econômica

e o desrespeito aos direitos universais do homem, até porque o conceito de cidadania não se

consolidou na sociedade brasileira (CACCIAMALI, 1999).

Uma das mudanças sociais ocorridas nos últimos dois séculos em decorrência do

advento do capitalismo foi a gradativa transformação do trabalho em emprego. Enquanto,

no sentido estrito, trabalho é a atividade que transforma o meio, o termo emprego significa

trabalho remunerado, portanto típico da lógica capitalista (KRAWULSKI, 1998).

Atualmente, a palavra TRABALHO é empregada com os dois significados apontados

acima, embora, na maioria das vezes, seja utilizada para indicar emprego, remuneração.

Isto porque, na sociedade capitalista, a maioria das pessoas trabalha em organizações,


mediante vínculo empregatício e em detrimento da realização pessoal, aceitando

acriticamente as determinações inerentes ao seu enquadramento profissional. Assim, em

virtude do processo de evolução da sociedade, o homem passou a ser visto como

componente de uma força de trabalho e viu-se transformado de indivíduo em trabalhador, o

que tornou o trabalho um instrumento da valorização da dignidade humana.

(KRAWULSKI, 1998).

Como anteriormente mencionado, EMPREGO e TRABALHO têm definições diferentes

no sentido estrito mas, no cotidiano, não se observa distinção entre essas duas palavras.

Como destaca Albornoz (1994, p.81), “As pessoas trabalham antes para poder consumir

do que propriamente para produzir alguma coisa”. Assim, para muitas pessoas, o trabalho

restringe-se à execução de uma tarefa qualquer que visa a obtenção de remuneração ao final

de cada mês, revestindo-se do significado atinente a EMPREGO, ou seja, uma forma de

acesso à renda.

De modo geral, na sociedade contemporânea o trabalho guarda estreita relação

com a laborização: trabalho com sacrifício e sem prazer, marcado pela falta de sentido e

pela alienação, no qual o trabalhador desconhece a finalidade da função que executa. Nesse

contexto, o indivíduo não vê o produto do seu trabalho, limita-se a executar mecanicamente

aquilo que lhe é determinado, é incapaz de relacionar sua atividade ao mercado

consumidor, e é submetido a intensa pressão para produzir, sem qualquer autonomia. Ou

seja, não utiliza a sua criatividade e não tem prazer no que faz. Ao confundir-se com o

conceito de emprego e perder o seu significado estrito, a palavra TRABALHO também

ganhou outra conotação, qual seja, detenção de status social em função da categorização da

atividade desempenhada (ALBORNOZ, 1994).


Portanto, além do sentido objetivo, o trabalho humano possui um caráter subjetivo,

que desempenha importante papel na estruturação da identidade social (KRAWULSKI,

1998).

Conforme Moulin, Reis e Wenich (1998), a noção de trabalho está relacionada às

diferentes etapas da história da humanidade, como: antiga sociedade grega, idade média e,

com o advento do cristianismo, domínio do espírito sobre o corpo, quando ganhou o

significado de dispêndio de energia, ou seja, a ocupação o corpo até a exaustão, eliminando

qualquer indício de desejo (que era considerado pecado para os religiosos e a cultura da

época). O decorrer dos anos, contudo, fez com que o trabalho perdesse a característica de

sacrifício e se revestisse da conotação de produção essencial à condição humana.

Essa mudança de imagem do trabalho trouxe três novos sentidos não só à atividade

laboral como à vida do ser humano, como postulam Moulin, Reis e Wenich (1998):

ƒ trabalho como sobrevivência: atividade mais árdua com a finalidade de sustentar a


família;
ƒ trabalho como atividade natural do homem: desejo de ser útil e de produzir, tornando-
se referência estruturante da própria existência;
ƒ trabalho como espaço social: lugar em que se constroem e fortalecem laços afetivos de
companheirismo, amizade e identificação. Nesse sentido, o trabalho permite trocas com
outras pessoas, que compartilham experiências do dia-a-dia e enriquecem a relação
com o cotidiano, pois com essas vivências as pessoas vislumbram diferentes maneiras
de solucionar problemas.

Presentemente, observa-se uma tendência emergente voltada à re-significação do

termo trabalho e de sua conceituação, resgatando os aspectos prazeroso e humano que um

dia comportou. Esse fenômeno é denominado por alguns autores de HUMANIZAÇÃO DO

TRABALHO, incluindo o conseqüente envolvimento pessoal do indivíduo com essa atividade.

Esse novo quadro, que busca a sincronização entre o trabalho e a realização pessoal e prevê

uma sociedade na qual a especialização do trabalho intelectual é cada vez maior, decorre
dos avanços tecnológicos e da facilidade de acesso à informação: as pessoas não estão mais

dispostas a executar funções monótonas e repetitivas (KRAWULSKI, 1998).

O próximo subitem aborda a relação entre o trabalho e a construção da

subjetividade.

1.2 TRABALHO E SUBJETIVIDADE

Para Fernandes (1999), o trabalho é a mais valorizada das atividades sociais pois

atua como um mediador da identidade, ou seja, o indivíduo deve estar trabalhando

(produzindo) para estar inserido na sociedade. A sociedade atual reserva aos indivíduos que

a integram uma mensagem implícita, a saber: há lugar para todos, desde que trabalhem e

cumpram assiduamente seus deveres em suas ocupações.

“Cabe-nos a tarefa de reconhecer a parte das funções psíquicas cumprida pelo

trabalho, na qualidade de uma instituição estável e organizadora da economia subjetiva”

(FERNANDES, 1999, p.40).

Sob essa ótica, o trabalho é um exercício que faz as pessoas despenderem energia

libidinal, seja ela narcísica, agressiva ou sexual. (FERNANDES, 1999)

Nenhuma atividade vincula o indivíduo tão firmemente à realidade quanto o

trabalho, pois este se apresenta como um lugar seguro em uma parte da realidade. O

trabalho exerce a função de eixo psíquico pois promove o contato com a realidade externa e

faz parte do cotidiano, sendo condição fundamental para a estruturação psíquica. As novas

exigências impostas aos indivíduos em suas relações cotidianas provocam a emersão de

determinados efeitos de subjetivação. A concepção de trabalho ocupa um lugar

fundamental na vida subjetiva do indivíduo. Isto porque o trabalho faz com que este
indivíduo se veja integrado à sociedade, e conseqüentemente à realidade, sentindo-se útil e

participante das relações sociais. Em contrapartida, o indivíduo que não nutre expectativas

quanto ao trabalho ou ao futuro profissional torna-se vulnerável ao desequilíbrio emocional,

pois perde a capacidade de sentir-se vinculado à sociedade (FERNANDES, 1999).

A vida cotidiana é tomada como uma realidade certa pelos membros da sociedade

porque é compartilhada, e subjetivamente dotada de sentido para o homem na medida em

que forma um mundo coerente. Dentre as várias realidades que constituem o mundo, a da

vida cotidiana ocupa posição privilegiada e é predominante na vida do ser humano.

Exemplo dessa assertiva é a guerra do Iraque: os cidadãos de outras nações impressionam-

se com as cenas de terror que o homem pode proporcionar, mas no dia-a-dia tais imagens

não se fazem constantemente presentes; já população que convive com essa realidade (os

iraquianos), nunca deixa de pensar que uma bomba pode cair em suas casas (BERGER;

LUCKMANN, 1999).

A abordagem adotada por Melo (2000) propõe que a crescente desintegração do

trabalho fez com que este acabasse perdendo o seu sentido original; por conseqüência, a

motivação para desempenhar tal atividade também se vê despida de sentido Essa aversão ao

trabalho é conseqüência do limitado envolvimento do sujeito com a sua atividade laboral.

Nesse contexto, o trabalho pode perder a sua função psíquica de descarga pulsional,

tornando-se árduo pela falta desse investimento. Quando não se apercebe de sua condição

de agente de mudança nas atividades que executa, o trabalhador não responde pela sua

criação. Por outro lado, as instituições favorecem ainda mais essa dessubjetivação ao

promoverem visto que mecanismos que excluem o sujeito: “Destitui-se o sujeito para,

posteriormente, tentar governá-lo e educá-lo...” (MELO, 2000, p.85).


O mesmo autor ainda articula sintoma e sublimação como possibilidade lógica

entre o sujeito e o trabalho. Quando se aceita a premissa de que o trabalho tem o mesmo

estatuto do recalque, é possível retomar o tema “A pulsão e seus sentidos” e equiparar

trabalho e sublimação.

O trabalho como sintoma ou como sublimação são vertentes possíveis em


termos da economia psíquica. Como sintoma, há a alienação do sujeito
sobre o que faz, alienação esta que produz gozo, cujo preço é a angústia.
Como sublimação o trabalho se constitui em estreita relação com a
fantasia, porém não a fantasia que fixa o sujeito a um gozo inconsciente,
trata-se de uma fantasia que lhe traz uma certeza. A sublimação enlaça o
sujeito ao que produz (MELO, 2000, p.90-91).

No mundo contemporâneo, o indivíduo que não trabalha é colocado à margem da

sociedade. As pessoas vitimadas por esse processo de marginalização tornam-se alienadas

e, por conseqüência, são incapazes de identificar se a sensação de fracasso que as acomete é

pessoal ou decorre da estrutura econômica na qual se encontram (SENNETT, 2002).

A compreensão e a análise das transformações que atualmente ocorrem no âmbito

do trabalho revestem-se de grande importância. Há algumas décadas, o trabalho

apresentava uma dinâmica diferente daquela que se verifica na atualidade.

No livro “A Corrosão do Caráter”, Sennett (2002) traz importantes subsídios para

confirmar tal assertiva. Segundo esse estudioso, os trabalhadores da geração anterior

consideravam a atividade laboral um serviço à família, o que não ocorre na atualidade,

marcada por um quadro em que as exigências do trabalho interferem (nem sempre

positivamente) na conquista do objetivo de servir à família, de acompanhar o crescimento

dos filhos etc. “Quando as coisas ficam difíceis meses seguidos na empresa de consultoria,

é como se eu não soubesse quem são meus filhos” (SENNETT, 2002, p. 20).

Outro aspecto observado por Sennett (2002) é a dificuldade de estabelecer

vínculos no trabalho. Anteriormente, os funcionários trabalhavam até a aposentadoria em


uma mesma empresa; hoje, a realidade é diferente: o profissional que permanece por muito

tempo na mesma empresa corre o risco de ser desvalorizado.

Esse também é o entendimento de Lemos (2000), para quem a sociedade atual

perdeu os valores atribuídos à tradição em relação ao trabalho, que passou a adquirir

diversos significados, sejam eles relacionados aos vínculos, à carreira e/ou a outros fatores.

Para Fernandes (1999), outro fator agravante é a impossibilidade de projetar o

futuro, o que empobrece a vida psíquica e, conseqüentemente, restringe a capacidade de

pensar.

O trabalho atual constitui-se em uma prática social continuamente submetida a

processos de renovação. Assim sendo, carreiras e profissões tradicionais, que existiram por

décadas, são hoje reorganizadas para atender às novas exigências do mercado de trabalho

(ANTUNES, 1999).

Krawulski (1998) também descreve as mudanças contextuais, conceituais e

valorativas do trabalho quando afirma que, contemporaneamente, observa-se a rápida

transformação das profissões, aí se incluindo a extinção de algumas e a criação de outras.

Esse novo cenário vem mudando a forma de ser da classe trabalhadora. Os

trabalhadores colocam o seu saber e a sua subjetividade a serviço dos projetos do capital e

das empresas que, a cada dia que passa, tornam-se mais flexíveis e enxutas. Em decorrência

de todo esse ideário e dessa pragmática, o trabalhador é compelido a pensar única e tão

somente na empresa, na produtividade, na competitividade, no lucro, nas melhores

condições para a produção de resultados etc. A partir das décadas de 70 e 80, o Ocidente

vem incorporando tanto o ideário quanto os elementos da pragmática toyotista. Ressalte-se

que o lema da família Toyota era: “Proteja a empresa, para proteger a sua vida”

(ANTUNES, 1999). A esse respeito, Antunes (1999) destaca que a diferenciação entre
toyotismo, taylorismo, e fordismo no Brasil é inviável, de vez que o país apresenta

continuidade e descontinuidade entre essas políticas de gerenciamento do trabalho.

Outro aspecto importante relacionado à mudança do significado do trabalho é o

incremento do setor terciário: na atualidade, o número de postos de trabalho do setor de

serviços cresce muito mais do que a oferta de vagas em fábricas e na indústria de

transformação. Isso origina grandes modificações na própria organização política e na

consolidação de interesses setoriais. Hoje, os interesses são altamente fragmentados, e o

trabalho assalariado estável é objeto de transformações que precarizam os direitos dos

trabalhadores (ANTUNES, 1999).

Portanto, as experiências dos pais de indivíduos jovens em relação à temática do

trabalho tornaram-se disfuncionais, pois a realidade por eles vivida não se coaduna com a

realidade atual. Em quem, então, os jovens de hoje podem se espelhar quando se

preocupam com a temática do trabalho? É uma nova realidade, que gera novos conflitos,

novos sentimentos, novas expectativas, com possíveis novas soluções. Essa situação

despertou o interesse das autoras do presente estudo, cujo foco central é avaliar a realidade

presentemente posta àqueles que estão ingressando ou próximos a ingressar no mercado de

trabalho.

Na tentativa de encontrar respostas a essa inquietação, o próximo subitem enfatiza

os temas adolescência e mercado de trabalho.

1.3 ADOLESCÊNCIA E MERCADO DE TRABALHO

A constituição da identidade na adolescência é fundamentada no questionamento

das verdades apresentadas pelos adultos, nas quais a criança se espelhava até então. Ou
seja, os adolescentes destróem e reconstróem os modelos adultos, tornando-se anti-adultos

desafiadores. Essa etapa de destruição e de reconstrução é importante para o processo de

formação da identidade do adolescente, que vivencia três momentos distintos: adolescência

puberal, adolescência nuclear e adolescência juvenil. O rompimento da relação fusional

pais-criança que marca a infância permite que o adolescente conquiste a sua independência

psicológica (CARVAJAL, 1998, citado por LEMOS, 2000).

Para Carvajal (1998, citado por LEMOS, 2000), na fase da adolescência puberal o

jovem atravessa modificações corporais e sexuais, além de desenvolver comportamentos de

desobediência, desafio e denegrimento das figuras paternas. Apercebe-se de que os pais, até

então considerados perfeitos, têm defeitos e limitações. Sendo assim, questiona os

ensinamentos transmitidos pelos seus responsáveis.

“Nessa fase o adolescente vivencia vários lutos, luto pelo corpo infantil, luto pelos

pais da infância e pelo paraíso perdido da infância, com todas as fantasias onipotentes que

nela existiam” (LEMOS, 2000, p.6).

Na adolescência nuclear a afetividade é transferida dos pais para o grupo: nessa

fase o jovem torna-se um anti-adulto, porque os pais deixam de ser a sua referência. Adota

um estilo próprio e assume as normas e regras do grupo formado, que podem ser até mesmo

mais rígidas e autoritárias do que aquelas determinadas pelos pais. Isto ocorre porque a

necessidade de ser aceito pelo grupo é muito forte, e o medo de ser excluído do mesmo é

angustiante (LEMOS, 2000).

Na adolescência juvenil o indivíduo deixa a rebeldia e volta a se aproximar da

família, distanciando-se do grupo, que perde a função característica da segunda fase. Nessa

etapa, inicia vínculos afetivos com um terceiro (namoro) e procura se inserir no campo

profissional, o que pauta a paulatina construção do modelo adulto (LEMOS, 2000).


Durante a adolescência, o jovem tende a se confrontar com os ditames sociais,

políticos, filosóficos, religiosos e profissionais anteriormente assimilados. Essa etapa

constitui-se na mais penosa e prolongada fase de transição da vida, mas é necessária para o

auto-reconhecimento e a inserção social do indivíduo na comunidade adulta (LEVISKY,

1998).

Matheus (2002) descreve a adolescência como o momento em que a busca de

autonomia se intensifica. Nessa etapa os jovens se empenham no distanciamento das

figuras parentais, e submetem-se a figuras de autoridade secundárias localizadas na

sociedade. A tentativa de substituição dos modelos parentais faz com que os adolescentes

se tornem susceptíveis aos modelos identificatórios oferecidos pela sociedade: consumo,

lazer e trabalho.

Aquilo com que estes jovens se identificam não é exclusivo nem construído por

eles, pois a “ideologia do prazer”, também conhecida como mitificação do prazer, é uma

característica da sociedade na qual se inserem. Para essa sociedade, a sensação de prazer

físico e psíquico adquire valor extremo, razão pela qual o modelo identificatório aqui

estudado contempla o consumo e o lazer, fontes de prazer contemporâneas. No que

concerne à atividade laboral, a sua abordagem é justificada porque os jovens oriundos das

classes populares somente têm acesso ao consumo e ao lazer através do trabalho.

Resumindo: consumo, lazer e trabalho são elementos que parecem compor o universo dos

ideais do adolescente (MATHEUS, 2002).

Para o adolescente, a escolha de um trabalho representa a possibilidade de

independência e de aquisição de sua identidade social (LEHMAN, 2001).

As primeiras identificações profissionais ocorrem já no início da infância, e são

influenciadas pelos adultos que cercam a criança. Assim, a depender da satisfação ou da


insatisfação que a criança identifica nos adultos que fazem parte de seu universo com

relação ao trabalho, tais experiências se revestirão de um caráter gratificante ou frustrante.

Tais processos constituirão o tipo de relação com o mundo adulto (LEMOS, 2000). “A

partir do que se admira e deseja e do que se rejeita que surgiram as expectativas a respeito

de si mesmo e as aspirações do modo de ser que se quer alcançar” (LEMOS, 2000, p.7).

De acordo com Fiori (1982, citado por LEMOS, 2000), a escolha profissional é

constituída por duas etapas. Na primeira, o adolescente passa por um momento de crise

caracterizado pela atração por diversas opções profissionais: esse é o momento de não

comprometimento com suas escolhas. Na segunda, o adolescente escolhe uma área

profissional com a qual se identifica e nela se engaja, com o objetivo de obter sucesso: esse

momento é conhecido como engajamento. Vale ressaltar que o adolescente necessita

vivenciar ambas as etapas pois, caso não o faça, sua aquisição de identidade será

prejudicada.

A aquisição da identidade é definida em quatro tipos de posicionamentos

(LEMOS, 2000):

ƒ o moratório é aquele em que o indivíduo permanece por certo tempo com


questionamentos contínuos referentes às suas escolhas. É um momento considerado
normal nessa fase da adolescência, porém, se permanecer, não resultará no
engajamento necessário;
ƒ o aquisidor é a conclusão do processo de crises e engajamento. Nele, o adolescente
obtém a sua opção profissional definida e busca realizar essa escolha, ultrapassando a
posição moratória;
ƒ o impedido não passa pelo processo de crise: suas escolhas são ditadas pelo grupo
familiar; nesse processo, não há questionamento por parte do adolescente. Esse tipo de
posicionamento pode promover, no futuro, o sentimento de que as escolhas de vida
foram falsas, gerando uma crise tardia;
ƒ o difuso é aquele em que o adolescente não passa pelo momento de crise nem pelo de
engajamento. Não se preocupa com a continuidade, e algumas vezes se torna
promíscuo.
Na adolescência, os processos normais e esperados são os
posicionamentos moratório e aquisidor, pois é necessário que o indivíduo
vivencie a crise, faça questionamentos, faça a ruptura com os modelos até
então vigentes, para posteriormente encontrar uma opção que faça
sentido com o seu ser. Sem a etapa de crise o adolescente não poderá
realizar engajamentos genuínos com suas escolhas (LEMOS, 2000,
p.9).

O ingresso no mercado de trabalho não é uma situação confortável para os jovens

de muitas sociedades. Pesquisas demonstram dificuldades de acesso ao mercado de

trabalho, elevada incidência de desemprego e emprego informal, destinação de ocupação de

cargos que incluem execução de atividades com baixo grau de satisfação, exploração da

mão-de-obra, baixa remuneração e longa jornada de trabalho, o que está em desacordo com

as leis trabalhistas (GOMES, 1990a).

Gomes (1990a) também sugere que o mercado de trabalho está para o jovem como

um rito de passagem da juventude para o mundo adulto, rito este que é tanto mais penoso

quanto mais cedo ele entra no mercado de trabalho. Ainda segundo o autor, os jovens

tendem a ser considerados trabalhadores de última classe e, quase tanto quanto as crianças,

são explorados em atividades que requerem baixo - ou nenhum - grau de qualificação. Os

empregadores escolhem os jovens como mão-de-obra barata e desqualificada, tendo em

vista a sua vitalidade e talvez a sua submissão, além da ignorância dos direitos que detêm.

Assim, a liberdade de escolha profissional é mais restrita entre os adolescentes do que nos

outros grupos etários: cabe aos jovens a execução das atividades mais penosas e

inferiorizadas.

E é por essa razão que o autor postula que esse sofrimento é um “rito de

passagem”: afinal, o ingresso no mercado de trabalho implica o distanciamento das relações

parentais e o estabelecimento de novas relações sociais, aí se incluindo a inserção em uma

hierarquia formal e o contato amigável com novos colegas.


A exposição até aqui realizada indica que o jovem está em relativa desvantagem

em relação ao mercado de trabalho: enfrenta uma iniciação um tanto dolorosa conforme a

sua posição social - pois, como anteriormente comentado, quanto mais precocemente ele

ingressa nesse mercado, mais sofrerá. Portanto, a posição social que ocupa - que promove

ou não a necessidade de ingressar nesse tipo de atividade - define as possibilidades de se

capacitar melhor e mais adequadamente.

Os trabalhadores que exercem atividades braçais - e, portanto, integram a classe

trabalhadora menos favorecida - necessitam que seus filhos, em particular os do sexo

masculino, ingressem rapidamente no mercado de trabalho, para ajudar no sustento da

família. Assim, os jovens que se inserem nesse quadro pouco (ou quase nada) usufruem do

ensino formal: ingressam mais tarde (para eles, a pré-escola inexiste), estão sujeitos a maior

número de reprovações e interrupções no estudo (porque não têm a possibilidade de

vivenciar integralmente essa fase) e, seja por causa ou conseqüência da situação que vivem,

abandonam a escola e iniciam prematuramente o trabalho remunerado. Em virtude desse

quadro perverso, os jovens provenientes de famílias menos favorecidas tendem a ocupar

cargos cujas atividades são mais penosas, com remuneração pífia. O jovem trabalhador

muitas vezes tem um pé no papel de adulto - arrimo de família - e outro pé no papel do

adolescente retratado pela cultura vigente (GOMES, 1990b).

No que concerne à educação, a sociedade contemporânea postula que a educação é

um canal de ascensão social, pois somente com o auxílio dela os jovens se qualificarão para

o mercado de trabalho. Isto quer dizer que jovens que tendem a interromper os estudos para

trabalhar em prol do sustento da família sempre terão maiores dificuldades para ingressar

no mercado de trabalho formal e a executar atividades que lhes proporcionem significado

(GOMES, 1990c). “Uma corrente da literatura sociológica desde os anos 30 aponta para
o primeiro trabalho como o momento crucial da carreira profissional e, por isso mesmo,

do processo de obtenção de status” (GOMES, 1990c, p. 29).

Em geral, os jovens tendem a aceitar o primeiro trabalho disponível, despercebidos

do seu impacto sobre o futuro. Mesmo em períodos de prosperidade, os índices de

desemprego de adolescentes e de jovens tendem a superar significativamente aqueles de

adultos (GOMES, 1990c).

Verardo (1999, p. 69) aponta os seguintes dados estatísticos:

Do período de 1986 a 1996, o desemprego entre os jovens de 10 a 24


anos cresceu 208%. O número de jovens nessa faixa etária com carteira
de trabalho assinada caiu 22%, o que também é um número bastante
grande. Então, é isso, quer dizer, nós temos 40% da população
economicamente ativa que está sem receber ou será desempregada
recebendo menos que um salário mínimo.

Como postula Pereira (2001), a construção de sentido das relações de trabalho por

adolescentes no mercado profissional se dá por conta da educação, fundamentalmente

responsável pela construção de posturas e papéis na sociedade. Dentro dessas relações

sociais destaca-se o trabalho, que tem significado de valorização e de estruturação da

identidade dos indivíduos.

Pereira (2001) investigou como os jovens pensam, sentem e agem diante dos

valores vigentes em relação ao trabalho, partindo da seguinte premissa: a sociedade tem

uma visão estereotipada desses jovens, que sofrem por serem adultos em algumas situações

e crianças em outras. Os resultados do estudo demonstraram que os adolescentes entendem

o trabalho como algo que ilustra a sua responsabilidade e a sua independência,

independentemente das atividades que exerçam na organização, da mesma forma que se

constatou entre os jovens de classe média.


Reportando-se à pesquisa de Pereira (2001), Ozella (2003) demonstrou que os

jovens de classes privilegiadas buscam seu primeiro emprego como forma de

independência financeira - ainda que o patrão seja seu próprio pai. Embora essa relação

pareça contraditória, o jovem que trabalha para o pai acredita que o que está ganhando é um

salário, e não uma mesada. E se, em um primeiro momento, visa o trabalho como emprego,

forma de sustentação e possibilidade de conquistar independência financeira,

posteriormente passa a investir na busca de melhor qualificação profissional.

Ainda de acordo com Ozella (2003), os adolescentes que ingressam precocemente

no mercado de trabalho acreditam que, por serem flexíveis e se submeterem a diversas

atividades, estão aptos a qualquer serviço, além de acreditarem que estar em prontidão para

qualquer solicitação representa um diferencial positivo. Assim sendo, mascaram o caráter

alienante e exploratório do trabalho ao qual têm acesso.

Lehman (2001) afirma que flexibilidade é sinônimo de ilusão, de vez que, cada

vez mais, a estrutura social diminui os elementos de sustentação voltados à crise do

adolescente que busca trabalho. A organização social perde sua força de coesão nesse

momento de contínua mudança, no qual o vínculo torna a busca por trabalho cada vez

maior, promovendo maiores riscos e maiores possibilidades de fracasso.

Esse também é o foco da reflexão realizada por Sennett (2002), que entende a

flexibilidade como fator desestruturante do trabalho, apresentado como forma extinta de

vínculo.

Em contrapartida, pesquisa conduzida por Matheus (2002) com jovens

pertencentes a comunidades de características diversas revelou que, para os adolescentes, o

trabalho reveste-se de grande significância para a conquista de reconhecimento e de


inserção social, bem como para o alcance de seus ideais: para os jovens analisados, trabalho

significa emprego.

Assim sendo, tais jovens buscam qualificações profissionais, capazes de incluí-los

no corpo social e permitir algumas realizações pessoais, tais como: constituir uma família e

sustentá-la. Com isso, o jovem constrói uma visão limitada e pragmática, ou seja: ele não se

permite utilizar a fantasia. Sob o domínio dessa postura cultural o jovem conseguirá

negociar a sua inserção na sociedade mas, ao invés da contestação e do questionamento de

regras características da adolescência, tornar-se-á submisso às normas instituídas.

O contexto apresentado mostra-se relevante para a presente pesquisa, que procurou

compreender o que um grupo de jovens de uma comunidade de baixa renda pensa, sente e

espera em relação ao mundo do trabalho, e às relações deste com as suas próprias vidas.
2 OBJETIVOS

O presente estudo teve como objetivo compreender as percepções, os sentimentos

e as expectativas de um grupo de jovens de uma comunidade de baixa renda da periferia da

cidade de São Paulo quanto às questões ligadas ao mundo do trabalho, bem como as

relações que estabelecem entre esses aspectos e suas perspectivas de vida em geral.
3 MATERIAL E MÉTODO

3.1 A AMOSTRA

A definição da amostra a ser estudada foi efetuada por conveniência, a partir dos

seguintes critérios de inclusão: jovens na faixa etária de 16 a 18 anos de idade, de ambos os

sexos, pertencentes a uma comunidade de baixa renda situada na periferia da cidade de São

Paulo. Os integrantes da amostra foram selecionados com base no preenchimento da ficha

de inscrição (ANEXO 1). O número de participantes foi estabelecido em no máximo 12

indivíduos, para adequação ao instrumento (grupal) de coleta de dados. Embora

reconhecendo a vulnerabilidade dessa população, entende-se que o benefício da pesquisa

com pessoas inseridas nessa faixa etária é significativo, uma vez que o melhor

conhecimento da realidade que vivem pode promover a elaboração e a implementação de

ações mais eficazes, que contemplem a preparação dos jovens para o ingresso no mercado

de trabalho, além da promoção da saúde nas relações homem-trabalho.

A amostra foi recrutada em uma instituição prestadora de serviços à comunidade e

freqüentada por jovens. A escolha da instituição também foi pautada em critérios de

conveniência, após a verificação do interesse e das adequadas condições ambientais da

mesma, de modo a garantir o bem-estar dos participantes.

Cabe uma ressalva em relação aos integrantes do grupo. Um jovem de 15 anos

manifestou interesse e apresentou disponibilidade, sendo aceito pelas pesquisadoras.


Foram escolhidos para participar do estudo aqueles que demonstraram interesse e

disponibilidade para tanto. Caso houvesse um número de interessados maior que o

estipulado pela pesquisa (12 participantes), utilizar-se-ia um critério de escolha aleatório

para a formação do grupo, com base na numeração das inscrições. Mas essa conduta não foi

necessária porque, embora houvesse um total de 19 (dezenove) inscrições, 09 (nove)

possíveis integrantes foram eliminados porque não correspondiam aos critérios iniciais,

quais sejam: interesse e disponibilidade nos horários de realização das reuniões. Assim

sendo, a amostra foi constituída por 10 (dez) indivíduos.

A participação foi concretizada mediante autorização - por escrito - dos pais ou

representantes legais.

Os critérios de exclusão da pesquisa foram: desistência, a qualquer momento, por

parte do participante; duas faltas injustificadas às reuniões de grupo operativo

anteriormente programadas. Essas informações foram transmitidas no momento da

apresentação da pesquisa.

Por se tratar de uma abordagem qualitativa, considera-se que o estudo de um único

grupo pode fornecer dados relevantes para a compreensão de determinada realidade, sem o

objetivo de generalizar os dados, mas com o intuito de articulá-los com referenciais teóricos

e outros estudos similares, de modo a ampliar a compreensão da temática escolhida.

3.2 A INSTITUIÇÃO

A instituição atende diretamente 400 (quatrocentos) jovens entre 14 (quatorze) e

18 (dezoito) anos. Promove 07 (sete) cursos de qualificação profissional para adolescentes


e outros 03 (três) projetos, atua na região desde 1978 e é uma das 10 (dez) unidades de

atendimento para crianças e adolescentes mantidas pela Ação Comunitária Paroquial da

região da Zona Leste. A entidade atua no Distrito da Zona Leste da periferia da cidade de

São Paulo há 30 (trinta) anos.

O centro profissionalizante da Instituição foi implantado em 1978, com a

denominação de ATENDIMENTO PROFISSIONALIZANTE PARA ADULTOS, público este a quem

ofereceu cursos noturnos até 1984; a partir de então, passou a trabalhar com adolescentes

no período diurno.

A instituição oferece, para ambos os sexos, os cursos de MECÂNICA GERAL,

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS RESIDENCIAIS, ESCRITÓRIO INFORMATIZADO, SUPORTE TÉCNICO

EM INFORMÁTICA, COMPUTAÇÃO GRÁFICA, ELETRO-ELETRÔNICA e FORMAÇÃO PARA O

TERCEIRO SETOR. Sobrevive graças às parcerias financeiras, técnicas e políticas, sempre sob

a égide da Prefeitura de São Paulo e de algumas empresas privadas, entre outras

instituições.

3.3 O MATERIAL

Os equipamentos utilizados para realização da pesquisa foram: gravador, folhas de

papel sufite e canetas esferográficas.

Também foram utilizados os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLEs) (ANEXOS 2 e 3), de modo a formalizar a autorização da organização e dos

representantes legais. Esses documentos explicam - tanto para a organização como para os

participantes e seus respectivos responsáveis - que as informações colhidas nas reuniões


serão mantidas sob sigilo, e que os resultados gerais obtidos na pesquisa serão utilizados

apenas para alcançar os objetivos do trabalho, aí se incluindo a sua publicação na literatura

científica especializada. Um possível risco, também explicitado ao participante e/ou a seus

responsáveis, contempla a ocorrência de reações emocionais acirradas ou mal-estar no

decorrer das reuniões. Nesses casos, e de acordo com o TCLE, o participante teria toda a

liberdade para optar pela não continuidade no processo ou pela interrupção momentânea.

Havendo necessidade, os pesquisadores providenciariam encaminhamento do participante

ao Centro de Psicologia Aplicada da Universidade São Judas Tadeu, para atendimento

psicológico. No entanto, no decorrer das reuniões não houve necessidade de utilizar tal

procedimento.

3.4 OS PROCEDIMENTOS

De posse da autorização da instituição para que a coleta de dados fosse efetivada

com os jovens que a freqüentam, e em suas dependências, as pesquisadoras entraram em

contato com os possíveis integrantes da amostra para transmitir a eles todas as informações

necessárias e registrar a opção de cada um em participar ou não da pesquisa. Esse

procedimento ocorreu no mês de setembro: as pesquisadoras compareceram às salas do

período da tarde e explicitaram os objetivos da pesquisa, respondendo a todos os tipos de

indagações e dúvidas. Além disso, as pesquisadoras deixaram fichas para que os

interessados se inscrevessem. Houve 19 (dezenove) inscrições. Após esse procedimento, foi

agendada reunião com os responsáveis pelos adolescentes menores de 18 (dezoito) anos de

idade inscritos na pesquisa, com o objetivo de informá-los sobre a coleta de dados, e


solicitar as devidas autorizações. Os responsáveis que autorizaram a participação dos

adolescentes receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As pesquisadoras

colocaram-se à disposição para atender aos responsáveis, se assim o desejassem, antes de

formalizarem a autorização.

De um universo de 19 (dezenove) inscrições - e considerando 9 (nove) desistências

(fosse por falta do aval dos responsáveis, fosse por desinteresse dos inscritos), restaram 10

(dez) indivíduos para a pesquisa.

Efetuadas as devidas autorizações, foram agendadas reuniões com o grupo de

participantes (a amostra), conforme data e horário combinados anteriormente com a direção

da instituição e com o grupo de adolescentes e seus responsáveis.

A pesquisa foi realizada em quatro reuniões, número esse considerado satisfatório

quando o instrumento de investigação é a técnica de grupo operativo. Todavia, uma

pequena alteração no número de reuniões seria possível, uma vez que o critério de

saturação também foi observado, ou seja, uma certa reincidência de dados que possibilite a

articulação entre estes, e destes com o quadro teórico.

A escolha dessa técnica foi baseada na teoria de Pichon-Rivière (1991, p.174), que

defende que

o grupo permite a investigação do interjogo entre o psicossocial (grupo


interno) e o sócio-dinâmico (grupo externo), através da observação das
formas de interação, dos mecanismos de adjudicação e assunção de
papéis.

O instrumento de coleta de dados foi, portanto, o grupo operativo, que teve como

tarefa, em cada reunião, discutir da questão assim formulada: "Como vocês percebem as

questões do trabalho no mundo atual (aspectos ligados a inserção, preparação,

possibilidades, limitações), e que relações percebem entre o trabalho e a própria vida, de


modo geral?". Para a execução dessa técnica, as pesquisadoras desempenharam os papéis

prescritos de coordenadora e observadora do trabalho grupal.

A primeira reunião teve como objetivo estabelecer o contrato de trabalho e realizar

a coleta de dados. As reuniões subseqüentes foram voltadas à coleta de dados, de acordo

com o objetivo da pesquisa.

As informações coletadas foram utilizadas apenas para a análise qualitativa da

pesquisa e foram trabalhadas de modo a preservar o anonimato dos sujeitos.

3.5 FORMA DE ANÁLISE DOS RESULTADOS

A análise dos dados teve como foco estabelecer um paralelo entre o quadro teórico

e o trabalho de campo realizado com o grupo de jovens. A análise foi de ordem qualitativa,

voltada ao aprofundamento e à abrangência das respostas, que permitem a compreensão de

um grupo social, de uma organização, de uma instituição, de uma comunidade (MINAYO,

2004).

A análise do material obtido nos grupos operativos exigiu diversas leituras das

falas transcritas dos participantes, o que permitiu a identificação de categorias de

significação denominadas EMERGENTES nessa abordagem teórico-metodológica. Esses

EMERGENTES foram situações significativas que, a partir dos aspectos explícitos na

interação grupal, revelaram conteúdos implícitos (inconscientes ou não) existentes nessa

interação. Trata-se de situações que surgiram no processo grupal como produto de um

trabalho, no âmbito das idéias, dos afetos e também dos comportamentos, das ações.
Portanto, a análise foi pautada no que emergiu no grupo, dando acesso aos aspectos

psicossociais mobilizados pela tarefa proposta. (PICHON-RIVIÈRE, 1991).

Cabe destacar que a análise e a interpretação dos dados demandaram a articulação

entre os EMERGENTES que surgiram no decorrer das reuniões e o quadro teórico relacionado

à temática da pesquisa.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 ANÁLISE DA PRIMEIRA REUNIÃO

Na primeira sessão apresentou-se ao grupo o tema MERCADO DE TRABALHO,

focando especificamente as dificuldades de adquirir conhecimento e experiência

profissional que jovens da periferia enfrentam. “Para você entrar no mercado de trabalho

tem que ter conhecimento e idiomas. O Brasil não é muito desenvolvido. Está diversificado,

sempre pede experiência; nem todo jovem tem acesso a estes cursos”(Sic). Outros fatores

emergentes no início da reunião foram a desvalorização e a exploração do trabalho das

pessoas de baixo nível socioeconômico, no qual a população avaliada se insere. Essa

realidade é observada pelos integrantes do grupo, e ilustrada na seguinte colocação: “Nós

da periferia faz curso para ser funcionário de quem tem poder”.

Outros emergentes constatados foram os aspectos de peso e dificuldade: “Vão

encontrar muitas pedras”. Em uma leitura baseada nos aspectos explícitos e implícitos das

técnicas grupais (PICHON-RIVIÈRE, 1991) verifica-se que, além dos temores com relação

ao mercado de trabalho, o fato de participar da pesquisa também trazia dificuldades ao

grupo, até porque se constituía em uma experiência desconhecida.

Quando o tema PROCESSO SELETIVO foi abordado, os integrantes do grupo

demonstraram preocupação, o que se justifica pela inserção desses jovens em uma

instituição cujo foco é a profissionalização desse público. Com base nessa reflexão, surgiu
o emergente relacionado à idade, em função da necessidade de alistamento militar para os

indivíduos do sexo masculino e dos procedimentos para admissão ao cargo de “Adolescente

Aprendiz”. Para cumprir determinação do governo federal, as empresas devem destinar

uma cota de vagas para a contratação de adolescentes. De acordo com o grupo, as empresas

dão preferência a jovens que nasceram nos anos 90 (noventa): “Quem nasceu nos anos 90.

Por causa do procedimento estagiário, porque eles falam que o aprendiz, tendo a mesma

idade do estagiário, dá confusão. Eu sei que eles estão pegando só estagiários dos anos

90”.

Em dado momento, surge uma fala de porta-voz, quando o grupo discute as

dificuldades que acredita atravessar para a inclusão no mercado de trabalho: “Morar na

Zona Leste, tipo eu também ser negra, acho que discrimina, sim”. Esse discurso

relacionado à discriminação demonstra a percepção do grupo com relação à dificuldade de

jovens de baixa renda serem incluídos no mercado de trabalho, uma vez que os jovens de

classe média/alta têm maiores conhecimentos e oportunidades de realizar cursos para

“concorrência” (sic) nesse mercado.

No decorrer da discussão, volta à tona o emergente PESO. Nota-se uma

transposição de representações sobre o significado do trabalho e sua relação com o corpo

do trabalhador, revestida pela conotação de sofrimento por parte do grupo (trabalhador), e

de sadismo por parte do empregador. Isso vem de encontro à demonstração implícita do

grupo com relação à reunião, que lhes era pesada, sofrida porque, além de abordar um tema

que gera ansiedade, era a primeira reunião, e os integrantes ainda não estava vinculados.

Eu trabalhei lá no Brás que os donos era coreano; aí, se eu não me


engano era de fazer aqueles enfeites de mulher,sabe? Com aquelas
pedrinhas? Aí nisso tinha uma escada imensa e eu tinha que levar um
saco de roupa, aí nisso eles chegava o carro com encomenda, aí nós
fomos levar, aí colocou um saco de roupa desse tamanho aqui nas costas
e ia colocar outro e tava dando risada.
Eles pegaram um saco grande de roupa e colocaram, mas só que é
pesado, né? O certo era levar um só, aí ele já querendo colocar outro e
dando risada, e ninguém agüentando. Que nem eu, não tava agüentando
muito. E eles colocou mais roupa nesse braço aqui e a escada é grande,
você desequilibra ali..

No conjunto da fala seguinte, em que se comentou a existência de câmeras em

elevadores, as pesquisadoras constataram outro emergente, que envolveu a percepção do

grupo de estar sendo observado por elas, no papel de coordenadora e observadora. Essa

percepção (de estarem sendo observados) gerou desconforto nos participantes, ainda que de

implicitamente. Outra hipótese levantada pelas pesquisadoras é que os integrantes do grupo

sentem-se intimidados pelo controle do “outro”, ou seja, preocupam-se em assumir posturas

que não lhes são naturais devido a esse controle pois temem que estas não sejam adequadas.

Também vale a questão da postura, também, a empresa: como é que você


vai, sua postura lá dentro da empresa, não ficar brincando, que nem eu
conheço um moleque, ele foi pro Aprendiz, aí entrou dentro do elevador e
começou a dançar no elevador, aí tinha câmera, aí a câmera pegou, na
hora dispensou ele, na hora, na lata.

Esse emergente de controle do “outro” dificultando a espontaneidade e a utilização

da criatividade torna a surgir, agora especificamente com relação à observadora, o que pode

ser verificado na fala a seguir:

(...) foi na empresa, aí ficou esperando na porta da empresa atender ela,


a menina ficou mais de uma hora e meia esperando, pra ver se a menina
ficava nervosa, ficava olhando toda hora no relógio, e o cara só olhando
assim e anotando, pra ver como a menina ficava, se ela ficava nervosa.

O conjunto de palavras que mais caracterizou a percepção do grupo em relação à

observadora foi: “... e o cara só olhando assim e anotando, pra ver como a menina ficava,

se ela ficava nervosa”. Esse relato parece traduzir, de forma implícita, os sentimento dos

participantes em relação à conduta da observadora no grupo operativo.


Outro emergente passível de destaque nesse discurso está relacionado à postura

dos integrantes, pois o comportamento dos jovens diante da coordenadora e da observadora

era de formalidade e respeito, caracterizando falta de espontaneidade. Também constata-se

o emergente relacionado à possível exclusão do grupo que, ainda que de forma implícita,

surge na palavra “dispensou”. Portanto, é possível inferir que os participantes temiam que,

caso não tivessem postura e manifestassem naturalidade em algum momento

(desconfigurando o padrão de utilização de comportamentos formais adotado pelo grupo),

poderiam ser excluídos da atividade. Exemplo disso é que, quando um integrante do grupo

queria se manifestar, levantava o dedo como que pedindo autorização para falar.

Quando se discutiu a relação com o “outro” foi possível observar que, sob a ótica

do grupo, essa interação é marcada por atitudes persecutórias e hostis, e que os

participantes não nutrem expectativas de colaboração por parte desse “outro”: “Eu acho

que tem muita dificuldade por não saber o serviço que você vai fazer, por outras pessoas

terem que estar te ensinando. Então às vezes as pessoas não teriam paciência de tá te

ensinando...” Assim como na fala:

primeiro eu peguei experiência, aí quando foi passando pras outras eu


tinha que perguntar várias vezes, aí foi no caso de ele falar pro irmão
dele que eu tava atrasando o serviço, que ia atrasar a produção, que
tinha um tanto de quantia de peças pra fazer tudo ali e eu não tava
atingindo. Isso aí, eu acho muitas vezes, pra eles vai faltar sua falta de
vontade, que eles não quer demonstrar pra você.

A manifestação a seguir apresentada ilustra o aspecto persecutório e hostil que o

grupo acredita pautar as relações de trabalho: “Digamos que você entre, consiga entrar, se

você conseguir pegar o serviço rápido, as pessoas que já estão lá dentro há mais tempo,

vai fazer de tudo pra você sair, porque você conseguiu conquistar aquilo rápido na

empresa”.
O grupo deixou transparecer um sentimento raiva que não pode ser expresso, pois

acredita que o mercado de trabalho é conivente com as injustiças: “(...) você é maltratado,

tudo, e você não pode maltratar...”. Essa frase reporta à necessidade da troca de papéis

para um relacionamento mais saudável. Supondo que essa flexibilidade para assumir

diferentes papéis não seja encontrada, ocorre um estancamento do processo de

aprendizagem (PICHON-RIVIÈRE, 1991).

Em seguida, foi abordado o papel do psicólogo no processo seletivo, que seria o

mediador entre a exclusão e a inclusão no mercado de trabalho. Parece ter ocorrido uma

transposição do papel do psicólogo que realiza o processo seletivo para as “psicólogas”

(coordenadora e observadora) presentes no grupo. Naquele momento, as pesquisadoras

representavam o mercado de trabalho, e como que detinham o poder de incluir os

participantes em um “lugar” (ou dele excluí-los) em que almejavam estar.

Os emergentes mais significativos dessa reunião podem ser explicitados em um

conjunto de palavras e expressões utilizadas, tais como:

ƒ ASPECTOS RELATIVOS À INCLUSÃO/EXCLUSÃO:

“atrasar a produção”, “não tava atingindo”,“fazer de tudo para você sair”, “não agüenta,
mais aí você sai”, “dispensou ela”, “eliminado”, “dificilmente você vê uma pessoa da
periferia trabalhar em um banco”.

ƒ - TRABALHO PENOSO E ÁRDUO; RELAÇÕES DE DESIGUAIS E DE EXPLORAÇÃO:


“tem pessoa que não agüenta e pede para sair”, “o gerente joga para o mais fraco os
problemas”, “ser escravizado”, “mesmo se a pessoa pise nele, ele vai agüentar durante
um tempo”, “a culpa sempre cai nas costas do mais fraco”, “não agüentou mais e pediu
as contas”, “um desafio para qualquer um de nós que nasce assim, pobre, conseguir um
emprego formal”.

4.2 ANÁLISE DA SEGUNDA REUNIÃO


O primeiro emergente dessa reunião é O ESPAÇO DO JOVEM NO MERCADO DE

TRABALHO. As discussões demonstraram que as exigências do mercado de trabalho são

incompatíveis com as capacidades de um público que possui pouca experiência. Assim, os

participantes enfatizam a sua falta de experiência, as condições financeiras insuficientes

para se atualizarem e, conseqüentemente, sua fragilidade para concorrer nesse mercado

competitivo. Sendo assim, demonstram implicitamente uma sensação de impotência diante

dessa realidade, e não se colocam no papel de agentes transformadores da realidade. Para

tais jovens, a inclusão profissional está intrinsecamente relacionada à contribuição no

orçamento familiar, mas também implica a inserção social, o sentimento de

“pertencimento” a um mundo que se lhes afigura distante. Tais aspectos podem ser

ilustrados nas seguintes falas:

(...) Hoje o espaço do jovem no mercado de trabalho ainda é muito


pequeno(...).
(...) o mercado de trabalho hoje é uma competição (...).
(...)Tatuapé tem uns playboy, umas patricinhas (...) moleque que era de
São Matheus foi lá, tipo não foi bem vestido (...) Fiquei com o maior ódio,
maior raiva. Maior preconceito.

Ao longo da discussão sobre o assunto, os integrantes do grupo fazem uma

articulação entre a sensação que eles têm de impotência diante do mercado e a competição

com jovens de classes mais favorecidas, o que lhes traz o sentimento de desvantagem,

como se constata na seguinte frase: “(...) o cargo já tá pré-definido. Tem que ser branca,

loira e quase morena não tem espaço no mercado, o negro”. Enfatizando no implícito, o

grupo se projeta no personagem do negro, que representa o excluído.

Esse personagem também é emergente em frases que enfatizam o que aparece na

mídia:
É que nem novela, na televisão, toda vez quem é empregado é pessoa de
cor. Então eles não tão dando oportunidade. É isso que eu vejo um
problema.
Porque a mídia tá fazendo propaganda pro dia das mães, por que não
tem nenhum negro?.
Eu acho que a pessoa negra não tem tanta, como que eu posso falar,
tanta oportunidade que nem as pessoas brancas porque a gente assiste a
novela, vários programas de televisão e eu tava olhando a revista, poxa,
essa revista aqui não tem quase uma pessoa negra. Olha aí, todo branco.
(...) não tá tendo oportunidade de emprego e muitos jovens às vezes até
desistem, vai querer procurar outro caminho pra arrumar dinheiro para
sustentar a família e acaba prejudicando a própria vida dele (...).

A última frase também demonstra o significado de emprego que o trabalho tem

para esse grupo específico, emprego com a conotação de obtenção de algum dinheiro.

Outra frase que explicita esse sentimento é: “(...) Tem como se virar aqui em São Paulo,

pelo menos acho que eu tenho, apesar de São Paulo ser um lugar que tem bastante

periferia, mas é um Estado altamente industrializado”. Essa frase também demonstra a

busca pela sobrevivência no grupo de jovens avaliado.

O entendimento de trabalho como atividade árdua ressurge nesta reunião, quando

o grupo compara o mercado de trabalho a uma “mala pesada” (sic), utilizando essa

metáfora para representar as dificuldades que acredita encontrar, seja a atividade formal ou

informal. Essa mala também tem a conotação de sair de casa, enfrentar os problemas e

vencer as dificuldades.

A utilização de exemplos vinculados a mídia aponta outro emergente, aqui

denominado ACESSO, que tem como conotação a inclusão social. Ao mostrar uma figura

relativa à peça “O Fantasma da Ópera”, Um dos integrantes disse:

Porque não é aberto pra população pobre, né? Precisa demonstrar a


qualidade dela pra pessoas que não podem pagar o alto custo de um
ingresso igual desse daí. Porque não ser feita num Teatro Municipal que
nem o do CEU, e não lá no centro?
Outro integrante relatou:

Teve um (...) no Programa do Pânico, o Clodovil tava fazendo uma peça


de teatro lá, aí nisso eles estavam brincando, aí ele pegou um ingresso e
deu pra um mendigo lá, aí o mendigo ia entrar, deu o ingresso e os caras
não deixaram ele entrar, barraram ele. Só porque ele tava vestido mal.

Pode-se considerar que nesse segundo grupo operativo houve alguma

aprendizagem pois, enquanto na primeira reunião os emergentes eram canalizados com

significados cindidos em situações boas ou ruins, nesta reunião as pesquisadoras

observaram uma transformação das atitudes dos participantes, de algo mais cindido

(primeira reunião) para algo que reconhece a ambigüidade dos sentimentos, conforme as

frases: “ ...Tem os dois lados” e “O lado bom e o lado ruim”.

As afirmativas abaixo revelam os emergentes surgidos na segunda reunião

(exclusão, pressão do ambiente, baixa auto-estima e preconceito racial).

Eu achei que a maioria, ah não sei, eu acho que se identificou assim


porque o negro ele tá no mercado de trabalho só que ele nunca tá em um
cargo assim mais alto, melhor que ganhe mais, ele sempre ta em cargo
que ganha salário mínimo. É como se ele não pudesse crescer, entendeu?
É dificilmente que a gente vê um negro em algum cargo alto de gerência
comandando alguma coisa, dificilmente. Eu acho que foi assim que a
maioria das figuras demonstrou.

Surge novamente o emergente AGRESSIVIDADE CONTIDA, sentimento este que,

como indica a própria expressão, implica estar contido, ou seja, não poder manifestar seus

pensamentos, contestar uma ideologia, o que também desperta a revolta:

E quem não teve oportunidade? Por que não teve oportunidade? Por que
ele não vai ser um bom empresário? Até quando a gente vai ser passivo?
Quem não tem oportunidade vai ficar de braço cruzado? Só quem tem
estudo que é o cara?

Confrontando a manifestação anterior com a frase apresentada a seguir, observa-se

que o grupo parece ser movido por duas forças contraditórias: lutar para mudar algo e/ou

para se incluir na sociedade existente ou aceitar os estereótipos ou rotulações


desqualificadores. “Tem muita gente também que acha que não tem capacidade (...) tem

medo (...) aí nem vai, deixa a oportunidade passar (...)”

Como novo emergente surge o tema LUGAR IDEAL, expresso nas seguintes falas:

(...) a Holanda é o melhor país do mundo. Os alunos vão procurar


emprego o máximo de perguntas que eles fazem era de quanto você
estudou ali na escola. O exemplo é bem, sei lá... três milhões de vezes
mais puxado que os países da América Latina. Lá o estudo pra eles é uma
primeira coisa da vida.
Na França também, com 24 anos eles são considerados jovens, só com 24
anos que ele vão procurar emprego, até os 24 anos é só estudar,
faculdade, cursos esses negócio.

Nesse lugar idealizado, os temas que apresentam maior preocupação e interesse

são aqueles relacionados ao primeiro emprego e à preparação para o mercado de trabalho.

Dentro do contexto grupal, a realidade apresentada no diálogo do lugar idealizado pelo

grupo demonstrou que os participantes gostariam de vivenciar uma realidade na qual

tivessem acesso ao primeiro emprego e também à preparação para o mercado de trabalho

por meio do estudo que, nesse LUGAR IDEAL, é valorizado e estendido a todos. Diante desse

quadro, pode-se realizar uma leitura pautada no distanciamento que tais jovens sentem em

relação à inclusão social. Os LUGARES IDEAIS apontado são geograficamente distantes não

somente desses jovens como do Brasil, ou seja, eles não vislumbram a possibilidade de

experimentar tal realidade no país que habitam. Entretanto, o LUGAR IDEAL não se mostra

de fato como irreal, pois compreende países que existem, embora estejam distantes.

Sendo assim, a realidade construída imaginariamente apresenta claras diferenças

em relação ao lugar que de fato habitam. O grupo deixa claras essas diferenças na seguinte

frase, relacionada à realidade brasileira: “Por que as crianças começam a trabalhar com 7,

6 anos numa lavoura de cana e o que ela pode esperar do futuro delas?”. A análise desses

conteúdos faz pensar em uma contradição, articulando um lugar ideal em confronto com
um lugar real. Indiretamente, parece que os participantes perguntam-se sobre seu próprio

futuro.

Os conteúdos abaixo fazem pensar novamente na dualidade emprego e trabalho.

Inconscientemente, o grupo diferencia trabalho e emprego pois, embora seus integrantes

necessitem de um emprego, na verdade eles gostariam de estar em busca de um trabalho.

Essa dicotomia reflete a dificuldade da possibilidade de escolha, diferentemente do que

ocorre com os jovens de classe média que, graças ao estudo, têm maiores condições de

escolha. Além disso, implicitamente tais jovens sentem-se sabotados pela sociedade pois,

para o grupo, as melhores possibilidades oferecidas pela sociedade em termos de trabalho

estão explicitamente ligadas ao estudo que lhes falta: “primeiro as pessoas precisam do

dinheiro pra se manter, mas se tivesse as informações poderia... não pela sua capacidade,

mas pelas informações que ela teve de estudo...”.

se você quiser alguma coisa você primeiramente você vai ter que ter
conhecimento, informação, que só assim você não vai ter tanta
dificuldade. Eu acho que hoje o que mais exige no mercado de trabalho é
o estudo.

Outra hipótese referente ao inconsciente do grupo está relacionada à interação no

grupo, ou seja, quando os integrantes da pesquisa comentam as dificuldades de acesso à

informação, implicitamente indicam as dificuldade de comunicação no grupo. Ou seja, falta

informação.

Outro emergente relevante é a FAMÍLIA pois, além de se sentirem massacrados pela

sociedade, os jovens integrantes deste estudo carregam consigo o peso/pressão da família,

que pode ser relacionado com algo intragrupal, pois as expressões externas transmitem

sentimentos de inferioridade e de incapacidade de inclusão. Sentindo-se incompreendidos

pelas famílias, o grupo lhes proporciona a sensação de acolhimento, como se constata nas
seguintes manifestações: “Uma das barreiras que você encontra assim é com as famílias.

Muitas vezes os pais ficam falando que você tem que trabalhar (...) até quando eles vão

agüentando você”. “( ...) é nessa idade da vida que a gente tem que pagar o dinheiro que

eles gastaram com a gente”.

A AUTORIDADE é um emergente freqüentemente apresentado nas reuniões. Os

jovens manifestam temor diante da autoridade e transmitem receios e medos. Tais

sentimentos geram um conjunto de emoções como rejeição, exclusão, humilhação e

inferioridade, até mesmo em virtude das fantasias que alimentam com relação a essas

figuras (autoridades). Já no âmbito do grupo os jovens apresentam liberdade de expressão e

companheirismo por aqueles presentes na reunião. Assim como a frase demonstra: “Sei lá,

tenho medo de chegar assim e de ser queimado, algum gerente chegar e falar que eu não

tenho experiência outras coisas também, que impede de eu chegar no gerente e falar, aí

não tem força pra chegar...”

Também sentimentos de ambigüidade em relação ao mercado de trabalho

emergiram no grupo: algumas vezes as manifestações revelavam sentimento de

onipotência, e outras vezes revestiam-se da conotação de impotência, o que pode ser

verificado nas seguintes falas: “(...) os jovens que vão procurar emprego não tem que

temer a nada (...) falar que vai conseguir e conseguir”, ou “ E também vai ter aquelas

pessoas que vão querer puxar também você pra baixo. Própria família: ah pára, você não

vai conseguir”.

4.3 ANÁLISE DA TERCEIRA REUNIÃO

Pode-se identificar, como primeiro emergente dessa reunião, a necessidade de falar

sobre uma sensação que denominaram TIMIDEZ:


Não, tô falando assim, não do nosso grupo, que eu acho que ninguém tem
tanta timidez em falar entre nós aqui, mas tô falando lá prá fora, a gente
vai ter que se esforçar pra perder, principalmente numa vaga de serviço,
vai ser umas coisas que mais vai contar.
(...) nosso vocabulário, digamos, é de um jeito e da outra pessoa é de
outra forma (...) então acho que teria timidez dessa parte, de como se
expressar com ela, qual a melhor maneira de você falar.

Em relação à assim denominada TIMIDEZ, a análise das manifestações revela que,

na realidade, trata-se de um sentimento semelhante à vergonha que têm do vocabulário que

utilizam, revelando também a dificuldade de entrar em contato com a sociedade "externa" à

deles, pois no grupo de iguais não sentem TIMIDEZ; apenas “lá pra fora” (sic) teriam esse

sentimento. Parecem usar inconscientemente a palavra TIMIDEZ para mascarar outro

sentimento mais significativo que pode-se hipotetizar ser o sentimento vergonha.

Outro emergente que vem à tona é o MEDO DE ERRAR, expresso na seguinte frase:

“Não é muito timidez, é medo de errar”. Assim, os integrantes novamente manifestam

sensações de incômodo frente à possibilidade de não se adequarem a um certo padrão (de

comportamento, de atitudes, de linguagem) pertencente a outro grupo social.

Em relação ao emergente GRUPO DE IGUAIS e ao vínculo formado por eles infere-se

que, naquele momento, era-lhes relevante focalizar os aspectos de igualdade existentes no

grupo, fortalecendo os integrantes por meio de processos de identificação, como aparece

nas seguintes falas:“... a gente se conhece mais, tem uma intimidade a mais.”; “Eu prefiro

tá mil vezes nesse grupo do que na minha sala...”; “Eu gostei porque todo mundo fala com

todo mundo. Todo mundo se comunica”.

Em seguida, surgem conteúdos que contradizem as características do GRUPO DE

IGUAIS, como o reconhecimento das diferenças entre os seus integrantes: “Eu acho assim:

diferença todo mundo tem, mas aqui no grupo em si, tipo: 'eu sou melhor que ele', alguma
coisa assim, não tem, acho que não, mas assim: diferenças particulares todo mundo tem

(...)”. Outra frase que também reforça a idéia de contradição do grupo de iguais é a

seguinte: “É, cada um pensa de um jeito, ninguém pensa igual ao outro. Cada um tem a

sua opinião”.

Os participantes também demonstraram aperceber-se do caráter de aprendizagem,

e até mesmo terapêutico, da vivência propiciada pelo grupo operativo:

Eu acho até bom porque às vezes você tá com dúvida numa coisinha em
inclusão e ela pode te ajudar, um sempre ajudando o outro. Sempre aqui
tem uma troca de informações, só você ali não adianta. Eu tava
conversando com meu tio esses dias sobre trabalhar em grupo e ele falou:
'o cara que fica só ele ali, é difícil ele ir pra frente, tem que saber
trabalhar em grupo, ele tem que saber conversar, não é só ele saber,
porque ninguém sabe tudo'. Cada um tem sua potencialidade, você tem a
sua, eu tenho a minha (...).
Eu acho que não tem nenhuma dúvida, acho que todos aqui têm o mesmo
pensamento, que nem ela falou: aqui a gente discute sempre os mesmos
assuntos, eu aprendo um pouco; ela, ele também, cada um
compartilhando os conhecimentos, tendo a vantagem de, como por
exemplo, de conhecer o curso, no começo que abriu o curso lá, não sabia,
praticamente, prá nada, prá que servia, e ele mesmo veio falar que ia ser
durante as aulas, é uma troca de conhecimentos que só vai ajudar a
gente.

Em seguida, emerge a relação entre SELEÇÃO DOS PARTICIPANTES (para a presente

pesquisa) X OPORTUNIDADE. Observa-se aí uma fantasia referente ao critério para a

participação na pesquisa, como se os integrantes da amostra tivessem sido escolhidos por

algum critério importante, o que lhes proporciona uma leve sensação de vitória. De alguma

forma, o fato de participarem do estudo faz com que se sintam incluídos na "sociedade",

pois a coordenadora e a observadora (representantes da "sociedade", na fantasia deles) os

escolheram. Além disso, parece que nelas também foi projetado o mercado de trabalho, que

pode excluir ou incluir os trabalhadores. Assim, justifica-se o comportamento formal que o


grupo manteve frente à coordenadora e à observadora. Essa fantasia é expressa na seguinte

fala:

Eu acho que foi mais que vocês escolheram, porque não teve assim
alguma seleção, esse perfil vai vim. Ou, se teve, vocês não falaram pra
gente. Qual foi a forma que vocês selecionaram aqui no centro, qual foi o
critério de vocês?

Em relação ao emergente OPORTUNIDADE, pode-se articulá-lo com o fato de terem

aceitado participar da investigação, o que demonstra que valorizam da busca de

conhecimento justamente por sentirem dificuldades de se inserir no mercado de trabalho, na

"sociedade". O grupo transpôs, de algum modo, os processos exclusão/inclusão da

"sociedade" para o espaço do grupo operativo, projetando esse poder à coordenadora e à

observadora. Alguns conteúdos revela a necessidade de aprovação de comportamentos e

posturas dos integrantes por parte das pesquisadoras. Simultaneamente, constata-se o medo

da perda de OPORTUNIDADES.

Pra mim tá aqui (...) seria uma troca de experiência, seria um


conhecimento, que a gente já falou aqui, seria isso, materialmente nada,
teria assim, mais conhecimento.
Eu acho que a oportunidade não deve ser deixada passar nunca, porque
depois não vai ter outra chance não.

Aparece novamente o emergente SADOMASOQUISTA observado nas reuniões

anteriores, o que indica que ele é significativo para o grupo estudado. Configura-se, nas

falas dos participantes, o medo de serem ridicularizados pela "sociedade", mais

especificamente nas situações de seleção pelo mercado de trabalho. Isso revela sentimentos

de inferioridade, tanto por habitarem um bairro periférico quanto por apresentarem os

vícios de linguagem característicos da região suburbana. Isso evidencia-se na frase: “Até

agora o que eu tenho medo no mercado de trabalho é que você vai apresentar alguma

coisa e das pessoas dar risada, sei lá”.


No decorrer das discussões ocorreu um insight no grupo, cujas falas, até então,

eram permeadas por diversas fantasias sobre o que encontrariam no mercado de trabalho.

Tal insight pode ser configurado como uma aprendizagem grupal: “(...) A gente pensando

do lado de fora. Porque às vezes a gente fala aqui de uma coisa e fica até pensando,

matutando: ‘será que eu vou encontrar isso lá fora, mesmo’ (...)”. Trata-se de um

questionamento que o grupo faz com suas próprias colocações, que parece lhes fornecer

uma noção mais clara sobre esse desconhecido, o mercado de trabalho.

Em seguida, e ainda focando esse momento grupal de aprendizagem, os

integrantes foram capazes de expressar sentimentos de agressividade até então contidos.

Essa contenção parece decorrente da busca de manter uma postura "adequada" diante da

coordenadora e da observadora, além da dificuldade para lidar com os conteúdos psíquicos

de agressividade e de hostilidade perante esse "desconhecido". Em um momento de "tarefa"

(PICHON-RIVIÈRE, 1991), revelam contato com tais sentimentos: “Eu senti raiva, sim.

Esse negócio de preconceito, exclusão. Senti raiva, não do grupo, mas da conversa, sei

lá...”. E, “É como se tivesse tocando a realidade”.

Surge a valorização das características de um integrante, com menção implícita a

aspectos de liderança, como se verifica a seguir:

(...) às vezes ela fala um negócio que eu tô com dúvida e eu mesmo acabo
esclarecendo (...).
(...) aí muitos tem vergonha de falar e tem gente que nem ela, que gosta
de falar, aí acaba falando e a gente acaba aprendendo (...).

Os integrantes revelam alguma consciência crítica perante diferenças

socioeconômicas, geradoras de injustiça e desigualdade, realizando uma articulação entre a

realidade que vivem e a realidade de países distantes, comparando, por exemplo, Estados

Unidos da América e Iraque. Essas situações aparecem nas seguintes frases: “Porque tem
muita gente ganhando muito enquanto outros estão ganhando pouco...”. Assim como:

“Que nem os Estados Unidos: tem bastante tecnologia, o Iraque já não tem...”

A colocação abaixo indica uma ligação intensa. Verifica-se um elevado nível de

pertença ao grupo. Seria algo compensatório à fragilidade de vínculos com outros grupos?

Nesse grupo, os jovens deixam transparecer que se sentem incluídos, importantes e

atuantes. “Eu acho que a gente aqui é um tipo como se fosse um corpo, cada um é como um

órgão, se um faltar... quase que você não pode sobreviver”.

Referindo-se ao mercado de trabalho, ou seja, a grupos externos ao grupo

operativo, os participantes manifestam, recorrentemente, conteúdos persecutórios:

É um querendo passar por cima do outro


Você encontra poucos que pode confiar.
Daqui a pouco vão te apunhalar pelas costas.
(...) Temos alguma coisa pra sonhar e temos mais que correr atrás
mesmo, levar tapa na cara, vários nãos, mas nunca desistir dos sonhos.

Após os conteúdos persecutórios, depositados em situações externas ao grupo

percebe-se uma certa inversão, ou seja, os conteúdos persecutórios são colocados no

próprio grupo, dirigidos (como possibilidade) à equipe de coordenação:

Um bom exemplo disso daí vocês mesmos podem falar: de vir aqui e ter o
receio de não conseguir o apoio de nós, sei lá (...).
Da gente não demonstrar a nossa vontade, que nem ela falou, conteúdo,
acho que, sei lá, vocês, eu acho, poderiam completar, a palavra receio,
no significado.
(...) Quando vocês vieram fazer o convite para a gente, vocês não ficaram
com receio de ninguém? Tá (...) se disponibilizando, tá participando do
grupo?

Em outro momento da reunião, surge mais um emergente em relação à equipe de

coordenação, pois o tema PSICÓLOGO sempre vem à tona nas falas dos integrantes do grupo.

A leitura que se pode fazer dessa situação é de que o grupo, como anteriormente pontuado,
vê as pesquisadoras como representantes dos processos seletivos. Desse modo, sentem-se

avaliados:

... não tem aquela visão, a Psicologia se flui...ela cai na parte do


emprego, ou seja, o entrevistador, até na área de administração. Então o
pessoal fica: ‘Ah!!! Tá doente!?!’ E não tem aquela visão que seria bom
para nós.
Vocês puderam ter uma visualidade, acho que foi uma atividade para ver
como o grupo se comportava, acho que foi por aí.
Vocês observam o modo da gente se expressar, comportamento.

Emergem conteúdos que expressam um pedido à coordenadora e à observadora:

conhecimentos sobre demandas do mercado de trabalho, critérios de seleção, orientações

sobre como proceder em tais situações, ou seja, conhecimentos que os ajudem a superar

obstáculos para a obtenção de uma colocação profissional. Com relação a esse aspecto,

destaca-se a seguinte fala:

Vocês têm um conhecimento maior e uma visão ampla, e a visão que nós
precisamos de ter certeza, para não ter dificuldade no mercado de
trabalho, o que nós vamos encontrar. Então eu penso que essa e a
diferença que tem, as informações que você tem, você tem mais
informação que nós.

Percebem-se, no implícito grupal, fantasias que os integrantes possuíam sobre a

escolha do local para a realização da pesquisa, que apontavam para uma certa

desqualificação: serem moradores de uma localidade distante do centro urbano, e o baixo

índice de empregabilidade formal da região, emergentes estes vistos nas seguintes frases:

Se você chegou e parou para pensar você deve ter pensado de ir na Zona
Leste, onde o povo tem mais dificuldade.
Pela dificuldade que o jovem do extremo leste.
Eu acho que escolheu este lugar porque é onde tem mais jovens
desempregados, desempregados, assim que não tem carteira assinada.

Observa-se no grupo a presença de estereótipos reforçados pela mídia, que oferece

produtos de consumo mas não fornece alternativas para que essa população adquira tais
produtos, o que faz com que, para a maioria, a obtenção desses produtos seja uma

possibilidade surreal, inatingível. Outro estereótipo que surge é aquele relacionado à

localidade de residência dessa população. Em outras palavras, é como se alguém lhes

dissesse: "se você mora na periferia, você não serve".

Porque, pelo menos eu, todos nós somos da periferia e vê, todos os
jovens passam aperto, onde quer um tênis, camiseta, sei lá, fazer
um cursinho melhor e isso tem que ter dinheiro, para ter dinheiro
tem que trabalhar e você não consegue, trabalho tá difícil, às vezes,
sei lá... Porque você mora na periferia. Os caras têm um emprego e
não vão te dar porque você mora na periferia, e eu fico indignado
com isso, sinto raiva.

A reunião foi finalizada com “silêncio”, diante do qual o grupo demonstrou

bastante desconforto em virtude do surgimento de sensações ou sentimentos como

ansiedade, angústia e medo, que foram expressos pelos participantes. A coordenadora

realizou uma intervenção, comparando o silêncio ao mercado de trabalho, ou seja, o grupo

demonstrou esses sentimentos diante do silêncio porque este representava o desconhecido,

o que estaria por vir. O grupo sente esse desconhecido como algo a temer, não pensa em

fatores positivos. Esse sentimento pode ser traduzido no título de uma música do Grupo

Rappa, que interpreta sentimentos manifestados pela população de baixa renda de São

Paulo: “O Silêncio precede o Esporro” (FALCÃO, 2000). Isso indica que a população

estudada espera hostilidade desse desconhecido que é o universo do trabalho, como

ilustram as frases: “A única coisa que incomoda o grupo é o silêncio”., “Dá uma sensação

estranha” e “Eu fico angustiada”.

4.4 ANÁLISE DA QUARTA REUNIÃO


O primeiro emergente da quarta e última reunião faz referência à ÉTICA. Nota-se

contradição, nos integrantes do grupo, quando relatam que a ÉTICA é o fator mais

importante para ser um bom profissional. E realmente demonstram essa ética nas reuniões,

pela postura frente aos colegas e à equipe de coordenação. Todavia, a contradição aparece

quando comentam a disputa nos processos seletivos, ao compará-los com uma guerra e com

o programa de televisão Big Brother. Estariam eles, implicitamente, referindo-se a um

mundo sem ética, onde o outro passa a ser visto como um inimigo, como em uma guerra?

E, também, a um mundo pautado em avaliação e controle, por "alguém" que nem se sabe

quem é? Entende-se que os participantes trazem, para dentro do grupo, a imagem de que o

mundo é extremamente competitivo, "feroz" até. As seguintes falas são reveladoras desses

conteúdos:

(...) cada um espera a vez do outro se expor e fala educadamente também.


Aí já mostra uma disputa (...) participar de uma seleção e se você se
encaixar na proposta vai, se não (...).
(...) É guerra. È como se fosse um Big Brother, se você for ver assim, é
você querendo comer o outro vivo.

Outro emergente é a sensação de ESTAR FORA DO PADRÃO, com conteúdos

implícitos de competitividade entre os iguais e, novamente, percepções sobre um mundo

cheio de processos de discriminação e de exclusão, um mundo onde não há lugar para

todos: “(...) foi mandando embora quem já tava fora do padrão do que era a empresa lá,

(...) ou é eu ou você (...)”.

Aparece novamente o emergente que revela a formação de vínculo entre os

integrantes, um sentimento de PERTENÇA que foi consolidado. Parece que essa "união", esse

estar com pessoas que vivenciam situações similares, mostra-se ao grupo como uma

espécie de saída para enfrentar o mundo, percebido como ameaçador e hostil.


Mas aqui no grupo tem a verdadeira união, né? Um ajuda o outro.
(...) eu acho que tinha que no grupo em si, a auto-estima é elevada,
mas cada um individual, no seu dia-a-dia, tem dia que a auto-
estima tá lá em cima, e no outro tá lá em baixo. Mas no grupo em si
eu acho que quando a gente se reúne, a auto-estima é lá em cima.

Em seguida, após a coordenadora indagar aos participantes o que ela e a

observadora representavam para o grupo, houve uma sensação de estranheza e de invasão,

expressas nas seguintes falas: “a pergunta foi um pouco profundo...”.. Outra fala que

expressa o sentimento de estranheza em relação à pergunta é: “Eu sabia que uma hora ou

outra ela ia vir e eu acho que a última... era a hora certa de vir...”. Nessa fala, “eu sabia

que uma hora ela ia vir” (sic) refere-se à pergunta, e “eu acho que na última... era a hora

certa de vir...”(sic) indica que a integrante considerou apropriado o momento em que foi

apresentada: na última reunião.

Foi observado o emergente SELEÇÃO, pois implicitamente o conteúdo SELEÇÃO faz

parte do cotidiano dos integrantes do grupo, que vivenciam processos seletivos em diversos

níveis, para adentrar no mercado de trabalho, possivelmente a "porta" para a inclusão

social. Os participantes, ao mesmo tempo em que se identificam com as pesquisadoras

(que, em sua fantasia, já passaram por processos de seleção), demonstram tomá-las como

modelo, uma vez que trabalham, estudam. “Mas tipo (...) vocês foram selecionadas (...) ?”

Outro emergente faz referência à percepção da DIFERENÇA ENTRE CLASSES,

conteúdo este que indica a idéia que o grupo nutre, de descaso das classes favorecidas em

relação às menos favorecidas. Nota-se uma atribuição de responsabilidade às relações

sociais mais amplas, pelos estados psíquicos referentes aos indivíduos, tais como:

sentimentos de inferioridade ou de baixa auto-estima:

.. .às vezes uma pessoa é mais rica que ela e ela se sente diferente,
muitos..., são metidos, nem olha pra você. Aí acho que a pessoa se sente
diferente assim, a auto-estima dessa pessoa, com certeza, você acha que
vai tá lá em cima?
às vezes você tá perto do carro, você olha a pessoa e a pessoa olha... já
demonstra, só naquele olhar, que você vai sentir a diferença. Às vezes ela
tá te esnobando ali, maltratando só pelo olhar. Então a pessoa pode
sentir inferior a ela, diante dela.

Na seqüência da reunião, reincidiu a temática do “silêncio”, configurado

novamente como o desconhecido, o que é explicitado na seguinte fala: “O silêncio, né?...

vai ser como se fosse o seu principal adversário”.

Outro emergente foi expresso na reunião através da frase “se espelhar e tentar

consertar”, quando os integrantes se referiam ao medo de errar. Essa expressão “se

espelhar” (sic) sugere que os participantes estão tentando expressar a necessidade de olhar

mais para si mesmos. Além disso, mostra também o medo do errar, ou seja, os jovens

avaliados estão muito presos a referências externas. Confirma-se aqui a percepção de que

eles necessitam fazer algo para “se arrumarem, se consertarem”.

Queriam se espelhar para “tentar” consertar. O que será que estava quebrado e

teria que ser consertado?

Em seguida, surge outro emergente, relacionado à visão que o grupo tem dos

profissionais que executam a seleção nas empresas:

Pra mim eu acho que é selecionar o indivíduo certo que a empresa gosta,
quem tem o perfil da empresa.
(...) fazer o possível para agradar aquela pessoa que está entrevistando
porque vai depender dessa pessoa pra gente entrar na empresa. Então vai
depender da visão que ela teve da gente pra gente poder entrar na
empresa.

(...) a gente vai ter medo, né? Porque a gente não sabe o que ela vai
pensar, o que ela acha da gente, então (...).

Observa-se, nas manifestações acima, que o grupo, implicitamente, torna-se

passivo nas relações com esse "selecionador desconhecido", colocando-se numa situação de
dependência de terceiros para a inclusão no mercado de trabalho. Não se identifica um

movimento mais ativo que vise a busca de uma transformação social. Em outro aspecto,

pode-se levantar a hipótese de que queriam “agradar” as pesquisadoras pois, como

comentado anteriormente tudo indica que, para eles, essas duas personagens representam os

profissionais avaliadores, com poder de selecionar pessoas para o mercado de trabalho. O

"medo do ataque" (PICHON-RIVIÈRE, 1991) novamente se mostra, ligado à figura desses

profissionais.

No discurso dos integrantes do grupo, nota-se um grande dispêndio de energia

quando discutem a LOCALIDADE QUE HABITAM. Isso pode ser considerado como um

importante emergente pois, em suas falas, sempre vêm à tona: “moramos no extremo leste”

ou “ moramos na periferia” ou “um lugar com grande número de desempregados”.

Percebe-se que uma das justificativas que encontram, para serem excluídos do meio social

mais desenvolvido, está por conta dessa localidade. Também se observa, quando o assunto

surge de modo mais explícito, que contradições afloram no grupo: enquanto alguns

integrantes relatam que gostariam de pertencer à classe média - “Ser classe média, assim,

não querer ser ricão ... morar em um bairro assim ...”, “É, classe média. Que você passa

na rua e não tem ninguém. Todo mundo não ser excluído, né?”, outro integrante intervém

de maneira incisiva, demonstrando descontentamento com os colegas, com a frase:

Eles falaram de ser excluído, acho que pela fala deles ali foi mais de
morar em um lugar, morar, para mim isto não existe, eu acho que eu só
tendo o meu dinheiro ali, e minha própria casa, não importa onde ela
seja. Seja na favela, eu gostando do lugar, pra mim não importa.

A contradição colocada acima surgiu devido à aparição, no grupo, do desejo de

ascensão social: fazer parte da classe média, demonstrando algo sobre as perspectivas de

vida desses adolescentes, o que pouco foi abordado durante as reuniões.


5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao construir as considerações sobre o material recolhido no presente estudo,

buscou-se fazer uma síntese dos emergentes que se apresentaram com maior intensidade e

freqüência durante as quatro reuniões analisadas, promovendo a articulação entre os

conteúdos emergentes e a bibliografia consultada.

Um emergente significativo diz respeito ao significado do TRABALHO para o grupo

avaliado. As manifestações do grupo demonstraram que seus integrantes atribuem

conotações negativas ao TRABALHO, associando-o a tortura e sofrimento, conforme ilustra a

seguinte fala:

Vou falar sobre o meu, o que me chamou atenção primeiro foi o desenho,
eu gosto muito de desenho, e aqui a gente vê um rapaz, como vocês vêem
ele tá saindo de viagem, tá com umas malas na mão, você vê que ele tá
com um pouco de dificuldade e o que eu penso disso é que no mercado de
trabalho a gente vai encontrar muita dificuldade, vai carregar “malas”
pesadas que seriam os problemas, dificuldades e que, independentemente
do seu trabalho sendo formal ou informal, vai chegar a hora, talvez, que
você vai ter que sair, viajar, enfrentar o problema e vencer (Nesse
momento o participante da pesquisa estava ilustrando, através de
figura escolhida, o mercado de trabalho).

De acordo com Albornoz (1994), a conotação negativa da palavra TRABALHO

decorre da própria história da civilização, que fez com que TRABALHO implicasse a perda de

sentido na realização das tarefas, e servisse para realização dos desejos da classe ociosa e

detentora do poder. “O trabalhador vende sua energia, seu tempo, sua capacidade a

outrem” (ALBORNOZ, 1994, p. 36). Essa relação negativa trabalho-realização pessoal foi
observada pelas pesquisadoras nos emergentes PESO E DIFICULDADE, PENOSO E ÁRDUO,

expressos na manifestação acima.

Em contrapartida, os participantes também demonstram valorizar o trabalho pois,

para essa população, o mercado de trabalho é a porta de entrada para a sociedade que os

exclui. Sendo assim, os integrantes do grupo expressam uma preocupação explícita com a

qualificação: procuram cursos e tentam adequar sua postura quando submetidos a processos

seletivos. Essa preocupação torna-se patente quando, discutindo sua participação em

processo seletivo, um dos integrantes do grupo afirma: “não é muito timidez, é medo de

errar” (sic).

Outro aspecto emergente diz respeito à exclusão social, que, no caso em tela, está

intrinsecamente ligada à dificuldade de inserção no mercado de trabalho. As manifestações

dos participantes revelaram: sensação de exclusão devido à localização de suas residências,

ao baixo nível socioeconômico, à dificuldade de acesso a uma educação de maior

qualidade, bem como a possíveis preconceitos (racial, de classe social etc.). Vale lembrar

que, além de atender a necessidades de ordem objetiva, o trabalho reveste-se de um caráter

subjetivo, desempenhando importante papel na estruturação da identidade social

(KRAWULSKI, 1998).

Nessa mesma linha de raciocínio, Fernandes (1999) afirma que, na atualidade, o

trabalho é a atividade social mais valorizada pois é um mediador da identidade, ou seja:

para o indivíduo se inserir na sociedade, é necessário que seja remunerado pela sua

produção. A mensagem implícita na atualidade é: há lugar para todos na sociedade, desde

que trabalhem e cumpram assiduamente seus deveres em suas ocupações. Para o

adolescente a escolha de um trabalho representa a possibilidade de independência e de


aquisição de sua identidade social (LEHMAN, 2001). Tais aspectos são representados, de

algum modo, nas seguintes frases:

Morar na Zona Leste, tipo eu também ser negra, acho que discrimina,
sim.
E também hoje eu reparei um homem no Tatuapé, lá no Tatuapé tem uns
playboy, umas patricinhas assim, acho que um moleque que era de São
Matheus foi lá, tipo não foi bem vestido, assim, teve uns playboy lá que
ficou olhando para o moleque. Fiquei com o maior ódio, maior raiva.
Maior preconceito.

Em relação ao embasamento teórico referente ao aspecto TRABALHO X EMPREGO

pode-se concluir que, para a população estudada, o que prevalece neste momento é o

aspecto EMPREGO, embora Krawulski (1998) postule que TRABALHO é uma atividade que

transforma o meio, e EMPREGO signifique trabalho remunerado, típico, portanto, da lógica

capitalista. Entende-se que esses jovens demonstram acentuada preocupação pela busca de

emprego por uma questão de sobrevivência e de aquisição de produtos de consumo,

colocando menor ênfase em possíveis ações para transformar o meio em que vivem. Essa

assertiva pode ser confirmada nas seguintes frases: “(...) não tá tendo oportunidade de

emprego e muitos jovens até desistem, vai querer procurar outro caminho para arrumar

dinheiro para sustentar a família (...)” e “(...) tem como se virar aqui em São Paulo, pelo

menos eu acho que eu tenho, apesar de São Paulo ser um lugar que tem bastante periferia,

mas é um Estado altamente industrializado”.

Porém, em alguns momentos das reuniões, esses mesmos jovens se revelaram

disposição para atuar como agentes transformadores da realidade, pois, em suas reflexões

quanto ao aspecto sociopolítico de nosso país, demonstraram estar atentos às mudanças

políticas, não se deixando rotular como “figura alienada”, fazendo, com isso, uma reflexão
de contestação a essas injustiças sócio-econômico-político, percebendo a necessidade de se

mobilizarem para a busca de mudanças. Conforme expresso nas frases abaixo:

(...) Antes os governos, pessoas que estavam na mesa achavam que ‘não
vamos dar todas as informações que eles precisam na escola porque eles
só vão viver no mundinho deles, não vão querer crescer, não vão querer
ser ambiciosas’, e hoje a população ta mudando, tá indo atrás de estudo,
ta indo atrás de informação e com isso eles estão vendo que acabou eles
quererem dominar assim as pessoas porque hoje as pessoas tem a
capacidade de ir atrás de alguma coisa, sabe o que ela quer (...). Então se
ela quer trabalhar ela vai atrás desse emprego, por mais que seja difícil
ela vai entrar(...).

A maior dificuldade e com a qualificação profissional porque o


desemprego aumentou(...) aí sim a qualificação profissional fica difícil,
né? Tamos aqui fazendo o curso profissionalizante temos que buscar
sempre mais, não ficar assim, sempre ali.

Ainda focando a subjetividade do trabalho, vale salientar que, de acordo com os

emergentes do grupo, a relação com o outro - aquele que ocupa posição hierárquica

superior, ou seja, as pessoas que representam os agentes da inclusão social desses jovens,

tais como entrevistadores e chefes - foi pautada por conotações como hostilidade,

agressividade e, às vezes, sadismo. Essa imagem sugere a possibilidade de ansiedade

significativa em relação à hierarquia, ao poder do outro que controla, avalia e pode incluir

ou excluir:

(...) a culpa sempre cai nas costas do mais fraco. Meu tio trabalhava
numa firma (...) aí todos os colegas subiam de produção, até o patrão
dele mesmo veio falar por que ele não tava subindo de produção, quem
nem teve um mês que ele foi o destaque da produção da firma, aí ele
mesmo disse que foi de marcação do chefe dele da área tava fazendo com
ele, que sempre pegava no pé dele (...) Até que chegou um mês que ele
não agüentou mais e pediu as contas.

Assim como:

Bom, eu acho que o único sentimento que eu tenho do mercado de


trabalho é o medo na hora da entrevista. Tipo assim: se o cara tá
entrevistando e o cara pergunta, às vezes eu me enrolo todo, não sai a
fala (...).

O grupo demonstrou sentimentos de bem-estar, de acolhimento e de pertença

durante as reuniões. As pesquisadoras atribuem tais manifestações ao fato de a investigação

ter sido facilitada pela instituição, além de os integrantes terem se inscrito voluntariamente.

Deve-se considerar, ainda, que, por se tratar de uma população pertencente ao mesmo

bairro (e, portanto, submetida a uma realidade socioeconômica idêntica ou similar), os

integrantes parecem ter se sentido em um "grupo de iguais", o que facilitou os processos de

identificação entre eles. Do mesmo modo, e corroborando as postulações de Lemos (2000),

a adolescência é caracterizada pela formação de grupos cujos integrantes se identificam

através do próprio estilo, assumindo as normas e regras do conjunto. Essas relações, entre

os integrantes do grupo pesquisado, demonstraram ser de grande valia, fortalecendo-os

quando compartilhavam seus anseios, suas angústias e medos por se sentirem excluídos do

mercado de trabalho. Verifica-se aí uma espécie de "linha divisória", projetando no

mercado de trabalho - realidade ainda razoavelmente desconhecida - sentimentos

ameaçadores, de rejeição - algo como um campo hostil no qual não seriam recebidos de

maneira acolhedora.

De acordo com a análise realizada a partir dos conteúdos expressos por esses

jovens, nas reuniões de grupo operativo podem-se considerar, quanto às relações entre

trabalho e perspectivas de vida em adolescentes da periferia da cidade de São Paulo, os

seguintes aspectos: competitividade, educação (como fator de preparação para a

qualificação profissional); primeiro emprego; exploração; desigualdade; discriminação. Em

linhas gerais, o presente estudo permitiu que as pesquisadoras compreendessem que os

adolescentes que compuseram a amostra sentem-se injustiçados por pertencer a uma classe
de baixo nível socioeconômico, por serem carentes de educação e por terem ciência da falta

de informação e de acesso aos valores da sociedade atual - como vestimenta, produtos de

consumo, cultura, lazer etc. Tais constatações corroboram o entendimento de Matheus

(2002), que constatou que a vestimenta, os produtos de consumo, a cultura e o lazer são

valores hábeis para estabelecer condições de inclusão ou de exclusão social. Por esse

motivo, o processo de busca pela inclusão no mercado de trabalho torna-se árduo e penoso.

O presente estudo também revela a falta de perspectiva dos jovens com relação ao

TRABALHO, ou seja, algo que lhes tenha significado e possibilite gratificação. Enquanto

Pereira (2001), cujo objeto de investigação foram jovens de classe média alta constatou

que, a princípio, estes estão em busca de independência financeira (ou seja, condições para

manter seus gastos, como vestimenta, lazer etc.) mas que, após a conquista dessa

independência, procuram a qualificação profissional, os jovens da presente pesquisa estão

em busca de emprego para sobreviver e ter a oportunidade de consumir bens materiais, o

que os torna mais vulneráveis à exploração.

Quando o tema abordado foi a perspectiva – não de trabalho, mas de vida –,

observou-se que os participantes da pesquisa, neste momento, focam a inserção no mercado

de trabalho, embora haja registros de seus desejos e/ou ambições, tais como comprar uma

casa, mudar de bairro, mudar de classe social e tornarem-se grandes empreendedores.

Que contribuições o psicólogo pode dar no cenário apresentado? Esse profissional

pode – e deve - favorecer a visualização e a conscientização de problemas referentes ao

preconceito, à discriminação e à injustiça social. De modo mais específico, pode propor e

implementar planos de intervenção, por meio da adoção de técnicas grupais - como o grupo

operativo - para trabalhar os emergentes mais significativos em determinados grupos ou


comunidades, tais como aqueles observados no presente estudo: o medo e a ansiedade

diante da busca pela inclusão social através do mercado de trabalho.

Em paralelo, existe a possibilidade de utilizar técnicas de orientação profissional,

compreendendo as seguintes etapas: auto-conhecimento e planejamento de carreira

(estratégias de inserção no mercado de trabalho, tais como pesquisa do mercado de trabalho

e suas possíveis profissões, elaboração do significado do trabalho e busca do mesmo).

De vez que o tema pesquisado é bastante amplo e complexo, novos e mais

aprofundados estudos devem ser implementados, com vistas a orientar as políticas públicas

voltadas à inserção social das populações alijadas da inserção social.


REFERÊNCIAS

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Psicologia Social do Trabalho, São Paulo, v. 2, n. 1, p. 55-59, 1999.

BERGER, P. L.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade. 18. ed. Rio de


Janeiro: Vozes, 1999.

CACCIAMALI, M. C. Transformações nas relações de trabalho e na política pública.


Caderno de Psicologia Social do Trabalho, São Paulo, v. 2, n. 1, p. 60-63, 1999.

CARMO, P. S. A ideologia do trabalho. 8. ed. São Paulo: Moderna, 1996.

FERNANDES, M. I. A. Uma nova ordem: narcisismo expandido e interioridade confiscada


In: FERNANDES, M. I. A.; SCARCELLI, I. R.; COSTA, E. S. (Orgs.). Fim de século:
ainda manicômios? São Paulo: IPUSP, 1999. p. 39-46.

GOMES, C.A. O ingresso do jovem no trabalho. In: _____. O jovem e o desafio do


trabalho. São Paulo: EPU, 1990a. p. 11-18.

GOMES, C.A. Como o jovem brasileiro ingressa no trabalho? In: _____. O jovem e o
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GOMES, C.A. Abordagens teóricas: uma pluralidade de mapas para desvendar a realidade.
In: _____. O jovem e o desafio do trabalho. São Paulo: EPU, 1990c. p. 29-33.

KRAWULSKI, E. A orientação profissional e o significado do trabalho. Revista


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Florianópolis, v. 2, n. 1, p.5-19, 1998.

LEHMAN, Y. P. O processo de orientação profissional como holding na adolescência.


Revista do Laboratório de Estudos sobre o Trabalho e Orientação Profissional, São
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LEMOS, C. C. A adolescência e a escolha profissional. In: _____. Adolescência,


identidade e escolha da profissão no mundo do trabalho atual: um estudo exploratório.
2000. Dissertação (Mestrado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano) -
Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000. p. 5-14.

LEVISKY, D.L. Adolescência: reflexões psicanalíticas. 2. ed. São Paulo: Casa do


Psicólogo, 1998

MATHEUS, C. M, Ideais na adolescência: falta (d)e perspectiva na virada do século. 1.


ed. São Paulo: Annablume, 2002.

MELO, S. M. T. Trabalho: sintoma ou sublimação. 2000. 91 f. Dissertação (Mestrado em


Psicologia) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.

MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8. ed. São


Paulo: Hucitec, 2004.

MOULIN, M. G. B., REIS, C. T., WENICH, G. H. Homens de pedra? Pesquisando o


processo de trabalho e saúde na extração e no beneficiamento do mármore: relato de uma
experiência. Caderno de Psicologia Social do Trabalho, São Paulo, v. 1, n. 1, 1998.

OZELLA S. et al. Adolescências construídas: a visão da psicologia sócio-histórica. São


Paulo: Cortez, 2003.

PEREIRA, M. G. S. O olho do dono engorda o boi: a construção de sentido das relações


de trabalho por adolescentes no mercado profissional. 2001. 165 f. Dissertação (Mestrado
em Psicologia Social) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2001.

PICHON-RIVIÈRE, E. O processo grupal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

SENNETT, R. A corrosão do caráter. 6. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.

SOUZA, C. A. Reflexões sobre o trabalho, identidade e projeto de vida: sua relação com o
processo de orientação profissional. Revista Semestral da Associação Brasileira de
Orientadores Profissionais - ABOP, Porto Alegre, v. 1, n. 1, 1997.

VERARDO, L. H. Desemprego e autogestão. Caderno de Psicologia Social do Trabalho,


São Paulo, v. 2, n. 1, p. 68-72, 1999.

BIBLIOGRAFIA DE APOIO

DEJOURS, C. A loucura do trabalho. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1992.


ANEXOS
ANEXO 01 FICHA DE INSCRIÇÃO

CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES

1. Nome (iniciais):

2. Idade:

3. Grau de escolaridade:

4. Experiência profissional (se possui, em quê):

5. Com quem mora / quantas pessoas:

6. Quantas pessoas trabalham em sua residência / atividade profissional:

7. Tipo de residência: Própria ( ) Alugada ( ) Outros ( ) _____________

8. Renda familiar:
ANEXO 02 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

MODELO PARA O REPRESENTANTE LEGAL


TÍTULO DA PESQUISA: TRABALHO E PERSPECTIVAS DE VIDA: UM ESTUDO COM
ADOLESCENTES DA PERIFERIA DA CIDADE DE SÃO PAULO

Eu, _________________________________________________________________,

_____ anos de idade, portador do RG _______________________________, residente na

_________________________________________________________________________

__, telefone _____________________, e-mail:

______________________________________, abaixo assinado, dou meu consentimento

livre e esclarecido para que ___________________________, (grau de parentesco) possa

participar como voluntário do projeto de pesquisa supracitado, sob responsabilidade das

pesquisadoras

_________________________________________________________________________

_ e ________________________________________, alunas do curso de Psicologia da

Universidade São Judas Tadeu.

Assinando este Termo de Consentimento, estou ciente de que:

O objetivo da pesquisa é compreender a relações entre o universo do trabalho e as


perspectivas de vida na percepção de um grupo de jovens de uma comunidade situada na
periferia da cidade de São Paulo.
Durante o estudo serão realizadas aproximadamente 6 (seis) reuniões, que serão gravadas
em áudio.
Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a minha
participação na referida pesquisa.
Estou livre para interromper a qualquer momento a participação de _______________
(representado) na pesquisa.
Se o voluntário sentir algum incômodo, ansiedade ou reações emocionais, a reunião poderá
ser interrompida até que ele(a) tenha condições de prosseguir. No caso de persistir o mal-
estar, as pesquisadoras poderão realizar encaminhamento para atendimento psicológico no
Centro de Psicologia Aplicada da Universidade São Judas Tadeu.
Meus dados pessoais e os de ________________ (representado) serão mantidos em sigilo e
os resultados gerais obtidos através da pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os
objetivos do trabalho, expostos acima, incluída sua publicação na literatura científica
especializada;
Poderei contatar o comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu para
apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa através do telefone (11) 6099-
1665.
Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Prof.
________________________, sempre que julgar necessário, pelo telefone
________________.
Este termo de Consentimento é feito em duas vias: uma permanecerá em meu poder e a
outra com o pesquisador responsável.

São Paulo, ______ de _______________________de 2006

_________________________________________________
Nome e assinatura do Voluntário e do Representante Legal

_________________________________________________
Nome e assinatura do Pesquisador Responsável pelo Estudo
ANEXO 03 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

MODELO PARA A INSTITUIÇÃO)


TÍTULO DA PESQUISA: TRABALHO E PERSPECTIVAS DE VIDA: UM ESTUDO COM
ADOLESCENTES DA PERIFERIA DA CIDADE DE SÃO PAULO

Eu, _________________________________________________________________,

_____ anos de idade, portador do RG _______________________________, cargo

_________________________, da organização___________________________________,

situada _______________________________________,

telefone_____________________, abaixo assinado, dou o meu consentimento livre e

esclarecido para que o projeto de pesquisa supracitado, sob responsabilidade das

pesquisadoras _______________________________________ e

__________________________________, alunas do Curso de Psicologia da Universidade

São Judas Tadeu, seja efetuado com freqüentadores desta organização.

Assinando este Termo de Consentimento, estou ciente de que:

O objetivo da pesquisa é compreender a relações entre o universo do trabalho e as


perspectivas de vida na percepção de um grupo de jovens de uma comunidade situada na
periferia da cidade de São Paulo.
Durante o estudo serão realizadas aproximadamente 6 (seis) reuniões, que serão gravadas
em áudio.
Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a
participação dos jovens na referida pesquisa;
Os jovens estão livres para interromper a qualquer momento sua participação na pesquisa;
Se sentirem algum incômodo, ansiedade ou reações emocionais, a reunião poderá ser
interrompida até que o mesmo tenha condições de prosseguir. No caso de persistir o mal
estar as pesquisadoras poderão encaminhar para atendimento psicológico no Cento de
Psicologia Aplicada da Universidade São Judas Tadeu
Os dados desta organização serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos através
da pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, expostos acima,
incluída sua publicação na literatura científica especializada;
Poderei contatar o comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu para
apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa através do telefone (11) 6099-
1665. Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Prof.
_______________________, sempre que julgar necessário, pelo telefone ___________
Este termo de Consentimento é feito em duas vias: uma permanecerá em meu poder e a
outra com o pesquisador responsável.

São Paulo, ______ de _______________________de 2006

_________________________________________________
Nome e assinatura do Representante da Instituição

_________________________________________________
Nome e assinatura do Pesquisador Responsável pelo Estudo
ANEXO 04 - SESSÕES DE GRUPO OPERATIVO

PRIMEIRA SESSÃO - 05/10/2006

Entrevistadora - Como vocês percebem as questões do trabalho no mundo atual


(aspectos ligados à inserção, preparação, possibilidades, limitações), e
que relações percebem entre o trabalho e a própria vida, de modo geral?
Sujeito (Homem) - Para você entrar no Mercado de Trabalho tem que ter conhecimento e
idiomas. O Brasil não é muito desenvolvido. Esta diversificado, sempre
pede experiência nem todo jovem tem acesso a estes cursos.
Sujeito (Homem) - Se o cara tem o currículo do Senai já esta dentro da empresa.
Sujeito (Homem) - Tem pessoas que querem ser melhor que vocês. Você tem que ser
razoável.
Sujeito (Homem) - Nós da periferia faz curso para ser funcionário de quem tem poder.
Sujeito (Homem) - Vão encontrar muitas pedras.
Sujeito (Mulher) - Tem que ter força de vontade.
Sujeito (Homem) - Muitos dos nossos colegas chegam no nosso ouvido e diz para sair da
Instituição. Os colegas chega e diz que você é trouxa. Meu to fazendo
um negócio que tô gostando.
Sujeito (Homem) - Eles dizem vai ficar se iludindo.
Sujeito (Homem) - É a escola não dá futuro. Hoje os professores chega e joga lição e você
copia, não explica o porquê. Se eles ta ganhando o dinheiro dele, ele
fica quieto.
Sujeito (Homem) - Ah!!! Como ele teve oportunidade ou por que ele foi atrás ou surgiu,
então não esta nem aí.

Entrevistadora - Entre vocês como é?


Sujeito (Homem) - Vamos entrar como concorrentes um ou dois ou três entram no
aprendiz.
Sujeito (Homem) – Esse procedimento aí, pela idade, é complicado também, porque eu
participei de dois processos. Primeiro antes da votação da JP Morgan,
foi da Johnson & Johnson, quando chegou eu e esse rapaz aqui, o M...
Sujeito (Homem) – E o F.
Sujeito (Homem) – Aí teve, pela idade, constou, porque nós era mais velho, um ano mais
velho, e eles estão dando prioridade pra...
Sujeito (Mulher) – 15 e 16, né?
Sujeito (Homem) – Quem nasceu nos anos 90. Por causa do procedimento estagiário,
porque eles falam que o Aprendiz tendo a mesma idade do estagiário
dá confusão, eu sei que eles estão pegando só estagiários dos anos 90.
Sujeito (Homem) – Aí também vai a questão da idade. No caso dos 17 anos, você tá na
faze do alistamento, principalmente os meninos, começando a fase do
alistamento as empresas não pegam.
Sujeito (Homem) – Que nem a gente pode ver muita discriminação também, só homem foi
aqui, não teve nenhuma mulher.

Entrevistadora – É mesmo?
Sujeito (Homem) – Não, acho que foi falta de oportunidade mesmo ou descriminação,
porque a maioria era homem, acho que tinha uma ou duas mulher só
dentro da sala pra concorrer com todo mundo.
Sujeito (Homem) – Não porque o próprio serviço era mais pra área masculina também.
Sujeito (Homem) – Mas só chamaram uma menina. Era outro procedimento, ela não tava
concorrendo com nós.
Sujeito (Mulher) – Fazer cotonete?
Entrevistadora – E as vagas são mais voltadas pra escritório informatizado, né?
Sujeito (Homem) – É.
Sujeito (Homem) – Só chamou dois do escritório.

Entrevistadora – E se vocês tivessem, por exemplo, conseguido a oportunidade, o que


vocês acham que vocês iam encontrar dentro de uma empresa? Dentro
do mercado de trabalho?
Sujeito (Mulher) – Discriminação.

Entrevistadora – Por quê?


Sujeito (Mulher) – Morar na Zona Leste, tipo eu também ser negra, acho que discrimina,
sim.
Sujeito (Homem) – Eu trabalhei lá no Brás que os donos era Coreano, aí, se eu não me
engano era de fazer aqueles enfeites de mulher,sabe? Com aquelas
pedrinhas? Aí nisso tinha uma escada imensa e eu tinha que levar um
saco de roupa, aí nisso eles chagava o corro com encomenda, aí nós
fomos levar, aí colocou um saco de roupa desse tamanho aqui nas
costas e ia colocar outro e tava dando risada.

Entrevistadora – Eles pegaram um saco grande de roupa e colocaram, mas só que é


pesado, né? O certo era levar um só, aí ele já querendo colocar outro e
dando risada, e ninguém agüentando. Que nem eu, não tava agüentando
muito. E eles colocou mais roupa nesse braço aqui e a escada é grande,
você desequilibra ali...
Sujeito (Homem) – Também vale a questão da postura, também, a empresa: como é que
você vai, sua postura lá dentro da empresa, não ficar brincando, que
nem eu conheço um moleque, ele foi pro Aprendiz, aí entrou dentro do
elevador e começou a dançar no elevador, aí tinha câmera, aí a
câmera pegou, na hora dispensou ele, na hora, na lata.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que tem muita dificuldade por não saber o serviço que você
vai fazer, por outras pessoas terem que estar te ensinando. Então às
vezes as pessoas não teriam paciência de tá te ensinando, se você não
tiver força de vontade, você ir atrás você não iria conseguir não. Eu
acho, que se tivesse dentro do mercado de trabalho
Sujeito (Homem) – Um bom exemplo disso aí... eu já trabalhei de ajudante de torno, de
fazer aquelas peças de torneira, eu era Aprendiz, não sabia nada,
porque tipo assim, pra eu pegar o serviço, até que foi rápido, o dono
mesmo falou, foi caso de uma semana, mas era o irmão dele que fazia
as peças e eu era só ajudante, aí algumas máquinas, primeiro eu
peguei experiência, aí quando foi passando pras outras eu tinha que
perguntar várias vezes, aí foi no caso de ele falar pro irmão dele que
eu tava atrasando o serviço, que ia atrasar a produção, que tinha uma
tanto de quantia de peças pra fazer tudo ali e eu não tava atingindo.
Isso aí, eu acho muitas vezes, pra eles vai faltar sua falta de vontade,
que eles não quer demonstrar pra você.
Sujeito (Mulher) – Digamos que você entre, consiga entrar, se você conseguir pegar o
serviço rápido, as pessoas que já estão lá dentro a mais tempo, vai
fazer de tudo pra você sair, porque você conseguiu conquistar aquilo
rápido na empresa.
Sujeito (Mulher) – Com certeza.
Sujeito (Homem) – Que nem nesse exemplo aí, eu peguei o serviço rápido aí ele começou a
jogar o exemplo do sobrinho dele, tal, pegou o serviço mais rápido,
que não estragava tanta peça, aí chega uma hora que você não
agüenta mais, aí você sai. Fica jogando só na sua cara: “o outro é bem
melhor, o outro faz coisa mais rápido”.
Sujeito (Mulher) – Aí quando você entra numa empresa que você é maltratado, tudo, e
você não pode maltratar a pessoa, debater com ela, você não pode,
porque vai que você entra em outra e essa outra empresa pede uma
carta. O Pio, meu educador, contou uma história pra gente, o patrão
dele só chamava ele de burro, e ele só agüentava, e a vontade dele era
falar um monte pro patrão dele, e ele não falou, aí quando ele foi pra
outra empresa, a empresa pediu uma carta de recomendação da outra
empresa, já pensou se ele tivesse.
Sujeito (Homem) – A Sueli também deu um toque pra nós tipo, uma menina, não sei se foi
uma menina ou menino, foi na empresa, aí ficou esperando na porta da
empresa atender ela, a menina ficou mais de uma hora e meia
esperando, pra ver se a menina ficava nervosa, ficava olhando toda
hora no relógio, e o cara só olhando assim e anotando, pra ver como a
menina ficava, se ela ficava nervosa.
Sujeito (Homem) – Chegou na hora ele dispensou ela, porque a menina ficou afobada, aí o
cara chegou e falou que já tinham conseguido a vaga.
Sujeito (Homem) – Teve um exame com Psicólogo, com a menina, pra prepara pra
entrevista pra entrar pro mercado, mandaram fazer um avião, aí
fizeram o avião, aí mandaram jogar, aí cada um pegou um avião e ela
falou assim “amassa e rasga e faz o que você quiser”, teve uns
espertão que falaram “Ah vou picar”, picou o papel, teve pessoas que
amassaram o papel, né? Aí ela falou: “agora monta o avião de volta”,
os que rasgou, eliminado. Os que amassaram conseguiram montar o
avião de volta e foram selecionados pra fase final.
Sujeito (Mulher) – Aqui no C. tem muito disso, tem muita dinâmica já pra preparar você.
Sujeito (Homem) – Que nem o R. fez esses dias, mandou a gente escrever um sonho num
pedaço de papel que ele deu, amassar...

Entrevistadora – Mas vocês têm mais medo de dinâmica, de vocês passarem, ou vocês
têm mais receio em tá entrando na empresa pra ver como que é o dia a
dia, o que vocês assim, sentem mais frio na barriga?
Sujeito (Homem) – Eu acho que pelo menos no tempo da dinâmica assim você já vai ter
uma consciência, eles estão querendo te dar uma lição ali que você vai
superar lá dentro. Por isso eles passam dinâmica, já é pra te
conscientizar, você vai esperar, tipo...
Sujeito (Mulher) – O que você vai ter lá dentro.
Sujeito (Homem) – A professora na escola falou esse negócio de dinâmica aí, tipo, se a
pessoa for muito tímida no grupo, a pessoa tá eliminada, não falar
nada, se não participar da dinâmica, a professora falou que...

Entrevistadora – E todos acreditam nisso?


Sujeito (Mulher) – Depende. Da empresa de como que é...
Sujeito (Homem) – A empresa procura pessoa assim preparada, com as características
que ela precisa, cada um de nós tem uma característica, né? Não é
porque eu não passei, ele não passou, que a gente não foi bem na
dinâmica, é porque a empresa tava precisando de pessoas com outras
características.
Sujeito (Mulher) – E na maioria das vezes também não é nada disso que ela falou, é como
se comportar na entrevista. Às vezes é muito isso também. Eu já tive
uma orientação sobre se comportar em uma entrevista e coisa que eu
pensava que podia fazer, não pode, porque se não...

Entrevistadora – O que por exemplo?


Sujeito (Mulher) – Entrar com o cabelo solto às vezes, muito brinco, brinco muito grande,
mascando chiclete, não pode falar... porque a mulher do RH de uma
empresa tava contando assim que ela ia fazer uma entrevista com um
rapaz e o rapaz tava comentando dentro do elevador, mas ele não
sabia, comentando dentro do elevador que achava ela chata, que não
gostava dela. Imagina a cara do rapaz quando ele viu que era ela que
ia fazer a entrevista? Aí foi eliminado na hora.
Sujeito (Homem) – Relacionado com isso que ela falou, aqui no C. teve... eu já fiz curso
também no ano passado, tem uma orientação profissional, deste o ano
passado, como ir numa entrevista, aí nós fizemos uma dinâmica como
se fosse uma entrevista mesmo, eu fui no banco, era no Banco Nossa
Caixa, eu olhei a menina tava de brinco, eu imaginei: “pô num banco,
a menina tá de brinco?”, ai eu levei a pensar assim: “dificilmente você
vê uma pessoa da periferia trabalhar no banco, e você quando vê outra
pessoa assim no banco de brinco, é como eu me senti, não dão
prioridade, pessoas da periferia, ali quem mora na Cidade Tiradentes,
Vila Iolanda, pessoal olha como se fosse marginal, não dão
oportunidade principalmente pra aquelas áreas ali.
Sujeito (Mulher) – É porque num banco também, que nem você falou, tem que andar bem
arrumado assim, tudo, tem essa também, tem que andar bem
arrumado, não vai sem...

Entrevistadora – Eu não entendi por causa do brinco....


Sujeito (Homem) – Porque brinco, o brinco que ela usava era muito extravagante. Na área
do banco, se eu não me engano, não pode usar brinco. Já verifique
naquela área, não pode usar brinco e ela usava um brinco na área que
ela trabalhava.
Sujeito (Homem) – Tenho certeza que esse é um desafio pra qualquer um de nós que nasce
assim, pobre, conseguir um emprego formal.
Sujeito (Mulher) – Apesar que aqui no C. nós tivemos a oportunidade de como se manter
em uma seleção, em como se comportar e entre nós e pessoas que não
estão aqui dentro não tem nenhum conhecimento, não faz nenhum
curso, digamos que entre essas duas pessoas, quem seria escolhida
seríamos nós porque nós já tivemos uma visão de como tem que se
comportar nessa área, mas também entra aquilo que ele falou, por
morar na zona leste, periferia, tem toda essa discriminação.
Sujeito (Homem) – Eu também ouço falar que quem aqui faz o curso é indicado pra
trabalhar, chega lá tudo que é problema vai pra cima daquela pessoa.
Tem pessoa que não agüenta e pede pra sair.

Entrevistadora – Como assim “tudo que é problema”?


Sujeito (Homem) – Tipo é aquela que tem o cargo mais frágil. Não é isso que você quer
falar? Porque o construtor, um gerente de produção, é o cara
operador que tem uma quantidade de coisa pra fazer ali, deu um
problema ali, invés de cair a culpa nas costas do gerente, por exemplo,
a culpa é dele, ele vai sempre jogar pro mais fraco, tendo sempre
aquela pessoa pra ele jogar todos os defeitos dele ou da empresa.
Sujeito (Homem) – Às vezes você não tá dando conta de aquele produto, aquele algo, aí
você chega no patrão, ele olha pra sua cara e fala “se vira”.
Sujeito (Mulher) – Mas às vezes isso é também pra testar. Isso daí é pra ver se você quer
mesmo esse trabalho.

Entrevistadora – Vocês concordam com essa idéia?


Sujeito (Homem) – Ser testado tudo bem, mas ser escravizado...
Sujeito (Mulher) – Ah, sei lá, depende da empresa, você vai entrar porque hoje o jovem
não tem oportunidade de entrar no mercado de trabalho, então a
primeira oportunidade que aparece dele trabalhar, ele entra, mesmo
que o salário seja o mínimo, ele vai entrar porque ele tá precisando ele
tem essa necessidade, então o que aparecer ele vai, mesmo se a pessoa
pise nele, ele vai agüentar durante um tempo. Depende muito da
pessoa, depende muito da necessidade dessa pessoa, se ela vai ficar
agüentando desaforo ou não.
Sujeito (Homem) – No Carrefour mesmo, antigamente, não sei esse tempo atual de hoje,
mas antigamente eles pegavam mais o povo nordestino, porque o povo
nordestino vem com vontade de trabalhar e se fosse mandado embora
eles não tinham onde morar, ou seja, então eles trabalhavam, não sei
hoje, mas antigamente, teve uma pesquisa que era assim.
Sujeito (Homem) – Um bom exemplo que ele deu disso daí: a culpa sempre cair nas costas
do mais fraco, meu tio trabalhava numa firma aqui na região de São
Mateus, aí todos os colegas dele subiam de produção e até o patrão
dele mesmo veio falar porque ele não tava subindo de produção, que
nem teve um mês que ele foi o destaque da produção da firma, aí ele
mesmo falou que era de marcação com o chefe dele da área tava
fazendo com ele, que sempre pegava no pé dele, acontecia alguma
coisa nas máquinas que quebrava era ele que fazia, ele que tinha que
arrumar, se a profissão dele mesmo só era fazer aquela quantidade de
peças, não ficar arrumando máquina, essas coisas. Até que chegou um
mês que ele não agüentou mais e pediu a conta.
Sujeito (Homem) – Teve um caso de um colega nosso, chamado L., que ele foi trabalhar,
só que eu não lembro o que ele fazia, era fazer peças?
Sujeito (Homem) – Era vendedor.
Sujeito (Homem) – Aí, sei lá se quem foi o dono lá, mandou ele descascar mexerica.
Sujeito (Homem) – Isso mesmo, descascar mexerica. Aí ele falou que não ia, que o serviço
dele era vender.
Entrevistadora – Totalmente fora, né?
Sujeito (Homem) – Mandava ele limpar chão, tirar pó não sei da onde, daí mesmo ele
largou e depois ele falou pra gente.
Entrevistadora – Vocês estão muito falando de ser pisado, como vocês tinham dito
anteriormente, então na realidade vocês acham que qualquer empresa
que vocês entrariam ou vocês teriam esse fator?
Sujeito (Homem) – Depende. Nem todas.
Sujeito (Homem) – A empresa JP Morgan ela quando ela pega daqui ela tem um processo
bem rigoroso, mas só que pelo que eu vejo, eu não vejo não é um lugar
pra trabalhar assim tranqüilo, pelos meninos que trabalham lá, agora
já não posso falar da Johnson & Johnson que apesar do cargo de nós
fizemos seleção, era Office-boy interno, então era um negócio simples,
só entregar os papel nos departamento.
Sujeito (Homem) – Nós vamos encontrar muita dificuldade no mercado de trabalho.
Sujeito (Homem) – Eu acho que isso que nós tamo falando agora essa é a barreira que nós
tem que superar.
Sujeito (Homem) – É a maior eu acho.

Entrevistadora – Esse é o maior medo que vocês têm, né?


Sujeito (Homem) – É.

Entrevistadora – Não necessariamente vocês vão encontrar isso no caminho, pode ser
que vocês encontrem, pode ser que não.

Sujeito (Homem) – Eu tenho medo de trabalhar algo assim simples, o subordinado chegar
em mim e falar “faça isso” e eu não saber fazer, não dá conta do
recado.
Sujeito (Homem) – Eu no caso já trabalhei num motor de um caminhão novo. O meu
patrão falou assim pra mim: “arruma os bico desse caminhão e coloca
a bomba injetora”, eu nunca tinha colocado uma bomba injetora e ele
saiu pro almoço, só que naquele dia eu tinha tido aula vaga na escola
e eu entrei 11h no serviço.

Entrevistadora – Teve aula vaga e foi entrar mais cedo no serviço.


Sujeito (Homem) – É eu entrei mais cedo, é melhor do que ficar na rua. Não tinha mais
anda pra fazer e ganhava um pouquinho a mais por entrar mais cedo.
Aí deu meio-dia e ele falou: “eu vou almoçar”, aí chegou era 1h, e eu
não tinha Cristo que colocasse essa bomba injetora nesse caminhão, aí
chegou um cara lá que já era bom na prática, eu nunca tinha posto,
era a primeira bomba que eu tava colocando no caminha, chegou um
cara lá e viu que não encaixava e o que ele tinha que fazer? Girar o
motor porque é uma coisinha de nada que se você errar o caminhão já
não funciona e vira um encrenca. Aí ele chegou: “ah, conseguiu por a
bomba” e eu falei: “não, não fui eu que pus, foi ele que me ajudou”,
“põe o M. aqui pra você e você ainda me faz uma coisa dessa?”, falou
um monte, “você me entra meio-dia no serviço, olha que hora que já é
e você não conseguiu por essa bomba ainda?”, entendeu? Falou um
monte lá, aí eu peguei: “ah, tá bom”, e fui desgostando do serviço, eu
tinha a maior vontade de ir pro serviço, aí foi acabando essa vontade.

Entrevistadora – Quanto tempo durou esse desgosto assim?


Sujeito (Homem) – Depois desse fato que aconteceu eu fiquei mais uns 20 dias ainda. Aí
ele gostava muito do meu serviço lá, porque eu sempre fui rápido pra
fazer as coisas, e pegava e fazia, via aquilo derrubado e tentava
levantar, aí teve um ato de novo que ele me chamou pra trabalhar de
novo, precisava montar 2 motores, aí eu peguei e fui, foi quando eu vi
essa ocasião que tava precisando de gente aqui no C., preencher umas
vagas, aí eu peguei e falei: “ah, já tô chateado pelo que aconteceu,
espero não acontecer de novo”, aí eu vim pra cá.

Entrevistadora – Você faz que curso no C.?


Sujeito (Homem) – Inclusão digital.
Sujeito (Homem) – Tem também esse negócio do encarregado, tipo tem uns tipo de pessoa
que é o maior puxa-saco do encarregado, maior puxa-saco, você tá
fazendo um negócio aí se você faz um erro lá, aí fala pro encarregado,
aí o encarregado vai falar pro patrão...
Sujeito (Mulher) – Ah, em todo lugar tem puxa-saco. Dá até raiva.
Sujeito (Homem) – Como assim “puxa-saco”?
Sujeito (Mulher) – Ah, tipo aqui mesmo, depois que a menina soube que ia abrir vaga pro
Aprendiz, ela começou a puxar o saco e um dia o educador se alterou
com a gente tudo e falou umas coisas lá que todo mundo ficou
indignado e ela: “não, ele tá certo porque não sei o que, porque vocês
bagunçam e não sei o que”, aí ela pegou e passou.

Entrevistadora – Bom pessoal, vamos finalizar aqui a primeira reunião, tá porque na


realidade a gente fica preocupado com vocês, já são 8h30, você têm
que ir embora, amanhã é outro dia, sexta-feira ainda. Nós esquecemos
de no contrato avisar que no final dos encontros, no último encontro no
quarto...

SEGUNDA SESSÃO - 10/10/2006

Entrevistadora – Bom, pessoal. Agora a gente vai iniciar a atividade. Eu vou pedir pra
quem gostaria de iniciar explicando... mostrar a figura pro grupo e
explicar o porque que vocês escolheram isso, que sentimentos que te
representam essas figuras. Quem gostaria de iniciar?
Sujeito (Mulher) – Eu começo. Eu escolhi essa figura porque através dela diz... eu quis
passa um pouco o espaço do jovem em relação ao mercado de
trabalho. Eu acho que nós ainda não temos um espaço grande, maior.
Hoje o espaço do jovem no mercado de trabalho ainda é muito
pequeno. Aí podemos ganhar o mercado de trabalho mais pra frente. É
isso.

Entrevistadora – Obrigada. Quem gostaria?


Sujeito (Homem) – Esta daqui são de uma modelo, né? Só que aqui elas é branca. Eu acho
isso um preconceito porque temos aqui loira na revista, não
poderíamos ter uma morena aqui? É que nem novela, na televisão,
toda vez quem é empregado é pessoa de cor. Então eles não tão dando
oportunidade. É isso que eu vejo um problema.

Entrevistadora – Obrigada.
Sujeito (Mulher) – O meu, fala aqui que o mercado de trabalho hoje é uma competição,
que nem um jogo de futebol, e aqui tipo quando você vai fazer uma
entrevista o cargo já ta pré-definido. Tem que ser branca, loira e quase
a morena não tem espaço no mercado, o negro.

Entrevistadora – Obrigada.
Sujeito (Homem) – Essa questão de morena tem a ver também com o mulato. Mulato
antigamente, os portugueses chamavam os negros de mulato porque
era uma coisa a ver com mula. Então quando você fala moreno,
mulato, você ta querendo xingar a pessoa, então você fala negro.

Entrevistadora – Olha, eu não sabia. Obrigada.

Entrevistadora – Quem gostaria?


Sujeito (Homem) – Acho que assim. É uma guerra porque todo mundo ta disputando e
quem ta lá de cima fica só olhando, enquanto todo mundo ta
disputando o dinheiro, ele fica só olhando, ta de boa ali, todo mundo,
os jovens principalmente, fazendo curso, estudando, acabando com a
vida de tanto estudar pra chegar lá e às vezes nem é escolhido pro
cargo. Talvez ele tenha capacidade, mas é que a gente não tava
preparado. Então é uma verdadeira guerra.

Entrevistadora – Mostra a figura sua pros seus colegas. Alguém tem alguma dúvida?
Obrigada J.
Sujeito (Homem) – Aqui fazendo a apresentação, pode às vezes ter pobres trabalhando
nessa empresa, mas pra fazer chegar a apresentação na mídia eles não
dão prioridade, ou seja, só os empresários. Pode ter gente pobre lá
com desempenho bom, mas eles não dão aquela prioridade e a outra
imagem aqui em cima ela divulga uma menina bonita, né? Mas é tanto
também pelos negros que aqui não tem nenhum. Porque a mídia ta
fazendo propaganda pro dia das mães, porque não tem nenhum negro?
Aqui também não tem nenhum.
Entrevistadora – Obrigada, T.
Sujeito (Homem) – Aqui eu to mostrando foto de um jovem, um rapaz aqui trabalhando
numa empresa de automóveis e eu acho que o que também tem que ter
oportunidades pra jovens que depois que termina o ensino médio quer
procurar o seu primeiro emprego e não ta tendo oportunidades de
empregos e muitos jovens às vezes até desistem, vai querer procurar
outro caminho pra arrumar dinheiro, meio de retorno pra sustentar a
família e acaba prejudicando a própria vida dele, vai pro mundo do
crime e não ta tendo muita oportunidade pros jovens.

Entrevistadora – Você colocou duas figuras, né? Mostra pros seus amigos. E esse moço,
o que é?
Sujeito (Homem) – Ah, isso aqui eu acho que ele ta preocupado também com o que ele
deve se apresentar na política. Os políticos se preocupa muito com as
coisas e acaba deixando o pessoal de lado, deixando eles sem
emprego. E é isso só.

Entrevistadora – Obrigada. Alguém quer dizer mais?


Sujeito (Homem) – Não só isso.
Sujeito (Homem) – Eu, tipo assim, nessa figura aqui, como a gente pode ver que o cinema
hoje no mundo é tipo assim, como a gente pode dizer, uma pessoa
chega lá pra enfrentar várias barreiras, e tipo assim, a vitória na
minha imaginação a vitória de um negro. Porque hoje você pode ver
que na maioria dos filmes, só naqueles de guerra mesmo, que você
pode ver que a quantidade deles são negros. E eu pus aqui que eu
penso isso daqui como uma vitória pra raça humana, esse negro.

Entrevistadora – Entendi. E você acha que tem ligação isso com o mercado de trabalho,
que é tão difícil quanto.
Sujeito (Homem) – Isso.

Entrevistadora – Tudo que ele enfrentou a pessoa vai ter que enfrentar no mercado de
trabalho também. Obrigada.
Sujeito (Homem) – Vou falar sobre o meu, o que me chamou atenção primeiro foi o
desenho, eu gosto muito de desenho, e aqui a gente vê um rapaz, como
vocês vêem ele ta saindo de viagem, ta com umas malas na mão, você
vê que ele ta com um pouco de dificuldade e o que eu penso disso é que
no mercado de trabalho a gente vai encontrar muita dificuldade, vai
carregar “malas” pesadas que seriam os problemas, dificuldades e
que independentemente do seu trabalho, sendo formal ou informal, vai
chegar a hora, talvez, que você vai ter que sair, viajar, enfrentar o
problema e vencer.

Entrevistadora – Obrigada M.
Sujeito (Homem) – Essa daqui é a minha, eu penso assim nessa área de trabalho, que as
pessoas negras, que eu acho que as pessoas negras não fariam essa
peça de teatro aqui. E pra não chegar a fazer uma peça de teatro, lá
em cima, essas coisas assim, você tem que lutar muito, superar várias
barreiras pra chegar aqui. E é isso que eu penso.

Entrevistadora – E você viu mais alguma coisa nessa figura?


Sujeito (Homem) – Eu vi aqui que essa seria a peça mais procurada.

Entrevistadora – Entendi.
Sujeito (Homem) – Porque não é aberto pra população pobre, né? Precisa demonstrar a
qualidade dela pra pessoas que não podem pagar o alto custo de um
ingresso igual desse daí. [inaudível] Porque não ser feita num Teatro
Municipal que nem o do CEU e não lá no centro?
Sujeito (Homem) – Teve um... no Programa do Pânico, o Clodovil tava fazendo uma peça
de teatro lá, aí nisso eles estavam brincando, aí ele pegou um ingresso
e deu pra um mendigo lá, aí o mendigo ia entrar, deu o ingresso e os
caras não deixaram ele entrar, barraram ele. Só porque ele tava
vestido mal.

Entrevistadora – Em relação ao símbolo, da pessoa ta assim, tem algum... ou você nem


pensou nisso?
Sujeito (Homem) – Nem pensei nisso. Aqui ta falando do Fantasma da Ópera.

Entrevistadora – Ta ok.
Sujeito (Homem) – Essa figura aqui é de um moço que veio da Bahia e fez só a 8ª série e
ele veio pra São Paulo porque queria arrumar uma profissão boa, mas
só que pelo estudo dele que ele não completou e pela cor dele também,
aí ele resolveu fazer pão, ser padeiro.

Entrevistadora – Mas pela figura ele ta se tornando um vitorioso, né? Ele conseguiu
realizar ou não é isso?
Sujeito (Homem) – Ele conseguiu. Ser padeiro.

Entrevistadora – Mas ele ta realizado ou não.


Sujeito (Homem) – Ta. Ele ficou feliz. Eu li a história dele.

Entrevistadora – Ah, então você leu primeiro e depois falou? Interessante.

Entrevistadora – Todos foram, né?

Entrevistadora – O que vocês acharam de tudo isso que vocês falaram?


Sujeito (Homem) – Também na (??) lá, se a pessoa for negra assim, ela tem 10% na
prova.
Sujeito (Mulher) – Quem estudou em escola pública também.
Sujeito (Homem) – Escola pública também.
Sujeito (Mulher) – Então é um espaço que a população mais pobre ta conseguindo, né? Já
é alguma coisa.
Sujeito (Homem) – Já é um grande passo.
Sujeito (Mulher) – Se eu não me engano é 8% quem é negro e 10% que estudou em escola
pública.
Sujeito (Mulher) – 3% de escola pública.
Sujeito (Homem) – Deveria ter né? Só porque é negro?
Sujeito (Mulher) – Eu acho que já é como se fosse uma discriminação, mas por um lado é
bom porque tem mais chances na prova. Tem os 2 lados.
Sujeito (Homem) – O lado bom e o lado ruim.

Entrevistadora – E isso facilita o mercado de trabalho pra vocês? Como vocês vêem
isso?
Sujeito (Mulher) – Tendo essa chance, tendo essa porcentagem na Etti se facilita? Ah, eu
acho que não facilita porque a pessoa vai ter que fazer a prova do
mesmo jeito. Eu acho que só incentiva mais pessoas negras a tarem
fazendo a prova porque sabe que já vai ter, digamos, um porcentagem
garantida, mas por outro lado é uma discriminação.
Sujeito (Homem) – Se ele passar vai sofrer com o pessoal lá dentro, todo mundo vai falar
que você passou mas que você tinha uma porcentagem, ou você tem
sorte. Vai ter sempre uma pressão em cima dele.
Sujeito (Mulher) – Ele vai ter que ouvir que só passou por causa daquilo, que você teve
aquilo, porque senão...
Sujeito (Homem) – E parece que no ano passado lá tinha um menino que ele era loiro,
alemão, e colocou lá no negócio que ele era descendente pra ganhar o
% da prova lá. Maior injustiça isso daí.
(Risos)

Entrevistadora – O que mais que vocês viram de interessante que a gente discutiu sobre
as figuras no mercado de trabalho.
Sujeito (Homem) – Eu acho que a pessoa negra não tem tanta, como que eu posso falar,
tanta oportunidade que nem as pessoas brancas porque a gente assiste
a novela, vários programas de televisão e eu tava olhando a revista,
poxa, essa revista aqui não tem quase uma pessoa negra. Olha aí, todo
branco.

Entrevistadora – E vocês como jovens, você acham que vocês têm bastante
oportunidade? Como que é isso pra vocês?
Sujeito (Homem) – Eu acho que a gente ta tendo sim como assim com cursos, entendeu?
Assim, cursos a gente ta tendo, agora pra serviço ta complicado.
Sujeito (Homem) – A escola estadual não ta tendo um ensino bom. Pra quem tem
possibilidade de fazer uma escola melhor assim, seja privada,
particular.
Sujeito (Homem) – Muitas das vezes eles jogam na sua cara, tipo assim, se você precisar
de alguma coisa, que você corre atrás, porque tem uns professores que
chegam na sala, vê que ele não ta conseguindo dar aula aí pega, senta
lá: “faz o que vocês quiserem da aula aí’, aí ele marca uma prova você
ta em cima, aí ele pega e vai jogar na sua cara: “aquele dia eu quis
explicar a matéria e ninguém prestou atenção”, mas se eu for ver do
outro lado, nem todos tavam bagunçando, pelo menos eu acho que ele
tem que ter o bom senso e ver ali e analisar certo e depois dar a
explicação.
Sujeito (Homem) – E também hoje eu reparei num homem no Tatuapé, lá no Tatuapé tem
uns playboy, umas patricinhas assim, acho que um moleque que era de
São Matheus foi lá, tipo não foi bem vestido assim, teve uns playboy lá
que ficou olhando pro moleque. Fiquei com o maior ódio, maior raiva.
Maior preconceito.

Entrevistadora – Vocês acharam mais alguma cosia interessante? Por Exemplo “ah me
identifiquei com o que meu colega X falou”. Porque cada um falou de
um sentimento, né? Vocês se identificaram com algum sentimento do
colega de vocês, vocês gostariam de colocar mais algum sentimentos?
Sujeito (Mulher) – Eu achei que a maioria, ah não sei, eu acho que se identificou assim
porque o negro ele ta no mercado de trabalho só que ele nunca ta em
um cargo assim mais alto, melhor que ganhe mais, ele sempre ta em
cargo que ganha salário mínimo. É como se ele não pudesse crescer,
entendeu? É dificilmente que a gente vê um negro em algum cargo alto
de gerência comandando alguma coisa, dificilmente. Eu acho que foi
assim que a maioria das figuras demonstrou.
Sujeito (Homem) – A gente não pode deixar essa questão assim... deixar envolver a nossa
cabeça só porque tem essas questões que a gente comenta que a gente
não vai conseguir, né? Só porque tem essa dificuldade ou tem aquela,
não vai desistir, vamos tentar dá o máximo, tentando porque pelo
menos aqui em São Paulo, eu acho, cada um pode ganhar seu dinheiro
sem fazer coisa errada, né? Cada um pode tentar fazer outra coisa,
vender, sei lá, sem entrar na vida do crime, sem usar drogas, esses
negócios errados. Tem como se virar aqui em São Paulo, pelo menos
eu acho que eu tenho, apesar de São Paulo ser lugar que tem bastante
periferia, mas é um estado altamente industrializado.
Sujeito (Mulher) – Que já vê a questão do empreendedorismo, né? Se você tiver
empreendedorismo eu acho que você vence na vida.
Entrevistadora - E o que vocês acham?
Sujeito (Homem) – E quem não teve oportunidade? Por que não teve oportunidade? Por
que ele não vai ser um bom empresário? Até quando a gente vai ser
passivo? Quem não tem oportunidade vai ficar de braço cruzado? Só
quem tem estudo que é o cara?
Sujeito (Mulher) – Que nem tem a história de um homem que ele tava sem nada pra comer
e ele foi num bar e eu acho que deu cinco reais pra ele que a mulher
dele tava doente, pra ele comprar remédio pra mulher dele. Só que daí
não. Ele viu um saquinho de bala e comprou e vendeu. E nisso ele viu
que deu dez reais, que foi multiplicando. Aí ele comprou mais dois e foi
vendendo e hoje ele é o primeiro lugar no negócio de bala, maior
produtor no país é ele. O cara teve empreendedorismo pra caramba.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que ele aprendeu com as dificuldades que ele teve. Ele sabe
que pela dificuldade que ele passou ele tinha noção, então pra não
ocorrer o que já tava acontecendo no futuro, ele preferiu investir e é
uma boa, mesmo que ele não tivesse estudo, mas ele teve a noção que é
a situação que ele tava, soube melhorar.
Sujeito (Homem) – Que nem o M. falou, tipo assim, você tem um sonho e você não vai
conseguir, mas é só por causa dessa resistência que teve que você não
vai... nada vai te impedir de você conseguir realizar outra coisa. se
você tiver vontade você pode fazer várias coisas mais ainda que você
tinha desejado, sendo sei lá... tendo coragem, vontade e sempre com
aquele pensamento que “eu vou vencer e nada vai me parar”.
Sujeito (Homem) – Tem muita gente também que acha que não tem capacidade pra passar
numa prova, prestar algum vestibular e passar, tem medo de passar...
aí nem vai, deixa as oportunidades passar e fica ali esperando a vida,
vai pensando que o emprego vai bater na porta dele e acaba se
prejudicando, tendo mais problema. Igual o colega hoje ele tava
falando que tava quase deprimido, a mãe dele falava pra ele “vai
trabalhar, vai trabalhar” aí ele tava com a maior raiva, já queria... era
perigoso até ele sei lá... aí ele falou pra mim que tinha que arrumar um
emprego de todo jeito porque não tava dando. Então hoje tá difícil
também pra quem não corre atrás.
Sujeito (Mulher) – Se já tá difícil pra quem corre atrás, pra quem não corre...

Entrevistadora – Quais são as dificuldades que vocês acham que vocês vão encontrar?
Sujeito (Mulher) – Eu acho que experiência. Sempre estão pedindo experiência. Então eu
acho que essa é a dificuldade que o jovem já tá encontrando. Como
que a gente vai entrar no mercado de trabalho, como que a gente vai
entrar no mercado de trabalho, ter o nosso primeiro emprego sendo
que eles exigem experiência. Se a gente nunca trabalhou como que a
gente vai ter experiência?
Sujeito (Homem) – Eles contam experiência como estudo. Sei lá os outros países
industrializados, um bom exemplo mesmo é a Holanda: é o melhor país
do mundo. Os alunos vão procurar emprego o máximo de perguntas
que eles fazem era de quanto você estudou ali na escola. O exemplo é
bem, sei lá... três milhões de vezes mais puxado que os países da
América Latina. Lá o estudo pra eles é uma primeira coisa da vida.
Sujeito (Homem) – Na França também, com 24 anos eles são considerados jovens, só com
24 anos que ele vão procurar emprego, até os 24 anos é só estudar,
faculdade, cursos esses negócios.
Sujeito (Homem) – Porque as crianças começam a trabalhar com 7, 6 anos numa lavoura
de cana e o que pode esperar do futuro delas?
Sujeito (Mulher) – Eu acho que esse exemplo que eles deram muito bom, porque primeiro
a gente tem informação pra depois conseguir um trabalho, uma coisa
assim. Então através da informação a gente vai conseguir o dinheiro, e
aqui é ao contrário, primeiro as pessoas precisam do dinheiro pra se
manter, mas se tivesse as informações poderia... não pela sua
capacidade, mas pelas informações que ela teve de estudo, de tudo ela
seria mais qualificada pro mercado de trabalho, não precisaria desde
pequena ir atrás de dinheiro de algum serviço. Então eu acho que a
informação vem em primeiro lugar só que no nosso país não é assim.
Sujeito (Homem) – E como eles estão pedindo com experiência, ele estão pagando pouco,
se tão pagando pouco pra quem tem experiência, e pra quem não tem
experiência, pra quem não estudou.
Sujeito (Mulher) – Eles nem contrata.

Entrevistadora – Mas algum medo, mais alguma dificuldade que vocês acham que vão
encontrar?
Sujeito (Homem) – O maior de todos eu acho que,na mina visão, é o estudo. Porque que
nem ela falou ali: se você quiser alguma coisa você primeiramente
você vai ter que ter conhecimento, informação, que só assim você não
vai ter tanta dificuldade. Eu acho que hoje o que mais exige no
mercado de trabalho é o estudo.

Entrevistadora – O que vocês acham disso que o colega de vocês falou.


Sujeito (Homem) – É, porque a população do Brasil muitas vezes olha assim repara e
pensa que o mundo vai se adaptar entre nós, mas nós que temos que
nos adaptar entre o mundo.
Sujeito (Mulher) – Eu concordo com o que eles falaram. Depois eu falo, deixa eu pensar o
que eu vou falar pra depois falar, tá bom?

Entrevistadora – Vocês acham que vocês vão encontrar mais alguma outra dificuldade?
Sujeito (Mulher) – Preconceito: raça, cor. Ser pobre, zona leste.
Sujeito (Mulher) – Em relação ao que ele falou. Antes os governos, pessoas que estavam
na mesa achavam que “não vamos dar todas as informações que eles
precisam na escola porque eles só vão viver no mundinho deles, não
vão querer crescer, não vão querer ser ambiciosas”, e hoje a
população tá mudando, tá indo atrás de estudo, tá indo atrás de
informação e com isso eles tão vendo que acabou eles quererem
dominar assim as pessoas porque hoje as pessoas tem a capacidade de
ir atrás de alguma coisa, sabe o que ela quer. Então se ela quer. Então
se ela quer trabalhar ela vai atrás desse emprego, por mais que seja
difícil ela vai entrar, até ela conseguir alguma coisa.
Sujeito (Homem) – A maior dificuldade é com a qualificação profissional porque o
desemprego aumentou com os jovens procurando serviço, aí sem a
qualificação profissional fica difícil, né? Tamos aqui fazendo o curso
profissionalizante temos que buscar sempre mais, não ficar assim,
sempre ali.
Sujeito (Homem) – O exemplo disso são os pessoais do nordeste que vem pra São Paulo
em busca de uma vida melhor: “ah, vou pra lá vou conseguir tal
coisa”, mas ela só vai ver a realidade mesmo quando ela chega aqui.
Ela vai procurar emprego pede estudo, ela não tem, vai procurar
outro, pede curso, ela não tem, faculdade essas coisas, daí chega a
hora do governo tomar consciência, sei lá... dar mais oportunidade
assim de cursos que o CPA promove. Porque você não vai sair daqui
pronto, mas vai saber das barreiras que você vai enfrentar lá fora.

Entrevistadora – Como que vocês se sentem com essa realidade? Como jovens? Como
vocês olham essa realidade, como que vocês sentem... assim... nesse
meio?
Sujeito (Mulher) – Eu acho muito ruim, porque o jovem hoje tá em busca de algo melhor
pra si mesmo. Então ele vai atrás disso e não consegue, então por mais
que ele persista, isso uma hora vai desanimar ele: “tô lutando tanto e
não consigo isso, por que?”, mesmo que ele tem alguns cursos, sempre
vai ter alguém na frente dele que vai ter alguma coisa a mais que ele,
entoa ele sempre vai ter que tá correndo atrás de uma pessoa, sempre
ter os cursos que essa pessoa tem, aqueles cursos qualificantes que a
outra pessoa também tem, pra ele alcançar algum lugar no mercado de
trabalho.
Sujeito (Mulher) – E também vai ter aquelas pessoas que vão querer puxar também você
pra baixo. Própria família: “ah pára, você não vai conseguir”, que
nem eu falo pra minha mãe que eu quero fazer faculdade de
veterinária, às vezes nem ela mesmo acredita que eu vou conseguir.
Sujeito (Homem) – Também eu acho que a área de trabalho tá sendo muito guiado pela
tecnologia, mas pra fazer carro não era tudo aqueles robôs lá pra
fazer, agora não tem todas essas máquina que fazem mais rápido, mais
carro que antigamente.
Sujeito (Homem) – Exemplo do cobrador que esse negócio da máquina do bilhete, eles
queriam tirar os cobradores, não precisava mais, aí lutaram até
conseguir o emprego de volta.
Sujeito (Homem) – Eu acho que aí vai ter mais vaga pro desemprego, mais gente
desempregada.
Sujeito (Homem) – O que eles visam é apenas o lucro, né? As vantagens.
Sujeito (Homem) – Eu acho que em todos os setores, né? Os trabalhador tem de fazer isso,
tem de lutar pelo seu espaço. Assim, a máquina pode até ajudar, mas aí
tem a coisa de...
Sujeito (Homem) – Além da máquina tirar trabalho de dez pessoas, eles ainda procuram
disponibilizar menos trabalho pro pessoal, por exemplo, teve uma
firma que as máquina eram viradas pra lá e pra lá, 2 lados, 2 lados,
eles viraram pra frente, mandaram 2 embora, então com esse
procedimento fica difícil pra nós serviço, sem ainda com a qualificação
profissional ou estudo, porque pra quem pega lixo na rua tem que ter
estudo, e pra quem trabalha de faxineiro no aeroporto ou na estação
de trem, de metrô, tem que ter o estudo e curso de inglês, aí muitos
jovens ainda não procura isso, então dificulta.
Sujeito (Homem) – Essa também é outra realidade que a gente vive lá fora, pra ir atrás do
primeiro emprego sem sinal algum. Procurar emprego a realidade é
outra. Tipo dá um medo de chegar assim e chegar assim pro gerente,
pro encarregado e falar que quer o emprego. Tipo a mente parece que
pára, fica com medo de falar alguma coisa de te barrar assim na frente
de algum técnico, e às vezes também a gente acaba não tendo força pra
chegar em qualquer empresa, uma empresa grande, uma fábrica, pra
chegar assim e falar pro gerente com medo dele tipo pedir alguma
experiência pra você e você não tiver, às vezes vem esse medo na
gente.
Sujeito (Homem) – Tipo, na minha opinião, os jovens que voa procurar emprego não tem
que temer a nada, tema que ta com a auto estima lá em cima. Falar
que vai conseguir e conseguir. Não ficar com medo.
Sujeito (Mulher) – Mas tem gente, né?
Sujeito (Homem) – Tem uns que não é assim.
Sujeito (Homem) – Quando você ganhar o seu emprego, tem gente que também perdeu.
Talvez tá precisando mais que você.
Sujeito (Mulher) – É.
Sujeito (Homem) – É aquela coisa: todo mundo é individualista, cada um por si.
Sujeito (Homem) – É. Tem isso mesmo na área de trabalho, sim.
Sujeito (Homem) – Tem aqueles que vão puxar o saco do patrão, aqueles que vão querem
se esforçar mais que você ali, vai te derrubar, só pro outro vê que ele
tá trabalhando mais, nem sempre é assim, acho que você tem a fazer a
sua parte e deixar ele com a dele lá e mostrar os eu serviço, por você
mesmo. Que nem ele falou: hoje tem individualismo. Você entra numa
firma você não pode confiar em ninguém, ás vezes você vai confiar
naquele dali e aquele dali lá na frente vai te derrubar.
Sujeito (Mulher) – No próprio meio assim acontece isso. Na própria escola, em qualquer
lugar tem essas pessoas que vai querer te derrubar.
Sujeito (Homem) – Meu pai trabalhava com uma empresa de ônibus tinha um colega dele
que tava sempre precisando de ajuda, meu pai falou pro cara na firma,
só que meu pai era empregado também que dirigia o ônibus, e o cara
nem tinha experiência com ônibus e meu pai como tinha muita amizade
com o rapaz, falou assim: “eu te ponho lá dentro”, aí meu pai chegou
no cara: “olha, tem um rapaz aí que ele é bom, motorista bom e tá
precisando de serviço”, aí o cara falou: “trás ele pra fazer um teste
aqui”, aí meu pai levou ele e ele falou assim “sai você na rua com ele
pra fazer o teste”, aí meu pai deu uma volta com ele e falou “o rapaz é
bom”, meu pai tinha muita amizade, meu pai levava as crianças dele
pra sair, brincar, amizade mesmo, aí só que meu pai saía com o
ônibus, ia na casa do meu tio, só que ele tirava o tacógrafo porque ele
sempre marca. Só que esse cara sempre ficava sabendo de tudo que
meu pai fazia porque era muito amigo do meu pai, chegou um dia o
dono da firma chamou meu pai “você tá saindo com o ônibus?” meu
pai “por que?”, “porque eu tava falando com essa pessoa e ela falou
pra mim que você fica passeando com o ônibus”, meu pai “eu não
acredito numa cosia dessa”, “é”, “sem problema nenhum me dá minha
contas”, “não, não é assim”, “não, não quero saber pode dar as
minhas contas” aí meu pai saiu da empresa, só que o cara também foi
pra rua. Acabou os dois perdendo o emprego. Meu pais saiu porque ele
quis, até o cara pediu “volta pra empresa”, e o meu pai “não, não
quero”.

Entrevistadora – Mas vocês acham que vocês vão ter mais dificuldade pra entrar no
mercado de trabalho ou pra tá lá dentro. Porque pelo que vocês estão
falando aqui, vocês falam muito das dificuldades de entrar no mercado
e outra metade da sala fala um pouco das dificuldades de permanecer
no mercado.
Sujeito (Homem) – Quando a gente tá dentro muitas pessoas vão querer jogar tudo na
nossa mão: “ah se vira”, você vai ter que ter um pavio longo, não um
pavio curto.
Sujeito (Homem) – Tem muita gente que é ruim e outras não, né? Um exemplo que ele deu
no primeiro serviço seu, não foi? O cara largou lá com ele, deixou o
negócio lá e falou: “se vira”, e quando ele chegou lá aí o cara tipo,
rebaixou ele.
Sujeito (Mulher) – Na minha visão, eu acho que vai ser mais difícil pra gente entrar no
mercado de trabalho, pra gente conseguirmos entrar, pra se manter eu
acho que vai ser difícil, mas você já vai ter aquela mente: “ah, eu lutei
tanto pra tá aqui então eu não vou sair”, por mais que estejam jogando
tudo nas suas costas, você sempre vai tentar encontrar um meio pra se
desviar e conseguir sempre o melhor.
Sujeito (Homem) – Se o cara for cabeça ele consegue relevar tudo e quando ele vê ele tá
numa boa. Quando ele vê já comprou roupa pra ele, comprou uma
moto pra ele, tá pagando prestação, entendeu? Ele tem que ir
agüentando, entendeu? Tem que tentar agüentar a pressão, tem muitos
que não agüentam, mas tem que fazer por onde agüentar.
Sujeito (Homem) – Se o cara precisa...
Sujeito (Homem) – Que nem meu pai tipo assim, trabalha no supermercado, teve uma vez
que o dono do mercado começou a entrar em dívida, então deu um
mês, não tinha nem aberto o mercado direito, o cara já queria fechar,
aí meu pai: “não, não vamo tem muito empregado que nem eu nessa
situação, tem que pagar conta”, aí foi indo, agüentou dois, três meses
aí o cara fechou e ele conseguiu pagar metade das contas dele, aí ele
voltou de novo e conseguiu se levantar, sei lá... sempre dentro dos
maiores problemas, naquele pedaço de espaço, ele pode ta a solução.
Sujeito (Mulher) – Acho que vai da necessidade da pessoa.

Entrevistadora – Em relação ao mercado de trabalho, qual é a dificuldade, maior


dificuldade? Vocês falaram da dificuldade de qualificação, vocês
falaram de dificuldade em relação ao estudo, né? Mas qual é a maior
dificuldade? Acho que o M. também disse da dificuldade em relação ao
medo, né?
Sujeito (Mulher) – Eu acho que é a timidez.
Sujeito (Homem) – Sei lá, tenho medo de chegar assim e de ser queimado, algum gerente
chegar e falar que eu não tenho experiência outras coisas também, que
impede de eu chegar no gerente e falar, aí não tem força pra chegar...
Sujeito (Homem) – Tem que olhar olho no olho dele. Tem gente que é tímido e fala
olhando pra baixo.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que é a timidez. Acho que o maior medo assim é a timidez.
Sujeito (Homem) – Em empresas grandes, essas coisas assim.
Sujeito (Homem) – Tem bastante medo de como que ele vai te tratar.
Sujeito (Mulher) – Como você vai agir.
Sujeito (Homem) – Às vezes a pessoa pode ter uma qualificação profissional boa, sendo
criativo, mas sem experiência aí fica... você pode se sentir inseguro.
Sujeito (Homem) – Insegurança, né? Falta de segurança em si. E diante dos outros
olhando assim que os outros podem ter experiência, então aí que vem o
medo também. Aí que dá um medo, porque olhar pro lado e ver que o
pessoal conhece e a pessoa pode ter conhecimento, mas só que os
outros pode ter experiência, a pessoa se sente com medo.
Entrevistadora – Medo das outras pessoas? É isso?
Sujeito (Homem) – É, porque os outros também pode ter experiência e aquele que não tem,
se ele sentir que os outros tem experiência, pode se sentir
amedrontado.

Entrevistadora – O que mais vocês acham que vão encontrar pela frente?
Sujeito (Homem) – Uma das barreiras que você encontra assim é com as famílias. Muitas
vezes os pais ficam falando que você tem que trabalhar, aí você vai e
não consegue aí vai passando um tempo e eles vão jogando cada vez
mais na sua cara, porque você tem que ajudar em alguma coisa, tem
que ajudar na despesa de casa, as coisas estão apertando aí muitas
vezes assim é que alguns jovens entram pro crime, esses negócios. Não
consegue aí volta, vai passando um tempo cada vez mais os seus pais
ficam jogando na sua cara que você não faz nada, nem curso você não
faz, não corre atrás de nada, até quando eles vão agüentando você.
Sujeito (Mulher) – Que nem meu pai fala: é nessa idade da vida que a gente tem que
pagar o dinheiro que eles gastaram com a gente.
Sujeito (Homem) – Muitos pais mandam criança pequena pedir dinheiro no farol.
Sujeito (Mulher) – Isso daí eu acho muito errado, eu pelo menos não dou dinheiro.
Sujeito (Homem) – Tem uma música de RAP, eu não lembro qual, que a mãe manda ele no
farol e aí ele chega em casa e não conseguiu o dinheiro no farol, aí a
mãe dele: “você tá mentindo” e começou a bater nele. Só que eu não
lembro o nome da música.
Sujeito (Homem) – Também a hora que você entra na empresa, vai lá e o cara manda você
fazer um teste, dá o maior medo na hora do teste. Você vai fazer lá a
entrevista, depois você vai fazer o teste. Se é a sua primeira semana de
teste, manda você lavar banheiro, limpar chão, fazer não sei outra
coisa aí. Você pode ver que muitas pessoas desiste no seu primeiro
mês, de tanta pressão que ela leva. Manda limpar chão, banheiro, tirar
o pó não sei da onde, daí...
Sujeito (Homem) – Eu acho que também é uma coisa que eu acho que é sorte, a pessoa
tipo arrumar. Tem gente que às vezes não tem muita experiência e
acaba indo com força de vontade mesmo, e acaba achando dei lá...
acho que o patrão vê a força de vontade que ele tem e já coloca ele lá,
vê que ele tem uma atitude. Muitas vezes é sorte mesmo. Nem precisa
ter experiência.
Sujeito (Homem) – Meu primo começou trabalhando na fábrica de junta, fabriquinha,
sabe? Fazendo junta só que o patrão dele viu que ele tinha um
desempenho bom, o que ele fez? Começou a bancar uns cursos pra ele,
hoje meu primo tem uma salinha reservada pra ele, ele só fica
desenhando no computador e depois manda os caras fazer.
Sujeito (Mulher) – O que é junta?
Sujeito (Homem) – Junta? Por exemplo, um carro, o fechamento do motor vai. Aí piorou a
situação né?
Sujeito (Mulher) – Hãhã.
(Risos)
Sujeito (Homem) – Vocês não devem saber o que é junta não, né?
Sujeito (Mulher) – É uma coisa de carro, né?
Sujeito (Homem) – É.
Sujeito (Mulher) – Então tá bom. Eu vou acreditar.
(Risos)
Sujeito (Homem) – É tipo uma folha assim.
Sujeito (Homem) – É o vedador.
Sujeito (Homem) – É. Passa cola lá e vai...
Sujeito (Homem) – Tipo uma borracha que veda, entendeu? É que é complicado... e é tão
simples.

Entrevistadora – O que mais vocês gostariam de falar sobre esses sentimentos que vocês
têm em relação à atividade? Vocês acham que ficou faltando alguma
coisa? alguma dificuldade que vocês acham que vão enfrentar alguma
possibilidade?
Sujeito (Homem) – Por exemplo, se você quiser abrir um negócio, eu acho que você vai ter
uma dificuldade pra abrir esse negócio. Que nem meu primo teve
dificuldade pra abrir uma lan house. Ele teve que pedir autorização
pra abrir lá em Brasília, uma cosia assim, ele teve muita dificuldade.
Sujeito (Mulher) – Mas hoje em dia você tem vários cursos pela internet mesmo. Você faz
um curso sobre empreendedorismo, a SEBRAE também fornece cursos
gratuitos pra fazer sobre empreendedorismo.
Sujeito (Homem) – Mas nem todos tem essa oportunidade, né?
Sujeito (Mulher) – Em relação ao que ele falou, eu acho que é difícil de abrir, mas eu
acho que pra você abrir uma coisa comercial é difícil você manter ela,
porque só se antes você fazer uma pesquisa de relação à que público
vai indo lá naquele lugar que você abriu. Se você não tivesse esse
conhecimento, eu acho que o mais difícil vai ser manter o comércio,
porque você vai ter gastado pra tá abrindo ele e não vai ter como
manter, trazer os lucros de volta que você gastou.
Sujeito (Homem) – Que nem no caso do meu primo ele tá ganhando bem, porque lan house
lota lá. Às vezes o pessoal faz corujão, fica a noite toda e paga dez
reais. E é bastante gente que vai.
Sujeito (Homem) – Às vezes a amizade leva a pessoa a se empenhar dentro de uma
empresa. Tem um colega seu que trabalha, ou irmão. Acaba criando
uma amizade com ele, com o gerente também, por isso que as pessoas
arruma emprego.
Sujeito (Homem) – Na hora da entrevista você também tem que tá meio solto assim. Tipo
não ficar muito nervoso, senão... tá solto.
Sujeito (Homem) – Não pode demonstrar muito nervoso, não tem que tá tão tenso. Tem
que tá mais solto.
Sujeito (Mulher) – eu acho que em relação a entrevista você tem que tá pronto pra tudo.
Antes a gente sempre ouve: “você tem que ficar assim, tem que fazer
isso”, mas depende da empresa, depende. Isso que eles falaram que
você tem que tá mais solto, mas acho que vai depender da empresa, se
for um lugar que você tem que vender que você tem que falar, acho que
você tem que tá mais solto mas se for outra área que você tem que ficar
quieto, tem que ficar mais na sua, você não pode demonstrar ser assim
muito comunicativo, vai da área que você vai trabalhar, vai da
empresa.

Entrevistadora – O que vocês acham dessa parte de processo seletivo.


Sujeito (Homem) – A pessoa tem que ter desempenho pra sempre tá.... querendo ou não
tem que tá com um concorrente, se aquela pessoa falou ali, você tem
que ter preparado pra definir uma idéia melhor. Então tem que entrar
como concorrente. Isso é uma dificuldade que vai ter, né?
Sujeito (Homem) – Um bom exemplo também é o Aprendiz, que a gente faz de sábado.
Todo mundo ali falando do seu lado. Os outros pensam que você
sempre vai ter que ter um pensamento a mais que eles, você vai ter que
falar mais, que nem na entrevista, eu passei né? Tipo assim, a primeira
entrevista da gente ele perguntaram o que a gente achava do curso e
qual era a expectativa. Muitas vezes ali um começava a falar aí o outro
já queria falar mais ainda, aí o outro já queria mais do que ele. Vai ser
sempre assim.
Sujeito (Mulher) – É mesmo, eu acho que nesse do aprendiz é isso, se ele falou isso, você
tem que falar uma coisa melhor que ele, porque você tá ali na disputa
pra conseguir o emprego, então já começa. Ou é eu ou é você.

Entrevistadora – O que vocês acham dessa disputa que tem no mercado de trabalho?
Sujeito (Homem) – Esses argumentos tem que tá em troca, sempre tá atiço, né? Se não
ninguém... se ficar só olhando o próximo, vendo que ele tem um
diálogo bom, então essa pessoa sempre vai sempre ficar pra trás.
Sujeito (Mulher) – Mas tem umas pessoas também que tem medo de falar errado, tem
medo de... que nem no ano passado que eu fazia garagem, eu tinha o
maior medo de falar, eu sabia a resposta mas eu tinha medo de falar,
aí as outras pessoas... não eu sabia tudo mas as outras pessoas
falavam aí o professor falava:”não, tá certo”, aí eu ficava com a maior
cara assim...
Sujeito (Homem) – Também a professora deu um exemplo de dinâmica de grupo, se essa
pessoa numa dinâmica de grupo for muito quieta assim, não contribuir,
tá quase fora.
Sujeito (Homem) – Mas isso não quer dizer que ela não precise, né? Essa questão, eu
acho, de disputa, acho que é ruim.
Sujeito (Homem) – Pesa...
Sujeito (Homem) – Todo mundo que tá no Aprendiz precisa, quem faz curso aqui é porque
precisa. Então você se sente mal, né? Ele conseguiu e eu não consegui,
eu sou um nada, aquele cara é o melhor e eu sou o pior. Então eu acho
que é uma coisa ruim porque você sempre vai ficando mais pra baixo.
Aí você consegue uma vitória aí vem uma derrota maior ainda que a
sua vitória. Então eu acho que é ruim.
Sujeito (Mulher) – Você acaba virando rival da outra pessoa que consegue assim. Tem
umas pessoas que cria uma rivalidade, um quer ser mais que o outro.
Sujeito (Homem) – Desde o primeiro dia a gente é muito amigo, mas sempre vai ter outro
que nunca vai querer levar você pela amizade, por exemplo, ele tá
quase que com o emprego arrumado, tá quase que com a vaga
garantida, você acha que vão querer ter a amizade dele ou vão querer
tá passando ele? Muitos vão querer ficar pisoteando, criar amizades
falsas, esse negócio.
Sujeito (Mulher) – Esse negócio de disputa sempre vai ter no mercado de trabalho,
sempre vai ter uma concorrência, você tem que tá preparado pra você
ou ganhar ou perder e se você perder você saber como superar.
Sujeito (Homem) – Mas é difícil superar.
Sujeito (Mulher) – É difícil, mas a gente tem essa visão. Eu acho que na visão de todo
mundo sabe que vai ter concorrência no mercado de trabalho.
Sujeito (Homem) – Até quando a gente vai ficar esperando essa concorrência?
Sujeito (Mulher) – Até quando a gente agir. Se a gente ficar esperando nada vai
acontecer.
Sujeito (Homem) – Que o mundo não se adapta em nós, nós é que se adapta com ele,
ninguém vai se adaptar ao mundo, a gente quer que ele se adapte a
nós.
Sujeito (Mulher) – É. Como você faz essa diferença?
Sujeito (Homem) – Eu procuro por onde, mas não quero passar por cima de ninguém.
Sujeito (Mulher) – Mas eu acho que todo mundo pensa assim: “eu não quero passar por
cima de ninguém”, mas uma vez ou outra acaba acontecendo, por mais
que a gente não queira. Eu acho, pelo menos hoje, nos dias de hoje eu
acho que isso acontece muito.
Sujeito (Homem) – Porque eles mesmo colocam nós nessa situação.
Sujeito (Homem) – Se todo mundo pensar numa coisa só, a gente consegue, porque nós
somos maiores do que ele.
Sujeito (Mulher) – Eu também acho, só que você pensa desse jeito, eu também já pensei,
eu também penso desse jeito, só que nunca acontece isso. Um exemplo
que eu tenho eu acho que é da passeata que a gente ia fazer
reivindicando 1% pra 5%, os outros grupo não foram, só foi o pessoal
que é C., alguma coisa ligada ao C., as outras pessoas não foram por
que? Porque eles têm o seu garantido, a gente não tem a gente foi
atrás, mas a gente foi minoria. A gente não conseguiu o que a gente...
até agora a agente não conseguiu o que a gente foi procurar, mas a
gente lutou.
Sujeito (Mulher) – É.
Sujeito (Homem) – Quando nós temos um direito, nós temos que lutar, fazer mil deveres
pra ganhar um direito.
Sujeito (Homem) – Pra gente lutar pelos nossos direitos, nós temos que fazer os nossos
deveres.
Sujeito (Homem) – Mas é poucos que pensam assim, não tem muitos.
Sujeito (Homem) - Até quando a gente vai ficar esperando só um pensar por todos? Todos
que temos que pensar em uma coisa só.
Sujeito (Homem) – Então, é por isso mesmo, nem todos pensam assim.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que é difícil. Eu penso de um jeito e eu vou fazer ele pensar
isso. Vai ser trocas de opiniões que a gente vai entrar em acordo. Eu
acho muito difícil que a pessoa que tá do seu lado tá pensando igual a
você. Dependendo da troca de opiniões ai vocês vão entrar em acordo,
não vai ser o que você quer e não vai ser o que eu quero. A gente vai
conversar...
Sujeito (Homem) – A gente vai chegar em uma consciência.
Sujeito (Mulher) – Então, nunca vai ser o que a gente quer.
Sujeito (Homem) – Um líder disso daí... não fazer todos pensar iguais, mas chegar a todos
os direitos... não sei... não quero entrar em política, foi o Lula. Ele
juntou todos os trabalhadores, mostrou tudo ali o direito deles, o que
eles tinham que melhorar e hoje se você for ver isso daí só vai
acontecer de novo só o dia de São Nunca, porque que nem ela falou
ali: de 100 apenas 1 pensa no certo, 99 não quer nem saber deles ali,
tão garantido. Um bom exemplo disso daí é que nem era antigamente a
burguesia, antes eram os pobres que lutavam e eles estavam lá em
cima, só vendo a desgraça alheia.
Sujeito (Homem) – Mas até hoje é assim, a burguesia que comanda e a gente que sofre.
Sujeito (Homem) – Mas daí pra ter um cabeça, não pra sei lá... estimular os outros, mas
pra abrir os olhos vai ser muito difícil. No mundo que a gente vive
hoje, vai ser no dia de São Nunca.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que hoje, não sei quem falou, hoje todo mundo fala muito
individualista, se eu tenho vou me preocupar em manter o que eu
tenho. As pessoas não tão pensando em “vou dividir com ele, vou
ajudar ele”, poucas pessoas pensam dessa maneira.

Entrevistadora – O que vocês acham, vocês que estão nesse grupo, acham sobre isso?

Sujeito (Mulher) – Eu acho que se nós nos uníssemos, mas não só nós aqui, entendeu? E
nós conseguirmos entrar em bom senso com as outras pessoas e
lutássemos por esse direito, nós íamos conseguir, só que nós, não
somos minoria, mas seria muito difícil a gente conseguir entrar em
uma conclusão com outro jovem porque assim, eu acho que é o que ele
falou, o que eu falei, aqui ele tem aquilo garantido e eu não tenho,
então ele não vai tá nem aí, eu que me vire pra conseguir o que eu
quero.
Sujeito (Homem) – Você acha que os jovens tão aí mais pra alguma cosia? Alguns só quer
saber de balada, vida boa, aproveitar a vida, se divertir, e nós aqui,
porque a gente tá aqui discutindo agora alguns estão em danceteria,
em frente ao computador.
Sujeito (Mulher) – Você acha que aquele que tá conversando lá vai querer ficar no nosso
lugar discutindo isso? Não vai tá nem aí, a gente não a gente tá
correndo atrás.
Sujeito (Homem) – E muitos dessas pessoas ainda choram pensando que eles não tem
nada. Mas é que eles não tão no nosso lugar.
Sujeito (Homem) - Que nem minha prima, minha prima tem uma vida boa do caramba,
acho que a vida dela ali é o computador, ela acorda 10h ela limpa a
casa, ela fica até altas da madrugada só no computador, não ajuda
minha tia em nada. Ai o tênis dela rasga ela: “ah, não quero mais esse
tênis, vou jogar fora”, e ela exige pra minha tia: “eu quero outro tênis,
quero outro”, se a minha tia não dá acaba tendo discussão e já foi
várias vezes ela sair de casa, tipo assim, ela saiu se arrepende e volta,
porque aí ela vê o bom que é a vida lá fora. E ela aprende a dar valor.
Sujeito (Mulher) – Aquele que tem tudo, lá fora qualquer coisinha já faz um auê e não dá
valor ao que tem e a gente que não tem tá tentando conquistar isso,
então qualquer coisa que a gente conseguir já vai ser algo mais. Já
vais ser uma vitória.
Sujeito (Homem) – Que nem o tio do meu primo, ele é capitão de bombeiro, ele falou que
ele era pobre, se ele era pobre e tem uma casona, se ele é pobre
imagina as pessoas que moram na periferia como tá vivendo.
Sujeito (Homem) – Meu primo não deu valor, foi pro Pernambuco e ele tem a mesma vida
que tinha aqui em São Paulo. A mãe dele dava de tudo pra ele, ele fez
curso de informática, tava fazendo outro, aí ele não foi pro outro
curso, e o outro a mãe dele ficou pagando e ele não tava indo. Então
ela pagou o curso todo e ele nem foi. É que o pessoal é muito
acomodado, não pensa mesmo em alguma coisa.
Sujeito (Mulher) – Essa pessoa teve oportunidade, era de uma situação boa, teve
oportunidade e não aproveitou, hoje aquis e a gente tem oportunidade
todo mundo vai atrás, agora tinha uma situação melhorzinha, tinha
oportunidade e não foi.
Sujeito (Homem) – Quem tem oportunidade às vezes não aproveita, e quem tem tá
tentando buscar e eles não dão prioridade nós.
Sujeito (Homem) – É que nem numa faculdade, vocês mesmo podem dar o exemplo,
quantos que tão lá dentro nem liga pra o que tá fazendo ali, enquanto
os outros tão lá na porta batendo todo dia ali, será que tem vaga pra
eu estudar, enquanto os outros não querem nem saber. Meu tio mesmo
ele dá exemplo, ele faz faculdade. Ele fala que tem cara na sala dele
que não tá nem aí com a vida. O cara chega, deita dorme, acorda só no
final da aula e ele fala que sempre tem gente na porta pedindo vaga e
não tem. Que nem na escola, os cara vai, faz merda nenhuma o ano
inteiro, passa enquanto o outro tá tentando entrar não consegue e no
futuro o que tá ali lutando sem fazer nada e o outro a mesma coisa, só
impediu o outro de crescer.

Entrevistadora – Pessoal, a gente vai tá finalizando essa reunião e vamos continuar a


conversa na próxima quinta feira, porque senão, na realidade, a gente
vai tá atrasando vocês. Já deu nossa hora, a gente iniciou às 7h a gente
já tá com 10 minutos além, né? E agradeço muito a presença de
vocês....

TERCEIRA SESSÃO - 19/10/2006

Entrevistadora – Bom pessoal, então vocês pegaram esse papel, então pra gente
relembrar, nós estamos falando dos sentimentos em relação ao mercado
de trabalho. Então vocês pegaram esse papel, vocês já sabem o que?
Vocês não sabem de quem é esse sentimento, concorda? Só que vocês
vão falar, por exemplo, o que você diria pra essa pessoa que tem esse
sentimento. O que você diria? Você concorda com ela, você não
concorda, você ia dar um conselho, ta? Peço que vocês pensem no
colega de vocês como se fosse vocês, com o respeito que vocês tem por
vocês, enfim... por todas as outras pessoas, lembrando o que? Que é um
sentimento do colega de vocês que vai ouvir agora. Entendeu? Caso
alguém tenha pegado seu próprio papel faz de conta que é do amigo.
Quem gostaria de iniciar?
Sujeito (Homem) – Com relação à lutar,eu penso que é uma boa atitude que tem que fazer
no mercado de trabalho, então é um sentimento que a pessoa ta ...
Entrevistadora – Vamos sentar? Vamos fechar a roda?
Sujeito (Homem) – Como eu tava falando, essa palavrinha “lutar” a pessoa ta agindo com
a auto estima e agindo como cidadão, não deixando se perder.

Entrevistadora – O que vocês acham disso? Desse sentimento de luta no mercado de


trabalho? O que o grupo acha?
Sujeito (Mulher) – Eu acho que todo mundo tem que ter esse sentimento porque se não
tiver ele onde é que você vai conseguir um trabalho, um serviço? Então
em primeiro lugar você tem que lutar por ele pra depois conseguir.

Entrevistadora – Hoje vocês têm esse sentimento?


Sujeito (Homem) – Com certeza, né? Principalmente quando a gente quer alguma coisa,
pelo objetivo que a gente tem, a gente vai tá ali sempre lutando pra
conseguir.
Sujeito (Mulher) – Que nem ontem eu fui lá na Av. Brigadeiro Faria Lima só pra entregar
um currículo na agência de emprego, longe pra caramba.
Sujeito (Homem) – Tem muita gente que deixa quieto, nem vai.
Sujeito (Homem) – Pra ela já foi uma luta, né? Conhecer um lugar novo.
Sujeito (Mulher) – Três ônibus, três horas de viagem...

Entrevistadora – Quem mais gostaria de falar do sentimento?


Sujeito (Mulher) – Dificuldade. Eu acho que tem muita dificuldade. Que nem onde eu fui,
fui em duas agências, uma só pegava de maior e a outra ficou com o
meu currículo mas falou que não tinha muita vaga de emprego.

Entrevistadora – Falando de dificuldade vocês têm alguma dificuldade nesse grupo, em


se expressar, falar?
Sujeito (Mulher) – Assim, a dificuldade que você fala é timidez?

Entrevistadora – Qualquer tipo de dificuldade.


Sujeito (Mulher) – Às vezes eu acho que eu me enrolo pra falar, só isso. Acho que eu
tenho mais dificuldade nessa parte. Quando eu vou falar alguma coisa,
às vezes eu me enrolo.

Entrevistadora – Quem mais gostaria de falar de sentimento?


Sujeito (Homem) – Timidez. Eu acho que essa frase de dizer que muita gente vai procurar
emprego, quando vai fazer entrevista tem timidez, aí não consegue
fazer uma boa entrevista e assim consegue o emprego.

Entrevistadora – Alguém gostaria de falar sobre timidez aqui no grupo?


Sujeito (Homem) – Eu acho que sei lá... timidez pra gente vai ser sempre um dos pontos
mais difíceis, mas...
Entrevistadora – Mas relacionado ao nosso grupo também?
Sujeito (Homem) – Não, tô falando assim, não do nosso grupo, que eu acho que ninguém
tem tanta timidez em falar entre nós aqui, mas tô falando lá pra fora, a
gente vai ter que se esforçar pra perder principalmente numa vaga de
serviço, vai ser uma coisas que mais vai contar.
Sujeito (Homem) – Se você vai apresentar pras pessoas que você nem conhece, nunca viu
na vida.
Sujeito (Mulher) – Tipo dar uma palestra, você tem que ser...

Entrevistadora – Mas se vocês não tem timidez aqui, porque vocês teriam numa
entrevista?
Sujeito (Mulher) – Eu não acho assim... na em termos de timidez, como você vai
apresentar pra outra pessoa, nosso vocabulário, digamos, é de um jeito
e da outra pessoa é de outra forma, entendeu? Então acho que teria
timidez dessa parte, de como você se expressar com ela, qual é a
melhor maneira de você fala, entendeu? Eu acho que é mais nessa
parte.
Sujeito (Homem) – Às vezes você fala alguma coisa e você tem outra palavra que podia
expressar...
Sujeito (Mulher) – Não é muito timidez, é medo de errar.

Entrevistadora – Aqui dentro desse grupo vocês têm timidez no diálogo, tem timidez
entre vocês?
Sujeito (Mulher) – Eu não.
Sujeito (Homem) – Todo mundo...

Entrevistadora – E aqui no grupo vocês têm medo de errar, têm esse sentimento?
Sujeito (Homem) – Não como só eu, mas a gente veio pra aprender a passar uma
mensagem.
Sujeito (Mulher) – E muita gente, de uma certa forma, já, digamos, já não se conhece
bem, mas já se conhece de vista, então... todo mundo faz curso no
mesmo lugar...
Sujeito (Homem) – Agora você vai em outro lugar é totalmente diferente, as pessoas que
você nunca viu, você fica meio tímido assim, não sai nada da sua boca.

Entrevistadora – O que vocês acharam desse grupo? Desses encontros? O que vocês
estão achando?
Sujeito (Homem) – Eu acho que a gente pôde se conhecer melhor, porque eu não conhecia
ele, agora eu conversei com ele no intervalo, tá sendo legal. A gente se
conhece mais, tem uma intimidade a mais.
Sujeito (Mulher) – Eu gostei porque todo mundo fala com todo mundo. Todo mundo se
comunica. Então...
Sujeito (Mulher) – E não tem aquela de conversa paralela...
Sujeito (Homem) – Um ficando conversando assim...
Sujeito (Mulher) – É, todo mundo compartilha.

Entrevistadora – Então acredito que vocês se...


Sujeito (Homem) – Mesmo na hora que a gente chega de manhã a gente senta ali fica
batendo um papo, esperando a hora passar. Acho que nesse grupo aqui
acho que a palavra timidez não existe.

Entrevistadora – Vocês acham que vocês se entendem?


Sujeito (Mulher) – Ah, eu acho.

Entrevistadora – Vocês acham que tem alguma dificuldade...


Sujeito (Homem) – Eu prefiro tá mil vezes nesse grupo do que na minha sala, na minha
sala é um grupinho ali, aquela conversa paralela...
Sujeito (Mulher) – Na sala de aula tá gente...
Sujeito (Homem) – É na sala de aula.

Entrevistadora – Vocês acham que aqui nesse grupo você tem diferença?
Sujeito (Mulher) – Eu acho assim: diferença todo mundo tem, mas aqui no grupo em si,
tipo: “eu sou melhor que ele”, alguma coisa assim não tem, acho que
não, mas assim: diferenças particulares todo mundo tem...
Sujeito (Mulher) – É, cada um pensa de um jeito, ninguém pensa igual ao outro. Cada um
tem a sua opinião.

Entrevistadora – E diferenças assim relacionadas à oportunidades?


Sujeito (Mulher) – Em relação ao grupo?

Entrevistadora – Ao mercado de trabalho, por exemplo.


Sujeito (Mulher) – Mas assim, oportunidade que o grupo tem, ou ...

Entrevistadora – Não, por exemplo, você acha que... vocês acham que você, individual,
tem a mesmo chance que todos?
Sujeito (Mulher) – Ah, eu acho que não. Porque cada um assim, digamos, ele fez mais
curso do que eu, então ele vai ter mais chance do que eu de entrar no
mercado de trabalho.
Sujeito (Mulher) – E outra, quando você vai fazer... entregar currículo ou fazer uma
entrevista ele já tem o perfil pré definido também, entendeu? Às vezes
você não é aquilo que a empresa procura.
Entrevistadora – Então vocês concordam que tem algumas diferenças entre vocês?
Sujeito (Mulher) – Ah, sim...
Sujeito (Homem) – Pequenas. Pequenas diferenças, ou seja também, os cursos, porque a
empresa quer um perfil com outros conhecimentos e as outras pessoas
tem outros conhecimentos diferentes também, então é isso que...
Sujeito (Mulher) – Aí já tem uma diferença.
Sujeito (Homem) – Eles podem também, tipo, na hora de serviço, um exemplo é o curso, ás
vezes pode variar, um faz inclusão, tá estudando uma coisa, aí vai ter
uma empresa que vai preferir ela, que nem o T. faz escritório, pelos
conhecimentos que ela adquiriu. Isso aí bate as diferenças entre nós.
Mas do resto acho que não existe não.
Sujeito (Homem) – Eu acho até bom porque ás vezes você tá com dúvida numa coisinha
em inclusão e ela pode te ajudar, um sempre ajudando o ouro. Sempre
aqui tem uma troca de informações, só você ali não adianta. Eu tava
conversando com meu tio esses dias sobre trabalhar em grupo e ele
falou: “o cara que fica só ele ali, é difícil ele ir pra frente, tem que
saber trabalhar em grupo, ele tem que saber conversar, não é só ele
saber, porque ninguém sabe tudo”. Cada um tem seu potencial você
tem a sua, eu tenho a minha...
Sujeito (Mulher) – Eu acho que se o mundo trabalhasse assim, em grupo, acho que seria
um mundo perfeito. É difícil, mas...

Entrevistadora – Vocês acreditam que em trabalhar em equipe pode haver competição,


como vocês vêem isso?
Sujeito (Homem) – Competição não, mas em alguns momentos a união, né?
Sujeito (Mulher) – Acho que depende do grupo, se o grupo fosse sincronizado, acho que é
assim que se fala, fosse unido entendeu? Não haver diferença, mas
depende do grupo. Porque se um tem picuinha com um, já vai tentar
fazer a cabeça do outro, sei lá, entendeu? Acho que nessa parte.
Sujeito (Homem) – Depende do local, também, porque às vezes as pessoas não agem
profissionalmente, então vai trabalhar mais por si e vai fazer isso
individualmente. E se age profissionalmente podia fazer o trabalho em
equipe bem elaborado.

Entrevistadora – E o grupo aqui, vocês acham que o trabalho é sincronizado?


Sujeito (Mulher) – Eu acho.

Entrevistadora – Então vocês acham... alguém acha a mesma coisa?


Sujeito (Homem) – Eu acho que não tem nenhuma dúvida, acho que todos aqui tem o
mesmo pensamento, que nem ela falou: aqui a gente discute sempre os
mesmos assuntos, eu aprendo um pouco ela, ele também, cada um
compartilhando os conhecimentos, tendo a vantagem de, como por
exemplo, de conhecer o curso, no começo que abriu o curso lá, não
sabia, praticamente, pra nada, pra que servia, e ele mesmo veio falar
que ia ser durante as aulas, é uma troca de conhecimentos que só vai
ajudar a gente.
Sujeito (Mulher) – Porque a gente entra aqui com conhecimento, conversando com ele a
gente já vai sair com o nosso conhecimento com o que a gente
adquiriu.

Entrevistadora – Mas vocês acham que pra ter sincronia, pro grupo trabalhar em equipe,
então não pode ter a parte de competição?
Sujeito (Homem) – Eu acho que é isso.

Entrevistadora – É isso que vocês disseram?


Sujeito (Mulher) – Ah, sei lá... eu não sei se é bem isso, porque eu acho que competição
vai ter em todo lugar, eu não sei se... mas por enquanto, no presente no
nosso grupo eu ainda não vi isso. Mas eu acho que competição vai ter
em todo lugar, mas por enquanto aqui eu ainda não vi.

Entrevistadora – Alguém discorda ou alguém já sentiu alguma competição no grupo?


Sujeito (Homem) – Eu concordo, mas que nem eles falam, no Aprendiz uma pessoa fala
uma coisa e você tem que tentar falar melhor que ela.
Sujeito (Homem) – Aí sim é uma competição.
Sujeito (Homem) – Tem gente que não gosta de pisar no outro.
Sujeito (Homem) – Tipo assim: você se sente mal. Você fala uma coisa, você fala A, o
outro já vem com B, C, D o alfabeto inteiro, e nisso daí dá pra você ver
visualmente que tá tendo competição ali a cada minuto que passa.
Sujeito (Homem) – Isso aí, provavelmente só iria numa entrevista, no diálogo a pessoa
tinha que sair competindo, porque infelizmente é concorrente.
Sujeito (Homem) – É que nem ela falou: competição existe em todo lugar, não adianta sei
lá...
Entrevistadora – Vocês estão todos juntos no Aprendiz?
Sujeito (Homem) – Não. É pra você ver, só pra você entrar já é uma competição.

Entrevistadora – E nesse grupo?


Sujeito (Homem) – A competição você fala?

Entrevistadora – É. Pra entrar, vocês sentiram alguma coisa?


Sujeito (Homem) – Não, aqui não.
Sujeito (Mulher) – Pra vir pra esse grupo, você diz?

Entrevistadora – É. Pro grupo aqui presente.


Sujeito (Homem) – Não, aqui não foi competição. Que nem vocês falaram, vocês falaram
que ia ser o curso e cada um escolheu com a sua vontade.
Sujeito (Homem) – Aqui vocês deram a oportunidade.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que foi mais que vocês escolheram, porque não teve assim
alguma seleção, esse perfil vai vim. Ou se teve vocês não falaram pra
gente. Qual foi a forma que vocês selecionaram aqui no centro, qual
foi o critério de vocês.

Entrevistadora – Não, a gente convidou todo mundo.


Sujeito (Homem) – Todo mundo, né?

Entrevistadora – A gente passou nas salas, lembra.


Sujeito (Mulher) – Não então, mas assim, mas não sobrou gente que queria vir?

Entrevistadora – Não.
Sujeito (Mulher) – Então eu acho que não teve.
Sujeito (Homem) – Isso já não é competição, é uma oportunidade que aparece que se for
algo que a pessoa olhar e falar: “ah, vai servir”, então deveria ir
buscar, né?

Entrevistadora – Como vocês achavam que nós tínhamos feito a seleção?


Sujeito (Homem) – Eu nem imaginava.
Sujeito (Mulher) – Eu também nem pensei.
Sujeito (Homem) – Nem passou pela minha cabeça como foi.
Sujeito (Homem) – Nem eu também, porque eu pensava que ia todo mundo que se
inscreveu.
Sujeito (Mulher) – Mas na verdade tá aqui todo mundo que se inscreveu, né? Só pela
diferença de horário que bateu, mas as pessoas que não estão aqui é
porque o horário não coincidiu, não foi?
Entrevistadora – Como vocês acham? Como que tá na cabeça de vocês?
Sujeito (Mulher) – Sei lá, porque teve muita oportunidade e as pessoas não querem,
acham chato, fala que não presta.
Sujeito (Homem) – E tem que ser sempre na hora que eles quiserem.
Sujeito (Mulher) – Pra mim tá aqui, assim, vocês entraram na sala, convidaram pra gente
estar aqui, aí eu falei que queria participar, aí teve uma pessoa que
falou assim: “ah, eu não vou participar, porque o que eu vou ganhar
com isso? O que eu vou ganhar estando lá?”, aí eu falei assim:
“ganhar, ganhar, não ganha nada, mas seria uma troca de
experiência, seria um conhecimento”, que a gente já falou aqui, seria
isso, materialmente nada, teria assim, mais conhecimento.
Sujeito (Homem) – No mercado de trabalho, pra melhorar as pessoas deviam ter uma
visão mais ampla, mas infelizmente todos não tem a visão ampla, ou
seja, alguns tão aqui nessa entidade, invés de buscar uma visão mais
ampla como ela dá aqui, não busca então dificulta também pra entrar
no mercado de trabalho.
Sujeito (Homem) – Eu acho que a oportunidade não deve ser deixada passada nunca,
porque depois não vai ter outra chance não.
Sujeito (Homem) – Que nem nossa Educadora falou: “aproveita, vocês não vão ganhar
nada, vocês é que tão enganados, porque conhecimento vocês vão
ganhar, vai que num serviço cai uma pergunta besta que vai valer ali
pra ele o máximo de pontos, quem sabe se você não faz esse curso e
essa pergunta não vai cair lá na frente?”, isso que ela fala “qualquer
coisa que aparecer, mesmo que seja um curso, um negócio de uma ou
duas aulas, vai”, porque nunca você vai sair perdendo.
Sujeito (Homem) – Com certeza.
Sujeito (Mulher) – E às vezes aqui você perde dinâmica, brincadeiras, aí tem muita gente
que “ah, não vou fazer não, é maior chato”, e o ano passado teve um
menino que ele foi pra uma entrevista e caiu a brincadeira que ele já
sabia aqui no C., e por causa dessa brincadeira, ele tá trabalhando até
hoje. E é uma oportunidade também de fazer as dinâmica. Que nem
aconteceu a mesma coisa que aconteceu com ela, que a menina chegou
e falou: “não vai, não, maior chato, esse negócio de psicólogo, maior
chato”, e eu “não , eu vou”, e no mercado de trabalhão você vai ver
muito isso também, querendo te puxar falando pra você não ir, não
lutar pelo que você quer.
Sujeito (Homem) – Meu colega me falou que uma vez foi não sei que... numa área
procurar emprego e ele tava esperando, aí nisso eles colocavam uma
mulher bonita pra ver quem ficava olhando, aí quem ficava olhando,
não tirava o olho, já não chamavam.
Sujeito (Homem) - Isso também eles usam... entrevistadora, se ela tiver com decote, então
pode se preparar que se ela tiver assim tem bomba.
Entrevistadora – Quem gostaria de falar de mais algum sentimento.
Sujeito (Homem) – Medo. Eu acho que essa palavra medo, esse sentimento, deve tá na
mente e no coração de todo mundo porque todo mundo tem esse
sentimento quando vai se apresentar pra fazer uma entrevista em
algum lugar, todo mundo só pensa em pânico. Chegar assim, quando
bater de frente assim: “já? Não sei o que eu vou falar, não sei o que eu
vou pensar”...
Sujeito (Homem) – Tem gente que até estuda antes de dormir.
Sujeito (Homem) – Passa a madrugada inteira estudado.

Entrevistadora – Aqui dentro desse grupo, vocês sentem medo, algum medo? Vocês têm
medo de falar de medo dentro desse grupo?
Sujeito (Homem) – Aí eu pergunto: e quem é que não tem?

Entrevistadora – Medo de falar do medo? Receio de falar do medo dentro desse grupo,
vocês têm?
Sujeito (Homem) – Não chega... não tenho medo porque é algo que todo mundo carrega.
Sujeito (Homem) – Situação que dá medo, né? Você falar, você mostrar...
Sujeito (Homem) – Até agora que eu tenho medo no mercado de trabalho é que você vai
apresentar alguma coisa e das pessoas dar risada, sei lá.
Sujeito (Homem) – É verdade.
Sujeito (Homem) – Uma pessoa tirar sarro.

Entrevistadora – Dentro desse grupo vocês tem medo que alguém dê risada aqui?
Sujeito (Homem) – Jamais, aqui não, porque isso é uma atitude de gente imatura. Você
tem que ter até essa atitude, todo o grupo.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que vai de você, a pessoa dar risada, se você der ousadia, se
você falar alguma coisa errada e a pessoa der risada, vai de você, se
você der ousadia e dar risada, ela vai continuar dando risada, agora
se ela der risada e você nem ligar, ela vai parar.
Sujeito (Homem) – E se a pessoa der risada, é falta de amadurecimento.
Sujeito (Mulher) – Ou se não, faz que nem eu, manda ela fazer melhor.
Sujeito (Homem) – Porque às vezes pode falar algo errado aqui, mas não num ambiente
bem... num ambiente saudável. Mas num outro ambiente você pode
falar porque você vai prestar mais atenção, então, no que você errou
no passado. E às vezes a pessoa tava dando risada de você antes, pode
errar porque sempre assim, às vezes elas olham os defeitos dos outros,
mas o defeito tá na pessoa mesmo, como diz os psicólogos.
Sujeito (Homem) – Tipo na escola também, esses negócios, a pessoa tá com uma dúvida e
fica com medo de perguntar, fica com medo de perguntar e alguém dar
risada, alguém zoar. Eu não tenho essa daí não, se eu tiver uma dúvida
eu pergunto, tem um pessoal lá que tem dúvida e não pergunta.

Entrevistadora – O que você tinha dito?


Sujeito (Homem) – Que às vezes a pessoa pode falar, tipo que seja aqui, eu falo uma
palavra errada, posso às vezes errar, e se alguém chegasse e desse
risada, às vezes eu posso estar em outro ambiente mas numa entrevista
e prestar o máximo de atenção, lá a pessoa que deu a risada, pode
errar, porque as pessoas quando vêem o erro dos outros, às vezes o
erro tá na pessoa mesmo e os psicólogos dizem isso.

Entrevistadora – Entendi, alguém tem esse sentimento? Por exemplo, vocês acham que a
pessoa que tá dando risada, por exemplo, às vezes eu tom dando risada
dos outros e vocês sentem que doeu em vocês?
Sujeito (Homem) – É, porque dificilmente a pessoa vai perceber que o erro tá nela. Assim
que ela chegar e falar que o erro tá em você, não nos outros. Ela só vai
ter a visão quando a pessoa chegar e falar: “é isso e isso, eu acho que
o erro tá em você, não no próximo”.

Entrevistadora – Vocês sentiram isso nesse grupo? Esse sentimento de aula?


Sujeito (Homem) – Não.
Sujeito (Homem) – Mas na escola mesmo eu tô ruim em uma matéria por causa disso daí
mesmo.
Sujeito (Homem) – Medo de perguntar?
Sujeito (Homem) – Não medo, porque eu penso que se eu fazer a pergunta pra professora
eles dão risada da minha cara. Porque eu já sou um pouco excluído
dessa sala porque essa sala tá formada desde a 5a série, aí eu entrei lá
esse ano. Então o pessoal não dá muita oportunidade, às vezes eu
quero fazer uma brincadeira e eles não aceitam. Às vezes eu preciso
perguntar uma coisa pra professora, mas acabo perguntando em
particular, só que o que eu queria perguntar mesmo naquela hora, não
teve jeito.

Entrevistadora – Mais algum sentimento? Todo mundo falou?


Sujeito (Mulher) – Não, eu não falei. Eu acho que algumas pessoas têm esse sentimento
em relação ao mercado de trabalho, porque assim, ele já tentou várias
vezes atrás de emprego e não conseguiu, então acaba ficando com
raiva.
Sujeito (Homem) – Eu penso que quando a pessoa vai procurar assim, não deve ter raiva
porque deve procurar um serviço que se encaixe com ela, e que ela se
encaixe no serviço, ou seja, ela tem que tentar buscar com amor, se ela
não for, então...
Entrevistadora – Aqui dentro do grupo, a gente tá conversando muito do mercado de
trabalho, de situações que acontecem no dia-a-dia de vocês, da
realidade de você, mas eu tô pensando aqui no grupo. Vocês já
sentiram raiva?
Sujeito (Mulher) – Em relação...

Entrevistadora – Às nossas conversas.


Sujeito (Homem) – Não.

Entrevistadora – Todas as conversas que nós tivemos.


Todos – Não.

Entrevistadora – Em relação a discussão nenhuma? “Ah não, não concordo”, ou se não


vocês estavam falando de preconceito, não foi que vocês estavam
falando? Nesse momento vocês sentiram raiva?
Sujeito (Homem) – Não porque no momento que eu tivesse sentido, eu tinha que... eu
penso que eu tinha que argumentar e falar: “não concordo com isso
por cauda disso e disso”, então não senti raiva em nenhum momento.

Entrevistadora – Quando vocês falaram de exclusão, do bairro.


Sujeito (Homem) – Depende. Acho que na hora você fica com raiva, nervoso.

Entrevistadora – Você ficou com raiva, então, em alguma de nossas reuniões?


Sujeito (Homem) – Não aqui. Em outros lugares.

Entrevistadora – Quando a gente conversa, é normal, né? Vocês concordam?


Sujeito (Homem) – Não tô falando no grupo.

Entrevistadora – Esses sentimentos não é... entendeu? Algum problema. Não tem
problema a gente ter esses sentimentos. Às vezes a gente conversa de
algumas cosias que a gente sente, não precisa tá acontecendo pra gente
ter esses sentimentos, às vezes a gente conversa e tem esses
sentimentos. Por isso eu pergunto pra vocês: em algum momento nesse
grupo vocês tiveram uma raiva?
Sujeito (Mulher) – Sobre as conversas que teve?

Entrevistadora – Não da conversa. Sentimento, por exemplo, vocês estavam


conversando sobre exclusão, sobre preconceito, nas reuniões passadas,
e sobre mulher no mercado de trabalho, sobre as escolas estaduais,
sobre o ensino.
Sujeito (Mulher) – Eu senti raiva, sim. Esse negócio de preconceito, exclusão. Senti raiva,
não do grupo, mas da conversa, sei lá...
Sujeito (Homem) – É como se tivesse tocando a realidade.
Sujeito (Mulher) – É.
Sujeito (Homem) – Não daqui. A gente pensando do lado de fora. Porque às vezes a gente
fala aqui de uma coisa e fica até pensando, matutando: “será que eu
vou encontrar isso lá fora, mesmo?”, aí por alguns momentos você
sente raiva, mas não no grupo, nem do assunto. Porque é a realidade
que você vai encontrar. Sendo onde você for, que nem, sei lá... todos os
lugares.
Sujeito (Homem) – Nesse momento o cara tem que ser cabeça.
Sujeito (Mulher) – Sim, eu acho que a raiva que você tá falando é em relação à conversa
que teve de algum tema que, tipo, trocamos idéias, é isso?

Entrevistadora – Hum, hum. Ou mesmo às vezes a gente tem vontade de falar, não
consegue falar, né? Enfim, às vezes acontece também. Às vezes você
quer falar e não consegue.
Sujeito (Homem) – Ah, isso é normal, a (???) às vezes fazem isso comigo.
(Risos)
Sujeito (Mulher) – Agora entrando em defeitos. Eu acho que eu tenho esse defeito de falar
muito. Que às vezes eu falo demais e não dou oportunidade da outra
pessoa falar, mas eu acho que aqui até agora não.

Entrevistadora – O que o grupo acha?


Sujeito (Homem) – Ela tá expondo a opinião dela, como todos aqui estão falando. Cada
um tem sua opinião, acho que ela tá certa de falar, às vezes ela fala um
negócio que eu tô com dúvida e eu mesmo acabo esclarecendo. Que
nem a gente vem falando da troca de conhecimento.
Sujeito (Homem) – Às vezes muita gente não sabe, aí quer aprender com o conhecimento,
aí muitos têm vergonha de falar e tem gente que nem ela que gosta de
falar, aí acaba falando e a gente acaba aprendendo mais coisa que ela
passa pra gente, eu acho que é bom.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que em relação ao grupo todo mundo tem oportunidade de
falar o que quer, de se expressar na hora que quiser. Eu acho que até
agora ninguém deixou de falar alguma cosia que sentisse. Deixou
Tiago? Não.

Entrevistadora – Vocês concordam todos?


Sujeito (Mulher) – Hum, hum.

Entrevistadora – Falta alguém falar de algum sentimento?


Sujeito (Homem) – Egoísmo. Eu acho que a pessoa nunca pode ter egoísmo dentro de uma
empresa. Desde o período que ela entra até de quem tá lá dentro. Por
exemplo, a pessoa que tá lá dentro sabe fazer aquilo, sempre às vezes
vai chegar outra coisa pra ela fazer, aí o pessoal já vai ficar naquele
negócio, só que aquela pessoa que entrou agora foi perguntar
praquela pessoa e ela falou: ‘ah, não sei”, mas ela sabia, não custava
ela ajudar? E já a outra coisa que o patrão passou pra ela fazer ela
não conseguiria fazer, entendeu? E a pessoa que entrou conseguia,
então não pode ter egoísmo, porque se ela não fosse tão egoísta com
essa pessoa, ela poderia ir lá e conversar com ela: “como é que eu
posso fazer isso?” e trocar as informações, entendeu? Por isso que eu
acho que as pessoas não podem ser egoísta dentro de uma firma.
Sujeito (Mulher) – Já entra a competição aí.
Sujeito (Homem) – É.
Sujeito (Mulher) – Egoísmo e competição.

Entrevistadora – Vocês acham que tá ligado?


Sujeito (Homem) – Soberba é uma pessoa que quer... às vezes entra na empresa e no outro
dia já quer ser mais que o outro. Quer atropelar...
Sujeito (Mulher) – Isso tem em todo lugar, né?

Entrevistadora – Então vocês acham que se o mercado de trabalho fosse como o grupo
de vocês aqui hoje seria...
Sujeito (Mulher) – Seria ótimo.

Entrevistadora – ...um sonho.


Sujeito (Mulher) – Se o mundo fosse assim.

Entrevistadora – Se o mundo fosse o grupo de vocês...

Sujeito (Homem) – Porque tem muita gente ganhando muito enquanto outros estão
ganhando pouco. Se todo mundo ganhava a mesma coisa...
Sujeito (Mulher) – Assim, se o mundo se unisse como esse grupo assim seria melhor,
tipo... tem que nem Iraque e Estados Unidos, são dois países que
podiam se unir, o país lindo que nem os dois, podia se unir, coisa
bonita, assim, alguma coisa...
Sujeito (Homem) – Que nem os Estados Unidos têm bastante tecnologia, o Iraque já não
tem, tem mais armas, então eles podiam trocar, se fosse trocar um
pouco, mas não, quer tudo tomar.
Sujeito (Homem) – Estados Unidos têm só tecnologia por causa do capitalismo, se não
fosse. Porque o capitalismo pra explorar e assim vai. Todas as guerras
o Estados Unidos ta dentro. Por quê? Porque quer explorar o país que
ficar pobre, ele quer explorar depois.

Entrevistadora – O que mais vocês acham que esse grupo tem que poderia melhorar, se
fosse igual seria diferente o mercado de trabalho, hoje, por exemplo.
Sujeito (Homem) – Eu acho que esse grupo aqui é bom, porque aqui nós moramos
praticamente na mesma região, já temos praticamente o mesmo estilo
de vida, e quando a gente entre na empresa tem aqueles mais
bonitinhos, tem classe de vida maior, entra com o pessoal, que é a
gente, que não tem o nível de classe dele. Então aquela pessoa eu acho,
que vai ta sempre querendo pisar nela, entendeu? Não quer deixar ela
progredir, porque às vezes essa pessoa que não é do nível dela tem
mais chance de alcançar ela lá em cima. Então ela vai ta sempre
pisando nessa pessoa.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que se o mercado de trabalho fosse igual ao nosso grupo seria
bom porque o que eu vejo hoje aqui assim é cada um se preocupa um
pouco com o outro, tipo assim, eu saio do curso as cinco horas e fico
aqui sozinha até as seis horas, aí depois chegou ela e ele, e ele já tava
aqui antes, mas ele tava trabalhando, né? Aí eu falei: “onde vocês
estavam, eu tava aqui sozinha’, aí eles falaram: “fui pra casa depois
eu vim”, aí eles dois falaram assim: “se vocês dois tivessem avisado a
gente tinha ficado, não teria ido embora”. Então já tem o
companheirismo, a preocupação. Então se o mercado de trabalho fosse
assim, eu acho que não haveria tanta raiva, tanto egoísmo, tantas
palavras que eles falaram.
Sujeito (Homem) – Nós ia ficar, nós ia até te perguntar, é que a gente tava em dúvida...
Sujeito (Homem) – Mas a gente não te achou, aí a gente falou: “subir lá em cima pra
incomodar a aula deles fica chato”, a gente ficou esperando você...
Sujeito (Mulher) – É porque a gente teve uma visita lá, aí as mulheres demorou na nossa
sala, a gente não saiu no horário normal.
Sujeito (Homem) – Eu tava em dúvida porque eu ia fazer... eu tinha comprado uns
negócios que amanhã eu vou doar, fui fazer uma cesta básica, fizemos
um grupo na escola e vamos levar cesta básica pros idosos, aí eu
fiquei: “não sei se eu fico, não sei se eu vou...” porque eu precisava
comprar, né? Aí eu fui, né?

Entrevistadora – Vocês sentem então que vocês pertencem a esse grupo? Alguém sente
que: “ah não, eu ano pertenço a esse grupo”, como ta o sentimento de
vocês?
Sujeito (Mulher) – Quando esse grupo foi formado eu fiquei com receio porque só eu e ela
de mulher, né? Fiquei assim: “ah só a gente?”, mas eu gostei de todo
mundo, acho que todo mundo se dá bem, eu acho que ta bem legal o
grupo desse jeito.

Entrevistadora – Alguém acha que não pertence ao grupo? O que vocês acham? Todos
se sentem pertencentes ou vocês acham que ainda falta alguma
elaboração de algum assunto?
Sujeito (Homem) – Apesar de todo mundo ter sido profissional, penso que todo mundo
gostou muito.
Entrevistadora – Mas assim, gostar você diz?
Sujeito (Homem) – É.

Entrevistadora – Vocês acham que gostar e pertencer ao grupo é a mesma coisa?


Pertencer é aquele sentimento de acolhimento, né? O que vocês acham
que é pertencer à um grupo?
Sujeito (Mulher) – Pra mim, eu acho, que pertencer é você vim...
Sujeito (Mulher) – Se sentir bem, eu acho.
Sujeito (Mulher) – Não, eu acho assim, tipo... você vim e tudo, agora gostar do grupo e
você vim, sei lá... compartilhar essas coisas, eu achava que era isso.

Entrevistadora – Gostar do grupo?


Sujeito (Mulher) – É.

Entrevistadora – E pertencer?
Sujeito (Homem) – Eu acho que a gente ta se dando tão bem aqui que a gente nem vê a
hora passar. E isso que é legal, porque quando a gente ta num
ambiente que a gente não ta gostando a hora não passa, e a gente ta
aqui conversando, mas quer mais, entendeu? To até chateado, já vai
acabar? Poderia ter mais porque a gente ta junto aqui conversando
numa boa, a gente nem vê a hora passando.
Sujeito (Homem) – O que é bom dura pouco.
Sujeito (Homem) – Todo mundo pertence porque se um falta, fica faltando um momento, a
experiência daquele que faltou.
Sujeito (Homem) – Que nem o J. que na aula passada falou do criolo.
Sujeito (Mulher) – Isso pra mim foi um conhecimento a mais, porque eu não sabia.
Sujeito (Homem) – Eu também não sabia, não.
Sujeito (Homem) – É que nem num teatro, se um faltar a peça não sai, então isso dificulta
quando um falta. No caso aqui nós tamo trocando informações e
pegando experiência de outra experiência.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que a gente aqui é tipo como se fosse um corpo, cada um é
como um órgão, se um faltar... quase que você não pode sobreviver.

Entrevistadora – E vocês se sentem pertencentes à sociedade, por exemplo, como que é


pra vocês fora daqui, no mercado de trabalho, por exemplo?
Sujeito (Homem) – Normalmente é desigual.
Sujeito (Homem) – É verdade.
Sujeito (Homem) – É um querendo passar por cima do outro.
Sujeito (Homem) – Totalmente diferente.
Sujeito (Homem) – Você encontra poucos que você pode confiar.
Sujeito (Homem) – Passou pra negócios...
Sujeito (Homem) – Daqui a pouco vão te apunhalar pelas costas.
Sujeito (Mulher) – Envolve dinheiro...
Sujeito (Homem) – Que nem eu contei o caso que aconteceu com meu pai. Colocou o cara
dentro da firma, no fim acabou criando um problema pro meu pai e foi
o próprio cara que colocou ele na rua.

Entrevistadora – Alguém não falou o sentimento?


Sujeito (Homem) – Eu peguei o papel que tava o objetivo de “lutar até os últimos dias da
minha vida”, eu acho que o pensamento dele tem tudo a ver com nós
jovens hoje, né? Temos alguma coisa pra sonhar e temos mais que
correr atrás mesmo, levar tapa na cara, vários nãos, mas nunca
desistir do sonho. E eu acho que ele ta certo mesmo. Ele vai ter o
objetivo dele e vai ta sempre correndo atrás, pelo que nem ele escreveu
no papel ali, levando vários tapas, mas nunca acho que vai desistir,
nunca vai levar um não tão fácil e acho que se ele continuar assim ele
vai conseguir. Até a frase dele foi inspiração.
Sujeito (Homem) – Até quando a pessoa leva um não, a pessoa não deve ficar com a baixa
alta estima. Ou seja, a pessoa tem que buscar o sim em outras
oportunidades.
Sujeito (Mulher) – É o que eu ia falar, que depende da pessoa, mas se você leva um não,
você não vai querer ficar com aquele não, você vai querer procurar um
sim, se você leva um não hoje, você vai querer um sim amanhã, então
você sempre vai ta atrás daquele objetivo que você quer, até você
conseguir.
Sujeito (Homem) – É como se fosse o exemplo de uma nota de escola, c não ta satisfeito
com aquela nota, porque não você não correr atrás pra melhorar no
bimestre que vem? Todos nós aqui temos que levar isso no cotidiano.

Entrevistadora – Como vocês sentem o sentimento... a alta estima de vocês no grupo?


Aqui em relação às nossas discussões, como que está a alta estima de
vocês? Vocês se fortalecem, vocês se enfraquecem?
Sujeito (Mulher) – Eu acho que cada vez que eu venho aqui na reunião eu saio mais
fortalecida porque... várias informações porque eu nunca vou sair
daqui com nada, só vim por vim e voltar com a cabeça em outro lugar,
não. Sempre vou ta presente, sempre vou sair daqui melhor do que eu
entrei.
Sujeito (Homem) – Tipo que nem o R., o educador daqui, ele falou que o irmão dele tentou
entrar na Etti dez vezes, e conseguiu.
Sujeito (Mulher) – Não conseguiu?
Sujeito (Homem) – Conseguiu. Depois de dez vezes ele conseguiu.
Sujeito (Homem) – Pra vocês verem como que eu to gostando tanto desse curso, eu tenho
que ir embora, que eu tava saindo da escola, tava cansado, todo suado,
fui em casa, tomei banho e precisava cortar o cabelo, o cara até fez
uma errada no meu cabelo...
(Risos)

Entrevistadora – Eu não to reparando, não.


Sujeito (Homem) – Eu passei e cortei, só que eu já tava pensando na cabeça: “será que eu
vou me atrasar”, porque eu não vou embora, eu fico aqui, “será que eu
vou me atrasar, será que até sete horas você já ter terminado o meu
cabelo?”, e o cara: “não, não, dá sim”, aí eu peguei e já vim
rapidinho pra cá. Tenho a preocupação já, por quê? Porque ta sendo
legal, porque se não fosse eu nem pensava em ta aqui.
Sujeito (Homem) – Que nem eu também tava com dúvida: “eu vou embora, eu não tenho
certeza de que hora que vai ser, não to com a certeza... será que eu
vou?”, aí todo mundo falou: “sete e meia, vai ser”, aí peguei e saí de
lá de casa às 6h50, alguma coisa assim aí cheguei aqui ainda um
pouco... não cheguei atrasado, mas cheguei na hora do lanche, eu
cheguei meio atrasado.

Entrevistadora – Alguém não se sente acolhido no grupo? Sente que às vezes não tem
direito o objetivo? Todos estão entendendo o objetivo do grupo? Falta
algum sentimento?
Sujeito (Homem) – Receio.

Entrevistadora – Vocês estão escondendo sentimento é?


(Risos)

Entrevistadora – To percebendo que tem gente escondendo sentimento.


Sujeito (Homem) – O receio, assim, a pessoa ta na empresa, eu acho que, na minha
opinião, não tem que ficar com muito medo, tem que pensar só
positivo.

Entrevistadora – Que você pensou? Que palavra que você pegou?


Sujeito (Homem) – Receio. Tem que pensar só positivo, você vai conseguir, vai dar certo,
pensar só bola pra frente.

Entrevistadora – Vocês acham receio e medo igual?


Sujeito (Mulher) – É o que eu ia falar, eu acho que é parecido, é quase a mesma coisa.
Sujeito (Homem) – Também tem a insegurança, né?
Sujeito (Homem) – Um bom exemplo disso daí vocês mesmos podem falar: de vir aqui e
ter o receio de não conseguir o apoio de nós, sei lá...
Sujeito (Mulher) – De a gente não ta entendendo o conteúdo.
Sujeito (Homem) – Da gente não demonstrar a nossa vontade, que nem ela falou,
conteúdo, acho que, sei lá, vocês, eu acho, poderiam completar, a
palavra receio, no significado.

Entrevistadora – Como vocês acham que a gente completaria?


Sujeito (Mulher) – Deixa eu perguntar: quando vocês vieram pra fazer o convite pra
gente, vocês não ficaram com receio de ninguém ta... se disponibilizar,
ta participando do grupo?
Sujeito (Homem) – A insegurança, né?

Entrevistadora – Como que vocês acham?


Sujeito (Mulher) – Eu acho que vocês tiveram.
Sujeito (Homem) – Será que eles vão vim?
Sujeito (Mulher) – É, será que eles vão querer? Vão achar interessante?
Sujeito (Homem) – Na hora que vocês se apresentaram, você falou que tava nervosa e tal.
(Risos)
Sujeito (Homem) – Falou que tava com medo, sei lá.
Sujeito (Homem) – Eu lembro da primeira vez ela falando, ela mesmo lá ficou...
Sujeito (Mulher) – Ficou tímida.
Sujeito (Homem) – Na hora que você falou em Psicologia, assim, todo mundo pensou que
fosse de...
Sujeito (Homem) – De Psiquiatra.
Sujeito (Mulher) – Psiquiatra e Psicólogo é muito diferente.
Sujeito (Homem) – É porque o pessoal não tem aquela visão, a Psicologia ela se flui... ela
cai na parte do emprego, ou seja, o entrevistador, até na área de
administração. Então o pessoal fica: “ah, ta doente?”, e não tem
aquela visão que seria bom pra nós.

Entrevistadora – Entendi. E nesse grupo vocês acham que tem alguma diferença?
Olhando o grupo inteiro. Comigo, com a A.
Sujeito (Homem) – Como assim? Não entendi a pergunta.
Sujeito (Homem) – Qual tipo de diferença?

Entrevistadora – Alguma diferença. Porque vocês disseram que o grupo era igual, coeso.
Correto? Vocês acham que nós somos iguais?
Sujeito (Homem) – Em alguma relação eu penso que, com vocês, vocês tem um
conhecimento maior e a visão ampla. É a visão que nós precisamos de
ter pra ter certeza, pra não ter dificuldade no mercado de trabalho, o
que nós vamos encontrar. Então eu penso que essa é a diferença que
tem, as informações que você tem, você tem mais informação do que
nós.
Sujeito (Homem) – Um pergunta que eu queria fazer já, tipo assim, vocês demoraram
muito tempo pra procurar alguma instituição pra fazer o trabalho?

Entrevistadora – O que vocês acham?


Sujeito (Mulher) – É tudo assim, né? “O que vocês acham?”
(Risos)
Sujeito (Mulher) – Eu acho que vocês tiveram informações de vários lugares parecidos,
mas eu não posso dizer como foi porque eu não sei o critério que vocês
usaram pra dizer “ah, vamos usar aquele lugar”, não sei.
Sujeito (Homem) – Essa aqui foi a primeira que vocês veio, ou vocês foram em outras
instituições?
Sujeito (Mulher) – Vocês foram conhecer? Como que foi?
Sujeito (Homem) – “O que vocês acham?”

Entrevistadora – Que vocês acham?


(Risos)
Sujeito (Homem) – Eu penso assim...
Sujeito (Mulher) – Ta parecendo passa ou repassa...
Sujeito (Homem) – Se você chegou e parou pra pensar você deve ter pensado de ir na
Zona Leste onde é o povo tem mais dificuldade.
Sujeito (Mulher) – Mas elas moram na Zona Leste, né? Vocês moram na Zona Leste, né?
Sujeito (Homem) – Mas elas fazem faculdade fora da Zona Leste, né?

Entrevistadora – Onde fica a São Judas, vocês sabem?


Sujeito (Mulher) – Na Moóca.
Sujeito (Mulher) – Na Zona Sul, é?
Sujeito (Mulher) – Na Mooca, não é? Eu passei em frente ontem.
Sujeito (Mulher) – Mas não é Zona Norte lá.
Sujeito (Mulher) – Não? Eu acho que é.
Sujeito (Homem) – Aqui onde nós mora é extremo Leste, pra aqueles lados lá...

Entrevistadora – Vocês acham então que a gente escolheu essa comunidade por isso? O
que mais?
Sujeito (Mulher) – Pela dificuldade que o jovem do extremo Leste tem.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que escolheu esse lugar porque é onde tem mais jovens
desempregados, desempregados assim que não tem carteira assinada.
Sujeito (Homem) – Mas o critério de verdade, só vocês vão poder falar.

Entrevistadora – Mas vocês sentem algum incômodo por isso?


Sujeito (Mulher) – Não. Eu não sinto nenhum incômodo, eu acho que foi um privilégio pra
gente, porque vocês poderem vir aqui, passar as informações que vocês
têm pra gente, com certeza é bom. Eu não me sinto incomodada.

Entrevistadora – Alguém se sente incomodado? Vocês concordam com o grupo? Ou


alguém fala assim: “ah, eu acho que o grupo ás vezes se sente
incomodado”, o que vocês acham?

Entrevistadora – Marcos... Ta quieto hoje... Alguém deixou de falar de algum


sentimento? Todo mundo falou? O J.... tudo bem, se você quiser falar
do sentimento em relação ao mercado de trabalho.
Sujeito (Homem) – Eu sinto raiva.

Entrevistadora – Raiva?
Sujeito (Homem) – É.

Entrevistadora – Raiva já foi dito, né? O que você diria em relação a esse sentimento,
por exemplo, se um colega seu falasse: “eu sinto raiva”, o que você
diria pra ele?
Sujeito (Homem) – Raiva, mas de um jeito diferente, raiva que isso é ruim e que a gente
tem que tentar mudar. É nessa linha de pensamento. É isso.
Sujeito (Mulher) – Mas você tem esse sentimento, raiva, em relação ao mercado de
trabalho, mas por quê?
Sujeito (Homem) – Porque, pelo menos eu, todos nós somos da periferia e vê, todos os
jovens passam um aperto, onde quer um tênis, camiseta, sei lá, fazer
um cursinho melhor e isso tem que ter dinheiro, pra ter dinheiro tem
que trabalhar e você não consegue, trabalho ta difícil, às vezes, sei lá...
porque você mora na periferia. Os caras tem um emprego e não vão te
dar porque você mora na periferia, e eu fico indignado com isso, sinto
raiva.

Entrevistadora – Alguém mais sente indignação? O que vocês acharam da atividade?


Sujeito (Mulher) – Eu achei interessante porque até então eu não tinha feito nada, assim,
parecido. Foi legal porque a gente pôde expressar os sentimentos que
a gente tem em relação ao mercado de trabalho. Cada um pôde falar o
que sente, o que acha. Foi interessante.
Sujeito (Homem) – E as brincadeiras também né? Foi a gente ver a importância de
trabalhar em grupo que nem vocês falaram que não podia deixar a
bexiga cair.
Sujeito (Mulher) – Da dificuldade que teve de manter as bexigas.
Sujeito (Mulher) – E todo mundo pensou na bexiga do outro, né?
Sujeito (Homem) – Você puderam ter uma visualidade, eu acho que foi uma atividade pra
ver como o grupo se comportava. Eu acho que foi por ai.

Entrevistadora – Vocês acham que a gente tava observando o comportamento de vocês?


Sujeito (Homem) – Eu acho que tava.
Sujeito (Mulher) – Se trabalha individualmente.
Sujeito (Homem) – Eu acho que a melhor forma de vocês ver a união. Eu mesmo pude ver.
Todo mundo se esforçando pra não deixar a bexiga do outro cair, ele
mesmo caiu no chão.
Sujeito (Mulher) – Ninguém se preocupou com “ah, não vou deixar a minha cair”, todo
mundo jogou...
Sujeito (Homem) – Essa foi uma forma da gente mostrar a verdadeira união que a gente ta
tendo desde o primeiro dia.
Sujeito (Homem) – Pra se ligar também, interessante, porque todos se uniram, juntos,
tipo... segurando o outro, não deixando a bexiga cair. Apesar que eu
tentei segurar a minha e joguei a minha pra cima e a deles caíram lá
do outro lado, quis correr atrás e não consegui mais.
Sujeito (Homem) – Foram todos unidos pelo mesmo pensamento.
Sujeito (Mulher) – No mercado de trabalho é difícil você encontrar isso, né? Uma pessoa
tentando te segurar ali pra não deixar você cair no chão, é difícil.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que essa brincadeira da bexiga, cada um tentou dar o seu
melhor, né? O que podia pra deixar a bexiga no ar, eu acho que todo
mundo se esforçou pra tentar deixar a bexiga no ar.
Sujeito (Homem) – Essa é a verdadeira prova de que não há rachadura no grupo, ninguém
quer ser melhor que ninguém, todos viemos com um objetivo que é
aprender.

Entrevistadora – Então vocês acreditam que no grupo não tem ninguém querendo ser
melhor que ninguém?
Sujeito (Mulher) – Ah, eu acho que não. Mas falta a opinião dele, que ele chegou agora.
Sujeito (Homem) – Questão de que?
Sujeito (Homem) – Ela deu a gincana, mandou a gente escrever nossos sentimentos no
mercado de trabalho...

Entrevistadora – Sentiram a sua falta, viu J.


Sujeito (Homem) – ... mandaram a gente colocar dentro da bexiga e encher, aí mandaram
a gente jogar a bexiga, ficou todo mundo aqui no meio, jogou a bexiga
pra alto, não podia deixar a bexiga cair no chão.
Sujeito (Homem) – Mas pelo que eu vi vocês estão falando de união, né? Mas essa união é
só aqui...
Sujeito (Mulher) – Isso, mas é em relação ao grupo.

Entrevistadora – Em relação ao grupo mesmo.


Sujeito (Homem) – Mas assim, ela me vê e ela não fala comigo, que união é essa? É só
aqui dentro?
Sujeito (Mulher) – Quando eu te vi?
Sujeito (Homem) – Aqui no C. A gente sempre se tromba, eu olho pra você, você olha e
passa de cabeça baixa. Que união é essa?
Sujeito (Mulher) – Não, agora deixa eu me explicar, não é bem assim, eu sou meia cega
mesmo eu passo pelas pessoas e às vezes eu não falo, eu passei por
eles aqui, eles estavam sentados, acho que eu passei umas duas vezes,
eu não falei, depois eu fui falar: “oi gente”, é que eu sou meio assim,
mesmo. Mas se eu ver na rua eu falo.
Sujeito (Homem) – Tem gente que é tímida também.
Sujeito (Mulher) – Não, eu não sou tímida. Mas é que eu sou meia cega mesmo, eu passo
por uma pessoa e nem vejo, mas pode gritar, falar oi, pode gritar que
eu vou falar um oi também. Até quem eu não conheço fala oi pra mim e
eu falo.

Entrevistadora – Mais alguém acha que o grupo não é tão unido assim?
(Risos)

Entrevistadora – Às vezes... é sentimento... Vocês sentiram algum momento angústia de


alguma pergunta que eu fiz?
Sujeito (Homem) – Não.

Entrevistadora – Incomodado? “ai, mas que pergunta estranha?”


Sujeito (Homem) – Não.
Sujeito (Homem) – Não que às vezes você vai bem profundo ali, às vezes é essa função que
é a informação que nós pegamos, né? Com a experiência que nos
vamos trocar é bem profunda aqui.
Sujeito (Homem) – Eu acho que é importante a pergunta porque desperta a curiosidade,
às vezes você pergunta, eu mesmo, eu não tenho a resposta certa, eu
fico em casa tentando formular a resposta pra guardar comigo, pensar
a resposta disso, eu acho que a pergunta faz com que você pense, não
fique acomodado com que tem aí, faz com que a gente pense no que ta
acontecendo e o que tem que fazer pra mudar.
Sujeito (Mulher) – O erro também. O erro a gente... se não fosse o erro a gente não sabia
de nada.
Entrevistadora – O grupo estava falando sobre... eu como coordenadora e a A. como
observadora, a gente tava observando vocês. Vocês usaram essas
palavras assim, né? Como que vocês vêem essa observação? Como que
vocês acham que a gente observa vocês? O que vocês acham que a
gente observa vocês? Vocês se incomodam com alguma coisa, o que
vocês acham que a gente observa?
Sujeito (Homem) – Vocês observam o modo da gente se expressar, comportamento.
Sujeito (Homem) – Da forma de trabalhar em grupo.
Sujeito (Mulher) – Se a gente realmente é entrosado ou não. Mas me incomodar, eu não
me incomodo porque eu sei que o trabalho de vocês aqui é, digamos,
que orientar a gente da melhor forma, agora vocês estão observando,
mas eu sei que na última reunião vocês vão dar o retorno pra gente,
porque vocês observaram, o que a gente fez de errado, o que não fez,
qual é a melhor forma.
Sujeito (Homem) – Eu acho também que vocês observa a gente, o momento que a gente
anda, como a gente se comporta também. Porque tem também aquela
coisa também do mercado, né? A pessoa vai fazer uma entrevista,
primeiro tem a psicóloga, a pessoa tem que fazer um desenho, vê pelo
desenho os sentimentos dela. Eu acho que é isso que vocês estão
observando.
Sujeito (Homem) – Da fila, algumas pessoas se comportam se ficam nervosas, fazem a fila
demorar pra ver como a pessoa se comporta na fila.

Entrevistadora – Vocês se sentem observados por mais alguém no grupo? Por vocês,
vocês acham que se observam, com quem essa sensação? Vocês se
sentem com alguma observação específica? O que vocês acham desse
silêncio?
(Risos)
Sujeito (Mulher) – Que ninguém se sente incomodado com nada, por esse silêncio... do
meu ver, né? Não sei.

Entrevistadora – Todos concordam?


(Risos)

Entrevistadora – O silêncio incomoda?


Sujeito (Mulher) – Incomoda.
(Risos)
Sujeito (Mulher) – A única coisa que incomoda no grupo é o silêncio.

Entrevistadora – Por quê?


Sujeito (Mulher) – Sei lá...
Sujeito (Homem) – Dá uma sensação estranha.
Sujeito (Mulher) – Um fica olhando pro outro, quem vai falar?
Sujeito (Mulher) – Se alguém vai falar alguma coisa.
Sujeito (Homem) – Eu acho que o silêncio também é legal porque no silêncio há olhares,
sei lá... e o olhar passa muita coisa pra uma pessoa. Se a gente ta no
silêncio a gente fica se olhando e fala “não, eu falo”, fica nesse clima.
Sujeito (Homem) – Ou às vezes faz a pessoa ficar com um barulho assim: aquilo, aquilo,
aquilo, aquilo.
Sujeito (Homem) – Ou às vezes até mesmo pra refletir.
Sujeito (Homem) – Exatamente isso.
Sujeito (Homem) – A próxima pergunta que vir, você já ta com a resposta elaborada.
Sujeito (Homem) – Por alguns motivos o silêncio é a melhor coisa da vida. Um momento
pra você refletir, pensar nas coisas que você vai fazer, pensar no
amanhã. Pensar nos seus erros. É o melhor amigo do ser humano, o
silêncio.

Entrevistadora – Porque vocês ficaram ansiosos? Agitados, quando fica um silêncio?


Sujeito (Homem) – Porque nós ficamos: “quem sara que vai falar?”, não tinha uma
resposta e “quem será que vai falar?”.
Sujeito (Homem) – A gente já tentando elaborar...
Sujeito (Homem) – Mas só que não dava certo.
Sujeito (Mulher) – Porque eu, quando uma pessoa faz uma pergunta, aí uma pessoa
responde, aí eu respondo em cima da resposta do outro, tipo isso.
Quando a outra pessoa responde, a resposta fica mais clara pra você e
você elabora a sua resposta, pelo menos sou assim.
Sujeito (Homem) – Às vezes dá tempo da pessoa pensar.
Sujeito (Homem) – Tem vez que vai falar aí os dois fala junto. Ai “fala você”, aí...
Sujeito (Mulher) – Esquece também.
Sujeito (Mulher) – Mas em relação ao silêncio eu me sinto super incomodada. Eu não fico
em silêncio.
Sujeito (Homem) – O silêncio também trás sensações pra pessoa.
Sujeito (Mulher) – Eu fico angustiada.

Entrevistadora – Por que será?


Sujeito (Mulher) – Eu não sei. Acho que to acostumada a todo mundo falar, sei la... se
ficar em silêncio o que eu vou fazer?

Entrevistadora – Vocês gostariam de ta falando o quê? Em vez de ficar em silêncio?


Sujeito (Mulher) – Ah, sei lá...
Sujeito (Homem) – Outra coisa.
Sujeito (Mulher) – É. Outro assunto, outra pergunta.
Sujeito (Homem) – Na sala quando bate o silêncio a primeira coisa que a gente começa a
falar é futebol. Aí é um zoando o outro, pra passar o tempo, é falar de
futebol. Na hora surge vários assuntos. Às vezes até a (??) mesmo fica
incomodada, pede silêncio e a gente às vezes fazendo instalação não
consegue.

Entrevistadora – Vocês acham que dá pra comparar o silêncio com mercado de trabalho?
Sujeito (Mulher) – Eu acho...

Entrevistadora – Esse sentimento. Um exemplo, quando você está diante do mercado de


trabalho, você não sabe o que vai acontecer, porque vocês são jovens e
vocês não sabem o que vai acontecer, enquanto você ta no silêncio
você não sabe o que vai vir depois do silêncio.
Sujeito (Mulher) – A princípio o mercado de trabalho, quando você vai fazer uma
entrevista, acho que o primeiro de tudo você tem que ir em silêncio,
porque primeiro você vai ta numa sala, dependo da entrevista, você vai
tá numa sala com um monte de pessoas, ninguém conhece ninguém, aí
fica todo mundo olhando pro outro: “ai meu Deus, o que vai
acontecer? O que eu vou ter que fazer?”, aí a pessoa começa a ficar
angustiada. Eu acho que se eu tivesse que fazer uma entrevista e
ficasse assim numa sala assim, eu ficaria super angustiada.
Sujeito (Homem) – Eu penso que você chega a falar mesmo um bom dia, boa tarde, mesmo
bem fraquinho, você vais e sentir melhor. Se você reparar ao seu redor
e ver quantos falam, acho que só de responde você vai perceber quem,
se tiver um trabalho em equipe, quem vai... você vai saber quem vai
elaborar ou não, se vai ter mesmo um trabalho em equipe.

Entrevistadora – Mas o que eu quis dizer, é só pra gente finalizar o pensamento, ta bom?
O que eu quis dizer o que significa esse silêncio pra vocês? É o
desconhecido, vocês não sabem o que vão vir. Quando faz o silêncio
acabou o assunto, vai vir um outro assunto que vocês não conhecem,
vocês concordam?
Todos – Hã, hã.

Entrevistadora – Isso gera o quê? Ansiedade. Porque você não sabe o que vai acontecer
você não está dono da situação, porque você não está controlando a
situação. Pode vir uma fala boa, ou uma fala ruim, ou, entendeu? Isso
gera um atrito, uma ansiedade. Assim como agora que vocês estão
diante do mercado de trabalho, vocês sabem o dia de amanhã de vocês?
Vocês estão numa fase de conquistar, vocês não sabem ainda o chão,
entendeu? Vocês não sabem aonde vocês estão pisando, vocês
entenderam agora a comparação que eu fiz do silêncio, eu digo assim: é
do sentimento que vocês têm quando fala de silêncio, então é uma
situação, entendeu? Quando a sala fica em silêncio é uma situação.
Então imagine aquela ansiedade, aquele desconforto que você tinha
dito, e o mercado de trabalho é a mesma coisa, quando você olha e pára
diante dele. Entendeu: “ah, o que eu quero fazer, que carreira eu quero
seguir, como que vai ser, será que eu vou conseguir...”, entenderam a
comparação que eu fiz? O que vocês acham dessa comparação, só pra
finalizar?
Sujeito (Mulher) – Ó, começou...
Sujeito (Mulher) – Eu acho que a comparação que você fez deixou bem claro o que é e eu
concordo com o que você quis dizer que o silêncio é um desconhecido
que a gente não sabe o que vai acontecer. É o que você falou a gente
fica bem ansioso, eu fico bem...

Entrevistadora – Vocês acham que é quase parecido o sentimento do silêncio e o


sentimento quando vocês olham pro mercado de trabalho hoje? Ou
vocês acham que tem alguma diferença?
Sujeito (Mulher) – Eu acho que é parecido porque a gente não sabe o que a gente vai
enfrentar. A gente não sabe o que... a gente pretende uma coisa mas a
gente acaba entrando em outra área, então ali você não sabe o que
pode vir e o que pode acontecer.
Sujeito (Homem) – Que serviço, o que vão falar, o que...
Sujeito (Mulher) – O que vão pensar de mim...
Sujeito (Homem) – Será que eu vou saber o que responder, será que não vou...
Sujeito (Homem) – Fora a ansiedade também, né? Fica, tipo, esperando, ansiedade
mesmo assim...
Sujeito (Mulher) – Só atrapalha.
Sujeito (Homem) – Tem perguntas que as pessoas fazem assim que... tem alguma cosia pra
falar pra você, você já fica em dúvida, já. Se é boa ou é ruim...
Sujeito (Mulher) – Você já quer saber o que é.
Sujeito (Homem) – Se é notícia que vai vim é de proveito pra você ou se não é. A pessoa já
fica com ansiedade pra saber se é uma coisa que serve.
Sujeito (Homem) – Eu acho que depende da classe que você tiver. Porque, vamos dizer,
quero ser um empresário, vou ter que começar de baixo, a filha do
Silvio Santos quer ser empresária, ela já vai chegar comandando, não
tem como a gente ser do mesmo nível, vamos dizer, ela faz uma USP e
eu também, ela vai começar por cima e eu por baixo. Então eu acho
que tem essa diferença.
Sujeito (Mulher) – Só pelo nome que ela leva, porque o pai dela já é bem conhecido, então
ela já vai levar o nome do pai dela.
Entrevistadora – Bom pessoal, nós vamos finalizar a reunião porque já ta tarde, agradeço
de novo a presença de vocês, vamos levar essa reflexão pra casa porque
na próxima sessão e última a gente já vai começar com essa idéia, ta?
Conversando um pouco sobre esse sentimento em relação com essa
ansiedade que vocês têm relação ao mercado de trabalho, combinado?
Alguma dúvida, alguma pergunta?
Sujeito (Homem) – Que pena que acabou. Tava tão legal.

TERCEIRA SESSÃO - 19/10/2006

Entrevistadora – Bom pessoal, pra gente definir a tarde, hoje eu acho que não vai ser
possível, só se a V. chegar porque a V. que não tem disponibilidade de
sábado à tarde, né? Então a gente tem que conversar com ela pa ver
qual é o último encontro dela.
Sujeito (Mulher) – Ela disse que só tinha mais dois encontros.
Sujeito (Homem) – E à tarde... na verdade é até três e meia, que é aqui mesmo, vai ter
mais algumas oficinas.
Todos – Ah, do negócio...

Entrevistadora – Essas duas semanas, né?


Sujeito (Homem) – Eu não tô, ela vai prestar Etti, eu não vou prestar. Ela tá tendo oficina
pra estudar Etti.

Entrevistadora – Entendi. Então vamos combinar assim, a gente entra em contato com a
Sueli e ela passa pra vocês, tá? Mas a gente fica meio que combinado
entoa, Sábado à tarde, umas 14 horas pra vocês tá bom? Porque aí
vocês saem daqui meio-dia e dá tempo de tá lá. As 14h, não nessa
primeira, nessa segunda, provavelmente na terceira semana, só que a
gente tem que ve direitinho, porque? Por causa do nosso TCC, a gente
tem que ver se não vai ter nada, e por causa dos feriados, porque tem
um monte de feriado.
Sujeito (Homem) – Então no terceiro sábado. E que dia vai cair o terceiro sábado?
Sujeito (Mulher) – Acho que...

Entrevistadora – Mas aí eu entro e em contato com vocês. Vocês podem ficar


despreocupados quanto a isso. Então a gente passa um e-mail para S.
ou liga pra ela...

Entrevistadora 2 – Porque a gente vai ter que ver as datas lá dos dias que tem que falar
com o pessoal de marketing também, a disponibilidade.
Entrevistadora – Tem todo um procedimento que a gente tem a fazer ainda, só que mais
ou menos a gente já sabe a disponibilidade de vocês. Yes?
Todos – Yes.

Entrevistadora – Então, como que tão os sentimentos de vocês em relação ao mercado


de trabalho? Depois de do que a gente conversou? O que vocês acham?
Ficou faltando conversar alguma coisa? Vocês lembram como que
finalizou a sessão passada?
Sujeito (Mulher) – Falando sobre os sentimentos.
Sujeito (Homem) – Dos sentimentos e... falou sobre os negócio lá de medo, de receio.

Entrevistadora – Aí a gente comparou o silêncio com o mercado de trabalho, a sensação


que eu tenho no silêncio e a sensação que eu tenho dentro do mercado
de trabalho. O que vocês acharam em relação a isso? O que o grupo
achou? Vocês aqui hoje. Sem pensar em ninguém lá fora, só em vocês
aqui dentro.
Sujeito (Homem) – Peraí, eu não entendi a pergunta.

Entrevistadora – O que você achou em relação a essa comparação que eu fiz no último...
na sessão anterior, na reunião passada, de comparar o silêncio, o
sentimento que você tem do silêncio porque é um sentimento, na
verdade é uma sensação, porque o silêncio é o desconhecido, né? E o
mercado de trabalho também. Vocês sentem essa ansiedade, essa
sensação também quando fica em silêncio é a mesma coisa que quando
você tá diante do mercado de trabalho, ou não, você concorda ou você
discorda?
Sujeito (Homem) – Ah o sentimento que eu sinto é um sentimento de angústia, não sei se é
o que o outro vai falar do silêncio, não sei se outras pessoas vão falar,
quando tem o silêncio eu não sei se o outro vai falar ou eu falo...

Entrevistadora – Você acha que... porque acontece isso? Porque com todo mundo
acontece isso?
Sujeito (Homem) – Muitas vezes é medo, né? Aí outros não, é timidez.
Sujeito (Mulher) – É porque a gente não sabe o que vai acontecer, né? Então...
Sujeito (Homem) – A pessoa se sente insegura.
Sujeito (Homem) – Eu fui fazer uma entrevista na Ford, uma entrevista assim, porque é
várias etapas lá no curso e tem uma entrevista. Aí eu peguei e fui lá, eu
não sabia o que eles iam falar, né? Fiquei tremendo, branco, aí
quando chegou a minha vez, só faltava eu desmaiar, todo mole, não
sabia o que ia perguntar, tava lá conversando numa boa, aí não foi
nada que eu tava pensando, não, foi até legal.

Entrevistadora – Vocês falam bastante de processo seletivo no grupo, né?


Sujeito (Mulher) – A gente passa por isso sempre.
Sujeito (Homem) – É. Quase todos os dias.
Sujeito (Homem) – É que isso aí é basicamente... é que nem aqui dentro muitos dos pontos
que eles procuram passar pra gente é isso daí, que nem o jeito que a
gente tem que se comportar no Aprendiz mesmo, é só isso daí, é um dos
pontos mais fortes. Vão te falar como você tem que se comportar e uma
das principais noções, tipo assim, de pensamento, as respostas que
você tem que ter. é isso daí, um dos pontos mais fortes que eles
comentam são esses.

Entrevistadora – Do processo seletivo ou quando você tá lá dentro?


Sujeito (Homem) – Dos dois praticamente.
Sujeito (Homem) – Geralmente os dois, aí entra ética, postura, e ética profissional. Sujeito
(Homem) – São os pontos mais importantes.
Sujeito (Mulher) – Aí já mostra uma disputa que a gente sempre vai ter. seleção já fala,
participar de uma seleção e se você se encaixar na proposta vai,
senão...

Entrevistadora – Vocês estavam falando de ética, vocês acham que esse grupo aqui ele
age com ética?
Sujeito (Homem) – Com certeza.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que sim.

Entrevistadora – Por quê?


Sujeito (Homem) – Eu e ele, ele não ta cortando a minha vez, nem eu tava cortando a vez
dele, mas só que nós abrimos a boca no mesmo tempo, nós parava, né?
Então cada um espera a vez do outro se expor e fala educadamente
também.
Sujeito (Homem) – Não quer roubar a vez do outro.
Sujeito (Homem) – É. Tem que esperar...
Sujeito (Homem) – Passar por cima...
Sujeito (Homem) – ... os direitos de expressão do outro.
Sujeito (Homem) – Não muito também.
(Risos)
Sujeito (Homem) – Só que o que eu aprendi não é isso não, né?
Sujeito (Homem) – Não, lá é... ah sei lá, só você convivendo pra você falar o que é... é
difícil você falar. Que nem eu falei da outra vez, é você falar uma coisa
e outro já vim com trinta palavras em cima de você, o outro mais
trinta. É guerra. É como se fosse um Big Brother, se você for ver assim,
é você querendo comer o outro vivo.
Sujeito (Homem) – É o jogo.
Sujeito (Homem) – É o jogo.

Entrevistadora – Mas isso tem aqui no grupo?


Sujeito (Homem) – Não aqui no grupo, não.
Sujeito (Homem) – Aqui não, mas se você for ver lá, não demonstra mas só de você ver no
olhar...
Sujeito (Homem) – Um quer comer o outro.
Sujeito (Homem) – Eu acho também que aqui não tem esse negócio de um querer ser mais
que o outro porque nós tamo aqui pra ter mais experiência, pra
aprender mais, é o que a gente quer, se fosse tipo... que nem no
McD’olnalds, com o meu colega do McD’olnalds do Aricanduva, aí
tinha uma pá de gente, nós pensava até que tinha que ser... era sala de
comes e bebes lá. Aí quando foi ver lá era pra selecionar o pessoal pra
entrevista e tudo. Aí chegou lá, a mulher já foi escolhendo já, e já foi
mandando embora quem já tava fora do padrão do que era a empresa
lá, aí tinha um rapaz lá que... sei lá, só porque ele tipo... a cor também,
às vezes a mulher já chegou e falou: “você já veio umas três vezes já,
você não tá selecionado porque você já ta fora da idade, já’, ai ele foi
embora e ficou uma pá de gente lá, aí tipo já começou a desunião, o
pessoal: “ou é eu ou você. Eu é que vou trabalhar nessa empresa’, aí
começou se separar, um ficou tímido, ficou sem falar com ninguém, é
maior, sei lá... se fosse falar alguma coisa sempre não quer falar com o
outro.
Sujeito (Homem) – Mas aqui no grupo tem a verdadeira união, né? Um ajuda o outro.
Sujeito (Homem) – Todos unidos pelo mesmo pensamento. Todo querendo aprender um
pouco. Eu aprendo com ela, ela com ele, todos dividindo opiniões.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que aqui no grupo, deu pra perceber também que a gente tem
pensamentos bem parecidos um com o outro. É um ou outro assim que
discorda um vez, mas eu acho que aqui de todos, nosso pensamento é
bem parecido, as opiniões.

Entrevistadora – Eu e a A., nós representamos o quê? Como que vocês vêem a gente?
(Risos)
Sujeito (Homem) – Ah, eu acho assim, vocês tão observando o que a gente tem a
trabalhar.
Sujeito (Homem) – A falar do trabalho, a gente da zona leste.
Sujeito (Homem) – Vocês vieram avaliar a gente da zona leste, a gente jovem.
Sujeito (Homem) – Como que é o nosso pensamento.
Sujeito (Homem) – É, sobre a área de trabalho.
Sujeito (Homem) – Tirar também um pouco o nosso medo né? Sobre o trabalho.
Sujeito (Homem) – É como se você tivesse, você não é entrevistadora, fazendo pergunta e
em cima da nossa dúvida vão preencher uma das outras.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que vocês também tão aqui, vem aqui assim... fugiu a palavra,
depois eu falo...
Sujeito (Homem) – Ensinar, né? Sei lá, tirar dúvida. Vocês quieta, que nem ela ali, só
vendo o nosso agir, nosso modo de se comportar, até ver, acho que até
mesmo fugindo um pouco do assunto pra ver os nossos pensamentos,
ver nossas idéias assim, o que a gente pensa sobre o amanhã, as
chances de trabalho.
Sujeito (Mulher) – Acho que era mais ou menos isso, você estão aqui pra estimular a
gente a discutir mais sobre esse assunto pra gente, o que a gente pode
fazer pra melhorar, porque é desse jeito, acho que é mais pra estimular
esses assuntos assim no mercado de trabalho.
Sujeito (Homem) – As dúvidas que a gente tem, tipo... a gente tem algum assunto que a
gente precisa desenvolver, pra gente passar, que a gente precisa
quando for ver uma vaga já ter mais experiência.

Entrevistadora – Vocês acharam estranha essa pergunta?


Sujeito (Homem) – Não, mas foi um pouco profunda.
Sujeito (Homem) – Eu sabia que uma hora ou outra ela ia vim, e eu acho que a última...
era a hora certa de vir na última.
Sujeito (Mulher) – Ah, eu acho que vocês também vão esclarecer pra gente porque vocês
vieram pra cá, porque escolheram aqui, o lugar.
Sujeito (Homem) – É.
Sujeito (Homem) – Mas tipo... vocês foram selecionado lá na faculdade ou são vocês
mesmo?

Entrevistadora – Como?
Sujeito (Homem) – Foi tipo... vocês foram selecionadas, vocês duas, pra trabalhar com a
gente ou outros grupos também? Pra trabalhar fora também?

Entrevistadora – Então, na verdade é um trabalho nosso. Não tem mais nenhuma outra
pessoa envolvida, só nosso grupo mesmo.
Sujeito (Homem) – E lá na faculdade lá tinha união lá?
(Risos)

Entrevistadora – O que vocês acham?


Sujeito (Mulher) – Eu acho que não.
Sujeito (Homem) – Com outras pessoas assim...
Sujeito (Homem) – É eu acho que com outras pessoas assim acho que não.
Sujeito (Homem) – Eu não sei, hein?

Entrevistadora – Porque vocês acham que não.


Sujeito (Homem) – Por quê? Porque é um tentando disputar a vaga do outro.
Sujeito (Homem) – Meu tio fala que tem bastante gente que faz faculdade no mesmo local
que vocês e ele fala que não tem muita, mas algumas pessoas sim, quer
se mostrar mais que o outro, mostrar que tem, sei lá... pode mais que...
as pessoas que têm mais dificuldade pra pagar, isso daí, ele disse que
tem pouco, mas existe ainda. Não são todos que são tratados dessa
maneira.

Entrevistadora – Mas vocês acham muito ruim ser tratado diferente?


Sujeito (Homem) – Ah, demais.

Entrevistadora – Por quê?


Sujeito (Homem) – Você se sente mal. Sei lá... sentimento de você ta incomodando ali no
lugar. Você acaba se sentindo mal, sei lá: “será que eu to
atrapalhando aqui? Será que eu to fazendo alguma coisa de errado
que todo mundo ta olhando?”.
Sujeito (Mulher) – Tem aquela coisa assim: “será que eu sou bem vinda aqui ou não?”.
Acho que é isso.
Sujeito (Homem) – Às vezes se sentimos mais baixos que os outros, né?
Sujeito (Homem) – Sua auto estima fica lá em baixo.
Sujeito (Homem) – E agora, como que é lá a faculdade?
Sujeito (Homem) – É. Como que é lá, explica um pouquinho.
Sujeito (Homem) – Nós achamos a nossa opinião.
Sujeito (Homem) – É. Fala a sua opinião. Você ou a A., também?

Entrevistadora – Mas, em relação à auto estima, vocês querem falar um pouquinho


mais?
Sujeito (Homem) – No dia.. quando acordamos precisamos da auto estima bem... a pessoa
já vem animada, ou seja, por exemplo se tem entrevista, se estiver com
pensamento lá, tiver baixa a auto estima, então você com certeza você
vai falar: “vou me dar mal na entrevista, na prova que tiver, na
dinâmica”, e a pessoa tem que buscar o melhor, a pessoa tem que
chegar assim: “não, vai dar certo, eu vou passar” e é isso aí.

Entrevistadora – Você acha que em outros grupo de outros adolescentes você acha que a
auto estima varia de graduação? Tem grupos que a auto estima é maior,
tem grupos que a auto estima é baixa?
Sujeito (Mulher) – Olha, eu acho que varia, eu acho que tinha que ir no grupo em si, a
auto estima é elevada, mas cada um individual, no seu dia-a-dia, tem
dia que a auto estima um dia ta lá em cima, e no outro ta lá em baixo.
Mas no grupo em si eu acho que quando a gente se reúne, a auto
estima é lá em cima.
Sujeito (Homem) – Varia muito. Pela pessoa também, pelos problemas que passa no dia,
pode ser pessoal mas prejudica no mercado de trabalho ou no
profissional, também no lado profissional pode atrapalhar o lado
pessoal e assim vai.
Sujeito (Homem) – Eu acho também que a pessoa tem que ter uma auto estima em torno
da pessoa mesmo, seja, tipo... pra entrevista. Tem pessoas que vai pra
uma entrevista assim com a auto estima diferente, outro sotaque, vai
arrumar um emprego e vai pra uma entrevista vai todo...
Sujeito (Homem) – Tem cara que vai cabisbaixo.
Sujeito (Homem) – Ou não. Vai triste porque... às vezes a pessoa mostra vários
sentimentos. Tem sentimentos que a gente conhece, olha na cara e ta
maior triste. A pessoa tem que mostrar um auto estima elevada, sempre
alegre, sempre com comunicação.
Sujeito (Homem) – Aí é que ta o problema. Porque às vezes você acorda com a sua auto
estima, digamos, alta, animado, mas se você ta precisando de um
serviço no mercado de trabalho, entoa, querendo ou não você vai ficar
baixa a auto estima e aí vai te prejudicando, você se preocupa com um
problema ali, problema pessoal, e tenta buscar e não dá certo.
Sujeito (Homem) – Aí depende da pessoa, que muitos não consegue.
Sujeito (Homem) – Exatamente.
Sujeito (Homem) – Muitos ficam com depressão.
Sujeito (Homem) – Comportamentos também, que a pessoa tem que ter quando for pra
uma entrevista assim... ir do jeito que... associar né? Igual pra um
entrevista mesmo.
Sujeito (Homem) – Arrumadinho.
Sujeito (Homem) – A pessoa tem que ir com uma auto estima gigante. Demonstrar que
quer trabalhar.

Entrevistadora – O Marcos falou assim da faculdade, de se sentir diferente. Então como


que é isso? O que é se sentir diferente?
Sujeito (Homem) – Como assim? Diferente no quê?
Sujeito (Homem) – Que sentido você ta falando? Pessoa?

Entrevistadora – É. Porque você falou que é ruim a faculdade porque a pessoa fica se
sentindo diferente. O que é se sentir diferente?
Sujeito (Homem) – Ah, sei lá... às vezes uma pessoa é mais rica que ela e ela se sente
diferente, muitos, que nem muitos falam: “são metidos”, nem olha pra
você. Aí acho que a pessoa que se sente diferente assim, a auto estima
dessa pessoa, com certeza, você acha que vai ta lá em cima?

Entrevistadora – Vocês imaginam que a auto estima dessa pessoa é lá em cima?


Sujeito (Homem) – Lógico.
Sujeito (Homem) – Às vezes você ta perto do carro você olha a pessoa e a pessoa olha já
demonstra, só naquele olhar, que você vai sentir a diferença. Às vezes
ela ta te esnobando ali, maltratando só pelo olhar. Então a pessoa
pode sentir inferior a ela, diante dela.

Entrevistadora – Então vocês acham que existem pessoas iguais?


Sujeito (Homem) – Às vezes sim e às vezes não. Iguais?
Sujeito (Homem) – No mesmo momento sim.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que nunca vai existir pessoas iguais, existe pessoas parecidas,
pensamentos parecidos, jeitos parecidos, mas pessoas iguais, na minha
opinião, eu acho que não.
Sujeito (Homem) – Na minha também... eu também acho porque sempre... é dificilmente
você vê fazer a mesma atitude, até pelo pensar, às vezes acontece,
pensar é normal, às vezes pode bater o mesmo pensamento, mas igual
fazer a atitude igualzinha assim pode acontecer algumas coisas
parecidas, mas nem completamente é. Então isso não torna
completamente igual. Eu penso.
Sujeito (Homem) – Olha o silêncio de novo.
(Risos)
Sujeito (Homem) – Lá na faculdade tinha silêncio assim?
(Risos)

Entrevistadora – O que vocês acham?


(Risos)
Sujeito (Homem) – Acho que... ah, não sei. Pra você sugerir o silêncio na hora da dúvida,
né? Da explicação de uma matéria. Não sei, na escola assim se você
não pergunta, o silêncio é pela sua timidez.

Entrevistadora – Mas vocês estão com dúvida agora?


Sujeito (Homem) – Não.
Sujeito (Homem) – Não. Tipo assim, eu to dando um exemplo do...

Entrevistadora – Vocês estão tímidos?


Sujeito (Homem) – É. Pensando que você vai falar outra pergunta já pra gente ir informar
a resposta, entendeu? Acho que por isso que surgiu o silêncio?
Sujeito (Homem) – Não tem mais assunto pra vir.
Sujeito (Homem) – É.
Sujeito (Homem) – Fica vago assim, sei lá. Às vezes a hora que você for falar você entra
em outro assunto assim, e você atropelar, não sei.
Sujeito (Homem) – Depois dessa a gente não sabe o que acontece.

Entrevistadora – O que vocês acham que vai vir?


Sujeito (Homem) – Não sei.

Entrevistadora – Vocês gostariam de falar de algum sentimento que vocês não falaram
no mercado de trabalho?
Sujeito (Homem) – O silêncio, né? Vai ser o principal. Vai ser como se fosse o seu
principal adversário.
Sujeito (Homem) – Eu acho que toda hora, sempre em todo lugar que você for vai urgir
aquele momento que vai mil pensamentos na sua cabeça, você vai
começar a pensar várias coisas, desde as piores até as melhores. Bom,
eu acho que ali tem a aparecer a sua auto estima. Você arrumar
alguma coisa pra fazer, sei lá.
Sujeito (Homem) – Bom, eu acho que o único sentimento que eu tenho medo no mercado
de trabalho é na hora da entrevista. Tipo assim, se o cara ta
entrevistando e o cara pergunta, às vezes eu me enrolo todo, não sai a
fala. Só isso, só. Só este sentimento.

Entrevistadora – Você se enrola e não consegue falar?


Sujeito (Homem) – Não. Eu tenho um pensamento mas só que na hora de se expressar
enrola algumas palavras.
Sujeito (Homem) – Você fica nervoso, né?
Sujeito (Homem) – Fico um pouco nervoso. Aí não sai nada.

Entrevistadora – Aconteceu alguma vez com o grupo?


Sujeito (Mulher) – Aconteceu.
Sujeito (Homem) – Praticamente todas as horas. Eu acho que nas horas mais importantes
pra você falar ali, você acaba se enrolando.
Sujeito (Homem) – Depois chega em casa e falta se matar.
Sujeito (Homem) – Você fica com ódio, sei lá. Porque eu não falei certo? Será que ele
ficou com dúvida. Acho que isso vai acontecer com nós no trabalho
que nós tem que apresentar em grupo.
Sujeito (Homem) – Tem que treinar, tem que ter treinamento.
Sujeito (Homem) – Ou às vezes você sai de casa, vai pra uma entrevista, por exemplo,
você fala algo e depois chega em casa e fica: “nossa eu podia ter
falado isso, ou isso, ou isso”, então se você não passou ali, ai você vai
estar adquirindo um aprendizado, você vai estar a busca de elaborar
mais seus argumentos, como se expressar melhor do que era antes. A
pessoa só aprende às vezes com erros, né?
Sujeito (Homem) – Que nem você podia errar nessa professora que tinha mais aula, vamos
supor, aí você fala uma coisa errada, aí em casa você pensa: “nossa
eu falei errado eu podia falar desse jeito”, aí quem sabe na próxima
você...
Sujeito (Homem) – Você pode aprender com o seu erro.
Sujeito (Homem) – Se espelhar e tentar consertar.

Entrevistadora – Esqueci. Ah, em relação à uma psicóloga que faz a parte de... o
trabalho, ou a pessoa que faz o trabalho de seleção, como que vocês
enxergam ela? Deixa eu mudar a pergunta, por favor: como você
enxergam uma pessoa que faz o processo de seleção em uma empresa
assim, quem já passou por essa situação de entrevista? Porque eu to
falando? Porque vocês falam muito de entrevista de processo seletivo,
quem já passou por isso, esse processo? Levanta a mão.
Sujeito (Homem) – Foi, no caso, ela ia ser a chefe, era uma ótima pessoa, ia ser
telemarketing, a única coisa era que tinha que ler um texto e foi ótimo,
mas só que depois eu não voltei lá porque eu cheguei em casa e pensei
porque eu tinha que lutar pra tentar vender uma quantidade certa pra
eu conseguir a vaga. Esse seria o processo, e apesar disso foi ótimo. Aí
tive uma também numa oficina com a psicóloga que deu a entrevista...
de uma empresa, ela falou várias coisas e eu não imaginava que ia
chegar gente pra entrevista. Você chegava a vontade, e a pessoa chega
lá e começava a discutir também no meio da entrevista. Então eu vi
que às vezes que com isso eu poderia não ser mal na entrevista, só de
acordo com a entrevista, se eu errar buscar a, aprender e buscar
porque eu errei e melhorar.

Entrevistadora – Mas todos vocês falam. O grupo inteiro fala de processo seletivo, de
entrevista.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que a gente fala bastante disso porque é uma coisa que a
gente sabe que vai ter que enfrentar mais pra frente. Então a gente já
tem uma visão de como que vai ser, o que a gente vai enfrentar lá na
frente.
Sujeito (Homem) – Primeiro o medo né? Tem várias pessoas que a gente conhece que
também que já passaram por esse teste e já conta pra gente como é que
foi. Por isso que eu acho que comento bem.
Sujeito (Homem) – Eu acho também que psicóloga sempre olha pelo jeito do
entrevistador. O jeito que ele ta falando, do jeito que ele se senta, se
comporta. Se ele é social, se ele... uma coisa que eu acho que eles
acham feio, que o entrevistador ele... tipo... a gíria, né? Tem gente que
usa muita gíria assim. Tipo coloca muito na malandragem. Então o
psicólogo já fica de olho nessa falha. Pra depois tipo... quando ele for
entrar na empresa vai ta com sotaque de malandrão assim. alguma
coisa assim, porque a pessoa tem que se auto... ver o seu padrão de
vida. A pessoa sai de casa pra arrumar emprego, chega lá ta de
qualquer maneira, chega na frente da psicóloga falando gíria, todo
malandrão, aí acaba queimando o próprio filme.

Entrevistadora – Como que vocês vêem o profissional dessa área? O que vocês acham?
Sujeito (Homem) – Pra mim eu acho que é selecionar o indivíduo certo que a empresa
gosta, quem tem o perfil da empresa.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que essa pessoa que vai ta selecionando... a gente vai ta
participando da entrevista, e então a gente vai ter que fazer o possível
pra agradar aquela pessoa que está entrevistando porque vai depender
dessa pessoa pra gente entrar na empresa. Então vai depender da
visão q ela teve da gente pra gente poder entrar na empresa.
Sujeito (Homem) – E o perfil também. Eu tive um exemplo, teve secretária que ela
trabalhava com o presidente e tinha uma lá que era mais comum. O
perfil dela encaixou, né? Então a psicóloga que chamou ela foi
profissional, porque igual a mídia, a mídia tava falando assim: “um
currículo muito cheio, uma página assim, se tiver muito cheio, não vai,
tem que ter um pouquinho”, então eu falei, perguntei algumas coisas
pra ela: “e se tiver uma página cheia mas tiver objetivo e estiver bem
elaborado, então pode por”, aí a mídia quis passar outra coisa, né? Já
pensou, se a pessoa tiver lá, o profissional trabalhando
profissionalmente, a pessoa que faz isso, né? Aí chama.

Entrevistadora – Mas qual é o sentimento que vocês têm em relação à essa pessoa?
Vocês...
Sujeito (Mulher) – Eu acho que a gente vai ter medo, né? Porque a gente não sabe o que
ela vai pensar, o que ela acha da gente, então...
Sujeito (Homem) – Às vezes eu acho que sente medo na hora antes de conhecer, mas
muitas vezes você se engana, às vezes são... é legal, algumas vezes não.
Aí depende como for o temperamento dessa pessoa.

Entrevistadora – Vamos cada um falar uma palavra? Em relação à pessoa que ta fazendo
a entrevista. Vamos continuar aqui.
Sujeito (Homem) – Uma palavra?

Entrevistadora – É.
Sujeito (Homem) – Como assim uma palavra?
Entrevistadora – Um sentimento.
Sujeito (Homem) – Nervoso.
Sujeito (Homem) – Ansiedade.
Sujeito (Homem) – Medo, angústia, nervoso.
(Risos)
Sujeito (Homem) – Ansiedade, expectativa, ansiedade.
Sujeito (Homem) – Ilusão(??), vergonha, timidez.
Sujeito (Homem) – Como que você vai se expressar, tristeza, euforia.
Sujeito (Homem) – Solidão. Vai ser só você e ela.
Sujeito (Homem) – Timidez.

Entrevistadora – E você J.? Uma palavra.

Entrevistadora 2 – Ele ta tão quieto.


Sujeito (Homem) – Dúvida. O que ela quer.
Sujeito (Homem) – Insensatez, também. Ansiedade.
Sujeito (Homem) – Vocês já passaram por alguma entrevista assim, na empresa?

Entrevistadora – Como assim?


Sujeito (Homem) – Tipo... vocês já passaram por algum processo de seleção assim? você
ou a A.?

Entrevistadora – Eu não.
Sujeito (Mulher) – Mas vocês já tiveram que fazer alguma entrevista pra ta entrando
numa empresa, não?

Entrevistadora – O que vocês acham?


(Risos)
Sujeito (Homem) – Ela sempre pergunta pra nós.
Sujeito (Homem) – Isso não vale!
Sujeito (Homem) – Eu penso assim, você ta trabalhando, não ta?

Entrevistadora – O que vocês acham?


(Risos)
Sujeito (Homem) – Você já disse que tava trabalhando, né? Ou seja, se você vai entrar
naquela empresa, você passou por algum processo de seleção. E como
você atua também nessa área, na área de psicóloga, então eu acho que
você já teve mais facilidade, você tem uma visão mais ampla que nós.
Sujeito (Homem) – É.
Sujeito (Homem) – Tem mais experiência, né?
Sujeito (Homem) – É, porque cinco anos na escola.
Sujeito (Homem) – Quatro.

Entrevistadora 2 – De faculdade cinco anos.


Sujeito (Homem) – E é o último ano delas agora. Já tem uma visão mais ampla que nós.
Sujeito (Homem) – Já é experiente, já.
Sujeito (Homem) – Deve ser uma psicóloga entrevistando a outra.
Sujeito (Mulher) – Entre você e ele pra passar numa entrevista, com certeza seria você,
pela sua visão, como você iria se desenvolver em uma entrevista.
Sujeito (Homem) – Depende.
Sujeito (Homem) – Depende do que a empresa quer.
Sujeito (Mulher) – Depende do perfil da empresa, mas eu acho que por ela ter uma visão
mais ampla do que vai falar, como se comunicar, eu acho que seria
ela.
Sujeito (Homem) – Como se comportar.
Sujeito (Homem) – Não é só porque ela tem uma faculdade ela poderia passar numa
empresa e eu que não tenho, não passar.
Sujeito (Mulher) – Não é porque elas tem uma faculdade, é porque elas teriam uma visão
mais ampla, é como se ela...
Sujeito (Homem) – Tivesse mais experiência.
Sujeito (Homem) – Mas depende da área, é igual o exemplo que eu dei, tinha a secretária
que tinha passado, tinha trabalhado com o presidente, e tinha a outra
que nunca trabalhou naquela área, mas o perfil dela encaixou no que a
empresa queria.
Sujeito (Homem) – É. Fala só um pouquinho só.
(Risos)

Entrevistadora – Sobre?
Sujeito (Homem) – Você vai responder?
Sujeito (Homem) – Aproveita que hoje é o último dia.

Entrevistadora 2 – É que na verdade, assim, como a gente ta em grupo, cooperativa, o


nosso papel, na realidade é só coordenar a conversa de vocês. Então a
gente não tem que fazer parte da conversa, entendeu? A gente só
estimula, só puxa o assunto pra vocês conversarem.
Sujeito (Homem) – Seria direto sem as pergunta, né?
Sujeito (Homem) – Faz um trabalho diferente.

Entrevistadora – Mas no final a gente responde, por isso que a gente fala “no final”,
entendeu? É por isso.
Sujeito (Homem) – Também tem pessoa que quando entra no mercado de trabalho, tipo...
ele fica muito ambicioso. Ele quer comprar um carro, uma Ferrari...
(Risos)
Sujeito (Homem) – É. Tipo a oficina que teve de automobilismo, tipo assim, a mulher tipo
entrou na empresa Johnson & Johnson, aí tipo, um exemplo que ela
deu: precisa só você ficar só coisando qualquer coisa. Se, pá, caiu uma
caneta, tipo ela falou assim: “eu vou ficar fazendo só isso daqui, eu
vou ter que criar’, ela teve mais criatividade, pensou mais e foi
passando, foi subindo de cargo cada vez mais.

Entrevistadora – Vocês do grupo, vocês querem trabalhar pra quê?


Sujeito (Homem) – Pra quê?
Sujeito (Homem) – Pra ter meu dinheiro.
Sujeito (Homem) – É. Pra ter meu dinheiro.
Sujeito (Homem) – Pra me manter.
Sujeito (Homem) – Pra sobreviver, portanto nós já tamo virando adultos, né? Ta chegando
a nossa fase.
Sujeito (Homem) – Ta na hora de ajudar nossos pais, né?
Sujeito (Homem) – E no modo que eles criaram nós, nós queremos ter uma família, criar
nossos filhos, e ficar não dependendo do pai pra sempre.
Sujeito (Mulher) – A sua pergunta foi assim: a gente quer trabalhar pra quê? Eu quero
trabalhar pra eu ter uma visa estável. Não ter muito, mas também não
ter pouco, ter uma vida ali estável, pro que eu precisar eu ter, não ter
demais assim.
Sujeito (Homem) – Ser classe média, assim, não querer ser assim, ricão. Morar num
bairro assim...
Sujeito (Homem) – Classe média.
Sujeito (Homem) – É. Classe média. Que você passa na rua não tem ninguém. Todo
mundo não ser excluído, né?

Entrevistadora – Pra vocês serem instruídos, vocês concordam com isso?

Sujeito (Homem) – Eu acho que não. Desculpa aí ta falando, mas... hoje o meu
pensamento é de trabalhar só pra ajudar a minha família, ter meu
próprio dinheiro, com que eu tenho, se eu fosse, se eu conseguisse com
esforço ajudar meus familiares, dar uma vida melhor pros meus pais,
pro meu irmão, isso daí. Trabalhar, ter meu dinheiro, realizar os meus
sonhos ir pro lugar que eu quero.

Entrevistadora – Você não concordou com o quê?


Sujeito (Homem) – Eles falaram de ser excluído, acho que pela fala deles ali foi mais de
morar em um lugar melhor, pra mim isso não existe, eu acho que eu só
tendo meu dinheiro ali, e minha própria casa, não importa onde ela
seja. Seja te na favela, eu gostando do lugar, pra mim não importa.
Sujeito (Homem) – Eu falo em excluído assim, que nem um catador de papelão, ele tem o
serviço dele, mas ele não ganha o necessário, por exemplo, ele não
tem, assim, do meu ponto de vista, ele não tem categoria de bonito pra
entrar em um determinado lugar, porque tem determinado lugar que
independente de você não poder entrar, mas se você entrar mal vestido
o pessoal vai ficar reparando, você vê que o padrão que está naquele
lugar, entendeu? Por isso que fica nesse sentido...
Sujeito (Homem) – Tipo o exemplo que deram na televisão esses dias, o exemplo do
Pânico, pegaram deram um monte de dinheiro por mendigo, aí o
mendigo foi entrar no restaurante aí não deixaram ele entrar porque
ele tava mal vestido, aí ele pegou, voltou no salão, arrumou , cortou o
cabelo, a barba, ficou bonitão, aí pegou, chegou lá na recepção assim
e os caras nem perceberam...
Sujeito (Homem) – Eles não foram com a reportagem...
Sujeito (Homem) – Antes quando ele tava vestido de mendigo assim, ele perguntou: “tem
algum vinho aí?”, e o cara falou “não tem vinho não”, aí quando ele
entrou na outra vez tinha vinho de tudo quanto é tipo. Maior
discriminação isso daí.
Sujeito (Homem) – Eu acho que a gente é muito pacífico, pelo padrão que a sociedade
impõe, a sociedade impõe um padrão e que gente aceita como se fosse
normal. A gente tem que acabar isso. E a sociedade vai fazer isso a
vida inteira se a gente não mudar isso.
Sujeito (Homem) – Só que deixar (?).
Sujeito (Homem) – Como assim?
Sujeito (Homem) – Se deixar pelo governo... Quando estuda, o professor passar uma
matéria, aquele conteúdo que ele passou quando você vai saber que
você vai utilizar? Por exemplo em prova, no ENEM, agora se você
paga particular, na escola particular, ele já ensinaram: “isso cai na
prova, isso, isso e isso”, pra nós não. E igual no C. C. busca nós ter
uma visão ampla, e o governo só deixa nós numa visão reta.
Sujeito (Homem) – Não pode admitir isso, tem que correr atrás.
Sujeito (Homem) – Lutar.
Sujeito (Mulher) – A gente fala muito de lutar, da gente correr atrás, só que a gente só
fica falando. Ninguém assim tem uma ação: “ah, a gente vai fazer
isso”, é igual o que ele falou na primeira vez que ele veio aqui, da
gente ter que mudar, a gente tem que fazer alguma coisa pra mudar
isso. Só que assim, só que só fica falando, ninguém toma atitude pra
fazer nada, e quando tem alguma coisa, nem todo mundo se envolve.
Eu acho que ainda ta naquela, o Brasil é democrático, só que é
democrático debaixo do pano, porque ninguém ta nem aí, tendo o que
você quer ta bom.
Sujeito (Homem) – A mesma coisa, dinheiro não cai do céu.
(Risos)
Sujeito (Homem) – Tanto que os ricos votaram mais pro G., porque votavam no G.?
Sujeito (Homem) – E também tem essa questão deles não terem... eles não passa um
conteúdo de estudo mais melhor pros pobres assim pra eles não ter
mais conhecimento.
Sujeito (Homem) – Pra não exigir.
Sujeito (Homem) – Até professor, quando o professor ta atuando naquela área, eu fiz já
uma (?) com ele, no termo de comercial, administração, entrevista eles
não sabem, apesar deles estudarem pra ser professor, mas se tivesse
algum ensino pra eles demonstrar pra nós, mas não, tem que passar
aquele conteúdo porque o governo que quer, se passar alguma visão
que não é o mercado de trabalho, que o ovo não tem essa visão como
que é, muitos imagina que é fácil por isso que não estuda, e assim vai o
governo faz isso e...
Sujeito (Homem) – Eu acho que a gente culpa muito os opressores e não faz nada, ano
adianta culpar os opressores se a gente não mudar nós mesmos. Os
caras faz e a gente aceita. Isso que eu to falando. Agora se a gente for
pressionar: “o professor, nós não vamos usar isso daí”, o cara vai e
não dá. Nessa aula, por exemplo, eu fiz isso, eu vou usar isso daí no
quê?

Entrevistadora – Vocês se sentem excluídos no grupo aqui de alguma maneira? Ou


vocês se sentem todos iguais?
Sujeito (Homem) – Eu não me sinto diferente de ninguém aqui.
Sujeito (Homem) – Eu também não.
Sujeito (Homem) – É que nem como eu disse, o mesmo pensamento, viemos aqui pra
aprender, temos todos a mesma classe de vida, moramos todos na
mesmo lugar, unidos aqui só pelo pensamento, de novo, pra aprender.
Sujeito (Homem) – Acho que o único jeito diferente é que às vezes um é mais tímido que o
outro, é só isso só.

Entrevistadora – Mas a pessoa, o comportamento?


Sujeito (Homem) – Comportamento? Não, no grupo aqui o comportamento de todo mundo
ta legal. Atropelando: “não, pode falar”, não é “não, eu vou falar”,
acho que só o que é diferente é que às vezes um mais tímido que o
outro.
Sujeito (Homem) – Voltando a educação, a aula de educação, que será que olha aqui,
porque será que quando a gente vai falar alguma coisa, que nem ele
falou, o professor de sei lá, de biologia, ela se acha a melhor de todos,
pra ela se é tal negócio, ela atropela, manda você calar a boca, você
pra ela não é nada. Você não tem vida, você som tem que ta ali pra
estudar e vim fazer o que ela manda. Se você questionar ela por algum
momento, ela passa até a te encarar no meio da aula, ela fala ali que a
única razão na sala ali é a dela, que a gente ta ali só pra aprender e
pra que você vai usar aquilo dali? Às vezes você vai perguntar e ela
deixa no vácuo ali, sem resposta pra nada. Tem vez que, que nem ele
falou, hoje pra mudar o Brasil só se fosse pra nascer de novo, pela
situação que ta aí, pelo menos a educação.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que tudo depende da educação, o Brasil ta do jeito que ta pela
educação porque se os professores tivessem um bom salário eles não
teriam que ficar correndo atrás de aula em escola nenhuma. Já teriam
mais tempo pra preparar uma boa aula, e se os professores fossem bem
formados, tivessem cursos passariam mais conteúdos pra gente e dali
da escola ia sair pessoas já bem informadas, com a informação mais
ampla de tudo, isso seria complementar com mais cursos, mas hoje não
é assim.

Entrevistadora – E vocês acham que um dia ainda pode melhorar?


Sujeito (Homem) – Acho que não.
Sujeito (Homem) – O professor já não foi contente pra sala de aula, to fazendo um
trabalho lá sobre como o professor devia se comprometer com o aluno,
ter um diálogo com o aluno e o professor, dentro do padrão de
respeito, no que ele falou assim: “o que adianta eu chegar aqui passar
a matéria e não ter um diálogo com vocês? Como eu vou saber que
vocês aprenderam? Então eu acho que tem que ser o seguinte: eu ter
um diálogo com vocês, conversar na hora certa, poder brincar na hora
certa, eu quero fazer vocês entenderem a matéria, se eu chegar aqui e
for grosso com vocês e só passar na lousa não vai render, eu tenho que
fazer vocês ir pela minha palavra, confiar em mim”.
Sujeito (Homem) – Fazer alguns dias umas aulas diferentes.
Sujeito (Homem) – É.
Sujeito (Homem) – E ele faz.

Entrevistadora – Qual é o sentimento que vocês tem em relação a isso?


Sujeito (Homem) – Como assim?

Entrevistadora – Vocês sentem raiva?


Sujeito (Homem) – Raiva do governo.
Sujeito (Homem) – Da escola?

Entrevistadora – É.
Sujeito (Homem) – Não da escola, mas eu tenho raiva do governo.

Entrevistadora – Eu falo disso que acontece, é uma realidade que a gente enfrenta não de
hoje, há muito tempo.
Sujeito (Homem) – Eu sinto dos professores, do governo, lá de cima, do presidente do
Brasil.

Entrevistadora – E esse sentimento que vocês tem em relação a escola vocês já tiveram
em algum momento aqui nesse grupo?
Sujeito (Homem) – Na escola, o problema dela é que o professor dá aquela matéria:
“vocês vão aprender isso”, ele quer mais que se dane.
Sujeito (Homem) – É, não ta nem aí.
Sujeito (Homem) – Ele nem vai correr atrás, o aluno não tá entendendo? “mas porque
você não ta entendendo? Ah vamos conversar, vamos passar a
matéria”, o professor mal acaba de passar aquela matéria, já dá outra
em cima pra embaralhar tudo, então você acaba não entendendo nada.
E outra, se o professor chegar e “eu vou passar isso daqui pra vocês,
vocês vai aprender isso pra tal coisa, isso vai ser bom pro seu futuro”,
mas não chega lá e a gente fica sem saber. Outro dia um moleque
perguntou: “pra que eu vou querer essas conta aí pra mim? Vou fazer
o que com essas contas”, o professor perdeu a linha com ele, já pegou
o caderninho amarelo e já fez anotação.
Sujeito (Homem) – Às vezes o diretor não dá atenção pra você, a sua justificação, só a do
professor só.
Sujeito (Homem) – Hoje mesmo eu fiquei do lado de fora da aula, cheguei atrasado do
intervalo, só que antes de eu subir pra sala, eu passei na secretaria pra
pegar um atestado de escolaridade, pra mim fazer um curso lá na USP
porque eles passaram entregando um folhetinho na sala de aula, não
sei se eles entregaram pra vocês, aí eu tava interessado até em ir, né?
Aí eu tava conversando na secretaria e era aula de química, aí nós
chegamos e o professor já tinha fechado a porta. “o professor...”, aí
ele olhou pra nossa cara assim e fechou a porta. Aí eu falei “o V., o
professor não quer deixar entrar na sala de aula”, e eu falei pra ela:
“e eu quero aprender porque essa matéria é importante”, ela falou
assim: “não posso fazer nada se o professor não quer deixar você
entrar dentro da sala de aula pra assistir”.
Sujeito (Homem) – Se vocês quiserem mais um resultado pega um dia e vai na escola. Só
de você entrar pela porta você já vê como que é o atendimento.
Sujeito (Mulher) – Eu acho de errado assim, primeiro uma coisa que o C. valoriza muito é
a opinião dos jovens em tudo, tudo que acontece aqui, quer a opinião
de todo mundo. E na escolinha aqui a gente faz o que a gente acha que
é o melhor, entendeu? E na escola não, vai numa escola tem um monte
de grade, as salas são separadas da escada pra você não sair. Então
eles querem tipo um padrão, vocês não vão fazer isso por causa disso,
eles não querem saber se a gente concorda com isso, se a gente acha
legal ou não, pra eles o importante é eles colocar do jeito que eles
acham melhor.

Entrevistadora – Pessoal, vocês estão falando da escola, mas a gente precisa voltar pro
grupo porque como é o nosso último encontro, né? Enfim...
Sujeito (Homem) – Pior que é mesmo.
Sujeito (Homem) – Que nem aqui no C. não é que nem na escola, os pessoal bagunça: “ah
vou te expulsar”, mandam você pra outra escola, aqui não, eles
conversam com você, porque você ta fazendo isso, ele não expulsa
ninguém do C., na escola você apronta uma coisa aí é advertência,
expulsa. Conselho tutelar.
Sujeito (Mulher) – É que aqui a gente já tem conscientização, se você vai faze, você faz,
você sabe quais são as conseqüências, lá na escola não, vai ter isso e
pronto, lá a gente faz assim mas sabendo que vai levar alguma coisa,
aqui você faz, vai da sua consciência, se você achar que isso é certo,
você ta tendo a oportunidade de ta fazendo um curso, se você acha que
você fazendo isso é bom pra você , então faz.
Sujeito (Mulher) – A responsabilidade é sua.
Sujeito (Homem) – Aí a gente vai vendo que assim, o melhor pra gente é aprender, então a
gente não vai fazer coisa errada, então a gente já tem essa consciência,
agora na escola não, é do jeito que eles querem.
Sujeito (Homem) – Se você for ver aqui a gente entrou na escola, chega lá na frente
quando você acabar o estudo, é tudo a ver que o governo quer. Então é
igual no mercado de trabalho, quer que você seja nada. Acho que
muitas vezes o cara não vai ser nada lá no futuro, não vai conseguir
emprego, que ele pegou um motivo ou raiva lá da escola, o que ele
tinha pra aprender ele não aprendeu, então resumindo é o seguinte:
isso vai pesar muito lá na frente pra ele arrumar um serviço, uma aula
que ele perdeu, não vai ser um professor que vai cair numa entrevista
de trabalho, eu acho que voltando à escola assim, e no mercado de
trabalho, vão ser dois pontos mais aliados, falando assim que tão
começando, que uma coisa que você vai aprender ali que você não
pegou, que você ficou fora da escola, uma hora você vai ter que
utilizar lá e você não vai ter recurso pra saber.

Entrevistadora – O que é ser um nada?


Sujeito (Homem) – Um nada?
Entrevistadora – Pra você e pro grupo inteiro. Não. É que o M. tava falando em ser um
nada, né?
Sujeito (Homem) – Um cara que não tem conhecimento. Que nem um colega meu, o
moleque é fissurado em vídeo-game o dia inteiro, você pergunta pra
ele o que é isso numa reportagem ele não sabe, agora você pergunta de
vídeo-game pra ele, ele só vai saber daquilo dali. Eu acho que pra mim
isso é um nada. Uma pessoa que não se interessa pelas outras coisas
ou só por um negócio.
Sujeito (Homem) – Aquilo é a realidade pra ele. Ta naquele mundo virtual e não vê o que
o mundo ta passando.
Sujeito (Homem) – Que nem meu tio fala: “é bom você aprender de tudo um pouco”, você
tem que aprender de tudo um pouco pra na frente você precisar de uma
coisa, você já sabe.
Sujeito (Mulher) – O que eu ouvi uma vez, eu concordei com a Sandy: “a gente pode não
ter dinheiro, mas tendo a informação a gente vai conseguir o
dinheiro”, porque a gente pode não ter dinheiro hoje, mas tendo a
informação a gente vai conseguir o que quer mais pra frente.

Entrevistadora – E porque adquirir o dinheiro... o que vocês comprariam com dinheiro, o


que vocês fariam?
Sujeito (Homem) – Compraria com dinheiro?
Sujeito (Homem) – Primeiramente uma casa.
Sujeito (Mulher) – Eu pensaria em fazer uma faculdade, aí eu fazendo essa faculdade eu
já estaria no mercado de trabalho, mas aí pagaria uma faculdade.
Com o diploma da faculdade eu teria mais possibilidade de conseguir
mais dinheiro porque eu ia conseguir um serviço melhor.
Sujeito (Homem) – Depende o salário, se fosse um salário baixo, que daria pra pagar no
mínimo uma faculdade, eu fazia faculdade, pra eu conseguir mais
dinheiro, se eu conseguisse mais coisa, como pagar minha faculdade,
aí compraria uma casa, ou então juntava.
Sujeito (Homem) – Também, se eu conseguisse um emprego nessa idade, minha mente
seria um SENAI, depois, se arrumasse um emprego melhor, ia ser a
faculdade.
Sujeito (Homem) – Eu acho que o dinheiro eu acho que eu preciso ver o que eu preciso
vestir, aquilo que vai dar retorno pra mim no futuro, no que eu vou
investir. Porque tem pessoas que recebe um dinheiro bom, não sabe em
que investir e acaba gastando, quando vai olhar (?) aí vai se
arrepender e não tem como pegar de volta. O dinheiro que foi não tem
retorno. A pessoa que ta com dinheiro tem que saber administrar bem
porque senão vai tudo pra trás.

Entrevistadora – E você investiria seu dinheiro aonde?


Sujeito (Homem) – Depende do dinheiro, se for uns 10 mil, 15 mil. Comprava uma casa
velha, sei lá.
Sujeito (Homem) – É que casa hoje em dia ta cada vez aumentando os valores: 40 mil, 50
mil.
Sujeito (Homem) – Eu acho que primeiramente é o estudo.
Sujeito (Homem) – Primeiro tem que estudar.
Sujeito (Homem) – Eu procuraria investir em ações.
Sujeito (Homem) – Negócios, né?
Sujeito (Mulher) – Tem um retorno mais rápido.
Sujeito (Homem) – Que nem a história do cara que hoje é o maior fábrica de bala do
Brasil, ele começou, a mulher dele tava doente, acho que foi até um de
vocês que contou a história aqui.
Sujeito (Homem) – A Vanessa.
Sujeito (Homem) – Ela falou que a mulher do cara tava doente, ele entrou no bar, pediu
dinheiro pra comprar remédio, aí ele teve um pensamento, que foi a
Vanessa que falou, comprar um pacote de bala pra ver se conseguia
mais dinheiro, aí ele foi comprando e o dinheiro foi aumentando, ele se
tornou até hoje, comprou uma doceria, aí hoje ele é dono da maior
fábrica de bala do Brasil, não sei.
Sujeito (Homem) – Esse tipo também é o exemplo do Silvio Santos, começou vendendo
campainha, comprando um monte de negócio, era camelô aí teve a
criatividade dele e foi criando.
Sujeito (Homem) – Essa aí é uma história não é essa não. Esse cara explorou muita gente.
Sujeito (Homem) – Você viu o começo da história dele? Ele começou na bosta, desculpe
aí, na merda.
Sujeito (Homem) – O dono das Casas Bahia também.
Sujeito (Homem) – Ele começou na merda.
Sujeito (Homem) – Mas explorou as pessoas.
Sujeito (Homem) – Ta ele explorou, hoje ele é um inútil, ele tem dinheiro, mas só o que o
cara fez ali, ele não mereceu, acho que o que ele fez ele merece o que
ele teve.
Sujeito (Homem) – Que nem o dono das Casas Bahia, ele começou com uma lojinha de
fundo de quintal. O cara é hoje ... quantas Casas Bahia não tem no
Brasil? Ele explora? Ta. Mas sei lá... mas retorno pelo menos ele teve.
Sujeito (Homem) – Eu acho que dinheiro a pessoa tem que saber.
Sujeito (Homem) – Então. Eu digo o retorno que eu to falando dele, a força de vontade
que ele teve.
Sujeito (Homem) – A gente é explorado e quem ganha é ele.
Sujeito (Homem) – Mas você vai fazer o que?
Sujeito (Homem) – Tem que correr atrás.
Sujeito (Homem) – E ele correu.
Sujeito (Homem) – É o capitalismo. No modo da pessoa... se você é empresário, dono de
empresa, botando alguém pra trabalhar pra ele, então o cara já ta
gerando o capitalismo.
Sujeito (Homem) – Lógico.
Sujeito (Mulher) – E às vezes ta explorando porque não ta pagando a quantidade certa,
mas a pessoa ta querendo trabalhar ali.
Sujeito (Homem) – É a mesma coisa.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que é a mesma coisa digamos que você vai abrir uma
empresa, você vai precisar de gente pra trabalhar mas você não vai ter
a quantidade de dinheiro pra ta pagando o que a pessoa merecia, mas
você vai ta pagando um pouco menos, então já taria explorando a
pessoa de certa forma.

Entrevistadora – Vocês se incomodam de ser se explorados?


Sujeito (Mulher) – Com certeza.
Sujeito (Homem) – Lógico. Quem não se incomoda?
Sujeito (Homem) – É a mesma coisa que... eu tenho uma firma, eu contrato aquela pessoa
pago 400 reais pra ela por mês, aquela pessoa vai ta querendo mais, o
que eu faço pra ela? Eu demito ela, mando ela embora e pego um por
300, 250. quantas pessoas não vão aparecer pra mim?
Sujeito (Mulher) – É o que ta acontecendo hoje. A gente vê um monte de fila aí por um
salário de 300 reais, porque as pessoas precisam. Demitem pessoas
que tão ganhando mais pra pagar menos.
Sujeito (Homem) – É verdade.
Sujeito (Homem) – É igual o presidente da (?), morreu um o vice ficou e pegou os outros
10 que chegaram perto da área dele, porque eu acho que ele fazia
faculdade de administração, e dele pegou só 1 e mandou embora,
porque quando tava o presidente, antes dele morrer, deu tanto de
lucro, e depois que morreu aí o outro tomou o cargo dele e o lucro não
tava batendo. Então os empresários só pensa em lucrar e explorar até
porque eles fica rico através de nós.
Sujeito (Mulher) – É verdade.
Sujeito (Homem) – De quem não corre atrás.
Sujeito (Homem) – E pro cara, ele tem um negócio assim, ele tem que começar de
pequeno, não um cara que já... pra fazer negócio bom assim, o cara
acaba se ferrando, eu acho.
Sujeito (Homem) – Meu primo, ele tem uma loja de rodas, ele começou no fundo do
quintal da casa dele. Hoje, pode-se dizer que ele é bem de vida. Ele
lutou.
Sujeito (Mulher) – Um exemplo que eu posso dar: meu pai, ele trabalhava em uma firma,
digamos, boa. Todo mundo conhece, a Antarctica. Só que sei lá, juntou
com outra empresa, a outra empresa comprou a Antarctica e se tornou
a AMBEV, aí só poderia ta trabalhando pessoas tercerizadas,
terceiros, então o que meu pai fez? Ele tinha um bom tempo de casa,
tinha uns 12 anos, ele pediu pra ser mandado embora, foi mandado
embora só que com o dinheiro, que ele já tinha juntado durante esses
anos, ele abriu uma pequena empresa. Então ele conseguiu abrir uma
empresa, só que ele também foi explorado. De uma forma ou de outra
ele foi explorado pra ele ter o que ele tem. O que ele queria conseguir
futuramente.
Sujeito (Homem) – E hoje ele explora, né?
Sujeito (Mulher) – Ah, sei lá que eu não sou dessa área, não sei o que ele faz, mas com
certeza, se ele conseguiu isso, com certeza, eu não vou falar que ele
não ta pagando, ele não ta pagando o que a pessoa necessitaria ta
ganhando, mas como a pessoa precisa de um salário, foi lá e pegou o
cargo. Eu acho que isso hoje acontece sempre.
Sujeito (Homem) – Meu pai, a vida dele desde pequeno foi assim. ele fala, ele admite: “eu
fui explorado, hoje eu ganho uma merreca, mas eu fizer o que? Eu tô
precisando eu vou ficar parado?”
Sujeito (Homem) – Não tem como.
Sujeito (Homem) – Eu tenho que sustentar minha família, vocês me ajudam, se a gente não
trabalhar como que eu vou por comida dentro de casa?.
Sujeito (Mulher) – Eu acho que isso de ser explorado já começa, desde aquela: você pega
se casa, não tem planejamento de filho, então, digamos que você tem
uns três filhos e não tem como sustentar porque você não teve
planejamento e ta desempregado, então o que aparecer você vai pegar,
aí isso já se torna uma bola de neve, e cada vez vai crescendo.

Entrevistadora – E vocês no grupo, quantos vocês acham ... eu queria perguntar se vocês
acham que vocês foram... quanto que vocês... a vaidade de vocês, vocês
acham que vocês tem um auto valor, no grupo aqui. Vocês como grupo.
Vocês estão falando de explorar de valor, que as pessoas não são
valorizadas, né? Entoa por exemplo, normalmente a gente paga um
salário pra uma pessoa, só que ela trabalha muito mais, ela produz
mais, e não tem divisão dos lucros como deveria ter, e o valor de
vocês? É estimável o valor de vocês, do trabalho de vocês?
Sujeito (Mulher) – Olha, eu não entendi assim a pergunta.
Sujeito (Homem) – Eu também não.
Entrevistadora – Porque vocês estavam falando de valores, não tavam?
Sujeito (Homem) – Qual é o seu valor pra você no mercado?

Entrevistadora – Vocês acham que algum dia vocês acham que vão poder pagar o valor
do seu trabalho?
Sujeito (Homem) – Nunca.
Sujeito (Mulher) – Ah, eu acho que sempre você vai pensar que nunca, né? Por mais que
você se esforce o pessoal sempre acha que poderia ta ganhando mais
do que você ganha. Apesar de você ter se esforçado tanto.
Sujeito (Homem) – Que nem eu trabalhava no supermercado por um mês, ralava todo dia
sem folga, e ganhava o que? 150 reais por mês. Eu tinha que ajudar
em casa, estudava de manhã trabalhava à tarde, chegava em casa bem
tarde, e era aquela rotina. Aí eu ia fazer o que? Explorado era, só que
pro patrão eu não tinha valor de nada. Eu como faxineiro ou sei lá o
que, eu não ia ter valor de nada, mas fazer o que a gente precisa. Você
se rebaixa todo, o que você precisar ali, que nem eu, o cara vem hoje
me dar um salário de 200 reais pra eu trabalhar, se acha que... sei lá,
na situação que a gente vive hoje, se o cara me der 100 reais por mês
eu vou.

Entrevistadora – Agora acho que a ª vai falar alguma coisa.

Entrevistadora 2 – Só pra finalizar. Primeiro de tudo nós gostaríamos de agradecer a


presença de todos vocês, pela participação que vocês tiveram no nosso
trabalho, foi muito legal e muito importante essa contribuição que
vocês deram pra gente, então primeiro de tudo o nosso agradecimento.
Hoje a gente vai ser um pouco sucinto, vamos resumir um pouquinho
sobre o nosso trabalho aqui e aí depois a gente explora um pouco mais
na nossa... na visita de vocês à universidade. Que aí a gente já poderia
até explorar um pouquinho mais, ta bom?
Sujeito (Homem) – Você ta na Universidade já?

Entrevistadora – É, lá na São Judas a gente não tinha universidade, porque... oferece


mais cursos então quanto maior o número de cursos, então passa de
uma faculdade pra universidade. Então quando você fala de faculdade
ou universidade, a gente refere à mesma coisa. Entendeu? Então a
gente hoje vai ser um pouco mais sucinto porque eu acho que o assunto
pode ser explorado muito mais, mas a gente pode explorar na próxima
sessão, eu só queria falar algumas coisinhas pra vocês do que a gente
foi vendo durante esse percurso. Então nós utilizamos, como a A. falou,
a técnica do grupo operativo, então ela era apenas a coordenadora do
curso, por isso que ela sempre devolvia a pergunta pra vocês, porque
era uma forma de vocês interagirem, repetirem e se perguntarem entre
vocês mesmo. Essa técnica de grupo operativo, ela também é de fundo
terapêutico, um pouco também uma questão que envolve, claro, a
psicologia, psicodinâmica e tudo, então é também um fundo aí
terapêutico que tem, porque é uma forma que vocês tem de começarem
a pensar e a refletir sobre esses assuntos, da mesma forma que ele tem
um fundo terapêutico também tem um fundo de aprendizado porque eu
garanto que pra vocês a mesma forma com que você chegaram no
primeiro dia, você não saíram da mesma forma no dia de hoje. Pra
alguns de repente o aprendizado, a contribuição foi maior e pra outros
foi menor, mas tem um fundo de aprendizado também. Assim como
vocês aprenderam algo nessas quatro sessões, nós também. Então esse
é o fundo aí que a gente fala do fundo terapêutico de aprendizado, que
é essa técnica. Uma outra coisa que vocês falaram bastante e que agora
a gente vai tirar um pouquinho das dúvidas sobre a curiosidade que
vocês tiveram, a gente não podia falar durante o percurso do grupo
operativo sobre alguns assuntos que vocês perguntaram: sobre a forma
da nossa pesquisa, algo do tipo porque nós primeiro gostaríamos de ver
qual é o ponto de vista de vocês, então da pesquisa, porque foi
escolhido vocês? Nós fizemos as inscrições nas salas de aula e pedimos
pra que vocês falassem sobre a disponibilidade de vocês, entre quinta e
sábado, e essa turma foram as pessoas que tiveram disponibilidade pra
fazer na quinta feira. Então nós tínhamos, 19 pessoas que foram
inscritas e tivemos 10 participantes que foram vocês. Então essa
escolha foi assim, da disponibilidade, então visando aqui também a
disponibilidade do C., então foi mais conveniente nós escolhermos aqui
do que o próprio sábado. Então é essa a questão da escolha da pesquisa.
Pode perguntar.
Sujeito (Mulher) – Qual foi a forma pra vocês escolherem o C.?

Entrevistadora – Então, pra gente chegar até o C., antes daqui nós tivemos outras
instituições que nós conhecemos, nós fomos até o outro lado da cidade,
perto da represa do Guarapiranga também, então conhecemos algumas
instituições, mas não foi possível a aprovação porque a gente também
tava em aprovação do nosso comitê de ética. Quando nosso comitê de
ética foi aprovado, porque para que nós chegássemos até vocês, a gente
pegou um processo burocrático, a gente precisa de uma autorização
porque nós estamos fazendo uma pesquisa com pessoas, com vidas,
então a gente tem que ter todo o cuidado, por isso que nós falamos.
Temos a questão da ética também, por isso que nós falamos que
quando vocês se sentissem mal, pra nos avisar, se vocês tivessem
algum tipo de desconforto ou alguma situação, então tudo isso... pra
gente chegar até vocês a gente tinha que tomar todos os critérios de
tudo que poderia acontecer nas sessões. Então através de uma outra
pessoa, que foi conhecido do nosso orientador, nos citou aqui o C.
Então a gente já visitou o C. e o C. nos aceitou aqui, e deu essa
oportunidade. Nós apresentamos o nosso trabalho e ele deram essa
oportunidade.
Sujeito (Homem) – De modo que você ter sido orientada pra vir pra cá, mais pela área da
zona leste, zona norte, zona sul, você acha que tinha que o pessoal
igual foi feito na pesquisa, que nem eu tinha falado, você talvez tinha
escolhido aqui porque talvez a visão nossa do que...

Entrevistadora – Da extremidade da zona leste que vocês falaram? Não foi por essa
questão, a gente precisava sim de um bairro, o qual de repente vai, o
poder sócio-econômico fosse mais inferior pra gente pegar esses dados
de qualquer perspectiva de vocês no mercado de trabalho, que era
assim, a gente trabalha com a psicologia social e era uma fonte que nós
tínhamos de saber o que vocês jovens pensam sobre o mercado de
trabalho, né? Então a gente fez uma pesquisa sobre isso, fizemos
algumas literaturas e fizemos um comparativo entre os jovens de poder
sócio-econômico e aí a gente pegou e referiu essa parte aí também.
Então por isso que na questão do C, foi uma questão assim: alguém
pegou passou o contato pra gente e a gente veio até aqui e eles
aceitaram, entendeu? Sobre essas dúvidas do processo, tudo bem?
Tanto é que depois nós vamos passar as outras pessoas que não vieram,
a gente vai até verificar com a S., se deram retorno e o motivo dessas
pessoas não participarem foi o motivo da disponibilidade do dia, que
muitos não poderiam ser na quinta à noite. Sobre as 4 reuniões, como
que aconteceu esse processo? Então nas 4 reuniões foram interessantes
porque na primeira e na segunda reuniões vocês trouxeram fatores
externos, ou seja, em momento algum você colocaram o sentimento de
vocês, sempre incluindo de forma geral o mercado de trabalho, as
pessoas, tudo. E o que foi interessante é que vocês conseguiram de
repente transportar isso que tava lá fora pra entre vocês mesmos,
começaram a falar sobre os seus sentimentos, e aí a gente vê a
comparação que o sentimento de um se igualava com o sentimento do
outro, por isso a gente falava desse processo terapêutico porque entre
vocês, vocês conseguiram expor esse sentimento e vocês puderam
observar que foi da mesma pessoa, que o colega também teve algum
sentimento que foi parecido. E vocês falaram da experiência
profissional. Todos nós passamos por um processo seletivo, eu tanto
como a I. também passamos por um processo seletivo, aquilo que o J.
falou também, vamos supor se nós estamos participando de um
processo seletivo junto com vocês, não é questão que de repente nós
possamos ter mais chances do que vocês, vai depender muito do qual é
o propósito dessa vaga, qual é o perfil da vaga. Então o que o J. falou,
você mesmo que disse, não foi? Sobre isso? Vai muito de encontro com
o que ele disse, o que essa vaga quer, quais são as atribuições que a
pessoa vai fazer diante dessa vaga.
Sujeito (Homem) – Igual ao que eu tinha falado da secretária, que ela foi da oficina e
secretária que trabalha na mesma empresa, aí ela falou, pode ser o que
for, você tem que buscar o perfil, se você não encaixa, então...
Entrevistadora – Acontece que nem quebra cabeça, né? Cada um tem o seu lugar que
você vai encaixar, uma hora encaixa.
Sujeito (Homem) – E pesquisar a empresa, por exemplo, nós tamo aqui na empresa, aí
você: “o que a empresa faz?”, se o cara não saber direito o que a
empresa faz, então ta sendo desclassificado.

Entrevistadora – Uma coisa que, só um toque pra vocês, você falou agora de uma cosia
eu lembrei, eu sei que vocês nem sempre tem acesso à Internet aqui no
C., não tem acesso no C. via internet?
Todos – Tem.

Entrevistadora – Então quando vocês participarem de algum processo seletivo, é


interessante que vocês conheçam um pouco dessa empresa que vocês
vão participar do processo seletivo. Como? Quando a pessoa liga,
agendar uma entrevista com vocês, peçam o site da empresa, pedindo o
site da empresa, chegando aqui no C., dá uma olhada entra, na empresa,
tenta saber um pouco sobre a filosofia dessa empresa, o que essa
empresa oferece pro mercado, pra que...

Entrevistadora – Com certeza vocês vão impressionar, você ta interessada.

Entrevistadora – Exatamente. É legal você conhecer qual é a empresa, porque assim, às


vezes alguma pessoa pode perguntar: “porque você quer trabalhar
aqui?”, então você já sabe, já conhece um pouco sobre a empresa e aí
você tem essa possibilidade de de repente pegar e questionar: “porque
eu vi que a empresa...”, vê um plano de carreira dentro da empresa ou
sei lá, você vê uma perspectiva de trabalho ali dentro.
Sujeito (Homem) – Eu tive uma dinâmica que foi relacionado isso também no curso, e
também outra orientação das meninas, por exemplo, fala: “ali tem uma
entrevista”, se você não pesquisa, às vezes você vai em alguns lugares,
que nem teve uma menina que colocaram ela num quarto e trancaram
a porta lá, e era tráfico de prostituição e era pra fora do Brasil. A
sorte dela é que a polícia bateu lá, então é bom você ta pesquisando
em tudo.

Entrevistadora – Saber direitinho onde você ta indo.

Entrevistadora – Saber, pegar o site dar uma olhada. Se a empresa não tem site, fazer
alguns questionamentos, eu acho que é interessante.

Entrevistadora – Ainda mais vaga de menor Aprendiz, porque vocês estão indo em
empresa que é grande. Normalmente tem site porque é cota do governo.
Então são só empresas de grande porte que precisam ter essa cota,
normalmente elas que tem bastante serviço pra adolescente Aprendiz.

Entrevistadora – Por isso é interessante vocês sempre pedirem o site.


Sujeito (Homem) – Antes de entrar lá, o cta já ajuda bastante, por exemplo, eu fui
chamado na Johnson & Johnson, mas minha idade não constou...

Entrevistadora – Lá em são José? Tem Johnson & Johnson em São Paulo?

Sujeito (Homem) – É um prédio.


Sujeito (Homem) – Tem.

Entrevistadora – Mas que é um sonho, né? Entrar na Johnson & Johnson em são José.
Que lindo aquele lugar.
Sujeito (Homem) – Aí fiz uma entrevista aqui, mas minha idade não contou, meu perfil,
por cauda que era aproximado da idade de estagiário, então
estagiário, as empresas contratam estagiário com a mesma idade de
aprendiz, a idade não consta, então ele estão pegando mais com 16. é
igual JP Moris, aí, se passar, elas passaram e de dia de sábado vinha
aqui, saber como que tava lá, então eles ajudam a pessoa a buscar a
visão ampla.

Entrevistadora – Pessoal vocês tem mais alguma dúvida? Alguma pergunta.


Sujeito (Homem) – Temos. O que vocês acham do mercado de trabalho?
(Risos)

Entrevistadora – O E. tinha perguntado isso, né?

Entrevistadora – Eu acho que é uma realidade, né? Ta ali, pra mim o mercado de
trabalho é uma realidade que a gente sempre vai ter que ta encarando,
né a gente tem que se preparar, porém é tranqüilo, caminhando.
Sujeito (Homem) – Nós falamos alguma coisa fora do foco, ou entramo no foco?

Entrevistadora – Não, perfeito. Nossa, vocês foram...

Entrevistadora – Não é verdade A.?


Sujeito (Homem) – Qual é a dificuldade que você acha?

Entrevistadora – Vocês tiveram muito foco.


Sujeito (Homem) – Qual é a dificuldade que você achou de entrar o mercado de trabalho?

Entrevistadora – Que eu achei?


Sujeito (Homem) – Exatamente.

Entrevistadora – Meu primeiro emprego foi numa loja, eu sofri gente, eu chorava todo
dia. Mas eu falei: “eu vou ficar aqui”.
Sujeito (Homem) – Você tinha de ser explorada?
Entrevistadora – Uhhh, é uma realidade também.
Sujeito (Homem) – Como você se sentiu?

Entrevistadora – A gente era muito explorada lá, hoje eu sou explorada, mas eu gosto do
que eu faço, quando você gosta de ta trabalhando no que você faz, eu
acho mais fácil você, você sempre vai ser explorado, mas quando você
faz o que você gosta, aí fica mais light entendeu? Fica mais tranqüilo.
Por exemplo, quando eu tava no meu primeiro emprego, eu não gostava
do que eu fazia, então foi muito mais difícil, foi sofrida. Hoje não, hoje
eu já gosto do meu trabalho, então é mais light.
Sujeito (Mulher) – Deixa eu te perguntar: com que idade?

Entrevistadora – Eu tinha 16. Eu fui babá, mas não conta no currículo. Aí depois fui com
18.
Sujeito (Homem) – E a A?

Entrevistadora – O meu primeiro emprego foi aos 15 anos, eu trabalhei na época era
datilografia, eu tenho 28 anos, então a tecnologia ela veio um
pouquinho depois, então naquele época ainda fazia sucesso a
datilografia. Então eu era professora de datilografia e assim como
vocês eu entrei por um processo seletivo, pra fazer entrevista, essas
coisas, tive as mesmas coisas, tive medo, tive receios, eu tive um pouco
de vergonha também, então eu acho que o que prevaleceu mais foi o
medo. O medo eu tive bastante, às vezes eu tinha medo de fazer as
coisas e de repente ta errado, de perguntar pro gerente, então tudo isso
eu tinha esses receios...
Sujeito (Homem) – Isso que é o meu medo.

Entrevistadora – Então, eu tinha isso... na entrevista eu ficava gelada, eu tremia, porque


eu ficava naquela: “será que ele vai gostar de mim? Será que não vai?
Será que eu falei a coisa certa, será que eu não falei?”, então tinha essa
questão.
Entrevistadora – De experiência, né?

Entrevistadora – Mas eu acho que tudo que vocês falaram é o que mais... é o sentimento
que mais prevaleceu em mim foi o medo. Eu tive muito medo, medo
assim bastante mesmo, até que depois eu tava trabalhando, você tinha
vontade de chorar, se eu, vamos supor, fui contratada só pra observar a
escrever, se de repente passava alguém e eu tava olhando o celular eu já
cagava de medo: “putz, caramba, eu não podia fazer isso, e agora eu
vou ser mandada embora”, então você vai perder, são medos que eu
acho que faz parte. É a primeira experiência nossa, então você ta um
pouco, não que é imaturo, mas é inexperiente mesmo, depois você vai
pegando a malícia das coisas, né?

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