Você está na página 1de 11

Estática Fetal

Conceito
Estática fetal é um dos sinônimos de relação útero-fetal, que se refereà forma espacial em que o útero e bacia maternos e o produto conceptual se
relacionam. Sabe-se que o mecanismo de parto é o conjunto de movimentos ativos e, principalmente, passivos do feto durante sua passagem pelo canal de
parto. A estática influencia diretamente em como se dará este fenômeno e, consequentemente, seu desfecho. Por isso, é de imprescindível conhecimento para o
médico obstetra e também para o generalista. Estática fetal abrange: atitude, situação, posição e apresentação.

Atitude
A atitude, ou hábito fetal, se refere à relação das diversas partes fetais entre si, dependendo da disposição dos membros e da coluna vertebral¹. A atitude mais
comumente encontrada durante a gestação é a de flexão generalizada: membros superiores flexionados e anteriorizados; coxa fletida sobre abdome e perna
fletida anterior à coxa; coluna com concavidade para face anterior do feto; cabeça fletida sobre tronco. Esta disposição forma o ovoide fetal, possuindo polo
cefálico e pélvico, com aproximadamente 25cm de comprimento. Esta atitude de completa flexão é necessária para o correto acomodamento do feto dentro do
útero, que possui apenas 30cm de extensão.

Figura 1. Ovoide fetal

A cabeça é uma das partes que mais oferecem resistência ao canal de parto, por ter o maior perímetro – 25cm. A atitude de flexão facilita esta passagem, pois os
diâmetros desta parte se reduzem, até o subocciptobregmático, de 9,5cm (na flexão generalizada). Poucas vezes pode ocorrer deflexão do polo cefálico, gerando
variedades de apresentação. Ainda mais rara é a ausência de flexão dos membros, por perda do tônus muscular devido a um sofrimento fetal. Durante o trabalho
de parto, devido à mudança na conformação uterina, o concepto endireita seu tronco, assumindo a forma de cilindro fetal.

Situação

Consiste na relação entre maior eixo fetal e cavidade uterina. No final da gestação, 99% dos fetos estão em situação longitudinal, em que ambos os eixos
coincidem. O restante se enquadra em transversa – eixos em sentidos discordantes – e oblíqua, sendo esta uma situação transitória para o correto
posicionamento do feto.
:
Figura 2. Relação entre maior eixo fetal e cavidade uterina

Apresentação

O conceito de apresentação é: Região fetal que ocupa a área do estreito superior da bacia (limite entre pelve falsa e verdadeira) e nela vai se insinuar. Relevante,
pois a insinuação é a primeira parte do mecanismo de parto, influenciando diretamente em como se darão as próximas fases. Podemos dizer sobre apresentação
apenas a partir do sexto mês, visto que essa só existe quando há obstáculo para passagem pelo canal. Por isso, não se fala em “apresentação” de membros ou de
fetos antes de seis meses (nenhuma medida fetal classifica-o como obstáculo até esse estágio). No caso em que os membros se projetam através do estreito, o
termo correto é procidência ou prolapso. Se há uma parte menor do feto se apresentando junto a um dos polos, ou seja, uma laterocidência, há a denominada
apresentação composta.
:
Figura 3. Procidência de membro

A situação determina quais serão as possíveis apresentações:

Situação longitudinal: cefálica (96% de todas as gestações) e pélvica (3%) – a depender de qual polo do ovoide fetal está se insinuando.

Situação transversa: córmica – ou de ombro (3%) - em que o dorso se apresenta anterior ou posterior; e dorsal superior e inferior (plano coronal materno
perpendicular ao fetal – situação extremamente rara).
:
Figura 4. Variações na atitude fetal

Adentrando na apresentação cefálica, possuímos:

cefálica fletida (vértice, occipício);

cefálica defletida de primeiro grau (bregmática), de segundo grau (de fronte) e de terceiro grau (de face).

Figura 5. Variações na atitude fetal, conforme variedade de apresentação: vértice (A), breama (B), fronte (C) e face (D).
:
Já na pélvica, possuímos apenas duas variedades de apresentação: modo nádegas (agripina), em que a perna não está fletida, estando todo o membro inferior
rebatido sobre a face ventral do feto; e a pelvipodálica, ou pélvica completa, em que há flexão de perna e coxa sobre a face ventral. Como nesta ocorrência o que
está se insinuando sobre o estreito são os pés, não há de fato uma apresentação, e sim um procidência.

Figura 6. Apresentação Pélvica

Posição

É definida pelo lado materno ao que se projeta o dorso fetal, sendo esquerda (primeira posição) ou direita (segunda posição). Em virtude à lordose lombar
materna, dificilmente o feto estará completamente voltado para o ventre ou dorso maternos. A vantagem de se conhecer a posição é para a melhor ausculta dos
batimentos cardíacos fetais, que se projeta ipisilateralmente ao dorso na grande maioria das vezes. A exceção se encontra na apresentação cefálica defletida de
terceiro grau, quando os batimentos são melhores ouvidos do lado contraletral.
:
Figura 7. Lado materno ao que se projeta o dorso fetal

Variedade de posição: relaciona ponto de referência da apresentação fetal a um ponto de referência ósseo da bacia materna.

Ponto de referência fetal: occipício ou lâmbda, bregma, nariz ou glabela, mento e sacro;
:
Figura 8. Lambda, bregma, glabela, mento, crista sacrococcígea e acrômio

Lado materno para o qual está voltado o ponto de referência fetal: esquerdo, mais comum, ou direito. Esta parte é suprimida se apresentações
anteroposteriores (sacral e púbica), pois não há um lado materno em evidência;

Ponto de referência materno: púbis (anterior), eminência íleopectínea, extremidades do diâmetro transverso, sinostose sacroilíaca e sacro.
:
Figura 9. - Pontos de referência materno: (1) púbis; (2) eminência íleopectínea (variedades esquerda e direita anterior); (3)
extremidades diâmetro transverso (variedade esquerda e direita transversa); (4) articulação sacroilíaca (variedades esquerda e
direita posterior); (5) sacro.

Linha de orientação, do feto em relação ao diâmetro materno de insinuação, auxilia também para delimitar melhor o posicionamento fetal. Elas são:

Sutura sagital: cefálica fletida;

Sutura sagital e metópica: defletida de 1º grau;

Sutura metópica: defletida de 2º grau;

Linha facial: defletida de 3º grau;

Sulco interglúteo: pélvica.

Para expressar qual a variedade de posição encontrada, usam-se, consagradamente, três letras, sendo respectivamente: ponto de referência fetal, lado materno ao
qual esse se volta, e ponto de referência materno. Exemplo: occípto esquerda anterior (OEA), sendo essa a mais comum. Na tabela abaixo constam as
possíveis variedades de apresentação, segundo a situação fetal.

Ponto de Linha de
Situação Apresentação Símbolo
Referência Orientação

Fletida Occiptal/ Vértice Lâmbda Sutura sagital O

Sutura
Bregma Bregma B
Cefálica sagitometópica
Longitudinal
Defletida
Fronte Naso/ Glabela Linha metópica N

Face Mento Linha facial M

Sulco
Pélvica Sacro S
interglúteo
:
Transversa Córmica Acrômio Dorso A

Outros termos

Alguns autores consideram os termos a seguir apresentados como parte da estática fetal. Outros, contudo, os utilizam apenas como complemento para a melhor
compreensão do mecanismo de parto. O primeiro deles é a altura fetal, podendo ser analisada após o início do trabalho de parto, quando o feto começa a se
insinuar. Tendo como referência o diâmetro biespinha ciática, usamos o critério de DeLee para expressar a altura: quantos centímetros acima do plano
expressamos com sinal negativo (-3, -2, -1), abaixo com sinal positivo (+1, +2, +3, +4, +5), e coincidente ao plano, 0.

Figura 10. Planos de DeLee

Um conhecimento relevante é o de assinclitismo da cabeça, apresentação lateralizada que esta pode adotar. É posterior, se sutura sagital mais próxima ao púbis
(Litzmann). Será chamada posterior, apesar do púbis estar anterior ao feto, porque o parietal posterior que irá primeiramente penetrar na escavação. Da mesma
forma, há assinclitismo anterior (Nagele), se sutura mais próxima ao sacro. Se não há lateralidade, possuímos o sinclitismo.
:
Figura 11. Inclinação da cabeça. Sinclitismo (A), assinclitismo posterior (B) e anterior (C).

Referências
1. Zugaib Obstetrícia - 3ª edição. ZUGAIB, Marcelo; FRANCISCO, Rossana Pulcineli Vieira. 2016.

2. Rezende Obstetrícia – 13ª edição. MONTENEGRO, Carlos Antonio Barbosa; REZENDE FILHO, Jorge de.

3. CURRENT Diagnóstico e Tratamento Ginecologia e Obstetrícia – 11ª edição.

Créditos
Autores

Isabela Laguardia Costa

Editores

Joyce Matias da Silva

Julio César Vieira Santos

Thamara Alves de França

Lívia de Paula Dias Bitencourt Alves

Ilustrador

Michel José de Carvalho

Edição
:
1º edição

Data de criação: 23/03/2019

Data da Última Modificação: 24/06/2019


:

Você também pode gostar