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Processo Nº 5061578-51.2015.4.04.7000/PR
Processo Nº 5061578-51.2015.4.04.7000/PR
Processo nº 5061578-51.2015.4.04.7000/PR
Outra prova relevante que não se encontra nos presentes autos são os
depoimentos prestados pelo corréu Nestor Cuñat Cerveró, e que fazem parte de seu
acordo de colaboração premiada. Conforme afirma a própria defesa do colaborador,
3
Dessa forma, aguarda a defesa sejam juntados aos autos os termos de depoimento
referidos no Evento 56, oportunizando-se novo prazo para a complementação dos
termos da presente resposta.
Após duradoura pressão midiática contra José Carlos Costa Marques Bumlai,
período em que foi apodado como o “Amigo de Lula” e no qual houve o vazamento
seletivo de informações sigilosas acerca de supostas irregularidades relacionadas com
os fatos apurados na operação Lava Jato, no último dia 24/11/15 foram implementadas
medidas coercitivas de prisão preventiva, condução coercitiva e busca e apreensão
(Processo 5056156-95.2015.4.04.7000/PR, Evento 3).
Cumpre destacar que essa foi a primeira e única ocasião em que os ora acusados
prestaram esclarecimentos às autoridades vinculadas ao presente feito.
Esse débito também não foi quitado pela AGRO CAIEIRAS, obrigando o Banco
SCHAHIN, no ano de 2007, a ceder o crédito que já estava no valor aproximado de R$
21 milhões para a SCHAHIN SECURITIZADORA, outra empresa do grupo, sob pena
de provisionar o montante (Anexo 52).
Finalmente, segundo o colaborador SALIM SCHAHIN, no último trimestre de 2006,
sabendo que a PETROBRAS iria contratar uma operadora para o navio-sonda VITORIA
10.000, surgiu a ideia de quitar o débito com a contratação da SCHAHIN para operação
da embarcação. Para isso, o colaborador SALIM SCHAHIN procurou JOÃO VACCARI
NETO a fim de conseguir apoio político da cúpula do Partido dos Trabalhadores para
viabilizar a contratação da empresa pela PETROBRAS.
Na mesma época, o denunciado JOSE CARLOS BUMLAI procurou o colaborador
FERNANDO BAIANO SOARES para conseguir influência na área internacional da
companhia com o intuito de emplacar o contrato da SCHAHIN. Segundo SOARES, desde
o final de 2004, BUMLAI vinha tentando implementar o projeto da SCHAHIN na
PETROBRAS com a finalidade de saldar este débito. Salientou também que houve
dificuldades para aprovação da contratação da SCHAHIN na diretoria executiva em
virtude da possível incapacidade financeira da empresa (a qual acabou se confirmando na
execução do contrato), sendo que JOSE CARLOS BUMLAI teria intercedido diretamente
junto a JOSE GABRIELI e ao então presidente LULA para conseguir a aprovação da
parceria.
As negociações se estenderam por pouco mais de dois anos até que o contrato principal
entre a PETROBRAS e a SCHAHIN foi assinado em 28 de janeiro de 2009. Em 27 de
janeiro de 2009, um dia antes da assinatura da referida avença, BUMLAI firmou um
instrumento de transação ideologicamente falso para quitação parcelada durante todo ano
de 2009 do débito com a Securitizadora SCHAHIN. A negociação envolveu também uma
simulação de dação de pagamento de notas promissórias relacionadas a uma venda de
embriões de JOSE CARLOS BUMLAI às Fazendas de propriedade da família
SCHAHIN. Participaram da “quitação” o filho de BUMLAI, MAURICIO DE
BARROS BUMLAI, e a esposa deste, CRISTIANE DODERO BUMLAI.
O fato é que esta “quitação” dada pela Securitizadora SCHAHIN para JOSE CARLOS
BUMLAI foi ideologicamente falsa porque jamais houve a entrega de quaisquer embriões
de gado de elite pelo pecuarista, servindo apenas para dar aparência legítima ao
pagamento do empréstimo dado pelo Banco SCHAHIN a AGRO CAIEIRAS e viabilizar
a contratação da Sonda VITORIA 10.000” (Evento 1 - Denúncia 1 – fls. 5/6 – grifos da
transcrição).
Bem se vê que o Órgão Ministerial está ajustando os fatos de forma a tentar fazer
valer a sua tese. Ocorre que, conforme prelecionam ALEXANDRE BIZZOTO e ANDRÉIA
DE BRITO RODRIGUES “Provocar a jurisdição somente para iniciar relação processual
vazia de conteúdo ofende o valor constitucional da dignidade da pessoa humana.
Processo é instrumento. Não é arma de exercício de teimosia para atender a caprichos
despidos de interesse social prático”.1
O exagero acusatório é tão gritante que esse próprio d. Juízo já vislumbrou tal
circunstância por ocasião do recebimento da denúncia, tendo afirmado:
1
Nova Lei de Drogas, comentários à lei 11.343, de 23 de agosto de 2006. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris,
2007, p.156.
7
Frise-se, por oportuno, que o presente feito foi irregularmente instaurado por esse
d. Juízo, sendo certo que não há nenhum motivo que justifique a distribuição do presente
feito para a Seção Judiciária de Curitiba, havendo flagrante violação ao princípio
constitucional do juiz natural.
Com efeito, V. Exa. afirma a competência desse d. Juízo sob o argumento de que:
“Tramitam por este Juízo diversos inquéritos, ações penais e processos incidentes
relacionados à assim denominada Operação Lavajato.
A investigação, com origem nos inquéritos 2009.7000003250-0 e 2006.7000018662-8,
iniciou-se com a apuração de crime de lavagem consumado em Londrina/PR, sujeito,
portanto, à jurisdição desta Vara, tendo o fato originado a ação penal 5047229-
77.2014.404.7000.
8
As inovações processuais trazidas pela Lei nº 11.719/08 são ainda recentes, mas
os nossos Tribunais já afirmaram que, após a apresentação de defesa preliminar, é
plenamente cabível não só a absolvição sumária, prevista no art. 397 do Código de
Processo Penal, como também a revisão da decisão que recebeu a denúncia, se
reconhecida a presença de um dos parâmetros previstos no art. 395 do Código de
Processo Penal para a rejeição da inicial. Esse é o entendimento mais recente do Superior
Tribunal de Justiça:
“Não obstante, com a inovação trazida ao procedimento, não mais se limita a defesa a
apresentar defesa prévia, de conteúdo reduzido que, na práxis, não implicava, regra geral,
em atuação defensiva relevante. Agora, a teor do disposto no art. 396-A do CPP, poderá
o acusado ‘argüir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa, oferecer
documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas,
qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário’. Abre-se, então, ao
Magistrado, a possibilidade de absolver sumariamente o réu quando verificar: i) a
existência manifesta de causa excludente da ilicitude; ii) a existência manifesta de causa
excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; iii) que o fato narrado não
constitui crime ou iv) extinta a punibilidade do agente. Poderá também, segundo
preconiza abalizada doutrina, rever, após as alegações defensivas, a presença das
condições da ação e pressupostos processuais”.2
“1. Superada a fase do art. 395 do Código de Processo Penal com o recebimento da inicial
acusatória, após a apresentação da defesa preliminar, o juiz não fica vinculado às
hipóteses elencadas no art. 397 do mesmo diploma legal, autorizadoras da absolvição
sumária.
2
HC 138.089, Rel. Min. FÉLIX FISCHER, 5ª Turma, v.u., j. 2/3/10 – grifos da transcrição.
10
“1. O fato de a denúncia já ter sido recebida não impede o Juízo de primeiro grau de, logo
após o oferecimento da resposta do acusado, prevista nos arts. 396 e 396-A do Código de
Processo Penal, reconsiderar a anterior decisão e rejeitar a peça acusatória, ao
constatar a presença de uma das hipóteses elencadas nos incisos do art. 395 do
Código de Processo Penal, suscitada pela defesa.
“2. As matérias numeradas no art. 395 do Código de Processo Penal dizem respeito a
condições da ação e pressupostos processuais, cuja aferição não está sujeita à preclusão
(art. 267, § 3º, do CPC, c⁄c o art. 3º do CPP).
“3. Hipótese concreta em que, após o recebimento da denúncia, o Juízo de primeiro grau,
ao analisar a resposta preliminar do acusado, reconheceu a ausência de justa causa para a
ação penal, em razão da ilicitude da prova que lhe dera suporte”.4
3
AgRg no AGRAVO EM REsp Nº 82.199, Rel. Min. LAURITA VAZ, 5ª Turma, v.u., j. em 17/12/13 – grifos da
transcrição.
4
REsp 1.318.180, Rel. Min. SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, 6.ª Turma, v.u., j. 16⁄5⁄13 – grifos da transcrição.
11
acusado? Teria a lei criado uma armadilha para ser antecipada a tese defensiva a ser
desenvolvida no curso do processo? A ausência de decisão sobre a resposta escrita
representa ofensa à garantia constitucional do contraditório, porque tudo o que é alegado
pelas partes deve ser julgado pelo juiz”.5
5
. Recebimento e Rejeição da Denúncia, e Absolvição Sumária. Boletim IBCCRIM, ano 17,
nº 202, setembro 2009. Grifamos.
12
6
Breves estudos de processo penal. Fortaleza: Imprece, 2010, p. 98.
7
HC 70.763-7, DJ 23.9.94, p. 25.238.
13
A conduta atribuível aos acusados limita-se a esse fato objetivo. O que o MPF
fez, ao denunciá-los pela prática de todos os ilícitos descritos na inicial, foi criminalizar
o parentesco: Maurício Bumlai é filho de José Carlos Bumlai; Cristiane Bumlai é
esposa de Maurício e nora de José Carlos Bumlai.
Ou seja, busca o MPF, com a presente acusação, constranger ainda mais José
Carlos Bumlai para que assuma a prática de atos ilícitos que não cometeu, tudo de
forma a permitir a persecução penal de terceiros ainda não acusados formalmente.
Vale ressaltar que a figura jurídica do avalista nada mais é do que um garante do
pagamento de um título. Como avalistas, os acusados não receberam qualquer valor, não
participaram da elaboração do contrato e tampouco de sua quitação. Eles apenas
garantiriam o débito na hipótese de não ocorrer o pagamento, situação que não se
verificou na espécie.
“Essa vantagem indevida foi intermediada e recebida por JOSE CARLOS BUMLAI, com
o auxílio de MAURICIO DE BARROS BUMLAI e CRISTIANE BARBOSA DODERO
BUMLAI, que participaram da fraude emprestando seus nomes como avalistas dos
empréstimos contraídos do Banco SCHAHIN e assinando o instrumento da transação da
dívida (Anexo 57). O denunciado MAURICIO BUMLAI também contribuiu para o fato
criminoso como administrador da AGRO CAIEIRAS que, na época, estava inativa”
(Evento 1 – DENUNCIA1 – fls. 21).
conduta imputada – assinatura como avalista e como esposa do avalista – para abranger
a corrupção. Esclareça-se, ainda, que o contrato de mútuo referido não guardava
nenhuma relação com a Petrobras, que não era parte no mesmo.
“Em síntese, conforme será especificado à frente, em 14 de outubro de 2004, foi assinado
o contrato envolvendo o Banco SCHAHIN como mutuante e JOSE CARLOS BUMLAI
como mutuário. A avença tinha MAURICIO DE BARROS BUMLAI e CRISTIANE
BARBOSA DODERO BUMLAI (filho e nora de JOSE CARLOS BUMLAI) como
avalistas. O valor inicial era de R$ 12.176.850,80 com vencimento no dia 3/11/2005
(Anexo 50). Em que pese tomado formalmente em nome de JOSE CARLOS BUMLAI,
o empréstimo se destinava ao Partido dos Trabalhadores, sendo tal fato de conhecimento
das partes envolvidas, conforme será demonstrado, tendo ocorrido, aí, interposição
fraudulenta com a celebração de documentos falsos para encobri-la. Ademais, o
empréstimo de alto valor foi feito sem garantias reais.
A dívida não foi paga e em 27/12/2005 foi concedido novo empréstimo fraudulento, agora
em benefício da AGRO CAIEIRAS, com a finalidade de dar quitação para o primeiro
mútuo tomado e inadimplido por JOSE CARLOS BUMLAI no ano de 2004, escondendo
do Banco Central a rolagem da dívida para evitar a provisão de créditos de liquidação
duvidosa. Em outras palavras, o Banco SCHAHIN emprestou R$ 18.204.036,81 para
AGRO CAIEIRAS, que transferiu este valor para JOSE CARLOS BUMLAI quitar o
empréstimo originário com o Banco SCHAHIN, surgindo uma nova dívida, agora da
AGRO CAIEIRAS perante o BANCO SCHAHIN (Anexo 52).
Até 28/03/2007, esse novo mútuo também não foi havia sido adimplido, o que obrigou o
Banco SCHAHIN a ceder o crédito para a SCHAHIN SECURITIZADORA DE
CREDITOS FINANCEIROS S/A (CNPJ 03572483000197), empresa do Grupo
SCHAHIN, que passou a ser a credora da dívida, novamente para evitar o
provisionamento do montante. Finalmente, em 28 de dezembro de 2009, JOSE CARLOS
BUMLAI, CRISTIANE DODERO BUMLAI e MAURICIO DE BARROS BUMLAI e
a SCHAHIN SECURITIZADORA DE CREDITOS FINANCEIROS S/A simularam a
quitação do referido empréstimo por intermédio de um conjunto de negócios jurídicos
falsos que culminaram na assinatura do recibo de quitação. A verdadeira quitação do valor
foi feita não pelos negócios simulados, mas sim pelo direcionamento ilegal, do já
mencionado contrato de operação de sonda, pela PETROBRAS, o que foi feito por
funcionários desta e mediante influência do Partido dos Trabalhadores (real beneficiário
do empréstimo original), em benefício de outra empresa do GRUPO SCHAHIN” (Evento
1 – DENUNCIA1 – fls. 9/10).
16
Mais uma vez a conduta imputada consistiu em ser avalista dos empréstimos. Em
nenhum momento a denúncia afirma que os acusados tiveram ingerência na
administração da instituição financeira.
Causa espécie, para dizer o menos, a inclusão dos acusados no polo passivo da
demanda, sendo que os gestores do banco, que assinaram os contratos questionados
como mutuantes, sequer foram mencionados pela acusação.
E, ainda que esse d. Juízo tenha afirmado que “se terceiro auxiliar o gestor de
instituição financeira na prática de atos financeiros criminosos, é ele, em tese, passível
de responsabilização pelos crimes da Lei n.º 7.492/1986” (Evento 3 – DESPAC1), em
nenhum momento o MPF imputou fato objetivo aos denunciados que possa configurar,
em tese, auxílio ao gestor da instituição financeira. Vale ressaltar que os acusados nunca
estiveram no Banco Schain e que seus nomes não foram referidos pelos demais
acusados, pelas testemunhas e pelos Colaboradores.
A denúncia é tão absurda que, mesmo imputando três fatos delituosos, não
informa se houve unidade ou pluralidade de delitos. Afinal, os crimes de corrupção,
gestão fraudulenta de instituição financeira e lavagem de dinheiro foram supostamente
cometidos em concurso material ou concurso formal? Ou então, estamos diante de um
cenário em que os crimes devem ser havidos como continuados? Tal situação é
extremamente relevante, uma vez que somente há um fato concreto imputado aos
peticionários, qual seja, a assinatura como avalista e como esposa do avalista do contrato
de mútuo celebrado com o Banco Schain.
Ora, a persecução penal objetiva à busca da verdade real. Com isso, os elementos
colhidos durante a apuração policial servem para demonstrar a materialidade do fato e
respectiva autoria delitiva (art. 5º e 6º, do CPP). Portanto, é patente que deve existir
18
nexo entre o conteúdo dos autos e aquilo que venha a narrar a denúncia (arts. 6º e 41,
do CPP).
Em resumo, a denúncia precisa ser fiel ao que restou apurado ao longo do trabalho
investigatório e à prova dos autos. Daí a Lei Processual Penal mostrar-se expressa, ao
determinar no artigo 41, do Código de Processo Penal, que a denúncia conterá a
“exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias”.
Acaso seja superada a questão relativa à inépcia da inicial, deve ser reconhecida
a manifesta falta de justa causa para a ação penal, uma vez que os supostos fatos narrados
na inicial não constituem ilícito penal.
De início cumpre destacar que os acusados não exercem, com a plenitude que a
Constituição lhe assegura, o seu direito de defesa. Tal fato acontece pois, como adrede
mencionado, a denúncia é manifestamente inepta. Além disso, não se encontram
juntados aos autos relevantes provas (termo de declarações do colaborador Nestor
Cerveró e a gravação de depoimentos do colaborador Milton Schain).
19
"O conceito de justa causa evoluiu, então, de um conceito abstrato, para uma idéia
concreta, exigindo a existência de elementos de convicção que demonstrem a viabilidade
da ação penal. A justa causa passa a pressupor a existência de um suporte probatório
mínimo, consistente na prova da existência material de um crime e em indícios de que o
acusado seja o seu autor. A ausência de qualquer um destes dois elementos autoriza a
rejeição da denúncia e, em caso de seu recebimento, faltará justa causa para a ação penal,
caracterizando constrangimento ilegal apto a ensejar a propositura de habeas corpus para
o trancamento da ação penal".8
8
Direito Processual Penal - Tomo I. RJ: Elsevier. 2008. p. 72.
9
Ação Penal. 3ª. Ed. POA: Aide. 2002. p. 131.
20
No caso dos autos, e como inclusive afirmado por V. Exa. por ocasião do
recebimento da denúncia, a acusação não conseguiu demonstrar a viabilidade da ação
penal, não tendo sido indicada a presença, ainda que mínima, do elemento subjetivo nas
condutas atribuídas aos acusados.
Ainda que as provas empregadas pela acusação sejam questionáveis, visto tratar-
se da palavra isolada de colaboradores cujas afirmações não se encontram corroboradas
por outras provas, não há nelas nenhuma referência às supostas condutas praticadas
pelos acusados. A única prova que supostamente vincularia os acusados aos fatos tidos
por delituosos são os contratos de mútuo assinados na qualidade de avalistas. Isso é
muito pouco, principalmente quando se considera que os contratos foram assinados
muitos anos antes dos ilícitos penais precariamente narrados na peça inaugural.
Como não há nenhuma conduta atribuída aos acusados nos autos, não há o que
se refutar em termos probatórios. Repita-se, mais uma vez como se fosse pouco: não há
21
absolutamente nada nos autos que vincule os acusados aos fatos delituosos. Sua inclusão
no polo passivo decorre exclusivamente da assinatura dos contratos, na condição de
avalista e esposa do avalista, o que bem demonstra o rematado absurdo da inicial.
Além disso tudo, por outros motivos também deve ser reconhecida a falta de justa
causa para a presente ação.
10
. Bottini, Pierpaolo Cruz. Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais penais: comentários à Lei
22
ocorreu durante o cometimento do crime de gestão fraudulenta. Tanto é assim que esse
d. Juízo, por ocasião do recebimento da denúncia, afirmou que “No que se refere ao
enquadramento no crime de lavagem, entende o Juízo que, aparentemente, a conduta
narrada pelo MPF a esse título ainda se enquadra nas condutas pertinentes ao crime
antecedente, de gestão fraudulenta, não se configurando lavagem” (Evento 3 –
DENUNCIA1 – fl. 6).
9.613/1998, com alterações da Lei 12.683/2012. – São Paulo: RT, 2012, p. 23.
11
“It is clear that some elements of ‘moral panic’ and ‘moral entrepreneurship’ can be seen in the development of
the discourse surrounding money laundering.” (ALLDRIDGE, Peter. Money Laundering Law. Forfeiture,
Confiscation, Civil Recovery, Criminal laundering and taxation of the proceeds of crime. Oxford – Portland
Oregon: Hart Publishing, 2003, p. 11).
12
“A ocorrência prévia de um desses crimes constitui elemento normativo do tipo de lavagem de capitais. (...) não
bastará o prévio cometimento de um dos crimes antecedentes, mas este deverá gerar os bens, direitos ou valores
que deverão ser o objeto do crime de lavagem.” (SIDI, Ricardo. Evasão de divisas como crime antecedente de
lavagem de capitais. In Boletim do IBCCrim, ano 14, nº 163, junho/2006.)
23
Ocorre, no entanto, que o crime em questão é de mão própria e somente pode ser
praticado por quem tenha poder de direção na instituição financeira. Nesse sentido, o
art. 25 da Lei nº 7.492/86 é taxativo ao estabelecer que “São penalmente responsáveis,
nos termos desta lei, o controlador e os administradores de instituição financeira, assim
considerados os diretores, gerentes”.
Ainda que esse d. Juízo entenda que “o art. 30 do Código Penal é expresso ao
determinar a comunicação das circunstâncias e condições de caráter pessoal quando
elementares do crime. Assim, se terceiro auxiliar o gestor de instituição financeira na
prática de atos financeiros criminosos, é ele, em tese, passível de responsabilização
pelos crimes da Lei n.º 7.492/1986”, a nossa melhor jurisprudência repele essa
possibilidade.
Veja-se, por exemplo, o seguinte julgado do Supremo Tribunal Federal que afasta
a possibilidade de haver gestão fraudulenta por terceiro estranho à administração do
estabelecimento bancário, argumentando, em síntese, que a Lei nº 7.492/86 estabelece
uma relação penal subjetiva:
13
HC 93.553 - Tribunal Pleno - Rel. Min. Marco Aurélio - j. 07.05.2009 - public. 04.09.2009.
24
“(...) Pois bem, a Lei nº 7.492/86, mediante preceito expresso, revela crimes passíveis
de serem apontados como de mão própria. O dispositivo evocado na espécie, que
motivou o recebimento da denúncia, alude ao gerenciamento:
Art. 4º Gerir fraudulentamente instituição financeira:
[...]
Ora, o particular estranho à administração da instituição financeira ou não-
enquadrado em um dos incisos do parágrafo único do artigo 1º - a pessoa jurídica que
capte ou administre seguros, câmbio, consórcio, capitalização ou qualquer tipo de
poupança ou recursos de terceiros e a pessoa natural que exerça quaisquer das atividades
referidas no artigo – não implementa o gerenciamento da instituição, não se podendo,
portanto, dizer que veio fazê-lo fraudulentamente.
Há mais, a própria Lei nº 7.492/86 contém preceito a definir a relação jurídica subjetiva.
Segundo o artigo 25, são penalmente responsáveis, nos termos da lei, o controlador e os
administradores de instituição financeira, assim considerados os diretores e gerentes.
Consoante o §1º, equiparam-se aos administradores de estabelecimento financeiro o
interventor, o liquidante ou o síndico. Vale notar que a coautoria aludida no §2º, a revelar,
no caso de confissão espontânea, a redução de pena de um a dois terços pressupõe,
logicamente, o enquadramento do agente em previsão legal.
(...)
Concedo parcialmente a ordem para afastar o recebimento da denúncia, em relação ao
paciente, quanto ao crime do artigo 4º da Lei 7.492/869. Estendo esta ordem aos demais
acusados referidos, mantendo, assim, o recebimento da denúncia, no particular, apenas
no tocante aos quatro primeiros acusados, dirigentes do Banco BMG S.A. É como voto’”
(grifos da transcrição).
14
AP 470 - Tribunal Pleno - Rel. Min. Joaquim Barbosa - j. 17.12.2012 - public. 22.04.2013 - fls. 54508/54509.
25
“Por todas essas razões, e considerada a prova colhida nos autos, não estou autorizado a
concluir que AYANNA TENÓRIO TORRES DE JESUS tenha contribuído de qualquer
forma para a consecução do crime tipificado no art. 4º da Lei 7.492/1986, até mesmo
porque o delito em questão não comporta a hipótese de dolo eventual ou a modalidade
culposa. (...)
No máximo, a ré Ayanna teria, na qualidade de Vice-Presidente do Banco Rural, atuado
com negligência ao não fazer cessar as operações ilícitas perpetradas com a SMP&B.
Contudo, o tipo imputado à Ré não prevê a modalidade culposa, e nem se destina à
punição de pessoas ineptas para o conhecimento pleno dos ilícitos praticados de natureza
financeira”
Ou seja, se por um lado não há nada que vincule os acusados aos fatos, por outro
eles jamais poderiam ser responsabilizados pelo crime de gestão fraudulenta, seja
porque não eram gestores, seja ainda porque não há a indicação do indispensável dolo
direto nas condutas atribuíveis.
Além disso tudo, deve ser destacado que os acusados somente foram incluídos na
transação comercial como avalistas por exigência do próprio Banco Schahin. É o que
afirma a pseudo-testemunha Sandro Tordin, presidente do Banco à época e que deixou
de ser denunciado pois “em que pese ele tenha participado objetivamente de parte dos
fatos, não se vislumbraram provas até o presente momento do dolo na sua conduta”
(Evento 23 – PET1):
“QUE BUMLAI possuía a maioria das atividades rurais com os filhos, então o comitê de
crédito pediu aval a um dos filhos de nome MAURÌCIO e sua esposa, tendo sido
concedido” (Evento 1 – ANEXO2 – fls. 2/3).
Ora, Maurício Bumlai e sua esposa Cristiane Bumlai somente foram colocados
na transação por orientação do Banco! Ou seja, o Banco – que tem, de fato, o dever de
zelar pelo sistema financeiro – foi quem “pediu aval a um dos filhos de nome
MAURÍCIO e sua esposa”
A denúncia precisa ser coerente; não pode denunciar uns e não outros sem uma
justificativa idônea, sob pena de rejeição por inaptidão. E, no caso dos autos, a
incoerência é gritante.
“Em relação a SANDRO TORDIN, o MPF esclarece que, em pese ele tenha participado
objetivamente de parte dos fatos, não se vislumbraram provas até o presente momento do
dolo na sua conduta.
Essa posição ministerial é mantida mesmo com o novo depoimento de BUMLAI tomado
em 14/12/2015, em que o pecuarista imputa a TORDIN a organização de todo esquema
criminoso envolvendo o empréstimo irregular denunciado nestes autos. Isso porque trata-
27
se, em princípio, de depoimento de corréu que deverá ser corroborado com investigação
criminal e provas materiais, sendo prematura neste momento a imputação criminosa a
SANDRO TORDIN.
Além disso, deve-se ponderar que TORDIN deixou o Banco SCHAHIN em julho de
2007, sendo que boa parte das condutas imputadas aos demais réus aconteceram
posteriormente a esta data.
Logo, pelas provas carreadas até o momento da propositura da denúncia, não se
constataram evidências probatórias suficientes de dolo nas ações de SANDRO TORDIN,
razão pela qual ele foi arrolado como testemunha.
Assim, o MPF promove o arquivamento da investigação destes fatos em relação a
SANDRO TORDIN por insuficiência de provas de dolo na sua conduta que, em tese,
poderia caracterizar os crimes de gestão fraudulenta e corrupção ativa” (Evento 23 –
PET1 – fls. 1/2).
Ora, mas em que momento o Órgão acusador teria encontrado o dolo na conduta
dos peticionários? Da descrição contida na denúncia, em nenhum momento se verifica
demonstração de existência de dolo em relação aos dois aqui imputados. Ou seja, para
um, o MPF entende que o dolo (ou ausência de) é motivo para arquivamento; para
outros, (filho e nora de José Carlos Bumlai) o MPF entende, em idêntico contexto, por
denunciar.
Salta aos olhos a arbitrariedade na escolha da tese acusatória, com o que este d.
Juízo certamente não compactuará. O absurdo da situação é tamanho que, não custa
lembrar, Sandro Tordin era o presidente da instituição financeira supostamente gerida
fraudulentamente; ele participou, ativamente, da celebração do contrato de mútuo; ele
sabia que os recursos eram destinados ao partido dos trabalhadores. Ainda assim, ele
não agiu com dolo. O que dizer dos acusados, então, que apenas assinaram o contrato
como avalistas por imposição do banco? Qual o dolo deles? Certamente não é o dolo
direto que o processo exige para possuir a mínima justa causa!
Por tudo isso, aguardam seja reconhecida a falta de justa causa para o
processamento dos acusados, rejeitando-se a inicial com fundamento no art. 395, III, do
Código de Processo Penal.
28
6. ESCLARECIMENTOS FINAIS
corretores; QUE nunca fez empréstimo para JOSÉ CARLOS BUMLAI” (Processo
5053233-96.2015.4.04.7000/PR, Evento 33 – AP–INQPOL 1).
Nesse contexto, é evidente que a ela não pode ser atribuída nenhuma infração
penal, muito menos as gravíssimas acusações que contra ela apresentou o MPF. O fato
de ter assinado diversos documentos na condição de esposa de Maurício Bumlai não
pode ser confundido com o dolo direto exigido nos tipos penais imputados. A acusação
formulada contra ela tem como única finalidade abalar o estado anímico de José Carlos
Bumlai. É ação penal fadada ao insucesso, proposta como instrumento de pressão contra
o sogro da acusada. Esse d. Juízo certamente impedirá essa instrumentalização do
processo penal pelo MPF.
Evidente, portanto, e conforme toda a prova dos autos, que a atuação de Maurício
Bumlai também se restringiu à assinatura do contrato de mútuo como avalista,
desconhecendo os termos do contrato, a destinação dos valores e a forma pela qual foi
efetivada a quitação do mesmo. Da mesma forma, desconhecia os interesses políticos
envolvidos na referida transação, bem como a eventual influência desses mesmos
interesses nas decisões da Petrobrás.
Por tudo isso, MM. Juiz, fica evidente que o casal Maurício e Cristiane não pode
ser responsabilizado criminalmente por ter meramente seguido as orientações do Banco
Schain, assinando o contrato de mútuo a pedido do mutuário José Carlos Bumlai.
ação, determinando-se a rejeição da inicial nos moldes do art. 395, I e III, do Código de
Processo Penal.
Pede deferimento.
c) Carlos Roberto Taveira (Rua Pedro Martins 101, Casa 89, Campo Grande-MS);
d) João Lins de Barros (Rua Nossa Senhora das Merces, 420, Campo Grande-MS);
e) Eduardo Gasperin Andrighetti (Rua Rui Barbosa 682, Campo Grande-MS);
f) Marilene Moraes Coimbra (Rua Bahia, 50, apto. 9, Campo Grande-MS);
g) Frederico Azevedo (Rua Noruega, 78, São Paulo-SP)
a) Izabel Cristina Ilário da Silva (Rua Jaime Cerveira, 1.683, Campo Grande-MS
b) Helina Uechi Gomes (Rua Avelino Paim Filho, 122, Campo Grande-MS)
c) Kely Fernandes (Rua Juazeiro do Norte, 703, Campo Grande-MS);
d) Tânia Regina Zanato (Rua Antonio Maria Coelho, 4.693, Campo Grande-MS);
e) Carlos Alberto Moraes Coimbra (Rua Bahia, 50, ap. 9, Campo Grande-MS);
f) Cynthia Lima Raslan (Av. do Poeta, 8.020, ap. 304, bloco A, Campo Grande-MS);
g) Vicente de Castro Lopes (Rua Dr. Michel Scaff, 765, casa 7, Campo Grande-MS)