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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA FEDERAL


DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DA JUSTIÇA FEDERAL EM CURITIBA-PR

Processo nº 5061578-51.2015.4.04.7000/PR

MAURÍCIO DE BARROS BUMLAI e CRISTIANE BARBOSA DODERO


BUMLAI, já qualificados nos autos do processo em epígrafe, por seus advogados, vêm
à presença de V. Exa. apresentar sua resposta à acusação, nos termos do artigo 396-A,
do Código de Processo Penal, na forma a seguir exposta.

Inicialmente, e antes de adentrar ao mérito da resposta, os peticionários


esclarecem não poder exercer a ampla defesa constitucionalmente assegurada porque
importantes provas, cuja existência é incontroversa, não foram juntadas aos presentes
autos.

A primeira prova que não se encontra nos autos é a gravação do termo de


declarações prestado por Salim Taufic Schain (Evento 1- Anexo 62). A relevância de
tal prova, inclusive, foi reconhecida por V. Exa. no recebimento da denúncia,
oportunidade em que restou determinado que “Deverá ainda o MPF, antes do recesso
judiciário, esclarecer se dispõe dos depoimentos gravados dos acusados colaboradores
e, se positivo, depositá-los em Secretaria” (Evento 3).
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Diante dessa determinação, em 17/12/15 o MPF encaminhou “mídia digital


(DVD) contendo os registros audiovisuais dos depoimentos de colaboração premiada
de FERNANDO SOARES e SALIM SCHAIN, utilizados na presente Ação Penal, nos
termos do art. 4º, § 13, da Lei 12.850/2013” (Evento 48). De acordo com a disposição
legal referida pela acusação, “Sempre que possível, o registro dos atos de colaboração
será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou
técnica similar, inclusive audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das
informações”.

Qual não foi a surpresa da defesa ao constatar que o relevante termo de


declarações que teria sido prestado por Salim Taufic Schain não foi registrado em meio
de gravação destinado a obter maior fidelidade das informações. Pior do que isso. O
que o MPF apresentou a esse d. Juízo, e que se encontra acautelado em Secretaria
(Evento 48 – Cert2), é uma gravação da leitura do termo de declarações. Certamente
que essa não é a prova prevista em Lei e cuja juntada foi determinada por ocasião do
recebimento da denúncia.

Apesar da maioria dos membros do Parquet atuantes na Força-Tarefa da


“Operação Lava Jato” ser bastante jovem, todos são muito experientes na condução dos
depoimentos prestados pelos colaboradores, tendo sempre que possível o cuidado de
providenciar a gravação em mídia digital desses termos, especialmente dos mais
recentes, como foi o caso do depoimento prestado por Salim Schain em 12/11/15. Dessa
forma, acredita a defesa que houve equívoco na juntada desse termo, razão pela qual
neste ato a defesa protesta pela complementação de sua resposta tão logo a gravação
com o termo de depoimento seja apresentada.

Outra prova relevante que não se encontra nos presentes autos são os
depoimentos prestados pelo corréu Nestor Cuñat Cerveró, e que fazem parte de seu
acordo de colaboração premiada. Conforme afirma a própria defesa do colaborador,
3

“Dentre os fatos apresentados ao conhecimento do Ministério Público Federal, o


denunciado já prestou depoimentos sobre o conteúdo narrado na denúncia (Termos de
Depoimento 1 e 2), os quais não foram juntados na presente ação penal” (Evento 56).

Diante da ausência dessa relevante prova – da qual o MPF tem pleno


conhecimento – a própria defesa do colaborador postulou pela “juntada dos depoimentos
já prestados pelo réu colaborador sobre o tema”. Vale ressaltar que tais depoimentos,
conforme consta na resposta apresentada, encontram-se juntados nos autos nº 5062153-
59.2015.4.04.7000, o qual é sigiloso.

Dessa forma, aguarda a defesa sejam juntados aos autos os termos de depoimento
referidos no Evento 56, oportunizando-se novo prazo para a complementação dos
termos da presente resposta.

1. BREVE SÍNTESE DOS FATOS E RESUMO DAS IMPUTAÇÕES DA DENÚNCIA

Após duradoura pressão midiática contra José Carlos Costa Marques Bumlai,
período em que foi apodado como o “Amigo de Lula” e no qual houve o vazamento
seletivo de informações sigilosas acerca de supostas irregularidades relacionadas com
os fatos apurados na operação Lava Jato, no último dia 24/11/15 foram implementadas
medidas coercitivas de prisão preventiva, condução coercitiva e busca e apreensão
(Processo 5056156-95.2015.4.04.7000/PR, Evento 3).

Por força dessas medidas, os acusados foram conduzidos coercitivamente e


prestaram depoimento sobre os fatos. Maurício Bumlai foi inquirido na cidade de
Brasília, onde acompanhava o seu genitor que naquele dia seria ouvido na CPI do
BNDES (Processo 5053233-96.2015.4.04.7000/PR, Evento 22 – AP–INQPOL 2 e 3).
Já Cristiane Bumlai foi localizada e ouvida na cidade de Campo Grande/MS onde
reside (Processo 5053233-96.2015.4.04.7000/PR, Evento 33 – AP–INQPOL 1).
4

Cumpre destacar que essa foi a primeira e única ocasião em que os ora acusados
prestaram esclarecimentos às autoridades vinculadas ao presente feito.

No último dia 14/12/15, os peticionários foram surpreendidos com uma entrevista


coletiva dos integrantes da “Força-Tarefa da Operação Lava Jato”, oportunidade em que
foi apresentada à imprensa a denúncia criminal oferecida contra os acusados e outras
nove pessoas. Deve ser destacado que a açodada inicial foi oferecida antes mesmo do
encerramento das apurações policiais, sendo que a sua midiática apresentação ocorreu
simultaneamente ao depoimento prestado por José Carlos Bumlai nas dependências da
Polícia Federal onde se encontra preso até o dia de hoje.

A inicial acusatória resume os fatos da seguinte maneira:

“Conforme declarado por EDUARDO MUSA, o ex-diretor NESTOR CERVERÓ, desde


o início das tratativas para a contratação da operadora do navio-sonda VITORIA 10.000,
informou que já havia sido decidido por uma orientação vinda “de cima” que a empresa
escolhida seria a SCHAHIN ENGENHARIA, sendo que tal contratação se devia à
necessidade de “quitar” um empréstimo contraído por JOSE CARLOS BUMLAI junto
ao Banco SCHAHIN que teria por destino o pagamento de dívidas do Partido dos
Trabalhadores (Anexo 3). MUSA acrescentou que após a saída de NESTOR CERVERÓ,
JORGE LUIZ ZELADA deu seguimento ao intento ilícito, empenhando esforços para
aprovação da SCHAHIN na diretoria executiva.
A partir da quebra de sigilo bancário e fiscal, bem como com os documentos trazidos pelo
colaborador SALIM SCHAHIN, comprovou-se que, em 2004, o empresário JOSE
CARLOS MARQUES BUMLAI contraiu um mútuo de R$ 12.176 milhões do Banco
SCHAHIN.
Os valores foram disponibilizados ao mutuário no dia 21/10/2004, sendo que, no mesmo
dia, o montante foi transferido para o FRIGORIFICO BERTIN LTDA (atual TINTO
HOLDING CNPJ nº1597168000199) por intermédio de duas TEDs de R$ 6 milhões
(Anexo 49). Na época o Frigorífico BERTIN era administrado por SILMAR BERTIN
(015.751.668-7) (Anexo 65).
À Receita Federal, JOSE CARLOS BUMLAI declarou ter feito um mútuo em favor na
Fazenda Eldorado, empresa da família BERTIN (Anexo 23).
Ainda, de acordo com o depoimento do colaborador SALIM SCHAHIN e documentos
juntados aos autos, em 27 de dezembro de 2005, para quitar “formalmente” o empréstimo
original contraído por BUMLAI, foi obtido um segundo empréstimo pela empresa AGRO
CAIEIRAS no valor aproximado de R$ 18 milhões, também junto ao Banco SCHAHIN
(Anexo 52). A AGRO CAIEIRAS era uma empresa da família de BUMLAI e na época
se encontrava inativa (Anexo 46). Os denunciados JOSE CARLOS BUMLAI,
MAURICIO BUMLAI e CRISTIANE DODERO BUMLAI permaneceram como
avalistas do segundo empréstimo.
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Esse débito também não foi quitado pela AGRO CAIEIRAS, obrigando o Banco
SCHAHIN, no ano de 2007, a ceder o crédito que já estava no valor aproximado de R$
21 milhões para a SCHAHIN SECURITIZADORA, outra empresa do grupo, sob pena
de provisionar o montante (Anexo 52).
Finalmente, segundo o colaborador SALIM SCHAHIN, no último trimestre de 2006,
sabendo que a PETROBRAS iria contratar uma operadora para o navio-sonda VITORIA
10.000, surgiu a ideia de quitar o débito com a contratação da SCHAHIN para operação
da embarcação. Para isso, o colaborador SALIM SCHAHIN procurou JOÃO VACCARI
NETO a fim de conseguir apoio político da cúpula do Partido dos Trabalhadores para
viabilizar a contratação da empresa pela PETROBRAS.
Na mesma época, o denunciado JOSE CARLOS BUMLAI procurou o colaborador
FERNANDO BAIANO SOARES para conseguir influência na área internacional da
companhia com o intuito de emplacar o contrato da SCHAHIN. Segundo SOARES, desde
o final de 2004, BUMLAI vinha tentando implementar o projeto da SCHAHIN na
PETROBRAS com a finalidade de saldar este débito. Salientou também que houve
dificuldades para aprovação da contratação da SCHAHIN na diretoria executiva em
virtude da possível incapacidade financeira da empresa (a qual acabou se confirmando na
execução do contrato), sendo que JOSE CARLOS BUMLAI teria intercedido diretamente
junto a JOSE GABRIELI e ao então presidente LULA para conseguir a aprovação da
parceria.
As negociações se estenderam por pouco mais de dois anos até que o contrato principal
entre a PETROBRAS e a SCHAHIN foi assinado em 28 de janeiro de 2009. Em 27 de
janeiro de 2009, um dia antes da assinatura da referida avença, BUMLAI firmou um
instrumento de transação ideologicamente falso para quitação parcelada durante todo ano
de 2009 do débito com a Securitizadora SCHAHIN. A negociação envolveu também uma
simulação de dação de pagamento de notas promissórias relacionadas a uma venda de
embriões de JOSE CARLOS BUMLAI às Fazendas de propriedade da família
SCHAHIN. Participaram da “quitação” o filho de BUMLAI, MAURICIO DE
BARROS BUMLAI, e a esposa deste, CRISTIANE DODERO BUMLAI.
O fato é que esta “quitação” dada pela Securitizadora SCHAHIN para JOSE CARLOS
BUMLAI foi ideologicamente falsa porque jamais houve a entrega de quaisquer embriões
de gado de elite pelo pecuarista, servindo apenas para dar aparência legítima ao
pagamento do empréstimo dado pelo Banco SCHAHIN a AGRO CAIEIRAS e viabilizar
a contratação da Sonda VITORIA 10.000” (Evento 1 - Denúncia 1 – fls. 5/6 – grifos da
transcrição).

Como se verifica dos próprios termos da inicial, Maurício de Barros Bumlai e


sua esposa Cristiane Barbosa Dodero Bumlai somente foram denunciados porque,
segundo a acusação, “participaram da fraude emprestando seus nomes como avalistas
dos empréstimos contraídos do Banco SCHAHIN e assinando o instrumento da
transação da dívida” (fls. 21 da denúncia).
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Considerando como conduta delituosa o fato de que os peticionários teriam


emprestado seus nomes como avalistas, o Parquet deduziu gravíssimas acusações,
tipificando tal conduta como:

i) Corrupção passiva (art. 317 CP) - utilizando-se do


artigo 29 CP, como se fosse panaceia para toda a tese
acusatória;
ii) Gestão fraudulenta (art. 4º da lei nº 7.492/86); e,
iii) Lavagem de dinheiro (1º da lei nº 9.613/98).

Bem se vê que o Órgão Ministerial está ajustando os fatos de forma a tentar fazer
valer a sua tese. Ocorre que, conforme prelecionam ALEXANDRE BIZZOTO e ANDRÉIA
DE BRITO RODRIGUES “Provocar a jurisdição somente para iniciar relação processual
vazia de conteúdo ofende o valor constitucional da dignidade da pessoa humana.
Processo é instrumento. Não é arma de exercício de teimosia para atender a caprichos
despidos de interesse social prático”.1

O exagero acusatório é tão gritante que esse próprio d. Juízo já vislumbrou tal
circunstância por ocasião do recebimento da denúncia, tendo afirmado:

“É de se questionar a presença do elemento subjetivo em parte dos denunciados,


especialmente nos de papel secundário, mas nessa fase a participação objetiva nos fatos,
que é normalmente acompanhada do dolo, máxime em fatos extravagantes, é suficiente.
Exame mais profundo das provas seria inadequado neste momento processual.
Relativamente ao enquadramento jurídico, oportuno destacar que o crime de corrupção
configura-se quer a vantagem indevida seja direcionada diretamente ao agente público,
quer seja direcionada a outrem a seu pedido.
No caso do crime de gestão fraudulenta, a concessão de empréstimo à agremiação
política, com a utilização de pessoa interposta, a falta de cobrança dos encargos e do
principal do empréstimo, as renovações e cessões fraudulentas e a própria quitação
fraudulenta, ou seja, a prática sucessiva de fraudes na atividade financeira, com o
propósito ainda de financiar ilicitamente partido político, são condutas de, em tese,
passíveis enquadramento no crime de gestão fraudulenta do art. 4º, caput, da Lei n.º
7.492/1986.

1
Nova Lei de Drogas, comentários à lei 11.343, de 23 de agosto de 2006. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris,
2007, p.156.
7

Respondem pelo crime de gestão fraudulenta os gestores da instituição financeira,


especificamente os controladores Salim Taufic Schahin e Milton Taufic Schahin, e os
demais imputados a título de participação. Apesar de eventuais precedentes contrários, o
art. 30 do Código Penal é expresso ao determinar a comunicação das circunstâncias e
condições de caráter pessoal quando elementares do crime. Assim, se terceiro auxiliar o
gestor de instituição financeira na prática de atos financeiros criminosos, é ele, em
tese, passível de responsabilização pelos crimes da Lei n.º 7.492/1986.
No que se refere ao enquadramento no crime de lavagem, entende o Juízo que,
aparentemente, a conduta narrada pelo MPF a esse título ainda se enquadra nas
condutas pertinentes ao crime antecedente, de gestão fraudulenta, não se
configurando a lavagem. Entretanto, a questão deverá ser melhor examinada e dirimida
quando da sentença” (Evento 3 – DESPADEC1).

Conforme se demonstrará, e acaso superada a incompetência desse d. Juízo da


13ª Vara Federal de Curitiba para o processamento do feito, é de rigor a rejeição da
denúncia, ante a inépcia formal da inicial acusatória bem como ante a manifesta ausência
de justa causa para o prosseguimento da ação.

2. A INCOMPETÊNCIA DA 13ª VARA FEDERAL DE CURITIBA

A questão envolvendo a incompetência desse d. Juízo para o processamento do


presente feito será tratada minuciosamente em exceção apresentada em procedimento
apartado.

Frise-se, por oportuno, que o presente feito foi irregularmente instaurado por esse
d. Juízo, sendo certo que não há nenhum motivo que justifique a distribuição do presente
feito para a Seção Judiciária de Curitiba, havendo flagrante violação ao princípio
constitucional do juiz natural.

Com efeito, V. Exa. afirma a competência desse d. Juízo sob o argumento de que:

“Tramitam por este Juízo diversos inquéritos, ações penais e processos incidentes
relacionados à assim denominada Operação Lavajato.
A investigação, com origem nos inquéritos 2009.7000003250-0 e 2006.7000018662-8,
iniciou-se com a apuração de crime de lavagem consumado em Londrina/PR, sujeito,
portanto, à jurisdição desta Vara, tendo o fato originado a ação penal 5047229-
77.2014.404.7000.
8

Em grande síntese, na evolução das apurações, foram colhidas provas, em cognição


sumária, de um grande esquema criminoso de corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito
da empresa Petróleo Brasileiro S/A - Petrobras cujo acionista majoritário e controlador é
a União Federal.
Em quase todo grande contrato da Petrobras com seus fornecedores, haveria pagamento
de vantagem indevida aos dirigentes da Petrobrás responsáveis e que era calculada em
bases percentuais.
Parte da propina era ainda direcionada para agentes políticos e partidos políticos que
davam sustentação à nomeação e manutenção no cargo dos dirigentes da Petrobras.
Entre os fornecedores da Petrobras e os agentes públicos e os políticos, atuariam
intermediadores.
Diversas ações penais já foram propostas por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro
e associação criminosa, algumas até julgadas, com condenações de dirigentes da
Petrobrás, empresários corruptores e intermediadores de propinas (v.g. ações
penais 5083258-29.2014.4.04.7000, 5083376-05.2014.4.04.7000, 5083838-
59.2014.4.04.7000, 5012331-04.2015.4.04.7000, 5083401-18.2014.4.04.7000, 5083360-
51.2014.4.04.7000 e 5083351-89.2014.4.04.7000). Também julgadas duas ações penais
com condenação de ex-parlamentares federais que receberam propina no esquema
criminoso (ações penais 5014455-57.2015.4.04.7000 e 5014474-63.2015.4.04.7000).
No contexto geral, há provas, em cognição sumária, de que contratos da Petrobrás foram
utilizados, de forma sistemática, para enriquecimento ilícito de agentes públicos,
incluindo políticos, e para financiamento criminoso de partidos políticos” (Evento 3 –
DESPADEC1).

A argumentação deduzida para justificar a atração da competência não se


justifica, mormente quando se verifica que os procedimentos tidos como originários, e
que por essa razão atrairiam a competência, também não poderiam ter tramitado perante
esse d. Juízo.

Nesse sentido, os próprios procedimentos originários referidos na decisão


(inquérito policial n.º 2006.70.00.018662-8 e ação penal n.º 5047229-
77.2014.404.7000) foram instaurados em flagrante violação ao postulado do juiz
natural.

Tal ocorreu pois referidos procedimentos estavam “ligadas a um esquema de


lavagem de dinheiro envolvendo o ex-deputado federal JOSÉ MOHAMED JANENE e
as empresas CSA Project Finance Ltda. e Dunel Indústria e Comércio Ltda.” (Evento 1
– DENUNCIA – fls. 3). E, por se tratar de investigação conduzida contra deputado
federal investido no cargo, salta aos olhos a incompetência desse d. Juízo para a
condução do processo.
9

Desse modo, e como será deduzido de maneira detalhada na exceção apropriada,


é necessário que se reconheça que os atos judiciais produzidos naqueles feitos violaram
a competência exclusiva do STF, devendo, portanto, ser declarada a sua nulidade,
afastando-se, com isso, a prevenção da Seção Judiciária do Paraná para o processamento
do feito.

3. A POSSIBILIDADE JURÍDICA DO RECONHECIMENTO DA INÉPCIA DA INICIAL E DA


FALTA DE JUSTA CAUSA

As inovações processuais trazidas pela Lei nº 11.719/08 são ainda recentes, mas
os nossos Tribunais já afirmaram que, após a apresentação de defesa preliminar, é
plenamente cabível não só a absolvição sumária, prevista no art. 397 do Código de
Processo Penal, como também a revisão da decisão que recebeu a denúncia, se
reconhecida a presença de um dos parâmetros previstos no art. 395 do Código de
Processo Penal para a rejeição da inicial. Esse é o entendimento mais recente do Superior
Tribunal de Justiça:

“Não obstante, com a inovação trazida ao procedimento, não mais se limita a defesa a
apresentar defesa prévia, de conteúdo reduzido que, na práxis, não implicava, regra geral,
em atuação defensiva relevante. Agora, a teor do disposto no art. 396-A do CPP, poderá
o acusado ‘argüir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa, oferecer
documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas,
qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário’. Abre-se, então, ao
Magistrado, a possibilidade de absolver sumariamente o réu quando verificar: i) a
existência manifesta de causa excludente da ilicitude; ii) a existência manifesta de causa
excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; iii) que o fato narrado não
constitui crime ou iv) extinta a punibilidade do agente. Poderá também, segundo
preconiza abalizada doutrina, rever, após as alegações defensivas, a presença das
condições da ação e pressupostos processuais”.2

“1. Superada a fase do art. 395 do Código de Processo Penal com o recebimento da inicial
acusatória, após a apresentação da defesa preliminar, o juiz não fica vinculado às
hipóteses elencadas no art. 397 do mesmo diploma legal, autorizadoras da absolvição
sumária.

2
HC 138.089, Rel. Min. FÉLIX FISCHER, 5ª Turma, v.u., j. 2/3/10 – grifos da transcrição.
10

“2. Verificada, após a apresentação das defesas preliminares, a inépcia da exordial


acusatória pela ausência da descrição individualizada das condutas de cada
denunciado, ao Juiz é lícito reconsiderar o recebimento da denúncia, quer por
permissão legal, quer por uma questão de coerência com os anseios do legislador,
impulsionadores da reforma do Código Adjetivo Penal, tendentes a um processo célere e
fecundo. Inteligência do art. 396-A do Código de Processo Penal.
“3. Agravo regimental desprovido”.3

“1. O fato de a denúncia já ter sido recebida não impede o Juízo de primeiro grau de, logo
após o oferecimento da resposta do acusado, prevista nos arts. 396 e 396-A do Código de
Processo Penal, reconsiderar a anterior decisão e rejeitar a peça acusatória, ao
constatar a presença de uma das hipóteses elencadas nos incisos do art. 395 do
Código de Processo Penal, suscitada pela defesa.
“2. As matérias numeradas no art. 395 do Código de Processo Penal dizem respeito a
condições da ação e pressupostos processuais, cuja aferição não está sujeita à preclusão
(art. 267, § 3º, do CPC, c⁄c o art. 3º do CPP).
“3. Hipótese concreta em que, após o recebimento da denúncia, o Juízo de primeiro grau,
ao analisar a resposta preliminar do acusado, reconheceu a ausência de justa causa para a
ação penal, em razão da ilicitude da prova que lhe dera suporte”.4

Sobre a questão também merece destaque o posicionamento do Desembargador


MÁRCIO BÁRTOLI, do Tribunal de Justiça de São Paulo:

“À apresentação da resposta segue-se a decisão que a julgará, podendo decorrer a rejeição


da inicial acusatória ou a absolvição sumária do condenado. Nesse ponto, deve ficar bem
claro que, recusada a resposta escrita do réu, não deve ser proferido novo despacho de
recebimento da denúncia, apesar da redação do artigo 399 mencionar “recebida a
denúncia”, expressão que só pode ser definida como equívoco ou falta de técnica
legislativa, porque a inicial acusatória já fora recebida. A interpretação desse texto, nesse
ponto, deve ser corretiva, compreendida como “rejeitada a defesa escrita, o juiz designará
dia e hora...”.
(...)
“A manifestação judicial proferida em seguida à resposta escrita trata de duas
possibilidades. A primeira, da rejeição da denúncia já recebida, retratando-se o juiz após
examinar o conteúdo da defesa. A segunda possibilidade é do julgamento conforme o
estado do processo, nos mesmos moldes previstos no CPC, pois o juiz deve julgar tudo o
que constar da resposta: preliminares, excludentes de ilicitude e o mais de interesse da
defesa, devendo absolver sumariamente o acusado, de acordo com o art. 397 do CPP.
“Se há possibilidade de o juiz reapreciar e rejeitar a denúncia, e absolver sumariamente o
acusado, a única conclusão lógica que se extrai é de que deve haver julgamento
fundamentado acolhendo ou rejeitando a defesa. Se não for proferida decisão nesses
termos, por que motivo o CPP teria aberto a oportunidade de apresentação da resposta do

3
AgRg no AGRAVO EM REsp Nº 82.199, Rel. Min. LAURITA VAZ, 5ª Turma, v.u., j. em 17/12/13 – grifos da
transcrição.
4
REsp 1.318.180, Rel. Min. SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, 6.ª Turma, v.u., j. 16⁄5⁄13 – grifos da transcrição.
11

acusado? Teria a lei criado uma armadilha para ser antecipada a tese defensiva a ser
desenvolvida no curso do processo? A ausência de decisão sobre a resposta escrita
representa ofensa à garantia constitucional do contraditório, porque tudo o que é alegado
pelas partes deve ser julgado pelo juiz”.5

Na espécie, e como inclusive reconhecido por ocasião do recebimento da


denúncia, salta aos olhos a ausência do elemento subjetivo nas condutas atribuídas aos
peticionários. Por tais motivos, de rigor a retratação da r. decisão que recebeu a inicial,
seja pela manifesta inépcia da denúncia, seja ainda pela evidente falta de justa causa.

4. A INÉPCIA DA INICIAL ACUSATÓRIA

A acusação lançada contra os peticionários foi precedida de espetaculosa


entrevista coletiva transmitida ao vivo por diversos canais de televisão e rádio. Durante
o programa foram utilizados diversos recursos visuais, apresentados gráficos e
organogramas. Olvidou-se a acusação, no entanto, de formular uma denúncia apta e que
atenda aos requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal.

A profusão de tipos penais (são três acusações gravíssimas), os supostos valores


envolvidos (milhares de reais), a alegada relevância dos réus (dirigentes partidários, ex-
diretores de empresa de capital aberto listada em bolsa de valores e o “amigo de Lula”)
são assunto para preencher os noticiários e as discussões de botequim. Para o processo
penal, no entanto, o que importa é que a acusação deve preencher determinados
requisitos sob pena de ser tachada de inepta.

Na espécie, deixou o Parquet de descrever as condutas tidas como delituosas, em


flagrante violação aos ditames do art. 41 do Código de Processo Penal. Sobre essa
questão é precisa a lição do MINISTRO NAPOLEÃO MAIA:

5
. Recebimento e Rejeição da Denúncia, e Absolvição Sumária. Boletim IBCCRIM, ano 17,
nº 202, setembro 2009. Grifamos.
12

“A exigência legal de a Denúncia criminal conter a descrição pormenorizada da conduta


do indivíduo acusado é um freio à imaginação, à criatividade ou ao abstracionismo em
matéria de incriminação, evitando que os legítimos pendores intelectuais dos membros
do Parquet os conduzam a produzir peças que não guardem estrita adequação a fatos; e
isso tem a função primária de ensejar o exercício jurisdicional penal de forma segura,
portanto, justa. Ademais, a exposição circunstanciada dos fatos sempre esteve associada,
na tradição dos estudos processuais penais, no Brasil e em outros países, ao direito de
ampla defesa que é consectário da ação penal, entendendo-se que a falta dessa descrição
pormenorizada ou mesmo a presença de descrição defeituosa, fantasiosa ou incompleta,
além de tolher a jurisdição penal, sacrifica o pleno exercício das prerrogativas
defensivas”.6

Esse também é o entendimento do Supremo Tribunal Federal, em decisão


paradigma da lavra do Eminente MINISTRO CELSO DE MELLO:

“O processo penal do tipo acusatório repele, por ofensivas à garantia da plenitude de


defesa, quaisquer imputações que se mostrem indeterminadas, vagas, contraditórias,
omissas ou ambíguas. Existe, na perspectiva dos princípios constitucionais que regem o
processo penal, um nexo de indiscutível vinculação entre a obrigação estatal de oferecer
acusação formalmente precisa e juridicamente apta e o direito individual de que dispõe o
acusado à ampla defesa.
“A imputação penal omissa ou deficiente, além de constituir transgressão do dever
jurídico que se impõe ao Estado, qualifica-se como causa de nulidade processual absoluta.
“A denúncia – enquanto instrumento formalmente consubstanciador da acusação penal –
constitui peça processual de indiscutível relevo jurídico. Ela, ao delimitar o âmbito
temático da imputação penal, define a própria res in judicio deducta”.7

A imputação lançada contra os acusados beira o absurdo e isso inclusive já foi


reconhecido por V. Exa. quando afirmou que “É de se questionar a presença do
elemento subjetivo em parte dos denunciados, especialmente nos de papel secundário”
(Evento 3 – DEPADEC1).

O acusado Maurício Bumlai encontra-se na condição de acusado unicamente


porque assinou, como avalista, os contratos celebrados por seu pai com o Banco Schain.
E Cristiane Bumlai somente é acusada porque a instituição financeira solicitou sua
assinatura como esposa de Maurício.

6
Breves estudos de processo penal. Fortaleza: Imprece, 2010, p. 98.
7
HC 70.763-7, DJ 23.9.94, p. 25.238.
13

A conduta atribuível aos acusados limita-se a esse fato objetivo. O que o MPF
fez, ao denunciá-los pela prática de todos os ilícitos descritos na inicial, foi criminalizar
o parentesco: Maurício Bumlai é filho de José Carlos Bumlai; Cristiane Bumlai é
esposa de Maurício e nora de José Carlos Bumlai.

Ou seja, busca o MPF, com a presente acusação, constranger ainda mais José
Carlos Bumlai para que assuma a prática de atos ilícitos que não cometeu, tudo de
forma a permitir a persecução penal de terceiros ainda não acusados formalmente.

Ainda que se admita que a assinatura de um documento como avalista, ou como


a esposa do avalista, possa ser erigido a crime, beira a literatura fantástica atribuir a esses
fatos a capitulação legal da denúncia. Ainda mais quando os representantes do Banco
Schain, que assinaram o mesmo documento na qualidade de mutuantes, sequer foram
mencionados na inicial. Ao selecionar, sem nenhum critério, quem deve ir para o banco
dos réus, deparamo-nos com aquilo que poderia ser chamado de cegueira deliberada da
acusação: tapa-se os olhos para algumas condutas e pessoas; para os outros, não apenas
o rigor da lei, mas o absoluto exagero acusatório!

Não obstante a participação dos acusados limite-se à assinatura dos documentos


como avalistas, ainda assim o MPF deduziu a acusação imputando aos acusados ilícitos
que jamais poderiam ter cometido ao assinar os contratos de mútuo. Com relação à
primeira imputação, de corrupção passiva, afirma a acusação que:

“Em 28 de dezembro de 2009, no município de Campo Grande, como contrapartida pela


assinatura do contrato entre a SCHAHIN e a PETROBRAS, os denunciados JOSÉ
CARLOS BUMLAI, CRISTIANE DODERO BUMLAI e MAURICIO DE BARROS
BUMLAI, de forma consciente, voluntária e com comunhão de vontades, receberam para
si e em favor do Partido dos Trabalhadores, enquanto NESTOR CERVERÓ, JORGE
LUIZ ZELADA, EDUARDO MUSA, FERNANDO BAIANO SOARES e JOÃO
VACCARI NETO receberam, em favor dos primeiros e da referida agremiação partidária,
a vantagem indevida consistente em recibo de quitação definitiva da dívida contraída
14

originalmente por JOSE CARLOS BUMLAI em benefício do mencionado partido


político. Essa vantagem foi recebida em razão de terem empenhado esforços técnicos e
políticos para viabilizar a contratação da SCHAHIN pela PETROBRAS” (Evento 1 –
DENUNCIA1 – fls. 8/9).

Afirma a denúncia que os acusados receberam vantagem “em razão de terem


empenhado esforços para viabilizar a contratação da Schain pela Petrobras”. Como
fizeram isso? Quando? Assinar um contrato de mútuo, na condição de avalista e de
esposa do avalista, não equivale à conduta imputada na inicial e tampouco pode ser
considerado ato de corrupção passiva, como sustenta a acusação.

Vale ressaltar que a figura jurídica do avalista nada mais é do que um garante do
pagamento de um título. Como avalistas, os acusados não receberam qualquer valor, não
participaram da elaboração do contrato e tampouco de sua quitação. Eles apenas
garantiriam o débito na hipótese de não ocorrer o pagamento, situação que não se
verificou na espécie.

Ainda assim, insiste a acusação, afirmando que a conduta consistente em


“emprestar seus nomes como avalistas dos empréstimos contraídos do banco Schain”
corresponderia ao tipo penal da corrupção passiva:

“Essa vantagem indevida foi intermediada e recebida por JOSE CARLOS BUMLAI, com
o auxílio de MAURICIO DE BARROS BUMLAI e CRISTIANE BARBOSA DODERO
BUMLAI, que participaram da fraude emprestando seus nomes como avalistas dos
empréstimos contraídos do Banco SCHAHIN e assinando o instrumento da transação da
dívida (Anexo 57). O denunciado MAURICIO BUMLAI também contribuiu para o fato
criminoso como administrador da AGRO CAIEIRAS que, na época, estava inativa”
(Evento 1 – DENUNCIA1 – fls. 21).

Em nenhum momento o MPF logrou demonstrar, minimamente que fosse, qual


conduta dos acusados contribuiu para “viabilizar a contratação da Schain pela
Petrobrás”. Os acusados não são funcionários públicos e não tem qualquer ingerência
administrativa ou política na Petrobras. Não é viável, portanto, ampliar o alcance da
15

conduta imputada – assinatura como avalista e como esposa do avalista – para abranger
a corrupção. Esclareça-se, ainda, que o contrato de mútuo referido não guardava
nenhuma relação com a Petrobras, que não era parte no mesmo.

A segunda imputação atribui aos defendentes a prática do delito de gestão


fraudulenta de instituição financeira, crime de mão própria, o que por si só bem
demonstra a total inépcia da acusação. Novamente, ao descrever a conduta atribuída aos
peticionários, o MPF é econômico e genérico:

“Em síntese, conforme será especificado à frente, em 14 de outubro de 2004, foi assinado
o contrato envolvendo o Banco SCHAHIN como mutuante e JOSE CARLOS BUMLAI
como mutuário. A avença tinha MAURICIO DE BARROS BUMLAI e CRISTIANE
BARBOSA DODERO BUMLAI (filho e nora de JOSE CARLOS BUMLAI) como
avalistas. O valor inicial era de R$ 12.176.850,80 com vencimento no dia 3/11/2005
(Anexo 50). Em que pese tomado formalmente em nome de JOSE CARLOS BUMLAI,
o empréstimo se destinava ao Partido dos Trabalhadores, sendo tal fato de conhecimento
das partes envolvidas, conforme será demonstrado, tendo ocorrido, aí, interposição
fraudulenta com a celebração de documentos falsos para encobri-la. Ademais, o
empréstimo de alto valor foi feito sem garantias reais.
A dívida não foi paga e em 27/12/2005 foi concedido novo empréstimo fraudulento, agora
em benefício da AGRO CAIEIRAS, com a finalidade de dar quitação para o primeiro
mútuo tomado e inadimplido por JOSE CARLOS BUMLAI no ano de 2004, escondendo
do Banco Central a rolagem da dívida para evitar a provisão de créditos de liquidação
duvidosa. Em outras palavras, o Banco SCHAHIN emprestou R$ 18.204.036,81 para
AGRO CAIEIRAS, que transferiu este valor para JOSE CARLOS BUMLAI quitar o
empréstimo originário com o Banco SCHAHIN, surgindo uma nova dívida, agora da
AGRO CAIEIRAS perante o BANCO SCHAHIN (Anexo 52).
Até 28/03/2007, esse novo mútuo também não foi havia sido adimplido, o que obrigou o
Banco SCHAHIN a ceder o crédito para a SCHAHIN SECURITIZADORA DE
CREDITOS FINANCEIROS S/A (CNPJ 03572483000197), empresa do Grupo
SCHAHIN, que passou a ser a credora da dívida, novamente para evitar o
provisionamento do montante. Finalmente, em 28 de dezembro de 2009, JOSE CARLOS
BUMLAI, CRISTIANE DODERO BUMLAI e MAURICIO DE BARROS BUMLAI e
a SCHAHIN SECURITIZADORA DE CREDITOS FINANCEIROS S/A simularam a
quitação do referido empréstimo por intermédio de um conjunto de negócios jurídicos
falsos que culminaram na assinatura do recibo de quitação. A verdadeira quitação do valor
foi feita não pelos negócios simulados, mas sim pelo direcionamento ilegal, do já
mencionado contrato de operação de sonda, pela PETROBRAS, o que foi feito por
funcionários desta e mediante influência do Partido dos Trabalhadores (real beneficiário
do empréstimo original), em benefício de outra empresa do GRUPO SCHAHIN” (Evento
1 – DENUNCIA1 – fls. 9/10).
16

Mais uma vez a conduta imputada consistiu em ser avalista dos empréstimos. Em
nenhum momento a denúncia afirma que os acusados tiveram ingerência na
administração da instituição financeira.

Causa espécie, para dizer o menos, a inclusão dos acusados no polo passivo da
demanda, sendo que os gestores do banco, que assinaram os contratos questionados
como mutuantes, sequer foram mencionados pela acusação.

E, ainda que esse d. Juízo tenha afirmado que “se terceiro auxiliar o gestor de
instituição financeira na prática de atos financeiros criminosos, é ele, em tese, passível
de responsabilização pelos crimes da Lei n.º 7.492/1986” (Evento 3 – DESPAC1), em
nenhum momento o MPF imputou fato objetivo aos denunciados que possa configurar,
em tese, auxílio ao gestor da instituição financeira. Vale ressaltar que os acusados nunca
estiveram no Banco Schain e que seus nomes não foram referidos pelos demais
acusados, pelas testemunhas e pelos Colaboradores.

Finalmente, e quanto à imputação de lavagem de dinheiro, novamente a denúncia


não indica qual, ou quais, teriam sido as condutas que poderiam ser atribuídas aos
acusados:

“Entre 27 de janeiro de 2009 e 28 de dezembro de 2009, nos municípios de São Paulo e


Campo Grande, os denunciados SALIM SCHAHIN, JOSE CARLOS BUMLAI,
CRISTIANE DODERO BUMLAI, MAURICIO DE BARROS BUMLAI, de modo
consciente, voluntário e com comunhão de vontades, por intermédio da simulação de uma
triangulação de negócios jurídicos envolvendo as empresas SCHAHIN Securitizadora;
Fazenda AGROMASA; Fazenda AGROPECUARIA ALTO DO TURIAÇU (todas
pertencentes ao Grupo SCHAHIN) e AGRO CAIEIRAS (pertencente a JOSE CARLOS
BUMLAI e seus filhos) ocultaram e dissimularam a natureza, origem, localização,
disposição, movimentação e propriedade ilícita de R$ 18 milhões provenientes de crimes
contra o sistema financeiro e de corrupção, este em prejuízo da PETROBRAS.
A operação tinha por objetivo ocultar e dissimular o pagamento da vantagem indevida
em benefício direto do Partido dos Trabalhadores e dos denunciados JOSE CARLOS
BUMLAI, CRISTIANE DODERO BUMLAI e MAURICIO DE BARROS BUMLAI.
Ela consistiu, inicialmente, na celebração, em 27/01/2009, um dia antes da assinatura do
contrato entre a PETROBRAS e a SCHAHIN, de um contrato de transação e liquidação
17

de dívida entre a SCHAHIN SECURITIZADORA DE CRÉDITOS e a AGRO


CAIEIRAS, empresa esta pertencente à família de JOSE CARLOS BUMLAI e que era a
devedora daquele empréstimo contraído em 2004 que favorecia o Partido dos
trabalhadores. O referido contrato de transação e liquidação continha as seguintes
cláusulas principais: 1) uma confissão de dívida pelos avalistas JOSE CARLOS
BUMLAI, CRISTIANE DODERO BUMLAI e MAURICIO DE BARROS BUMLAI de
R$ 18.294.043,50; 2) a subrogação de JOSE CARLOS BUMLAI pela dívida da AGRO
CAIEIRAS, liberando a empresa, os demais avalistas e a garantia hipotecária da
obrigação; 3) a proposta de pagamento de R$ 18 milhões em três parcelas entre
27/03/2009 e 27/12/2009; 4) por mera liberalidade do credor, um desconto de incentivo
à pontualidade no valor de R$ 6 milhões em relação às parcelas pactuadas para pagamento
do débito” (Evento 1 – DENUNCIA1 – fls. 11).

Não obstante a narrativa descrita não corresponda ao crime de lavagem de


dinheiro, como inclusive salientado por V. Exa., é certo ainda que não são indicados
fatos objetivos relacionados com a conduta dos acusados. Novamente, utiliza-se a
conduta de avalizar o contrato de mútuo para caracterizar um ilícito penal, não havendo
a descrição pormenorizada de conduta delituosa, e muito menos do indispensável
elemento subjetivo, que se amoldem ao tipo penal imputado. Afinal, de que maneira
ocorreu a lavagem de dinheiro? Quais valores foram lavados? Qual o crime antecedente?
Essas perguntas não encontram resposta na inicial acusatória.

A denúncia é tão absurda que, mesmo imputando três fatos delituosos, não
informa se houve unidade ou pluralidade de delitos. Afinal, os crimes de corrupção,
gestão fraudulenta de instituição financeira e lavagem de dinheiro foram supostamente
cometidos em concurso material ou concurso formal? Ou então, estamos diante de um
cenário em que os crimes devem ser havidos como continuados? Tal situação é
extremamente relevante, uma vez que somente há um fato concreto imputado aos
peticionários, qual seja, a assinatura como avalista e como esposa do avalista do contrato
de mútuo celebrado com o Banco Schain.

Ora, a persecução penal objetiva à busca da verdade real. Com isso, os elementos
colhidos durante a apuração policial servem para demonstrar a materialidade do fato e
respectiva autoria delitiva (art. 5º e 6º, do CPP). Portanto, é patente que deve existir
18

nexo entre o conteúdo dos autos e aquilo que venha a narrar a denúncia (arts. 6º e 41,
do CPP).

A acusação deve se estribar no inquérito policial, ou, eventualmente, em


evidências que possibilitem ao Parquet promover a ação penal pública, como preceitua
o art. 27, do Código de Processo Penal.

Em resumo, a denúncia precisa ser fiel ao que restou apurado ao longo do trabalho
investigatório e à prova dos autos. Daí a Lei Processual Penal mostrar-se expressa, ao
determinar no artigo 41, do Código de Processo Penal, que a denúncia conterá a
“exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias”.

Na espécie, o que ocorreu foi justamente o oposto: ante a ausência de provas da


participação dos acusados nos fatos, promoveu-se uma acusação genérica em que as
condutas não foram devidamente descritas. Com esse agir do MPF, ocorreu afronta às
garantias do devido processo legal e da ampla defesa, sendo de rigor a rejeição da inicial
nos termos do art. 395, I, do Código de Processo Penal.

5. A FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL

Acaso seja superada a questão relativa à inépcia da inicial, deve ser reconhecida
a manifesta falta de justa causa para a ação penal, uma vez que os supostos fatos narrados
na inicial não constituem ilícito penal.

De início cumpre destacar que os acusados não exercem, com a plenitude que a
Constituição lhe assegura, o seu direito de defesa. Tal fato acontece pois, como adrede
mencionado, a denúncia é manifestamente inepta. Além disso, não se encontram
juntados aos autos relevantes provas (termo de declarações do colaborador Nestor
Cerveró e a gravação de depoimentos do colaborador Milton Schain).
19

Não obstante essas máculas, é incontroverso que a presente demanda, com


relação aos acusados, carece de justa causa, sendo plenamente viável o reconhecimento
dessa circunstância neste momento preliminar de apreciação da resposta à acusação.

Como é cediço, a acusação criminal demanda prova da materialidade do delito e


indícios de autoria. Também deve demonstrar, ainda que minimamente, a presença do
elemento subjetivo, especialmente quando se tratar de acusado que não tenha
participado dos fatos tidos por delituosos. Sem esses requisitos legais, a ação não pode
prosperar por manifesta falta de justa causa.

Acerca da justa causa esclarece GUSTAVO HENRIQUE BADARÓ:

"O conceito de justa causa evoluiu, então, de um conceito abstrato, para uma idéia
concreta, exigindo a existência de elementos de convicção que demonstrem a viabilidade
da ação penal. A justa causa passa a pressupor a existência de um suporte probatório
mínimo, consistente na prova da existência material de um crime e em indícios de que o
acusado seja o seu autor. A ausência de qualquer um destes dois elementos autoriza a
rejeição da denúncia e, em caso de seu recebimento, faltará justa causa para a ação penal,
caracterizando constrangimento ilegal apto a ensejar a propositura de habeas corpus para
o trancamento da ação penal".8

No mesmo sentido JOSÉ ANTONIO PAGANELLA BOSCHI:

"Como é dever do Estado proteger os direitos e as liberdades fundamentais e


considerando, ainda, que a instauração do processo criminal gera aflições e
constrangimentos de toda ordem ao imputado, segue-se que o válido desencadeamento
da persecutio criminis pelo titular da pretensão punitiva (MP ou querelante) pressupõe
que elementos de prova idôneos e legítimos apóiem a denúncia, queixa ou aditamento, de
modo a evidenciar que a acusação não é absurda ou um capricho do acusador, mas que,
pelo contrário, reúne fidedignidade e veicula o interesse social na apuração do fato e na
responsabilização de seu autor". 9

8
Direito Processual Penal - Tomo I. RJ: Elsevier. 2008. p. 72.
9
Ação Penal. 3ª. Ed. POA: Aide. 2002. p. 131.
20

No caso dos autos, e como inclusive afirmado por V. Exa. por ocasião do
recebimento da denúncia, a acusação não conseguiu demonstrar a viabilidade da ação
penal, não tendo sido indicada a presença, ainda que mínima, do elemento subjetivo nas
condutas atribuídas aos acusados.

O fato de terem assinado os contratos de mútuo, como avalista e como esposa do


avalista, não correspondem aos tipos penais de corrupção, gestão fraudulenta e lavagem
de dinheiro. Deveria a acusação ter demonstrado um mínimo liame entre essa conduta e
os tipos penais. O elemento subjetivo não se presume! Ele precisa ser minimamente
demonstrado para viabilizar a ação penal.

Ainda que as provas empregadas pela acusação sejam questionáveis, visto tratar-
se da palavra isolada de colaboradores cujas afirmações não se encontram corroboradas
por outras provas, não há nelas nenhuma referência às supostas condutas praticadas
pelos acusados. A única prova que supostamente vincularia os acusados aos fatos tidos
por delituosos são os contratos de mútuo assinados na qualidade de avalistas. Isso é
muito pouco, principalmente quando se considera que os contratos foram assinados
muitos anos antes dos ilícitos penais precariamente narrados na peça inaugural.

O primeiro contrato de mútuo, por exemplo, foi assinado em 14/10/04 (Evento 1


– ANEXO 50), e a contratação da Schain pela Petrobrás somente veio a acontecer mais
de cinco anos depois. E, mesmo que se considere o aditamento a esse contrato (celebrado
em 04/05/05 – Evento 1 – Anexo 51), o novo mútuo com a Agro Caieiras (celebrado em
27/12/05 – Evento 1 – Anexos 52, 53, 54 e 55) e a própria transação (datada de 27/1/09
– Evento 1 – Anexo 57 – último documento assinado pelos acusados como avalistas),
ainda assim não há qualquer vínculo entre os eles e os fatos imputados.

Como não há nenhuma conduta atribuída aos acusados nos autos, não há o que
se refutar em termos probatórios. Repita-se, mais uma vez como se fosse pouco: não há
21

absolutamente nada nos autos que vincule os acusados aos fatos delituosos. Sua inclusão
no polo passivo decorre exclusivamente da assinatura dos contratos, na condição de
avalista e esposa do avalista, o que bem demonstra o rematado absurdo da inicial.

Além disso tudo, por outros motivos também deve ser reconhecida a falta de justa
causa para a presente ação.

Com relação à imputação de lavagem de dinheiro, a descrição apresentada pela


acusação encerra um equívoco conceitual que impede a própria ocorrência da infração
penal.

Segundo afirma a denúncia “o contrato principal entre a PETROBRAS e a


SCHAHIN foi assinado em 28 de janeiro de 2009. Em 27 de janeiro de 2009, um dia
antes da assinatura da referida avença, BUMLAI firmou um instrumento de transação
ideologicamente falso para quitação parcelada durante todo ano de 2009 do débito com
a Securitizadora SCHAHIN”.

Ou seja, a suposta quitação fraudulenta do empréstimo teria ocorrido em 27 de


janeiro de 2009. E, um dia depois, o contrato principal entre a Petrobras e a Schain
teria sido assinado. Ainda segundo a acusação, depois dessa quitação Maurício Bumlai
e Cristiane Bumlai não tiveram mais nenhuma participação nos fatos. Como teriam
então lavado R$ 18 milhões provenientes de crimes contra o sistema financeiro e de
corrupção?

Esqueceu-se o Ministério Público que a lavagem do dinheiro ocorre somente


depois do cometimento do crime tido por antecedente. “O processo de lavagem de
dinheiro tem como antecedente necessário a prática de uma infração penal –momento
do nascimento do capital ilícito – e se inicia com a ocultação dos valores ilicitamente
aferidos”10. Assim, não é juridicamente viável, como faz o MPF, afirmar que a lavagem

10
. Bottini, Pierpaolo Cruz. Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais penais: comentários à Lei
22

ocorreu durante o cometimento do crime de gestão fraudulenta. Tanto é assim que esse
d. Juízo, por ocasião do recebimento da denúncia, afirmou que “No que se refere ao
enquadramento no crime de lavagem, entende o Juízo que, aparentemente, a conduta
narrada pelo MPF a esse título ainda se enquadra nas condutas pertinentes ao crime
antecedente, de gestão fraudulenta, não se configurando lavagem” (Evento 3 –
DENUNCIA1 – fl. 6).

Ora, o dinheiro referido acima (no trecho da denúncia destinado ao crime de


lavagem) não é proveniente de crimes contra o sistema financeiro nacional, mas
proveniente de empréstimo lícito, o qual, segundo a acusação, foi posteriormente
quitado de forma ilícita. Ou seja, não houve a prática do crime de lavagem de capitais,
visto que não se identificou nenhuma das etapas do processo de lavagem. O que o MPF
considera como lavagem de dinheiro nada mais é do que a eventual consumação do
delito de gestão fraudulenta.

É cediço que há um verdadeiro frenesi11, nacional e internacional, acerca do


sistema de combate à lavagem de dinheiro, mas nem por isso a imputação será feita de
forma impensada, para não dizer completamente desarrazoada. Ou seja, não se pode
abstrair a necessidade de existir um crime antecedente – premissa lógica do próprio
sistema de combate à lavagem de dinheiro12. Mais uma vez, para lavar dinheiro, é
preciso que um crime tenha sido cometido antes. Conforme o artigo 1º, caput, da Lei nº
9.613/98, lavagem é: ocultar ou dissimular bens ou valores provenientes de crime. Em
resumo: primeiro comete-se um crime que gera proveitos; depois, lava-se esses
proveitos. É assim que funciona a lei de lavagem, o que o MPF parece não ter percebido.

9.613/1998, com alterações da Lei 12.683/2012. – São Paulo: RT, 2012, p. 23.
11
“It is clear that some elements of ‘moral panic’ and ‘moral entrepreneurship’ can be seen in the development of
the discourse surrounding money laundering.” (ALLDRIDGE, Peter. Money Laundering Law. Forfeiture,
Confiscation, Civil Recovery, Criminal laundering and taxation of the proceeds of crime. Oxford – Portland
Oregon: Hart Publishing, 2003, p. 11).
12
“A ocorrência prévia de um desses crimes constitui elemento normativo do tipo de lavagem de capitais. (...) não
bastará o prévio cometimento de um dos crimes antecedentes, mas este deverá gerar os bens, direitos ou valores
que deverão ser o objeto do crime de lavagem.” (SIDI, Ricardo. Evasão de divisas como crime antecedente de
lavagem de capitais. In Boletim do IBCCrim, ano 14, nº 163, junho/2006.)
23

A acusação de gestão fraudulenta de instituição financeira tampouco resiste a


uma análise mais detalhada. Segundo a inicial, os peticionários teriam emprestado “seus
nomes como avalistas dos empréstimos contraídos do Banco SCHAHIN e assinando o
instrumento da transação da dívida” (Evento 1 – DENUNCIA1 – fl. 21).

Ocorre, no entanto, que o crime em questão é de mão própria e somente pode ser
praticado por quem tenha poder de direção na instituição financeira. Nesse sentido, o
art. 25 da Lei nº 7.492/86 é taxativo ao estabelecer que “São penalmente responsáveis,
nos termos desta lei, o controlador e os administradores de instituição financeira, assim
considerados os diretores, gerentes”.

Ou seja, para ser responsabilizado pelo crime de gestão fraudulenta de instituição


financeira o agente precisa ser controlador ou administrador de instituição financeira.
Os peticionários não estão e nunca estiveram nesse rol taxativo de agentes.

Ainda que esse d. Juízo entenda que “o art. 30 do Código Penal é expresso ao
determinar a comunicação das circunstâncias e condições de caráter pessoal quando
elementares do crime. Assim, se terceiro auxiliar o gestor de instituição financeira na
prática de atos financeiros criminosos, é ele, em tese, passível de responsabilização
pelos crimes da Lei n.º 7.492/1986”, a nossa melhor jurisprudência repele essa
possibilidade.

Veja-se, por exemplo, o seguinte julgado do Supremo Tribunal Federal que afasta
a possibilidade de haver gestão fraudulenta por terceiro estranho à administração do
estabelecimento bancário, argumentando, em síntese, que a Lei nº 7.492/86 estabelece
uma relação penal subjetiva:

“CRIME FINANCEIRO – GESTÃO FRAUDULENTA – LEI Nº 7.492/86 – RELAÇÃO


PENAL SUBJETIVA – TERCEIRO ESTRANHO AO ESTABELECIMENTO
BANCÁRIO. A interpretação sistemática da Lei nº 7.492/86 afasta a possibilidade de
haver gestão fraudulenta por terceiro estranho à administração do estabelecimento
bancário”.13

13
HC 93.553 - Tribunal Pleno - Rel. Min. Marco Aurélio - j. 07.05.2009 - public. 04.09.2009.
24

E o voto do Ministro Relator é preciso sobre essa questão:

“(...) Pois bem, a Lei nº 7.492/86, mediante preceito expresso, revela crimes passíveis
de serem apontados como de mão própria. O dispositivo evocado na espécie, que
motivou o recebimento da denúncia, alude ao gerenciamento:
Art. 4º Gerir fraudulentamente instituição financeira:
[...]
Ora, o particular estranho à administração da instituição financeira ou não-
enquadrado em um dos incisos do parágrafo único do artigo 1º - a pessoa jurídica que
capte ou administre seguros, câmbio, consórcio, capitalização ou qualquer tipo de
poupança ou recursos de terceiros e a pessoa natural que exerça quaisquer das atividades
referidas no artigo – não implementa o gerenciamento da instituição, não se podendo,
portanto, dizer que veio fazê-lo fraudulentamente.
Há mais, a própria Lei nº 7.492/86 contém preceito a definir a relação jurídica subjetiva.
Segundo o artigo 25, são penalmente responsáveis, nos termos da lei, o controlador e os
administradores de instituição financeira, assim considerados os diretores e gerentes.
Consoante o §1º, equiparam-se aos administradores de estabelecimento financeiro o
interventor, o liquidante ou o síndico. Vale notar que a coautoria aludida no §2º, a revelar,
no caso de confissão espontânea, a redução de pena de um a dois terços pressupõe,
logicamente, o enquadramento do agente em previsão legal.
(...)
Concedo parcialmente a ordem para afastar o recebimento da denúncia, em relação ao
paciente, quanto ao crime do artigo 4º da Lei 7.492/869. Estendo esta ordem aos demais
acusados referidos, mantendo, assim, o recebimento da denúncia, no particular, apenas
no tocante aos quatro primeiros acusados, dirigentes do Banco BMG S.A. É como voto’”
(grifos da transcrição).

Relevantes, ainda, as considerações do MINISTRO AYRES BRITTO, na Ação Penal


470, no sentido de ser o crime de gestão fraudulenta um crime especial próprio:

“Dito de outro modo: gerir significa administrar, dirigir, organizar, controlar ou


comandar. Essa elementar objetiva do tipo penal do caput do art. 4º da Lei 7492/86
alcança a conduta daquele que exerce o controle ou tem a gerência sobre a instituição
financeira ou parte dela, ou seja, alcança aqueles atos que envolvem deliberações,
decisões com certo grau de definitividade ou atuação de comando. Estamos a tratar,
portanto, de crime especial próprio. Ou seja, crime que exige do sujeito ativo uma especial
condição”. 14

Ainda por ocasião do julgamento da Ação Penal 470, o MINISTRO RICARDO


LEWANDOWSKI ressaltou a exigência do dolo direto no crime de gestão fraudulenta:

14
AP 470 - Tribunal Pleno - Rel. Min. Joaquim Barbosa - j. 17.12.2012 - public. 22.04.2013 - fls. 54508/54509.
25

“Por todas essas razões, e considerada a prova colhida nos autos, não estou autorizado a
concluir que AYANNA TENÓRIO TORRES DE JESUS tenha contribuído de qualquer
forma para a consecução do crime tipificado no art. 4º da Lei 7.492/1986, até mesmo
porque o delito em questão não comporta a hipótese de dolo eventual ou a modalidade
culposa. (...)
No máximo, a ré Ayanna teria, na qualidade de Vice-Presidente do Banco Rural, atuado
com negligência ao não fazer cessar as operações ilícitas perpetradas com a SMP&B.
Contudo, o tipo imputado à Ré não prevê a modalidade culposa, e nem se destina à
punição de pessoas ineptas para o conhecimento pleno dos ilícitos praticados de natureza
financeira”

Ou seja, se por um lado não há nada que vincule os acusados aos fatos, por outro
eles jamais poderiam ser responsabilizados pelo crime de gestão fraudulenta, seja
porque não eram gestores, seja ainda porque não há a indicação do indispensável dolo
direto nas condutas atribuíveis.

Além disso tudo, deve ser destacado que os acusados somente foram incluídos na
transação comercial como avalistas por exigência do próprio Banco Schahin. É o que
afirma a pseudo-testemunha Sandro Tordin, presidente do Banco à época e que deixou
de ser denunciado pois “em que pese ele tenha participado objetivamente de parte dos
fatos, não se vislumbraram provas até o presente momento do dolo na sua conduta”
(Evento 23 – PET1):

“QUE BUMLAI possuía a maioria das atividades rurais com os filhos, então o comitê de
crédito pediu aval a um dos filhos de nome MAURÌCIO e sua esposa, tendo sido
concedido” (Evento 1 – ANEXO2 – fls. 2/3).

Ora, Maurício Bumlai e sua esposa Cristiane Bumlai somente foram colocados
na transação por orientação do Banco! Ou seja, o Banco – que tem, de fato, o dever de
zelar pelo sistema financeiro – foi quem “pediu aval a um dos filhos de nome
MAURÍCIO e sua esposa”

É evidente, pois, que os acusados não respondem pelo crime de gestão


fraudulenta. Com efeito, não bastasse a jurisprudência sobre o tema, ainda há de se
considerar o fato de terem meramente seguido orientação do Banco, o que leva, mais
26

uma vez, ao reconhecimento da falta de justa causa e à rejeição da peça inaugural


também em relação ao crime previsto no artigo 4º da Lei nº 7.492/86.

Ressalte-se, ainda, o absurdo dos peticionários responderem por gestão


fraudulenta quando o próprio gestor, ou seja, o presidente do Banco, Sandro Tordin,
que participou de toda a transação, sequer ter sido denunciado. Da mesma forma,
tampouco foram denunciados os gestores do banco que assinaram os contratos de mútuo
questionados. Aliás, é de se perguntar: quem fazia parte do comitê de crédito? Por que
os seus integrantes não foram denunciados?

É um completo disparate os peticionários terem sidos denunciados pelo crime de


gestão fraudulenta quando existem pessoas que fazem parte do rol previsto no artigo 25
da Lei nº 7.492/86 fora da denúncia! Ainda que o princípio da indivisibilidade da ação
não se aplique na espécie, é insustentável acusar de gestão fraudulenta os avalistas dos
mútuos e deixar de fora do processo os gestores diretos que assinaram referidos
contratos pela instituição financeira. É patente, in casu, a perseguição estabelecida pelo
Parquet Federal contra os defendentes e José Carlos Bumlai.

A denúncia precisa ser coerente; não pode denunciar uns e não outros sem uma
justificativa idônea, sob pena de rejeição por inaptidão. E, no caso dos autos, a
incoerência é gritante.

O melhor exemplo dessa incongruência diz respeito à posição do MPF com


relação a Sandro Tordin. Ele foi por muito tempo presidente do Banco, participou
ativamente da celebração do contrato de mútuo, mas deixou de ser denunciado,
conforme o pedido de arquivamento formulado pelo MPF:

“Em relação a SANDRO TORDIN, o MPF esclarece que, em pese ele tenha participado
objetivamente de parte dos fatos, não se vislumbraram provas até o presente momento do
dolo na sua conduta.
Essa posição ministerial é mantida mesmo com o novo depoimento de BUMLAI tomado
em 14/12/2015, em que o pecuarista imputa a TORDIN a organização de todo esquema
criminoso envolvendo o empréstimo irregular denunciado nestes autos. Isso porque trata-
27

se, em princípio, de depoimento de corréu que deverá ser corroborado com investigação
criminal e provas materiais, sendo prematura neste momento a imputação criminosa a
SANDRO TORDIN.
Além disso, deve-se ponderar que TORDIN deixou o Banco SCHAHIN em julho de
2007, sendo que boa parte das condutas imputadas aos demais réus aconteceram
posteriormente a esta data.
Logo, pelas provas carreadas até o momento da propositura da denúncia, não se
constataram evidências probatórias suficientes de dolo nas ações de SANDRO TORDIN,
razão pela qual ele foi arrolado como testemunha.
Assim, o MPF promove o arquivamento da investigação destes fatos em relação a
SANDRO TORDIN por insuficiência de provas de dolo na sua conduta que, em tese,
poderia caracterizar os crimes de gestão fraudulenta e corrupção ativa” (Evento 23 –
PET1 – fls. 1/2).

Ora, mas em que momento o Órgão acusador teria encontrado o dolo na conduta
dos peticionários? Da descrição contida na denúncia, em nenhum momento se verifica
demonstração de existência de dolo em relação aos dois aqui imputados. Ou seja, para
um, o MPF entende que o dolo (ou ausência de) é motivo para arquivamento; para
outros, (filho e nora de José Carlos Bumlai) o MPF entende, em idêntico contexto, por
denunciar.

Salta aos olhos a arbitrariedade na escolha da tese acusatória, com o que este d.
Juízo certamente não compactuará. O absurdo da situação é tamanho que, não custa
lembrar, Sandro Tordin era o presidente da instituição financeira supostamente gerida
fraudulentamente; ele participou, ativamente, da celebração do contrato de mútuo; ele
sabia que os recursos eram destinados ao partido dos trabalhadores. Ainda assim, ele
não agiu com dolo. O que dizer dos acusados, então, que apenas assinaram o contrato
como avalistas por imposição do banco? Qual o dolo deles? Certamente não é o dolo
direto que o processo exige para possuir a mínima justa causa!

Por tudo isso, aguardam seja reconhecida a falta de justa causa para o
processamento dos acusados, rejeitando-se a inicial com fundamento no art. 395, III, do
Código de Processo Penal.
28

6. ESCLARECIMENTOS FINAIS

Há peculiaridades em relação aos acusados que devem consideradas por ocasião


da avaliação dos termos da presente resposta. Cristiane Barbosa Dodero Bumlai
jamais poderia figurar no polo passivo da presente ação. A única ação que pode ser
atribuída a ela é ser esposa de Maurício Bumlai há 19 anos e, nessa qualidade, ter
assinado, como avalista, os contratos de mútuo celebrados por seu sogro com o Banco
Schain.

Cristiane Dodero é dona de casa e mãe zelosa, cuidando de sua família em


Campo Grande. Não participa dos negócios de seu marido e tampouco dos negócios de
seu sogro. Tem vida financeira independente de Maurício e o seu patrimônio tem
origem na herança recebida de seu pai, falecido há mais de 20 anos, e nos investimentos
realizados posteriormente. A sua independência financeira é tanta que se casou no
regime de separação total de bens. Por essa razão, não precisaria ter assinado como
avalista o contrato de mútuo. Entretanto, o Banco Schain, instituição financeira que lhe
era desconhecida até recentemente, não sabia de tal fato e exigiu sua assinatura com a
de Maurício.

Veja-se a dramaticidade da situação. Não havia nenhuma exigência legal para


que Cristiane Bumlai assinasse como avalista o contrato de mútuo celebrado por José
Carlos Bumlai, tendo Maurício Bumlai como avalista. Sua assinatura somente ocorreu
porque os representantes do Banco Schain desconheciam o seu regime de casamento e
imaginaram que ela era casada no regime padrão. Sobre o seu conhecimento acerca dos
fatos a defesa reitera o que Cristiane Bumlai disse quando ouvida pela Polícia Federal:

“QUE foi avalista do contrato de empréstimo entre o banco SCHAHIN e a empresa


AGROCAIEIRAS a pedido de seu sogro JOSÉ CARLOS BUMLAI; QUE desconhece
como foi feito o pagamento desta dívida; QUE desconhece se a transação foi realizada
através de dação em pagamento de cessão de embriões; QUE desconhece a interferência
de DELÚBIO SOARES e JOÃO VACARI NETO no pagamento desta dívida; QUE
MAURÍCIO BUMLAI é presidente da usina SÃO FERNANDO e administra a
agropecuária JB; QUE acredita que a fazenda CRISTO REDENTOR foi dada em uma
quitação de dívida com o BTG PACTUAL; QUE não sabe o valor da dívida junto ao
BTG PACTUAL; QUE acredita que a fazenda em tela foi anunciada por alguns
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corretores; QUE nunca fez empréstimo para JOSÉ CARLOS BUMLAI” (Processo
5053233-96.2015.4.04.7000/PR, Evento 33 – AP–INQPOL 1).

Nesse contexto, é evidente que a ela não pode ser atribuída nenhuma infração
penal, muito menos as gravíssimas acusações que contra ela apresentou o MPF. O fato
de ter assinado diversos documentos na condição de esposa de Maurício Bumlai não
pode ser confundido com o dolo direto exigido nos tipos penais imputados. A acusação
formulada contra ela tem como única finalidade abalar o estado anímico de José Carlos
Bumlai. É ação penal fadada ao insucesso, proposta como instrumento de pressão contra
o sogro da acusada. Esse d. Juízo certamente impedirá essa instrumentalização do
processo penal pelo MPF.

Maurício Bumlai, por sua vez, é empresário e atua principalmente no


agronegócio. É o filho primogênito de José Carlos Bumlai e de sua falecida esposa
Beatriz de Barros Bumlai. Por ocasião da celebração do contrato de mútuo, limitou-se a
assinar como avalista atendendo a pedido de seu genitor. É o que precisamente
esclareceu José Carlos Bumlai por ocasião de seu terceiro interrogatório na Polícia
Federal:

“QUE foi lido ao REINTERROGANDO trecho de seu interrogatório prestado em


14.12.2015: ‘QUE no final de 2005, o INTERROGANDO conversou com seus filhos,
informando-os de todo o processo de obtenção do empréstimo, sendo que todos
concordaram que deveria ser dado um dos imóveis da família em dação em pagamento
do empréstimo contraído’ e, após, foi-lhe perguntado sobre a participação de seus filhos
MAURÍCIO, GUILHERME e da nora CRISTIANE nas operações posteriores à tomada
do empréstimo, mediante a tentativa de oferecer a SCHAHIN um imóvel (fazenda) em
dação em pagamento, bem como a operação ainda mais recente que envolveu a efetiva
quitação do mútuo através da simulação da compra e venda de embriões bovinos,
alertando-o para sua própria afirmação de que seus familiares tinham ciência da
integralidade do processo de tomada de empréstimo e para o fato de que assinaram todos
os documentos relativos à confissão da dívida no ano de 2009, tendo o
REINTERROGANDO esclarecido que seus filhos somente souberam da real
motivação do empréstimo quando foi realizada a novação do mútuo, momento em
que ingressava na operação a empresa AGROCAIEIRAS, constituída para possibilitar a
entrega de uma propriedade imóvel (fazenda) ao GRUPO SCHAHIN; QUE seus filhos,
de maneira objetiva, souberam apenas no segundo semestre de 2005 que o empréstimo
contraído pelo REINTERROGANDO se destinava a pessoas ligadas ao PARTIDO DOS
TRABALHADORES; QUE seus filhos MAURÍCIO e GUILHERME, assim como sua
nora CRISTIANE, após terem ciência dos reais destinatários, assinaram os documentos
relativos a novação da dívida da pessoa física do REINTERROGANDO para a empresa
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AGROCAIEIRAS; QUE seus filhos não tinham conhecimento de que o


REINTERROGANDO negociava com o GRUPO SCHAHIN a quitação de sua
dívida mediante a celebração da compra e venda de embriões bovinos; QUE esclarece
que a confecção de documentos relativos a esta operação era de responsabilidade da
SCHAHIN; QUE, nada obstante, a emissão das notas fiscais frias foi feita pelo
REINTERROGANDO, isto e, a partir de ordens dadas a funcionários; QUE não se
recorda se solicitou a emissão das notas a alguns de seus filhos, MAURÍCIO ou
GUILHERME; QUE após a quitação formal do empréstimo, com a assinatura a entrega
de recibo de quitação, no final do ano de 2009, o REINTERROGANDO teve uma
conversa com seu filho MAURÍCIO, na qual lhe narrou que, na verdade, nunca houve a
entrega de embriões as fazendas do GRUPO SCHAHIN. Na mesma conversa, pediu a
MAURICIO que mantivesse em estoque os embriões que teriam sido supostamente
vendidos. Ademais, deseja consignar que os embriões existiam de fato, apenas não foram
entregues; Que, indagado se MAURÍCIO e GUILHERME tinham conhecimento das
tratativas entre o REINTERROGANDO e JOAO VACCARI NETO, disse que não; Que
pelo que sabe, seus filhos não conhecem pessoalmente JOAO VACCARI NETO”
(Processo 5053233-96.2015.4.04.7000/PR, Evento 85 –INQ1).

A leitura do depoimento prestado é precisa em apontar que Maurício Bumlai


assinou como avalista o contrato de mútuo sem conhecer a destinação dos recursos.
Posteriormente, soube através de seu genitor que os recursos haviam sido destinados ao
Partido dos Trabalhadores. Ainda assim, não teve nenhuma participação nos fatos,
desconhecendo inclusive a forma pela qual se deu a quitação do mútuo.

Evidente, portanto, e conforme toda a prova dos autos, que a atuação de Maurício
Bumlai também se restringiu à assinatura do contrato de mútuo como avalista,
desconhecendo os termos do contrato, a destinação dos valores e a forma pela qual foi
efetivada a quitação do mesmo. Da mesma forma, desconhecia os interesses políticos
envolvidos na referida transação, bem como a eventual influência desses mesmos
interesses nas decisões da Petrobrás.

Por tudo isso, MM. Juiz, fica evidente que o casal Maurício e Cristiane não pode
ser responsabilizado criminalmente por ter meramente seguido as orientações do Banco
Schain, assinando o contrato de mútuo a pedido do mutuário José Carlos Bumlai.

Assim, o que se aguarda, diante de todos os argumentos expostos, é o


reconhecimento da inépcia da inicial e da falta de justa causa para o prosseguimento da
31

ação, determinando-se a rejeição da inicial nos moldes do art. 395, I e III, do Código de
Processo Penal.

Mas, na inimaginável hipótese de que V. Exa. assim não entenda, os peticionários


requerem a intimação e inquirição das testemunhas indicadas no rol anexo.

Pede deferimento.

De São Paulo para Curitiba.


21 de janeiro de 2015.

RICARDO FERNANDES BERENGUER DAMIÁN VILUTIS


OAB/SP 133.727 OAB/SP 155.070

JOSÉ CARLOS ABISSAMRA FILHO ARTHUR MARTINS SOARES


OAB/SP 257.222 OAB/SP 338.364
32

Provas que se requer na fase do art. 396-A do CPP:

1) Intimação e oitiva das seguintes testemunhas, expedindo-se carta precatória


quando a mesma residir em outra comarca:

Testemunhas de Maurício de Barros Bumlai:

a) Kely Fernandes ( Rua Juazeiro do Norte, 703, Campo Grande-MS);


b) Claudia Cristina Dibo de Almeida (Rua Cosmos, 50, Campo Grande-MS);

c) Carlos Roberto Taveira (Rua Pedro Martins 101, Casa 89, Campo Grande-MS);
d) João Lins de Barros (Rua Nossa Senhora das Merces, 420, Campo Grande-MS);
e) Eduardo Gasperin Andrighetti (Rua Rui Barbosa 682, Campo Grande-MS);
f) Marilene Moraes Coimbra (Rua Bahia, 50, apto. 9, Campo Grande-MS);
g) Frederico Azevedo (Rua Noruega, 78, São Paulo-SP)

Testemunhas de Cristiane Barbosa Dodero Bumlai:

a) Izabel Cristina Ilário da Silva (Rua Jaime Cerveira, 1.683, Campo Grande-MS
b) Helina Uechi Gomes (Rua Avelino Paim Filho, 122, Campo Grande-MS)
c) Kely Fernandes (Rua Juazeiro do Norte, 703, Campo Grande-MS);
d) Tânia Regina Zanato (Rua Antonio Maria Coelho, 4.693, Campo Grande-MS);
e) Carlos Alberto Moraes Coimbra (Rua Bahia, 50, ap. 9, Campo Grande-MS);
f) Cynthia Lima Raslan (Av. do Poeta, 8.020, ap. 304, bloco A, Campo Grande-MS);
g) Vicente de Castro Lopes (Rua Dr. Michel Scaff, 765, casa 7, Campo Grande-MS)

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