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Justiça Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

27/03/2024

Número: 1012322-40.2023.4.01.3500
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 2ª Vara Federal Cível da SJGO
Última distribuição : 16/03/2023
Valor da causa: R$ 111.500,00
Assuntos: Seguro
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
Espólio de LUIS AMBROSIO DARQUES SILVA representado MONARA GABRIELA DA SILVA DARQUES
por sua inventariante, Monara Gabriela da Silva Darques. (INVENTARIANTE)
registrado(a) civilmente como LUIS AMBROSIO DARQUES RODRIGO EMANUEL RABELO DOS SANTOS PEREIRA
SILVA (AUTOR) (ADVOGADO)
CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF (REU)
CAIXA SEGURADORA S/A (REU) CELSO GONCALVES BENJAMIN (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo Polo
Assinatura
206242968 04/03/2024 16:54 Sentença Tipo B Sentença Tipo B Interno
8
Documento id 2062429688 - Sentença Tipo B

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária de Goiás
2ª Vara Federal Cível da SJGO

SENTENÇA TIPO "B"


PROCESSO: 1012322-40.2023.4.01.3500
CLASSE: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7)
POLO ATIVO: LUIS AMBROSIO DARQUES SILVA
REPRESENTANTES POLO ATIVO: RODRIGO EMANUEL RABELO DOS SANTOS PEREIRA - DF48444
POLO PASSIVO:CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF e outros
REPRESENTANTES POLO PASSIVO: CELSO GONCALVES BENJAMIN - GO3411

SENTENÇA

Tratam os autos de ação de rito comum ajuizada pelo ESPÓLIO DE LUÍS


AMBRÓSIO DARQUES SILVA em face da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL e da CAIXA
SEGURADORA S/A, objetivando, em sede de tutela provisória, a prolação de provimento
jurisdicional apto a “suspender de imediato a cobrança das parcelas do financiamento
enquanto não resolver esta demanda judicial” (sic).

Ao final, requereu: “5. CONDENAR os Requerentes a declarar a quitação


integral do saldo devedor atualizado do Contrato de Compra e Venda de Terreno, Mútuo
e Alienação Fiduciária em Garantia no SFH - Sistema Financeiro da Habitação com
Utilização dos Recursos da Conta Vinculada do FGTS do(s) Devedor(es), do contrato em
anexo; 6. CONDENAR os Requerentes a restituição das parcelas pagas pelos herdeiros
após o falecimento do segurado, com o valor atualizado a ser corrigido monetariamente”
(sic).

Consta da inicial, em síntese, que: 1) “O Sr. Luis Ambrosio Darques Silva e a


Caixa Economica Federal celebraram o contrato de n° 1.4444.1460539-2 visando o
financiamento habitacional (SFH) de parte do valor referente à compra do imóvel situado
na Rua 09, lote de terra n° 35, Setor Sul, Goiânia/GO, CEP: 74093-020” (sic); 2) “O
contrato foi registrado no Cartório do 4° Ofício do Registro de Imóveis sob o n° 272.817, e
previa o prazo de amortização de 265 meses, com parcelas no valor total de R$ 875,19
(oitocentos e sessenta e cinco reais e dezenove centavos)” (sic); 3) “No contrato, havia
cláusula de seguro obrigatório, que garantia a liquidação do contrato pela cobertura
securitária em razão dos eventos morte, invalidez permanente e danos físicos no imóvel,
conforme cláusula décima nona do contrato de financiamento (Doc. 10)” (sic); 4) “o
mutuário honrou com todas as prestações até novembro de 2021, vez que no dia 04 de

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dezembro de 2021, o mutuário veio a óbito, conforme certidão de óbito em anexo. Logo,
seus herdeiros compareceram à CEF e solicitaram a quitação do imóvel, com base na
cobertura securitária do evento morte” (sic); 5) “Entretanto, a Caixa Seguradora negou a
cobertura ao sinistro, sob a alegação de que uma doença anterior à assinatura do
contrato, levou a óbito o segurado. De tal modo, entenderam que a doença preexistente à
assinatura do contrato ensejará o indeferimento da cobertura, conforme documento em
anexo (Doc. 11)” (sic); 6) “Desse modo, não restou à parte autora opção senão recorrer
ao Poder Judiciário, a fim de ver garantido seu direito à liquidação do contrato e baixa no
gravame, com base na cobertura securitária pelo evento morte do contratante” (sic); 12)
“a Caixa Seguradora recusou-se a registrar o pagamento da indenização referente à
cobertura securitária por morte, alegando que o falecimento do mútuo decorreu de uma
doença preexistente, porém a cláusula alegada não está presente no contrato firmado
entre as partes” (sic); 13) “a CEF jamais exigiu a realização de exames médicos na
contratação ou durante a vigência do contrato. Por esse motivo, uma vez que não foram
realizados exames médicos no segurado, a seguradora deve assumir os riscos da
contratação, exceto em casos onde possam ser comprovados a má-fé do contratante, ou
que não tenham ocorrido no caso em questão” (sic); 14) “visando que a seguradora não
exigiu os exames e não ocorreu má-fé por parte do mutuário, o Autor tem o total o direito
de quitação integral do financiamento imobiliário” (sic); 15) “os autores estão sendo alvo
de cobranças indevidas e, ainda assim, continuam a efetuar o pagamento mensal da
dívida para evitar o constrangimento e a ameaça de processo de execução da dívida, o
que poderia resultar na perda do imóvel que atualmente é oferecido como garantia da
dívida” (sic); 16) “a CEF e a Caixa Seguradora estão se beneficiando de enriquecimento
ilícito ao cobrar por algo que já deixou de existir, além de terem cometido o erro de
solicitar mais do que o valor devido, o que caracteriza a repetição de indébito” (sic); 17)
“Diante da recusa de quitar o imóvel, e consequentemente continua com a cobrança das
parcelas do financiamento para os herdeiros, cabe o direito de restituição dos valores
pagos após a morte do mutuário e a quitação do imóvel” (sic).

Inicial instruída com documentos.

Benefícios da assistência judiciária deferidos.

Citada, a Caixa Econômica Federal impugnou a concessão dos benefícios da


assistência judiciária gratuita e apresentou contestação acompanhada de documentos,
aduzindo, em síntese: 1) ausência dos requisitos para a concessão da tutela provisória; 2)
ilegitimidade passiva ad causam; 3) inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor
ao contrato objeto da presente demanda; 3) “a decisão sobre o deferimento ou não do
pedido de cobertura securitária é exclusivo da seguradora que cobre o contrato, não
possuindo o agente financeiro nenhuma ingerência sobre o pleito” (sic); 4) “não podem
ser imputados à CAIXA os fatos narrados na inicial, caso contrário estaria a parte autora
estaria se enriquecendo indevidamente” (sic); 5) “deve ser julgada improcedente a
presente ação” (sic).

A Caixa Seguradora S/A impugnou o valor da causa e apresentou


contestação acompanhada de documentos, sustentando: 1) ilegitimidade passiva da
seguradora para responder pelo pedido de restituição das prestações pagas após o
sinistro; 2) prescrição; 3) “a seguradora requerida solicitou autorização das autoras para
realização de sindicância médica relativamente à mutuária falecida, o que foi aceito pela

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herdeira inventariante” (sic); 4) “constatou-se que o de cujus apresenta diagnósticos de


infarto agudo do miocárdio (IAM), síndrome coronariana aguda e coronariopatia há 15
(quinze) anos” (sic); 5) “Também se verificou que sofria com hipertensão arterial (HAS) há
20 (vinte) anos e enfrentava problemas com álcool há 30 (trinta) anos, além de possuir
dislipidemia há 20 (vinte) anos” (sic); 6) “Todas essas informações são comprovadas por
meio do ‘Resumo de Histórico” obtido junto ao Hospital Santa Helena e demais
documentos que acompanham a peça contestatória” (sic); 7) “resta incontroverso que a
parte autora firmou contrato de financiamento habitacional em 25/02/2021, conforme
documento carreado sob o ID 1532142357” (sic); 8) “Percorrendo referido contrato, se
observa que a parte autora disponibilizou o anexo I do instrumento, onde declara não ser
portadora de nenhuma doença ou situação incapacitante que prejudicasse a contratação
do seguro de morte e invalidez permanente” (sic); 9) “ao contrário do que tenta fazer crer
a parte autora, as doenças que ensejaram o óbito do mutuário NÃO surgiram após a
assinatura do contrato, mas somente se agravaram” (sic); 10) “Isso porque os
documentos alhures indicam expressamente que o segurado sofria de problemas
cardiovasculares e correlatos há mais de 20 (vinte) anos, ou seja, pelo menos desde o
ano 2000” (sic); 11) “Não sem razão que a certidão de óbito carreada à inicial (ID
1532142354) revela que causa mortis do segurado se deu por infarto agudo do miocárdio
(IAM) devido a coronariopatia, hipertensão arterial (HAS) e etilismo” (sic); 12) “Assim,
patente que o segurado falecido apresentava saúde debilitada desde o ano 2000 ou seja,
há pelo menos 20 (anos) anos de antes da celebração do contrato de mútuo em 2021,
sendo que isso NÃO foi informado na declaração pessoal de saúde quando da
contratação do seguro em apreço” (sic); 13) “Assim, salta nítido ser fato incontroverso que
a doença ensejadora do óbito já era de conhecimento do mutuário e vinha sendo tratada
antes da assinatura do contrato de mútuo” (sic); 14) “Notório que o falecido segurado
conscientemente omitiu a importante informação de que possuía doença anterior à
assinatura do contrato de mútuo” (sic); 15) “Ressalta-se que uma das situações que o
mutuário não faz jus ao direito à cobertura securitária é justamente o caso de doença
preexistente ao contrato de financiamento como fato gerador do sinistro morte não
declarada no momento da aquisição do seguro” (sic); 16) “Há que se esclarecer, ainda,
que as informações e documentos eventualmente repassados para o agente financeiro
para fins de comprovação de renda não são repassados para a seguradora e não
possuem a finalidade de informar a existência de patologias preexistentes,
principalmente, porque não informam, em regra, CID’s ou patologias. Seu objetivo é
apenas demonstrar a renda auferida em razão de um benefício, que pode ser ou não,
temporário” (sic); 17) “Desta feita, resta caracterizada a má fé contratual do
mutuário/segurado pois mesmo tendo ciência inequívoca da sua condição de saúde e da
perda da indenização no caso omissão de informações, nada manifestou no ato da
contratação do financiamento, não havendo se falar em cobertura securitária no caso de
doença preexistente” (sic); 18) “o polo ativo não juntou os comprovantes de pagamento,
digitais ou físicos, das referidas parcelas do financiamento que diz terem sido pagas de
maneira indevida” (sic); 19) “Assim, a parte autora não se desincumbiu do ônus de provar
o fato constitutivo do seu direito, ou seja, que realmente realizou o pagamento de tais
parcelas, posto que não há nos autos quaisquer documentos que confirmem tal assertiva”
(sic); 20) “a interpretação favorável ao consumidor deve ser realizada tão somente
quando há dúvida ou obscuridade nas cláusulas, ou ainda quando existam conflitos entre
as cláusulas, o que não é o caso nos presentes autos” (sic); 21) “IMPUGNA o pedido da
parte autora de inversão do ônus da prova em desfavor dessa companhia seguradora”,
tendo em vista a ausência dos requisitos exigidos para tanto; 22) “Pelo princípio da

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eventualidade, se superadas as teses supramencionadas, e em caso de condenação ao


pagamento dos valores pleiteados a título de cobertura securitária e danos materiais,
requer que a correção monetária incida a partir do ajuizamento da ação (artigo 1º, § 2º, da
Lei n. 6.899/81), pelo índice IPCA-E e que os juros de 1% (um por cento) ao mês incidam
a partir da citação (artigo 405, do Código Civil), nos moldes do Manual de Cálculo da
Justiça Federal (Resolução n. 658/2020 – CJF, DE 10/08/2020).

A parte autora impugnou as contestações, ratificando os termos da inicial.

Mediante decisão de fls. 293/301, restou indeferido o pedido de tutela


provisória, determinando-se a intimação da parte autora para juntar aos autos
documentos que comprovem a impossibilidade de arcar com as despesas processuais.

O polo ativo peticionou na sequência, ressaltando a incapacidade financeira


do espólio para arcar com as despesas do processo e defendendo a inexistência de
prescrição no caso concerto.

Dada vista, às rés, somente a Caixa Seguradora se pronunciou, concordando


com a manutenção dos benefícios da gratuidade da justiça em favor da parte requerente.

Benefícios da assistência judiciária mantidos pelo juízo às fls. 329.

Na fase probatória, a Caixa Seguradora reiterou o pedido de provas


formulado em sede de contestação, enquanto que a CEF e a parte autora manifestaram o
desinteresse na produção de novas provas.

É o relatório. Decido.

Inicialmente, verifico que os elementos constantes dos autos são suficientes


para o deslinde da controvérsia, sendo desnecessária a produção de provas
complementares.

Presentes os pressupostos processuais e as condições da ação, passo ao


exame da prejudicial de mérito da prescrição.

Ao apreciar o pedido formulado em sede de tutela provisória, este juízo assim


decidiu:

“(...) O art. 300 do novo CPC (Lei nº 13.105/2015) prevê a possibilidade de tutela de
urgência de natureza antecipada, estabelecendo como requisitos para tal
antecipação a probabilidade do direito, a ser aferida mediante cognição sumária, de
viabilidade da versão dos fatos e da tese jurídica defendida pelo autor, conjugada
com a presença do perigo de dano irreparável ou risco ao resultado útil do processo,
desde que não haja perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.

Em sede de tutela antecipada, pretende a parte autora provimento jurisdicional que


determine que a suspensão da exigibilidade das prestações do contrato de
financiamento habitacional.

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Numa análise perfunctória, não vislumbro plausibilidade na tese esposada na


petição inicial, considerando que a pretensão parece estar prescrita, conforme
alegado pela CAIXA SEGURADORA S.A em sua contestação, nos seguintes
termos:

‘De acordo com o artigo 206, §1º, II, “b”, do Código Civil, prescreve em 01 (um) ano
a pretensão do SEGURADO contra o segurador, contado a partir da CIÊNCIA do
fato gerador da pretensão. Ipsis verbis, grifo nosso:

Art. 206. Prescreve:

§ 1º Em um ano:

[...]

II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele,


contado o prazo:

[...]

b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;

Em conformidade com a Súmula n. 278 do STJ, a contagem do prazo prescricional


se dá com a ciência inequívoca do segurado quanto ao fato gerador da sua
pretensão, conforme segue:

SÚMULA 278, STJ - O termo inicial do prazo prescricional, na ação de


indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da
incapacidade laboral.

Dito isso, passa-se aos fatos.

Conforme se depreende das alegações da parte autora e dos documentos


acostados aos autos, o segurado veio à óbito em 04/12/2021, conforme ID
1532142354:

(...)

Entretanto, o aviso de sinistro foi realizado somente em 07/01/2022, como se vê


do aviso de sinistro juntado com esta defesa:

(...)

Diante disso, tem-se que entre a data do sinistro (04/12/2021) e a data do aviso do
sinistro (07/01/2022), decorreu o lapso temporal de 01 (um) mês e 03 (três) dias.

De acordo com a Súmula 229 do STJ, o pedido de pagamento de indenização


suspende o prazo prescricional até que o segurado tome ciência da decisão.

Ou seja, da ciência inequívoca do sinistro até o pedido de cobertura securitária corre


normalmente o prazo da prescrição, prazo este que fica suspenso entre a data do
aviso do sinistro e a data de decisão da seguradora, momento em que o prazo

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prescricional volta a correr. In verbis, grifo nosso:

SÚMULA 229, STJ - O pedido do pagamento de indenização à seguradora


suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão.

Significa dizer que a partir do comunicado do sinistro, em 07/01/2022, o prazo


prescricional esteve suspenso até o dia 18/03/2022, data de negativa da cobertura
securitária (ID 1532142358), decorreram 02 (dois) meses e 11 (onze) dias, quando
voltou a fluir normalmente do ponto em que havia parado e cessando com a
propositura da demanda em 16/03/2023.

Assim, considerando o prazo inicial de prescrição até a suspensão pelo aviso de


sinistro (01 mês e 03 dias), bem como o lapso temporal ocorrido entre a data de
negativa da cobertura securitária em 18/03/2022 e o ajuizamento da ação somente
em 16/03/2023, ou seja, 11 (onze) meses, e 24 (vinte e quatro) dias, temos que a
pretensão autoral encontra-se fulminada pela prescrição uma vez que o segurado
deixou para deduzir sua pretensão contra a seguradora quase 01 (um) ano e 27
(vinte e sete) dias após o sinistro.

É importante destacar que o autor AFIRMA na inicial que foi comunicado


administrativamente da negativa de cobertura e junta o respectivo termo de
negativa, sendo tal fato INCONTROVERSO.

Lado outro, importante destacar que o prazo prescricional ânuo para cobertura
securitária no âmbito do seguro habitacional é entendimento consolidado pelo
Superior Tribunal de Justiça’.

Ausente o primeiro requisito, resta prejudicada a análise quanto à presença do


periculum in mora.

Ante o exposto, indefiro o pedido de tutela provisória”.

Compulsando os autos, não se vislumbra a existência de elementos hábeis a


alterar o quadro fático e jurídico delineado à época da análise do pleito de tutela
provisória, de modo que o raciocínio externado naquela oportunidade quanto ao meritum
causae subsiste incólume.

Frise-se que o óbito do mutuário ocorreu em 04/12/2021 (cf. certidão de fls.


32) e que o espólio fez a comunicação do sinistro em 07/01/2022 (cf. doc. de fls. 218),
sendo que houve a negativa de cobertura por parte da seguradora em 18/03/2022 (vide
Termo de Negativa de Cobertura às fls. 52/53) e o ajuizamento da presente ação somente
em 16/03/2023.

Esse o quadro, e levando em consideração o disposto na Súmula 229 do


STJ, observa-se que transcorreu 1 mês e três dias entre a data do óbito (04/12/2021) até
a comunicação do sinistro (07/01/2022), quando o prazo prescricional de um ano foi
suspenso, voltando a correr somente em 18/03/2022.

Nesse contexto, deve-se somar ao tempo decorrido entre a data da negativa


da cobertura securitária (18/03/2022) e o ajuizamento da ação (16/03/2023), o período
transcorrido antes da comunicação do sinistro (1 mês e três dias), o que ultrapassa o

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prazo prescricional de um ano.

A jurisprudência pátria já se manifestou em casos análogos ao presente,


deixando assentado que:

E M E N T A APELAÇÃO. SFH. QUITAÇÃO. SEGURO HABITACIONAL.


AUSÊNCIA DE CERCEAMENTO DE DEFESA. INTELIGÊNCIA DO ART. 370 DO
CPC. DOENÇA PREEXISTENTE. OMISSÃO DELIBERADA NO ATO DA
CONTRATAÇÃO. EXCLUSÃO DO DIREITO À COBERTURA SECURITÁRIA.
APELAÇÃO DA SEGURADORA PROVIDA. 1. Em se tratando de reconhecimento
de prescrição, curvo-me ao entendimento da jurisprudência do STJ, no sentido
de se aplicar o prazo prescricional anual, previsto no artigo 178, § 6º, II, do CC/16
e do art. 206, §1º, II do CC/02, à ação proposta pelo beneficiário contra a
seguradora. 2. Assim, existem dois marcos de contagem do prazo ânuo,
primeiro o segurado tem um ano para fazer o pedido administrativo, contado
da ciência inequívoca do sinistro, momento em que o prazo é suspenso
voltando a correr após a resposta da seguradora, quando se inicia o seu
direito de ação, caso haja a recusa. 3. No caso, verifico que o falecimento da
mutuária se deu em 26/04/2013 (certidão de óbito, ID 266538634 - pág. 164),
devendo-se contar o prazo prescricional de um ano a partir desta data, nos
termos do art. 206, §1º, II do CC/02. 4. A parte autora realizou o pedido
administrativo perante a CEF, mas não consta dos autos quando, sendo que a
Seguradora negou o processo de sinistro em 15/01/2014, conforme termo de
negativa de cobertura. Assim, considerando que a ação foi distribuída em
21/03/2014 (ID 266538634, pág. 52), não resta configurada a prescrição em relação
ao pedido de cobertura securitária. 5. Por oportuno, como bem assinalado na
sentença: "Em 18/04/2016 apenas se deu a protocolo dos autos perante esta Justiça
Federal, por força da redistribuição do feito, desde o Juízo Estadual da Comarca de
Rio Negro.". 6. A ausência de perícia médica indireta não configura cerceamento de
defesa, uma vez que as provas constantes nos autos são suficientes para o
convencimento motivado do magistrado. Aliás, o juiz é o destinatário das provas e
cabe a ele determinar aquelas necessárias ao julgamento do mérito e indeferir as
inúteis ou protelatórias, nos termos do art. 370 do CPC. 7. O objeto da discussão
travada nos autos diz respeito à exclusão da cobertura securitária no caso de morte
de segurado, em razão de doença preexistente à assinatura do contrato, de
conhecimento da mutuária e por ela omitida no ato da contratação. 8. Consta no
contrato de financiamento disposição expressa acerca da inexistência de cobertura
securitária no caso de doença preexistente (parágrafo primeiro da cláusula vigésima
primeira). Na Apólice estão excluídos da cobertura do seguro os seguintes riscos de
natureza corporal: 9.1.2 - A cobertura para os riscos de MIP decorrentes e/ou
relacionadas à doença manifesta em data anterior à assinatura do contrato de
financiamento, de conhecimento do Segurado e não declarada na proposta de
seguro. 9. O relatório elaborado pelo médico assistente Dr. Issamir Farias Saffar,
oncologista e cirurgião, indica que a primeira consulta com o aludido profissional
para tratamento do câncer realizou-se no dia 27.06.2011 e que a mutuária recebeu
quimioterapia e radioterapia, evoluindo a óbito. 10. A cobertura do sinistro resultante
de doença preexistente foi expressamente excluída no instrumento contratual,
celebrado em 25 de maio de 2012, ao qual a mutuária livremente aquiesceu. 11.
Preliminares rejeitadas. Apelação da Seguradora provida. Sentença
reformada.(APELAÇÃO CÍVEL ..SIGLA_CLASSE: ApCiv 0000307-
9 1 . 2 0 1 6 . 4 . 0 3 . 6 0 0 7 . . P R O C E S S O _ A N T I G O :

Assinado eletronicamente por: JESUS CRISOSTOMO DE ALMEIDA - 04/03/2024 16:54:26 Num. 2062429688 - Pág. 7
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Número do documento: 24030112184525000002041230351
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..PROCESSO_ANTIGO_FORMATADO:, Desembargador Federal LUIZ PAULO


COTRIM GUIMARAES, TRF3 - 2ª Turma, DJEN DATA: 06/02/2024
..FONTE_PUBLICACAO1: ..FONTE_PUBLICACAO2: ..FONTE_PUBLICACAO3:.)

Ementa

E M E N T A AGRAVO DE INSTRUMENTO. SISTEMA FINANCEIRO DA


HABITAÇÃO. CONTRATO DE MÚTUO. CEF. LEGITIMIDADE PASSIVA AD
CAUSAM. COBERTURA SECURITÁRIA. RECURSO DESPROVIDO. 1. A Caixa
Econômica Federal é o ente responsável, na qualidade de mutuante, pela cobrança
dos prêmios do seguro habitacional repassando-os à seguradora, além de receber
diretamente o valor da respectiva cobertura na ocorrência de sinistro, daí porque
responde por questões pertinentes ao contrato de seguro. 2. A CEF e companhia
seguradora têm legitimidade passiva, em litisconsórcio facultativo, para ações
judiciais que pedem cobertura securitária por óbito ou invalidez permanente em
contratos de seguro habitacional no âmbito do SFH. Precedente desta C. Turma:
Apelação Cível 5021224-19.2020.4.03.6100, Rel. Des. Fed. JOSE CARLOS
FRANCISCO, julgado em 27/07/2023, DJEN DATA: 02/08/2023. 3. Mantida a
decisão que, ao deferir a tutela provisória de urgência, determinou que a CEF
finalizasse o procedimento administrativo para pagamento de seguro habitacional,
devendo diligenciar junto à Caixa Seguros, se o caso. 4. Agravo de instrumento não
provido. Agravo interno prejudicado.

Decisão

PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª Região 2ª Turma AGRAVO DE


INSTRUMENTO (202) Nº 5024609-34.2023.4.03.0000 RELATOR: Gab. 05 - DES.
FED. COTRIM GUIMARÃES AGRAVANTE: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
Advogado do(a) AGRAVANTE: MARCELO AUGUSTO DOS SANTOS DOTTO -
SP231958-A AGRAVADO: CICERA EMILIA CELA DA CRUZ Advogado do(a)
AGRAVADO: VINICIUS MORAIS PRADO - SP443781-A OUTROS
PARTICIPANTES: PODER JUDICIÁRIOTribunal Regional Federal da 3ª
Região2ª Turma AGRAVO DE INSTRUMENTO (202) Nº 5024609-
34.2023.4.03.0000 RELATOR: Gab. 05 - DES. FED. COTRIM GUIMARÃES
AGRAVANTE: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL Advogado do(a) AGRAVANTE:
MARCELO AUGUSTO DOS SANTOS DOTTO - SP231958-A AGRAVADO: CICERA
EMILIA CELA DA CRUZ Advogado do(a) AGRAVADO: VINICIUS MORAIS PRADO
- SP443781-A OUTROS PARTICIPANTES: R E L A T Ó R I O O Exmo. Sr.
Desembargador Federal COTRIM GUIMARÃES (Relator): (...) - Conforme o art.
206, §1º, II, do Código Civil, em caso de sinistro que cause invalidez
permanente, é de 01 ano o prazo de prescrição para que a indenização seja
reclamada pelo segurado junto à seguradora, contado da ciência do fato
gerador da pretensão (em regra, a data de concessão da aposentadoria por
invalidez, já que é nesse momento que a incapacidade se torna inequívoca
com o reconhecimento estatal). O prazo prescricional fica suspenso desde a
data da comunicação do sinistro, retomando seu curso pelo tempo restante a
partir do dia em que o segurado recebe a resposta da recusa do pagamento da
indenização por parte da seguradora, não havendo a figura da interrupção por
ausência de previsão legal. E.STJ, Súmula 229, Súmula 278, e precedentes
deste E.TRF. - No caso dos autos, a ciência inequívoca da invalidez ocorreu em
04/09/2018, data em que foi concedida a aposentadoria por invalidez. Entretanto, a
parte autora solicitou a cobertura securitária apenas em 27/11/2019, após
transcorrido mais de um ano da data da ciência inequívoca da invalidez, de modo
que se impõe o reconhecimento da prescrição. - Apelação não provida. - grifo

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Número do documento: 24030112184525000002041230351
Documento id 2062429688 - Sentença Tipo B

nosso. (TRF 3ª Região, 2ª Turma, ApCiv - APELAÇÃO CÍVEL - 5021224-


19.2020.4.03.6100, Rel. Desembargador Federal JOSE CARLOS FRANCISCO,
julgado em 27/07/2023, DJEN DATA: 02/08/2023) Diante do exposto, nego
provimento ao agravo de instrumento e julgo prejudicado o agravo interno. É como
voto. E M E N T A AGRAVO DE INSTRUMENTO. SISTEMA FINANCEIRO DA
HABITAÇÃO. CONTRATO DE MÚTUO. CEF. LEGITIMIDADE PASSIVA AD
CAUSAM. COBERTURA SECURITÁRIA. RECURSO DESPROVIDO. 1. A Caixa
Econômica Federal é o ente responsável, na qualidade de mutuante, pela cobrança
dos prêmios do seguro habitacional repassando-os à seguradora, além de receber
diretamente o valor da respectiva cobertura na ocorrência de sinistro, daí porque
responde por questões pertinentes ao contrato de seguro. 2. A CEF e companhia
seguradora têm legitimidade passiva, em litisconsórcio facultativo, para ações
judiciais que pedem cobertura securitária por óbito ou invalidez permanente em
contratos de seguro habitacional no âmbito do SFH. Precedente desta C. Turma:
Apelação Cível 5021224-19.2020.4.03.6100, Rel. Des. Fed. JOSE CARLOS
FRANCISCO, julgado em 27/07/2023, DJEN DATA: 02/08/2023. 3. Mantida a
decisão que, ao deferir a tutela provisória de urgência, determinou que a CEF
finalizasse o procedimento administrativo para pagamento de seguro habitacional,
devendo diligenciar junto à Caixa Seguros, se o caso. 4. Agravo de instrumento não
provido. Agravo interno prejudicado. ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em
que são partes as acima indicadas, a Segunda Turma decidiu, por unanimidade,
negar provimento ao agravo de instrumento e julgar prejudicado o agravo interno,
nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente
julgado. (Tipo Acórdão Número 5024609-34.2023.4.03.0000
..PROCESSO_ANTIGO: PROCESSO_ANTIGO_FORMATADO:
50246093420234030000 Classe AGRAVO DE INSTRUMENTO ..SIGLA_CLASSE:
AI Relator(a) Desembargador Federal LUIZ PAULO COTRIM GUIMARAES Origem
TRF - TERCEIRA REGIÃO Órgão julgador 2ª Turma Data 07/12/2023 Data da
publicação 14/12/2023 Fonte da publicação DJEN DATA: 14/12/2023
..FONTE_PUBLICACAO1: ..FONTE_PUBLICACAO2: ..FONTE_PUBLICACAO3)

Ante o exposto, DECLARO PRESCRITA a pretensão autoral, extinguindo o


feito com resolução do mérito, com fulcro no art. 487, II, do CPC.

Condeno a parte autora ao pagamento de honorários advocatícios fixados em


10% (dez por cento) do valor atribuído à causa em favor das rés, pro rata. Contudo, como
lhe foram concedidos os benefícios da justiça gratuita, o pagamento da verba honorária
ficará sujeito à condição prevista no art. 98, § 3º, do CPC/2015, assegurando-se-lhe, por
outro lado, isenção das custas e despesas processuais (art. 4º, inciso II, in fine, da Lei
9.289/96).

Certificado o trânsito em julgado, arquivem-se.

P. R. I.

Goiânia, vide data da assinatura no rodapé.

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