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CADERNO DE ESTUDOS
Apostila
CONSULTORIA INTERNA DE
RECURSOS HUMANOS
MATERIAL DE APOIO
www.iposeduca.com.br
O Papel do Consultor Interno de Recursos Humanos
Autoria: Diego Marocco Alberton, Lidia Tassini Mancia, Paula Martyl de Borba
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
2. REVISÃO DA LITERATURA
Pode-se afirmar que o início das atividades de Recursos Humanos, no Brasil, deu-se
juntamente com o surgimento das primeiras empresas de maior porte, a partir da década de
1930. De forma geral, o início do processo de industrialização e o investimento do Estado em
infra-estrutura e na criação de estatais acarretaram no incremento substancial de empresas no
Brasil, e com ela a necessidade de atividades de controle e pagadoria de funcionários. A
preocupação da área de Recursos Humanos, nessa época, era a de realizar atividades de
Administração de Pessoal – sendo esse, inclusive, o nome dado à área. O enfoque das ações
era para o pagamento de salários, controle da jornada de trabalho e fiscalização da aplicação
da legislação trabalhista, ainda em fase de implantação e divulgação.
Nesse período, além das atividades de rotinas trabalhistas, os processos de
recrutamento e seleção eram responsabilidades quase que ‘únicas’ do chefe de pessoal, dada à
importância desse processo na época, considerando os aspectos legais envolvidos. A
necessidade de controle exigia do profissional da Administração de Pessoal o conhecimento a
respeito de temas técnicos e legais. Comumente, os profissionais que atuam na área, na época,
eram advogados ou bacharéis em Direito. Pode-se dizer que os Departamentos de Pessoal
funcionavam bem em relação ao que se esperava deles, por parte da organização, face aos
modelos taylorista-fordista em prática nas organizações nacionais e, durante os 30 anos
seguintes, a área de Recursos Humanos manteve esse mesmo modelo de atuação (ARAUJO,
2006).
A expansão do Estado e o incremento industrial são características nacionais até
meados dos anos de 1960. A partir dessa época, o país experimenta um novo regime político,
caracterizado pelo controle militar, que veio acompanhado por um período de grande
crescimento, definido à época como ‘milagre econômico’, que duraria até meados da década
de 1970, com a crise do petróleo. Esse período é marcado por fortes investimentos em infra-
estrutura e pelo desenvolvimento econômico composto por empresas estatais, nacionais e
estrangeiras, que já implantavam fábricas no país desde o fim da segunda guerra mundial. Ao
mesmo tempo, esse período caracteriza o desenvolvimento incremental de algumas práticas
em gestão de pessoas, embora ainda de baixa representatividade, juntamente com uma maior
intervenção do Estado na economia e nas relações de trabalho (WOORD JR. e TONELLI,
2005).
O período final dos anos da década de 1970 é marcado por movimentos sociais, onde o
sindicato assume um papel presente de interlocutor nas relações de trabalho. Nesse período
ocorrem fortes mobilizações grevistas – sendo diversas na região do ABC paulista – que
forçaram a área de Recursos Humanos a direcionar esforços, também, para os acordos e
negociações trabalhistas. As críticas sindicais baseavam-se, fundamentalmente, ao modelo
fordista de organização do trabalho, com sua rígida separação entre elaboração e execução do
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trabalho, severa disciplina e controle, por melhores condições de trabalho e pela elevação dos
salários frente a um cenário de recessão, inflação e aumento da dívida externa (LAPIS, 2006).
Na época, a área de Recursos Humanos ocupou-se de ações visando administrar esses
conflitos, na qual a posição de ‘advogado trabalhista’ era valorizada. Ainda, essa época marca
o início das primeiras pesquisas salariais, como forma de organização patronal frente aos
pedidos sindicais por melhores salários. É nesse período que, também, cresce o interesse de
profissionais em atuar na área de Recursos Humanos, mesmo que a área não apresente
maiores transformações em suas práticas de gestão de pessoas.
A partir da abertura econômica, no início dos anos da década de 1990, diversos
reflexos foram percebidos na economia nacional. Destacaram-se, na época, programas de
reestruturações, além de fusões e aquisições de empresas. Ao mesmo tempo, houve o
incremento substancial de competição internacional, o que acarretou em fechamento de
empresas de capital brasileiro. A ‘reengenharia’ implicou em vastos programas de demissões
e ajustes em relação ao quadro de pessoal das empresas, atividade na qual a área de Recursos
Humanos se ocupou, principalmente, na primeira metade da década (WOORD JR. e
TONELLI, 2005). As mudanças, alicerçadas em um novo modelo de organização do trabalho,
definido agora como de ‘acumulação flexível’, impunha uma série de medidas para gestão das
empresas, que apesar de demissões, pregava práticas de gestão mais adequadas aos tempos de
competição internacional.
Desta forma, por uma demanda maior das organizações em relação à gestão de
pessoas, a prática de Recursos Humanos precisava se transformar. Passado o período difícil
até metade da década de 1990, a área é forçada a apresentar resultados mais consistentes do
que vinha até então, embora nem sempre os tenha conseguido. Nesse momento, o processo de
gestão de pessoas passa a ser percebido como solução para as demandas de excelência
organizacional (ARAUJO, 2006). É neste período em que se observa, então, o incremento de
uma série de novas práticas em Recursos Humanos, como Avaliação 360º., Competências,
Remuneração Variável, Programas de Trainees, Benefícios Flexíveis, uso do E-learning, etc.
Ao mesmo tempo, fortalece o discurso de uma atuação ‘estratégica’ de Recursos Humanos,
que agregue valor ao negócio, focado em resultados e envolvido nas decisões importantes da
empresa.
A pressão interna e externa por uma melhor atuação de Recursos Humanos, a partir
dos anos de 1990, acarreta, além da implantação de novas práticas, na reflexão a respeito do
modelo de atuação dessa área nas empresas. Pode-se afirmar, de forma geral, que, até meados
dessa década, boa parte das empresas nacionais mantinha suas estruturas da área de Recursos
Humanos semelhantes às utilizadas no início do século XX. Basicamente, a organização da
área se dava em um formato funcional, com subdivisões departamentais dentro da própria
área. Comumente, observávamos seções como o Recrutamento e Seleção, Treinamento e
Desenvolvimento, Administração de Pessoal, Remuneração e Benefícios, entre outros.
Geralmente, essas seções atuavam de forma isolada e não consideravam uma perspectiva
integrada de gestão de pessoas.
Com a necessidade de eficácia em Recursos Humanos, face aos novos desafios,
algumas empresas começaram a discutir se o formato atual da área conseguiria atender as
demandas organizacionais. É neste contexto que o modelo funcional passa a ser revisto e,
utilizando-se de exemplos já introduzidos em empresas americanas desde a década anterior,
algumas empresas nacionais de grande porte, gradativamente, alteram o seu modelo de
atuação para o de consultoria interna de recursos humanos. De forma geral, esse modelo deu-
se como uma resposta da área de Recursos Humanos ao novo modelo de organização do
trabalho, que exigia gestores mais preparados e apoiados para realizarem seu trabalho como
líderes, demandando uma atuação mais efetiva de Recursos Humanos. Atualmente, esse
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modelo de atuação de RH não se trata de algo consolidado no cenário organizacional. Ainda
há dúvidas e dilemas impostos por esse modelo, que carecem de maior reflexão e discussão,
tanto no meio acadêmico, como empresarial.
3. MÉTODO
Para realização desse estudo, fez-se um estudo de caso de abordagem qualitativa (YIN,
2005). O total de participantes foi de 32 sujeitos, sendo que a unidade de análise definida foi
os profissionais que atuam como Consultores Internos de Recursos Humanos ou que
trabalham na área de RH em empresas interessadas em implantar tal modelo. Os participantes
foram investigados por meio de observação durante dois cursos de Formação para
Consultores Internos de Recursos Humanos, realizados na cidade de Porto Alegre,
respectivamente, durante os anos de 2007 e 2008. Cada curso teve uma duração de 56 horas
cada, organizados em 7 encontros com duração de 8 horas, durante um intervalo de 15 dias.
As informações levantadas durante as observações foram analisadas com a técnica de análise
de conteúdo (BARDIN, 1979).
Os dois cursos de Formação para Consultores Internos de Recursos Humanos tinham o
mesmo planejamento e estrutura de conteúdo programático, abordando temas como: conceito
de consultoria, papel do consultor, modelos de intervenção e diagnóstico organizacional.
Ainda, utilizou-se, como método de ensino, uma abordagem Andragógica visando um
aprendizado coletivo. Os estudos eram focalizados em abordagens teóricas e simulações de
estudo de caso, propiciando debate entre os participantes. Os pesquisadores do presente artigo
alternaram-se como facilitadores do referido treinamento, estando presentes em tempo
integral. Dessa forma, foi possível realizar observações a respeito do temas propostos para
esse estudo, onde expectativas, anseios, dúvidas, frustrações e dilemas dos participantes em
sua função, ao longo do treinamento, foram registradas e sintetizadas pelos pesquisadores,
servindo de base para realização desse artigo.
O grupo participante da pesquisa caracterizou-se por ser de 84% de mulheres e 16% de
homens. Todos tinham formação superior completa, na qual predominavam as de Psicologia,
Administração e Ciências Contábeis. Em menor proporção, formações em Assistência Social,
Pedagogia e Relações Públicas complementavam o perfil dos sujeitos participantes. A idade
dos mesmos era entre 25 e 45 anos. De forma geral, as funções exercidas pelos sujeitos, nas
empresas em que atuavam, eram de Consultor Interno ou Analista de Recursos Humanos. A
maior parte dos sujeitos atuava em indústrias do ramo de Fertilizantes, Papel e Celulose,
Alimentos, Petrolífero e Aço. Em menor proporção, também participaram sujeitos atuantes
em empresas de Comunicação, Bancos e Entidades de Classe Patronal.
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4. RESULTADOS DA PESQUISA
Para realizar a análise dos resultados observados nos dois grupos de pesquisa,
organizam-se as informações coletadas e identificadas em categorias, conforme a técnica de
análise de conteúdo (BARDIN, 1979). Inicialmente, trata-se a respeito do papel do Consultor
Interno nas empresas, na busca de reflexões quanto à atuação do mesmo perante o seu cliente.
Em seguida, abordam-se aspectos sobre a relação entre o Consultor Interno e o cliente
(gestor). Posteriormente, refere-se ao papel do gestor da área de Recursos Humanos, como
aspecto fundamental para a concretização do modelo de consultoria interna na empresa. Por
fim, discutem-se tópicos sobre os limites da intervenção do Consultor Interno nas empresas
que atuam com esse modelo.
Durante a realização da pesquisa, pôde-se observar que uma das discussões iniciais nos
grupos de trabalho ocorreu sobre a existência ou não de diferenças entre o papel de Analista e
o de Consultor Interno de Recursos Humanos. De forma geral, não havia clareza, mesmo por
parte dos sujeitos que já atuavam como Consultor Interno, do seu real papel dentro das
empresas, e ainda das diferenças que existem para quem atuava como Analista de RH. Em
nosso ver, esse cenário ocorre tanto pelo fato das empresas não terem conhecimento a respeito
do modelo de Consultoria Interna, quanto pelas dificuldades que o Consultor Interno tem para
assumir as suas responsabilidades nesse processo. Este cenário, por conseqüência, contribui
para que o próprio cliente sinta-se confuso em relação ao papel de cada uma das partes,
prejudicando o funcionamento estratégico, tático e operacional do modelo.
Em nosso entender, o Consultor Interno de RH tem uma atuação técnica, exercendo
um papel de influência, em virtude do conhecimento técnico que deve ter sobre Recursos
Humanos. Porém, ele não tem uma posição hierárquica de liderança. A diferença fundamental
em relação à posição de Analista é que o Consultor Interno não é mais responsável por uma
atuação funcional, sob uma lógica processual de Recursos Humanos, mas sim de atuar como
um representante do RH junto aos gestores da empresa. Não é responsabilidade do Consultor
Interno tomar decisões a respeito de situações de seu cliente, mas sim apoiá-lo, prestando
conhecimento técnico e utilizando sua experiência. Isso implica, necessariamente, que o
Consultor Interno tenha capacidade de argumentação perante seu cliente (o gestor).
Nesse sentido, o debate entre os sujeitos pesquisados, a respeito do papel do Consultor
Interno, remeteu ao perfil de quem ocupa essa posição. Em diversos momentos, o
entendimento dos dois grupos era que se tratava de um profissional ‘generalista’ em Recursos
Humanos, com conhecimentos gerais a respeito da área. Porém, com a intervenção dos
facilitadores, ao trazer o conceito de Consultor Interno como um ‘especialista em Recursos
Humanos’, que tenha profundos conhecimentos de todos os processos da área, além de uma
visão sistêmica organizacional, o grupo deparou-se com um conflito. Isso decorreu, em nosso
olhar, em virtude do distanciamento entre o perfil desses profissionais e o perfil necessário
para atuação de um Consultor Interno.
Este distanciamento percebido pelo grupo favoreceu o debate e o entendimento sobre a
importância do desenvolvimento do Consultor Interno, como um requisito fundamental para o
mesmo ocupar essa posição. É necessário que o Consultor tenha uma forte base conceitual
para conseguir exercer a sua capacidade de influência aos clientes. Em nosso entender, essa
base conceitual refere-se, além de conhecimentos em Recursos Humanos, ao negócio da
empresa, de elementos objetivos e subjetivos do ambiente organizacional (cultura, clima,
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estrutura organizacional, relações de poder, comunicação, processos grupais, etc.), da área(s)
do(s) cliente(s), de diagnóstico organizacional e de processos de mudança.
Ainda, os grupos debateram a respeito da postura e atitudes exigidas a esse
profissional. Nos grupos, abordaram-se aspectos sobre a necessidade de empatia por parte do
Consultor Interno para com o cliente; do mesmo ter habilidade de uma escuta especializada,
tanto de aspectos objetivos quanto de subjetivos que possam estar implicados no cenário em
pauta; de manter um comportamento ético, pois irá se deparar com diversas situações de
problemas e conflitos ao redor de sua atuação; e, ainda, de ter uma capacidade de questionar o
cliente, de saber fazer perguntas pertinentes ao contexto no qual está atuando, visando ampliar
o olhar de determinada situação.
Baseado em nossa experiência, acredita-se que quanto melhor for a referência
conceitual e expertise do Consultor Interno, aliado às atitudes descritas no parágrafo anterior,
mais seguro ele se demonstrará perante o cliente. Isso, certamente, irá facilitar a relação entre
ambos e na capacidade de influência do Consultor para com o seu cliente. Em nosso entender,
embora os dois grupos pesquisados tenham discutido e concluído a respeito dessas definições,
percebe-se dificuldades dos profissionais de Recursos Humanos em assumir e atuar nesse
papel. Ainda, observa-se que faltam, nas empresas, ações para consolidação deste modelo e
espaço para o desenvolvimento conceitual e atitudinal dos Consultores.
Um dos aspectos tratados pelo grupo de pesquisa referiu-se aos limites da intervenção
do Consultor Interno. Uma das dificuldades debatidas nos grupos deu-se sobre a necessidade
do mesmo ter um olhar diferenciado sobre as situações nas quais é demandado. Entre as
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dificuldades de intervenção, os sujeitos pesquisados trouxeram a obrigação imposta pelos seus
clientes para que tenham uma ‘visão externa e isenta’, mesmo fazendo parte da organização.
Ainda, ao longo de nossa pesquisa, foi comum observar comentários dos sujeitos de que os
seus clientes esperam uma ‘solução mágica e imediata’ para os problemas da área. Notou-se
que, nas empresas que atuam no modelo de consultoria interna, pode existir uma expectativa
por parte dos clientes de que o Consultor Interno resolva boa parte dos problemas da empresa.
Porém, em nosso ver, o modelo de consultoria interna não pode ser interpretado dessa forma,
visto que o Consultor Interno tem papel de influência e não de tomada de decisão.
O fato do Consultor Interno não ser um tomador de decisões também é uma limitação
da intervenção. Nos grupos pesquisados, esse aspecto foi comentado, principalmente, em
situações onde o Consultor Interno tem clareza do que deveria ser feito, mas não consegue
influenciar o cliente para a tomada de decisão. Esse cenário foi descrito, na visão dos sujeitos,
como um dos aspectos mais frustrantes da sua atividade, lhes causando ansiedade e um
sentimento de que os projetos não se concretizam e/ou que situações erradas não se
modificam. Porém, o modelo de consultoria interna de Recursos Humanos prevê que a
tomada de decisão é responsabilidade do cliente (gestor), cabendo ao Consultor Interno apoiá-
lo. Saber lidar com essa condição e contexto é fundamental para atuar como Consultor Interno
nas empresas.
Nos sujeitos pesquisados, percebeu-se que um cenário de dificuldades para atuação –
como a falta de clareza do modelo, os conflitos com o cliente, a baixa legitimação do seu
papel e o poder de influência, entre outros – pode provocar uma reflexão a respeito da carreira
dos mesmos onde atuam. Durante a realização da pesquisa, alguns sujeitos comentaram o
desejo em trocar de empresa, tendo em vista as dificuldades que observavam na empresa
atual, principalmente, em relação aos clientes. Ainda, outros sujeitos, ao compreender o real
papel do Consultor Interno, mencionaram que não se identificaram com as atividades deste e
optaram por não atuar mais nessa posição, decidindo exercer outras funções dentro da área de
Recursos Humanos, provavelmente em um modelo funcional.
Outro limite de intervenção, debatido nos grupos de nossa pesquisa, referiu-se que, em
alguns momentos, a contratação de um Consultor Externo tenha mais representação e
possibilidade de influência, em relação ao Consultor Interno. Com base nos relatos dos
participantes, percebeu-se que algumas organizações, em determinadas situações, tendem a
valorizar mais as ações de gestão quando essa é realizada por um agente externo, mesmo que
esse careça de um domínio do ambiente no qual realiza a intervenção. Ao Consultor Interno
de Recursos Humanos, cabe considerar e avaliar as situações e contextos que poderão atingir
melhores resultados com a contratação de um Consultor Externo. Além disso, precisa atuar
como um elo entre empresa e Consultor Externo, prestando informações e trazendo a sua
visão a respeito da situação. Em diversas vezes, a contratação de um agente externo, além do
mesmo contribuir com sua experiência, poderá garantir mais legitimidade para diagnósticos,
influências e processos de intervenções organizacionais.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo se propôs a debater sobre a prática da consultoria interna nas áreas de
Recursos Humanos, com base em dois grupos de sujeitos que realizaram cursos de Formação
em Consultoria Interna de Recursos Humanos. O principal objetivo desse estudo foi refletir a
respeito do papel do profissional que atua nesse modelo, contemplando os diversos aspectos
que resultam com a adoção dessa estrutura. Procurou-se apresentar, ainda, aspectos como a
relação do Consultor Interno e o cliente, o papel do gestor da área de Recursos Humanos
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nesse modelo e os limites de intervenção no qual se depara o Consultor Interno em sua
atuação.
Historicamente, a área de Recursos Humanos preocupou-se mais com pessoas e menos
com o negócio da empresa (estratégia), o que certamente dificultou o seu avanço em relação a
outras áreas organizacionais. Porém, entende-se que esses dois aspectos (pessoas e negócios)
não são dissociados, devendo ser contemplados sistemicamente. Nesse contexto, acredita-se
que o Modelo de Consultoria Interna de Recursos Humanos possa permitir que a área atinja
um patamar mais estratégico, em relação ao modelo funcional, por contemplar tanto as
pessoas quanto o negócio empresarial. Em virtude de uma maior proximidade da área de RH
com os tomadores de decisão (gestores), a mesma tem a oportunidade de direcionar suas
ações conforme o alinhamento estratégico da empresa, contemplando os profissionais que
atuam nela. Porém, não é somente o modelo de consultoria interna que vai garantir uma
atuação estratégica de RH, mas sim o posicionamento dos seus profissionais diante desse
modelo.
Em nosso entender, o profissional de Recursos Humanos deve ter um comportamento
pró-ativo e questionador, com capacidade de perceber a organização como um sistema
complexo, repleto de inter-relações. Deve entender que seu papel, atuando como Consultor
Interno, é de exercer influência aos gestores da empresa, apoiando-os na execução de sua
gestão. Não é seu papel tomar decisões frente a situações de gestão, o que é responsabilidade
de cada liderança. Porém, com base em seu conhecimento técnico e experiência em Recursos
Humanos, deve orientar o cliente para uma gestão mais adequada a realidade dos negócios e
que contemple, tanto o negócio empresarial, quanto os profissionais que atuam na
organização. A capacidade de influência do Consultor Interno decorre de sua capacidade em
realizar diagnósticos, baseados em referencial teórico e na sua vivência, no qual o seu
desenvolvimento constante é processo fundamental para o sucesso do modelo.
Em relação ao Modelo de Consultoria Interna, acredita-se que não existe um modelo
único, que seja adequado a todas as realidades organizacionais. Cada empresa precisa, antes
de qualquer implantação, observar aspectos como: a capacitação dos seus profissionais de
Recursos Humanos para atuarem como Consultores Internos, que poderá implicar numa
implantação mais lenta ou ainda em formato híbrido; o nível de maturidade dos gestores para
atuarem neste modelo, já que poderão ser mais exigidos em gestão de equipes; a estrutura da
área de Recursos Humanos, que precisará prestar o suporte operacional necessário para que,
efetivamente, os Consultores Internos consigam desempenhar o seu papel; o processo de
comunicação interna do modelo, para que todos saibam seus papéis e responsabilidades
dentro deste; e, por fim, ter consciência de que os resultados são lentos, pois o modelo requer
um período de amadurecimento, tanto dos Consultores, quanto dos gestores, para atuarem
nesse novo formato.
Assim, com base em nossa pesquisa realizada, acredita-se que o modelo de consultoria
interna de RH ainda tem espaço para avançar, tanto nos estudos acadêmicos, quanto nos
ambientes organizacionais. Trata-se de um campo de conhecimento propício para debates em
Recursos Humanos e gestão organizacional, talvez ainda pouco explorado. Em tempos
constantes de repensar a atuação da área de Recursos Humanos, entende-se que o modelo
pode contribuir para um maior alinhamento entre atuação tática de RH e estratégia
organizacional. De forma geral, observou-se nos dois grupos pesquisados que há uma
aceitação dos profissionais de RH em relação ao modelo, como uma forma de atender as
demandas de gestão de pessoas, de alinhar as ações de Recursos Humanos com as decisões da
empresa e, ainda, por permitir que a área assuma um papel mais presente na estratégia
organizacional.
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REFERÊNCIAS
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Training & Development Journal. v. 43, p. 52-58, Mar.1989.
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WOOD JR, Thomaz. TONELLI, Maria José. Organizações e Recursos Humanos no Brasil:
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YIN, Robert. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2005.
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