Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/317664528
CITATIONS READS
0 1,723
6 authors, including:
Marina Daltoé
Federal University of Technology - Paraná/Brazil (UTFPR)
46 PUBLICATIONS 235 CITATIONS
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
Potencial de três espécies de pescado com potencial de criação no Sudoeste do PR/Brasil View project
All content following this page was uploaded by Caroline Marques on 19 June 2017.
1
Universidade Tecnológica Federal do Paraná/Pato Branco, PPGTP
*E-mail para contato: carooolmarques@gmail.com
RESUMO
O quinto gosto básico conhecido por “Umami” foi reconhecido há pouco tempo por meio de estudos
relacionados ao glutamato monossódico (GMS), e este tem chamado a atenção por realçar o sabor
dos alimentos e conter apenas um terço da quantidade de sódio do sal de cozinha, sendo uma
importante opção para redução do consumo de sódio pela população. O objetivo deste estudo foi
avaliar a percepção holística dos consumidores sobre o GMS utilizando a técnica sensorial moderna
CATA (Check All That Apply). Também foi aplicado o teste comparação pareada para descobrir a
percepção gustativa dos consumidores. De acordo com os resultados da CATA pode-se ter uma ideia
sobre o conhecimento e hábitos em relação ao GMS. Segundo os resultados obtidos na comparação
pareada, 79% dos consumidores tem a percepção gustativa correta.
1. INTRODUÇÃO
Salgado, doce, amargo, ácido e umami são os cinco gostos básicos, percebidos em diferentes
regiões da língua por receptores nervosos especializados. De todos eles, o umami foi descoberto há
menos tempo (1908 e reconhecido cientificamente em 2000), através de estudos com glutamato
monossódico (GMS), considerado um realçador de sabor (BELLISLE, 1999; DANG et al., 2015;
KREMER et al., 2013).
O brasileiro consome em média 10-12g de sal por dia quando deveria consumir no máximo 5g
sendo que 2g são de sódio (PANOUILLÉ et al., 2011; WEISS et al., 2010). O GMS contém um terço da
quantidade de sódio do sal de cozinha, por isso a aplicação em quantidades equivalentes reduz
consideravelmente a quantidade de sódio do alimento. Apesar da polêmica de que o GMS faz mal a
saúde – estando relacionado com a síndrome do restaurante chinês, retenção de água no corpo e
neurotoxicidade – nada foi comprovado cientificamente. Por isso o GMS é uma boa alternativa na
substituição do sódio nos alimentos (BELLISLE, 1999; GARRIDO et al., 2009; PANOUILLÉ et al., 2011;
WILKIE; PHILLIPS, 2014). Neste sentido, o objetivo deste estudo foi avaliar a percepção e hábitos
dos consumidores sobre o GMS por meio da técnica sensorial Check All That Apply (CATA) e a
capacidade em diferenciar o gosto salgado do gosto umami por meio do teste comparação pareada.
2. METODOLOGIA
2.1. Check All That Apply (CATA)
A análise CATA consiste em uma lista de palavras ou frases a partir do qual o julgador
seleciona quais se aplicam ou respondem a perguntas sobre a amostra. Há também a possibilidade
de adicionar características não sensoriais na lista, tais como hábitos de consumo, emoções e
termos opostos que verificam a atenção dos julgadores (VARELA; ARES, 2012). Para avaliar o
conhecimento e hábitos a respeito do consumo de GMS utilizou-se 5 frases com os seus opostos.
O teste sensorial comparação pareada foi aplicado com o objetivo de avaliar a capacidade
dos julgadores em reconhecer o gosto umami. Solução de GMS (1,59 g.L-1) e solução salina (1,29 g.L-
1
) representando o limiar de reconhecimento (HONG et al., 2005) foram entregues em copos
plásticos codificados com 30 mL. Foi pedido que circulassem a amostra com o gosto umami.
Os resultados das frases opostas da CATA foram analisados pelo teste z. A normalidade e
homocedasticidade foram testadas utilizando o software R 3.2.2®. O teste de comparação pareada
foi avaliado pela tabela de Roessler e pela porcentagem de acerto.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para avaliar o conhecimento que existe sobre o GMS, com relação à saúde, função como
aditivo e frequência de consumo, um questionário CATA foi aplicado (Tabela 1). Os resultados
revelaram clareza a respeito do conhecimento dos participantes sobre a relação do sal com a
pressão arterial, já que 100% dos consumidores marcaram a sentença “O uso do sal de cozinha em
excesso altera a pressão arterial”. Segundo Heaney, (2006) é de conhecimento comum, o esforço
mundial para diminuir o consumo de sal e também os riscos associados a esse consumo.
Da mesma maneira, é possível notar a ciência das pessoas sobre a função do GMS como
aditivo nos alimentos, pois 81% dos consumidores marcaram a sentença “GMS realça o sabor dos
alimentos”, o que evidencia clareza a esse conceito. Estudos vem comprovando esse
conhecimento; de acordo com os resultados apresentados por Rodrigues et al., (2014)
concentrações variadas (6:1 e 1:1) de GMS/sal levaram a uma maior aceitação de temperos de sal e
alho (3:1) com redução de 25 e 50% do sal. Da mesma forma, Garrido et al., (2009) concluiu através
de estudos em sopas desidratadas, que a comida é mais bem aceita com o GMS substituindo
parcialmente o sal.
É clara a consciência sobre os efeitos negativos do sal em excesso para a saúde e também a
função flavorizante do GMS nos alimentos. Contudo os resultados revelaram que os participantes
não reconhecem o uso de GMS como uma estratégia saudável de substituição do cloreto de sódio,
isso porque 40% dos 57% que marcaram frases relacionadas com a substituição consideram-na
prejudicial.
Resultados positivos relacionados à substituição de parte do cloreto de sódio por GMS vem
sendo relatados. No trabalho de Garrido et al. (2009) sopas com substituição parcial do sal por GMS
apresentaram melhor aceitação. Corroborado por Quadros et al. (2015) onde hambúrgueres de
peixe foram testados com GMS, dois dos três mais aceitos possuíam a substituição parcial do sal.
Ambos os estudos reduziram o teor de sódio em até 50%, auxiliando na promoção da saúde
juntamente com o realce no sabor.
De acordo com Mojet et al. (2005) idosos precisam de mais GMS no caldo estudado para
achá-lo agradável do que os jovens, o que é explicado pela sua perda de capacidades sensoriais
através dos anos. No mesmo estudo foram encontradas diferenças significativas entre mulheres
jovens e idosas no reconhecimento dos gostos, mas não entre mulheres e homens jovens.
A frase 4 (F4) “Costumo consumir alimentos que contenham GMS” contém um valor alto de
qualidade (0,99), mostrando forte correlação com indivíduos do sexo masculino, e com isso pode-se
dizer que os consumidores do sexo masculino costumam comer alimentos com GMS e tem
consciência disso.
Figura 1 - Diagrama de Análise de Correspondência para as faixas etárias e sexo correlacionando os
que acertaram o teste pareado com as marcações na CATA. As frases estão na Tabela 1.
Também é possível analisar a F6 “Não é saudável substituir parte do sal de cozinha por
GMS” (valor de qualidade de 0,87) o que é preocupante; como já foi discutido, as pessoas não
relacionam GMS com a substituição de sódio.
Mais estudos sobre o assunto ajudarão a disseminar esse conhecimento, removendo a ideia
negativa sobre GMS. As mudanças estão acontecendo nas indústrias de alimentos em todo o
mundo para reduzir a ingestão de sódio da população. Este é apenas mais um desafio para os
profissionais, alimentos mais saborosos e ainda assim cada vez mais saudáveis.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conhecimento dos consumidores sobre GMS depende da faixa etária e a preocupação
com a saúde aumenta com a idade dos consumidores. A relação entre as questões de sal e pressão
arterial é muito clara para os consumidores, mas eles não se relacionam o GMS com a substituição
de sódio. O teste pareado mostrou a falta de conhecimento sobre o gosto umami e ficou evidente a
forte ideia negativa sobre GMS o que não corrobora estudos recentes sobre seus benefícios.
5. REFERÊNCIAS
BARYŁKO-PIKIELNA, N.; KOSTYRA, E. Sensory interaction of umami substances with model food matrices and
its hedonic effect. Food Quality and Preference, v. 18, n. 5, p. 751–758, 2007.
BELLISLE, F. Glutamate and the UMAMI taste: Sensory, metabolic, nutritional and behavioural
considerations. A review of the literature published in the last 10 years. Neuroscience and Biobehavioral
Reviews, v. 23, n. 3, p. 423–438, 1999.
CAMPAGNOL, P. C. B. et al. Application of lysine, taurine, disodium inosinate and disodium guanylate in
fermented cooked sausages with 50% replacement of NaCl by KCl. Meat Science, v. 87, n. 3, p. 239–243,
2011.
DANG, Y. et al. Comparison of umami taste peptides in water-soluble extractions of Jinhua and Parma hams.
LWT - Food Science and Technology, v. 60, n. 2, p. 1179–1186, 2015.
HEANEY, R. P. Role of dietary sodium in osteoporosis. Journal of the American College of Nutrition, v. 25, n.
sup3, p. 271S–276S, 2006.
HONG, J.-H. et al. The relationship between PTC taster status and taste thresholds in young adults. Oral
surgery, oral medicine, oral pathology, oral radiology, and endodontics, v. 99, n. 6, p. 711–5, jun. 2005.
KOPKO, G. Acordo retira mais sete mil toneladas de sódio dos alimentos processados. Disponível em:
<http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/svs/noticias-svs/17681-
acordo-retira-mais-sete-mil-toneladas-de-sodio-dos-alimentos-processados>. Acesso em: 6 jul. 2015.
KREMER, S. et al. Consumer acceptance of salt-reduced “soy sauce” foods over rapidly repeated exposure.
Food Quality and Preference, v. 27, n. 2, p. 179–190, 2013.
MOJET, J.; CHRIST-HAZELHOF, E.; HEIDEMA, J. Taste perception with age: pleasantness and its relationships
with threshold sensitivity and supra-threshold intensity of five taste qualities. Food Quality and Preference,
v. 16, n. 5, p. 413–423, jul. 2005.
NILSON, E. A. F.; JAIME, P. C.; RESENDE, D. DE O. Iniciativas desenvolvidas no Brasil para a redução do teor de
sódio em alimentos processados. Revista Panamericana de Salud Pública, v. 32, n. 4, p. 287–292, out. 2012.
PANOUILLÉ, M. et al. Understanding of the influence of composition, structure and texture on salty
perception in model dairy products. Food Hydrocolloids, v. 25, n. 4, p. 716–723, 2011.
QUADROS, D. A. DE et al. Low-sodium fish burgers: Sensory profile and drivers of liking. LWT - Food Science
and Technology, v. 63, n. 1, p. 236–242, set. 2015.
RODRIGUES, J. F. et al. Elaboration of garlic and salt spice with reduced sodium intake. Anais da Academia
Brasileira de Ciências, v. 86, n. 4, p. 2065–75, dez. 2014.
SINESIO, F. et al. Perceptive maps of dishes varying in glutamate content with professional and naive
subjects. Food Quality and Preference, v. 21, n. 8, p. 1034–1041, dez. 2010.
SINGH, P. B. et al. Cerebral processing of umami: A pilot study on the effects of familiarity. Brain research, v.
1614, p. 67–74, 21 jul. 2015.
VARELA, P.; ARES, G. Sensory profiling, the blurred line between sensory and consumer science. A review of
novel methods for product characterization. Food Research International, v. 48, n. 2, p. 893–908, 2012.
WEISS, J. et al. Advances in ingredient and processing systems for meat and meat products. Meat Science, v.
86, n. 1, p. 196–213, 2010.
WILKIE, L. M.; PHILLIPS, E. D. C. Heterogeneous binary interactions of taste primaries: Perceptual outcomes,
physiology, and future directions. Neuroscience and Biobehavioral Reviews, v. 47, p. 70–86, 2014.