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DIREITO DO TRABALHO – PRÁTICA “DOS FATOS E DO DIREITO

A ação, no processo trabalhista, é conhecida como O reclamante laborava das 08 h00min às 18h00min, de
“reclamação trabalhista”, resquício de uma época em que a segunda a sábado, com intervalo intrajornada de uma hora,
Justiça do Trabalho não integrava o Poder Judiciário. Logo, jamais recebendo as horas extras devidas. Logo, faz jus ao
é comum o autor ser chamado de reclamante, e, de pagamento de horas extraordinárias, à luz do artigo 7º, XIII
reclamado, o réu. e XVI, da Constituição Federal, devidamente acrescidas do
adicional de 50%, além dos reflexos sobre os demais
A petição inicial é a peça inaugural do processo, também títulos. Esclarece o autor que no seu ambiente de trabalho
chamada de “peça exordial”, “peça vestibular”, “peça de os ruídos estavam acima dos limites de tolerância, atraindo
ingresso”, “peça atrial” etc. De acordo com o § 1º do art. 840 o direito ao adicional de insalubridade, à luz do artigo 189
da CLT, a petição inicial, nos dissídios individuais, deverá da CLT, cujo percentual será fixado mediante perícia
conter: técnica – artigo 195, §2º, CLT, com reflexos legais.”
A) ENDEREÇAMENTO DA PEÇA – DESIGNAÇÃO DA D) PEDIDO
AUTORIDADE
O pedido é o objeto da ação. Ele condensa, sintetiza, enfim,
Não há qualquer problema no uso de abreviaturas, como, finaliza a narrativa da causa de pedir. A petição inicial
por exemplo: EXCELENTÍSSIMO = EXMO. SENHOR = SR. encerra um verdadeiro silogismo. Não adianta narrar e
DOUTOR = DR. Vejamos o endereçamento de uma peça argumentar e, ao final, esquecer de PEDIR! Estaríamos
dirigida à autoridade de primeira instância: diante de um silogismo sem conclusão! A finalidade da
Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da... Vara do petição é exatamente o pedido de “reparação à lesão”.
Trabalho de... Fulano realizou horas extras e não recebeu qualquer
Observação Se na localidade existir mais de uma Vara do pagamento (lesão). Deverá pedir, ao final da narrativa e da
Trabalho, a reclamação será submetida à distribuição, argumentação, o pagamento das horas extras (pedido).
razão pela qual o advogado não informa, a priori, o Petição inicial sem causa de pedir é inepta! Petição inicial
“número” da Vara. Caso estivesse reclamando em uma sem pedido é inepta! No pedido o candidato não vai “repetir”
localidade onde existisse apenas uma Vara do Trabalho, o a narrativa e a argumentação da causa petendi, apenas
espaço em branco não seria necessário indicar o título ou a obrigação pretendida.

B) QUALIFICAÇÃO E ENDEREÇO DAS PARTES Narrou, por exemplo, que o reclamante foi agredido pelo
patrão, sendo atingido em sua moral etc. No pedido vai
Qualificação = nome, nacionalidade, estado civil, profissão, apenas requerer “indenização por dano moral a ser
ID, CPF e CTPS. arbitrada por VExa.”. Só isso!

Endereço = Rua, Avenida etc., n º., complemento (ex.: O pedido deve ser certo e determinado, conforme preceitua
apartamento), Bairro, Cidade, Estado e CEP o art. 322 e 324 do CPC/2015. Em se tratando de
procedimento sumaríssimo, o pedido, além de certo e
C) CAUSA DE PEDIR determinado, deve ser líquido, ou seja, espelhar o valor, o
quantum a que se refere. Se o pedido, por exemplo, for de
A causa de pedir, ou causa petendi, nada mais é do que a
“aviso prévio”, tem que ser formulado assim: “aviso prévio
exposição dos fatos e do direito, na qual deve haver a
no valor de R$ 545,00” (valor meramente exemplificativo).
indicação das razões do pedido. A formatação da causa de
pedir vai depender do estilo de cada profissional. No Processo Trabalhista é comum a presença de pedidos
cumulados. Os pedidos cumulados, em regra, não se
Exemplo 1
excluem. O reclamante pede aviso prévio, horas extras,
“DOS FATOS férias, 13º salário e FGTS. Todos os pedidos serão
apreciados pelo juiz. O pedido, contudo, pode ser
O reclamante laborava das 08h00min às 18h00min, de alternativo.
segunda a sábado, com intervalo intrajornada de uma hora,
jamais recebendo as horas extras devidas. Além disso, em O reclamante pode também formular mais de um pedido em
seu local de trabalho o ruído das máquinas estava acima ordem sucessiva, a fim de que o juiz conheça do posterior,
dos limites de tolerância, sendo insalubre o ambiente de em não podendo acolher o anterior – artigo 289 do CPC.
labor.
E) VALOR DA CAUSA
DO DIREITO
Apesar de a CLT não exigir (artigo 840, § 1º), contudo esta
Conforme narrado, o reclamante, à luz do artigo 7º, XIII e deve ser colocada apenas para efeitos meramente fiscais,
XVI, da Constituição Federal, faz jus ao pagamento de ou seja, não vincula o magistrado, salvo no rito
horas extras, devidamente acrescidas do adicional de 50%, sumaríssimo. No rito sumaríssimo os pedidos devem ser
além dos reflexos naturais sobre as demais verbas. Tem líquidos. Logo, o valor da causa não pode ser objeto de
direito também ao adicional de insalubridade, conforme mero arbitramento, pois resultará da exata soma dos
artigo 189 da CLT, cujo percentual será fixado mediante pedidos.
perícia técnica – artigo 195, §2º, CLT, com todos os
reflexos.” F) LOCAL, DATA E ASSINATURA DO RECLAMANTE OU
DE SEU REPRESENTANTE
Exemplo 2
Ao final da petição inicial deve-se colocar o local (cidade
em que se encontra o advogado subscritor) , a data, e a
assinatura do Reclamante.

MODELO DE RECLAMAÇÃO TRABALHISTA


Questão
Ana foi admitida na empresa Delta, no dia 1º de julho de 2006, para exercer as funções de
assistente administrativo, recebendo um salário mensal de R$ 1.200,00. Apesar de todo zelo
profissional que Ana emprega ao desenvolver suas funções, a proprietária da empresa Delta,
senhora Maria, em diversas situações, acusa-a de ser incapaz, chamando-a de burra e
incompetente. Tais acusações são feitas em alta voz e na presença de outros empregados e de
clientes da empresa. Inicialmente, Ana, com receio de perder o emprego, desconsiderou as
ofensas, mas elas se intensificaram. Ana já não suporta a situação, mas n ão quer simplesmente
pedir demissão e ceder às pressões feitas por Maria. Ana gozou férias nos meses de novembro
de 2007 e novembro de 2008. Considerando a situação hipotética, elabore uma reclamação
trabalhista. Proposta de solução:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DO TRABALHO DA ____ VARA DO


TRABALHO DE FORTALEZA

Ana, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., Id..., CPF..., CTPS..., endereço..., vem, mui
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por seu advogado ao final firmado, com
procuração anexa, propor a presente RECLAMAÇÃO TRABALHISTA em desfavor de Delta,
CNPJ..., endereço..., com fundamento nos artigos 839 e segs. da CLT, pelas razões de fato e de
direito que passa a expor:

DA CAUSA DE PEDIR
A reclamante foi admitida na empresa reclamada no dia 1º de julho de 2014, para exercer as
funções de assistente administrativo, recebendo salário mensal de R$ 1.200,00.

Dedicada, sempre trabalhou com zelo profissional, porém, inexplicavelmente, a proprietária da


empresa reclamada, Senhora Maria, em diversas situações, afrontou a moral da autora, taxando-
a de incapaz, usando expressões agressivas, desmoralizantes, tais como “burra” e
“incompetente”. As ofensas, douto julgador, eram proferidas na presença de colegas da
reclamante, assim como de clientes, o que só fazia agravar a situação vexatória.

A reclamante, como parte hipossuficiente da relação de emprego, necessitando, naturalmente,


do trabalho, sempre suportou as ofensas, calada, prisioneira do medo da demissão. Sofreu no
silêncio, sentindo a dor do desprezo e da humilhação. Ocorre que as agressões se intensificaram,
tornando, por fim, insuportável a continuidade da relação empregatícia. Não mais tolerando a
desonra, à reclamante só restou a via judicial, utilizando-se da presente demanda para obter a
declaração da indireta rescisão do seu contrato de trabalho – inteligência da norma do artigo
483, e, da CLT. Reconhecida a rescisão indireta, decorrerá, naturalmente, a condenação da
reclamada no pagamento das pertinentes verbas rescisórias, incluindo o aviso prévio indenizado
– inteligência do artigo 487, § 4º, da CLT.

A reclamante faz jus, ainda, a uma indenização por dano moral, e m face das ofensas proferidas
pela proprietária da empresa reclamada. A proteção à honra consiste no direito de não ser
ofendido ou lesado na sua dignidade ou consideração social. Caso ocorra tal lesão, surge o
direito à indenização p elo dano material ou moral decorrente de sua violação, à luz dos artigos
186 e 927 do Código Civil.

A Constituição Federal, ilustre magistrado, consagra o direito à reparação – art. 5º, X, cuja
pretensão é de competência da Justiça do Trabalho, como preceitua o artigo 114, VI da Lei Maior
e a Súmula 392 do TST.

DO PEDIDO
Pelo exposto, vem requerer a declaração da rescisão indireta do contrato de trabalho, por falta
grave cometida pelo empregador, com a condenação do reclamado nas verbas abaixo
discriminadas, acrescidas de juros e correção monetária:
a) Aviso prévio indenizado;
b) Saldo de salário;
c) Férias proporcionais + 1/3;
d) 13º salário proporcional;
e) Liberação do FGTS + 40% ou indenização;
f) Liberação das guias do seguro-desemprego ou indenização – Súmula 389 do TST;
g) Multa do artigo 467 da CLT;
h) Indenização pelo dano moral, em valor a ser arbitrado por Vossa Excelência;
i) Honorários advocatícios à razão de 20%.

Requer, por fim, a notificação do reclamado, para que o mesmo venha, sob as penas da lei,
responder a presente reclamação trabalhista, e, ao final, sejam julgados procedentes os pedidos,
protestando pro var o alegado por todos os meios em direito admitidos.

Dá-se à causa o valor de R$ 40.000,00.


Pede deferimento.
Município..., data...
Advogado..., OAB...

MODELO DE RECLAMAÇÃO TRABALHISTA


Questão
João, empregado na empresa Delta na função de auxiliar administrativo, foi admitido em
15.03.2014, tendo sido dispensado sem justo motivo em 15.03.2017. A empresa não lhe pagou
as verbas rescisórias, e nem efetuou o registro de sua CTPS durante todo o vínculo laboral.
Destaca-se ainda que João Trabalhava de 8hs às 17hs com uma hora de intervalo para almoço,
percebendo uma remuneração de R$ 1.200,00. Proposta de solução:
EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA ____ª VARA DO TRABALHO DE
FORTALEZA
João, Nacionalidade, estado civil, profissão, número do RG, número do CPF, numero e serie da
CTPS, endereço completo com CEP, por seu patrono que esta subscreve, vem à presença de
Vossa Excelência, propor a presente RECLAMAÇÃO TRABALHISTA pelo em face de Delta,
número do CNPJ, endereço completo com CEP, pelos motivos de fato e de direito a seguir
expostos:
DA CAUSA DE PEDIR
O reclamante iniciou suas atividades laborativas para a reclamada em 15.03.2014, exercendo a
função de auxiliar administrativo, ocasião em que veio a ser dispensado de suas atividades
imotivadamente em 15.03.2017, sem que lhe fosse pago quaisquer valores atinentes às suas
verbas rescisórias, quais sejam, aviso prévio indenizado (art. 7º, inc. XXI, CF/88) e respectivos
reflexos, férias vencidas e proporcionais acrescidas de 1/3 (art. 7º, inc. XVII, CF/88), 13º salário
(art. 7º, inc. VIII, CF/88) e depósitos fundiários e indenização de 40% sobre o FGTS (art. 7º, inc.
III, CF/88), multa do art. 477 (CLT), além da liberação do FGTS e da emissão das guias do seguro
desemprego ou indenização substitutiva. Não obstante, apesar de sempre ter laborado com
pessoalidade, habitualidade, subordinação e onerosidade, cumprindo, assim, todas as
exigências do art. 3° da CLT, jamais obteve o registro em sua CTPS em violação ao que informa
o art. 9º do Diploma Legal Consolidado. Portanto, laborou 3(três anos) não tendo seu vínculo
reconhecido.

Por conseguinte, no referido hiato, o reclamante não percebeu nenhuma das parcelas salariais
devidas, quais sejam, férias acrescidas do terço constitucional, 13º salário, FGTS e multa de
40%, devendo inclusive referido período ser contabilizado como tempo de contribuição, para fins
de aposentadoria.

No que concerne ao tema, importante transcrever ainda os dispositivos celetistas abaixo


colacionados que determinam a obrigatoriedade da respectiva assinatura na carteira de trabalho
do obreiro, conforme adiante se infere:

Art. 13 - A Carteira de Trabalho e Previdência Social é obrigatória para o exercício


de qualquer emprego, inclusive de natureza rural, ainda que em caráter
temporário, e para o exercício por conta própria de atividade profissional
remunerada. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 926, de 10.10.1969)
[...]
Art. 29 - A Carteira de Trabalho e Previdência Social será obrigatoriamente
apresentada, contra recibo, pelo trabalhador ao empregador que o admitir, o qual
terá o prazo de quarenta e oito horas para nela anotar, especificamente, a data
de admissão, a remuneração e as condições especiais, se houver, sendo
facultada a adoção de sistema manual, mecânico ou eletrônico, conforme instruções
a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho. (Redação dada pela Lei nº 7.855,
de 24.10.1989)
Ademais, o art. 4º do diploma celetista enuncia que se considera como de serviço efetivo o
período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando
ordens, salvo disposição especial expressamente consignada, devendo tal período ser
considerado para todos os fins, incidindo inclusive sobre os referidos reflexos previstos em lei.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, espera, o autor, que esse douto Juízo se digne a JULGAR TOTALMENTE
PROCEDENTE a presente ação, condenando a empresa reclamada nos seguintes termos:

a) Requer a CITAÇÃO da reclamada no endereço supra, para comparecer à audiência de


conciliação, instrução e julgamento, e, querendo, contestarem a presente reclamatória, bem
como, acompanhá-la em todos os seus atos, termos e incidentes, sob as cominações legais,
inclusive revelia e pena de confissão quanto à matéria de fato.

b) Declara na oportunidade, e sob as penas da lei, que sua situação econômica não lhe permite
demandar sem prejuízo do sustento de família, razões essas que pede os benefícios da JUSTIÇA
GRATUITA, de acordo com o art. 98 do CPC/2015;

c) Requer a condenação da empresa no RECONHECIMENTO DE VÍNCULO referente ao


período de 15.03.2014 a 15.03.2017, condenando a empresa no pagamento de todos os reflexos
salariais a incidirem sobre férias acrescida de um terço, 13º salário, FGTS e multa dos 40%,
DSR, ETCS.

d) Requer a condenação da promovida no pagamento das verbas rescisórias, quais sejam, aviso
prévio indenizado (art. 7º, inc. XXI, CF/88) e respectivos reflexos, férias vencidas e proporcionais
acrescidas de 1/3 (art. 7º, inc. XVII, CF/88), 13º salário (art. 7º, inc. VIII, CF/88) e depósitos
fundiários e indenização de 40% sobre o FGTS (art. 7º, inc. III, CF/88), multa do art. 477 (CLT),
além da liberação do FGTS e da emissão das guias do seguro desemprego ou indenização
substitutiva.

Requer ainda que o empregador realize por ocasião da audiência inicial o pagamento de todas
as parcelas incontroversas, sob pena de aplicação do art. 467 da CLT.

Provará o alegado por todos os meios de prova em direito permitidos, especialmente depoimento
pessoal do representante da reclamada, sob pena de confissão, ouvida de testemunhas, perícia,
juntada posterior de documentos, tudo desde já requerido.

Dá-se à causa o valor de R$ 40.000,00.

Nestes termos,

Espera deferimento.

Fortaleza, 12 de maio de 2015

Advogado

OAB nº

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