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Título reduzido

Os efeitos de uma educação precária


em Matemática no ensino de Física
Hebert Souza Rêgo de Oliveira

Resumo. O posterior texto busca por em questão, um tema que tem uma importância
tremenda ao considerarmos o Ensino de Ciências e este é de que forma o ensino de
Matemática, e em particular o ensino precário pode impactar o ensino e aprendizagem
em Ciências e mais especificamente física. A partir de observações feitas em sala, de
aulas de Matemática Básica e Física, buscou-se trazer uma resposta clara a essa
pergunta do ponto de vista teórico da aprendizagem significativa, de David Ausubel. Os
resultados observados nos permitem perceber esse é um problema profundo
enfrentado por professores de todo o país.
Palavras-chave: Ensino de Ciências, precário, Matemática.

Introdução
Durante os anos que passei no Ensino Médio, pude perceber que vários de meus colegas
sentiam bastante dificuldade na disciplina de Física. Esse fato jamais me causou algum
estranhamento, pois a dificuldade em Física por parte dos discentes, infelizmente, é algo
corriqueiro. Algo que sempre me intrigou, porém, era o fato de boa parte de meus
colegas terem pela disciplina certa afeição, geralmente atribuindo sua grande
dificuldade e algumas vezes desinteresse nas aulas de Física à forte presença da
matemática nas aulas, fazendo com que fossem obrigados a resolverem equações que
para eles não faziam sentido nenhum para eles.
Esse fato se torna claro quanto estamos em uma aula de Física, até então bastante
produtiva e quando o professor se propõe a resolver alguns exercícios, são comuns
perguntas como a que escutei em uma turma de 2º Ano: “Pra quê que a gente usa isso
no caso?” Ao pensarmos nas diversas potencialidades do uso da Física na vida de todos
é impactante ouvirmos uma pergunta com essa, e mais impactante ainda vermos
professores simplesmente respondendo: “Ah, por que vai cair na prova.” sem de fato
dar sentido aquilo que está sendo ensinado.
Esse fato desde quando presenciei o Ensino Médio como discente muito me intrigava, e
quando tive a oportunidade de voltar a uma sala de aula, não mais como aluno, mas
como um professor em formação, pude perceber que muito pouco havia mudado.
Durante meu período como estagiário tive a oportunidade de observar aulas tanto de
Física quanto de Matemática Básica. Durante as aulas de Física, essa percepção se
reforçou, pois enquanto alguma teoria era discutida pelo professor o interesse de boa
parte da turma pela aula era nítida, até o momento que se tornava necessária a
introdução de alguma equação à discussão que estava sendo feita.
Durante as aulas de Matemática Básica pude perceber que essa mudança de postura
por parte de alguns alunos não era simplesmente desinteresse por Matemática, mas sim
uma extrema de dificuldade em compreender o que estava sendo discutido dada a nova
dinâmica de aula.
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Durante essas mesmas aulas, não era algo excepcional alguns alunos cometerem erros
considerados absurdos em calculações consideradas triviais para alunos de Ensino
Médio. Com esse panorama em vista, me surgiu a seguinte indagação: Quais os efeitos
de uma educação precária em matemática no Ensino de Ciência Naturais?

Revisão da literatura
A Ciência está intrinsecamente conectada à Matemática, e muitas vezes é simplesmente
impossível dissociá-las. A natureza do conhecimento científico cria entre essas áreas
uma relação de codependência que torna desafiador o ensino de Ciências em geral e
principalmente o ensino em Física.
Podemos observar na literatura, grandes trabalhos e propostas distintas para contornar
tal problemática.
Em especial podemos citar o trabalho de Carmo e Carvalho, mostrando como é possível
abordar as dificuldades em Matemática dos alunos a partir de atividades experimentais,
procurando assim significar tudo aquilo que é visto em aulas teóricas e pode não ser
discutido mais a fundo, deixando o estudante sem motivação alguma para buscar vencer
suas dificuldades.
Também podemos citar o trabalho de Anjos, Caballero e Moreira, analisando a natureza
de materiais didáticos de Física e como a relação de dependência que existe muitas
vezes entre o professor e o material didático oferecido pode ser de fundamental
importância na perpetuação de tal problema, visto que muitas vezes o livro didático não
traz um tratamento adequado à relação existente entre matemática e física para que
essa dificuldade seja sanada.
Pode-se também tomar como uma possível abordagem menos mecanicista ao ensino
de Física no Brasil. Como dito anteriormente, muitas vezes àquelas diversas equações
que são apresentadas em sala de aula não é dado sentido algum, tornando todo aquele
apenas uma aplicação de “fórmulas”, fazendo com que muitas vezes a aula de Física
nada mais seja que uma aula de Matemática, reduzindo quase que por completo o
caráter do conhecimento físico.

Referencial teórico
Como ponto de partida para a posterior análise das informações coletadas ao longo do
período compreendido, foi tomada a Teoria da Aprendizagem Significativa de David
Ausubel.
Entre todas as teorias de aprendizagem, a Teoria Ausubeliana talvez seja a de maior
caráter operacional. Isso porque dela é possível extrair métodos, procedimentos a
serem seguidos para que a aprendizagem do aluno seja significativa e não mecânica, a
começar pelo mote de toda sua teoria:
... o fator isolado mais importante que
influencia a aprendizagem é aquilo que o
aprendiz já sabe. Descubra o que ele já sabe
e baseie nisso os seus ensinamentos.
(AUSUBEL, 1980)
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Esse caráter explica o porquê de tal teoria ser tão bem aceita dentro do ensino de
ciências, e em especial de física.
Ocorre aprendizagem significativa, segundo Moreira, quando novos conhecimentos se
relacionam de maneira não-literal e não-arbitrária com conhecimentos já adquiridos
pelo aprendiz, que sejam relevantes dados esses novos conhecimentos. A esses saberes
prévios foram dados o nome de subsunçores, que podem facilmente ser compreendidos
como ideias ou conceitos já disponíveis na estrutura cognitiva do aprendiz, sobre os
quais novos conhecimentos serão ancorados. Para Ausubel, os subsunçores estarem
mais ou menos organizados na estrutura cognitiva pouco influência na elaboração do
novo conhecimento, visto que esse processo é retroativo e enquanto servir de âncora
para outro, esse mesmo também será diferenciado, adquirindo assim novos
significados, enriquecendo assim a estrutura cognitiva do aprendente.
Dessa forma, é possível definir uma aprendizagem mecânica como aquela em que o
novo conhecimento a ser adquirido não se apoia a nenhum anterior, de forma que a
armazenagem dessa nova informação tenha um cunho automatista e literal.
A teoria de Ausubel é bastante aceita e utilizada dentro do ensino de ciências e
particularmente dentro do ensino de Física. O motivo, dado o exposto acima não é difícil
de compreender. O conhecimento físico, como poucos, possui uma construção e
estruturação totalmente hierarquizada. Com isso é bastante natural que durante o
processo de montagem do conhecimento físico, novos conceitos se ancorem em
conceitos precedentes e mais gerais. Aqui, podemos observar o caráter operacional da
Teoria Ausubeliana; tomando-a como ponto de partida para o ensino da Física, ela nos
fornece uma espécie de sequência que pode ser seguida para promover uma
aprendizagem significativa entre os alunos.

Métodos
Durante o período que pude estar em sala de aula, foi possível observar que mesmo em
um dado nível escolar, as particularidades e em especial, as dificuldades enfrentadas
por cada turma tornam a dinâmica de ensino e aprendizagem tatalmente imprevisível.
Nas relações de aprendizagem, apesar que enquanto fui um aluno de Ensino Médio,
pude observar situações das mais diversas, dediquei muito pouco tempo a refletir sobre
elas.
Portanto, posso afirmar que não voltei à sala de aula alheio ao que acontecia, todavia
pude voltar meu olhar a aspectos diferentes de questões já conhecidas. Pude observar
que a matemática se torna um empecilho na aprendizagem de Física muitas vezes, não
pelo fato de o aluno não se interessar pela matemática, mas muitas das vezes por sentir
extrema dificuldade em compreendê-la e ver sentido em aprendê-la.

Análise
Concordando com o que foi proposto ao longo do texto, a análise foi feita tendo em
mente os possíveis efeitos de uma educação precária em Matemática na aprendizagem
dos alunos em Física.
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Como abordado anteriormente é possível perceber que o professor que tive como
supervisor também via nessa questão, uma questão a ser atacada, tendo em vista sua
oferta de uma disciplina de Matemática Básica.
Foi possível perceber durante minhas observações a nítida distinção entre os alunos que
frequentavam as aulas de ambas as disciplinas e aqueles que somente frequentavam as
aulas de Física. Durante a maior parte das aulas que tive a possibilidade de assistir era
cristalino que aqueles que tinham sua base matemática comprometida se perdiam
muito facilmente durante a aula conforme o formalismo matemático se tornasse mais
presente nas discussões.
Também durante minhas observações, pude notar com clareza durante as aulas que
assisti a presença de Ausubel. Não foram raras as ocasiões em que o professor dizia a
seguintes frases: “Aqui nós vamos usar o conhecimento prévio que você adquiriu ao
longo do tempo.” ou ainda “Você aprende uma vez e aprende tudo.” tanto em aulas de
Física quanto de Matemática.
A partir disso é possível perceber que com um alicerce matemático precário,
aprendizagem em Física torna-se extremamente dificultosa.
Durante as aulas que pude observar, não era raro o professor citar os acontecimentos
de outras de uma aula de matemática em uma aula de Física e vice-versa, buscando uma
contextualização dos fatos, visto que uma disciplina é tão vital à outra.

Discussão
Dado o exposto até então, é possível notar que de fato, uma precarização no ensino e
aprendizagem de Matemática gera consequências gritantes não somente ao
analisarmos o desempenho do estudante somente na disciplina em questão, mas
também em Física e muito possivelmente no seu desempenho em todas as disciplinas
referentes às ciências naturais.
Este é um resultado que não chega a ser nenhuma novidade, visto que segundo
Locatelli:
Mas como, no ensino das ciências, uma
linguagem matemática precária e a
dificuldade em quantificar os conceitos
físicos e relacionar variáveis são, muitas
vezes, fatores considerados responsáveis
pelo fracasso escolar...
É importante, no entanto, levar em consideração que que análise feita aqui toma em
consideração uma situação bastante específica de observação, tendo em vista que
muitas vezes não é possível a observação de um grupo de alunos, tanto em Matemática
quanto em Física e a partir disso poder analisar como a relação desse grupo em se
transforma, dada sua relação com a outra.

Conclusão
Rebuscando finalmente a indagação feita ao início do texto em questão: Quais os efeitos
de uma educação precária em matemática no Ensino de Ciência Naturais? Podemos
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concluir que dadas as considerações feitas ao longo do texto, a única resposta cabível
para essa pergunta é que os efeitos são profundos e de difícil ataque dado o cenário
educacional do país e social do país.

Referências
LOCATELLI, Rogério José. Uma análise do raciocínio utilizado pelos alunos ao
resolverem os problemas propostos nas atividades de conhecimento físico. Revista
Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências Vol. 7 No 3, 2007;
Anjos, Antônio José Sena; SAHELICES, Concesa Caballero; MOREIRA, Marco Antônio. As
equações matemáticas no ensino de Física: Uma análise de conteúdos em livros
didáticos de Física. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias Vol. 14, Nº 3, 312-
325 (2015);
MOREIRA, Marco Antônio. Subsídios Teóricos para o Professor Pesquisador em Ensino
de Ciências;
CONCHETI, Andreza Fernanda. A pluralidade da relação entre a física e a matemática
em um curso inicial de licenciatura em Física. São Paulo, 2015.

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