Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Educação
BIBLIOTECA
José Cerchi Fusari BASICA
Marcos Antonio Lorieri da HISTORIA
Marcos Cezar de Freitas
Marti Andréé
da EDUCACAO
Pedro Goergen
BRASILEIRA
Terezinha Azerêdo Rios
Valdemar Sguissardi
Vitor Henrique Paro
brasileira; v. 3)
Bibliografia.
ISBN 978-85-249-1484-3
1.
Educação - Brasil- História
Brasil 1926-1996 2. Educaço
1.
Titulo. l. Série. Biccas, Maurilane de Souza. H.
09-03993
CDD-370.981
Indices para
1. Brasil: catálogo sistemático:
Educação :
História 370.981
Alfabetização e ditadura militar:
o Mobral em açãoo
No periodo da ditadura militar que se iniciou em março de 1964,
no Brasil, os movimentos de educação e culturas populares foram des
24T
Freitas e Biccas
História social da educação no Brasil (1926-1996)
para ascensão nesse novo cenario. Ou seja, mais uma vez se apresen- Em 15 de dezembro de 1967, por meio da Lei n.
tava para a população a necessidade de que a 5.379, foi criado
escolarização "cumpris o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), que pretendia ser a
se a missão" de realizar o crescimento eo desenvolvimento
econômico resposta do Estado frente aos elevados índices de analfabetismo da
do país.
população brasileira. O censo de 1970 indicava a presença de 17.936.887
No anseio de substituir rapidamente as ações educacionais junto pessoas analfabetas acima de quinze anos de idade, no Brasil, o que
aos jovens e adultos, o governo militar incentivou a criação da Cruzada
correspondia a 33% da população adulta.
da Ação Básica Cristá (Cruzada ABC),
programa concebido no Recife a Como o problema do analfabetismo tinha dimensões abissais, no
partir de uma visão de integração nacional e contou com recursos inicio da década de 1970, o Mobral passou por uma grande reestrutura-
internacionais.
cão com o objetivo, na palavra de seus mentores, de atacar o
proble
O objetivo do programa educacional comunitário empreendido ma do analfabetismo de forma prioritária. A dinmica organizacional
pela Cruzada era "capacitar
homem analfabeto marginalizado a ser
o
admitiu uma forte descentralização, estruturando-se, o Movimento,
participante na sua sociedade contemporânea, como contribuinte do em três niveis administrativos: Mobral Central; Coordenaçães Estadu-
desenvolvimento socioeconômico e recebedor de seus bens" (ScocuGLIA, ais e Territoriais e Comissões Municipais. Após essa
reestruturação, as
2003, p. 81). ações empreendidas passaram a repercutir em grande escala, cobrindo
A Cruzada
pretendia ainda formar aquilo que os ditadores dissemi- todo o país.
navam como se fosse uma consciência "democrática cristä", O analfabetismo no Brasil classificado
que, no pelo presidente como "ver-
entender daqueles que se beneficiavam com a ditadura deveria contra- gonha nacional" deveria ser erradicado em um prazo de dez anos e o
por-se à "exploração política dos grupos extremistas" e apoiar o golpe Mobral constituiu-se em um instrumento próprio da ditadura, imposto,
militar naconcretização de seus objetivos. implementado e estruturado em todo o país sem consulta à sociedade
Na prática, essa campanha de massa acabou por destruir completa- em sua
proposição e estratégias de planejamento.
mente os programas oficiais que ainda existiam, combatendo fortemen No repertório das falas que, no final da década de 1970, referia-se
te as iniciativas que ainda se inspiravam no método de Paulo Freire. ao Mobral, era frequente encontrar alusões ao
projeto de "levar a
A Cruzada sofreu inúmeras críticas e oposições. A Igreja Católica clientela a participar ativamente da vida comunitária, tornando-se
fez oposição porque perdeu espaço para os protestantes com o recuo agente e beneficiária do processo de desenvolvimento". Essa era, aliás,
das ações educacionais do MEB. Paralelamente, muitos outros criticos a justificativa para a
elaboração de uma metodologia própria visando
rejeitavam as ações assistencialistas e filantrópicas da Cruzada que a propiciar ao indivíduo a tomada consciencia sobre sua
condição e
chegava a distribuir alimentos para os professores e alunos que fre- sobre suas possibilidades.
quentavam regularmente os cursos visando, com isso, atrair novos Nesse sentido,Mobral investiu em quatro programas: Alfabetização
o
alfabetizandos. Funcional; Educação Integrada; Mobral Cultural e o de Profissionalização.
A Cruzada funcionou de 1964 a
1969, projetando-se como "braço O Programa Alfabetização Funcional visava fazer com que os alfa-
pedagógico" do governo militar. Contudo, não teve êxito em consoli- betizandos aprendessem as técnicas básicas de leitura, escrita e
dar-se como um movimento de de massa, de
cálcu
alfabetização abrangên- lo de forma a responder às demandas apresentadas pelo meio social
cia nacional.
em que viviam. As habilidades almejadas eram as de aprender a ler,
*****"**********
248 249
Freitas e Biccas
História social da educação no Brasil (1926-1996)
***********
250 251
Freitas e Biccas
História social da
educação no Brasil (1926-1996)
Haddad e Di Pierro (2006) consideram
que essas características
básicas do Mobral confirmaram seus Os meios de
objetivos fundadores e comunicação massa como o rådio, a
de
-se adequadas ao caráter
doutrinário e disciplinador de uma revelaram- revistas, somados a outros televisão, as
suportes de informação como cartazes
de massa. campanha outdoor, foram utilizados intensamente e
******************
252
253
Freitas e Biccas
História social da educação no Brasil (1926-1996)
C.S
a Abril
cLuBE EMPATE recursos financeiros para o Mobral. e pedagógico foi produzido por três grandes empresas privadas:
X Gráfica Editora Primor S.A.
1Palzelras [SP} Em Cultural S.A., a Bloch Editores S.A. e a
Sad Palo sr)_. 1973,
Mobral pôde contar com o
o
No quadro 3, podemos verificar os objetivos e os títulos produzidos:
orçamento de CR$ 202.000.000ou US
Oreates fSsC d
254 255
Freitas e Biccas Historia social da educação no Brasil (1926-1996)
grandes empresas para garantir participação num novo e grande filão A exuberância dos números nos causa perplexidade e estranheza.
de ganhos financeiros. Pode indicar, por outro lado, como o governo Como exemplo do que se pode estranhar, podemos cotejar os dados de
militar agiu para levar a efeito seus interesses mais amplos. Não se 1972, apresentados na tabela 2, em relação aos dados apresentados no
pode ignorar que, como consequência, o governo trazia para perto de quadro 4.
si uma boa parte da grande imprensa brasileira. Para os 7.354.000 alunos inscritos no curso de alfabetização foram
Vejamos, no próximo quadro, as tiragens no mínimo astronômicas publicados e distribuidos 4.844.000 livros de leitura, 12.171.000 ívros
das coleções produzidas em 1970, 1971 e 1972. de leitura complementar e 48.000.000 diários do Mobral. Como expli
car a tiragem do livro de leitura, muito aquém do número de inscritos?
Quadro 4. Materiais didáticos produzidos por editoras privadas para o Mobral (1970-1972) E, de outra parte, como entender a tiragem do livro de leitura comple
Publicações mentar, muito superior à demanda da inscrição?
1970 1971 1972 Os materiais didáticos deveriam ser utilizados em todo o território
Alfabetização
nacional. Nesse sentido, apoiavam-se em uma interpretação global da
Manual para o Alfabetizador 75.040 118.000 200..100
sociedade brasileira, buscando apresentar a heterogeneidade da reali-
Livro de Leitura 1.526.000 2.310.000 4.844.000
dade do país por meio de fotografias das cidades, do meio rural, da
Livro de Matemática 1.526.000 2.310.000 4.844.000
Cartazes Didáticos 1.200..800 1.760.000 3.793.000 celente qualidade de papel e gráfica, mas a direção dada à reflexão
"Diario do Mobral" 32.000.000 48.000.000 dos temas abordados nas coleções era condicionada por uma viso
Educação Integrada embebida do mais tosco nacionalismo, descrevendo um país extrema-
1.400.000
Textos mente diversificado submetido a um único projeto, o de obtero de-
Livros de Consulta 1.400.000
Livro de Matemática 900.000 senvolvimernto. Todos os materiais didáticos eram distribuidos gratui-
tamente.
Manual do Professor 61..580
gens e do número de exemplares de cada um dos livros que compõem guisticas, compondo novas palavras e frases. As editoras produziram
as coleções criadas. manuais para o alfabetizador no sentido de ajudá-lo a organizar o
*******************
******
256 257
Freitas e Biccas
zer a integração das diferentes áreas suscitadas pelos textos gerado orientação de trabalhos em grupo e para coordenação de projetos;
Você é Importante, que se
res. Atiragem e distribuição dos conjuntos para esta modalidade tam- destinava aos adultos que participavam do
programa e pretendia incentivá-los a resolver os problemas da
bém atingiram a marca dos milhões de exemplares.
dade de forma planejada.
comuni
Para o Programa de Desenvolvimento da Comunidade foi criada
Os compromissos ideológicos do Mobral podem ser
uma série especial com três manuais: Você é
Lider, dirigido para os percebidos
tanto nas orientações metodológicas, quanto nos materiais didáticos
membros das Comissões Municipais visando ajudar a atuar na
organiza produzidos, falseando e esvaziando a densidade dos
ção das comunidades; Você é Ação, elaborado para os animadores procedimentos
cais
lo que reconhecidamente fundamentaram as experiências educacionais
e que oferecia subsídios sobre como melhor conhecer a comunida dirigidas aos jovens e adultos na década de 1960.
258 *****************
259
28 R2882828902889 RRRRR99ggggggegggngaaonnnnm
Freitas e Biccas História social da educação no Brasil (1926-1996)
Chama a atenção a ausência de qualquer possibilidade de proble de material e depois acabou o Mobral. (Depoimento da Profa. Maria do
matizar e questionar a realidade. A educação era projetada como sim- Rosário, do Mato Grosso, citado por Souza e CArDOSo, 2006, pp. 7-8)
bles adaptação e preparaçao de sujeitos com base na promessa de in- O rico ilustra
depoimento alguns aspectos essenciais da organiza-
serir a todos nas demandas do projeto nacional que estava em ção do Mobral.
andamento, um projeto de desenvolvimento sem os entraves das ten Não existiam critérios definidos para selecionar os agentes que
sões sociais. atuariam em seus programas. Na maioria das vezes, eram mobilizadas
Tempos obscuros. 0 "toque de Midas" da ditadura tornava incon- pessoas sem que em suas trajetórias pudéssemos encontrar elementos
sistente tudo o que se reestruturava sob seu comando. da formação pregressa suficientes para justificar seu engajamento no
Vale ainda a pena destacar a diferença entre a proposta do Mo- esforço de erradicar o analfabetismo no país.
bral e as experiências de educação popular que foram pautadas pelo Não havia um processo seletivo, não se exigia nem o 2° grau e nem
método de Paulo Freire. Vejamos, por exemplo, o depoimento de o nível universitário para atuar em tais programas educacionais. Os
uma professora do Mato Grosso que relatou sua experiëência no
Mobral:
escolhidos, denominados então como monitores, recebiam uma forma
ção inicial que Ihes proporcionava um conjunto de orientações para
Eu fui convidada pelo prefeito para ser alfabetizadora do Mobral, acho utilizar os conjuntos didáticos do programa.
que foi em 1969. Ele prometeu que eu receberia uma gratificação por A supervisäão estava a cargo das Comissões municipais visando, com
número de alunos matriculados, era simbólico, mas na época... Para con-
seguir esses alunos tinha que visitar casa por casa procurando aqueles que isso,assegurar o controlee a coesão do projeto politico pedagógico de
não sabiam ainda ler e nem escrever. Na minha turma tinha alunos de 16 lineado para tais programas. Haddad (1991) indica com precisão que o
anos a 66 anos. Tudo era de graça, tinha cartilha, lápis, caderno, uma fi- Mobral gerou um problema quando utilizou professores leigos, pois estes
cha de matricula e até tinha diploma no final do curso. O curso durava seis
meses e nem todos conseguiam terminar, mas eram poucos os que desis- ofereciam um ensino de baixa qualidade àqueles que tinham menos ou
tiam, geralmente por motivo de trabalho. Passou um tempo e eu saí, não nenhum prestigio social, o que contribuiu para que o ensino oferecido
lembro bem as datas por causa de medicamentos que tomo. Depois disso,
fui convidada para ser Coordenadora de Area - incluía a cidade P oco
pelo Mobral fosse sempre visto como precário, de má qualidade.
começo, quem tinha força de vontade dava continuidade, uns saiam lendo
nicacão intitulada:
1947 1990,
a
Alfabetizaço de Jovens e Adultos em Mato Grosso: leitura das Campanhas
uma
de autoria de Aneslia Prazeres Veloso de Souza Cancionilla Janzkovski
e
Oficias de
Cardoso, ambas da UFMT,
no site: www.ie.ufmt.br/semiedu2006/GT16
e escrevendo outros apenas assinando o nome e conhecend algumas pa
14 Denominação utilizada a partir da década de
lavras. Passou um tempo e mudou toda a filosofia, novo treinamento, 1960, filiada às concepções freireanas, designava de maneira
gerals agentes engajados nas experiências de alfabetização e nos programas não formais de educação de jo-
material mais moderno, mas com o tempo diminuiram as reuniðes, o envio vens e adultos.
*******"
260 261
Freitas e Biccas
História social da educação no Brasil (1926-1996)
********
**************
262 263
4
A Reforma Universitária de 1968:
a resposta à radicalização do
movimento estudantil
************************************* ***************************"****************************************************"*********
..
......
do setor pri
Na Era Vargas ocorreu uma grande expansão
imuni-
vado ligado à educação. O governo, além de oferecer uma
instituições educacionais em todos os níveis,
reconheceu
dade fiscal às
a Pontifícia Universi-
também a primeira universidade privada do país,
dade Católica do Rio de Janeiro.
O governo central atuou de forma, por assim dize, controladora
tanto que transformou a
junto ao setor público do ensino superior,
Universidade do Rio de Janeiro em Universidade do Brasil, almejando
com isso criar referência para submeter às outras iniciativas uni
uma
maneira o impacto
quanto na sua forma de organização, reeditando à sua
exercido por universidades como a USP e a UDF na década de
1930.
O movimento estudantil projetava a reforma universitária
como
*******"
265
História social da educação no Brasil (1926-1996)
Freitas e Biccas
peracão assinados entre o Ministério da Educação e Cultura e a Agency cipios de autonomia e autoridade; a dimensão técnica e administrativa
for International Development (USAID) dos Estados Unidos. do processo de reestruturação do ensino superior; a ênfase nos princí
No periodo de 1964 a 1968 foram assinados 12 acordos como obje- pios de eficiência e produtividade; a necessidade de reformulação do
tivo de produzir diagnósticos na perspectiva de resolver os problemas regime de trabalho docente; criação de centro de estudos básico".
educacionais brasileiros. Muitos brasileiros, especialmente os setores Um cenário de repressão e enquadramento estava se delineando
no fatídico ano de 1968. Basta
mais enriquecidos, encontravam no campo de interlocução aberto com nas antessalas da reforma que chegaria
Lei n. 4.464, conhecida como Lei Suplicy, que
os norte-americanos encaminhamento para a solução de questões can lembrar, por exemplo, a
O Plano Atcon refere-se a um documento que resultou de um es base em departamentos reunidos 0u não em uni-
b) orgånica
estrutura com
**********
269
268
Freitas e Biccas
História social da educação Brasil
no (1926-1996)
Art. 21. O concurso vestibular, referido letra do artigo 17, como também já
ocorria na Universidade de Brasília. Adotou-se tam-
na a
abrangerd
os conhecimentos comuns às diversas formas de educação do segundo grau sem bém a estrutura de departamentos, mantendo a unidade de ensino e
ultrapasar este nivel de complexidade para avaliar a formação recebida pelos
candidatose sua aptidão intelectual para estudos superiores. pesquisa e introduzindo a obrigatoriedade de frequência do ensino pa-
ra alunos e professores (FRETAG, 2005).
Art. 25. Os Segundo Vieira (1988, p. 135), o projeto da reforma universitária
profissionais poderão, segundo a área abrangida, apresen-
cursos
tar modalidades diferentes quanto ao número à deveria ser examinado como resposta a crise da educação superior no
duraçáo, fim de corresponder
e a
às condiçóes do mercado de traballho. Brasil a partir de três dimensões:
. Seräo
organizados cursos profissionais de curta duração, destinados a
Era representada pela existencia de uma elevada demanda de candidatos ao
proporcionar habilitaçocs intermediárias de grau superior. ensino superior, sem uma correspondente oferta de vagas. Nesse sentido,
...) promover a reforma seria uma maneira de criar condições para viabilizar
Art. 29. Será obrigatória, no ensino superior, frequéência de professores
a e uma expansão ordenada do ensino, já que a expansão desordenada realizada
alunos, bem como a execuçáo integral dos programas de ensino. até então era seguidamente criticada pelos formuladores da politica educa-
cional. A segunda dimensão da crise era assinalada pela defasagem que os
Capitulo ll. Do corpo docente reformadores acreditavam haver entre o ensino superior existente e o proje-
Art. 33. Os cargos e to de desenvolvimento nacional. Caberia, assim, å universidade atender a
funçoes de magistério, mesmo os já ecriados ou
providos, umademanda econômica, através da formação de recursos humanos que
serão desvinculados de campos especificos de conhecimentos.
assegurasse a expansão da economia nacional. Outro objetivo da reforma
I.3. Fica extinta a cátedra ou cadeira na organização do ensinosuperior do era solucionar a crise de autoridade identificada no sistema educacional.
Pais. Quanto a este aspecto, deveriam ser estabelecidas formas que permitissem
Ár. As universidades deverio progressivamente e na medida de seu in-
34.
teresse e de suas
ao Governo exercer controles mais rigorosos sobre as universidades. Por esta
possibilidades, estender a seus docentes o Regime de Dedicaçáo razão, o projeto apresentaria uma concepção autoritária de reforma.
exclusiva às atividades de ensino e pesquisa.
(... De acordo com Cunha (2004), a ambiguidade na forma de investir
Capitulo III. Do corpo discente no ensino superior foi radicalizada pelos governos militares que inves-
Árt. 38. O corpo discente terá representação, com direito a voz e voto, nos tiram recursos financeiros nas universidades públicas: a) criando a
orgãos colegiados das universidades e dos estabelecimentos isolados de ensino supe pós
rior, bem como em comissóes instituidas
-graduação; b) institucionalizando a profissão docente superior; c)
naforma dos estatutos e regimentos.
construindo novos edifícios e equipando laboratórios; d) criando novas
Art. 41. As universidades deveráo criar as funçóes de monitor para alunos universidades federais, estaduais e nas antigas foram expandidas suas
do curso de graduação que se submeterem a provas especificas, nas quais demons- atividades. A outra face da moeda revelou incentivos diretos e indire-
trem capacidade de desempenho em atividades técnico-didáticas de determinada
tos à iniciativa privada, que estavam massivamente presentes e repre
disciplina. sentados no Conselho Federal de Educação (CFE).
Parágrafo único. As funçóes de monitor deverão ser remuneradas e conside-
radas titulo para posterior ingresso em carreira de
magistério superior. A proposta de construir parâmetros a partir das instituições públi-
cas federais logo caiu por terra, uma vez que o houve uma explosão do
setor privado (CUNHA, 1982, FAvERO, 1994).
A reforma universitária do ensino superior se inspirou no modelo
Para Cury (2005) o Grupo de Trabalho da Reforma Unive ia
universitário norte-americano, estruturando o ensino em básico e pro (GTRU), instituído em 1968, como propósito estudar a
de reforma uni-
fissional; em dois niveis de pós-graduação, o mestrado e o doutorado; versitária brasileira "visando à sua efici ncia, modernização, flexibili-
adotando o sistema de créditos, introduzindo a matrícula por matérias,
dade administrativa e formação de recursos humanos de alto nivel pa
*************
270
271
Freta e Bc
O Conmethe Federal de
a odesenvolvimento do pais" (Decreto Lei n.
Educação foi criado como
orgae colegiodo da
62.937/68), acabou contribuindo para a criação
dos curs0s de
pós-graduação nas instituições fe.
5
144,se
03/02 1962, *
derais de ensino superior. A Lei n. 5.692/71 e a Reforma
0 autor sinaliza que apesar do clima adverso
provoriamentr ate a
mposto pelo regime militar, o GTRU acabou de
do ensino de 1° e 2 graus:
de regimente proprto
ea Pkrtaris n 60, de
finindo a universidade de forma adequada ao da arte de produzir desertos
feVreIrede 1967, caracteriza-la como uma instituição de pesquisa,
omgent ia ae FE komar ensino e extensão. Destaca ainda a defesa
ciexisões,. cgpirnat, analihar apre De meados da década de 1960 até o apagar das luzes do
sentada no relatório sobre a urgéncia em
consoli sangrento século XX, um crescente, continuo e poderoso processo
dar os cursos de pós- graduação no pais, para que
medidas gara organizaao de "desumanização" das relações sociais ganhou visibilidade e surtiu
o mais rápido possivel pudesse se iniciar a
forma-
efeitos täo duradouros quanto destrutivos. Conter esse processo de
ção dos nossos próprios cientistas, professores e
Farmalizaxàc das bases
"desumanização" foi uma das fortes aspirações politicas que se arti-
tecnicos que até então eram obrigados ir a outros
Organiza cistrKuits
paises para cursar a universidade. cularam nas últimas duas décadas do mesmo século, como veremos ao
final.
Segundo Cunha (1989) as universidades bra Algumas ideias foram decisivas e alguns argumentos persuadiram
sileiras antes da década de 1970, recebiam esta
residente d2 Repubik, denominação mas não passavam de instituições multiplicadores de opiniäo ensejando a disseminação de concepções
de ensino. 0 cenário sombrio, para além dos segundo as quais aspectos fundamentais das interacões individuais e
es
o i ~ v saber e
tragos que ensejou, possibilitou também algu- sociais, educação e o trabalho, poderiam ser reduzidas à di
como a
mas mudanças que desde as primeiras
regula mensão da produtividade economica, de cujo repertório
"gerencialista
mentações redefiniram as universidades federais não nos livramos até hoje.
Carsehc, presia=nte
d Repubika ievart e repercutiram, principalmente, na estrutura- Tomemos, por exemplo, a definição de capital humano apresenta
ção da pos-graduação em todo o país. da na obra international encyclopedia of the social sciences, na sua
eaiënte A expansão do ensino superior no Brasil diz edição de 1968, do economista da Universidade de Chicago Theodore
respeito a uma teia analitica que demanda um W. Schultz, um dos principais fundadores da teoria do capital humano
inventano proprio de subtemas a des
temas e
e Prêmio Nobel de economia em 1979:
F5tere ofTia trinchar e que derivam do campo de criaçãoe
a t u a (ei 4.024/61
art E . Antes deie fomentação de um portentoso "negócio" que se as capacidades herdadas de uma população são semelhantes às propriedades
LeietD n19.850 originárias da terra no sentido de que são dadas pela natureza em qualquer
consolidará no final do século XX. periodo de tempo significativo para a análise econômica. As variações gené-
Em 1968, a reforma universitâria esteve no ticas que poderiam afetar a distribuição e nivel dessas capacidades
11/4931 aconte
coração das principais tensões vividas pela so- cem tão vagarosamente que não têm relev ncia para a análise econômica. Da
Ciedade brasileira naquele ano intenso mas de mesma forma parece ser verdadeiro que distribuição das capacidades her
a
dadas dentro de uma grande população mantém-se, aos efeitos práticos,
triste, muito triste memória. constante ao longo do tempo, e que a distribuição dessas habilidades é
apro
272
273
ximadamente a mesma seja o pais
pobre ou rico, atrasado ou
pre que a
população seja numerosa (Scaarz, 1968, pp. 322 e moderno, sem- especialmente no bojo de uma politica educacional que se dizia condi-
ss). cionada pelas definições econômicas, como era o caso das ações em-
O conceito de capital humano despontou como um preendidas pelo governo militar que falaciosamente remetia o debate
capacidades, habilidades e destrezas com valor econômico.conjunto de educacional ao campo das "necessidades" do desenvolvimento e de
cidades foram representadas como se Tais capa
fossem produto de um aceleração do crescimento econômico.
mento prévio realizado pelo individuo, pela família ou investi A aplicação dos principios da Teoria do Capital Humano na educa
De acordo com Schultz, todas pela sociedade.
ção ancorava-se na relação entre escolaridade e renda, projetando
as
capacidades úteis dos habitantes, se
jam elas herdadas ou adquiridas, conformam o capital humano de uma para cada individuo a responsabilidade de administrar um certo patri
população, embora para efeito do cálculo econômico monio de escolarização. Era como se cada indivíduo pudesse possuir
das "as que mais sejam as adquiri- um "passaporte" para obter maiores chances de bons
interessam". empregos e con-
A noção de sequentemente maiores salários.
"capacidade útil" está no coração dessa
o quadro é bastante diferente no caso das
argumentação: A partir dessa referência a taxa de escolaridade deveria ser toma-
valor econômico. A capacidades adquiridas que têm da para compreender mecanismos capazes de determinar a renda
os
formação e manutenção dessas capacidades säo análo
gas à formação manutenção do capital humano
e
individual e até a produtividade que a sociedade pode alcançar.
cidades, evidentemente, são sujeitas reproduzivel. Essas
à depreciação e obsolescência. capa
disso, a distribuição e o nivel das Além Foi a aceitação acritica de que a sociedade tem um ponto de pro-
dos capacidades adquiridas podem ser altera dutividade mensurável predominantemente com base nos indices de
significativamente durante o periodo de tempo que é relevante
análise economica. Historicamente, elas têm sido para a
nos paises que desenvolveram uma economia modernaalteradas profundamente escolarização que conduziu muitos responsáveis pela elaboração de
(SCHULTZ, ibidem). politicas educacionais a considerar essa lógica produtivista um argu-
Vamos nos lembrar aqui do mento inquestionável eaaceitar,
exemplo que utilizamos na
apresenta- também, a ideia de que oplanejamento
ção deste livro. Quando ao inicio educacional deve estar vinculado aa mercado.
rememoramos a obra consagrada de
Reimers que, após estudar as políticas A presença marcante desses
educacionais de muitos países da postulados pode ser verificada na for-
América Latina, concluiu que ma como se deu o delineamento de
inúmeros projetos de formação
"alguns homens eram pobres descalços
porque não tinham estudo", tínhamos em fundamentados racionalidade e na eficiência, visando atender
na
Na mesma linha de raciocínio e deslocando do plano individual A circulação da Teoria do Capital Humano facilitou a disseminação
para o plano macroeconömico, as sociedades e as nações desprovidas de ideias que se batiam pelo aumento da renda nacional e facilitou
daquilo que convencionou chamar de desenvolvimento econômico
se
também a "exportação de um madelo" supostamente aplicável às na-
são consideradas responsáveis pela própria
situação como resultado ções que visavam mudar sua condição econômica.
histórico da ausëncía de investimento correto e adequado, ou seja, na Nesse sentido, a expectativa era que os sistemas educacionais pu-
perspectiva de produzir sujeitos com capacidades de valor econômico. dessem assumir a responsabilidade pela formação desse novo tipo de
O argumento de que existe uma
relação inultrapassável entre taxa capital
de escolaridade e mercado produtivo passou a compor o cerne de mui- No final da década de 1960 e no transcorrer de toda a década de
tas politicas educacionais que se abriram a esses
repertórios na imple 1970 adquiriu tom ufanista a disponibilidade de muitos para aceitar
mentação de ações voltadas para a educação. que a educação deveria sujeitar-se às deliberações da economia.
Dependendo da forma como a Teoria do Capital Humano se apresen Em muitos países simultaneamente, mas muito particularmente no
tava, sua lógica interma parecia ser irrefutável. Todavia, sua lógica era Brasil, a Teoria do Capital Humano passou a fundamentar o planejamen-
mais perversa do que irrefutável. Além do mais, a aquisição do saber que to educacional implementado pelo regime militar. Essa perspectiva ga-
a educação escolar conforma em si foi deslocada do campo argumenta
nhou mais força a partir do jå mencionado acordo estabelecido entre o
tivo dos direitos para instalar-se no campo prescritivo das obrigações Internacional
concernentes a todo individuo e todo país interessados em
Ministério da
Educaçãoe Culturae a United StatesAgencyfor
"prosperar"
De acordo com Schultz (1973), a inalienabilidade podia ser
Development, passado à posteridade como acordo MEC-USAID.
consi As debilidades do acordo eram tantas que muitos estudiosos do
derada a caracteristica fundamental do capital humano. Sua
explica periodo encontraram no adjetivo "tecnicista" uma abrangência sufi-
ção pautava-se na ideia de que a educação ofertada era uma forma de
ciente para indicarocerne da tragédia que estava a acontecer na
capital humano, uma vez que, ao ser dada, ela passaria a fazer parte
educação brasileira nos anos da ditadura.
da pessoa que a recebia, tornando-se, assim, constitutiva da pröpria
Frigotto (1993, p. 40) considera que, naquele momento:
pessoa. Nesse sentido, a educação, como parte integral da pessoa, não
poderia ser comprada ou vendida ou tratada pelas instituições como O processo educativo, escolar ou não, é reduzido à função de produzir um
conjunto de habilidades intelectuais, desenvolvimento de determinadas
propriedade. No entanto, e contraditoriamente, a educação não deixa- atitudes, transmissão de um determinado volume de conhecimentos que
va de ser uma forma de capital que prestava serviço e, portanto, pos funcionamcomogeradores de capacidades de trabalho e, consequentemente,
de produção. A educação passa a constituir-se num dos fatores fundamen
suía um determinado valor.
tais para economicamente as diferenças de capacidades de traba-
explicar
Nas palavras do próprio autor a educação deveria ser pensada co- produtividade e renda.
tho, e, consequentemente, as diferenças de
mo meio para formar a capacidade produtora de cada um e para defi
Ainda nas palavras de Frigotto (2001, p. 7) foi efetivamente a par
nir, também, as dimensões dos ganhos particulares:
tir da década de 1970 que a Teoria do Capital Humano apresentou-se
Aeducação, sem dúvida alguma, aumenta a mobilidade de uma determina-
formula
da força de trabalho, mas os beneficios em mudar-se de lugar a fim de ao pais como uma teoria do desenvolvimento económico. A
conseguir melhores vantagens quanto a oportunidades de trabalho (empre- investi-
oferecida para solucionar os nossos problemas centrou-se no
go) são predominantemente, senão totalmente, beneficios de ordem priva
na perspectiva
da (ScHULTZ, 1973, p. 176). mento do sistema educacional, mirando os indivíduos,
2 76 277
Freitas e Biccas História social da educação no Brasil (1926-1996)
do mercado, voltado para o setor procitivo, procurando consequente- S1. Observar-se-ão as seguintes prescrições na definição dos conteúdos
curriculares:
mente gerar crescimento económico, desenvolvimento global e mobi- 1.O Conselho Federal de Educação fixar para cada grau as matérias relati
lidade social. vas ao núcleo comum, definindo-hes os objetivos ea amplitude.
os respectivos sistemas de
Nesse sentido, a Lei
5.692, de 11 de janeiro de 1971, produziu uma
n. II. Os Conselhos de Educação relacionaro, para
matérias dentre as quais poderá cada estabelecimento escolher
das mais impactantes reformas do ensino primário e secundário do país. ensino, as
diversificada.
as que devam constituir a parte
Freitag (2005) aponta très conjuntos de inovações introduzidas pela II. Com aprovação do competente Conselho de Educação, o estabelecimen
Lei n. 5.692/1971. Aprimeira, refere-se a extensão do ensino obrigatório decorrentes de materiais relacionadas de
to poderá incluir estudos não
acordo com o incis anterior.
de quatro para oito anos, gratuito em escolas públicas, reduzindo conse-
S2°. No ensino de 19 e 2° graus dar-se-å especial relevo ao estudo da língua
quentemente, o ensino médio que era de 7 anos para 3 ou 4. e como expressão da cultura
nacional, como instrumento de comunicação
Tais mudanças foram explicitadas nos artigos a seguir: brasileira.
(...)
S3. Parao ensino de 2 grau, o Conselho Federal de Educação fixará, alémn
do núcleo comum, o mínimo a ser exigido em cada habilitação profissional
Art. 18. 0 ensino de 1° grau terá a duração de oito anos letivos e compreen-
Ou conjunto de habilitações afins.
dera, anualmente, pelo menos 720 horas de atividades. estabeleci-
S 4P. Mediante aprovação do Conselho Federal de Educação, os
...)
Art. 20. 0 ensino de 1° grau será obfigatório dos 7 aos 14 anos, cabendo aos mentos de ensino poderão oferecer outras habilitações profissionais para as
quais não haja mínimos de curriculo previamente estabelecidos por aquele
Municipios promover, anualmente, o levantamento da população que alcan-
a validade nacional dos respectivos estudos.
ce a idade escolar e proceder à sua chamada para matrícula. órgão, assegurada
Parágrafo único. Nos Estados, no Distrito Federal, nos Territórios e nos Mu- Art. 5. As disciplinas, áreas de estudo e atividades que resultem das maté-
nicipios, deverá a administração do ensino fiscalizar o cumprimento da obri- rias fixadas na forma do artigo anterior, com as disposições necessárias ao
seu relacionamento, ordenação e sequência, constituirão para cada grau o
gatoriedade escolar e incentivar a frequència dos alunos.
curriculo pleno do estabelecimento.
Art. 22. 0 ensino de 2 grau terá três ou quatro séries anuais, conforme S 1. Observadas as normas de cada sistema de ensino, o curriculo pleno
previsto para cada habilitação, compreendendo, pelo menos, 2.200 ou terá uma parte de educação geral e outra de formação especial, sendo
2.900 horas de trabalho escolar efetivo, respectivamente. organizado de modo que:
Parágrafo único. Mediante aprovação dos respectivos Conselhos de Educa a) no ensino de primeiro grau, a parte de educação geral seja exclusiva nas
ção, os sistemas de ensino poderão admitir que, no regime de matrícula por séries iniciais e predominantes nas finais;
disciplina, o aluno possa concluir em dois anos no mínimo, e cinco no máxi- b) no ensino de segundo grau, predomine a parte de formação especial.
mo, os estudos correspondentes a três séries da escola de 2 grau. S2. A parte de formação especial de currículo:
a) terá o objetivo de sondagem de aptidõese iniciação para o trabalho, no
O segundo conjunto de inovações, talvez o mais polêmico da lei ensino de 1 grau, e de habilitação profissional, no ensino de 28 grau;
refere-se à centralidade assumida b) será fixada, quando se destina a iniciação e habilitação profissional, emn
em questão, pela questão da profis consonância com as necessidades do mercado de trabalho local ou regional,
sionalização do ensino médio, como se depreende da leitura dos arti- à vista de levantamentos periòdicamente renovados.
gos 4, 5 e 10: S 39. Excepcionalmente, a parte especial do curriculo poderá assumir, no
ensino de 2 grau, o caráter de aprofundamento em determinada ordem de
.)
estudos gerais, para atender a aptidão específica do estudante, por indica-
Art. 4. Os curriculos do ensino de
1 e 2" graus terão um núcleo comum, obri ção de professores e orientadores.
gatório em âmbito nacional, e uma parte diversificada para atender, confor Art. 10. Será instituida obrigatoriamente a Orientação Educacional, incluin
me as necessidades e possibilidades concretas, às peculiaridades locais,
planos dos estabelecimentos e às diferenças individuais dos alunos.
aos
do aconselhamento vocacional, em cooperação com os professores, a fami-
lia e a comunidade.
******************
278
279
Freitas e Biccas
História social da educação no Brasil (1926-1996)
280 281
Freitas e Biccas História social da educação no Brasil (1926-1996)
Os argumentos apresentados para defender a formação de téc Art. 24. O ensino supletivo terá por finalidade:
nicos ancorava-se, por um lado, na falta desses profissionais no a) suprir a escolarização regular para os adolescentes e adultos que não a tenham
seguido ou concluido na idade própria;
mercado de trabalho e, por outro, na necessidade de construir uma b) proporcionar, mediante repetida volta à escola, estudos de aperfeiçoamento
alternativa para os jovens que não conseguiram ingressar na univer ou atualização para os que tenham seguido o ensino regular no todo ou emn
tem nas mudanças curriculares uma questão decisiva para entendi Art. 26. Os exames supletivos compreenderão a parte do currículo resultante do
núcleo comum, fixado pelo Conselho Federal de Educação, habilitando ao pros-
mento do quanto o do regime militar
projeto educacional
teu-se com propostas deletérias. Com um certo grau de obscurantismo
comprome seguimento de estudos em caráter regular, e podero, quando realizadas para o
exclusivo efeito de habilitação profissional de 2° grau, abranger somente o mini-
os conteúdos considerados de caráter acadêmico foram retirados para mo estabelecido pelo mesmo Conselho.
S 1. Os exames a que se refere este artigo deverão realizar-se:
que fosse possivel introduzir disciplinas que abordavam, predominan a) ao nivel de conclusão do ensino de 1° grau, para os maiores de 18 anos;
temente, as temáticas profissionalizantes. b) ao nivel de conclusäo do ensino de 2° grau, para os maiores de 21 anos.
A retirada do curriculo das disciplinas História e Geografía, substi S2. Os exames supletivos ficarão a cargo de estabelecimentos oficiais ou reco
nhecidos indicados nos vários sistemas, anualmente, pelos respectivos Conselhos
tuindo-as por Estudos Sociais e Educação Moral e Cívica, ministradas
de Educação.
com base em manuais que eram, na realidade, canais de comunicação
S 3. Os exames supletivos poderão ser unificados na jurisdição de todo um siste-
dos repertórios políticos governamentais, demonstrava a projeção ma de ensino, ou parte deste, de acordo com normas especiais baixadas pelo
idealizadora de um futuro trabalhador invulnerável aos apelos da luta respectivo Conselho de Educação.
Art. 27. Desenvolver-se-ão, ao nível de uma ou mais das quatro últimas séries do
por direitos e por democracia.
politica ensino de 1 grau, cursos de aprendizagem, ministrados a alunos de 14 a 18 anos,
Outra dimensão importante da reforma do ensino de 1° e 2° graus, em complementação da escolarização regular, e, a esse nível ou ao de
2 grau,
ensejada pela Lei n. 5.692/1971, diz respeito à educação de jovens e cursos intensivos de qualificação profissional.
adultos, com a tônica também na formação para o trabalho e que pro- Parágrafo único. Os cursos de aprendizagem e os de qualificação darão direito a
prosseguimento de estudos quando incluirem disciplinas, áreas de estudo e ativi-
moveu uma aproximação em relação às ações já desenvolvidas pelo dades que os tornem equivalentes ao ensino regular conforme estabeleçam as
Mobral. normas dos vários sistemas.
Art. 28. Os certificados de aprovação em exames supletivos e os relativos à con-
Vejamos a seguir o capítulo da Lei dedicado especialmente a essa
clusão de cursos de aprendizagem e qualificação serão expedidos pelas
modalidade de ensino. ções que os mantenham.
institui
282
283
Freitase Biccas
História social da educação Brasil
no
(1926-1996)
Para o ensino supletivo foram apontadas duas importantes finali- independente do ensino regular, articulando-se a ele na
mas
dades. A primeira indicava a necessidade de suprir a escolarização re- tiva de compor o Sistema Nacional de Educação e Cultura.
perspec
gular para os adolescentes e adultos que não tiveram acesso ou não A segunda linha delineada reforçava os fundamentos
que susten-
conseguiram concluir o ensino regular na idade considerada própria. A tavam de uma maneira geral a legislação, ou seja, concebendo o
segunda finalidade era proporcionar, mediante retornos sistemáticos à
ensi
no supletivo na perspectiva do desenvolvimento
nacional. Nesse caso,
escola, estudos de aperfeiçoamento ou atualizações para aqueles ti- proposta consistia em integrar, via alfabetização, sujeitos vistos co-
vessem acompanhado o ensino regular mesmo que de forma fragmen- mo mão de obra posta à margem pela impossibilidade de ler e
escrever,
tada ou incompleta (FREITAG, 2005). devendo colaborar, portanto, no "abastecimento" de força de trabalho
Haddad e Di Pierro (2000) assinalam que apesar da Lei n. 5.692/71 mais qualificada.
dedicar um capitulo específico ao ensino supletivo, sua
fundamentação A última inha, apontava que o ensino supletivo deveria esboçar
e caracterização foram objeto de detalhamento apresentado em ou princípios e metodologia adequadas e conectadas com a "magnitude de
tros dois documento sua missão". A ideia era que o ensino supletivo pudesse construir uma
primeiro documento foi o Parecer n. 699, produzido pelo maneira distinta e diferenciada para escolarizar os jovens e adultos,
Conselho Federal de Educação, publicado em julho de 1972, de autoria buscando, assim, contrapor aos modelos que inspiraram as experiências
de Valnir Chagas. O segundo documento "Politica para o Ensino de alfabetização empreendidas pelos movimentos de cultura popular.
Suple-
tivo" foi fruto da sistematização de um grupo de trabalho que teve Os objetivos do ensino supletivo voltavam-se para a
recuperação
igualmente Valnir Chagas como relator. Este último documento foí en- do atraso, a atualização do presente e a formação de mão de obra
tregue ao Ministro da Educação em setembro de 1972. adequada àquilo que se considerava imprescindivel ao projeto de de-
No Parecern. 699, o ensino supletivo esboçava-se como uma nova senvolvimento nacional.
concepção de escola, como uma linha diferenciada de escolarização A legislação educacional, definiu, então, quatro funções e moda-
não formal, foi assim entendida e considerada pela primeira vez em lidades para o ensino
supletivo:
uma reforma educacional de caráter nacional. Jarbas Passarinho, em 1) Aprendizagem, compreendida como a formação metódica nos
1971, já explicitava a importância dessa modalidade de ensino que moldes oferecido tanto pelo SENAI quanto pelo SENAC;
deveria "suprir a escolarização regular e promover crescente oferta de 2) Qualificação, referindo-se aos cursos especiais de profissionali-
educação continuada". zação, preocupados com a formação de recursos humanos para o tra-
A lei atenderia ao duplo objetivo de recuperar o atraso dos que não pude- balho, a exemplo do PIPMO (Programa Intensivo de Preparação de Mão
ram realizar a sua escolarização na época adequada, complementando o de Obra). A transmissão de conhecimentos e a chamada cultura geral
exito empolgante do Mobral que vinha rápida e drasticamente vencendo não eram
o analfabetismo no Brasil" e germinar a educação do futuro (...) (HADDAD,
prioridades nesta
modalidade;
DI PlERRO, 2000, p. 116). 3) Suplência que de fato era a própria alfabetização que já estava
sendo desenvolvida pelo Mobral;
A proposta para o ensino
supletivo estabelecida na legislaç 4) Suprimento, função encarregada de proporcionar, mediante re-
apontava para três grandes linhas de fundamentação. A primeira se petida voltaà escola, estudos de aperfeiçoamento ou atualização para
referia à definição dessa modalidade como um subsistema
integrado, Os que tenham seguido o ensino regular no todo ou em parte. Contem-
*******
284
285
Freitase Biccas
*************
286