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3 Opinião dos docentes da Escola Superior de Saúde Dr. Lopes
4 Dias sobre o ensino por via remota, implementado devido à
5 pandemia Covid-19
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7 Opinion of the professors of the Higher School of Health Dr.
8 Lopes Dias on remote education, implemented due to the
9 covid-19 pandemic
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12 Autor:
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14 Centro de execução do trabalho:
15 Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias
16 Instituto Politécnico de Castelo Branco
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18 Conflitos de interesse:
19 O autor declara a não existência de conflitos de interesse na realização do estudo
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21 Fontes de Financiamento:
22 Não existiu qualquer fonte de financiamento para a realização do estudo
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24 E-mail do autor responsável:
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26 Tipo de artigo:
27 Artigo de Investigação
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29 Resumo
30 O estado de emergência, decretado devido à pandemia de Covid-19, conduziu à
31 suspensão das atividades presenciais nas instituições de ensino superior, obrigando os
32 docentes a aderir ao ensino por via remota, através da utilização de metodologias
33 digitais. Objetivo: Conhecer a opinião dos docentes da Escola Superior de Saúde Dr.
34 Lopes Dias sobre o ensino por via remota. Materiais e Métodos: Estudo descritivo
35 constituído por uma amostra não probabilística, por conveniência, constituída por 36
36 docentes que, voluntariamente, aceitaram participar. Resultados Principais: a maior
37 parte dos docentes considerou ter preparação adequada para a utilização das
38 metodologias digitais. A principal competência adquirida, neste período, foi o domínio
39 das ferramentas tecnológicas: Ainda assim, consideraram ter necessidade de formação.
40 Conclusão: O ensino por via remota, através das metodologias digitais, passou a ser
41 uma alternativa para mais docentes, mas não substitui a presença física e a interação
42 pessoal em sala de aula, fatores elementares no processo ensino-aprendizagem.
43 Descritores: Covid-19 (D018352), Estado de Emergência (DDCS034685), Ensino
44 Remoto, Metodologias digitais.
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47 Abstract
48 The state of emergency, enacted due to the Covid-19 pandemic, led to the
49 suspension of face-to-face activities in higher education institutions, forcing some
50 teachers to adopted new methodologies through remote education. Objective: To
51 know the opinion of the teachers of the Higher School of Health Dr. Lopes Dias on
52 remote education, implemented due to the Covid-19 pandemic. Materials and
53 Methods: Descriptive study consisting of a non-probabilistic sample, for convenience,
54 consisting of the 36 professors who voluntarily agreed to participate. Main Results:
55 most teachers considered that they were adequately prepared to use digital
56 methodologies. The main competence acquired in this period was the domain of
57 technological tools: Still, they considered that they needed training. Conclusion:
58 Remote learning, through digital technologies, has become an alternative for more
59 teachers, but does not replace physical presence and personal interaction in the
60 classroom, elementary factors in the teaching-learning process.
61 Keywords: Covid-19 (D000086382), State of Emergency (DDCS034685), Remote
62 Teaching, Digital Methodologies
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65 1-Introdução
66 No início de 2020, a necessidade de conter a expansão da pandemia de Covid-19
67 levou à declaração do estado de emergência em Portugal. A suspensão parcial do
68 exercício de alguns direitos, e as medidas restritivas implementadas, por parte do
69 governo, conduziram a alterações profundas no funcionamento de quase todos os
70 setores de atividade.

71 A necessidade imperiosa de cumprimento das regras de “distância” e de


72 “isolamento”, determinou a suspensão repentina de atividades presenciais em vários
73 setores, incluindo o ensino superior, tendo sido decidido o encerramento temporário
74 das próprias instituições.

75 Esta situação, nova para todos, obrigou à implementação de diferentes


76 metodologias, no sentido de dar continuidade ao acompanhamento dos alunos na sua
77 formação, com grande parte dos docentes a aderirem, alguns pela primeira vez, a
78 atividades por via remota, através de aplicativos e plataformas digitais.

79 Aquilo que, até ao momento, tinha sido uma opção, passou a ser a única opção,
80 impondo aos docentes novos desafios à sua praxis (Rondini, 2020). O ensino
81 presencial, quase sempre circunscrito a um espaço partilhado, e baseado na interação
82 física entre o professor e os alunos, deu lugar ao ensino por via remota, com a mediação
83 didático-pedagógica a ocorrer através de recursos tecnológicos, de forma síncrona ou
84 assíncrona.

85 Estas alterações abruptas exigiram aos docentes, para além da disponibilidade de


86 recursos tecnológicos e aptidão para os dominar ou, pelo menos, manusear
87 eficazmente, uma rápida adaptação dos conteúdos a lecionar, das metodologias de
88 ensino, assim como das metodologias de avaliação. Mas exigiu, também, uma
89 capacidade didática e motivação acrescidas para conduzir, e dinamizar, uma “sala
90 digital” (Martins, 2020).

91 Perante este contexto, decidimos conhecer a opinião dos docentes da Escola


92 Superior de Saúde Dr. Lopes Dias (ESALD) sobre o ensino por via remota, durante o
93 período em que, face à pandemia Covid-19, se optou pelo modelo de ensino não
94 presencial.
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96 2-Materiais e Métodos
97 Estudo descritivo. Amostra não probabilística, por conveniência, constituída por
98 36 docentes que, voluntariamente, aceitaram responder a um inquérito online (Google
99 Forms), criado para o estudo. O inquérito esteve disponível entre 20 de março e 17 de
100 abril de 2020. Foi apresentada a seguinte explicação sobre o estudo:

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101 Este estudo tem por objetivo conhecer a opinião dos docentes da ESALD sobre o
102 impacto das medidas implementadas durante o período em que, face à pandemia
103 Covid-19, se optou pelo modelo de ensino não presencial, com recurso às
104 metodologias digitais.
105 A participação consiste no preenchimento voluntário do presente questionário e
106 não comporta qualquer risco. Os dados serão anónimos e confidenciais e serão
107 utilizados apenas para o presente estudo. Obrigado.

108 Aos docentes que aceitaram participar, foram apresentadas 20 questões com
109 respostas de escolha múltipla e 2 perguntas abertas sobre as vantagens e desvantagens
110 da utilização das metodologias digitais. No tratamento dos dados, na variável “anos de
111 lecionação no ensino superior” sempre que o número de anos coincidiu com o limite
112 superior da classe, foi contabilizado na classe seguinte, com exceção da última classe.
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114 3-Resultados
115 Os docentes que participaram no estudo são, maioritariamente, do género
116 feminino (58,3%), pertencentes ao grupo etário 55-60 A (33,3%) e detentores do grau
117 de doutor (47,2%). A maior parte dos docentes leciona entre os 12 e os 18 anos (25%)
118 e entre os 30 e 36 anos (25%) no ensino superior, com 41,7% a lecionar no curso de
119 licenciatura em Enfermagem. Dos inquiridos, 97,2% têm computador para uso
120 individual e 66,7% não fizeram formação sobre metodologias digitais nos últimos cinco
121 anos. Consideram-se muito bem preparados (2,8%), bem preparados (22,2%) e
122 razoavelmente preparados (47,2%) para a utilização de metodologias digitais, tendo
123 44,4% optado pelas atividades síncronas, enquanto 47,2% optou por atividades
124 síncronas e assíncronas.
125 O interesse pelas atividades ministradas no modelo não presencial, foi igual para
126 44,4% dos docentes, comparativamente com as atividades presenciais, e menor
127 também para 44,4% dos docentes, tendo 58,3% considerado que o volume de trabalho
128 aumentou grandemente com a adesão às novas metodologias. A principal competência
129 adquirida/desenvolvida, para 86,1% dos docentes, foi o domínio das ferramentas
130 tecnológicas.
131 Para 36,1%, a frequência de contacto com os alunos manteve-se, enquanto para
132 30,6% aumentou ligeiramente, comparativamente com o que estava previsto caso as
133 atividades fossem presenciais. A qualidade do processo ensino/aprendizagem não
134 sofreu alterações, para 36,1%, enquanto que para 33,3% piorou pouco, e para 16,7%
135 piorou muito.
136 A avaliação foi realizada por via digital por 86,1% dos docentes, tendo 67,7%
137 considerado que os alunos não são beneficiados nem prejudicados com a avaliação por
138 esta via, enquanto 29% consideraram que os alunos são beneficiados. Quanto à
139 satisfação dos docentes, 61,1% manifestaram-se menos satisfeitos com as atividades
140 baseadas em metodologias digitais do que com as atividades presenciais e 47,2%
141 satisfeitos com o processo ensino/aprendizagem.

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142 Para 88,9% dos docentes, a instituição disponibilizou informação técnica
143 específica sobre a utilização de plataformas, informação considerada extremamente
144 útil por 9,4% e muito útil por 53,1%. Dos docentes, 75% considera ter necessidade de
145 fazer formação sobre metodologias digitais e 80,6% manifestou vontade de regressar
146 às atividades presenciais na escola.
147 Tabela 1 - Variáveis em estudo
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149 Ao analisar as vantagens e desvantagens, apontadas pelos docentes, sobre as
150 metodologias digitais, verificou-se que a vantagem mais referida é a economia de
151 tempo, enquanto a desvantagem é a diminuição de interação docente/aluno.
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153 Tabela 2 – Vantagens e desvantagens apontadas pelos docentes
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157 4-Discussão
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159 A esmagadora maioria dos docentes não frequentou qualquer ação de formação
160 sobre metodologias digitais nos últimos cinco anos, pelo que a transição para o ensino
161 por via remota decorreu em função da dedicação individual de cada um, o que poderá
162 justificar o aumento do volume de trabalho, referido por 86,1% dos docentes. Este
163 aumento de trabalho pode ter sido agravado pela necessidade de se manter a conexão
164 online de forma quase ininterrupta, e de “mais tempo despendido na preparação de
165 conteúdos” o que levou alguns docentes a apontar como uma desvantagem “não ter
166 horário de trabalho, ou seja, muito mais trabalho”.
167 Foram referidas algumas dificuldades como “a falta de conhecimentos por parte
168 dos docentes e discentes” e “a falta de autonomia com estas tecnologias”, como um
169 entrave à rápida adaptação à nova metodologia de ensino, tal como se havia concluído
170 no estudo efetuado por Rondini (2020).
171 As vantagens apontadas de poder “gerir melhor o tempo” e de “permitir a
172 continuidade do ensino” devido à “versatilidade das metodologias” não superam a
173 desvantagem da “falta da interação docente-aluno”, o que compromete “a componente
174 relacional”, considerada um pilar do processo de aprendizagem. Segundo Coll e
175 Monereo (2010, p.11) a incorporação de recursos tecnológicos, só por si, não
176 transforma os processos educacionais, mas modifica os contextos e as relações entre
177 os atores, e os próprios conteúdos de aprendizagem.
178 A maioria dos docentes manifestou-se menos satisfeito com as atividades baseadas
179 em metodologias digitais do que com as atividades presenciais, e o grau de interesse
180 por estas atividades também não aumentou, tal como no estudo de Rondini (2020), em
181 que 56,4% dos participantes declararam que as aulas não se tornaram mais
182 interessantes com os recursos tecnológicos utilizados durante a pandemia.

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183 Apesar de 69,4% dos docentes se ter considerado bem preparado, e razoavelmente
184 preparado, para o ensino não presencial, a diversidade de vantagens e desvantagens
185 apontadas, demonstra que os docentes se sentem com diferentes níveis de preparação
186 para lidar com as tecnologias por via remota. Daí haver uma manifestação clara da
187 necessidade de formação nesta área, o que significa que, para além da preparação
188 científica e pedagógica, o docente sente necessidade de preparação técnica, que lhe
189 permita utilizar de forma adequada os recursos disponíveis. Estes dados estão de
190 acordo com o estudo de Frizon (2015), onde concluiu que o redimensionamento da
191 sociedade, provocado pelas tecnologias digitais, passa pela reavaliação do papel do
192 professor e pelo reforço da sua formação nesta área, cada vez mais determinante para
193 ajudar a concretizar, com sucesso, os processos de ensino-aprendizagem.
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195 5-Conclusão
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197 As metodologias digitais têm vindo a ocupar um espaço cada vez mais importante
198 no processo ensino-aprendizagem, tendo a pandemia potenciado o alargamento da sua
199 utilização. Apesar de se ter tratado da mera transposição para os meios digitais das
200 atividades previstas para o ensino presencial, a experiência agora vivenciada permite
201 que o ensino por via remota passe a ser equacionado em mais situações, e por mais
202 docentes, do que antes da crise pandémica, mesmo quando se retornar à presença física
203 em sala de aula.
204 O recurso às metodologias digitais, em contexto de emergência, pode ter
205 despertado os docentes para potencialidades até então desconhecidas, a serem
206 aproveitadas em situações futuras, como complementares às práticas pedagógicas
207 presenciais, no sentido de reforçar o modelo de ensino.
208 No entanto, a crise pandémica reforçou também que a presença, as relações
209 interpessoais, e a interação física, que caracterizam o ambiente na sala de aula, são
210 fatores insubstituíveis no processo ensino-aprendizagem.
211 Pelo exposto, recomenda-se a realização de outros estudos, mais abrangentes,
212 sobre a influência do ensino por via remota na aprendizagem, uma vez que o presente
213 estudo apresenta limitações que devem ser tidas em conta na análise dos resultados.
214 Para além da amostra ser não probabilística, o estudo é descritivo, aconselhando-se a
215 inclusão de outros fatores em estudos futuros sobre este tema tão vasto e importante.
216 Ainda assim, ficam apontamentos para uma reflexão sobre as práticas pedagógicas
217 em contexto de pandemia, numa perspetiva de antecipação de situações inesperadas
218 decorrentes de novos momentos adversos, que poderão ocorrer num mundo cada vez
219 mais caracterizado pela incerteza, e pelo risco.
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224 Referências Bibliográficas
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226 Avelino, W. F.; Mendes, J. G. A realidade da educação brasileira a partir da COVID-19.
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