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Gravidez Ectópica 199

Tubária 95-96%

CAPÍTULO 7
Intersticial e
cornual 2-3%
Ampolar (70%)
Ístmica 12%

Fímbrica 11%
Cicatriz de cesariana <1%
Ovariana 3%

Cervical <1%

Abdominal 1%

FIGURA 7-1 As várias localizações e frequências das gestações ectópicas. (De Cunningham, 2010, com permissão.)

ções ectópicas, em comparação com 4 para 10.000 gestações


SEQUELAS DA GRAVIDEZ ECTÓPICA
em 1989. Isto ocorreu apesar de ter havido aumento de cin-
■ Mortalidade co vezes na taxa de gravidez ectópica, passando de 17.800 em
1970 para 108.000 em 1992 (Fig. 7-2). As disparidades raciais
A gravidez ectópica permanece sendo a principal causa dos afetam os óbitos relacionados à gravidez ectópica. As mulheres
óbitos relacionados à gravidez inicial. Ainda assim, os protoco- não brancas apresentaram risco geral de óbito 3,4 vezes mais
los de diagnóstico e tratamento em uso resultaram na redução alto que as mulheres brancas, para o período de 20 anos, en-
de 10 vezes na taxa de fatalidade de casos durante os últimos tre 1970 e 1989 (Goldner, 1993). Essa diferença foi observada
35 anos. A taxa em 1970 era de 35 óbitos para 10.000 gesta- para todos as faixas etárias, conforme mostra a Figura 7-3. O
acesso inadequado a tratamento gineco-
lógico e aos cuidados de pré-natal pode
Taxa de incidência por 1.000 gestações relatadas

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explicar, em parte, essa tendência.
Taxa de fatalidade/caso por 10.000 casos

Taxa de fatalidade Ruptura tubária


35 Taxa de gestações ectópicas
20 A mortalidade está diretamente relacio-
30 nada com a hemorragia grave causada
pela ruptura da tuba. Durante as últi-
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15 mas duas décadas, a taxa de ruptura com
gravidez ectópica variou entre 20 e 35%
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(Job-Spira, 1999; Saxon, 1997). Os três
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10 fatores de risco que aumentam a probabi-
lidade de ruptura tubária são indução de
10 ovulação, nível de b-hCG sérica acima de
5 10.000 UI/L, quando da suspeita inicial
5 de gravidez ectópica, e histórico de nunca
ter feito uso de contracepção. A consi-
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deração desses fatores de risco auxilia no
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diagnóstico oportuno para que haja inter-


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Ano
venção cirúrgica imediata. É importante
FIGURA 7-2 Taxa de casos fatais e incidência de gravidez ectópica distribuídas nos anos. (Dados ressaltar que as opções de tratamento mi-
retirados do Centers for Disease Control and Prevention, 1995.)

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Gravidez Ectópica 213

(1) a tuba ipsilateral está intacta e isolada do ovário; (2) a gra- Conforme discutido para casos suspeitos de gravidez tubária,
videz ectópica ocupa o ovário; (3) a gravidez ectópica está co- com o uso de UTV e as dosagens séricas de b-hCG, a gra-
nectada ao útero pelo ligamento útero-ovárico e (4) é possível videz intersticial pode ser diagnosticada de forma suficiente-
demonstrar histologicamente a presença de tecido ovariano no mente precoce para permitir tratamento clínico conservador

CAPÍTULO 7
tecido placentário. O aumento recente da incidência de gravi- (Bernstein, 2001). Dada sua baixa incidência, não há consenso
dez ovariana provavelmente é artificialmente causado pelo apri- estabelecido com relação apredição de sucesso com o uso de
moramento das modalidades de imagem. Os fatores de risco metotrexato. Jermy e colaboradores (2004) relataram taxa de
são similares àqueles descritos para gestações tubárias. Em um sucesso de 94% com o uso de metotrexato sistêmico usando
artigo publicado, as usuárias de DIU tiveram proporção mais dose de 50 mg/m2 de ASC. Sua série incluiu quatro mulheres
alta de gestações ovarianas em comparação com as não usuárias nas quais se confirmou a presença de atividade cardíaca fetal.
– 5,5% versus zero (World Health Organization – Organização Como essas pacientes apresentam níveis séricos iniciais altos de
Mundial da Saúde, 1985). Quase um terço das mulheres com b-hCG no momento do diagnóstico, geralmente há necessida-
gravidez ovariana apresenta-se com instabilidade hemodinâmi- de de acompanhamento prolongado. Deruelle e colaboradores
ca em razão de ruptura. O diagnóstico tem como base a des- (2005) defendem a embolização seletiva da artéria uterina pós-
crição ultrassonográfica clássica de cisto com um anel externo -metotrexato como auxiliar na prevenção de hemorragia e para
ecogênico amplo sobre ou dentro do ovário (Comstock, 2005). acelerar a resolução da gravidez ectópica.
Foram descritas técnicas para ressecção histeroscópica, as-
sim como para curetagem por sucção transcervical, de gravidez
GRAVIDEZ CORNUAL intersticial. Entretanto, os resultados em longo prazo dessas
técnicas não foram determinados (Sanz, 2002; Zhang, 2004).
A gravidez cornual implanta-se no segmento tubário proximal Não se conhece o risco de ruptura uterina em gestações
que se encontra dentro da parede uterina muscular. O acha- subsequentes após tratamento clínico ou cirúrgico conserva-
do anatômico característico é um inchaço lateral à inserção dor. Consequentemente, justifica-se a observação cuidadosa
do ligamento redondo (Fig. 7-11). Algumas vezes esse tipo dessas pacientes durante suas gestações, assim como conside-
de gravidez é incorretamente denominado cornual, mas este ração de indicação de cesariana eletiva.
termo se refere a estruturas que se desenvolvem para formar
os cornos uterinos com anomalias müllerianas (Lau, 1999;
Moawad, 2010). No passado, a ruptura de gravidez cornual GRAVIDEZ CERVICAL
ocorria após 8 a 16 semanas de amenorreia, em razão da gran-
de distensão do miométrio cobrindo o segmento intersticial A incidência relatada de gravidez cervical está entre 1 em 8.600
da tuba uterina. a 1 em 12.400 gestações (Ushakov, 1997). Parece que está
Os fatores de risco são similares aos anteriormente discu- crescendo em razão do maior uso de tecnologia de reprodu-
tidos, embora a salpingectomia ipsilateral prévia seja um fator ção assistida, em especial fertilização in vitro e transferência
de risco específico para gravidez cornual (Lau, 1999). Consi- de embrião (Ginsburg, 1994; Pattinson, 1994). Um fator de
derando a proximidade dessa gravidez das artérias uterinas e risco específico para gravidez cervical é antecedente pessoal de
ovarianas, há risco de hemorragia grave, associada a taxa de dilatação e curetagem em gestação prévia, observado em quase
mortalidade, que chega a 2,5% (Tulandi, 2004). 70% dos casos (Hung, 1996; Pisarska, 1999). Dois critérios
O tratamento cirúrgico é feito com ressecção do corno diagnósticos são necessários para confirmar gravidez cervical:
por laparotomia ou por laparoscopia (Seção 41-9, p. 1.035). (1) presença de glândulas cervicais em oposição ao sítio de im-

ÚTERO

FUNDO
ECTÓPICA CORNUAL

A B

FIGURA 7-11 Gravidez cornual. A. Ultrassonografia transvaginal em visão parassagital revelando cavidade uterina vazia e uma massa lateral ao
fundo uterino. (Imagem cedida pela Dra. Elysia Moschos.) B. Fotografia intraoperatória mostrando o fundo uterino e a gravidez cornual protuberante
no corno uterino esquerdo antes da ressecção. (Fotografia cedida pelo Dr. Mario Castellanos.)

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214 Ginecologia Geral Benigna

do metotrexato, é uma medida adjunta para reduzir as compli-


cações hemorrágicas (Cipullo, 2008; Hirakawa, 2009).
Embora o tratamento conservador seja viável para muitas
pacientes com gravidez cervical, a intervenção cirúrgica também
é uma opção. Dentre os procedimentos estão curetagem por suc-
SEÇÃO 1

ção ou histerectomia. Além disso, naquelas com gestação avança-


da ou com sangramento não controlado por métodos conserva-
dores, a histerectomia normalmente está indicada. É importante
ressaltar que as pacientes devem ser informadas sobre o maior
risco de lesão do trato urinário em razão da proximidade dos ure-
teres do colo uterino aumentado. Antes de cada procedimento,
deve-se considerar a possibilidade de proceder à embolização da
artéria uterina para reduzir o sangramento intraoperatório e pós-
A
operatório (Nakao, 2008; Trambert, 2005). Além disso, foram
descritos alguns procedimentos a serem realizados antes de cure-
Istmo
Parede Parede
Istmo
tagem, como injeção local de metotrexato no interior do saco
posterior do anterior do
colo uterino colo uterino amniótico, ligadura dos ramos descendentes das artérias uterinas
ou cerclagem do orifício cervical interno para compressão dos
vasos nutridores (Davis, 2008; De La Vega, 2007; Mesogitis,
2005; Trojano, 2009). Após a curetagem, se houver hemorragia,
um cateter de Foley 26-F com balão de 30 mL pode ser apli-
cadono espaço intracervical e inflado para hemostasia efetiva e
para monitorar a drenagem uterina. O balão permanece inflado
por 24 a 48 horas e é gradualmente desinflado nos dias seguin-
Placenta
posterior
tes (Ushakov, 1997). Complementarmente pode-se considerar a
possibilidade de embolização da artéria uterina.
Fundo Orifício externo Fundo
B
GRAVIDEZ HETEROTÓPICA
FIGURA 7-12 Gravidez cervical. A. Ultrassonografia transvaginal em visão
sagital revelando gravidez cervical. Os achados ultrassonográficos podem
incluir (1) útero em forma de ampulheta com canal cervical dilatado; Uma gravidez uterina em conjunto com uma gravidez extraute-
(2) presença de tecido gestacional ao nível (seta preta); (3) ausência de rina é chamada heterotópica. No passado, as estimativas de in-
tecido gestacional dentro do útero (setas brancas) e (4) um segmento do cidência foram de 1 em 30.000 gestações, sendo a incidência de
canal endocervical interposto entre o saco gestacional e o canal endome- gêmeos dizigóticos e gravidez ectópica de 1% cada. Nas gestações
trial. (Imagem cedida pela Dra. Elysia Moschos.) B. Fotografia de peça de que resultam de tecnologias de reprodução assistida, a taxa de
histerectomia contendo gravidez cervical. O colo uterino tinha 5 a 6 cm
gestações heterotópicas foi muito alta e se aproximam de 1 em
de comprimento. (Fotografia cedida pelo Dr. David Rahn.)
100 gestações (Habana, 2000). Os mecanismos propostos para
explicar esse aumento incluem forças hidrostáticas transferindo o
plantação placentário e (2) parte ou toda a placenta localizada embrião para dentro da área cornual ou tubária, ponta do cateter
abaixo tanto da entrada dos vasos uterinos quanto da reflexão direcionando a transferência ao óstio tubário ou refluxo das secre-
peritoneal na superfície uterina anterior e posterior (Fig. 7-12). ções uterinas levando à implantação tubária retrógrada.
Para a maior parte das pacientes hemodinamicamente Quando a gravidez tubária coexiste com a gravidez uteri-
estáveis com gravidez cervical de primeiro trimestre, há indi- na, pode-se injetar cloreto de potássio no saco gestacional da
cação de tratamento não cirúrgico com administração sistê- gravidez tubária. O metotrexato é contraindicado em razão
mica de metotrexato, conforme descrito na Tabela 7-3. Jeng e dos efeitos prejudiciais à gravidez normal. Casos de anomalias
colaboradores (2007) também descreveram 38 casos tratados craniofacial, esquelética, cardiopulmonar e gastrintestinal fora-
com sucesso usando injeção local de metotrexato. Obtêm-se mdescritos com exposição, ainda que limitada, ao metotrexato
resolução da gravidez e preservação uterina com esquemas com no primeiro trimestre (Nguyen, 2002).
base em metotrexato em 91% das gestações com , 12 sema-
nas (Kung, 1997). Na seleção de candidatas apropriadas ao
tratamento, Hung e colaboradores observaram que o risco de GRAVIDEZ NA CICATRIZ UTERINA DE CESARIANA
insucesso com o tratamento sistêmico usando metotrexato foi
maior naquelas com idade gestacional . 9 semanas, níveis de A implantação na cicatriz de cesariana anterior, através de um
b-hCG . 10.000 UI/L, comprimento cabeça-nádegas . 10 trato microscópico formado no miométrio, é rara, mas implica
mm e presença de atividade cardíaca. Por este motivo, muitos risco significativo de morbidade grave e mortalidade materna
induzem a morte do feto com injeção intracardíaca ou intra- por hemorragia massiva (Fig. 7-13). As revisões mais recentes
torácica de cloreto de potássio (Jeng, 2007; Verma, 2009). A citam incidência de gravidez em cicatriz de cesariana aproxi-
embolização de artéria uterina, antes ou após a administração mando-se de 1 em 2.000 gestações (Sadegui, 2010). Esses tratos

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